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REGISTRO DO EMPREGADO Além das anotações na CTPS, o empregador está obrigado, relativamente a cada trabalhador, a efetuar o registro de empregados em fichas, livros ou sistemas eletrônicos, conforme instruções do Ministério do Trabalho (CLT, art. 41). A obrigação de registro abrange todos os empregados da empresa, independentemente da atividade exercida. O registro inclui a qualificação civil e profissional do empregado, os dados relativos à sua admissão, duração e efetividade do trabalho, férias, acidentes etc. O registro do empregado também tem a natureza de prova do contrato do trabalho, mas é documento do empregador, servindo de base para o fornecimento de esclarecimentos, quando solicitados pela fiscalização trabalhista da SRT. Não se confunde com a CTPS, especialmente porque esta pertence ao trabalhador, enquanto o livro de registro é de propriedade do empregador. Além da qualificação civil ou profissional de cada trabalhador, exige a CLT que no registro sejam anotados todos os dados relativos à sua admissão no emprego, duração e efetividade do trabalho, a férias, acidentes e demais circunstâncias que interessem à proteção do trabalhador (art. 41, parágrafo único). Ao contrário do que ocorre com a CTPS, o registro do empregado nos livros ou fichas deverá ser efetuado imediatamente, antes do início da prestação de serviços, sob pena de multa administrativa (CLT, art. 47). O prazo de 48 horas concedido pela CLT refere-se apenas à anotação da CTPS, e não ao registro do empregado. Finalmente, vale ressaltar que o art. 42 da CLT, que exigia a prévia autenticação do livro de registro pela SRT ou por outros órgãos do Ministério do Trabalho e Emprego, foi expressamente revogado pelo art. 4.° da Lei n.° 10.243/2001. O contrato de trabalho, como qualquer ato jurídico, deve respeitar os requisitos de validade previstos na Lei Civil: agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei. Grande controvérsia existe na doutrina e jurisprudência pátrias a respeito da aferição da validade de um contrato de trabalho, quando a prestação do serviço dá-se em uma situação proibida ou ilícita. Existe contrato de trabalho entre o trabalhador que labora numa clínica clandestina de aborto e o dono da clínica? Configura relação de emprego o vínculo entre o grande traficante e aqueles que a ele subordinados vendem cocaína nas ruas? Existiria contrato de trabalho entre o menor de doze anos e a empresa em que trabalha, em flagrante afronta ao disposto no art. 7.°, XXXIII, da Constituição Federal, que proíbe o trabalho do menor de dezesseis anos? Aqueles que defendem a existência da relação de emprego mesmo nas atividades proibidas e ilícitas, argumentam que deve ser reconhecido o contrato de emprego, pois houve efetivamente a prestação de serviços, houve dispêndio de energia por parte do trabalhador, e esse fato não tem como ser desfeito, ante a impossibilidade de retomo à situação anterior. Se não houvesse o reconhecimento da relação de emprego, com a conseqüente indenização do trabalhador pelos serviços prestados, estar-se-ia homologando o enriquecimento ilícito do beneficiário dos serviços, o que o Direito não admite. Outros autores entendem que, sendo ilícita a atividade da empresa, a prestação de serviços não gera qualquer direito trabalhista ao obreiro, pois o ato jurídico apresenta vício insanável - falta a ele o requisito essencial de validade relativo à licitude de seu conteúdo (objeto lícito). O contrato de trabalho seria nulo de pleno direito, não produziria nenhum efeito no mundo jurídico. De nossa parte, perfilhamos a corrente doutrinária majoritária, que estabelece diferença entre os efeitos do trabalho proibido e do trabalho ilícito. O trabalho proibido é aquele prestado em desacordo com as leis trabalhistas, que vedam a sua realização por certas pessoas ou em determinadas condições. A proibição visa a proteger determinados trabalhadores (o menor, a mulher, a gestante), evitando trabalhos que prejudiquem de modo especial a saúde, o desenvolvimento físico e profissional do menor etc. São exemplos de trabalho proibido: o trabalho insalubre, perigoso ou noturno ao menor de dezoito anos; o trabalho do menor de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos; a prestação de qualquer trabalho pelo menor de quatorze anos; a realização de horas extras pelo trabalhador contratado a tempo parcial; o trabalho da mulher que demande força muscular além de certos parâmetros fixados em íei etc. O trabalho ilícito, ao contrário, é aquele que tem por objeto uma atividade ilícita, contrária às leis (não especificamente leis trabalhistas, mas, normalmente, leis penais), à moral ou aos bons costumes. São exemplos de trabalho ilícito aquele prestado em favor do jogo do bicho, do prostíbulo, da clínica de aborto, da venda de drogas ilegais etc. Estabelecida essa diferenciação, entre trabalho proibido e trabalho ilícito, parte-se para a análise concernente aos efeitos da relação jurídica estabelecida entre o trabalhador e a pessoa para quem ele presta serviço, especialmente no que tange ao reconhecimento, ou não, de direitos ao trabalhador. No caso do trabalho proibido, serão reconhecidos ao trabalhador todos os direitos previstos nas leis trabalhistas. Se o menor de quatorze anos prestou serviços, não há como declarar a nulidade absoluta dessa atividade, em seu prejuízo. Ao contrário, poderá o trabalhador menor, inclusive, pleitear judicialmente, perante a Justiça do Trabalho, o reconhecimento e o pagamento de todos os seus direitos trabalhistas. Na hipótese do trabalho ilícito, porém, a solução é diversa da aplicável ao trabalho proibido. Diante do trabalho ilícito, há que se distinguir se o trabalhador agiu de boa-fé, sem conhecimento da ilicitude da atividade do empregador, ou se agiu de má-fé, consciente da ilicitude da atividade que desempenhava. Seria exemplo de trabalho em atividade ilícita com boa-fé a prestação de serviços de vigilância ou de limpeza em uma clínica de abortos, acreditando o obreiro tratar-se de uma clínica de saúde regular, especializada em ginecologia. Ou, ainda, o trabalho do pedreiro na reforma de um prostíbulo, sem saber que durante a noite ali funcionava tal atividade. Como trabalho desempenhado com má-fé, podemos citar o caso, corriqueiro entre nós, do vendedor de apostas do jogo do bicho, pois nesse caso o trabalhador está consciente da ilicitude da atividade. Ou, ainda, do vendedor de cocaína, que sabe ser ilícita tal prática. Se o empregado agiu de boa-fé, ignorando o fim a que se destinava a prestação dos seus serviços, aplica-se a mesma orientação adotada para as hipóteses de trabalho proibido: reconhecimento de todos os direitos trabalhistas ao obreiro, que poderão ser pleiteados perante a Justiça do Trabalho. Se o empregado agiu de má-fé, consciente da ilicitude da atividade, o ajuste não gera direitos para nenhuma das partes. Não será reconhecido ao obreiro nenhum direito trabalhista, tampouco a tutela da Justiça do Trabalho; da mesma forma, não poderá o tomador dos serviços exigir a restituição do preço que tenha sido pago, na hipótese de o trabalhador deixar de cumprir sua parte na avença. Enfim, não há efeitos para qualquer das partes: se o salário já foi pago, não poderá o beneficiário dos serviços exigir restituição; se não foi pago, não será devido o salário, tampouco as verbas rescisórias. No tocante ao trabalho ilícito, a parcimônia das autoridades policiais no combate à atividade ilegal não conduz ao reconhecimento do vínculo de emprego. Em outras palavras, é absolutamente irrelevante o fato de as autoridades governamentais serem complacentes com a atividade. Ainda que “socialmente aceita” a conduta ilícita, deverá ser aplicada a lei, e considerada inexistente a relação de emprego, sob pena de subversão completa da ordem jurídica.Essa situação, juridicamente vergonhosa e eticamente inqualificável, ocorre no nosso País com o jogo do bicho, considerado pela legislação vigente atividade ilícita, por parte da população uma verdadeira tradição, e pelas autoridades governamentais um mal menor! Em síntese, temos o seguinte: * se o trabalho é proibido, serão reconhecidos os direitos trabalhistas do obreiro, com a tutela da Justiça do Trabalho; * se o trabalho é ilícito, mas o empregado agiu com boa-fé, serão reconhecidos os direitos trabalhistas do obreiro, com a tutela da Justiça do Trabalho; * se o trabalho é ilícito e o trabalhador agiu com má-fé, será declarada a nulidade absoluta do ajuste, não gerando nenhum direito para as partes.
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