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Especial inclusiva Educação Ed u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a Ed u c a ç ã o esp ec ia l in c lu siv a Educação Especial: Fundamentos Legais, Filosóficos e Contexto Socioeconômico Adriana Aparecida Burato Marques Buytendorp C yn th ia G arcia O liveira Educação Especial 53 Unidade 3 Caro (a) Aluno (a) Nesta terceira unidade, apresentamos o contexto conceitual da educação escolar inclusiva, destacando seus princípios norteadores, que devem embasar as diretrizes e estratégias nessa direção. Bons estudos! Fundamentos da Educação Inclusiva 54 Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: Identificar os fundamentos da Educação Escolar Inclusiva; • Compreender o conceito de Educação Escolar Inclusiva; • Apontar as mudanças necessárias para a construção do siste- ma educacional inclusivo; • Descrever os princípios de Inclusão Escolar. Conteúdos da Unidade Nesta unidade, você estudará: • Fundamentos da inclusão escolar; • Movimentos internacionais que fundamentam a Educação para todos; • Estabelecer um quadro comparativo entre integração escolar e inclusão escolar. 55 3- Da integração escolar à Educação Inclusiva Desde o final de 1980, ganha terreno a discussão so- bre a educação escolar inclusiva. Este movimento apresenta-se no âmbito mundial, não como uma nova nomenclatura para tratar sobre a inserção dos alunos com necessidades educacio- nais especiais na escola, mas sim como um passo a diante da integração que tem como principal objetivo facilitar a transi- ção desses alunos para o sistema educacional comum. Assim, em vez de sublinhar-se a ideia da integração acompanhada da concepção de que devem introduzir medidas adicionais para responder aos alunos especiais, num sistema educativo que se mantém, nas suas linhas gerais, inalterado, assistimos a movimentos que visam à educação inclusiva, cujo objetivo consiste em reestruturar as escolas, de modo que res- pondam as necessidades de todas as crianças. (CLARK, et al, 1995 apud AINSCOW, 1995) A Declaração de Salamanca que trata sobre os princí- pios, política e prática na área das necessidades educacionais especiais, que foi aprovada por representantes de 92 governos e 25 organizações internacionais em junho de 1994, traz explí- cito em seu texto, essa vertente: uma mudança fundamental no que diz respeito às formas como são encaradas as dificuldades educativas. A sociedade e a escola inclusiva defendem o ideal de não excluir, estando implícitos os ideais democráticos acei- tos e proclamados universalmente. Se estivermos tratando de Inclusão subenten- de-se que temos aqueles que estão excluídos. Mas, afinal, quem são os excluídos? Teoricamente, excluídos são todos aqueles que não conseguem ingressar nas escolas e também aqueles que têm matrícula, uni- 56 forme, carteira, mas não conseguem exercer seus direitos de ci- dadão de acessar o conhecimento, historicamente, construídos pela sociedade. Se fizermos uma análise das condições de escolariza- ção das crianças brasileiras, segundo dados do INEP (Institu- to Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira), de cem alunos que ingressam na escola na 1ª série, apenas cinco con- cluem o Ensino Fundamental, ou seja, apenas cinco terminam a 8ª série. (IBGE, 2007) Em 2007, 4,8% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental (1ª a 8ª série e 1º ao 9º ano) abandonaram a esco- la. Embora, o índice pareça pequeno, corresponde a quase um milhão e meio de alunos. No mesmo ano, 13,2% dos alunos que cursavam o Ensino Médio abandonaram a escola, o que cor- responde a pouco mais de um milhão de alunos. Muitos deles poderão até retornar à escola, mas em uma incômoda condição de defasagem idade/série, o que pode causar conflitos e, possi- velmente, nova evasão. Entendemos que a exclusão social fez parte da “nor- malidade das sociedades”. Atualmente, tem ocupado espaço as reflexões que denunciam as práticas excludentes, defendendo os ideais democráticos assentados nos direitos humanos e igualda- de de oportunidades para todos. Carvalho (2004) destaca que nem sempre a exclusão é visível. Podem apresentar-se com formas dissimuladas, presen- tes nas representações sociais acerca dos excluídos. Faça uma pesquisa na internet buscando identificar os fatores que contribuem para exclusão escolar. Precisamos esclarecer algumas questões, pois existem muitas confusões a respeito. É comum encontrarmos profes- sores que quando questionados sobre a Educação Inclusiva, de imediato, associam a inserção dos alunos com deficiência no 57 contexto do ensino comum. Carvalho (2004) atribui essa situação pelo fato do as- sunto ser discutido em fóruns da Educação Especial, acarretan- do a falsa ideia de que educação escolar inclusiva refere-se ao alunado da Educação especial. Cabe ressaltar que o paradigma da inclusão escolar não é específico de alunos com deficiência, implica em eliminar bar- reiras que se contrapõem á aprendizagem e a participação de crianças, jovens e adultos, para que as diferenças sociais, cultu- rais, de raça, não se transformem em desigualdades sociais. A educação inclusiva convoca o sistema educacional em adequar suas condições de ensino aprendizagem, para que todos os alu- nos apropriem-se do conhecimento oferecido pela escola. Precisamos ter cuidado com afirmações do tipo “es- tamos na era da inclusão, pois a integração foi superada” ou a “inclusão é incompatível com a integração.” Carvalho (2004) faz uma análise defendendo que a integração é um processo de natureza psicossocial e implica na reciprocidade das ações hu- manas, ou seja, é graças aos processos relacionais e integrativos, que os sujeitos podem sentir-se aceitos no grupo. É indispen- sável para a escola tornar-se inclusiva e criar condições para a interação do aluno, com deficiência ou não. 3.1. Concepções, princípios e diretrizes para um Sistema Educacional Inclusivo Para compreender as vertentes que fundamentam os princípios da Educação Inclusiva, na unidade anterior, apresentamos uma série de encontros que promoveram reflexões acerca da educação es- colar, que gerou reformas nos sistemas educacionais. 58 No Brasil, podemos trazer alguns pontos prescritos na Carta Magna: Art. 205- Pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206- Direito de todos à Educação em “igualdade de condições de acesso e permanência na escola.” Apesar de todos esses indicativos paira um questionamento: Como efetivar, na prática, os direitos assegurados a to- dos, para que possam se beneficiar de uma educação de quali- dade? Como os sistemas educacionais podem operacionalizar ações rumo à construção de uma escola, que responda, adequa- damente, às necessidades educativas especiais de seus alunos? Com certeza há um longo caminho a ser percorrido, no entanto algumas questões devem permear esse processo. São elas: • Aumentar a participação dos estudantes e a redução de sua ex- clusão cultural, curricular e comunitária nas escolas locais; • Reestruturar a cultura, as políticas e as práticas das escolas, para que possam atender à diversidade dos alunos de suas expectativas; • A inclusão refere-se à aprendizagem e à participação de todos os estudantes vulneráveis que se encontram sujeitos à exclusão, não somente aqueles com deficiência ou rotulados como apresentan- do necessidades educacionais especiais; • Melhoria do corpo docente em relação aos alunos; • Direito à Educação nas suas localidades; • A diversidade não pode ser considerada um problema a resolver, mas uma estratégia que pode beneficiar a educação de todos; • Esforço mútuo de relacionamento entre estabelecimentos de ensino e suas comunidades; • A Educação Inclusiva como um aspecto da sociedade inclusiva. Embora, a função das leis seja importante, por si só não garantem as mudanças necessárias. Entendemos que as mudanças são fruto de um processo, implicando acimade tudo, na mudança 59 dos sujeitos envolvidos. Carvalho (2006) aponta que as mudanças no pensar, sentir e fazer a educação para todos não ocorrem facilmente, dependem da articulação com as políticas públicas responsáveis pela distribuição dos recursos financeiros, programas de saúde, nutrição, bem-estar familiar, trabalho e emprego, ciência e tec- nologia, transportes, desporto e lazer, entre outras. Dessa forma, a concepção de um sistema educacional inclusivo não é restrito ao âmbito educacional, no entanto, no interior do sistema de ensino deve-se buscar a superação da frag- mentação de planejamentos setoriais, consolidando a educação escolar inclusiva como um projeto das políticas de Educação. Nesse bojo, a Educação Especial deve deixar de ser um sistema à parte que se responsabiliza por um tipo de alunado com deficiência, para converter-se em um conjunto de serviços e recursos de apoio para o aluno em seu percurso escolar. Sistemas educacionais inclusivos assentam-se nos prin- cípios democráticos e estabelecem programas, projetos e ativi- dades, que permitem o desenvolvimento dos sujeitos, fortale- cendo o respeito pelos direitos fundamentais de todo cidadão. O ideário dos sistemas educacionais inclusivos, nos quais os princípios e valores acima mencionados são cultuados, pode ser resumido como se segue, tornando efetivos para todos: O direito à Educação; O direito à igualdade de oportunidades, o que não sig- nifica um “modo igual” de educar a todos e sim, dar o que cada um necessita, em função de suas características e necessidades individuais; Escolas responsáveis e de boa qualidade; O direito de aprendizagem e inclusão; O direito à participação. Para avançarmos rumo ao sistema educacional inclu- 60 sivo, faz-se necessário uma mudança no interior das escolas, e para isso necessitam de apoio para alcançar esse ideal. O Sistema Nacional de Educação dos países latino-americanos elencaram algumas condições a serem alcançadas pouco a pouco. Dentre as quais, destacam-se: • Estabelecer uma estreita relação entre as evidências identifi- cadas na análise dos dados estatísticos e a tomada de decisões; • Formular políticas educativas inclusivas e articulá-las com po- líticas intersetoriais de superação da pobreza, dirigidas às popu- lações em situação de vulnerabilidade; • Incrementar a inversão de recursos para o desenvolvimento e a aprendizagem de todos os meninos e meninas, adolescentes, jovens e adultos; • Garantir a equidade na distribuição de recursos públicos e pri- vados para a educação e para o desenvolvimento social; • Escutar os diferentes setores, confrontando-se diferentes pon- tos de vista, em busca de consenso e de negociações entre os diversos atores. • Promover a formação continuada dos técnicos que atuam nos diferentes ministérios. Incluir, em um sistema que exclui, é, no mínimo, com- plexo, é um objetivo almejado pelos movimentos sociais. A inclusão tem aspectos relevantes e importantes no sentido de favorecer a grupos específicos (considerados minorias sociais), acesso a determinados direitos sociais, como é o caso das pesso- as com deficiência. Assim, faz-se necessário iniciativo de políti- cas públicas, que apontem nessa direção, como a importância da formação do professor na construção de um sistema educacio- nal inclusivo. A Declaração de Salamanca (1994) traz que: Um dos principais aspectos a serem vistos pelos siste- mas de ensino diz respeito à formação dos professores, espe- 61 cialmente àqueles das classes comuns, que além de necessitarem de capacitação e apoio precisam preparar-se para recepcionar o aluno com deficiência, o que para muitos dos professores, até então, era totalmente desconhecido. O artigo 59 da LDB/1996, quanto à preparação de pro- fessores para atuarem com educandos com necessidades espe- ciais, previstos pelos sistemas de ensino: [...] III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integra- ção desses educandos em classes comuns. (BRASIL, 1997, p.27) No Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001) destaca-se: • Incluir nos currículos de formação de professores, nos níveis médio e superior, conteúdos e disciplinas específicas para a ca- pacitação ao atendimento dos alunos especiais; • Incluir ou ampliar, especialmente nas universidades públicas, habilitação específica em níveis de graduação e pós-graduação, para formar pessoal especializado em Educação Especial, ga- rantindo, em cinco anos, pelo menos um curso desse tipo em cada unidade da Federação; • Introduzir, dentro de três anos a contar da vigência deste Pla- no, conteúdos disciplinares referentes aos educandos com ne- cessidades especiais, nos cursos que formam profissionais em áreas relevantes para o atendimento dessas necessidades, como Medicina, Enfermagem e Arquitetura, entre outras; • Incentivar, durante a década, a realização de estudos e pesqui- sas, especialmente pelas instituições de ensino superior, sobre as diversas áreas relacionadas aos alunos que apresentam necessi- dades especiais para a aprendizagem; A formação inicial dos profissionais da Educação Bási- ca deve ser responsabilidade, principalmente, das instituições de ensino superior, nos termos do art. 62 da LDB, onde as funções 62 de pesquisa, ensino e extensão e a relação entre teoria e prática podem garantir o patamar de qualidade social, política e pedagó- gica, que se considera necessário. • Frente ao valor da educação escolar, a formação de professo- res deve contemplar diferentes formas de estudo e conteúdo, de acordo com a realidade social e econômica da região e do país; • Proporcionar ao futuro professor formação com embasamen- to teórico e capacidade de reflexão crítica sobre os processos políticos e educacionais, é a função principal dos cursos que formam professores. A escola é o local onde as crianças e os jovens têm a possibilidade de vivenciar diferentes situações e, dessa forma, elaborar novos conceitos e mecanismos de ação. Todas as pes- soas e também as com deficiência precisam de tais vivências para desenvolver suas potencialidades. As pessoas com deficiência têm o direito de frequentar a escola, ter acesso ao conhecimento sistematizado, é antes de tudo um direito de qualquer pessoa para que possa participar com os demais, das práticas sociais. Dominar a educação siste- matizada equivale a ser aceito pelo grupo, pela sociedade, sig- nifica também superar as barreiras que dificuldades específicas lhes impuseram. O discurso de inclusão é um princípio que deve susten- tar a estratégia política, social e econômica e, por isso mesmo, precisa ser estudado, discutido e modificado, não podendo sim- plesmente ser ignorado. Como princípio político, a inclusão é enfatizada pela sua abrangência a diferentes grupos excluídos, o que a torna um processo social que busca favorecer parcela da população, geralmente desfavorecida, social e economicamente. Na economia, esse discurso é meio para diminuir as diferenças originadas pelo poder econômico de cada grupo social. Atuar com alunos que necessitam de conhecimentos 63 sobre Educação Especial exige do professor maior atenção em relação a sua prática, o que consiste em compatibilidade de co- nhecimento e postura de enfrentamento, até mesmo para iden- tificar o significado pedagógico de ter um aluno com necessida- des educacionais em sua sala de aula. É importante contar com professores que tenham sua prática pedagógica alicerçada nos princípios da pedagogia vol- tada para a criança, e não para a deficiência, fundamentada na visão pró-ativa do sujeito, da diferença, como um direito hu- mano, dos benefícios que um ambiente inclusivo pode trazer para todos os alunos, garantindo o acesso e a permanência com qualidade, e uma aprendizagem com muito sucesso. Atividades 1- Pesquise mais sobre o paradigma de integração e inclusão e faça um paralelo, apontandoas principais características que compõem esses movimentos. 2- Leia o último parágrafo dessa unidade: “É importante con- tar com professores que tenham sua prática pedagógica alicer- çada nos princípios da pedagogia voltada para a criança e não para a deficiência; fundamentada na visão pró-ativa do sujeito, da diferença, como um direito humano, dos benefícios que um ambiente inclusivo pode trazer para todos os alunos, garantindo o acesso e a permanência com qualidade, e uma aprendizagem com muito sucesso. Escreva um texto dissertativo fundamenta- do teoricamente, descrevendo o que trata uma pedagogia volta- da para criança. 3- Para avançarmos rumo ao sistema educacional inclusivo faz- 64 -se necessário uma mudança no interior das escolas. Quais são as principais mudanças recomendadas? 4- Como efetivar, na prática, os direitos assegurados a todos, para que possam se beneficiar de uma educação de qualidade? 5- A concepção da inclusão educacional expressa o conceito de sociedade inclusiva, aquela que não elege, classifica ou segrega indivíduos, mas que modifica seus ambientes, atitudes e estrutu- ras para tornar-se acessível a todos. Esta afirmação é verdadeira ou falsa? Justifique sua escolha. 67 Unidade 4 Caro (a) Aluno (a) Nesta quarta unidade, apresentamos o enfoque trans- formador da escola inclusiva, a partir de uma gestão administra- tiva que privilegie um projeto educacional para a diversidade. Bom estudo! Fundamentos Legais da Educação Especial e da Educação Inclusiva 68 Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: • Conceituar escola inclusiva; • Construir práticas de gestão para a mudança; • Construir um projeto educacional de redes de apoio. Conteúdos da Unidade Nesta unidade, você está convidado (a) a refletir sobre: • Conceito de Escola Inclusiva; • Gestão escolar na perspectiva da Educação Inclusiva; • Elaborar projetos de redes de apoio. 69 4. Construindo caminhos para escolas inclusivas A escola inclusiva caracteriza-se, fundamentalmente, pela vontade de fazer valer os direitos à educação, à igualdade de oportunidades e à participação de todos, ou seja, entende-se por escola inclusiva àquela na qual o ensino e a aprendizagem são considerados importantes; que cuida, que não discrimina e considera que todos os seus alunos devem aprender e não ape- nas conviver socialmente. Envolver todos os componentes da escola na tarefa de transformar a prática escolar para que todos os alunos possam aprender, respeitando e valorizando sua diversidade é o maior desafio enfrentado na atualidade. Para que uma escola avance rumo a um enfoque inclu- sivo, precisa de apoio, tanto dos sistemas de ensino, como das equipes gestoras imediatas. O sucesso ou fracasso das práticas inclusivas não dependem apenas dos professores. Faz-se neces- sário uma organização educativa com as práticas inclusivas. Entendemos por práticas pedagógicas o conjunto de ações organizadas na e pela escola cotidianamente, que se desenham com a finalidade de atender às demandas sociais, carregando uma carga de intencionalidade que anula uma su- posta neutralidade. Conceituamos escola como instituição burocrática, or- ganizada mediante procedimentos padrões, regras e objetivos; “as normas que regulam as condições de transmissão podem restringir o espaço para acompanhar o processo de apropria- ção dos conteúdos transmitidos, especialmente considerando as necessidades diferenciadas de atendimento entre os alunos.” (SAMPAIO, 1998, p.252) 70 Para Gimeno Sacristán (2001), a qualidade da educação e do ensino está diretamente ligada ao tipo de cultura que nela de- senvolve-se, que obviamente ganha significado educativo atra- vés das práticas e dos códigos que se traduzem em processo de aprendizagem para os alunos. Entendemos que esses códigos são estabelecidos pelas diversas facetas da cultura para desenvolver aptidões conside- radas fundamentais, para que os alunos sejam caracterizados como sujeitos sociais. Dessa forma, entende-se que as normas de ensino são produzidas no âmbito social, denominada como cultura escolar. As práticas educativas guardam estreita correspondência com a cultura escolar, na qual se organizam. Por cultura, podemos entender as crenças e convicções defendidas pelos professores em relação ao ensino, à aprendizagem dos alunos e o funciona- mento da escola. Para superarmos as amarras impostas por uma cultura escolar meritocrática e burocrática, é necessária uma proposta educacional, que seja fruto da reflexão, e resposta coletiva da comunidade escolar, estimulando sempre o caráter participati- vo. O objetivo principal será o de promover a aprendizagem de todos os alunos. Para alcançar essa meta, faz-se necessário aplicar diferentes estratégias de aprendizagem, em todas as áreas de conhecimento. Os fatores que favorecem o avanço em direção às prá- ticas inclusivas, devem ser assentados em relações de apoio e colaboração, de respeito e cooperação e de valorização da diver- sidade. É importante fortalecer laços de reflexão coletiva e pro- dução de conhecimentos, no sentido de resolver os problemas de modo colaborativo. Buscando alcançar essa meta, faz-se necessário: • Fortalecer os docentes para que examinem criticamente suas próprias práticas, à luz de um conhecimento detalhado das ne- 71 cessidades dos estudantes. Eles precisam fazer isto em um con- texto de apoio mútuo e de colaboração na resolução de proble- mas. O que pode resultar em processos de atividade de pesquisa bastante frutíferos; • Incentivar os docentes a solucionar seus problemas, para isso também necessitam relacionar-se com outros professores e es- pecialistas, solicitando informações e assessoramento. Os espe- cialistas, por sua vez, necessitam trabalhar na escola, diretamen- te com os professores; • Que a transformação das práticas docentes se dê no contexto de mudanças mais amplas na gestão e organização curricular, de modo que a mudança educacional apóie-se nestes fatores. Na me- dida do possível, o progresso no sentido da inclusão, deverá ser visto como parte integrante de outras iniciativas externas da escola. Carvalho (2006) aponta que é fundamental enriquecer a cultura da escola com práticas tais como: conhecer as reco- mendações de organismos nacionais e internacionais; atualizar a revisão teórica sobre aprendizagem e desenvolvimento humano; analisar a base legal em vigência no Brasil, referente à Educação, discutir a filosofia da educação que se pretende adotar para es- tabelecer a intencionalidade educativa, traduzida sob a forma de finalidades e objetivos da escola inclusiva; examinar as diretrizes curriculares nacionais, estaduais e municipais. Após a avaliação do contexto educacional escolar, será possível estabelecer obje- tivos e diretrizes para os grupos que a escola atende. 4.1. A função da Escola na perspectiva da Educação Inclusiva Historicamente, as pessoas com deficiência tiveram escolarização em ambientes segregados, e sua aprendizagem, geralmente, ficou restrita à socialização e coordenação motora, 72 porém colocá-los no ensino comum, apenas, como “figurantes”, não corresponde com o que propõe o paradigma da Educação Inclusiva e não irá contribuir para seu desenvolvimento integral. Carvalho (2006) tem alertado que a inclusão é um desejá- vel movimento para melhorar as respostas educativas das escolas para todos, com todos e para toda a vida; deve preocupar-se com a remoção das barreiras de aprendizagem e participação. A compreensão de toda a rede de relações que ocorrem na escola exige um conjunto de habilidades e competências dos educadores para que possam fazer a análise da instituição e de suas ações pedagógicas, num trabalho de equipe e com constru- ção epistemológica interdisciplinar. Inúmeras são as funções da escola inclusiva. Dentre elas, destaca-se: • Desenvolver culturas, políticas e práticas inclusivas, marcadas pela responsabilidade e acolhimentoque oferece a todos os que participam do processo educacional escolar; • Promover todas as condições que permitam responder às ne- cessidades educacionais especiais para a aprendizagem de todos os alunos de sua comunidade; • Criar espaços dialógicos entre os professores para que, sema- nalmente, possam reunir-se como grupos de estudo e de troca de experiências; • Criar vínculos mais estreitos com as famílias, levando-as a par- ticiparem dos processos decisórios em relação à instituição e a seus filhos e filhas; • Estabelecer parcerias com a comunidade sem intenção de usu- fruir de benefícios, apenas para conquistar a cumplicidade de seus membros, em relação às finalidades e objetivos educativos; • Acolher todos os alunos, oferecendo-lhes as condições de aprender e participar; • Operacionalizar os quatros pilares estabelecidos pela UNES- 73 CO para Educação deste milênio: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser, tendo em conta que o verbo é aprender; • Respeitar as diferenças individuais e o multiculturalismo en- tendendo que a diversidade é uma riqueza e que o aluno é o melhor recurso de que o professor dispõe em qualquer cenário de aprendizagem; • Valorizar o trabalho educacional escolar, na diversidade; • Buscar todos os recursos humanos, materiais e financeiros para a melhoria da resposta educativa da escola; • Desenvolver estudos e pesquisas que permitam ressignificar as práti- cas desenvolvidas em busca de adequá-las ao mundo em que vivemos. 4.2. Práticas de Gestão Escolar da Escola Inclusiva A gestão envolve atividades de planejamento em busca de uma gestão colaborativa, na qual se trabalha apoiando os pro- gressos e dinâmicas próprias de cada escola e de cada um dos seus integrantes. Mel Ainscow (1997) descreve com base em cinco categorias o posicionamento de professores na gestão de mudanças na escola. • Estabelecer e manter positivas relações de trabalho com seus colegas; • Conhecer e opinar sobre os projetos da escola; • Criar clima de troca e compartilhamento; • Monitorar as ações de mudança, promovendo reuniões onde os conflitos são resolvidos; • Clareza que não existe consenso sobre o projeto de inclusão. Alguns conceitos devem ser revistos para que possa- mos caminhar rumo a um sistema educacional inclusivo: • Mudança é aprendizagem; 74 • Mudança é processo; • Mudança demanda tempo; • Mudança pode trazer conflitos. Mudança exige novas formas de pensar e agir, dessa maneira, as escolas devem converter-se em espaços onde os professores aprendem com as atividades que realizam. Ou seja, os professores devem sentir-se como aprendizes, assim como seus alunos. As ideias e concepções não mudam de uma hora para outra, as transformações são alcançadas em um conjunto de es- forços coletivos e demanda tempo. Psicólogos sociais admitem que pesquisas indicam que mudanças em ambientes complexos como a escola, além de serem demoradas, pois de maneira geral, os seres humanos preferem permanecer como estão. Mudar exige correr riscos e necessariamente romper com velhas concepções. Para aceitar uma nova forma de trabalho, é necessário compreender, basicamente em que consiste, qual é o seu propó- sito, o porquê, e como é que pode ocorrer um limitado esforço e interesse em favorecer essa mudança. Outro aspecto fundamental é a parceria escola e famí- lia. Historicamente, a família e a comunidade não têm tido um papel muito ativo no contexto escolar, deixando de exercer seu direito de participar do processo decisório. No entanto, todos os países que adotaram um enfo- que inclusivo, a família e a comunidade transformaram-se em elementos centrais do processo. Os profissionais devem valori- zar essas contribuições, definindo e assumindo a parte que lhes cabe. Podemos citar algumas formas de contribuição: • Incentivar as famílias a estabelecer grupos operativos de ajuda mútua; • Orientar as famílias para promover adequadas experiências de aprendizagem a seus filhos; 75 • Partilhar com as escolas o conhecimento sobre seus filhos; • Participar das decisões que a escola adota acerca do seu filho; • Promover seminários destinados à comunidade escolar, a par- tir das necessidades apontadas pela própria comunidade; • Estimular as famílias a serem defensores dos direitos das crianças; • Organizar pequenas visitas às casas para conversar com os pais acerca de suas habilidades, interesses, comportamentos; • Assegurar que as famílias saibam sobre o que esperar da escola; • A escola pode apresentar-se como um recurso para a comuni- dade, implantando serviços abertos para servi-la; Atividades 1- Aponte os obstáculos que podem surgir, quando professores tentam implantar novas ideias e novas maneiras de trabalhar. 2- Descreva as principais funções das escolas inclusivas? 3- Carvalho (2006) aponta que “[...] infelizmente, a organização da prática pedagógica em classes comuns, além do tradicionalis- mo das metodologias didáticas, com exagerado uso do quadro de giz, está voltada para o aluno dito “normal”. Essas práticas podem ser consideradas inclusivas? Justifique sua resposta. 4- Leia o texto: “A História de Cristina” A professora de Educação Infantil está preocupada com o comportamento de Cristina: uma menina de cinco anos, que fre- quenta a escola. Durante as atividades, na classe, em lugar de pe- 76 dir algo ou manifestar verbalmente seu mal-estar, arranha-se toda, bate violentamente em seu próprio rosto, fica vermelha e arranca os cabelos, mas não chora, nem grita ou diz o que está sentindo. Muitas vezes, a professora tem que segurá-la para que não continue com aquilo. Cristina já está há mais de um mês na classe e suas atitudes de auto-agressão não diminuem. A profes- sora de Cristina solicitou apoio da professora da sala de recurso, que foi observar a aluna durante as aulas e participou da en- trevista com os pais feita pela professora. Com as informações obtidas, conversaram e resolveram solicitar uma reunião com a equipe gestora da escola (diretora, vice, coordenadora pedagó- gica) com o objetivo de expor a situação de Cristina, analisar a situação e pensar em conjunto, uma forma de ajudar a escolari- zação da Cristina. O resumo feito pela professora dizia mais ou menos o seguinte: “Os pais de Cristina são jovens – ele tem vinte e dois anos e ela vinte e um. Tiveram Cristina quando eram ainda mui- to novos e vivem com a sogra. Ambos concluíram o ensino mé- dio. O pai é mecânico de automóveis e trabalha em uma oficina, todos os dias da semana, menos aos domingos, de forma que dedica pouco tempo à filha. A mãe, D. Rosa está grávida, cuida dos trabalhos domésticos e toma conta dos filhos menores.” Cristina é muito calada, não brinca com suas colegui- nhas, mas quando gosta de alguma coisa entusiasma-se e trabalha bem. A aluna desenha, pinta e recorta muito bem. Na hora das historinhas, mostra-se muito disposta a escutar e lhe dá prazer folhear e admirar as páginas. No entanto, não aceita juntar-se a alguma coleguinha, mesmo quando chamada à atenção ou para acompanhar alguma instrução de trabalho ou de brincadeiras em grupo. A professora da sala de recursos especializados, na área de Educação Especial, por sua vez, informa que “Cristina é tratada de modo especial, quando assume essas atitudes de auto-agressão, 77 mas não quando está tranquila, trabalhando... O fato é que a pro- fessora conta com uma auxiliar apenas por algumas poucas horas (para levar as crianças ao banheiro e na hora do lanche), mas em geral precisa atender a trinta alunos pequenos, que demandam muita atenção. A especialista está convencida de que a menina não recebe atenção suficiente de sua mãe e, muito menos, de seu pai. Sugere que para começar, uma forma bem simples de traba- lhar com Cristina seria orientar os pais para darem atenção à filha, quando esta estivesse tranquila, assim como a professora deve reforçar permanentemente os cuidados com Cristina nas aulas, sempre que esta mostrar-se interessadaem algo e quando estiver tranquila, para que sinta afeto por parte da professora e consiga entender que não precisa machucar-se para atrair a atenção. Na mesma linha, propõe que todos ali presentes pu- dessem apoiar a professora de Cristina na sala de aula, e sugere que organizem um cronograma baseado na disponibilidade de cada um. Outros integrantes da equipe opinam que não há ho- rário disponível para ser ocupado com uma única menina. Di- zem que a professora deveria ser capaz de conter as atitudes de auto-agressão de Cristina, e que em todas as classes há alunos, que talvez precisem de mais ajuda do que esta aluna. A diretora propõe que a situação seja analisada mais detidamente e solicita à coordenadora pedagógica que proceda a uma revisão dos ho- rários dos membros da equipe. A professora sente-se descon- fortável e culpada por Cristina agredir-se. Acha que, com tantas crianças na sala que exigem seus cuidados, não consegue dar-lhe a atenção necessária. Você acredita que a escola pode atender às necessidades da criança e de sua professora? De que forma o docente, família e gestores poderiam evitar que essas situações ocorram nos es- tabelecimentos de ensino? 78 5- Uma das mais importantes mudanças na organização pedagó- gica das escolas, visa estimular a escola que elabore com autono- mia e de forma participativa o seu Projeto Político-Pedagógico, diagnosticado à sua demanda. Assim, podemos concluir que dentre as respostas abaixo, a única que não é verdadeira: a) O Projeto Político-Pedagógico deve contemplar quem são, quantos são os alunos, onde estão e porque se evadiram; b) O Projeto Político-Pedagógico deve contemplar quem tem dificuldades de aprendizagem, de frequentar as aulas, assim como os recursos humanos, materiais financeiros disponíveis; c) Esse Projeto implica em um estudo e em um planejamento de trabalho envolvendo somente os funcionários que compõem a comunidade escolar, com objetivo de estabelecer prioridades de atuação, objetivos, metas e responsabilidades, que vão definir o plano de ação das escolas, de acordo com o perfil de cada uma; d) O Projeto Político-Pedagógico deve atender às especificida- des do alunado, da equipe de professores, funcionários e num todo, num dado espaço de tempo, o ano letivo.
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