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Complementação Pedagógica Coordenação Pedagógica – IBRA DISCIPLINA LIBRAS BÁSICO E AVANÇADO as 02 1. Língua e Linguagem 5 Distinção entre Língua e Linguagem 5 Língua de Sinais Brasileira considerada como Língua 7 Língua 10 O que é um Mito? 12 Surdos e ouvintes 14 2. Língua de Sinais Brasileira – Libras 19 Conceitos fundamentais 19 Como a Libras chegou ao Brasil 20 Principais Características da Libras 22 Alfabeto Manual da Língua de Sinais Brasileira 25 Datitologia 25 Sistema de Transcrição para Libras 27 Empréstimos Linguísticos 27 Parâmetros da Língua de Sinais Brasileira - Libras 28 Direção dos Movimentos 30 Tipos de Movimentos 31 Locação (L) 33 Orientação (Or) 35 Expressões não-manuais (ENM) 36 Exemplos de Parâmetros na Libras 38 3. Fundamentos Históricos da Educação dos Surdos 41 Histórico da Educação dos Surdos 41 Fundação da Primeira Escola Pública para Surdos na França 44 A Educação dos Surdos nos Estados Unidos (Século XVIII) 46 O Congresso de Milão 47 Comunicação Total 48 Bilinguismo 49 Quadro Resumo das Principais Abordagens na Educação dos Surdos 50 3 Histórico no Brasil 50 4. Legislação Específica 52 Legislação na Antiguidade 52 Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e a Constituição Brasileira 52 Lei de Oficialização da Libras nº 10.436 53 Decretos e Leis que Antecederam a Oficialização da Lei de Libras 54 Decreto 5.626 de 22 de Dezembro de 2005 55 Capítulo III 56 Da Garantia do Direito à Educação das Pessoas Surdas ou com Deficiência Auditiva 57 Os Profissionais Intérpretes da Língua de Sinais 58 Exame Prolibras 63 Projeto de Lei que Reconhece a Profissão de Intérprete 64 Acessibilidade 66 Símbolo Internacional de Surdez 66 5. Referências Bibliográficas 69 04 5 APOSTILA DE LIBRAS 1. Língua e Linguagem Distinção entre Língua e Linguagem inguagem é comumente utilizada para designar toda e qualquer forma de comunicação, possuindo um sentido mais amplo, quer sejam sistemas naturais ou artificiais. Assim temos: a linguagem dos animais, como por exemplo: os macacos quando estão à procura de alimento ou de acasalamento, emitem sons que caracterizam a sua solicitação específica, sendo assim considerada como uma linguagem natural. a linguagem das máquinas e dos computadores, que emitem sinais sonoros ou visuais para transmitirem alguma informação, estes, são chamados de sistemas artificiais. Pesquisas desenvolvidas sobre o comportamento das abelhas por Karl Von Frisch, foram analisados por Benveniste para explicar o funcionamento da comunicação animal. Para Benveniste apud Temóteo (2008), a comunicação das abelhas “não é linguagem, é um código de sinais”, porque esta é L 6 APOSTILA DE LIBRAS limitada, não permitindo criar ou decodificar realidades diferentes do seu habitat natural, resumindo a sua comunicação ao grupo no qual está inserida por não haver a reciprocidade necessária para a linguagem. Ele refuta a interpretação linguística behavioris- ta, demonstrando que a linguagem humana, diferentemente das linguagens das abelhas e outros animais, não pode ser simplesmente reduzida a um sistema de estímulo- resposta. De acordo com LOPES (2000, p.37-38), “a linguagem dos animais não é um produto cultural, (...) é invariável; (...) composta de índices (isto é de um dado físico ligado a outro dado físico por uma causalidade natural); (...) e não é articulada”. Por outro lado, a linguagem humana é natural, não é herdada como a linguagem das abelhas, mas o homem aprende a sua Língua e é dotado de cultura e da capacidade de expressar sentidos diferentes de acordo com as diferentes situações, ela se compõe de signos que nascem das convenções feitas pelos homens e, finalmente, a linguagem humana é articulada, ou seja, se deixa decompor em elementos menores que sejam discriminadores de significado. De acordo com Kojima & Segala (2008, p.4), as Línguas são consideradas naturais quando: São próprias das comunidades inseridas, que as tem como meio espontâneo de comunicação. Podendo ser adquiridas, através do convívio social, como primeira Língua (ou Língua Materna), por qualquer um de seus membros desde a mais tenra idade. Acompanhando o pensamento de Benveniste apud Temóteo (2008), no que diz respeito à caracterização da linguagem, ele afirma que esta “se reduz a elementos que se deixam combinar livremente seguindo regras definidas (...) – de onde nasce à variedade da linguagem humana, que é capacidade de dizer tudo” e caracteriza-se pela sua dupla articulação, ou seja, as diferentes formas pelas que Língua pode combinar os seus elementos formando novas palavras e significados. Para as Língua Orais é a “organização da língua em duas camadas – a camada dos sons que se combinam em uma segunda camada de unidades maiores – é conhecida como dualidade ou dupla articulação”. QUADROS & KARNOPP (2004, p.27). A linguagem humana faz parte da natureza do homem e é através dela que o ser humano exprime seus pensamentos assim como o animal expressa os impulsos. Para HALL, apud LYONS (1987, p.28), a 7 APOSTILA DE LIBRAS linguagem é a maneira pela qual há uma interação através de canais orais – auditivos. Desta maneira, os grupos sociais que são formados, redefinem a linguagem através do uso de símbolos que decodificam a sua realidade e expressão à vontade do ser social. Ele afirma que “(...) a língua que é usada por determinada sociedade é parte da cultura daquela sociedade”. A opinião de HALL apesar de ser muito relevante, se limita às línguas orais, pois, para ele, a lingua(gem) só cabe aos humanos dotados de audição e oralidade, requisito inacessível às pessoas Surdas que não são capazes de ouvir e, consequentemente, não podem falar para se comunicar. Segundo Temóteo (2008), ao contrário do que muitas pessoas pensam os surdos não possuem má formação no aparelho fonador, o fato de não poderem ouvir não os torna aptos para reproduzir os sons da fala. O surdo pode falar, mas isso depende de quanto ele percebe auditivamente a fala e do quanto ele fala sobre a Língua Portuguesa. Diferentemente das pessoas “ouvintes” os surdos possuem outro canal comunicativo para a transmissão e recepção da mensagem. “Língua de sinais e língua oral apresentam semelhanças e diferenças do ponto de vista operacional, mas a comunicação em língua de sinais é tão eficaz quanto na língua oral.” ALMEIDA (2000, p.02). Apesar de surdos e ouvintes terem línguas diferentes é possível que vivam em comunidade sem tantos atritos na comunicação, desde que haja um esforço mútuo de aproximação pelo conhecimento das duas línguas, tanto por parte dos ouvintes como dos Surdos. Língua de Sinais Brasileira considerada como Língua Foi inicialmente através dos trabalhos do americano William Stokoe (1960), que as línguas de sinais começaram a ser analisadas e estudadas, recebendo o status de língua. Comparando a Língua de Sinais Americana (ASL) com a língua inglesa, ele começou a observar que a ASL apresentava todos os requisitos e critérios exigidos para ser considerada como língua. 8 APOSTILA DE LIBRAS Stokoe observou que os sinais não eram imagens, mas símbolos complexos, com uma complexa estrutura interior. Ele foi o primeiro, portanto, a procurar uma estrutura, a analisar os sinais, dissecá-los e a pesquisar suas partes constituintes. (QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 30). Em sua obra Sign Language Structure e Dictionary of ASL, William Stokoe, marca a história como uma fase de transição no que diz respeitoà compreensão do que seria língua e linguagem. (QUADROS & KARNOPP, 2004). Da mesma forma, por volta de 1970-1980, a pesquisadora Lucinda Ferreira Brito e outros pesquisadores, começaram a estudar a língua de sinais brasileira e observaram que esta também possui os mesmos critérios que a classificam como língua, ou seja, aspectos fonológicos, morfológicos, sintaxe, semântica e pragmática. É importante lembrar, que este grupo de pesquisadores fundamentou seus estudos nas obras inicialmente produzidas por William Stokoe. Assim, aqui no Brasil, estes pesquisadores começaram a produzir material e pesquisas atestando a autenticidade da Libras como língua. De acordo com BRITO (1998, p.19), as Línguas de Sinais são complexas por que “permitem a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano”. Por meio dela, os seus usuários podem discutir e estudar sobre os mais diversos assuntos, desde um simples bate-papo a questões mais complexas, como o estudo de disciplinas escolares, política, religião, esportes, filosofia, trabalho, dentre outros. Pela ausência da voz (fala), forma normalmente utilizada entre os indivíduos ouvintes na comunicação, surge à necessidade de uma Língua que não utilize o canal oral-auditivo, mas sim, um canal espaço-visual, em que a visão, as mãos e o corpo em si, sirvam de mecanismos para atingir a transmissão da mensagem entre os Surdos. LYONS (1987, p. 18; 28), diferentemente de HALL, teve a preocupação de examinar a Língua de modo a englobar não apenas os “ouvintes”, mas também os Surdos, ele assegura que: Não se pode falar sem usar a língua (isto é, sem falar uma determinada língua), mas é possível usar a língua sem falar (p.18). (...) é perfeitamente possível, embora raro, que se aprenda uma língua escrita sem haver o comando prévio da língua falada correspondente (...) tais como os sistemas 9 APOSTILA DE LIBRAS utilizados pelos surdos-mudos (...) não se deve colocar ênfase excessiva na prioridade biológica da fala. Para Temóteo (2008), a Língua de Sinais é viva, e assim como as Línguas Orais, ela também é natural, imbuída de sentidos que podem passar despercebidas aos olhos dos “ouvintes”. A linguagem reflete o cotidiano em que o homem vive e para chegar a transmitir aquilo que se pensa, o surdo procura fazer uma aproximação com o real durante a comunicação, projetando em sua mente a imagem daquilo que se deseja transmitir. Para identificar uma pessoa, por exemplo, ele procura enxergar um atributo marcante, que chame a atenção, geralmente de fácil reconhecimento para diferenciá-lo dos demais, quer seja por suas características físicas: cabelo cacheado ou liso, dentuço, magrelo, uso de aparelho dentário, cicatriz...; por meio da profissão: professor, policial, médico, dentista...; por uso de algum acessório: óculos, chapéu, relógio... São infinitas as possibilidades de representações e percepções do surdo acerca do outro. Da mesma maneira que os ouvintes conseguem discutir todo e qualquer tipo de assunto, os surdos, graças a Língua de Sinais, estão em patamar igual, somente a partir dela, as barreiras de comunicação entre surdos e ouvintes podem ser minimizadas, assim como a diminuição do atraso no desenvolvimento cognitivo que o surdo carrega pela ausência da linguagem em relação ao ouvinte, que recebe estímulos auditivos constantemente. SACKS (2007, p. 34; 42), faz um comentário acerca da Língua de Sinais e a Língua falada: Tanto as Línguas de Sinais como as Línguas Orais são canais distintos de comunicação, contudo ambas são independentes para a transmissão e a recepção da habilidade linguística. O uso da fala (discurso) está intrinsecamente ligado ao conhecimento de uma Língua, não necessariamente ao ato de falar, mas na percepção do entendimento das estruturas semânticas que compõem a comunicação, quer seja nas Línguas Orais ou de Sinais. “As línguas de sinais são, portanto, consideradas pela linguística como línguas naturais ou sistema linguístico legítimo e não como um problema do surdo ou uma patologia da linguagem”. QUADROS & KARNOPP (2004, p. 30). Embora a Linguística tenha reconhecido a forma de 10 APOSTILA DE LIBRAS comunicação usada pelos Surdos como autêntica foram os Psicólogos Experimentais, especificamente Willian Wundt, quem primeira- mente reconheceu o status de Língua às Línguas de Sinais, conforme CAPOVILLA (2001, p. 1480): Coube à Psicologia a honra de ter precedido a própria Linguística no reconhecimento do status linguístico da Língua de Sinais. Em sua Psicologia étnica, o fundador da Psicologia Experimental, William Wundt (1911), foi o primeiro acadêmico a defender a concepção de Língua de Sinais como idioma autônomo, e do Surdo como povo com cultura própria. Por meio das Línguas de Sinais, as pessoas Surdas se relacionam no meio social em que vivem. No Brasil, a Língua utilizada pelos Surdos foi oficialmente reconhecida através da lei nº 10.436. A comunidade surda brasileira comemorou no dia 24 de abril de 2002 o reconhecimento de sua Língua, a Língua de Sinais Brasileira, Libras, como meio legal de comunicação e expressão; no seu artigo primeiro, parágrafo único da referida Lei traz a definição: Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual- motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. A oficialização da lei de Libras, como ficou assim conhecida, é caracterizada como um marco histórico das lutas travadas pela comunidade surda brasileira. Através desse fato, os surdos têm conquistado cada vez mais espaços consistentes na sociedade, tanto no que diz respeito a espaços profissionais como educacionais. A lei de Libras proporcionou o resgate da cidadania, identidade surda e de sua aceitação como língua natural. Por isso, é interessante que hajam pesquisas sobre a língua de sinais a fim de haver uma multiplicação desse conhecimento. Língua Conforme estudamos, as línguas são sistemas complexos, capazes de comunicar sentimentos, emoções, ideias abstratas ou simplesmente conversações cotidianas como “Oi!”, “Tudo bem?”. É ainda, um sistema padronizado pelo qual podemos construir um número infinito de sentenças. 11 APOSTILA DE LIBRAS Língua não se confunde com linguagem: é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É ao mesmo tempo produto da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. (SAUSURRE apud QUADROS, p.24, 2004). Vejamos agora algumas características intrínsecas das línguas. Traços Únicos das Línguas Segundo Quadros (2004), as línguas apresentam traços únicos como: flexibilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criatividade, dupla articulação e um padrão. Veremos a seguir uma breve descrição de cada um desses traços. Flexibilidade: Segundo Lyons apud Quadros (2004, p.25), “pode-se usar a língua para dar vazão às emoções, para ameaçar ou prometer, para solicitar a cooperação dos companheiros. É possível ainda fazer referência ao passado, presente e futuro”. Arbitrariedade: A palavra e os sinais não apresentam semelhanças com o referente. Por exemplo, o objeto MESA, é designado dessa forma por uma convenção, e não por ter um significado associado. O que implica dizer que a arbitrariedade é convencional. Descontinuidade: Apresenta uma diferença entre forma e significadocom relação à morfologia da palavra (ou seja, o estudo da forma da palavra). Observe o exemplo das palavras: maca e mala. Ambas diferem um pouco tanto na morfologia como na língua falada, embora apresentem semelhanças entre si. Criatividade: É a característica que permite a construção e a compreensão de novas sentenças regidas por regras gramaticais. (QUADROS, 2004). Dupla articulação: Toda língua é formada de fonemas, que se articulam uns com os outros para formar as palavras, possuindo assim um significado. Padrão: Os elementos nas línguas apresentam um padrão de combinação dos elementos. Se tomarmos como 12 APOSTILA DE LIBRAS exemplo as palavras: rapaz, rapidamente, caminhou, o, há três combinações possíveis: “O rapaz caminhou rapidamente; Rapidamente o rapaz caminhou, caminhou o rapaz e o rapaz rapidamente caminhou. As outras combinações que forem formadas além destas são agramaticais e no caso da língua portuguesa, ela apresenta restrições na maneira em que os itens ocorrem juntos, ou seja, apresentam um padrão”. (QUADROS, 2004). Dependência estrutural: Segundo Quadros (2004, p.28), “Uma língua contém estruturas dependentes que possibilitam um entendimento da estrutura interna de uma sentença, independe do número de elementos linguísticos envolvidos”. Como exemplo, observe o quadro abaixo: (Quadros, 2004). G ri to u A criança Ela A criança doente e machucada O que é um Mito? Os mitos são ideias falsas de natureza simbólica sobre alguma pessoa, sobre um determinado lugar ou assunto. Pode ser caracterizado como lenda, folclore ou um conto de fadas. Existem muitos mitos sobre as línguas de sinais os quais nos conduzem a concepções errôneas. Vejamos alguns mitos descritos por Quadros (2004): Mito 1 A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos (QUADROS, 2004, p. 31). As línguas de sinais expressam conceitos abstratos. Os usuários podem discutir sobre todo e qualquer assunto como: política, filosofia, economia, matemática, física e psicologia (QUADROS, 2004). Mito 2 Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas (QUADROS, 2004, p. 33). A Língua de Sinais Brasileira não é universal, cada país possui a sua. Dessa forma, temos aqui no Brasil (Libras), nos Estados Unidos (American Sign Language – ASL) e na França (Langue de Signes Française - LSF). 13 APOSTILA DE LIBRAS Mito 3 Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin, sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais (QUADROS, 2004, p. 34). As línguas de sinais não estão subordinadas às línguas orais e nem são consideradas inferiores. As línguas de sinais são línguas naturais, de modalidade diferencia- da (gestual-visual), possuindo estrutura e gramática própria. Mito 4 A língua de sinais seria uma mistura de comunicação superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguistica- mente inferior ao sistema de comunicação oral. (QUADROS, 2004, p. 35). Segundo “pesquisas realizadas por Klima e Bellugi apud Quadros (2004, p. 35), mostram que poesias, piadas, trocadilhos, jogos originais, entre outros são uma parte significativa do saber da cultura surda”, possuindo assim um conteúdo irrestrito. Mito 5 As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. (QUADROS, 2004, p. 36). As línguas de sinais são consideradas línguas naturais, autônomas e surgem de forma espontânea, em face da necessidade que o surdo tem em se comunicar uns com os outros. Mito 6 As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, esta- riam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo pela linguagem (QUADROS, 2004, p. 36). Pesquisas realizadas por Bellugi e Klima apud Quadros (2004, p. 36), indicaram que as línguas de sinais são processadas no hemisfério esquerdo, assim como quaisquer outras línguas. Esse estudo comprova que a linguagem humana independe da modalidade das línguas. 14 APOSTILA DE LIBRAS Surdos e ouvintes Povo surdo Os surdos são pessoas que compartilham os mesmos valores, ideologias, cultura; possuem uma identidade e não são caracterizados como deficientes e sim como diferentes. Eles se organizam sob a ótica da não-medicalização da surdez, dessa forma, a surdez não é considerada como uma patologia que necessita de cura e sim como algo que os torna diferentes, compondo assim a diversidade humana. Povo Surdo: “O conjunto de sujeitos surdos que não habitam no mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda, costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comuns e qualquer outro laço”. (STROBEL apud PERLIN & STROBEL 2006, p. 8) Comunidade surda Alguns surdos não se consideram assim por ouvirem um pouco e fazerem uso da leitura labial, nesse caso, preferem ser chamados de deficientes auditivos, outros, na mesma situação, se autodenominam surdos. No primeiro contato entre surdos e ouvintes, quando os surdos querem identificar alguém, eles costumam sinalizar a expressão: Você é ouvinte ou surdo? Comunidade Surda: (...) não é só de surdos, já que tem sujeitos ouvintes junto, que são família, intérpretes, professores, amigos e outros que participam e compartilham os mesmos interesses em comuns em um determinado localização. (...) Geralmente em associação de surdos, federações de surdos, igrejas e outros. (STROBEL apud PERLIN & SROBEL 2006, p. 58) Pré-Conceito e Estigma O Pré-conceito é um conceito prévio a respeito de alguma coisa ou de alguém, antes mesmo de conhecer verdadeiramente. É marcado por estereótipos ou rótulos, impossibilitando um determinado segmento da sociedade de ser incluído e aceito com suas especificidades. No caso das pessoas com necessidades especiais, mais restritamente os deficientes auditivos e os surdos, objetivo de estudo da presente unidade, o estereótipo causa a negação da sua identidade, os rotula como incapazes, deficientes, doentes, marginalizados e excluídos em suas potencialidades. As maiorias dos pesquisadores discretamente se limitaram nos registros nos quais os sujeitos surdos eram vistos como seres 15 APOSTILA DE LIBRAS ‘deficientes’, conforme a definição de ‘ouvintismo’, assim como pronuncia a pesquisadora surda Perlin (2004) “As narrativas surdas constantes à luz do dia estão cheias de exclusão, de opressão, de estereótipos”. (p.80) (STROBEL, 2006, p.8). Qualquer pessoa que queira conhecer um determinado grupo, precisa primeiramente abandonar os pré-conceitos, participar e aprender a conviver respeitando as peculiaridades de cada cultura e de cada povo. Assim deve acontecer também com aqueles que desejam conhecer e interagir com a cultura surda, é necessário antes de tudo haver uma quebra de paradigmas, o rompimento de ideias pré- concebidas, errôneas sobre os surdos e a sua língua, objetivando assim a aceitação dos surdos na sua totalidade, como pessoa, ser humano, cidadão e parte integrante da sociedade. Comunicação Surdo e Ouvinte É importante sabermos que, entre os cinco sentidos que possuímos: tato, paladar, olfato, visão e audição; a visão é o sentido mais aguçado nas pessoas surdas. Então, parauma comunicação eficaz, é imprescindível olharmos diretamente para ele, falarmos pausadamente e demonstrarmos através da expressão facial o que queremoscomunicar. Por vezes, faz-se necessário uso da escrita para comunicar algo, lembrando que, nem todos os surdos fazem leitura labial ou não sabem se comunicar através dos sinais. Não podemos esquecer ainda que, ao chamá-lo, nunca devemos gritar ou chamar a sua atenção dando-lhe tapas. Associações de Surdos no Brasil Fonte. www.feneis.com.br. As associações são espaços existentes em todo o Brasil, onde os surdos se reúnem para juntos lutarem pelos seus direitos. É estruturada através de uma diretoria composta por surdos, a qual é responsável por administrá-la, 16 APOSTILA DE LIBRAS sendo que, os ciclos de eleições são regidos por estatutos, havendo também a participação e envolvimento das pessoas ouvintes. Povo Surdo: Você sabia que: “Ferdinand Berthier, Surdo, francês, intelectual, Foi professor de surdos e o seu método de ensino tinha por base a identidade surda. Foi fundador da primeira Associação de Surdos da qual se originaram outras no mundo todo”. (PERLIN & STROBEL, p.15, 2006.) Podemos dizer ainda, que as associações dos surdos é como se fossem a sua própria pátria, pois nela, eles se sentem em liberdade para expressarem seus pensamentos e manifestarem suas ideias. São nas associações, que eles organizam eventos como campeonatos, cursos, palestras, onde muitos aprendem a língua de sinais e obtêm informações variadas. É ainda o lugar onde simplesmente eles se encontram para se relacionar e fazer amizades. Existem associações de surdos espalhadas por todo o Brasil, veja o mapa a seguir e para maiores informações acesse www.feneis. com.br. Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo – Feneis "A federação nacional de educação e integração dos surdos (FENEIS) é uma entidade não governamental, registrada no Conselho Nacional de Serviço Social-CNAS e não está subordinada à CBDS, sendo filiada a World Federation of The Deaf" (FELIPE, p. 63, 2002). A principal função da Feneis tem sido ministrar e divulgar a Libras através de cursos, oficinas, palestras. A Feneis também organiza ações políticas e manifestações em prol dos direitos da comunidade surda brasileira. É ainda uma entidade filantrópica com objetivos educacionais e sociais. Segundo Felipe (2002, p. 64), “a fundação da Feneis data do ano de 1987, quando a liderança da Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo (FENEIDA) foi assumida pelos surdos”. Possui sede no Rio de Janeiro, mas já possui regionais como, por exemplo, em: Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Distrito Federal, Fortaleza, Rio de Janeiro, Amazonas, Pernambuco, etc. 17 APOSTILA DE LIBRAS Confederação Brasileira de Desporto de Surdos – CBDS A Confederação Brasileira de Desporto de Surdos (CBDs) é a organização que visa promover a integração do surdo por meio do esporte. Através dela, os surdos participam de campeonatos e torneios nas mais diversas modalidades em todo o território nacional. Há pouco tempo a CBDs se associou a confederação internacional, dessa forma, os surdos também podem participar dos jogos esportivos em nível internacional. “A CBDs, fundada em 1984, tem como proposta o desenvolvimento esportivo dos surdos do Brasil, por isso promove campeonatos masculinos e femininos em várias modalidades em nível nacional” (FELIPE, p.63, 2006). Segundo Felipe (2006, p. 63), “é composta de forma hierárquica, sendo formada por uma CBDS, seis Federações Desportivas e 58 associações, clubes, sociedades, congregações”. 1 8 19 APOSTILA DE LIBRAS 2. Língua de Sinais Brasileira – Libras Conceitos fundamentais Língua de Sinais Brasileira (Libras) é a língua materna dos surdos brasileiros. É uma língua viva, autônoma, capaz de transmitir todo e qualquer conceito, dos mais complexos até os mais abstratos. Os usuários da Libras, podem discutir sobre todo e qualquer assunto, desde economia, política, física, literatura, histórias de humor, etc. É considerada como língua natural, uma vez que, ela surge de forma espontânea no meio da comunidade surda, em face da necessidade destes, em se comunicarem uns com os outros. Diferencia-se da linguagem, por possuir todos os requisitos que a conferem como língua, tais como: aspectos fonológicos, morfológicos, sintaxe, semântica e pragmática. As línguas faladas como o inglês, o espanhol e o francês, são consideradas línguas orais- auditivas. As línguas sinalizadas como a Libras, são de modalidade gestual-visual, também conhecida com viso-espacial, onde o canal emissor da comunicação são as mãos, através dos sinais, e o canal A 20 APOSTILA DE LIBRAS receptor é a visão. Línguas orais-auditivas: o canal emissor da comunicação é a voz, através da fala e o canal receptor da comunicação são os ouvidos, através da audição. Línguas gestuais-visuais: o canal emissor da comunicação são as mãos, através dos sinais e o canal receptor da comunicação são os olhos, através da visão. As línguas de sinais aumentam seus vocabulários com novos sinais criados e introduzidos pelas comunidades surdas espalhadas por todo o Brasil. O léxico pode ser definido como o conjunto de palavras de uma língua. “Ele se relaciona com o processo de nomeação e com a cognição da realidade. Constitui ainda uma forma de registrar o conhecimento do universo. Quando o homem nomeia os seres e objetos, ele está os classificando simultaneamente. O ato de nomear gerou o léxico das línguas naturais.” (BIDERMAN, 2006) Dessa forma, as línguas de sinais, apresentam em seu léxico, regionalismos. Os regionalismos, também conhecidos como dialetos, são expressões características de uma determinada localidade. Assim, podemos sinalizar a palavra CIDADE, em São Paulo de uma forma e sinalizar no Ceará de outra forma. Sinal de CIDADE usado pelos surdos na cidade de São Paulo Sinal de CIDADE usado pelos surdos no estado do Ceará. Como a Libras chegou ao Brasil A Língua de Sinais Brasileira teve sua origem através do alfabeto manual francês. A convite de D. Pedro II, um Padre surdo da França, chamado Ernest Huet, veio ao Brasil por volta de 1857. Na cidade do Rio de Janeiro, ele encontrou surdos cariocas mendigando e 21 APOSTILA DE LIBRAS perambulando pelas ruas, sem saberem se comunicar. Foi através do “método combinado”, utilização da língua de sinais como meio para o ensino da fala, que Ernest Huet começou a trabalhar com os surdos do Brasil. Em 1857, foi fundada a primeira escola para surdos no Brasil, O Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Foi a partir desse instituto que surgiu, da mistura da Língua de Sinais Francesa, trazida por Huet, com a língua de sinais brasileira antiga, já usada pelos surdos das várias regiões do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais. (FELIPE, p.121, 2002). Em contato com D. Pedro II, Ernest Huet propõe a criação da primeira escola de surdos da época, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), estabelecido na cidade do Rio de Janeiro, que antigamente funcionava em regime de internato, onde apenas os surdos masculinos de várias partes do país, mudavam para o Rio de Janeiro para estudar e nas férias eles voltavam para junto de suas famílias. Apenas em 1931, é que fora criado um externato com oficina de costura e bordado para as mulheres surdas. Dessa forma, os sinais que os surdos aprendiam nos períodos em que ficavam no INES, eram facilmente difundidos para várias localidades do Brasil quando estes voltavam para os seus estados. Prédio onde funciona o INES, desde1915 – Rio de Janeiro Aos poucos, essa língua foi sendo construída com novos sinais criados e incorporados ao léxico pela comunidade surda brasileira. Apesar de ter uma origem francesa, a Língua de Sinais Brasileira, já possui hoje sua própria estrutura. Aqui no Brasil, até pouco tempo foi considerada como linguagem, mas como vimos na unidade 01, graças aos trabalhos de linguistas e pesquisadores comprovando a autenticidade da Libras como língua, ela foi reconhecida oficialmente pela lei 10.436 de 24 de abril de 2002, como meio de comunicação legal da comunidade surda brasileira. A Língua de Sinais Brasileira não é universal, cada país possui a sua. Assim como em diferentes 22 APOSTILA DE LIBRAS países os ouvintes falam línguas diferentes, também ocorre com as línguas de sinais, cada comunidade surda espalhada pelos mais variados países possuem a sua própria língua de sinais. Dessa forma temos aqui no Brasil (Libras), nos Estados Unidos (American Sign Language – ASL) e na França (Langue de Signes Française - LSF). LIBRAS foi a sigla aceita e aprovada em 1993 pela FENEIS. Brito e Felipe (1989) utilizavam a sigla LSCB – Língua de Sinais dos Centros Urbanos. Há, no entanto, um movimento, liderado pelo pesquisador surdo Nelson Pimenta, que defende o uso da sigla LSB – Língua de Sinais Brasileira. A linguista R. Quadros (2002) também utiliza, em seus trabalhos, LSB, sigla que segue os padrões internacionais de denominações das línguas de sinais. No entanto, conforme declaração da Profª Myrna S. Monteiro, da UFRJ, a sigla LSB já era usada pela COPADIS – Comissão Paulista de Defesa dos Direitos dos Surdos, desde 1996 (LEITE, 2004, p. 9). A sigla Libras é comumente usada aqui no Brasil, contudo, outras siglas têm sido usadas como LSB (Língua de Sinais Brasileira) seguindo o padrão internacional de L (Língua) + S (Sinais) + a inicial do país. Principais Características da Libras Segundo TEMÓTEO (2008), ao invés de palavra, na Língua Portuguesa, tem-se o sinal na Libras. A respeito de sinal, diz que é um gesto que possui significado. O sinal é o fio condutor capaz de transmitir, propagar e difundir a “palavra” em suas diferentes realizações através das mãos, ele tem vida própria e, no geral, leva consigo uma semelhança que remete a forma ou coisa representada, tem a propriedade de reproduzir por semelhança o mundo real, como também, comunicar signos abstratos, independentemente de seu grau de subjetividade. Conforme FELIPE (1998, p.83), “O que é denominado de palavra ou item lexical, nas línguas orais-auditivas, é denominado sinal nas línguas de sinais”. Conforme o exemplo: Apito: Palavra ou item lexical O léxico de uma língua são as palavras que servem para nomear os seres, os objetos e a classificá-los simultaneamente. Assim, os sinais 23 APOSTILA DE LIBRAS nas línguas sinalizadas, represen- tam o léxico das línguas de sinais, uma vez que, representam um determinado ser ou objeto. Os sinais da Libras são classificados em icônicos e arbitrários. Os sinais icônicos são aqueles que se assemelham ao seu referente. Na maioria das vezes esta relação de iconicidade é estabelecida quando um sinal é criado na comunidade Surda, onde se busca resgatar uma imagem que torne o sinal mais concreto. Para BRITO (1998, p. 19,20), os sinais icônicos são “formas linguísticas que tentam copiar o referente real e suas características visuais”. São exemplos de sinais icônicos: sal, abraço e banana, que estabelecem uma relação com a forma e/ou o significado: Sinais Icônicos Sal Abraço COUTINHO (2000:19) define os sinais icônicos como “aqueles que apresentam semelhanças físicas e geométricas com os seres representados”. Quanto aos sinais arbitrários a autora diz que “são aqueles não apresentam tais semelhanças, que não dependem de regras”. Os sinais arbitrários, assim como as palavras das Línguas em geral, não estabelecem qualquer ligação com a forma ou significado do sinal, eles estão, na maioria dos casos, relacionados a conceitos abstratos, como é o caso dos sinais vontade e saúde, conforme o quadro abaixo: 24 APOSTILA DE LIBRAS Sinais Arbitrários Vontade Saúde A área da linguística que estuda os constituintes básicos que formam os sinais é a fonologia, esta área se propõe a analisar como as unidades mínimas se combinam e quais as variações que podem existir. Como sabemos as línguas de sinais e as línguas faladas, se articulam em modalidades diferenciadas, a primeira é oral- auditiva e a segunda gestual-visual. Mesmo com estas diferenças, a fonologia também tem sido utilizada para descrever e estudar os elementos básicos que formam os sinais, ou seja, os fonemas. Historicamente, entretanto, para marcar a diferença entre esses dois sistemas linguísticos, Stokoe (1960) propôs o termo quirema para denominar as unidades formacionais dos sinais (Configuração de mão, locação e movimento) e, ao estudo de suas combinações propôs o termo quirologia (do grego mão). O dicionário Aurélio Buarque de Holanda apud Quadros (2004) define quirologia como a arte de conversar com as mãos por meio de sinais feitos com os dedos; dactilologia (QUADROS, p. 49, 2004). Posteriormente, um grupo de pesquisadores, incluindo Stokoe em outras edições (1978), adotou os termos fonema e fonologia, tendo em vista que estes agregam os princípios linguísticos para a modalidade gestual-visual. Estudando a composição dos sinais, Stokoe os dissecou e observou que eles eram formados por três unidades mínimas a qual ele chamou de parâmetros: Configuração de Mão (CM), Locação (L) e Movimento (M), analogamente, estas três unidades seriam os fonemas nas línguas de sinais que se combinam para forma os morfemas. Análises das unidades formacionais dos sinais, posteriores à de Stokoe, sugeriram a adição de informações referentes à orientação da mão (Or) e aos aspectos não- manuais (NM) – expressões faciais e corporais (BATTISON, 1974, 1978 25 APOSTILA DE LIBRAS apud QUADROS, 2004). Dessa forma, as unidades mínimas de formação dos sinais, os fonemas ou ainda, parâmetros da Língua de Sinais são: Configuração de mão (CM), Locação (L), Movimento (M), Orientação (Or) e Expressões Não-Manuais (NM). Estudaremos mais sobre as unidades mínimas ou parâmetros com mais detalhes na unidade 4. Fique atento! Alfabeto Manual da Língua de Sinais Brasileira O alfabeto manual também é um recurso usado quando não há um sinal próprio da Língua Brasileira de Sinais, ou seja, é feita uma soletração do português no espaço. Esse movimento envolve uma sequência de configurações de mão que tem correspondência com a sequência de letras escritas do português. A soletração manual é linear, sendo utilizada para “escrever no ar” palavras emprestadas das línguas auditivo-orais. (GUARINELLO, p. 52, 2007). Acompanhe agora através das figuras abaixo, o alfabeto manual. Datitologia Quando a palavra tem que ser em datilologia, então é conveniente colocar em letra maiúscula e separada por hífens, para as pessoas saberem o que está escrito. A datilologia é usada ainda quando uma determinada palavra em português não possui um sinal próprio, então é necessário fazer soletração manual, seguida da explicação do conteúdo semântico. Outro uso da datilologia é quando as pessoas ouvintes que ainda não possuem um sinal pessoal de identificação se apresentam, elas fazem uso da soletração manual para dizerem os seus nomes, ou seja, o signo que a representa. Em seguida, ela pode solicitar a um surdo que lhe conceda um sinal, processo tambémconhecido como “batismo”. Assim, sempre que 26 APOSTILA DE LIBRAS estiverem conversando, não será mais necessário soletrar o nome da pessoa com as letras do alfabeto o tempo todo, eles farão apenas aquele sinal representativo da pessoa. Geralmente quando os surdos se encontram o primeiro sinal utilizado por eles, é o sinal de “OI” ou os cumprimentos como “BOM DIA”, “BOA TARDE” e “BOA NOITE”. Caso eles não conheçam ainda a pessoa, em seguida eles perguntarão o nome e a “batizarão” com um sinal. Observe os sinais abaixo de apresentação pessoal e de cumprimentos. Fique atento, esses são os sinais essenciais para o primeiro contato com as pessoas surdas. Sinal de “Tudo bem?” Sinais de “Bom dia”, “Boa tarde” e “Boa noite” Sinal de “OI” Formas de apresentação pessoal: “NOME?” Agora que você já conhece como as pessoas surdas se apresentam e se cumprimentam 27 APOSTILA DE LIBRAS através da Libras. Vejamos agora como acontece o processo de transcrição para Libras. Sistema de Transcrição para Libras A escrita da língua de sinais ainda está em processo de pesquisa e aceitação. Porém, algumas convenções já foram estabelecidas para tal. Apresentamos algumas dessas convenções citadas por Felipe apud Silva et all, p.15, 2007. Os sinais em Libras serão representados por uma glosa (sistema de anotação) da Língua Portuguesa em letras maiúsculas. Exemplos: TRABALHAR, QUERER, NÃO-TER. A datilologia é usada para expressar nome de pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela palavra separada, letra por letra, por hífen. Exemplos: HOTEL I-T- A-G-U-A-Ç-U. Na Libras não há desinên- cias para gênero (masculino e feminino). O sinal,representado por palavra da língua portuguesa que possui marcas de gênero, está terminado com o símbolo @ para reforçar a ideia de ausência e não haver confusão. Exemplos: EL@ (ela, ele), AMIG@S (amigos ou amigas). Empréstimos Linguísticos Os empréstimos linguísticos, são expressões de outro país que são adotadas pelos falantes de determinada nacionalidade. Por exemplo, em português, fizemos o empréstimo linguístico da língua inglesa de palavras como: show, rock in roll, chock, equalization etc; estas palavras passaram a integrar o léxico do português. No caso da Língua de Sinais, segundo Battison apud Quadros (2004, p.88), “palavras do português podem ser emprestadas à língua de sinais brasileira, via soletração manual, ou seja, através da “representação ortográfica do português envolvendo uma sequência de configurações de mão que tem correspondência com a sequência de letras escritas em português”. Por exemplo, “o sinal de AZL ou AL é derivado da soletração manual. A-Z-U-L, assim o sinal N-U-N é derivado da soletração N-U-N-C- A, conforme ilustram os exemplos abaixo”. (QUADROS, p. 89, 2004). 28 APOSTILA DE LIBRAS Azul Nunca Parâmetros da Língua de Sinais Brasileira - Libras Configuração de Mão – CMs A configuração de mão é o formato que a mão assume para a realização de um determinado sinal. A mão pode estar configurada em uma das letras do alfabeto ou pode assumir outro formato. “Conforme Ferreira-Brito apud Quadros (2004, p. 53), a língua de sinais brasileira apresenta 46 CMs, um sistema bastante similar àquele da ASL. Para a autora, as CMs foram descritas a partir de dados coletados nas principais capitais brasileiras, sendo agrupadas verticalmente segundo a semelhança entre elas”. As 46 CMs da Libras (Ferreira- Brito e Langevin, 1995) apud Quadros (2004, p.53). Alguns sinais podem apresentar a mesma configuração de mão e significados diferentes. Observe os exemplos a seguir: Sinal de TRABALHAR Mão configurada em “L” 29 APOSTILA DE LIBRAS Sinal de APRENDER Mão configurada em “S” Sinal de SÁBADO Mão configurada em “S” Sinal de TELEVISÂO Mão configurada em “L” Movimento Alguns sinais apresentam movimento, outros não, depende do sinal. Por exemplo, o sinal de PENSAR, tem movimento, já o sinal de AJOELHAR e EM-PÉ, não tem movimento. Quanto a disposição das mãos na realização dos sinais na Libras, pode ser feita com a mão dominante ou por ambas as mãos. Sinal de FAMÍLIA Tem movimento Sinal de FACULDADE Tem movimento 30 APOSTILA DE LIBRAS Sinal de DESCULPAR Não tem movimento Sinal de AJOELHAR Não tem movimento Algumas variações no movimento são bastante significativas na Libras e para que haja movimento, é preciso haver objeto e espaço. “Nas línguas de sinais, as mãos do enunciador representam o objeto, enquanto espaço em que o movimento se realiza (o espaço da enunciação) é a área em torno do corpo do enunciador”. (FERREIRA-BRITO E LANGEVIN, 1995 apud QUADROS, 2004, p.54). Observe agora as variações significativas do sinal AZUL na ASL. Pequenas variações no movimento correspondem a outro sinal. Exemplos de Sinais na ASL (Baker e Paden, 1978, p.12) apud Quadros (2004, p.54) “Mudanças no movimento servem ainda para diferenciar itens lexicais, por exemplo, nomes e verbos”. (SUPALLA E NEWPORT, 1978 apud QUADROS, 2004). Direção dos Movimentos Os movimentos podem ser classificados quanto a sua direção em: unidirecionais, bidirecionais ou multidirecionais. 31 APOSTILA DE LIBRAS Unidirecional Movimento em uma direção no espaço, durante a realização de um sinal. Exemplo: Máquina de costura Bidirecional Movimento realizado por uma ou ambas as mãos, em duas direções diferentes. Exemplo: Coração Multidirecional Movimentos que exploram várias direções no espaço, durante a realização de um sinal. Exemplo: Cérebro Tipos de Movimentos Pode ser retilíneo, circular, semicircular, helicoidal, angular e sinuoso: Retilíneo Exemplo: Mostrar Helicoidal Exemplo: Alto 32 APOSTILA DE LIBRAS Circular Exemplo: Piauí Semicircular Exemplo: Egoísta Angular Exemplo: Enganar Sinuoso Exemplo: Propaganda Observe ainda as categorias do parâmetro movimento na língua de sinais brasileira (FERREIRA- BRITO, 1990 apud QUADROS, 2004, p.56). TIPO o Contorno ou forma geométrica: retilíneo, helicoidal, circular, semicircular, sinuoso, angular e pontual. o Interação: alternado, de aproximação, de separação, de inserção, cruzado. o Contato: de ligação, de agarrar, de deslizamento, de toque, de esfregar, de riscar, de escovar ou de pincelar. o Torcedura do pulso: para cima, para baixo. o Interno das mãos: abertura, fechamento, curvamento e dobramento (simultâneo-gradativo). DIRECIONALIDADE Direcional o Unidirecional: para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda, para dentro, para fora, para o centro, para a lateral inferior esquerda, para a lateral inferior direita, para a lateral superior direita, para a lateral superior esquerda, para específico ponto referencial. o Bidirecional: para cima e para baixo, para a esquerda e para a direita, para dentro e para fora, para laterais opostas – superior direita e inferior esquerda. o Não-direcional MANEIRA o Qualidade, tensão e velocidade: Contínuo | De retenção | Refreado FREQUÊNCIA o Repetição: Simples | Repetido 33 APOSTILA DE LIBRAS Fonte. Ferreira-Brito, 1990 apud Quadros & Karnopp, 2004, p.56 Locação (L) Conhecido também como Ponto de Articulação (PA) ou locus de movimento do sinal; a locação é onde é feito um determinado sinal. Que pode ser na cabeça, no tronco, na mão ou ainda no espaçoneutro em frente ao corpo. Observe o quadro abaixo das locações propostas por Friedman (1977) e que foram adaptadas por FerreiraBrito e Langevin (1995) apud Quadros (2004, p. 58). CABEÇA TRONCO o Topo da cabeça Testa o Rosto o Parte superior do rosto o Parte inferior do rosto o Orelha o Olhos o Nariz o Boca Bochechas Queixo o Pescoço Ombro o Busto Estômago o Cintura o Braços o Braço| Antebraço| Cotovelo o Pulso CABEÇA ESPAÇO NEUTRO o Topo da cabeça Testa o Rosto o Parte superior o do rosto o Parte inferior do rosto Orelha o Olhos o Nariz o Boca Bochechas Queixo Friedman apud Quadros (2004, p.56 e 57), afirma que locação “é aquela área do corpo, ou no espaço de articulação definido pelo corpo, em que ou perto da qual o sinal é articulado”. Sinal de AMAZONAS A locação é na testa. 34 APOSTILA DE LIBRAS Sinal de FRACO A locação é no queixo Sinal de BANCO A locação é no pescoço. Sinal de CUIDADO A locação é no nariz. Durante a realização dos sinais, a mão entra em contato com o corpo, por meio do toque, duplo toque, risco ou deslizamento: TOQUE Exemplo: Bisavô Duplo TOQUE Exemplo: Alemanha RISCO Exemplo: Pessoa 35 APOSTILA DE LIBRAS DESLIZAMENTO Exemplo: Educação Orientação (Or) Segundo Quadros (2004, p. 59), “orientação é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal”. Ferreira-Brito (1995), na língua de sinais brasileira, e Marentette (1995), na ASL, apud Quadros (2004, p.59), enumeraram seis tipos de orientações da palma da mão na língua de sinais brasileira: para cima, para baixo, para o corpo, para a frente, para a direita ou para a esquerda. Observe os exemplos abaixo: Or: Palma para cima Or: Palma para baixo Or: Palma para dentro Or: Palma para fora Or: Palma para os lados (direito ou esquerdo) Palma para o lado esquerdo Fonte. Sinais retirados do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Capovilla e Raphael (2000). Volume I - Sinais de A a L e Volume II - Sinais de M a Z. (Ilustradora: Silvana Marques) A orientação apresenta ainda uma direção, e a inversão pode significar oposição. Possuindo ainda um aspecto de direcionalidade. Como exemplo, podemos citar os sinais de QUERER e QUERER- NÃO, IR e VIR. 36 APOSTILA DE LIBRAS Sinal de QUERER Palma da mão voltada para cima. Sinal de QUERER-NÃO Palma da mão voltada para baixo. Sinal de IR Apresenta uma oposição. Sinal de VIR Apresenta uma oposição. Expressões não-manuais (ENM) As expressões não-manuais são denominadas também de expressões faciais e corporais. São marcas diferenciadoras que acompanham o sinal e que expressam pelo canal gestual-visual, o que um determinado sinal deseja representar. Segundo Silva (2007, p. 28) “expressões faciais são formas de comunicar algo, um sinal pode mudar completamente seu significado em função da expressão facial utilizada”. Elas podem retratar uma interrogação, exclamação, negação, afirmação ou ordem. Quadros e Pimenta (2006) apud Silva (2007, p.28), explicam que existem dois tipos diferentes de expressões faciais: as afetivas e as gramaticais (lexicais e sentenciais). As afetivas são as expressões ligadas a sentimentos / emoções. As expressões faciais gramaticais lexicais estão ligadas ao grau dos adjetivos. As expressões faciais gramaticais sentenciais estão ligadas às sentenças. Entenda melhor através dos desenhos a seguir: 37 APOSTILA DE LIBRAS Expressões Faciais Afetivas Expressões Faciais Gramati- cais Lexicais Como exemplos podem citar em sistema de transcrição de glosa: BONIT@ (bonito ou bonita) BONITINH@ (bonitinho ou bonitinha) BONIT@O - LIND@O (bonitão ou bonitona – lindão ou lindona) Expressões Faciais Grama- ticais Sentenciais Interrogativas Afirmativas / Negativas Exclamativas 38 APOSTILA DE LIBRAS Exclamativas Acompanhe agora o quadro proposto por FerreiraBrito e Langevin, (1995) baseados nos trabalhos de Baker (1983), apud Quadros (2004, p. 61). ROSTO o Parte superior o Sobrancelhas franzidas o Olhos arregalados o Lance de olhos o Sobrancelhas levantadas o Parte inferior o Bochechas infladas o Bochechas contraídas o Lábios contraídos e projetados e sobrancelhas franzidas o Correr da língua contra a parte inferior interna da o bochecha o Apenas bochecha direita inflada o Contração do lábio superior o Franzir do nariz CABEÇA o Balanceamento para frente e para trás (sim) o Balanceamento para os lados (não) o Inclinação para frente o Inclinação para o lado o Inclinação para trás ROSTO E CABEÇA o Cabeça projetada para frente, olhos levemente cerrados sobrancelhas franzidas o Cabeça projetada para trás e olhos arregalados TRONCO o Para frente o Para trás o Balanceamento alternado dos ombros o Balanceamento simultâneo dos ombros o Balanceamento de um único ombro Exemplos de Parâmetros na Libras “As palavras da Libras e do português se estruturam a partir de unidades mínimas sonoras e espaciais, respectivamente. Essas unidades ou fonemas, são distintivas, porque quando substituídas uma por outra, geram uma nova forma linguística com um significado distinto” (Ferreira Brito,1995, p16). Veja os exemplos de pares mínimos em Libras abaixo: Aprender CM: “C” e “A”; PA: testa; Movimento: abrir e fechar. 39 APOSTILA DE LIBRAS Sábado CM: “C” e “A”; PA: frente à boca; Movimento: abrir e fechar. 41 APOSTILA DE LIBRAS 3. Fundamentos Históricos da Educação dos Surdos Histórico da Educação dos Surdos a antiguidade, as pessoas com deficiência, eram consideradas seres castigados pelos deuses. Quando alguém nascia com alguma deficiência, a sociedade enclausurava e não permitia a participação dessas pessoas da vida social, pois as deficiências eram entendidas como doenças contagiosas e que poderiam se disseminar e contaminar a muitos. Na concepção Aristotélica, no caso dos surdos, o ouvido do surdo era a parte mais importante, logo, os surdos eram também mudos e não podiam falar nada. Nessa época e durante muito tempo, os surdos não tinham direito a voto e nem a receber herança. Ainda no século XIV, Bartollo della Marca d’Ancona, fez a primeira alusão a possibilidade de instruir os Surdos por meio da língua de sinais e da linguagem oral. No século XVI, um médico italiano chamado Girolano Cardano, desenvolveu pesquisas médicas com o intuito de N 42 APOSTILA DE LIBRAS encontrar a cura para a surdez, pois além de ser médico, ele tinha um filho surdo. Ele começou a estudar o nariz, o ouvido e o cérebro. Desenvolveu ainda um método de ensino para surdos, mas nunca colocou em prática. Ainda neste século, o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de Léon, foi considerado o primeiro professor de surdos da história. Ele foi convidado pelas famílias dos nobres para educar os seus filhos, ele os ensinava a ler, escrever, fazer contas e a orar; com o objetivo de que eles fossem reconhecidos pela sociedade e pudessem assinar os testamentos para herdar os títulos das famílias. Como você deve ter percebido, nessa época, o direito a educação ficava concentrado apenas nas mãos dos nobres, que possuíam capital para pagar os monges que ensinavamos seus filhos. Logo, os surdos de classe sociais mais baixas, ficavam a margem, era-lhes negado o direito a educação. Não se tem muito registro sobre o método que Pedro Ponce de Léon utilizava para educar os surdos. O que se tem registrado, é que ele utilizava um método primitivo do alfabeto manual (que não é o que utilizamos hoje). Em 1620, o espanhol Juan Pablo Bonet foi considerado um dos precursores do oralismo após publicar o livro: “Reducción de las letras y artes para ensenar a hablar a los mudos”. Bonet acreditava que os surdos deveriam aprender a leitura e a escrita. Oralismo: abordagem educacio-nal que se preocupa com o ensino da fala e da escrita através da leitura labial. Em 1640, John Bulwer, Publica o 1º. Livro em inglês sobre a Língua de Sinais, chamado Chirologia; considerado um avanço uma vez que, as línguas de sinais estavam em processo de formação. Na Inglaterra, em 1650, devido o surgimento de teorias sobre a aprendizagem da fala e da linguagem, William Holder desenvolveu pesquisas sobre o ensino da fala e o reverendo John Wallis foi considerado o pai do método escrito da educação dos surdos, ele utilizava a palavra como meio de ensino e educou dois surdos 43 APOSTILA DE LIBRAS para que se desenvolvessem intelectualmente. No século XVII, o escocês Dalgarno descreveu um sistema primitivo do alfabeto manual. “Dalgarno declarou que os surdos tinham o mesmo potencial que os ouvintes para aprender e poderiam alcançar níveis iguais de desenvolvimento se recebessem educação adequada” (GUARINE- LLO, 2007, p. 23). No século XVIII, o alemão Wilhelm Keger, defendeu a educação obrigatória para os Surdos. Em contrapartida, o espanhol Jacob Rodrigues Pereire, priorizava a fala e proibia o uso dos gestos. Seu objetivo era ensinar os surdos a se comunicarem através do método oral. Na França, em 1750, o abade L’Epée foi o primeiro a considerar que os Surdos tinham uma língua. Ele iniciou seus trabalhos ensinando duas irmãs surdas e escrever e a falar, mas foi com os surdos que perambulavam pelas ruas, considerados como vagabundos, que L’Epée aprendeu a língua de sinais da França e criou o Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris. Ele foi o primeiro a defender que os surdos tinham uma língua e em 1760 ele funda o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris. Histórico da Educação dos Surdos Contudo, para que você possa entender melhor a importância da criação do Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris, é importante ressaltar que a sociedade francesa no século XVIII estava vivendo constantes atritos. Vejamos um pouco dessa história. A pequena burguesia da época estava crescendo com o apoio de camponeses e artesãos. Esse grupo era contra a ascensão dos senhores feudais que continuavam no pódio da monarquia francesa. Na concepção dessa crescente burguesia, as leis impostas e restrições impostas pelo comércio e pela indústria; os benefícios que eram concedidos a nobreza e ao clero, estavam impedindo o desenvolvimento do comércio. A alternativa então que lhes restava para que conquistassem a ascensão social, era apoiar as manifestações revolucionárias, ou seja, os levantes; contribuindo assim para uma mudança política na sociedade. Diante dessa situação, os camponeses, artesãos e burguesia (membros do terceiro estado), unem forças em busca de um objetivo em comum: acabar com os benefícios do clero e da nobreza (primeiro e segundo estado). Porém, como a burguesia liderava o terceiro estado, 44 APOSTILA DE LIBRAS após as lutas, apenas ela consolidava seus objetivos, ganhando força e conquistando espaço. Consequente- mente, os artesãos e campo neses eram usados como força de trabalho e continuavam à margem de qualquer liderança e ascensão social. Nessa época, o processo de industrialização baseado no modo capitalista de produção, estava em expansão, diante dessa nova realidade, pequenos grupos de pessoas e artesãos, deixam as suas atividades para fazerem parte de uma nova ordem econômica e social nas cidades. É diante desse contexto que as comunidades surdas começaram a surgir. Manacorda apud Quadros (2006, p.20) relata que, na segunda metade do século XVIII, “a nova produção de fábrica gera o espaço para o surgimento da moderna instituição escolar pública. Fábrica e escola nascem juntas”. É durante essa fase que surge a primeira escola pública para surdos de Paris. A burguesia passa então, a conceber o processo educacional através das artes mecânicas como um viés para a conquista da ascensão social. É nesse sentido, que segundo Quadros (2006, p. 21), “os surdos que faziam parte do Terceiro Estado, mesmo que sujeitos às relações sociais vigentes, provavel- mente como os artesãos e camponeses, também queriam “ser alguma coisa”, como bem disse o abade Sievès”. Fundação da Primeira Escola Pública para Surdos na França A fundação da primeira escola pública para surdos da França, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris, ocorreu através da participação da burguesia, que queria as cender socialmente e encontraram no surgimento da instituição escolar uma oportuni- dade para tal. Esse grupo se une a L’Epée na fundação do Instituto de Surdos-Mudos de Paris. A educação daquela época, tanto para surdos como para ouvintes, tinha a principal missão de ensinar a leitura e a escrita. Na metodologia utilizada por L’Epée, a língua utilizada era a língua de sinais. Ele fazia demonstrações do seu método em praças públicas para 45 APOSTILA DE LIBRAS comprovar o que os surdos apren- diam. “Na Escola Pública para Surdos em Paris, após cinco ou seis anos de formação, os surdos dominavam a língua de sinais francesa, o francês escrito, o latim e uma outra língua estrangeira também de forma escrita. Além da leitura e da escrita em três línguas distintas, os alunos surdos tinham acesso aos conhecimentos de geografia, astronomia, álgebra, etc., bem como artes de ofício e atividades físicas.” (Quadros, 2006, p. 22). Sánchez apud Quadros (2006, p.23), destaca que “a divulgação dos trabalhos do abade L’Epée e a adoção de seu método pedagógico em muitas escolas públicas, permitiram aos surdos, não só da França, mas também em países como Rússia, Escandinávia, Itália e Estados Unidos, a possibilidade de destacarem-se e ocuparem cargos importantes na sociedade de seu tempo. Enquanto na França, L’Epée defendia o uso da língua de sinais na educação dos surdos, na Alemanha, Samuel Heinicke criou o Método Oral e fundou a 1ª. Escola Pública Alemã para Surdos baseada nesse método. Isso deu origem a uma célebre controvérsia entre os dois. “No fim do século XVIII, surgiu uma célebre controvérsia entre Heinicke e L’Epée. Uma das grandes diferenças entre os dois educadores é que L’Epée difundiu seu método, apresentando-o inclusive em praças públicas, pois achava que assim a população poderia ver seu êxito. Durante essas demonstrações, seus alunos deveriam responder, em francês, em latim e em italiano, a duzentas perguntas sobre religião e fazer os sinais de duzentos verbos. Já Heinicke não costumava mostrar seu método” (GUARINELLO, 2007, p. 24). Heinicke, em uma das cartas enviadas a L’Epée, afirmou: “nenhum outro método pode ser comparado ao que eu inventei e prático porque esse se baseia totalmente na articulação da linguagem oral” (SKLIAR apud GUARINELLO, 2007, p. 25). Em 1821, o médico francês Jean Marc Gaspar Itard, começou a praticar vários procedimentos médicos com o objetivo de curar a surdez, o que ficou conhecida como: Medicalização da Surdez. Era comum ele aplicar eletricidade no ouvido dos alunos surdos do Institutode Paris e colocar sanguessugas no pescoço dos surdos, pois ele acreditava que o sangramento pudesse ajudar de alguma forma na cura da surdez. Segundo Lane apud Guarinello (2007, p. 25 e 26), 46 APOSTILA DE LIBRAS “nenhum dos experimentos de Itard teve resultados satisfatórios. Para o mesmo autor, após várias tentativas frustradas de curar a surdez, Itard concluiu que o ouvido dos surdos estava morto e que não havia nada que a medicina pudesse fazer a respeito”. A Educação dos Surdos nos Estados Unidos (Século XVIII) Já nos Estados Unidos, até o Século XVIII, não havia escolas para Surdos. As famílias que queriam que seus filhos estudassem, costumavam mandá-los para a Europa. Foi então que Thomas Hopkins Gallaudet, o primeiro americano a se interessar pela educação dos surdos, ouve falar do método desenvolvido por L’Epée na França para educar os surdos e decide viajar para aprender de perto sobre o método e conhecer o Instituto de Paris, pois o seu objetivo era fundar uma escola para surdos na América. Ao chegar na França, L’Epée apresenta Laurent Clerc, instrutor surdo, que passa a acompanhar Gallaudet ensinando a língua de sinais e o instruindo. Contratado por Gallaudet, ambos viajam para os Estados unidos com o objetivo de implantar a primeira escola pública para surdos naquele país. Em 1817, eles conseguem atingir o objetivo proposto fundando o que ficou conhecida por Connecticut Asylum for the Education and Instruction of Deaf and Dumb Persons. Para Lane apud Guarinello (2007, p.27), “Laurent Clerc é considerado a figura mais impor- tante no desenvolvimento da língua de sinais e da comunidade surda nos Estados Unidos. Em sua época ele já afirmava que os surdos faziam parte de uma comunidade linguística minoritária e que o bilinguismo deveria ser um objetivo para eles”. Como a Connecticut Asylum for the Education and Instruction of Deaf and Dumb Persons foi fundada por um instrutor francês, inicialmente os professores aprendiam a língua de sinais francesa, sendo aos poucos substituída pela língua de sinais americana, até então em processo de formação. Em 1821, todas as escolas 47 APOSTILA DE LIBRAS americanas já utilizavam a American Sign Language (ASL – Língua de Sinais Americana). “Em 1824, o National Deaf-Mute College, uma escola para surdos localizada em Washington, foi transformado no Gallaudet College, em homenagem a Thomas Gallaudet. Atualmente essa escola é a Universidade Gallaudet” (GUA- RINELLO, 2007, p. 27). Uma dessas pessoas que ficou conhecida como o inimigo mais temido dos surdos americanos, foi o escocês Alexandre Gran Bell, o inventor do telefone. Sua mãe e es- posa eram surdas e ele era a favor do método oral. Objetivava acabar com as línguas de sinais, pois acreditava que a comunicação através dos sinais isolaria os surdos em pequenos grupos, fazendo com que estes, adquirissem muito poder. Em 1869, com a morte de Clerc, o oralismo começou a ganhar força, surgindo pessoas que passaram a proclamar que a língua de sinais era prejudicial e consequentemente defendendo o oralismo. O Congresso de Milão Em 1880, em Milão, na Itália, aconteceu um congresso decisivo sobre qual método deveria ser adotado pelas escolas do mundo todo na educação dos surdos, e que ficou conhecido como Congresso Internacional de Milão. Nesse congresso, um grupo defendia a abordagem oral (uso da fala, escrita e da leitura labial na educação) e outro grupo acreditava que os surdos tinham uma língua e que poderiam ser ensinados através dela. Surdos e ouvintes foram convocados a participarem do congresso e da votação, porém houve um boicote e os professores surdos foram excluídos da votação. “Bell, aproveitou-se de todo o seu prestígio em defesa do oralismo e ajudou na votação. O uso do Oralismo venceu, sendo o uso da língua de sinais oficialmente proibido” (GUARINELLO, 2007, p. 29). Skliar apud Quadros (2006, p. 25) cita o conjunto de resoluções votadas no Congresso que demonstram a substituição da língua de sinais pela língua oral na educação de surdos: I. Considerando la indudable superioridad de la palabra sobre los gestos para restituir al sordomudo a la lengua, el Congresso declara que o método oral deve ser preferido al de la mímica para la educación e instrución de los sordo-mudos. II. Considerando que el uso simultáneo de la palabra y de lo gestos mímicos tiene la desventaja de dañar la 48 APOSTILA DE LIBRAS palabra, la lectura sobre los lábios y la precisión de las ideas, el Congresso declara que o método oral debe ser preferido [...] Depois do Congresso de Milão, a língua de sinais foi proibida em todas as escolas. Era comum a prática de amarrarem as mãos das crianças para trás a fim de que evitar que elas se comunicassem através dos sinais. Os surdos perderam o seu emprego e houve uma queda na qualidade da educação. Oralismo então foi adotado pelas escolas de toda a Europa até os fins de 1970. Porém, a abordagem utilizada nesse período descaracterizou o surdo, subordinando a sua educação à oralidade. O que ficou considerado como um retrocesso grotesco na educação dos surdos do mundo todo. De acordo com Sanchez, “a educação dos surdos, sempre nas mãos dos ouvintes, manteve quase que invariavelmente um sentido de reabilitação, de oferecer aos educandos a possibilidade de superar sua limitação auditiva, para agir como ouvintes e com ouvintes, e, dessa forma, integrar-se como se fossem ouvintes na sociedade dos ouvintes” (SANCHEZ apud GUARINELLO, 2007, p. 29). Comunicação Total Em 1970, devido à insatisfação com os resultados do Oralismo, alguns estudiosos propuseram uma abordagem conhecida como Comunicação Total. Definido como o uso de vários recursos, tais como: fala, escrita, gestos, mímica, pantomima, sinais e outros para a educação dos surdos. Todo recurso existente era aceitável para comunicar alguma ideia. Rapidamente essa abordagem foi disseminada, adquirindo um reconhecimento maior do que outros métodos americanos já existentes como: “Rochester (que utilizava o alfabeto manual e a fala na educação dos surdos) e o Cued Speech (que combina o uso da audição residual e da leitura orofacial a formato de mão, correspondentes aos fonemas da linguagem oral)” (GUARINELLO, 2007, p. 31). 49 APOSTILA DE LIBRAS “De fato, não se pode negar o valor dos métodos da Comunicação Total para a visualização da língua falada em uma série de aplicações da língua escrita. No entanto, havia outros aspectos críticos em que os problemas começavam a acumular-se. Tais problemas diziam respeito ao fato importante de que, embora, por princípio, a Comunicação Total apoiasse o uso simultâneo da língua de sinais com sistemas de sinais; na prática, tal conciliação nunca foi e nem seria efetivamente possível, devido à natureza extremamente distinta da língua de sinais” (CAPOVILLA, 2001, p. 1.485). Bilinguismo Porém, no final da década de 1970, inicia-se um movimento de reivindicação pela língua de sinais, surgindo então à abordagem bilíngue para Surdos. O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que pretendem tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. O bilinguismo propõe que os surdos devem usar a sua língua natural, a libras, que é a sua primeira língua (L1) e posteriormente devem aprender a língua portuguesa, pois para eles é segunda língua (L2). Ressaltando que, as línguas de sinais são autônomas e não estão subordinadas as línguas orais. No entanto, como os surdos vivem em países que oficialmente possui duas línguas, é interessante que eles aprendamtambém a primeira língua do seu país. Segundo Skliar apud Guarinello (2007, p.32), “a adoção do bilinguismo é compatível com a concepção socioantropológica de sujeito surdo e surdez”. Essa concepção compreende que os surdos se agrupam em comunidades linguísticas minoritárias, as comunidades surdas; compartilham valores, crenças, hábitos, cultura e uma língua entre si. Essa concepção concebe os surdos como seres integrantes da sociedade, como cidadãos pró-ativos, com direitos e deveres. Os surdos passam assim a serem vistos como diferentes e não mais como deficientes. 50 APOSTILA DE LIBRAS Quadro Resumo das Principais Abordagens na Educação dos Surdos O ra lis m o ‘O oralismo’ é um dos recursos que usa o treinamento de fala, leitura labial, e outros. Perlin e Strobel (2006, p. 20). C o m u n ic a çã o T o ta l A Comunicação Total inclui todo o espectro dos modos linguísticos: gestos criados pelas crianças, língua de sinais, fala, leitura oro-facial, alfabeto manual, leitura e escrita. Denton apud Freeman, Carbin, Boese (1999), por Perlin e Strobel (2006, p. 23). B ili n g u is m o O Bilinguismo tem como pressuposto básico que o surdo deve ser Bilíngue, ou seja, deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e, como Segunda língua, a língua oficial de seu país. Goldfeld apud Perlin e Strobel (2006, p. 24). Histórico no Brasil Enquanto isso no Brasil, em 1911, o Brasil, em obediência as decisões tomadas no Congresso Internacional de Milão, decide também proibir o uso da língua de sinais em território nacional e adotar o método oralista. Em 1957, a ex-diretora do Instituto Nacional de Educação de Surdos, Ana Rimola de Faria Doria, proibiu o uso da língua de sinais dentro das salas de aula. Porém, se- gundo Vieira citado por Guarinello (2007, p. 34), “apesar de todas as proibições, a língua de sinais sempre foi utilizada pelos alunos às escondidas”. Em 1970, assim como aconteceu nas escolas de surdos do mundo todo, como o oralismo não produziu os resultados esperados, a comunicação total foi adotada pelas escolas. Entre os anos de 1970 e 1980, iniciam-se os estudos sobre a língua de sinais brasileira através das pesquisas desenvolvidas pela linguista Lucinda Ferreira Brito e posteriormente por outros pesquisadores. Atualmente aqui no Brasil, a proposta aceita e que vem sendo largamente utilizada pelas escolas, associações e institutos, é a abordagem bilíngue. As pesquisas dos linguistas e pesquisadores contribuíram de forma positiva para que a língua de sinais fosse reconhecida oficialmente como meio legal de comunicação e expressão através da lei 10.436 de 24 de abril de 2002, promulgada pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. 51 52 APOSTILA DE LIBRAS 4. Legislação Específica Legislação na Antiguidade s surdos na antiguidade, não tinham direito a receber herança, não tinham direito a educação e nem ao voto, logo, eram excluídos da sociedade, sendo considerados pessoas com doenças contagiosas, representando assim, uma ameaça a saúde da população. Rômulo, o fundador de Roma, por volta de 753 a.C. decretou que todos os surdos recém-nascidos e crianças até aos três anos de idade teriam de ser inseminadas, porque eram um peso e problema para o Estado? (RADUTZKY apud STROBEL (2006, p. 46) Apenas após os trabalhos do americano William Stokoe em 1960, comprovando e conferindo a língua de sinais o status de língua, é que muitos países passam a se com- prometer legalmente com a educação dos surdos. Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e a Constituição Brasileira Aqui no Brasil, em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seus artigos 88 e 89, assegura os direitos a educação O 53 APOSTILA DE LIBRAS das pessoas excepcionais. No artigo 89, declara que o governo se compromete em ajudar as organizações não governamentais (ONGs) a prestarem serviços aos deficientes, entre eles os surdos (STROBEL, 2006). Segundo Strobel (2006, p. 47), “na Constituição brasileira de 1967, há também alguns artigos assegurando aos surdos o direito de receber educação. Do mesmo modo, a atual Constituição datada de 1988, abre espaço a nossos direitos à educação diferenciada uma vez que assegura o direito à diferença cultural”. Segue o texto da constituição atual datada de 1998, onde um de seus artigos refere-se sobre a cultura. Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º - o Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro- brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º - a lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, no capítulo V, descreve as modalidades de educação oferecidas aos portadores de necessidades educacionais especiais. Defende que, de preferência, a educação dessas pessoas deve acontecer na escola regular. Assegura que é dever do estado a oferta de educação infantil na faixa etária de 0 a 6 anos e confere que devam existir ainda métodos, técnicas e profissionais adequados com vistas a atender as especificidades das pessoas especiais. Lei de Oficialização da Libras nº 10.436 A Língua de Sinais Brasileira - Libras, a língua materna do surdo brasileiro, foi oficializada através da lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, pelo ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, como meio de comunicação legal e como segunda língua do Brasil. Esta lei foi regulamentada através do decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Convido você a fazer uma leitura minuciosa da lei nº 10.436, a fim de que você possa compreender melhor o assunto que estamos estudando. Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá 54 APOSTILA DE LIBRAS outras providências. O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º. Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º. As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º. O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares
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