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Acidente Laquético (Epidemiologia, Veneno, Diagnóstico, Tratamento)

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Introdução:
Acidentes laquéticos são causados por serpentes peçonhentas do gênero Lachesis. 
Popularmente estas serpentes são conhecidas como:
surucucu 
pico-de-jaca
surucucu-pico-de-jaca
surucutinga
malha-de-fogo
No Brasil, existem duas subespécies do gênero Lachesis
➔ Lachesis muta muta, presente na floresta Amazônica
➔ Lachesis muta rhombeata, uma subespécie endêmica da Mata Atlântica
Sendo que, atualmente, a segunda se encontra ameaçada de extinção devido ao
declínio populacional que sofreu em consequência da redução e fragmentação do
seu habitat natural em razão do desmatamento. Ela está classificada como
vulnerável na Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature and
Natural Resources (IUCN). Tal lista obedece a critérios precisos, para avaliar os
riscos de extinção de espécies em todas as regiões do mundo, com o objetivo de
informar sobre a urgência das medidas de conservação para o público e
legisladores, assim como ajudar a comunidade internacional na tentativa de reduzir
as extinções. 
As serpentes pertencentes ao gênero Lachesis são ovíparas e grandes, podem chegar a
3,5 m de comprimento e assim como a maioria das espécies de serpentes peçonhentas
de interesse médico no Brasil, elas apresentam fosseta loreal. 
Essas serpentes possuem cauda em forma de “espinho” e seu bote pode ultrapassar 50%
do seu comprimento total.
Acidente Laquético 
Apesar de popularmente serem consideradas agressivas, essa não é bem a realidade,
pois os acidentes laquéticos, em sua maioria, ocorrem porque as vítimas não percebem a
presença da serpente e se aproximam demasiadamente do animal. Apesar de pouco
frequentes (1,4% do total de acidentes humanos por serpentes peçonhentas), os
acidentes laquéticos não podem ser ignorados e devem sempre ser levados a sério. 
De maneira geral, para os gêneros de serpentes peçonhentas a distribuição dos acidentes
ao longo do ano não ocorre de maneira uniforme, nas épocas de chuva e calor, verifica-se
um aumento no número de casos, essas épocas coincidem com o período de maior
atividade humana no campo. Na maioria dos estados esse período corresponde de
janeiro a abril. Desta maneira, é possível afirmar que os acidentes ofídicos acometem,
com maior frequência, jovens do sexo masculino durante o trabalho na zona rural.
A peçonha laquética possui importantes atividades fisiopatológicas, com lesões locais e
destruição tecidual causando necrose pela ação proteolítica, ativação da cascata de
coagulação podendo induzir incoagulabilidade sanguínea por consumo de fibrinogênio
pela ação coagulante, promoção da liberação de substâncias hipotensoras e lesões na
membrana basal dos capilares por ação das hemorraginas que associada à
plaquetopenia e alterações da coagulação, promovem as manifestações hemorrágicas.
Além desses três tipos de atividades, o veneno laquético se diferencia do botrópico por
apresentar ação neurotóxica, com estimulação vagal, alterações de sensibilidade no local
da picada, da gustação e da olfação. Comparado ao veneno de Bothrops atrox (Jararaca),
o veneno de L. muta possui maior atividade coagulante e menor ação hemorrágica.
As manifestações locais evidenciam-se nas primeiras horas após a picada, com a
presença de edema, dor e equimose na região atingida, que progride ao longo do membro
acometido. As marcas de picada nem sempre são visíveis, assim como o sangramento
nos pontos de inoculação das presas.
As manifestações, tanto locais como sistêmicas do quadro de acidente por Lachesis
muitas vezes são indistinguíveis do quadro desencadeado pelo veneno botrópico,
causado pelo gênero Bothrops. A diferenciação clínica se faz quando, nos acidentes
laquéticos, estão presentes alterações vagais como náuseas, vômitos, cólicas
abdominais, diarreia, hipotensão e choque, decorrentes da atividade neurotóxica.
Epidemiologia
Veneno
Sinais Clínicos
Os sinais clínicos locais frequentes são dor acentuada, eritema, equimose, que podem
progredir para todo o membro. Podem aparecer bolhas de conteúdo sero-hemorrágico e
complicações, tais como síndrome compartimental, onde ocorre o acúmulo de pressão
devido a hemorragia interna ou inchaço dos tecidos, além de necrose e déficit funcional
do membro. É comum a ocorrência de infecção bacteriana no local da picada, tal infecção
secundária, em alguns casos, pode levar à amputação e/ou déficit funcional do membro. 
Como a sintomatologia clínica do quadro de acidente laquético é muito parecida com a do
acidente botrópico, foram desenvolvidos testes de imunoensaio (ELISA) para a
confirmação do diagnóstico, mas, devido ao alto custo, esse tipo de teste ainda não é
disponível para uso na rotina. As manifestações hemorrágicas limitam-se ao local da
picada na maioria dos casos, entretanto, sangramento no local de venopunção,
equimoses, epistaxes, gengivorragia e hematúria já foram observados. Nas
manifestações sistêmicas são comuns sangramentos na pele e nas mucosas
(gengivorragia, equimoses a distância do local da picada), hematúria, hematêmese e
hemorragia em outras cavidades podem determinar risco ao paciente. Pode ocorrer
também hipotensão decorrente de sequestro de líquido no membro picado ou hipovolemia
consequente a sangramentos, que podem contribuir para a instalação de insuficiência
renal aguda, quadro que é capaz de levar o animal a óbito.
O diagnóstico é clínico epidemiológico, já que não há exames laboratoriais que
determinem o tipo de envenenamento ofídico. Para todos os gêneros de serpentes
peçonhentas exames de coagulação devem ser realizados para a confirmação
diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia. A história clínica e a epidemiologia são
fatores determinantes para distinguir os tipos de envenenamento, porém em áreas onde
há grande distribuição geográfica de serpentes tanto do gênero Bothrops como de
Lachesis, o diagnóstico diferencial de acidente botrópico e laquético somente é possível
com a identificação do animal ou presença de atividade neurotóxica do veneno.
O tratamento deve ser feito de acordo com a gravidade do acidente e manifestações
secundárias, assim, deve-se ser administrado, em casos de acidentes moderados onde
há quadro local presente sem manifestações neurotóxicas, o total de 10 ampolas de soro
antilaquético. Já em casos graves, onde ocorre quadro local intenso, hemorragia intensa e
manifestações neurotóxicas, deve-se administrar 20 ampolas do soro. A aplicação do soro
deve sempre ocorrer por via intravenosa, podendo ser diluído ou não, em solução
fisiológica ou glicosada. O soro antibotrópico não é eficaz para o tratamento do acidente
laquético, principalmente por não reverter a ação coagulante do veneno. 
Atualmente algumas empresas produzem o soro polivalente veterinário, que contém
anticorpos antiveneno laquético. Além do soro, como tratamento complementar, para
pacientes com bradicardia com instabilidade hemodinâmica, é indicado o sulfato de
atropina. Pacientes com hipotensão e/ou choque devem ser tratados com fluidoterapia e,
Diagnóstico
Tratamento
se necessário, drogas vasoativas. O tratamento local, como de feridas, deve ser feito com
antissépticos e deve-se proceder à antibioticoterapia. Também se deve administrar
analgésicos opioides e, para redução do edema, anti-inflamatório esteroidal. 
Alguns cuidados gerais também são importantes e devem ser tomados no tratamento, tais
como: manter a higiene do membro acometido e mantê-lo sempre elevado, utilizar
compressas mornas e providenciar a profilaxia para tétano, conforme recomendação
vigente.

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