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- -1 PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA UNIDADE 4 – CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DOS PROCESSOS Autoria: Jerry Adriani Capitani Mendelski - Revisão técnica: Danilo Carvalho Heiderich - -2 Introdução Caro(a) estudante, seja bem-vindo(a) a mais uma unidade da disciplina de Processos de Conformação Mecânica. Neste material, você conhecerá características específicas envolvidas em processos de conformação mecânica, enfocando, principalmente, os processos de estampagem e de calandragem. Você sabia que as operações de estampagem podem ser classificadas de diferentes formas? Conforme veremos, esse processo pode ocorrer por meio de corte, de dobra, de repuxos e por embutimento. Para cada uma dessas formas, são necessários diferentes ferramentais, bem como técnicas e materiais com propriedades específicas. Já no que se refere à calandragem, conheceremos as calandras, isto é, as máquinas responsáveis por esse processo. Após isso, finalizaremos nossos estudos descobrindo em que consiste a curva-limite de conformação. Você sabia que essa curva tem como função prever falhas mecânicas no processo de conformação dos materiais? Para isso, as deformações sofridas pelos materiais são comparadas com as curvas obtidas em laboratórios. Bons estudos! 4.1 Processos de estampagem A atuação da engenharia mecânica abrange certas subáreas, cada uma delas associada à estruturação de um processo produtivo que possibilite uma fabricação mecânica específica. Nesse contexto, encontra-se o processo de , no qual são utilizadas chapas como matérias-primas para obter produtos com formas eestampagem dimensões específicas, processo este que é efetivado com a utilização de prensas. Desse modo, conforme aponta Daleffe (2008), o objetivo comum entre os diferentes processos de estampagem é a deformação de chapas, transformando-as em produtos que apresentem dimensões precisas, formas geométricas definidas e aplicações industriais específicas. Com isso, também cada processo de estampagem terá parâmetros particulares relacionados aos materiais a serem produzidos. A estampagem, como um processo de conformação mecânica, é estabelecida considerando três aspectos principais: geometrias dos ferramentais; propriedades das matérias-primas; e coeficientes de atrito (FOLLE, 2012). Nesse contexto, a depender das particularidades de cada um desses aspectos, a estampagem será subdividida em corte, dobra, embutimento e estiramento. Sabendo disso, a seguir, trataremos das características gerais e das aplicações do processo de estampagem para, na sequência, tratarmos de cada uma de suas subdivisões. 4.1.1 Características e aplicações Geralmente, a conformação mecânica realizada pelo processo de estampagem faz uso de três ferramentas principais, conforme definido por Oliveira (2005): • punção: é responsável pela conformação da chapa, promovendo o movimento da chapa para o interior da cavidade; • matriz: é responsável pela obtenção da geometria desejada, uma vez que a transmite para a chapa que está sendo conformada; • cerra-chapas: tem como função fixar a chapa e controlar o seu escoamento. • • • - -3 • cerra-chapas: tem como função fixar a chapa e controlar o seu escoamento. Assim, com relação à sua operacionalização, o processo de estampagem é executado com o uso de matrizes, que são projetadas com o objetivo de proporcionar uma peça ou um produto com certas características e formas. Figura 1 - Conformação mecânica por estampagem Fonte: Dmitry Kalinovsky, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: fotografia apresentando um processo de estampagem. Nela, um operador realiza a acoplagem de uma chapa plana em uma matriz de estampagem para a execução do processo. Os processos de estampagem são implantados com a combinação de elementos comuns a diversos tipos de ferramentas, sejam estas de corte ou então de conformação. Nesse sentido, são alguns de seus elementos a base inferior, o cabeçote ou a base superior, a espiga, as colunas de guia, a placa de choque, a placa-guia, os pinos de fixação etc. Além disso, há elementos específicos responsáveis por gerar cada forma desejada, como punções e matrizes (BENAZZI JUNIOR; CAVERSAN, 2012). Na figura a seguir, é possível observar cada um desses elementos presentes em um estampo. • - -4 Figura 2 - Principais componentes de um estampo Fonte: BENAZZI JUNIOR; CAVERSAN, 2012, p. 5. #PraCegoVer: ilustração em vista explodida de uma ferramenta de estampo. À esquerda, há uma listagem de componentes presentes no estampo, de 1 a 12. À direita, está a ferramenta de estampo em vista explodida, com flechas indicando cada um de seus componentes: espiga; cabeçote da ferramenta ou base superior; placa de choque; porta-punção; punção; colunas de guia; buchas; pinos de fixação; extrator; guia das chapas; matriz; e base inferior. De acordo Rodrigues e Martins (2005), há diversos fatores associados ao processo de conformação de chapas metálicas, relacionados tanto à natureza mecânica (forma e dimensões da peça, tipo de máquina, forma e dimensões das ferramentas e condições de lubrificação) quanto aos aspectos que englobam a natureza metalúrgica. Além disso, cumpre ressaltar que, conforme explica Folle (2012), a chapa empregada em um processo de estampagem é submetida a diferentes tipos de tensões e de deformações, tendo como resultado a sua geometria final. A figura a seguir ilustra as tensões que podem ser observadas no processo de estampagem profunda. - -5 Figura 3 - Tensões presentes no processo de estampagem profunda Fonte: FOLLE, 2012, p. 24. #PraCegoVer: ilustração apresentando as tensões presentes em um processo de estampagem profunda. À direita, consta uma peça estampada cujas diferentes partes são evidenciadas em boxes dispostos à sua esquerda. Os boxes indicam as seguintes partes: (A) elemento da borda do copo, no qual atuam tensões de estiramento radial, de sujeição e uma compressão circunferencial; (B) elemento no dobramento superior do copo, em que atuam tensões trativas e compressivas; (C) elemento na lateral do copo, em que atuam tensões de estiramento e uma compressão lateral; (D) elemento no dobramento inferior do copo, no qual atuam tensões trativas e compressivas; e (E) elemento no fundo do copo, no qual atuam tensões de estiramento radial e circunferencial. Outro ponto a se destacar é que uma das principais questões envolvidas no processo de estampagem está relacionada ao ferramental utilizado e à sua confecção. Nesse contexto, Rodrigues e Martins (2005) salientam que durante a confecção desse ferramental existe a necessidade de se observar aspectos que dizem respeito à obtenção de superfícies com características lisas, assim como é necessário garantir que as tolerâncias dimensionais dos componentes das ferramentas sejam respeitadas. Além disso, esses fatores específicos, quando associados à lubrificação abundante, podem reduzir, de forma expressiva, os esforços necessários ao processo de conformação, assim como reduzem o desgaste do ferramental. Finalmente, no que se refere às aplicações dos produtos obtidos com a estampagem, observamos que a indústria automobilística é bastante beneficiada com esse tipo de processo. Nesse contexto, são criados componentes diversos, como painéis para portas; capôs; estruturas laterais de carrocerias; colunas B; e reforços internos das portas. Tendo conhecido essas características e aplicações, a seguir nos aprofundaremos sobre os diferentes tipos de estampagem. - -6 4.1.2 Corte por estampagem O , que obedece às diretrizes estabelecidas pela norma DIN 8587, é uma operação que visa àprocesso de corte obtenção de peças ou componentes com geometrias previamente definidas. Para isso, um punção de corte, com o auxílio de uma prensa, exerce uma pressão sobre uma chapa disposta em uma matriz. Conforme explica Rocha (2012), o processo de corte por estampagem é realizado no instante em que a ferramenta de corte atinge a matriz. Logo, o esforço de compressão transmitido pela prensa é convertido em esforço de cisalhamento, gerando o corte.O autor ainda aponta que é comum que as formas obtidas pelo corte sejam utilizadas posteriormente em outros processos de estampagem. A fim de melhor compreender como ocorre essa estampagem, observe a figura a seguir, que apresenta os processos de corte aberto e de corte de contorno. Figura 4 - Estampagem – processo de corte aberto (a) e de corte de contorno (b) Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em SCHULER GROUP, 1998. #PraCegoVer: ilustração evidenciando o processo de corte por estampagem. À esquerda, em (a), há a representação de um corte aberto em uma chapa, efetuado com duas lâminas, uma em sentido contrário à outra. No centro, em (b), há a representação do corte por contorno, no qual há uma ferramenta de punção que é pressionada sobre um objeto disposto em uma matriz. À direita, é representado o resultado do corte por contorno. Nesse processo, há alguns fatores considerados fundamentais para a sua realização e para o seu sucesso, como os materiais utilizados nos componentes, as geometrias do punção e da matriz e o valor da folga entre esses elementos. Além disso, o processo de corte por estampagem pode ser classificado em quatro grupos distintos, apresentados na sequência. Corte simples Ocorre quando uma porção de metal com um formato qualquer é retirada da chapa principal. Puncionamento Ocorre quando a operação de corte produz furos de pequenas dimensões. Corte parcial Pode ser observado nos casos em que a porção de metal não é separada completamente da chapa principal. Recorte Acontece quando o corte é realizado com o intuito de extrair o excedente de material de uma peça que já passou por um processo de conformação. - -7 No que se refere à sua , o corte por estampagem é efetivado com a utilização de forças deoperacionalização cisalhamento, que são aplicadas à chapa pelos cantos de corte existentes nas ferramentas. Esse processo ocorre em três etapas: deformação plástica, redução de área e fratura. Além disso, quando procuramos um melhor resultado na obtenção de produtos por meio do corte por estampagem, é necessário um planejamento e um estudo para podermos definir o projeto da matriz, analisando também como o processo irá ocorrer e quais os componentes que serão necessários. Schaeffer, Nunes e Brito (2017) ainda apontam que a ferramenta deve atuar de forma guiada e com precisão para que o trabalho dos punções sobre as matrizes de corte seja correto. Um parâmetro decisivo para esse processo de estampagem é o . Por meio dele, écálculo da força de corte estabelecida a ação de corte, bem como a carga correta a ser utilizada para a operação, que pode influenciar na qualidade do produto obtido. Já no que se refere aos materiais a serem utilizados nesse processo, os aços microligados, da categoria aços-ferramenta, bem como algumas ligas de ferro fundido específicas e os aços sinterizados, podem passar pelo corte. Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) A seguir, conheceremos os demais processos de estampagem. 4.2 Estampagem: processos de dobra, de repuxo ou embutimento e de estiramento Além da operação de corte por estampagem, como já verificamos, existem ainda as operações relacionadas com a dobra, com o repuxo ou embutimento e com o estiramento. Por isso, ao longo deste tópico, conheceremos as características específicas de cada uma delas, bem como suas funções e aplicações. 4.2.1 Processo de dobra No , uma chapa metálica é conformada com a atuação de um punção e de uma matriz. Nesseprocesso de dobra caso, há também o movimento do punção sobre um objeto disposto na matriz, como ocorre no processo de corte. Contudo, conforme explica Dieter (1981), a dobra permite a confecção de segmentos curvos a partir de chapas, como calhas, tambores e cantoneiras. Schaeffer, Nunes e Brito (2017) explicam que o processo de dobramento, também denominado , é umbending processo simples, e devido à sua facilidade e à sua menor complexidade, é utilizado há muitos anos na indústria. Além disso, os autores salientam que esse processo apresenta uma importância muito grande em relação à obtenção de componentes geometricamente simples. Com relação à normatização da operação de dobra, é possível verificar que esse processo está estabelecido pela norma DIN 8586. A figura a seguir traz exemplos de estampagem pelos processos de dobra em U e em V. - -8 Figura 5 - Estampagem por processo de dobra em U (a) e em V (b) Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em SCHULER GROUP, 1998. #PraCegoVer: ilustração representando dois processos de dobra. Em (a), à esquerda, uma chapa é deformada em U. Para isso, um punção atua sobre uma chapa disposta na matriz, que contém a forma U. Em (b), à direta, uma chapa é deformada em V, haja vista que a matriz contém essa forma. Para Marcondes (2009), a operação de dobra é responsável por uma em uma chapadeformação plástica metálica ao longo de uma linha reta, englobando necessariamente sete componentes: o produto; os insumos (isto é, as peças ou o material utilizado); o equipamento; o ferramental (ou seja, o punção e a matriz); a zona de deformação; a interface; e o ambiente. Ainda segundo o autor, o processo de conformação por dobramento é a operação estabelecida com o objetivo de obter uma curvatura cilíndrica ou cônica em rolos, chamada de calandras. Nesse contexto, é importante observar que quando o material é deformado abaixo de sua temperatura de recristalização, ele é submetido, de forma inicial, a deformações elásticas para, depois, acontecerem as chamadas deformações plásticas, até que venha a ocorrer a sua ruptura. As falhas, defeitos ou variações em relação a esse processo podem estar relacionados com a ocorrência de uma variação de seção ou de uma alteração de espessura, bem como com a ocorrência do retorno elástico. Conforme explicado por Palmeira (2005), o dobramento pode ser executado por meio de maquinário ou então manualmente. Nesse último caso, é necessária a utilização de um ferramental e de gabaritos ou então de máquinas de simples confecção. Porém, para a execução por máquinas, são utilizadas as chamadas prensas dobradeiras. Em todo caso, a escolha de um ou de outro tipo de operação dependerá das necessidades de produção. O ferramental utilizado nesse processo é muito similar àquele utilizado na estampagem profunda, composto por — que pode ser mecânica ou hidráulica —, por e por . Quando da utilização das prensasprensa matriz punção mecânicas, o cabeçote móvel é acionado por manivela ou por meio de um mecanismo excêntrico acoplado a um trem de engrenagens, possibilitando seu rápido deslocamento. Já quando da utilização da prensa hidráulica, o cabeçote é deslocado pelo movimento de atuadores hidráulicos de dupla ação. Com relação às matrizes e os punções necessários ao processo, eles podem apresentar diferentes formas geométricas, que variam conforme o formato estabelecido como resultado do processo. Na figura a seguir, observe as diferentes matrizes e seus respectivos resultados. - -9 Figura 6 - Tipos de dobramentos em diferentes matrizes Fonte: MARCONDES, 2009, p. 30. #PraCegoVer: ilustração evidenciando os vários tipos de dobramento em diferentes matrizes. Acima e da esquerda para a direita, são apresentados em sequência os dobramentos livre, em V, em U, em matriz de deslizamento e com ressalto no punção. Abaixo, são apresentados os dobramentos de fundo, em matriz dupla e em matriz giratória. Em relação à de execução dos processos, o dobramento pode ser operacionalizado tanto natemperatura condição a quente quanto na condição a frio. Na condição a , o material sofre uma conformação a umafrio temperatura abaixo da faixa de temperatura responsável pela sua recristalização. Por outro lado, o processo a é realizado em uma faixa de temperatura acima da temperatura de recristalização do material.quente Nesse contexto, para González (2000), o processo de dobramento a frio possibilita um melhor acabamento superficial, bem como resultados satisfatórios em relação ao rendimento. Como consequência, ele gera uma maiorprodutividade em número de peças fabricadas, bem como uma menor variação dimensional. Por outro lado, González (2000) também ressalta que no processo de dobramento a frio, há maior necessidade de gasto de energia e maquinários com maiores potências. Além disso, de acordo com Palmeira (2005), essa estampagem pode ser classificada de diferentes formas, a depender do tipo de dobramento realizado. Por exemplo, quando esse processo é realizado em uma pequena parte localizada na extremidade de uma chapa, ele pode ser denominado flangeamento. Esta e demais possibilidades de classificação podem ser observadas na figura a seguir. - -10 Figura 7 - Variações da operação de dobramento Fonte: PALMEIRA, 2005, p. 5. #PraCegoVer: ilustração apresentando dez variações das operações de dobramento: dobramento; flangeamento; rebordamento; enrolamento parcial e enrolamento total; nervuramento; estaqueamento; pregueamento; abaulamento; corrugamento; e conformação de tubos por dobramento e expansão. Ainda com relação aos termos e às definições desse processo, Costa (2010) esclarece que o curvamento de chapas e de perfis é uma operação que tem como resultado a obtenção de formas cilíndricas ou ovais, de modo total ou então parcial. O autor também reforça que a operacionalização do processo se dá por meio de esforços de flexão obtidos por ferramentas manuais ou então com o uso de dispositivos e de máquinas. Como resultado desse processo, Marcondes (2009) aponta que além da produção de diversas geometrias, o dobramento é utilizado também com o propósito de aumentar a rigidez das peças, expandindo o momento seccional transversal de inércia. 4.2.2 Processos de repuxo ou embutimento O , também conhecido como estampagem profunda ou repuxo, é uma conformaçãoprocesso de embutimento em que ocorre uma combinação entre tensões tangenciais de compressão e tensões radiais de tração. A chapa, nesse caso, é transformada por meio de um punção e de uma matriz, sendo sujeitada com uma prensa, que a restringe e controla o fluxo do material. Com relação às suas especificações, esse processo é também normatizado pela norma DIN 8584-3. Já no que se refere às suas alterações geométricas, a mudança é derivada de um deslocamento de volume do material em um espaço tridimensional, sendo esse deslocamento realizado controladamente. Desse modo, é mantida a sua massa e também a sua composição química original, conforme estabelecido pela norma DIN 8582. Você quer ler? Os processos de estampagem por repuxo ou embutimento requerem muita atenção em relação ao material utilizado, assim como ao ferramental e às condições operacionais. Diante desse cenário, o livro Ferramentas de corte, dobra e repuxo: , de Sérgio da Cruz (2009), traz informações valiosas sobre oestampo - -11 Essa operação permite obter peças com características sólidas e ocas, denominadas , a partir dacopos conformação de uma chapa plana, conhecida como . Na , esses copos têm comoblank estampagem rasa característica uma profundidade menor do que a metade do seu diâmetro. Por outro lado, as operações em que essa profundidade é maior que a metade do diâmetro da peça são classificadas como .estampagem profunda Os ferramentais necessários ao processo abrangem um , uma e um , isto é, umapunção matriz sujeitador prensa-chapas, fazendo com que a chapa seja total ou parcialmente movida para o interior da matriz. Assim, devido a um deslocamento do material entre a matriz e a prensa-chapas, dá-se origem a um objeto oco, com o formato de um copo. A prensa-chapas é responsável por evitar que o material que ainda não foi deslocado para o interior da matriz não forme rugas. O material deslocado para o interior da ferramenta passa pelo raio da matriz e é dobrado. Quando ele avança para o interior da matriz, ele é desdobrado, o que permite que haja um estiramento homogêneo da espessura da peça produzida. A principal característica do processo de embutimento é que, como destacado anteriormente, ocorrem, simultaneamente, de tração e de compressão no material que está sendo conformado. Em torno da basetensões do punção, o material é deformado no sentido radial, fazendo com que tensões de compressão ocorram no sentido circunferencial, enquanto ocorre o esforço de tração no sentido radial. No raio da matriz, a face da chapa que está em contato com a matriz sofre um esforço de compressão, enquanto a face oposta sofre esforço de tração, como no processo de dobramento. A figura a seguir apresenta quais os estados das tensões envolvidas nesse processo. operacionais. Diante desse cenário, o livro Ferramentas de corte, dobra e repuxo: , de Sérgio da Cruz (2009), traz informações valiosas sobre oestampo dimensionamento total de matrizes, bem como sobre os estampos com sistema de gavetas, os balancins, os punções de dobra com regulagem, os cálculos de porcentagem útil de tira, entre diversos outros aspectos desse processo. Você sabia? A prensa-chapas possibilita um controle do fluxo do no sentido de suablank movimentação para o interior da matriz, evitando, com isso, um enrugamento na região da aba. Por isso, o controle da pressão é fundamental. Pressões elevadas contribuem para um aumento na força do punção, provocando uma redução de espessura na lateral do copo (REDDY; REDDY; REDDY, 2012). - -12 Figura 8 - Estado de tensões no embutimento Fonte: SCHAEFFER; NUNES; BRITO, 2017, p. 24. #PraCegoVer: ilustração indicando as tensões envolvidas em um processo de embutimento. São identificadas e destacadas três diferentes regiões de uma peça, disposta à esquerda. Para cada uma das partes destacadas, há uma representação gráfica com as tensões que incidem sobre ela e os sentidos dessas tensões, representados por setas. É possível determinar as condições de espessura de uma peça embutida em função da lei da constância de volume, já que a espessura pode ser determinada pela soma das deformações ocorridas nas outras duas direções. Conforme estudos de Schaeffer, Nunes e Brito (2017), nas regiões em que é possível observar tensões de tração em ambos os sentidos do plano da chapa, como no caso do fundo do copo, é possível prever o comportamento de redução de espessura do material nessa região, já que o alongamento do material nas duas direções não seria possível sem comprometer a sua espessura. Teste seus conhecimentos (Atividade não pontuada) 4.2.3 Estampagem por estiramento O pode apresentar tensões de tração em um estado de deformação biaxial. Esseprocesso de estiramento processo está relacionado com a atividade de realizar a tração de uma chapa por meio da utilização de uma ferramenta denominada . As extremidades da chapa, por sua vez, são fixadas por meio de garras. Dessepunção modo, Dieter (1981) explica que o estiramento consiste em tracionar uma chapa de maneira a esticar o material sobre uma ferramenta, e ressalta, ainda, que esse é um processo muito utilizado na indústria aeronáutica para produzir peças com grandes raios de curvaturas. Com relação às suas especificações e à sua normatização, o processo de estampagem por estiramento é guiado pela norma DIN 8585-1. A seguir, temos um exemplo de como o estiramento pode ocorrer. - -13 Figura 9 - Estampagem por processo de estiramento Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em SCHULER GROUP, 1998. #PraCegoVer: ilustração representando o processo de estampagem por estiramento. À esquerda, consta uma chapa com espessura S0 cujas extremidades estão apoiadas por garras. Abaixo dela, há um punção pronto para atuar, de baixo para cima. À direita, está representada a mesma chapa apoiada em garras, porém, com espessura S1 e com o punção já em movimento, estirando-a para cima. Por isso, lê-se na parte inferior da ilustração que S1 é maior que S0. Tendo conhecido esses processos, na sequência, conheceremos uma outra forma de conformar metais: o processo de calandragem. 4.3 Calandragem A pode ser definida como um processo industrial no qual chapas laminadas de metal sãocalandragem conformadas de modo a assumirem formatos específicos. Esseprocesso é realizado em uma máquina específica, conhecida como , que possui de três a quatro rolos operacionais.calandra Na sequência, conheceremos mais detalhes a respeito desse processo de conformação mecânica. 4.3.1 Calandras De modo geral, as calandras confeccionadas com três rolos são maquinários que costumam ser utilizados em linhas fabris, isto é, nas indústrias. Na imagem a seguir, é possível observar como elas estão configuradas e como ocorre o processo de conformação nessas máquinas. Figura 10 - Calandras com três rolos Fonte: PALMEIRA, 2005, p. 26. #PraCegoVer: ilustração do processo de calandra de três rolos. À esquerda, consta uma primeira imagem em perspectiva isométrica com três rolos posicionados de forma piramidal, por entre os quais passa uma chapa. Ao centro e à direita, duas imagens em vista frontal apresentam duas chapas passando por entre três rolos. No - -14 centro e à direita, duas imagens em vista frontal apresentam duas chapas passando por entre três rolos. No primeiro caso, os rolos estão dispostos de forma piramidal. No segundo caso, esses rolos estão dispostos de forma diversa, estando os dois primeiros rolos um acima do outro e o terceiro mais à direita, na parte inferior. Por outro lado, as calandras configuradas com quatro rolos apresentam certas vantagens a elas agregadas. Com elas, há uma certa facilidade com relação ao trabalho de pré-curvamento, enquanto nas calandras de três rolos a atividade de pré-curvamento é realizada de forma manual (PALMEIRA, 2005). Na imagem a seguir, apresenta-se a conformação de uma chapa por meio da calandra de quatro rolos. Figura 11 - Calandras com quatro rolos Fonte: PALMEIRA, 2005, p. 26. #PraCegoVer: ilustração apresentando a calandra de quatro rolos. À esquerda, consta uma primeira imagem em perspectiva isométrica de uma calandra de quatro rolos. Por entre esses rolos, passa uma chapa. À direita, o mesmo processo é apresentado por uma visão frontal. Ainda conforme Palmeira (2005), os tipos de calandra mais comuns são a calandra de passo e a calandra piramidal. Em uma , a folga existente entre os rolos, os quais estão alinhados, é consideradacalandra de passo ajustável. Com isso, é possível estabelecer a espessura final desejada para a chapa. Considerando essa condição de regulagem, esse equipamento é bastante utilizado, permitindo a obtenção de peças com diâmetros menores. No caso da , Palmeira (2005) explica que o rolo superior tem a possibilidade de ser ajustadocalandra piramidal no intuito de exercer uma maior ou menor pressão sobre a chapa, possibilitando, com isso, uma variação em relação ao diâmetro das peças a serem obtidas. Na sequência, conheceremos mais detalhes a respeito do sistema das calandras. Você quer ver? O processo de calandragem possibilita que as chapas metálicas sejam submetidas a deformações controladas. Esse trabalho pode ser realizado tanto em chapas finas como em chapas com uma maior espessura. Para saber mais sobre o tema, assista ao vídeo Calandragem de 200 mm de espessura da chapa. Acesse https://www.youtube.com/watch?v=F9wN80Iyymk - -15 4.3.2 Sistema das calandras Em seus estudos, Kosow (1982) explica o aplicado em uma calandra. Segundo o autor, essesistema de potência sistema inicia pelo acionamento da calandra, isto é, pela ligação do motor. Posteriormente, há uma transmissão da potência do motor para um componente denominado redutor, que possibilita uma perda de velocidade rotacional e um aumento do torque, passado então para as engrenagens. Uma engrenagem com um menor diâmetro é montada no eixo do redutor com a utilização de chavetas. Além disso, são também montadas mais duas engrenagens com diâmetros maiores, responsáveis pela rotação dos dois eixos fixos da calandra. Esses eixos, por sua vez, estão apoiados em um par de rolamentos de rolos esféricos e em suas extremidades. Logo, um sistema de potência tem, entre seus principais componentes, o motor, o redutor, os rolamentos, os eixos e os mancais. Tendo conhecido o processo de calandragem e especificidades relacionadas às calandras, na sequência, veremos outro conceito muito importante para a conformação de metais: a curva-limite de conformação. 4.4 Curva-limite de conformação A (CLC) permite conhecer e avaliar as condições de criticidade observadascurva-limite de conformação durante as deformações dos materiais provenientes dos processos de conformação mecânica. Ela compreende, assim, os valores de tensões máximas e mínimas do processo. Como sabemos, cada material tem diferentes comportamentos quando submetido a uma combinação de deformações. Nesse contexto, Sampaio, Martins e Souza (2003) explicam que a CLC é uma importante ferramenta que vem sendo utilizada para correlacionar o limite de conformação do material com as deformações obtidas em escala industrial, isto é, a CLC determina uma escala laboratorial. Em outras palavras, as CLCs têm como função prever falhas mecânicas no processo. Para isso, as deformações sofridas pelo material são comparadas com as curvas obtidas em laboratórios. Dessa forma, destacam-se duas técnicas para a obtenção da CLC: a técnica experimental, que está baseada na realização de ensaios práticos e que sejam comprobatórios, e a técnica teórica, que se baseia na pesquisa e na análise de referências e trabalhos já existentes e já publicados. Para Arruda, Folle e Schaeffer (2008), alguns importantes fatores estão atrelados à CLC, afetando-a, de modo que é possível haver um deslocamento para cima (limite maior de conformação) ou então para baixo (limite menor de conformação). Esses fatores são apresentados a seguir. Maiores espessuras. Menores velocidades de conformação. Menor tamanho de grão. Menor coeficiente de atrito. Corpo de prova. - -16 Ainda, segundo Schaeffer, Nunes e Brito (2017), devemos considerar como fatores importantes para a avaliação e a determinação da CLC a geometria das ferramentas, a forma do corpo de prova, os lubrificantes utilizados, a qualidade do material a ser conformado e a sistemática implantada para a aquisição dos dados. Com relação à aplicação de normas, a DIN EN ISO 12004-2 estabelece dois métodos para que seja possível a determinação da curva de forma experimental: o método Nakajima, por meio do qual é possível verificar que os corpos de prova utilizados têm tamanhos variados e, desse modo, são conformados por meio da ação de um punção hemisférico; e o método Marciniak, que é baseado nas falhas durante a estricção do material. Os ensaios fornecem pontos específicos para as deformações principais, sendo que esses pontos são conectados e formam, desse modo, a curva-limite de conformação. A interseção da curva com o eixo da deformação principal máxima é denominada ( ).limite inferior da CLC As curvas teóricas são, portanto, estimadas. Para isso, são consideradas algumas propriedades mecânicas pertencentes ao material, bem como ocorre a análise de critérios de instabilidade e sobre as superfícies de fluências, conforme definido pelos estudos de Fernandes (1999). Alguns fatores de maior influência no processo de determinação da curva e na translação da curva sobre o eixo da deformação ( são: • a espessura da chapa; • a tensão de escoamento; • o limite de resistência; • a anisotropia; • o coeficiente de encruamento. Além disso, outros fatores que afetam as CLCs são o diâmetro da rede de malhas, uma vez que quanto menor o diâmetro das malhas, maior a deformação medida, bem como a trajetória de deformação. Além disso, as CLCs não preveem fraturas na parede ( ).wall breakage Por fim, Juntaratin . (2012) explicam que o diagrama-limite de conformação é muito sensível a condiçõeset al que apresentem trajetos de deformações não lineares, a exemplo de algumas aplicações industriais para peças com geometrias muito complexas, que são normalmente operacionalizadas em estágios contínuos de conformação. Nessas situações, o diagrama não pode ser utilizado como ferramenta que possibilite prever a conformidade do processo. Conclusão Ao longo desta unidade,conhecemos os processos de estampagem de chapas e de calandragem. Conforme pudemos observar, a depender das características e da geometria desejadas para os componentes, as chapas metálicas poderão passar por diferentes mecanismos de conformação. Nesse sentido, também as características metálicas importam, haja vista que há peças que podem sofrer cortes indesejados. Por fim, também conhecemos a curva-limite de conformação, uma ferramenta importante para prever falhas. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • compreender o processo de estampagem, observando como os objetos são obtidos por meio dele e quais as suas características; • conhecer as particularidades e o maquinário responsável pelo processo de calandragem; • entender a importância da curva-limite de conformação e suas especificidades. • • • • • • • • - -17 • entender a importância da curva-limite de conformação e suas especificidades. Referências ARRUDA, R. P.; FOLLE, L. F.; SCHAEFFER, L. Escolha do lubrificante correto torna mais precisa a curva limite de conformação. Corte e , São Paulo, n. 37, p. 64-76, abr. 2008.Conformação de Metais BENAZZI JUNIOR, I.; CAVERSAN, E. G. :Tecnologia de estampagem corte. Sorocaba: Fatec Sorocaba, 2012. 1 v. CALANDRAGEM de 200 mm de espessura da chapa. [ : ], 2017.S. l. s. n. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal DNC Técnica. Disponível em: . Acesso em: 5https://www.youtube.com/watch?v=F9wN80Iyymk jan. 2021. COSTA, M. B. S. . 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