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Natasha Stephanie - Fisiologia FISIOLOGIA DO MÚSCULO CARDÍACO INTRODUÇÃO Existem três tipos principais de músculos encontrados no corpo humano: músculo esquelético, cardíaco e liso. Cada tipo de músculo tem componentes celulares exclusivos, fisiologia, funções específicas e patologia. O músculo esquelético está unido aos ossos do esqueleto, o que capacita esses músculos a controlarem os movimentos corporais e a postura. O músculo cardíaco envolve o coração e movimenta o sangue pelo sistema circulatório. O músculo liso está presente nos órgãos e nas estruturas tubulares internas, como o estômago, a bexiga e os vasos sanguíneos. A sua principal função envolve o movimento de substâncias para dentro e para fora do corpo e também dentro do próprio corpo. Um exemplo disso é a passagem de alimento pelo trato gastrintestinal. O músculo cardíaco, o músculo especializado do coração, possui características tanto do músculo liso quanto do esquelético. Os músculos esquelético e cardíaco são classificados como músculos estriados, devido ao padrão alternado de bandas claras e escuras (actina e miosina) observado na microscopia óptica. Quando observado ao microscópio óptico, o músculo liso não apresenta as bandas transversais evidentes nos músculos estriados. A ausência de bandas é o resultado de um arranjo menos organizado dos filamentos contráteis presentes no interior das células musculares lisas. Natasha Stephanie - Fisiologia O músculo cardíaco ou miocárdio é um músculo estriado involuntário que envolve as câmaras do coração e suas células individuais são denominadas cardiomiócitos. Dessa forma, é composto por três tipos principais de músculo: o músculo atrial, o músculo ventricular e as fibras especializadas excitatórias e condutoras. Os tipos atrial e ventricular de músculo contraem-se quase como os músculos esqueléticos, mas com duração muito maior da contração. As fibras excitatórias e de condução do coração, no entanto, só se contraem fracamente por conterem poucas fibras contráteis, mas apresentam descargas elétricas rítmicas automáticas, na forma de potenciais de ação, ou fazem a condução desses potenciais de ação pelo coração, representando sistema excitatório que controla os batimentos rítmicos. ANATOMIA MUSCULAR CARDÍACA Os fisiologistas que estudam os músculos, assim como os neurobiólogos, utilizam um vocabulário especializado. A membrana plasmática de uma fibra muscular é chamada de sarcolema, e o citoplasma é chamado de sarcoplasma. O retículo sarcoplasmático é um retículo endoplasmático modificado. CARDIOMIÓCITOS Essas células são conhecidas como fibras musculares cardíacas, células do miocárdio, miócitos, cardiócitos ou cardiomiócitos. Núcleo As fibras musculares cardíacas são muito menores do que as fibras musculares esqueléticas e, em geral, possuem um núcleo por fibra, localizado centralmente. Esse arranjo contrasta com as células do músculo esquelético, que geralmente contêm muitos núcleos. Mitocôndrias Em repouso, o músculo cardíaco obtém 99% de sua energia do metabolismo aeróbio. As células miocárdicas possuem numerosas mitocôndrias, ocupando cerca de um terço do volume celular de uma fibra contrátil cardíaca, para produzir grandes quantidades de trifosfato de adenosina (ATP) e mioglobina para armazenar oxigênio para atender à grande demanda energética da contração muscular. Comparando-se com o músculo estriado esquelético, o músculo estriado cardíaco tem em torno de 30% mais mitocôndrias. Natasha Stephanie - Fisiologia Sarcolema O cardiomiócito é circundado por uma membrana plasmática chamada sarcolema, que atua como uma barreira entre os conteúdos extracelular e intracelular. Túbulos T Um túbulo-T ou túbulo transverso é uma invaginação profunda do sarcolema no citoplasma do cardiomiócito. Estas invaginações permitem que a despolarização da membrana rapidamente penetre no interior da célula, pois promove o alcance simultâneo das regiões superficiais e profundas do músculo. Contêm numerosas proteínas como canais de cálcio do tipo L, trocadores de sódio-cálcio, ATPases de cálcio e receptores beta-adrenérgicos que permitem a troca de íons com fluido extracelular em torno da célula. Na linha Z do cardiomiócito, os túbulos T correm adjacentes a áreas aumentadas do retículo sarcoplasmático conhecidas como cisternas terminais, e o conjunto formado por um único túbulo T com uma cisterna terminal é denominado díade. Esta configuração contrasta com o músculo esquelético, que combina 2 cisternas terminais com 1 túbulo T para formar "tríades''. Os túbulos T das células miocárdicas são maiores do que os do músculo esquelético e se ramificam dentro das células miocárdicas. Discos intercalares Os discos intercalares correspondem a complexos juncionais que, no músculo cardíaco, unem cardiomiócitos vizinhos em suas extremidades para criar um sincício mecânico e elétrico de células acopladas, diferente das fibras do músculo esquelético que são células separadas, mantidas juntas por tecido conjuntivo. Esses são complexos altamente aderentes, https://pt.wikipedia.org/wiki/Invagina%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Despolariza%C3%A7%C3%A3o Natasha Stephanie - Fisiologia que permitem que as células do músculo cardíaco recebam uma transmissão elétrica rápida e se contraiam como uma única unidade, além de que possam trocar substâncias entre si, como ATP, ADP, glicose e íons. Os discos intercalares têm dois componentes: os desmossomos e as junções comunicantes. O lado transversal dos discos intercalados é perpendicular às fibras musculares nas linhas Z e fornece um componente estrutural via fáscia aderente e conexões. O lado lateral dos discos contém junções comunicantes que permitem a comunicação intercelular, permitindo que íons de um cardiomiócito se movam para uma célula vizinha sem ter que ser excretados no espaço extracelular primeiro. A baixa resistência das junções comunicantes permite que a despolarização se espalhe rapidamente por todo o sincício. Desmossomos Os desmossomos são conexões fortes que mantêm as células vizinhas unidas, permitindo que a força criada em uma célula seja transferida para a célula vizinha. Junções comunicantes (gap junctions) As junções comunicantes nos discos intercalares conectam eletricamente as células musculares cardíacas umas às outras. Elas permitem que as ondas de despolarização se espalhem rapidamente de célula a célula, de modo que todas as células do músculo cardíaco se contraem quase simultaneamente. Neste aspecto, o músculo cardíaco assemelha-se ao músculo liso unitário. Sarcoplasma O sarcoplasma de uma fibra muscular corresponde ao citoplasma (interior) de outras células do nosso corpo e pode ser definido como o conteúdo que está envolvido pelo sarcolema, excluindo os núcleos e as células satélites. Miofibrilas As principais estruturas intracelulares dos músculos estriados são as miofibrilas, que são organelos tubulares dispostos em feixes longitudinais que preenchem quase totalmente o citoplasma das células musculares, em contacto com as extremidades do sarcolema (a membrana celular destas células) e são constituídas por seções repetidas de sarcômeros, que são as unidades contráteis fundamentais das células musculares. Sarcômeros https://pt.wikipedia.org/wiki/Cilindro https://pt.wikipedia.org/wiki/Citoplasma https://pt.wikipedia.org/wiki/Fibra_muscular https://pt.wikipedia.org/wiki/Sarcolema https://pt.wikipedia.org/wiki/Membrana_celular https://pt.wikipedia.org/wiki/Membrana_celular Natasha Stephanie - Fisiologia Os sarcômeros são as unidades contráteis fundamentais das células musculares e são compostos de proteínas longas que se organizam em filamentos grossos e finos, chamados miofilamentos. As linhas Z definem o limite do sarcômero. As proteínas das miofibrilas incluem a proteína motora miosina, que forma os filamentos grossos; os microfilamentos de actina (p. 68),que formam os filamentos finos; as proteínas reguladoras tropomiosina e troponina; e duas proteínas acessórias gigantes, a titina e a nebulina.Os miofilamentos deslizam um sobre o outro conforme o músculo se contrai e relaxa. Na maior parte do tempo, os filamentos grossos e finos de cada miofibrila, dispostos em paralelo, estão conectados por ligações cruzadas de miosina, as quais atravessam o espaço entre os filamentos. Cada molécula de actina G tem um único sítio de ligação à miosina. Cada cabeça da miosina tem um sítio de ligação à actina e um sítio de ligação ao ATP. As ligações cruzadas formam-se quando as cabeças de miosina dos filamentos grossos se ligam à actina dos filamentos finos. Sarcômero 1.3 Discos Z Um sarcômero é formado por dois discos Z e pelos filamentos encontrados entre eles. Os discos Z são estruturas proteicas em ziguezague que servem como pontos de ancoragem para os filamentos finos. A abreviação Z provém de zwischen, a palavra do alemão para “entre”. 1.4 Banda I É a banda de coloração mais clara do sarcômero e representa uma região ocupada apenas pelos filamentos finos. A abreviação I vem de isotrópico, uma descrição dos primeiros microscopistas, indicando que a região reflete a luz de maneira uniforme ao microscópio de polarização. Um disco Z atravessa o centro de cada banda I, de modo que cada metade de uma banda I pertence a um sarcômero diferente. Banda A. É a banda mais escura do sarcômero e engloba todo o comprimento de um filamento grosso. Nas porções laterais da banda A, os filamentos grossos e finos estão sobrepostos. O centro da banda A é ocupado apenas por filamentos grossos. A abreviação A vem de anisotrópico, indicando que as proteínas dessa região desviam a luz de modo irregular. Zona H. Essa região central da banda A é mais clara do que as porções laterais da banda A, uma vez que a zona H é ocupada apenas por filamentos grossos. O H vem de helles, a palavra alemã para “claro”. 5. Linha M. Essa banda representa as proteínas que formam o sítio de ancoragem dos filamentos grossos (equivalente ao disco Z para os filamentos finos). Cada linha M divide uma banda A ao meio. M é a abreviação para mittel, a palavra alemã para “meio” Natasha Stephanie - Fisiologia Esse processo é ativado a partir da liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático (RS) ao entregar um potencial de ação ao músculo, em um processo denominado acoplamento excitação-contração. O deslizamento de actina e miosina uma pela outra produz a formação de "pontes cruzadas''. Como o músculo esquelético, a organização de miofilamentos finos e grossos sobrepostos dentro do sarcômero da célula produz uma aparência estriada quando vista ao microscópio. Esta aparência característica consiste em bandas A de cor escura espessas (compostas principalmente de miosina) com uma zona H relativamente brilhante no centro e bandas I de cores mais claras (principalmente actina) com uma linha Z central escura (também conhecida como disco Z) conectando os filamentos de actina. A linha Z divide a banda I e representa o ponto de aderência dos filamentos finos. Os filamentos grossos são ancorados às linhas Z por meio de uma grande proteína elástica denominada titina. Embora tenha sido atribuída à titina a função de ancorar a miosina às linhas Z e, assim, impedir o estiramento excessivo do sarcômero, existem evidências indicando que a titina pode participar na sinalização celular (agindo, talvez, como sensor de estiramento, modulando a síntese proteica, em resposta ao estresse). A sinalização pela titina tem sido observada nas células musculoesqueléticas e cardíacas. Retículo sarcoplasmático O retículo sarcoplasmático é o retículo endoplasmático das células musculares. É especializado no armazenamento de íons cálcio, e a sua liberação produz um sinal de cálcio que desempenha um papel-chave na contração de todos os tipos de músculo. O retículo sarcoplasmático miocárdico é menor que o do músculo esquelético; por isso, o músculo cardíaco depende, em parte, do Ca2 extracelular para iniciar a contração. Nesse aspecto, o músculo cardíaco assemelha-se ao músculo liso. Apresenta estrutura modificada, envolvendo cada miofibrila e sendo formado por túbulos longitudinais com porções terminais alargadas, chamadas de cisternas terminais. ● Cisternas terminais: Cada rede do retículo se estende da junção de uma banda AI até a próxima junção A-I de cada sarcômero. No local em que as duas redes se encontram, na junção entre as bandas A e I, o retículo sarcoplasmático forma canais que circundam o sarcômero, as chamadas cisternas terminais. A membrana plasmática das cisternas terminais apresenta canais de liberação de Ca2 + dentro do sarcoplasma, denominados receptores de rianodina (RyR1). Além disso, a energia para as reações de contração muscular é fornecida por mitocôndrias e grânulos de glicogênio presentes ao redor das miofibrilas associados ao retículo sarcoplasmático. As cisternas terminais são adjacentes e intimamente associadas a uma rede ramificada de túbulos transversos, também chamados de túbulos T. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ret%C3%ADculo_endoplasm%C3%A1tico https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula_muscular https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1lcio Natasha Stephanie - Fisiologia Natasha Stephanie - Fisiologia Cardiomiócitos autoexcitáveis O sinal para a contração miocárdica não é proveniente do sistema nervoso central, mas de células miocárdicas especializadas, denominadas células autoexcitáveis, que são especializadas em gerar potenciais de ação espontaneamente (sem estímulos externos), propriedade única do coração. Dessa forma, o coração pode se contrair sem uma conexão com outras partes do corpo, pois o sinal para a contração é miogênico, ou seja, é originado dentro do próprio músculo cardíaco. São também denominadas células marca-passo, uma vez que elas determinam a frequência dos batimentos cardíacos. Correspondem a cerca de 1% dos cardiomiócitos e são anatomicamente distintas das células contráteis: são menores e contêm poucas fibras contráteis. Como elas não têm sarcômeros organizados, as células autoexcitáveis não contribuem para a força contrátil do coração. Tais células contráteis são típicas de músculo estriado, com fibras contráteis organizadas em sarcômeros, sendo então uma semelhança entre o músculo estriado esquelético e o músculo estriado cardíaco. A contração das células do músculo cardíaco não é iniciada pelos neurônios no músculo esquelético, mas pela excitação elétrica que se origina do marca-passo do próprio coração, o nodo sinoatrial, gerando potenciais de ação espontâneos e periódicos. Quando um potencial de ação é iniciado em uma célula, a corrente flui através das junções comunicantes e despolariza as Natasha Stephanie - Fisiologia células vizinhas. Os miócitos cardíacos recebem impulsos sinápticos dos neurônios autonômicos, mas as divisões simpáticas e parassimpáticas do sistema nervoso autônomo usam essas sinapses para modular ao invés de iniciar a função do músculo cardíaco. CONTRAÇÃO Um potencial de ação que entra em uma célula contrátil se move pelo sarcolema e entra nos túbulos T, onde abre os canais de Ca2 dependentes de voltagem tipo L na membrana das células. O Ca2 entra nas células através desses canais, movendo-se a favor do seu gradiente eletroquímico. A entrada de cálcio durante o potencial de ação abre os canais liberadores de cálcio do tipo rianodínico (RyR) no retículo sarcoplasmático (RYRs). Quando os canais RyR se abrem, o cálcio estocado flui para fora do retículo sarcoplasmático e entra no citosol. A abertura múltipla de diferentes canais RyR se somam para criar o sinal de Ca2. A liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático fornece, aproximadamente, 90% do Ca2 necessário à contração muscular, sendo que os 10% restantes entram na célula a partir do líquido extracelular. O cálcio difunde-se pelo citosol para os elementos contráteis, onde se liga à troponina e inicia o ciclo de formação de pontes cruzadas e o movimento. De forma semelhante ao músculo esquelético, a contração do músculo cardíaco é desencadeada pela ligação do cálcio à troponina nos filamentos de actina do cardiomiócito.Essa Natasha Stephanie - Fisiologia ligação remove então a tropomiosina e permite a ligação da miosina aos filamentos de actina e eventual contração. Quando durante um potencial de ação, a [Ca++] citosólica aumenta, e o Ca++ se liga à troponina C, o que resulta na alteração conformacional no complexo troponina-tropomiosina, de modo que a tropomiosina escorrega para o interior do sulco do filamento de actina e expõe os sítios de ligação da miosina no filamento de actina. Enquanto a [Ca++] citosólica permanece elevada e, por conseguinte, os sítios da miosina estão expostos, a miosina irá ligar-se à actina, com ação de catraca, contraindo a célula muscular cardíaca. Durante a elevação da [Ca++] intracelular e a exposição dos sítios de ligação da miosina à actina, as pontes cruzadas da miosina passam por uma série de etapas que resultam na contração da célula muscular cardíaca. Em repouso, as moléculas de miosina encontram-se energizadas com o ATP que foi parcialmente hidrolisado para “erguer a cabeça” e, dessa forma, prontas para interagir com a actina. A elevação da [Ca++] intracelular expõe, então, os sítios de ligação da miosina na actina e permite que a miosina se ligue à actina (etapa 1). A miosina ligada passa, em seguida, por movimento de força, no qual o filamento de actina é puxado em direção ao centro do sarcômero (etapa 2). O ADP e Pi são liberados da cabeça da miosina, durante essa etapa, quando a energia do ATP é usada para contrair o músculo. A ligação do ATP à miosina reduz a afinidade desta pela actina, permitindo, assim, que a miosina se libere da actina (etapa 3). A miosina, então, hidrolisa, parcialmente, o ATP ligado para re-energizar (“erguer”) a cabeça (etapa 4) e preparar a ponte cruzada para outro ciclo. Esse ciclo de quatro etapas é idêntico ao descrito para o músculo esquelético. A liberação de fosfato inorgânico (Pi) (2) inicia o golpe de força, movendo as cabeças da miosina para um ângulo de 45 graus e encurtando o sarcômero. (3) Após o golpe de força e a dissociação do ADP, (4) a miosina é fortemente ligada à actina em um ângulo de 45 graus em um complexo de rigor. (5) A ligação do ATP à miosina quebra a ligação actina-miosina. A hidrólise do ATP move a cabeça da miosina para um ângulo de 90 graus, onde ela pode se ligar novamente à actina, retornando para (1). Após o golpe de potência, o processo se repete, desde que haja estoques suficientes de ATP e que o Ca ++ mantenha os locais de ligação da actina expostos. Natasha Stephanie - Fisiologia MECANISMO DE FRANK-STARLING O mecanismo de Frank-Starling consiste na constatação que quanto mais alongada estiver a fibra muscular e o sarcômero no início da contração, maior será a tensão desenvolvida, até um limite máximo, e maior é a força de contração. Esta relação atua sobre a força de contração muscular, permitindo que o miocárdio saudável seja capaz de bombear qualquer quantidade de sangue que chegue ao coração, sendo necessário, para seu funcionamento: que a contração das células cardíacas seja forte, ocorrendo em intervalos regulares e sincronizados; que as valvas se abram completamente e não regurgitem o sangue; e que o ventrículo se encha corretamente durante a diástole. Dessa forma, levando-se em consideração que a força gerada pelo músculo cardíaco é proporcional ao número de ligações cruzadas que estão ativas e que o número de ligações cruzadas é determinado pela quantidade de Ca2 ligado à troponina, o aumento da [Ca++] citoplasmático resulta em um aumento da força de contração. Isso pode ser explicado pelo fato Natasha Stephanie - Fisiologia de que o alongamento das fibras musculares aumenta afinidade da troponina C pelo cálcio, permitindo assim a formação de um maior número de pontes cruzadas de actina-miosina. Além disso, quanto maior o estiramento, mais cálcio entra na célula pelo sarcolema e, com isso, mais cálcio é liberado pelo RS para o citoplasma, aumentando-se também a força de contração. Por fim, o estiramento reduz o espaço entre os filamentos grossos e finos, assim mais moléculas de miosina interagem com a actina, aumentando a força de contração. PERFORMANCE CARDÍACA A ATPase é uma enzima que cliva ATP para liberar energia para contração muscular, fazendo parte da própria molécula da miosina, constituindo a sua cabeça (por isso se fala em ATPase miosínica). Algumas condições que demonstraram afetar a contratilidade miocárdica também demonstraram alterar a atividade da ATPase miosínica, por mudanças nas suas isoformas. POTENCIAL DE AÇÃO O músculo cardíaco, assim como o músculo esquelético e os neurônios, é um tecido excitável com a capacidade de gerar potenciais de ação. Cada um dos dois tipos de células musculares cardíacas tem um potencial de ação distinto, que varia um pouco no formato, dependendo do local do coração onde ele é medido. Tanto no miocárdio autoexcitável quanto no contrátil, o Ca2 desempenha um papel importante no potencial de ação, em contraste com os potenciais de ação do músculo esquelético e dos neurônios. Células miocárdicas contráteis Os potenciais de ação das células cardíacas contráteis são similares, de diversas maneiras, aos dos neurônios e dos músculos esqueléticos. A fase de despolarização rápida do potencial de ação é resultado da entrada de Na, e a fase de repolarização rápida é devida à saída de K da célula. A principal diferença entre o potencial de ação das células miocárdicas contráteis daqueles das fibras musculares esqueléticas e dos neurônios é que as células miocárdicas têm um potencial de ação mais longo, devido à entrada de Ca2. Natasha Stephanie - Fisiologia Por convenção, as fases do potencial de ação iniciam com zero. Fase 4: potencial de membrana em repouso. As células miocárdicas contráteis têm um potencial de repouso estável de aproximadamente 90 mV. Fase 0: despolarização. Quando a onda de despolarização entra na célula contrátil através das junções comunicantes, o potencial de membrana torna-se mais positivo. Os canais de Na dependentes de voltagem se abrem, permitindo que a entrada de Na despolarize rapidamente a célula. O potencial de membrana atinge cerca de 20 mV antes de os canais de Na se fecharem. Estes são canais de Na com duas comportas, similares aos canais de Na dependentes de voltagem do axônio. Fase 1: repolarização inicial. Quando os canais de Na se fecham, a célula começa a repolarizar à medida que o K deixa a célula pelos canais de K abertos. Fase 2: o platô. A repolarização inicial é muito breve. O potencial de ação, então, se achata e forma um platô como resultado de dois eventos: uma diminuição na permeabilidade ao K e um aumento na permeabilidade ao Ca2. Os canais de Ca2 dependentes de voltagem ativados pela despolarização foram abertos lentamente durante as fases 0 e 1. Quando eles finalmente abrem, o Ca2 entra na célula. Ao mesmo tempo, alguns canais “rápidos” de K se fecham. A combinação do influxo de Ca2 com a diminuição do efluxo de K faz o potencial de ação se achatar e formar um platô. Fase 3: repolarização rápida. O platô termina quando os canais de Ca2 se fecham e a permeabilidade ao K aumenta mais uma vez. Os canais lentos de K, responsáveis por essa fase, são similares aos dos neurônios: eles são ativados pela despolarização, mas são abertos lentamente. Quando os canais lentos de K se abrem, o K sai rapidamente e a célula retorna para seu potencial de repouso (fase 4). O influxo de Ca2 durante a fase 2 prolonga a duração total do potencial de ação do miocárdio. Um potencial de ação típico em um neurônio ou fibra muscular esquelética dura entre 1 e 5 ms. Em uma célula miocárdica contrátil, o potencial de ação dura geralmente 200 ms ou mais. O potencial de ação miocárdico mais longo ajuda a impedir a contração sustentada, chamada de tétano. A prevenção do tétano no coração é importante porque o músculo cardíaco deve relaxar entre as contrações, de modo que os ventrículos possam encher-se com sangue. Como você pode lembrar, o período refratário é o período após um potencial de ação durante o qualum estímulo normal não pode desencadear um segundo potencial de ação. No músculo cardíaco, o longo potencial de ação faz o período refratário e a contração terminarem simultaneamente. Quando um segundo potencial de ação pode ocorrer, a célula miocárdica está quase completamente relaxada. Consequentemente, não ocorre somação. Em contrapartida, o potencial de ação e o período refratário do músculo esquelético terminam justamente com o início da contração. Por esse motivo, o disparo de um segundo potencial de ação imediatamente após o período refratário causa a somação das contrações. Se uma série de potenciais de ação ocorrerem em rápida sucessão, resultará em uma contração sustentada, conhecida como tétano. Natasha Stephanie - Fisiologia SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO Agonistas b-Adrenérgicos O sistema nervoso simpático é estimulado quando somos excitados e é dito preparar o indivíduo para “lutar ou fugir”. No caso do coração, o aumento dos níveis do hormônio da medula suprarrenal, a epinefrina, ou do neurotransmissor simpático norepinefrina ativa os receptores β-adrenérgicos nas células musculares cardíacas, que, por sua vez, ativam a adenilato ciclase, aumentando o AMPc e promovendo, assim, a fosforilação AMPc-dependente das numerosas proteínas nas células musculares cardíacas. Os canais de Ca++ tipo L voltagem-dependentes (responsáveis por disparar o Ca++) e uma proteína associada à SERCA, denominada fosfolamban, são fosforilados por proteinocinase no AMPc-dependente. A ação combinada dessas fosforilações aumenta a quantidade de Ca++ no RS. Especificamente, a fosforilação do canal de Ca++ sarcolêmico resulta em mais disparadores de Ca++ entrando na célula, e a fosforilação do fosfolambam aumenta a atividade da SERCA, permitindo, portanto, que o RS acumule mais Ca++, antes que seja retirado pelo antiportador 3Na+-1Ca++ e pela bomba de Ca++ sarcolêmica. O resultado final é a liberação, pelo RS, de mais Ca++ para o citosol durante o próximo potencial de ação, promovendo mais interações actina-miosina e, dessa forma, maior força de contração. O aumento da atividade da SERCA, após estimulação simpática, ocasiona, também, contração encurtada em razão do período de reacúmulo de Ca++ pelo RS. Isso, por sua vez, permite que o coração aumente sua velocidade de relaxamento. A consequência adicional da estimulação simpática é o aumento da velocidade cardíaca, pelo efeito direto sobre as células do marcapasso. Natasha Stephanie - Fisiologia EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. O músculo estriado cardíaco é encontrado apenas no tecido que forma o nosso coração. As células que formam esse tecido são semelhantes às encontradas no tecido muscular estriado esquelético quando observamos suas estriações, entretanto, diferenciam-se destas por: a) apresentarem múltiplos núcleos. b) apresentarem núcleos localizados na região periférica. c) possuírem apenas um ou dois núcleos. d) possuírem de três a cinco núcleos localizados na região central. e) não possuírem núcleos. 02. No tecido muscular estriado cardíaco, percebe-se uma especialização exclusiva que aparece nas células desse tecido, como linhas retas ou escalariformes, que garante que a contração passe de uma célula à outra. Marque a alternativa que indica corretamente o nome dessa especialização. a) estriações longitudinais. b) disco intervertebral. c) estriações transversais. d) discos intercalares. e) estriações intercomunicantes. 03. Os músculos são tecidos especializados que constituem aproximadamente 40% de toda nossa massa corporal. Podemos classificá-los em três tipos básicos: estriado esquelético, estriado cardíaco e não estriado. O tipo não estriado não apresenta estriações transversais características dos outros tecidos musculares. Isso ocorre porque: a) não existem filamentos de actina e miosina nesse tipo de tecido muscular. b) existe apenas actina nesse tipo de tecido muscular. c) os filamentos de actina e miosina não estão organizados em um padrão regular nesse tipo de tecido muscular. d) as células não estão agrupadas formando feixes nesse tipo de tecido muscular. e) não se observa a presença de miosina nesse tipo de tecido muscular. Natasha Stephanie - Fisiologia 04. Considerando o esquema dos sarcômeros representados abaixo e suas características durante a contração, assinale a afirmativa INCORRETA: O esquema acima representa o sarcômero a) I contém miofilamentos e corresponde à banda A, que não se encurta. b) IV contém actina e corresponde a uma banda que se encurta. c) II delimita o sarcômero e corresponde às linhas Z, que se aproximam. d) III contém miosina e corresponde à banda H, que se estreita. e) V contém miofibrilas e corresponde ao sarcômero, que não se encurta. 05. Quando uma artéria coronária é bloqueada, o dano ao músculo cardíaco pela falta de oxigênio pode causar a morte das células do miocárdio. A condução elétrica através do miocárdio deve, então, desviar das células mortas ou que estão morrendo. Para tentar minimizar tanto dano, o médico da sala de emergência adiciona um -bloqueador aos outros tratamentos de Walter. P5: Como os sinais elétricos passam de célula a célula no miocárdio? P6: O que acontece com a contração de uma célula miocárdica contrátil se a onda de despolarização desviar dela? 06. Qual dos tipos de células musculares acima é mais provável de ser encontrado no miocárdio? a) Tipos de células musculares 1 e 3 b) Célula muscular tipo 2 c) Tipos de células musculares 2 e 3 d) Célula muscular tipo 3 e) Célula muscular tipo 1 08. Qual das seguintes estruturas celulares permite que o coração opere como um sincício funcional? a) Nenhum desses b) Junções de lacuna c) Adherens junctions d) Desmosomes Natasha Stephanie - Fisiologia e) Bombas de sódio-potássio 09. O músculo estriado cardíaco depende do cálcio extracelular da mesma forma que o músculo estriado esquelético? 10. A fibra muscular estriada cardíaca tem a mesma quantidade de mitocôndrias que a fibra muscular estriada esquelética? 11. Qual o nome do receptor de cálcio presente no retículo sarcoplasmático? 12. Qual a proteína que liga a miosina ao disco Z? 13. Qual o nome do complexo formado pelo sarcolema e o retículo endoplasmático no músculo estriado cardíaco? 14. Os músculos cardíacos diferem dos músculos esqueléticos porque ________. a) são estriadas b) utilizar metabolismo aeróbico c) contém miofibrilas d) contém discos intercalados 15. Qual seria a desvantagem de as contrações cardíacas terem a mesma duração das contrações do músculo esquelético? 16. Como as células do músculo cardíaco são semelhantes e diferentes das células do músculo esquelético? RESPOSTAS 01. Alternativa “c”. O tecido muscular esquelético apresenta múltiplos núcleos, e o tecido muscular estriado cardíaco apresenta apenas de um a dois núcleos localizados na região central. 02. Alternativa “d”. Os discos intercalares são especializações que garantem uma contração coordenada do tecido cardíaco. 03. Alternativa “c”. Apesar de os filamentos de actina e miosina estarem dispostos de acordo com o maior eixo da célula, eles não se organizam de uma maneira regular. Sendo assim, o tecido muscular não estriado não apresenta estriações transversais. 04. Alternativa “e”. Apesar de V indicar realmente um sarcômero, sabemos que essa unidade é contrátil, diferentemente do que foi afirmado na alternativa. 05. Como os sinais elétricos passam de célula a célula no miocárdio? Os sinais elétricos passam através das junções comunicantes nos discos intercalares (p. 74). As células do coração são eletricamente acopladas pelas junções comunicantes. P6: O que acontece com a contração de uma célula miocárdica contrátil se a onda de despolarização desviar dela? A despolarização em uma célula muscular é o sinal para a contração. Se a célula Natasha Stephanie - Fisiologia miocárdica não é despolarizada, ela não se contrairá. A falha na contração cria uma região não funcional no músculo cardíaco e prejudica a função de bomba do coração. 06. Célula muscular tipo 2. O músculocardíaco é fisiológica e morfologicamente distinto dos músculos esquelético e liso. Em vez de usar a quinase de cadeia leve da miosina (como o músculo liso), o músculo cardíaco usa o mesmo padrão de sarcômero do músculo esquelético. Isso explica a presença de estrias em ambos os tipos de tecido. O músculo cardíaco é único, no entanto, por ter junções comunicantes que permitem a troca de íons entre células individuais. Isso permite que o miocárdio, ou porção muscular do tecido cardíaco, bata de forma coordenada, à medida que as células se despolarizam lado a lado. Além disso, discos intercalados estão presentes nas extremidades dos sarcômeros, mas não no músculo esquelético.Essas duas características permitem concluir que a célula muscular do tipo 2 é o músculo cardíaco e será encontrada no miocárdio. 07. B. A presença de junções comunicantes dentro dos discos intercalados de miócitos cardíacos contráteis permite a passagem rápida de íons de uma célula para outra. Uma vez que as células marcapasso no nó sinoatrial do coração geram espontaneamente potenciais de ação, essa onda de despolarização se espalha para os miócitos contráteis vizinhos por meio de junções comunicantes. Essas conexões de junção de hiato são cruciais para o coração operar de maneira unificada e coordenada e são responsáveis pela contração ondulatória característica do coração do ápice à base. 08. Não, pois o músculo estriado cardíaco apresenta um retículo sarcoplasmático bem menor que o do músculo estriado esquelético, necessitando, assim, de um fornecimento extra de Ca++, obtido do meio extracelular, pelos canais de cálcio tipo L presentes no sarcolema do túbulo T. 09. A fibra muscular estriada cardíaca contém 30% mais mitocôndrias que a fibra muscular estriada esquelética, o que pode ser justificado pela sua grande demanda energética para as contrações cardíacas, as quais não podem cessar. 10. Rianodina. 11. Titina. 12. Díade. 13. D 14. O potencial de ação miocárdico mais longo ajuda a impedir que outro potencial de ação atinja um cardiomiócito antes deste entrar na fase de relaxamento, impedindo assim a contração sustentada, chamada de tétano. A prevenção do tétano no coração é importante porque o músculo cardíaco deve relaxar entre as contrações, de modo que os ventrículos possam encher-se com sangue. 15. As células do músculo cardíaco e do músculo esquelético contém miofibrilas ordenadas e são estriadas. As células do músculo cardíaco são ramificadas e contêm discos intercalares, que os músculos esqueléticos não possuem.
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