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Matéria: Direito Civil III - Contratos Contrato de namoro Introdução: A quantidade de contratos de namoro ainda é muito escassa. Por ser uma matéria extremamente singular, é difícil encontrar uma grande quantidade de casos, se tornando um contrato de baixa realização. A simples existência desse pacto já é extremamente polêmica, enveredando inclusive para questões mais complexas como o limite da intervenção estatal nas relações humanas. Entretanto, não podemos deixar de ressaltar as suas particularidades, sendo o mesmo uma opção viável para quem não quer se comprometer com uma união mais sólida, possibilitando uma perspectiva mais moderada para a manutenção de um relacionamento que não se agarra às antigas convenções sociais, sendo esse mais flexível e adaptado para um novo meio. O contrato de namoro é apenas uma declaração que deixa clara a não existência de união estável, sem construir nenhuma obrigação ou direito entre o casal, característica que traz muita polêmica no que diz respeito à sua eficácia. Devido a evolução dos relacionamentos, hoje em dia, onde diversas pessoas vivem sob o mesmo teto, convivendo de forma semelhante como uma entidade familiar, contudo se relacionando sem o objetivo de constituição de família. Assim, por possuírem receio de serem reconhecidos como família e para assegurar os seus patrimônios após o término do relacionamento, muitos casais começaram a elaborar o contrato de namoro, para afastar a comunicabilidade patrimonial. Dessa forma, após a regulamentação da união estável como entidade familiar, e seus efeitos patrimoniais advindos de sua dissolução, houve o estabelecimento de situações de insegurança e temor em casais de namorados, principalmente no que diz respeito a um futuro rompimento de seus relacionamentos. Vislumbram, assim os casais, a necessidade de regulamentar o mesmo através de um contrato, para que não sofram problemas e discussões especialmente patrimoniais. Conceito: O contrato de namoro é um documento que surge com a intenção de proteger o patrimônio de ambos envolvidos em um relacionamento, deixando claro qual relação que as partes possuem e assim permitindo que não exista possibilidade de futuramente algum dos envolvidos solicitarem direitos que a união estável ou o casamento proporciona, como por exemplo a herança, pensão ou até mesmo separação de bens. Logo temos que por se tratar de um contrato considerado lícito, realizado pelo acordo de vontades entre as duas partes envolvidas e protegido pelo artigo 425 do Código Civil onde “É lícito às partes estipular contratos atípicos observados as normas gerais fixadas neste Código”, o contrato de namoro tem efeito obrigacional com a finalidade de extinguir, resguardar e adquirir direitos. Caracteriza-se como namoro o relacionamento amoroso não orientado à constituição de um núcleo familiar estável nem à realização de um projeto de vida em comum. A caracterização do relacionamento como união estável é questão prejudicial ao reconhecimento do direito real de habitação do imóvel residencial do casal, assegurado só ao companheiro sobrevivente. A ruptura imotivada de namoro/noivado ou o mero descumprimento da promessa de casamento, por si só, não enseja danos morais. A pretensão reparatória de ordem moral somente deve ser acolhida se o fato ocorrer de forma marcada por acontecimento excepcional, caracterizado por violência física, moral ou qualquer outra conduta capaz de violar os direitos inerentes à personalidade humana, o que não é o caso dos autos. A constituição da denominada "affectio maritalis", aferível, notadamente, a partir da demonstração de um "compartilhamento de vidas e de esforços, com integral e irrestrito apoio moral e material entre os conviventes". Histórico: A Lei n. 8971 de 1994 que regulamentou a união estável no Brasil, exigiu para a sua configuração, uma convivência superior a 5 anos ou a existência de prole comum. Posteriormente a Lei 9278 de 1996 revogou parcialmente a lei anterior, excluindo os critérios mencionados acima, passando a admitir a união estável pela simples convivência de uma forma pública e duradoura, com objetivo de constituir uma família entre o casal. Contudo, a simples relação, não importando o seu tempo de existência, poderia em tese, desde que verificado a estabilidade e o objetivo de constituição familiar converter-se em uma união estável, cabendo o juízo decidir sobre o caso. Com o advento da Lei 9.278 de 1996, que reconheceu como entidade familiar a convivência, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família, retirando o tempo de convivência para a sua configuração, surgiu uma nova modalidade de contrato: o contrato de namoro. Doutrina: Segundo o juiz de Direito Pablo Stolze Gagliano o conceito de contrato de namoro “Trata-se de um negócio celebrado por duas pessoas que mantém um relacionamento amoroso - namoro, em linguagem comum – e que pretendem, por meio da assinatura de um documento, a ser arquivado em cartório, afastar os efeitos da união estável.” Para ele, o contrato é completamente desprovido de validade jurídica, pois reconhece que a união estável é um fato da vida, uma situação fática que foi absorvida pelo Direito de Família e por isso não poderia reconhecer a validade de um contrato que pretendesse afastar o reconhecimento da união, cuja sua regulação é feita por normas de ordem pública, indisponíveis pela simples manifestação de vontade, contudo o contrato de namoro trata-se de um contrato nulo pela impossibilidade jurídica do objeto. Contextualizando a questão do namoro, Maluf e Maluf referem o seguinte: “Diferentemente, dos companheiros, cujos direitos pessoais e patrimoniais são resguardados pela lei, os namorados não têm direito a herança nem a alimentos. Assim, com o fim do namoro, não há qualquer direito na meação dos bens do ex- namorado. Aliás, nem há de se falar em regime de bens ou em partilha de bens entre namorados. Os namorados não têm nenhum direito, pois o namoro não é uma entidade familiar. (MALUF, Carlos Alberto Dabus, MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus, 2013, p. 376-377).” Há uma calorosa discussão acerca da validade do contrato de namoro. A posição majoritária é pela invalidade jurídica do contrato de namoro, mas não se podem descartar as posições que reconhecem a validade jurídica do mesmo, bem como sua eficácia. Sustenta a posição minoritária pela validade jurídica Zeno Veloso e pela posição majoritária da invalidade: Sílvio de Salvo Venosa, Maria Berenice Dias, entre outros. O contrato de namoro e a norma: Lei de nº 9.278 de 1996, Art. 1º: “É reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família.” Art. 7º: “Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos.” Parágrafo único: “Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência da família.” STF, enunciado da Súmula nº 382: “A vida em comum sob o mesmo teto, ‘more uxorio’, não é indispensável à caracterização do concubinato.” Constituição Federal de 1988, Art. 226, §3º: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.” Jurisprudência: (TJSP – Apelação n. 9103963-90.2008.8.26.0000. 9ª Câmara de Direito Privado. Relator: Grava Brasil. Data de Julgamento: 12/08/2008.) O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ao julgar um pedido de reconhecimentode uma união estável afastou a pretensão de reconhecimento levando em consideração, como uma das provas, a existência do contrato de namoro, no qual revelou que o casal não possuía ânimo de constituir uma família. Referências: NETO, Paulo. Contrato de Namoro, [S. l.], p. 1-9, 1 abr. 2020. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/contrato-de-namoro-2/. Acesso em: 21 maio 2020. GAGLIANO, Pablo Stolze. Contrato De Namoro, Artigo Científico. Disponível em: <http://www.professorchristiano.com.br/ArtigosLeis/pablo_contratonamoro.p df <. Acesso em: 23/05/2020.
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