Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | GASTROENTEROLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Doença Celíaca A doença celíaca é uma doença imunomediada em indivíduos geneticamente suscetíveis causada por intolerância ao glúten, resultando em inflamação da mucosa e atrofia vilosa, o que causa má absorção. Os sintomas geralmente incluem diarreia e desconforto abdominal. O diagnóstico é feito por biópsias do intestino delgado, mostrando alterações histológicas características, embora não específicas, como atrofia vilosa, que melhoram com dieta sem glúten. Gluten: peptídeo com digestão incompleta que chega em grandes fragmentos no intestino delgado. Está presente no trigo (na forma de gliadina e glutenina), cevada (hordeína), centeio (cecalina) e pode estar na aveia devido à contaminação cruzada. Etiologia: multifatorial = genética + imunológicos + fator precipitantes Fisiopatologia: a transglutaminase é uma enzima que fica no intestino delgado. Em pacientes que têm genética alterada, quando há contato com glúten, principalmente a gliadina, a transaminase favorece uma desaminação das gliadinas, o que faz com que a molécula do glúten fique mais ávida na ligação com HLA-DQ2/D18 que está presente na célula apresentadora de antígeno. Isso gera uma ativação de linfócitos TCD4 com resposta TH1 (atrofia vilositária + hiperplasia de criptas) e TH2 (produção de auto-anticorpos contra endomísio e transglutaminase). Epidemiologia: prevalência = 1% na europa e 0,7% nos EUA. É mais comum em mulheres (2:1). A apresentação é variada: pode ser · Clássica: diarreia, esteatorreia, emagrecimento, desnutrição → mais comum na criança · Atípica: outros sintomas (constipação, hábito intestinal alterado, deficiência de vitaminas, enxaqueca) · Silenciosa: paciente assintomático mas identificado pelo rastreio · Latente: tem os autoanticorpos mas não manifestou a doença ainda Doenças associadas: · Psoriase, dermatite herpetiforme, doença de graves, hashimoto, esclerose multipla, anemia hemolítica, enteropatia autoimune, diabetes tipo 1... Rastreio: · Dor abdominal persistente/ SII · Distúrbio de crescimento · Fadiga e perda de peso sem outras causas · Úlceras orais recorrentes · Deficiência de ferro, B12 e ácido fólico · DM tipo 1, tireoidopatia autoimune · Parentes de 1 grau com doença celíaca · Considerar em: · Disturbio de metabolismo osseo · Ataxia ou neuropatia periférica sem outra causa · Infertilidade não explicada · Elevação de enzimas hepáticas · Defeitos de esmalte dentário · Síndromes de Down e Turner Como fazer o rastreio: · Anticorpo anti-transglutaminase (IgA): mais recomendado, mais sensível · Anticorpo anti-endomísio: 100% específico · Anticorpo anti-gliadina deaminada: não é recomendado isoladamente, acurácia principalmente em crianças · IgA total: pode haver deficiência em algumas pessoas, se for o caso, pedir IgG para os acima. · Endoscopia: se a sorologia foi positiva, realiza-se a endoscopia. Colhe-se fragmentos do bulbo e do duodeno. Análise histológica: a partir de tipo 3 · HLA (DQ2 e DQ8): tem alto valor preditivo negativo e baixíssimo valor preditivo positivo, pode ser útil na exclusão apenas Diagnóstico diferencial: enteropatias, medicações (QT, AINES, radiação), infecção (HIV, Whipple, Giardíase), Linfoma · Se muito difícil o diagnóstico, utiliza-se a cápsula endoscópica ou a enteroscopia Tratamento: suspensão do gluten com o objetivo da ausência de sintomas e cicatrização da mucosa Acompanhamento: é necessário o acompanhamento médico regular e avaliação de deficiências nutricionais, óssea, de condições auto-imunes associadas. Deve-se encorajar a aderência a dieta. Se houver dúvida da remissão se faz pela biópsia duodenal Doença celíaca não responsiva: mais comumente ocorre devido a aderência ao consumo inadvertido do glúten. Pode haver outra causa concomitante como o supercrescimento ou malignidade. Algumas condições podem estar associadas como intolerância secundária à lactose, insuficiência pancreática exócrina, colite microscópica e imunodeficiência comum variável DC refratária: · Tipo 1: autonomia em relação à exposição ao glúten · Tipo 2: linfoma de baixo grau associado a expansão clonal de linfócitos intraepiteliais > úlceras jejunais, estenoses e espessamento do mesentério · Diagnóstico: estudo do ID + imunohistoquímica · Tratamento: corticóides, imunossupressores, larazotide (em estudo, diminui a permeabilidade intestinal). No tipo II → hematologia: QT ou transplante autólogo de células hematopoiéticas FR: introdução precoce do glúten na infância, cesariana eletiva, infecções, uso de atb
Compartilhar