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Viviane Cardoso Dengue É uma arbovirose provocada por um flavivírus – um vírus do gênero flavivirus e da família Flaviviridae –, que é um patógeno de RNA, envelopado e que possui 4 sorotipos bem estabelecidos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e o DENV-4. É transmitida ao homem pela picada de fêmea de mosquitos Aedes aegypti. É uma doença de notificação compulsória. Fisiopatologia Quando o paciente é contaminado pelo mosquito, o vírus penetra na corrente sanguínea descolando-se nesse primeiro momento, preferencialmente para os monócitos, linfonodos e musculatura esquelética. O objetivo nessa etapa é se multiplicar, então o RNA viral vai ser interpretado nos lisossomos para que sejam produzidos proteínas virais e, daí, a maturação dos vírions irá ocorrer dentro de organelas como o Complexo de Golgi ou o Retículo Endoplasmático, o que permitirá a liberação dos mesmos novamente na corrente sanguínea após um determinado período. Nesse momento o vírus irá se disseminar por todo o corpo do paciente estimulando a produção de citocinas pró-inflamatórias – como a TNF-a e IL-6, especialmente – e iniciando a fase sintomática da doença, sendo que uma das estruturas mais afetadas pela inflamação é a parede vascular, o que acaba aumentando a permeabilidade dela e, com isso, pode desencadear hemorragias ou a perda de plasma para o terceiro espaço. OBS.: Nos quadros de dengue, os sintomas gerais de febre e mal-estar relacionam-se à presença, em níveis elevados, de citocinas séricas, como TNF-α, IL-6, IFN-γ etc. As mialgias relacionam-se, em parte, à multiplicação viral no próprio tecido muscular, inclusive o tecido oculomotor é acometido, produzindo cefaleia retrorbitária. Quadro Clínico A infecção pelo vírus dengue pode ser assintomática ou sintomática. Quando sintomática, causa uma doença sistêmica e dinâmica de amplo espectro clínico, variando desde formas oligossintomáticas até quadros graves, podendo evoluir para o óbito. Três fases clínicas podem ocorrer: febril, crítica e de recuperação. Fase febril Febre com duração de 2 a 7 dias, geralmente alta (39°C a 40°C), de início abrupto, associada à cefaleia, à adinamia, às mialgias, às artralgias e a dor retroorbitária. Exantema presente em 50% dos casos, predominantemente do tipo máculo-papular, atingindo face, tronco e membros de forma aditiva, não poupando plantas de pés e palmas de mãos, podendo apresentar-se sob outras formas com ou sem prurido, frequentemente no desaparecimento da febre. Anorexia, náuseas e vômitos podem estar presentes. Diarreia presente significativamente, habitualmente não é volumosa, cursando apenas com fezes pastosas numa frequência de 3 a 4 evacuações por dia. Após a fase febril, grande parte dos pacientes recupera-se gradativamente com melhora do estado geral e retorno do apetite. Fase crítica Após fase febril, boa parte dos pacientes evoluem direto para a recupração, havendo melhora dos sintomas e do estado geral. Contudo, uma parte das pessoas podem entrar na fase crítica, que se caracteriza por uma melhora da da febre, entre o 3° e o 7° dia do início da doença, acompanhada do surgimento dos sinais de alarme, que são: Dor abdominal intensa (referida ou à palpação)e contínua; Vômitos presentes; Acúmulo de líquidos; Hipotensão postural e/ou lipotimia; Viviane Cardoso Hepatomegalia maior do que 2 cm; Sangramento de mucosa; Letargia e/ou irritabilidade; Aumento progessivo do hematócrito. A maioria dos sinais de alarme é resultante do aumento da permeabilidade vascular, a qual marca o inicio do deterioramento clínico do paciente e sua possível evolução para o choque por extravasamento de plasma. Os sinais de alarme devem ser rotineiramente pesquisados e valorizados, bem como os pacientes devem ser orientados a procurar a assistência médica na ocorrência deles. A presença de algum dos sinais de alarme indica que o paciente está deteriorando e tem uma chance maior de evoluir com complicações da doença, sendo a principal: choque. Dengue grave As formas graves da doença podem manifestar-se com extravasamento de plasma, levando ao choque ou acúmulo de líquidos com desconforto respiratório, sangramento grave ou sinais de disfunção orgânica. O quadro clínico é semelhante ao observado no comprometimento desses órgãos por outras causas. Derrame pleural e ascite podem ser clinicamente detectáveis, em função da intensidade do extravasamento e da quantidade excessiva de fluidos infundidos. O extravasamento plasmático também pode ser percebido pelo aumento do hematócrito, quanto maior sua elevação maior será a gravidade, pela redução dos níveis de albumina e por exames de imagem. Principais Complicações: Choque Como a dengue provoca um quadro de inflamação sistêmica afetando especialmente as paredes dos vasos, o que leva a um aumento da permeabilidade vascular e favorece a perda de líquido para o terciero espaço, podendo causar choque (ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido através do extravasamento), o que geralmente ocorre entre os o 4° e 5° dia de doença, geralmente precedido por sinais de alarme. O período de extravasamento plasmático e choque leva de 24 a 48 horas, podendo levar o paciente ao óbito em um intervalo de 12 a 24 horas ou a sua recuperação rápida, após terapia antichoque apropriada. Hemorragia Grave Outra complicação muito grave da dengue é a ocorrência de hemorragias pelo corpo e isso não ocorre só pelo acometimento vascular que o vírus provoca, mas também pelo fato deles afetarem as plaquetas, o que o torna mais difícil o processo de tamponamento. OBS.: É por causa dessa complicação que é contraindicado para os pacientes com diagnóstico ou suspeita de dengue, o uso de medicamentos como o ácido acetil-salicílico (AAS) e os AINEs, já que eles afetam a cascata de coagulação e por isso podem acabar estimulando ainda mais as hemorragias. Disfunção Orgânica Na dengue também pode acabar ocorrendo o comprometimento funcional de vários órgãos como o fígado (que pode desenvolver hepatite), o coração (que pode ter uma miocardite), os rins (que entram em insuficiêcia aguda) e também o sistema nervoso central (provocando convulsões, encefalites, etc.). Devido a isso é importante incluir na conduta de paciente com dengue grave a solicitação de uma série de exames para avaliar a função orgância geral, como: TGO e TGP, ECG, ureia e creatinina. Fase de recuperação Última fase da doença; Paciente começa a ter uma melhora progressiva dos sintomas e do estado geral; Manter vigilância quanto aos sinais de alarme. Diagnóstico A presença de um quadro clínico clássico somado com um perído epidemiologicamente ativo – como acontece nos casos de surto, por exemplo –, dispensa qualquer outra investigação para a doença. Fora isso, o método de escolha para fazer o diagnóstico da dengue depende do tempo início da doença. Viviane Cardoso Até 5 dias Durante os 5 primeiros dias da doença, o paciente ainda não vai ter desenvolvido sorologia para dengue, de modo que a única forma que terá para fazer esse diagnóstico é através da dosagem de partículas relacionadas ao próprio vírus causador. Assim, as opções são: Pesquisa de Antígeno Viral (NS1); Teste de Amplificação Genética (RRT-PCR); Imuno-histoquímica Tecidual; Cultura. A partir de 5 dias Do sexto dia em diante, aqueles métodos não serão tão válidos para fazer o diagnóstico do paciente e é por isso que entra em cena a sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG. Estadiamento Os pacientes podem ser classificados em 4 grupos: A. Paciente com suspeita de dengue, mas sem sinais de alarme ou condições especiais. B. Pacientes com suspeita de denguee sem sinais de alarme, mas com condições especiais. C. Paciente com diagnóstico de dengue e com sinais de alarme. D. Paciente com diagnóstico de dengue grave, apresentado choque, hemorragia ou disfunção orgância. Condição especial: gestantes, crianças, idosos e portdores de doenças crônicas. Tratamento Depois do estadiamento deve-se iniciar o tratamento especifíco para a categoria do paciente e decidir como deve ser o acompanhamento. Categoria A Paciente que está desenvolvendo um quadro clássico da doença que tende a regredir dentro de dias; Solicitar os exames diagnósticos; Prescrever dipirona e/ou paracetamol para o controle de sintomas; Acompanhamento desses pacientes deve ser feito em ambulatório; Orientar fazer repouso e se hidratar bastante, bem como o informando que deve retornar ao serviço o mais rápido possível caso apareça qualquer um dos sinais de alarme. Lembrar: Hidratação oral Para adultos deve ser indicada 60 mL/Kg/dia, preferencialmente, ingerindo 2/3 do valor indicado nas primeiras 4-6h após o atendimento e distribuir o outro 1/3 entre o período restante. Para criança o valor da ingesta muda: o Até 10Kg: 130 mL/Kg/dia o Entre 10-20Kg: 100 mL/Kg/dia o Acima de 20Kg: 80mL/Kg/dia Categoria B São os pacientes que apesar de estarem bem, eles possuem alguma condição base que pode piorar o quadro da dengue. Manter acompanhamento em leitos de observação, mas com a mesma conduta que adotamos para o paciente do grupo A: exames diagnósticos, medicamentos para controle álgico e hidratação oral (também do mesmo jeito). Categoria C Pacientes com um quadro grave; Precisa ser internado e aí ele vai receber reposição volêmica imediata (10mL/Kg de soro fisiológico na 1ª hora), além de receber os medicamentos para controle de sintomas. Esses pacientes também precisam ser submetidos a todos os exames diagnósticos e mais um pouco, o que inclui: o Hemograma; o Transaminases; Viviane Cardoso o Albumina sérica; o Ureia e creatinina; o Glicemia; o Gasometria; o ECG/ECO; o Radiografia de tórax; o USG de abdome. OBS.: esses exames são necessários para que possa ser investigado se o paciente está evoluindo para alguma das complicações da dengue grave (choque, hemorragia ou disfunção). Se tiver melhora do quadro, deve readaptar a hidratação para 25mL/Kg em 6h e se continuar melhorando, próxima etapa é novamente 25mL/Kg só que em 8h. Se não tiver qualquer melhora à intervenção, aí deve ser realocado para o grupo D. Categoria D O quadro é tão grave que o paciente precisa ser internado e manejado na sala de emergência; Receber medicamentos para controle de sintomas; Fazer todos os exames do grupo C; Receber reposição volêmica imediata (20mL/Kg de solução salina por via parenteral em até 20min). Por conta da gravidade do quadro, os pacientes devem ser reavaliados a cada 15-30min e também precisa repetir o hemograma a cada 2h para que seja acompanhado o valor do Ht.
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