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Aspectos humanos no gerenciamento de projetos Introdução Não é possível falar em gerenciamento de projetos sem aprofundar a dis- cussão sobre os aspectos humanos ligados ao tema. E por que isso? Pelo sim- ples fato de que todos os projetos, de qualquer natureza, são gerenciados por pessoas, que ao longo do desenvolvimento do empreendimento terão que lidar, além das variáveis técnicas, políticas e operacionais, com os mais distintos comportamentos dos elementos participantes do projeto. E falar em comportamento humano remete a uma série de variáveis, de caráter pessoal e profissional, que levam o ser humano a ter uma partici- pação mais ou menos efetiva em um projeto. Interesses financeiros, pers- pectivas de desenvolvimento de carreira, questões motivacionais ligadas ao objetivo do empreendimento, ambições políticas e sociais, todos esses elementos deverão em algum momento ser objeto de gerenciamento pelos líderes de um projeto. Portanto, buscar a compreensão e a ação mais adequada para gerir de forma eficiente os aspectos humanos em um projeto faz enorme diferença no resultado final do empreendimento, tanto em termos da qualidade do produto final quanto no tempo gasto para a conclusão do projeto. Os participantes do projeto Existem diversos elementos ou grupos que, de forma mais ou menos in- tensa, e de maneiras distintas, têm participação dentro da organização de um projeto. Existem aqueles que exercem influência na definição e aprova- ção do empreendimento, outros que irão liderar o projeto, alguns que serão responsáveis pelo seu desenvolvimento, e outros que terão intervenções pontuais pelo baixo envolvimento ou por não preencherem requisitos obri- gatórios para uma participação efetiva no mesmo. 72 Vamos então detalhar os elementos participantes, seus papéis, responsa- bilidade e forma de atuação dentro de um projeto. Os interessados no projeto Também conhecidos pelo termo em inglês stakeholders, são todos aque- les que participam do projeto ou que são afetados pelos seus resultados, ou ainda aqueles que podem exercer influências em um projeto. Identificar os stakeholders é muito importante, pois as decisões relevantes de um empreen- dimento passam por sua autorização. Além disso, são responsáveis por esta- belecer metas e limitações do projeto, e aprovar cronogramas e orçamentos. Existem diversas categorias de interessados em um projeto, tanto no ambiente interno quanto externo. Quando falamos no ambiente interno de uma organização, podemos mencionar o proprietário da empresa, os mem- bros da alta direção, um gerente de departamento, uma área funcional, uma determinada unidade fabril ou ainda um agente de vendas numa região ge- ográfica distante. Ao mencionarmos um interessado externo, podemos citar um acionista, um fornecedor ou grupo de fornecedores, um órgão governamental, um grupo de cidadãos ou os familiares dos funcionários. A gestão de todos os interessados mencionados é bastante complexa, pois pode envolver objetivos conflitantes e tempos de resposta distintos. Um exemplo bastante comum é o projeto de mudança de uma unidade fabril, que causa impacto tanto na organização quanto nas famílias dos fun- cionários daquela unidade. O projeto deve ser conduzido levando em conta os interesses de ambas as partes, embora normalmente acabe prevale- cendo o interesse da organização. Mesmo nessa hipótese é importante en- volver os familiares e entender as necessidades para minimizar eventuais perdas decorrentes da mudança. Os patrocinadores do projeto O patrocinador de um projeto pode ser um indivíduo ou grupo dentro de uma organização, e é responsável por dar apoio na alocação de recursos humanos e prover os recursos financeiros para o empreendimento. Possui autoridade formal pelo projeto, podendo aconselhar ou influenciar sobre a Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 73 prioridade do empreendimento. O termo em inglês utilizado para o patroci- nador de um projeto é sponsor. O patrocinador de um projeto não necessita ser obrigatoriamente um executivo sênior, caso essa figura seja representada por um gerente junior, deverá ser delegado a ele poderes para a tomada de qualquer tipo de de- cisão referente ao projeto. A despeito de ser a autoridade máxima em um projeto o patrocinador tem uma série de deveres a cumprir ao longo do seu desenvolvimento, como: dar suporte ao desenvolvimento da matriz de responsabilidades; � apoiar e aconselhar o gerente de projeto de forma consistente; � analisar e aprovar o plano de projeto; � acompanhar o desenvolvimento do cronograma e a utilização do or- � çamento; manter a prioridade do projeto em relação a novos empreendimen- � tos; monitorar e sobrepujar obstáculos organizacionais sejam eles políti- � cos ou técnicos. Como o patrocinador é responsável pelo sucesso do projeto, deve defen- der a equipe e o gerente do projeto em qualquer momento adverso para garantir o êxito ao final do empreendimento. O gerente do projeto É o personagem que tem o papel principal em um projeto. Mas porque esse participante tem tamanha importância? Vamos primeiro falar sobre o processo de seleção de um gerente de projeto. A seleção desse profissional pressupõe uma análise que envolve uma série de variáveis e que deve ser executada por executivos de grande se- nioridade. Alguns gerentes têm uma performance muito boa em projetos de longa duração, nos quais os resultados podem ser obtidos de maneira mais lenta e com prazos maiores de entrega. Já outros trabalham muito bem em projetos de curta duração, nos quais a pressão por resultados rápidos é maior e a probabilidade de cometer erros é bastante reduzida. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 74 Dado que um empreendimento propõe inúmeros desafios aos candida- tos a líder de projeto, algumas habilidades gerenciais devem ser comprova- das pelos candidatos ao posto, como: Comunicação – Transmitir de forma escrita e oral as informações do � andamento de um projeto, com clareza e a garantia de sua compreen- são por todos os interessados no resultado do projeto. Entendimento organizacional – Compreender as forças organizacio- � nais, seus aspectos políticos e suas motivações para apoiar ou rejeitar o projeto na sua totalidade ou em alguma das suas etapas, agindo de forma pró-ativa para minimizar reações adversas ou tirar proveito de apoios explícitos ou mesmo aqueles manifestados de forma discreta. Resolução de problemas – Capacidade de reconhecer e definir um pro- � blema, e de gerar soluções alternativas para resolvê-los, determinando o plano de ação e a implementação da solução. Negociação e influência – Negociar orçamentos, prazos, atividades � e recursos, e influenciar pessoas para tomarem atitudes que normal- mente não tomariam sem o convencimento do gerente do projeto, em busca de resultados mais efetivos para o empreendimento. Finanças – Possuir conhecimentos básicos de finanças e contabilidade, � para gerenciar de forma adequada o orçamento do prazo e a alocação correta das despesas nas atividades correlatas. Liderança – Inspirar e motivar o grupo de trabalho de modo a extrair � de seus membros o que de melhor cada um pode proporcionar ao projeto, mesmo com aqueles profissionais que não possuem subordi- nação direta ao gerente do projeto. Também devem ser levados em consideração alguns aspectos compor- tamentais dos candidatos ao posto de gerente de projeto, pois ele deverá funcionar como o balizador entre os diversos interessados e deverá ter equi- líbrio suficiente para garantir que as pressões advindas de fontes distintas não prevaleçam em detrimento do objetivo combinado quando da apro- vação do projeto. Ética, bom senso, trabalho sob pressão, coerência, justiça e resiliência são características pessoais que compõem o perfil de um bom gestor de projetos. A figura a seguir representa as principais interfaces de um gerente ao longo do desenvolvimento de um projeto. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos75 Cronograma Equipe Aquisições Custos Consultores Plano de trabalho Fornecedores Cliente Gerente do projeto C ar lo s A lb er to M on ta gn er . O cliente Diz a máxima muito conhecida que “o cliente sempre tem razão”, muito questionada, porém bastante verdadeira, pois é ele quem é o dono do projeto, paga as contas e deve ter suas necessidades atendidas ao final do empreendimento. Independente de ser um cliente interno ou externo, ele deve ser tratado de forma especial, a partir de um relacionamento aberto e transparente, que propicie ao cliente um acompanhamento fidedigno do que está acontecendo no projeto, sejam dificuldades ou êxitos nas diversas etapas do empreendimento. Existem casos que um projeto deve atender um grande número de clien- tes, como a troca de computadores de uma grande corporação. Com certeza todos os clientes gostariam de ser atendidos com prioridade, porém isso não é possível, pois teríamos que ter o mesmo número de instaladores que o de clientes. Nesse caso o gerente do projeto deve buscar uma instância superior de decisão, para definir qual será a ordem de troca dos equipamentos, privi- legiando áreas ou processos com maior impacto nos negócios da empresa. Gerência funcional ou de linha É um importante parceiro do gerente de projeto, pois são responsáveis por áreas nas quais um projeto pode estar sendo desenvolvido, ou são os gestores dos recursos que estarão sendo alocados ao empreendimento. Um gerente funcional pode contribuir de maneira significativa para o su- cesso do projeto, pelo seu conhecimento técnico, sua participação na defini- ção de políticas e procedimentos da empresa, e por ser um elemento partici- pante do processo decisório de uma organização. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 76 Um trabalho alinhado entre o gerente de projeto e os gerentes de linha faz com que arestas políticas sejam mais facilmente aparadas, ajuda muito no momento de replanejar atividades, pela predisposição em auxiliar a recu- perar atrasos e minimizar gargalos, e também cria alternativas para a orga- nização no caso de necessidade de substituição do gerente do projeto, por qualquer motivo em que isso se fizer necessário, como um desligamento da empresa, uma doença ou uma transferência para outra operação da empre- sa em outra localidade. A equipe do projeto Dentro de um projeto podemos ter membros permanentes e temporá- rios, porém todos os envolvidos serão considerados como sendo da equipe do projeto. Os recursos alocados em tempo integral, que estarão dedicados apenas e tão somente ao desenvolvimento do projeto, são considerados como permanentes. Já aqueles que desenvolvem alguma atividade de forma parcial e concomitante com outras atividades dentro da organização são reconheci- dos como temporários ou parciais no desenvolvimento do empreendimento. A diferença entre os membros permanentes e temporários é que os recursos com dedicação integral ao projeto, no caso os membros perma- nentes, são normalmente profissionais com capacitação para desenvolver sua atividade ao longo de todo o percurso do projeto, enquanto que os membros temporários são acionados geralmente para executar uma tarefa específica, de duração inferior ao tempo total de desenvolvimento do pro- jeto, ou que demande a alocação de outros profissionais para a execução de etapas distintas referentes aquela mesma atividade. Um exemplo de profissional dedicado é aquele que num projeto de cons- trução de um edifício é responsável por gerenciar o orçamento. Ele irá traba- lhar até o final do empreendimento para garantir o cumprimento das metas orçamentárias. Já um pintor irá fazer parte do projeto somente no momento de efetuar esse serviço no edifício, a partir do instante em que as etapas an- teriores estiverem concluídas. Contribuição dos participantes ao projeto Todos os elementos participantes têm o seu grau de contribuição esti- pulados no momento de sua alocação do empreendimento, porém é muito importante que as regras do jogo sejam estabelecidas antes do início da exe- Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 77 cução das atividades, para que cada um saiba o que é esperado de si e possa ser cobrado ao final da tarefa. Nesse sentido cabe ao gerente do projeto estabelecer as metas, comu- nicá-las aos interessados, monitorar o andamento das atividades e cobrar o resultado ao final delas. O quadro a seguir mostra um resumo das principais contribuições de cada participante de um projeto. Participante Contribuição Stakeholder Influenciar e autorizar um projeto Patrocinador Dirigir e manter a prioridade do projeto Gerente de projeto Definir, planejar, controlar e liderar o projeto Cliente Demandar, prover recursos e cobrar resultados Gerente funcional Alinhar políticas e dar suporte ao projeto Equipe de projeto Executar tarefas em linha com plano do projeto Formação de equipes de projeto Equipes de projeto são normalmente formadas por pessoas de diferen- tes áreas da organização, com base em conhecimentos técnicos e funcionais para atender às exigências do empreendimento em termos de capacitação e perfil profissional. Montar uma equipe exige dos organizadores do projeto um conhecimento amplo sobre os recursos disponíveis na organização, de modo a identificar se as necessidades do projeto serão atendidas somente com os recursos internos ou se vai ser necessário contratar recursos externos para atender posições carentes. Uma equipe de projeto normalmente não é permanente ao longo do em- preendimento, por diversos motivos pode haver mudanças no grupo inicial, como demissões, problemas de saúde, transferência para outros projetos ou outras unidades da empresa. Essa rotatividade, quando não planejada, gera custos adicionais ao projeto, pois existe um tempo para substituição do profissional que se desligou do projeto, a curva de aprendizado do subs- tituto ou ainda a contratação de um recurso externo, por um valor superior ao gasto com quem saiu. Para um gerenciamento eficiente de uma equipe de projeto, o gestor deve lançar mão de algumas práticas que farão com que a dinâmica no de- senvolvimento das atividades se mantenha constante, ou que traga poucos impactos ao cronograma proposto em função dos altos e baixos a que estão sujeitos os recursos humanos de um projeto. C ar lo s A lb er to M on ta gn er . Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 78 Motivação Motivar os membros de um grupo de trabalho é fundamental para que as atividades sejam desenvolvidas com mais eficiência e os resultados pro- duzidos sejam melhores. Um ambiente de trabalho altamente motivador impacta positivamente os seus membros e os leva a superar as dificuldades comuns ao longo do desenvolvimento de um empreendimento. E quais são as dificuldades mais frequentes em um projeto? Todo empre- endimento tem uma demanda por cumprimento de prazos e orçamentos, e em algum momento a pressão por reduzi-los ou para recuperar atrasos pode ficar muito forte, gerando desconforto e até um sentimento de im- potência nos membros do time. Ou podem acontecer mudanças no grupo que levem a dúvidas sobre a obtenção dos resultados esperados ou da con- tinuidade do projeto. Ou ainda períodos de baixa produtividade no qual grande parte dos membros se sinta desgastado ou desinteressado pelo an- damento do trabalho. Nessas ocasiões a interferência do gerente do projeto é fundamental para resgatar o grupo e trazê-lo de volta para a rotina do projeto, através de exem- plos de persistência, confiança e crença na qualidade do grupo e na entrega das tarefas em andamento. Também é importante que o gerente esteja muito próximo do grupo, para entender as dificuldades e buscar alternativas para resolvê-las, garantindo o apoio dos patrocinadores e interessados no projeto. Uma atitude que causa impacto imediato na motivação do grupo de tra- balho é o feedback positivo em relação às atividades realizadas. Elogiar e agra- decer por um trabalho realizado,mesmo que a contribuição tenha sido pe- quena, faz muita diferença no estado de espírito de quem recebeu o elogio, e com certeza haverá uma dedicação diferenciada nas atividades seguintes. A motivação pode se dar também por reconhecimentos não verbais, como o pagamento de recompensas por desempenho ou promoções de cargo por superação de metas. A combinação dos reconhecimentos produz resultados diferenciados no desenvolvimento de um projeto, pois mesmo aqueles que ainda não foram reconhecidos se sentirão motivados a buscar resultados rápidos para também serem merecedores das recompensas pre- vistas no sistema. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 79 Empowerment A arte de delegar responsabilidades e cobrar os resultados não é uma tarefa fácil para um grande número de gestores, mas tem efeitos muito posi- tivos quando exercida de forma correta. Os membros do time, ao se sentirem respaldados no desenvolvimento de uma atividade, acabam por aumentar seu comprometimento na entrega daquela tarefa. Porém alguns pré-requisi- tos precisam ser cumpridos para que o empowerment aconteça sem prejuízo dos objetivos do empreendimento: Os profissionais precisam conhecer as regras do jogo, o que deles é � esperado e como serão cobrados. O gestor precisa confiar nos subordinados e acompanhar o trabalho � de forma periódica. Os membros do time precisam estar treinados e capacitados para de- � senvolver atividades sem acompanhamento muito próximo dos ges- tores. A organização precisa criar processos de avaliação periódica para ana- � lisar o desenvolvimento dos profissionais ao trabalharem num formato mais autônomo. Produtividade Quando falamos em produtividade estamos pensando no resultado da combinação de eficácia (fazer a coisa certa) com eficiência (fazer certo as coisas). Produtividade em equipes de projeto diz respeito a dois desafios: como aumentar e como medir a produtividade. Aumentar a produtividade significa produzir mais com um custo menor, e medir a produtividade diz respeito a mensurar os objetivos alcançados com os projetados. Para aumentar a produtividade de uma equipe podemos e devemos fazer uso de algumas práticas, tais como: Comunicar os objetivos do projeto – O processo de comunicação deve � ser claro e estruturado de forma a garantir a perfeita compreensão por quem receberá a mensagem. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 80 Fixar os objetivos de forma adequada – Os objetivos devem ser deline- � ados conforme estratégia organizacional e fixados dentro da proposta do projeto de suportar essa estratégia. Envolver os participantes que irão executar as tarefas – Engajar a equi- � pe no processo decisório e possibilitar participação nas tarefas de pla- nejamento e controle. Adequar a organização – Organizar a estrutura do projeto de acordo � com sua natureza, maximizando a utilização dos recursos alocados. Propiciar oportunidades de desenvolvimento profissional e de conhe- cimento de outras estruturas funcionais permite ampliar a visão de ne- gócios e os impactos do projeto nos planos de negócio. A mensuração da produtividade não pode se dar em termos absolutos, o correto é comparar o índice em questão com algum referencial, de modo a sabermos se estamos indo bem ou não. Esse referencial pode ser uma medida externa, como um indicador de mercado ou do segmento de atua- ção, ou ainda um índice de natureza histórica, por exemplo, a produtividade de uma determinada tarefa em outro projeto similar. Requisitos para os membros do time Fazer parte de uma equipe de projeto requer ainda algumas habilidades adicionais aos conhecimentos técnico-funcionais. Requer comprometimen- to com os objetivos do projeto, espírito de equipe, bom relacionamento in- terpessoal, estar aberto a feedbacks sobre seu desempenho e participação no grupo, colocar os interesses do grupo acima dos interesses pessoais e ter flexibilidade para se adaptar às mudanças que fatalmente ocorrerão ao longo do empreendimento. Não é fácil reunir todas as qualificações acima, além de estar atualizado quanto aos aspectos técnicos e funcionais do ramo de atuação, porém cada vez mais o trabalho em equipe é demandado nas organizações, e o esfor- ço para se adequar aos requisitos para participação de trabalhos em equipe deve ser pensado como um processo de melhoria contínua pelo profissional, tendo em vista que as oportunidades de trabalho nesse formato são cada vez maiores e mais exigentes. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 81 O ambiente corporativo A cultura de uma corporação diz respeito às normas de comportamento e os valores que devem ser compartilhados entre um grupo de pessoas. Os valores estabelecem o comportamento do grupo, enquanto as normas defi- nem a forma como o grupo irá agir para se adequar ao modelo de compor- tamento estabelecido, podendo cada membro do grupo ser recompensado por se adequar ao estabelecido ou ser castigado em caso de comportamen- to considerado inadequado. Podemos citar alguns exemplos de valores comuns às organizações quando pensamos no desenvolvimento de um projeto: respeito ao cliente, preocupação com qualidade, comprometimento com os objetivos, confi- dencialidade de informações. Quando pensamos em normas de compor- tamento, podemos ter algo como: rapidez no atendimento das solicitações dos clientes, cordialidade no trato com membros da equipe de projeto, prover informação imediata ao gerente do projeto em caso de problemas ou dificuldades. O que queremos pontuar é a influência que o ambiente corporativo exerce sobre o desenvolvimento de um projeto, e o alinhamento com valo- res e normas de comportamento que a equipe de projeto terá que se subme- ter por fazer parte da organização como qualquer outra área funcional. O processo decisório A velocidade das mudanças e a quantidade de informações disponíveis estão tornando cada vez mais difícil o processo de tomada de decisões pelos executivos, que têm que lidar com um número muito grande de variáveis em um prazo de tempo bastante curto. A tomada de decisão por um único indiví- duo ou por um pequeno grupo executivo tem sido cada vez menos frequente nas organizações, que têm buscado exercitar o processo a partir de processos estruturados, executados por equipes com membros qualificados e que apre- sentam alta performance na execução das tarefas que lhe são confiadas. Nesse sentido, as equipes de projeto vêm ganhando força no processo decisório das organizações, por apresentar resultados consistentes transmi- tindo dessa forma segurança e confiança para a liderança da empresa. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 82 O ambiente corporativo moderno exige mudanças frequentes em função de processos de aquisições e fusões, alto grau de inovação, reestruturações, organizações e revisão de estratégias mercadológicas e de combate à con- corrência. Num ambiente assim, as informações estão espalhadas por distin- tos setores da empresa ou diferentes unidades de negócio e necessitam de um processo estruturado de compilação, formatação e apresentação para a correta análise e melhor tomada de decisão. A comunicação O processo de comunicação dentro das organizações é uma ferramenta importante para garantir o alinhamento da estratégia com as práticas de ne- gócio executadas por cada uma das áreas funcionais da empresa. É um pro- cesso que demanda grande esforço dos envolvidos, pois exige um entendi- mento perfeito do que será comunicado e qual a ferramenta mais adequada ao público a que se destina aquela mensagem. A comunicação sobre o desenvolvimento de um projeto começa no início do empreendimento, quando todos, diretamente envolvidos ou não, devem saber da existência do projeto e seu objetivo, de modo a poder se preparar para participar ativamente ou se organizar para absorver os impactos que serão provocados em sua área de atuação. Dentro de um projeto a comunicação também deve ser praticada de forma constante e transparente. Todos os participantesdo empreendimento devem conhecer a situação atual, independente das notícias serem positivas ou negativas. Se tivermos algo positivo a comunicar, devemos tirar provei- to do fato para gerar uma atmosfera favorável e aumentar a motivação do grupo, porém se tivermos que comentar algo negativo devemos passar a mensagem de forma clara sobre o eventual insucesso e os planos de ação corretivos para evitar sua reincidência ou novas ocorrências similares. Gerenciamento da mudança A única certeza que todos os profissionais têm no universo corporativo atual é que mudanças irão ocorrer muito em breve. O ritmo das transforma- ções tem sido cada vez mais acelerado, gerando incertezas e provocando re- ações diversas aos movimentos de mudança. Mas por que mudar? A resposta não é muito simples, pois podem existir inúmeros motivos que demandem Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 83 ou favoreçam uma transformação. Podemos ser forçados a uma mudança por alterações na legislação, ou por uma reação a um movimento da con- corrência, ou por uma oportunidade de melhoria operacional, ou ainda para tentar garantir a sobrevivência do negócio. E qual é o processo mental de um indivíduo ao receber uma informação de mudança: Ignorância – Num primeiro momento alguém pode tentar ignorar o � que está acontecendo, pensar que aquilo não o afeta, ter a postura de “não é comigo”. Conhecimento – Depois de se atentar para o fato de que algo está para � mudar e pode afetá-lo, o indivíduo normalmente busca conhecer o que está por vir. Resistência – Algumas propostas de mudança podem provocar rea- � ções adversas por não entendimento ou pelo sentimento de perda ou prejuízo com a transformação. Conversão – Após o entendimento pleno da proposta o indivíduo � pode passar a apoiá-la ou não. Participação – O apoio a uma proposta pode gerar uma participação � efetiva no projeto de transformação. Adoção – Ao participar de uma mudança o indivíduo passa a adotar � suas propostas e passa a ser um elemento importante no convenci- mento dos eventuais resistentes à transformação que está sendo im- plementada. Como podemos observar, o processo de mudança não é simples, pois en- volve sentimentos conflitantes naqueles que recebem a proposta de algo novo. Podemos ter indivíduos que passarão por todas as etapas menciona- das e que levarão mais tempo para aderir ao novo modelo do que outros que rapidamente se engajarão na transformação. Os principais erros no processo de mudança Todo e qualquer processo de mudança está sujeito a erros, que podem apresentar impactos distintos na transformação proposta e, em alguns casos, até inviabilizar a mudança. Muitos deles poderiam ter sido evitados, seja por Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 84 um melhor processo de planejamento, uma comunicação mais efetiva da proposta ou ainda pela criação de planos de contingência para minimizar seus impactos. Vamos então analisar alguns erros mais comuns em proces- sos de mudança e seus impactos: Negligenciar a cultura corporativa – Ao dar pouca atenção à cultura � da organização, podemos experimentar deteriorações nas mudanças propostas em função de dificuldades das mesmas se enraizarem e ga- nharem consistência para maturação no ambiente corporativo. Comunicar de forma ineficiente – Sem um entendimento claro da pro- � posta existe uma chance enorme de rejeição e aumento na dificuldade de implementação da proposta. Não estabelecer senso de urgência – Ao não definir a prioridade que � aquela mudança tem sobre outras atividades em curso podemos ter um insucesso em função da falta de foco na implementação da pro- posta. Prescindir de uma coalizão forte – A não definição de um grupo de � liderança que tome as rédeas da mudança e trabalhe coeso na sua im- plementação pode sinalizar falta de entendimento sobre a importân- cia daquela transformação. Comemorar o sucesso antes do final – Declarar vitória ao final de uma � etapa inicial ou no meio da implementação pode levar a um relaxa- mento por parte dos envolvidos com consequente prejuízo para as fases ainda não implementadas. O ciclo virtuoso da mudança Qualquer processo de mudança deve mirar e ter como centro de sua atenção a visão da empresa, aquele que move todos os seus integrantes para a consecução dos objetivos estratégicos. Desprezar a visão num momento de transformação pode levar a uma distorção nos planos de negócios e no desenvolvimento de projetos, que irão mirar seu foco para atividades e resul- tados não alinhados com o objetivo maior da organização. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 85 A figura a seguir mostra um ciclo virtuoso na criação de um ambiente organizacional que faz do processo de mudança a chave para o aprimora- mento contínuo em busca dos objetivos estratégicos. Sucesso Modificação dos sistemas Competitividade no mercado Necessidade de revisão Visão C ar lo s A lb er to M on ta gn er . Resumo Gerenciar os aspectos humanos de um projeto é uma missão bastante complexa, que demanda uma série de habilidades dos líderes do empreen- dimento, em especial do gerente de projeto, que tem a responsabilidade por fazer acontecer a partir da maximização na utilização dos recursos alocados ao projeto, sejam eles internos ou externos, funcionários ou contratados. Reunir os recursos mais adequados, em função de aspectos técnicos, fun- cionais e comportamentais é uma tarefa que exige preparo, espírito de lide- rança, conhecimento organizacional e domínio completo dos objetivos do projeto, de modo a garantir a perfeita harmonização entre todas as variáveis, sob pena de agregar custos, aumentar a complexidade e até em casos mais extremos, chegar a um grande insucesso ao final da jornada. Mas não há como evitar se defrontar com o desafio desse tipo de gestão, pois nunca podemos esquecer que projetos são liderados e desenvolvidos por seres humanos, portanto vale a pena encarar o assunto de frente e tirar o melhor proveito das inúmeras qualidades que o ser humano possui. Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 86 Ampliando seus conhecimentos Liderando mudança (KOTTER, 1999) Gerenciamento versus liderança O gerenciamento é um conjunto de processos que podem manter um complicado sistema de pessoas e tecnologias funcionando satisfatoriamen- te. Os aspectos mais importantes do gerenciamento incluem planejamento, orçamento, organização, recrutamento de pessoal, controle e solução de pro- blemas. A liderança é um conjunto de processos que cria organizações em primeiro lugar ou as adapta para modificar significativamente as circunstân- cias. A liderança define como vai ser o futuro, alinha o pessoal a essa visão e as inspira para ação, apesar dos obstáculos. Essa distinção é absolutamente crucial para perceber que a transforma- ção bem sucedida consiste em 70 a 90% de liderança, e apenas 10 a 30% de gerenciamento. Ainda por razões históricas, muitas organizações hoje em dia ainda não têm muita liderança. E quase todos pensam que o problema é o de mudança de gerência. Na maior parte deste século, à medida que criamos, pela primeira vez na história da humanidade, milhares e milhares de grandes empresas, não tive- mos gerentes bons o suficiente para manter toda essa burocracia funcionan- do. Por isso, tantas empresas e universidades desenvolveram programas na área gerencial, e centenas de milhares de pessoas foram encorajadas a apren- der gerenciamento no trabalho. E aprenderam. Mas essas pessoas receberam poucos ensinamentos sobre liderança. Até certo ponto, o gerenciamento foi enfatizado por ser mais fácil de ensinar do que a liderança. No entanto, ainda mais do que isso, o gerenciamento era o compromisso principal na agenda do século XX, pois era o necessário. Para cada empresário ou homem de negócios que fosse um líder, precisávamos de centenas de gerentes para conduzir suas empresas em constante crescimento. Infelizmente para nós hoje, essa ênfase no gerenciamento temsido institu- cionalizada com frequência nas culturas das empresas que desencorajam os Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 87 funcionários a aprender como liderar. De forma irônica, o sucesso do passado é, geralmente, o ingrediente chave para produzir esse resultado. A síndrome, como a tenho observado em várias ocasiões, ocorre deste modo: o sucesso gera um certo grau de domínio de mercado, que, por sua vez, gera muito cres- cimento. Depois de um tempo, manter sob controle uma empresa em cons- tante crescimento torna-se o principal desafio. Então, a atenção volta-se para dentro e as competências gerenciais são alimentadas. Com uma forte ênfase no gerenciamento e não na liderança, a burocracia e um enfoque interno do- minam a situação. Mas, com o sucesso contínuo, resultado, na maior parte das vezes, do domínio de mercado, o problema geralmente permanece sem solu- ção e uma arrogância pouco saudável começa a despontar. Assim, todas essas características tornam qualquer esforço de transformação muito mais difícil. Os gerentes arrogantes podem superestimar seu próprio desempenho atual e posição competitiva, escutar muito pouco e aprender num ritmo mais lento. Os funcionários voltados para as necessidades internas podem ter difi- culdade em enxergar as verdadeiras forças que apresentam ameaças e opor- tunidades. As culturas burocráticas podem reprimir aqueles que desejam res- ponder as condições mutáveis. E a falta de liderança não mantém nenhuma força dentro dessas empresas capaz de superar o problema. A combinação de culturas que resistem à mudança e de gerentes que não foram ensinados a criá-la é fatal. As fontes de complacência raramente são atacadas de forma adequada, pois a urgência não é problema daqueles que, durante toda a sua vida, foram ensinados a simplesmente manter o sis- tema atual funcionando como um relógio suíço. Uma coalização administra- tiva forte o bastante, com liderança suficiente, não é criada por pessoas que aprenderam a pensar em termos de hierarquia e gerenciamento. As visões e estratégias não são formuladas por indivíduos que aprenderam apenas a lidar com planos e orçamentos. Tempo e energia suficientes nunca são investidos na comunicação de um novo senso de direção para pessoas suficientes – o que não é surpreendente, levando-se em consideração uma história que sim- plesmente relega a último plano a entrega de relatórios diretos. Estruturas, sistemas, falta de treinamento ou supervisores permitem que funcionários dispostos a ajudar a implementar a visão sejam desautorizados a isso – previ- sível, já que a maioria dos gerentes não aprendeu nada sobre empowerment. A vitória é declarada cedo demais por pessoas que foram instruídas a pensar em tempo de ciclo do sistema: horas, dias e semanas, e não anos. E as pes- Aspectos humanos no gerenciamento de projetos 88 soas que foram ensinadas a pensar em termos de estrutura forma, e não de cultura, raramente estabelecem novas abordagens na cultura da empresa. Consequentemente, aquisições caras não produzem nenhuma das sinergias esperadas, downsizings notáveis não conseguem manter os custos sob con- trole, grandes projetos de reengenharia levam muito tempo e proporcionam pouquíssimos benefícios, além de novas estratégias audaciosas nunca serem bem implementadas. Os funcionários de grandes e antigas empresas geralmente têm dificul- dade em iniciar um processo de transformação devido à falta de liderança, aliada à arrogância, individualismo e burocracia. Nessas organizações, onde um programa de mudança provavelmente é subgerenciado e estratificado, há muito mais ordens a dar do que sugestões a receber. Alguém elabora um plano, comunica-o às pessoas e tenta mantê-las responsáveis. Ou, então, alguém toma uma decisão e exige que os outros a aceitem. O problema com essa abordagem é a enorme dificuldade de implementar, por pura força, as grandes mudanças frequentemente necessárias hoje para que as organiza- ções tenham um melhor desempenho. A transformação requer sacrifício, de- dicação e criatividade, e nada disso surge com coerção. Os esforços de mudança supergerenciados e estratificados também ten- dem a eliminar a confusão inerente às transformações. Oito etapas são redu- zidas a três. Sete projetos são consolidados em dois. Em vez de envolver cen- tenas ou milhares de pessoas, a iniciativa é tomada, na maioria das vezes, por um pequeno grupo. O resultado líquido é quase sempre desapontador. A mudança de gerência é importante. Sem um gerenciamento competen- te, o processo de transformação pode se descontrolar. Mas, para a maioria das organizações, o maior desafio é liderar a mudança. Somente a liderança po- de destruir as muitas fontes de inércia da organização. Somente a liderança pode motivar as ações necessárias para alterar o comportamento de modo significativo. Somente a liderança pode fazer a mudança acontecer, fixando suas raízes na verdadeira cultura de uma organização. A liderança frequentemente começa com apenas uma ou duas pessoas. Em todas as organizações, exceto nas menores, esse número precisa crescer cada vez mais no decorrer do tempo. A solução para o problema da mudança não é um indivíduo todo-poderoso que cative milhares de pessoas para que sejam seus seguidores obedientes. As empresas modernas são complexas Aspectos humanos no gerenciamento de projetos
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