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• A diarreia pode estar associada a acidose metabólica e a desidratação; Acidose metabólica: • Os líquidos secretados no TGI tem elevada concentração de bicarbonato (soluções salivares, pancreáticas e intestinal), o que faz com que o líquido diarreico tenha alta concentração desse sal; • Essa acidose estará associada a uma alta [H+] e consequente diminuição do pH – o que faz com que o corpo faça uma compensação metabólica rápida; o Essa compensação metabólica pode ser feita por meio do sistema tampão – sistema que existe sem necessidade de produção de nenhuma substância, ex.: sistema de bicarbonato formando água e gás carbônico; o Outro tipo de compensação metabólica rápida é o componente respiratório – quando há acidose, a pressão de CO2 no sangue aumenta, ativando os quimiorreceptores periféricos e os quimiorreceptores centrais, ambos conectados ao bulbo, que gera uma resposta, aumentando a FR e a amplitude respiratória, aumentando também o pH e diminuindo a pressão de CO2 (feedback negativo); o Compensação a longo prazo (LENTA): normalmente é por meio da compensação renal – acontece por meio da troca de íons no túbulo renal (néfron) – Ex.: metabolismo da glutamina e via conversão de íons bicarbonato filtrado; Desidratação: • Na diarreia, é natural que ocorra desidratação pela perda de líquidos, diminuindo a volemia e, consequentemente a pressão arterial; ▪ Essa diminuição de pressão pode ser compensada a longo e a curto prazo: • Curto prazo: influenciada por 3 fatores: • Lei de Frank Starling (menor volume, menor força de contração); o Barorreflexo: barorreceptores aórticos e carotídeos percebem a diminuição da pressão arterial e informam ao bulbo, que ativa o sistema simpático – liberação de adrenalina e noradrenalina – conectam-se aos receptores alfa (vasoconstrição) e aos receptores beta (beta 1 no coração causa aumento da força de contração, da frequência cardíaca e do débito cardíaco); o Resposta miogênica: acontece devido a produção de endotelina – vasoconstrição; o Longo prazo: o a diminuição da PA é sentida pelas células granulares que passam a produzir renina (sistema Renina-Agiotensina- Aldosterona); ▪ O fígado produz constantemente angiotensinogênio; ▪ Com a produção de renina, esse angiotensinogênio é convertido em angiotensina I – com a presença de ECA (enzima conversora de angiotensina – produzida pelo endotélio dos pulmões e rins) a angiotensina I é convertida em angiotensina II; ▪ A angiotensina II tem uma série de efeitos sobre o hipotálamo (causa aumento da sede), arteríolas (vasoconstrição), bulbo (aumenta a resposta cardiovascular), córtex da suprarrenal (aumenta produção da aldosterona que aumenta a reabsorção de sódio) – AUMENTA A PA; o Aumento da osmolaridade do plasma: ▪ É sentido pelos osmoreceptores hipotalâmicos e transmitidos pelos neurônios hipotalâmicos que passam a aumentar a produção de vasopressina; ▪ A vasopressina aumenta a concentração de aquaporina nos túbulos do néfron, aumentando a reabsorção de água nos rins; o A diarreia pode causar perdas eletrolíticas, o que pode causar hiponatremia e hipocalemia; Diarreia aguda e crônica CLASSIFICAÇÃO DAS DIARREIAS • A diarreia é um sintoma/sinal caracterizado por dois componentes principais: aumento no número de evacuações (mais de três vezes ao dia) e diminuição da consistência; • Um terceiro componente, o peso (mais de 200 g/dia), pode ser considerado, porém, é de difícil avaliação na clínica diária. • As diarreias podem ser classificadas, basicamente, de duas maneiras: o Quanto ao tempo de evolução: ▪ Agudas: duração de até 15 dias; ▪ Persistente: intervalo entre 15 e 30 dias; ▪ Crônicas: duração de mais de 30 dias; o Quanto à etiologia: ▪ Infecciosas; ▪ Não infecciosas; • Toda diarreia crônica começa como um quadro de diarreia aguda, insidiosa ou exuberante; • Outra forma de classificação das diarreias, baseada no mecanismo fisiopatológico mais importante, separa-as em cinco tipos: o Osmóticas: o processo da digestão determina fisiologicamente a transformação do conteúdo intestinal em material isosmótico. Distúrbios da digestão presentes nas deficiências de dissacaridases, que mantêm um conteúdo hiperosmolar, determinam a passagem de líquidos parietais para o lúmen intestinal e, consequentemente, diarreia. O mesmo pode acontecer pela ingestão de agentes osmoticamente ativos como a lactulose, o manitol, o sorbitol e os sais de magnésio; o Secretoras: resulta da hipersecreção de água e eletrólitos pelo enterócito, como ocorre pela ação das enterotoxinas bacterianas. Pode também resultar da produção excessiva de hormônios e outros secretagogos, como no gastrinoma (gastrina), na síndrome carcinoide (serotonina, prostaglandinas, calcitonina), na cólera pancreática (VIPomas), no adenoma viloso, na insuficiência adrenal e no hipoparatireoidismo; o Exsudativas/Inflamatória: decorre de enfermidades causadas por lesões da mucosa resultantes de processos inflamatórios ou infiltrativos, que podem levar a perdas de sangue, muco e pus, com aumento do volume e da fluidez das fezes. É encontrada nas doenças inflamatórias intestinais, neoplasias, shigelose, colite pseudomembranosa, linfangiectasia intestinal; o Motoras: resulta de alterações motoras com trânsito intestinal acelerado, como ocorre nas enterocolopatias funcionais ou doenças metabólicas e endócrinas. Surge, também, por redução da área absortiva consequente de ressecções intestinais ou de fístulas enteroentéricas; o Diarreia Disabsortiva: resulta de deficiências digestivas e lesões parietais do intestino delgado que impedem a correta digestão ou absorção. Este processo pode causar diarreia com esteatorreia e resíduos alimentares; Diarreia dos viajantes • É definida como diarreia infecciosa aguda que acomete indivíduos que viajam de área industrializada e com boas condições de higiene para outra com piores condições sanitárias; • Inicia-se em geral de modo abrupto, com 4 a 6 evacuações por dia, associadas a cólicas e náuseas; • Pode evoluir para disenteria e, até mesmo, para a diarreia crônica; • Pode ser causada por bactérias em cerca de 80% dos casos, e a Escherichia coli enterotoxigênica é a principal causa na América Latina - além desta, são relacionadas também Salmonella, Shigella, Campylobacter jejuni, Aeromonas, Plesiomonas, Vibrio parahaemolyticus, os vírus Norovirus e Rotavirus, os protozoários Entamoeba histolytica, Giardia lamblia e Cryptosporidium, Microsporidium e Cyclospora cayetanensis; • A prevenção é a principal arma contra a diarreia dos viajantes e relaciona-se aos cuidados com água utilizada para higiene pessoal, como o simples ato de escovar os dentes, devendo-se usá-la fervida ou com soluções cloradas ou iodadas, além de evitar legumes e frutas cruas; • A quimioprofilaxia (com antibióticos ou subsalicilato de bismuto), embora eficaz, não deve ser rotineira, por causa de seu custo, efeitos adversos, resistência bacteriana, e pela falsa sensação de segurança que induz a abrir mão de cuidados básicos.; • O tratamento deve seguir os mesmos parâmetros já citados, reservando-se a prescrição de antibióticos para os casos graves e com diarreia prolongada. Diarreias infecciosas • Vírus: o São transmitidos por água contaminada ou de uma pessoa para outra, estando associados a surtos epidêmicos; o Os mais prevalentes são o rotavírus e o noravírus; o A fisiopatologia das alterações intestinais ainda é mal compreendida, porém, sugere- se um possível efeito de proteína viral como enterotoxina. o As diarreias virais manifestam-se em um contexto de gastroenterite aguda, com fezes aquosas, tendo como característicaimportante a presença de vômitos, com duração habitualmente curta (máximo de 72 horas) - infecção pelo citomegalovírus pode se apresentar, no entanto, como forma persistente (entre 15 e 30 dias) e disentérica. • Bactérias: o São a segunda causa mais frequente das diarreias agudas, após os vírus; o Campylobacter: ▪ Bactéria Gram-negativa, em espiral, que pode se apresentar sob a forma cocoide quando em ambiente hostil; ▪ A espécie mais frequentemente associada a gastroenterites é o Campylobacter jejuni, seguida pelo Campylobacter coli; ▪ Os fatores de risco mais importantes são a ingestão de água e alimentos (aves domésticas) contaminados; ▪ A enterite secundária à infecção pelo Campylobacter tem período de incubação de 2 a 5 dias e é, quase sempre, autolimitada, raramente exigindo abordagem terapêutica específca; ▪ Febre, dores abdominais em cólica e diarreia, com duração habitual do quadro diarreico de 2 a 3 dias; ▪ O aspecto das fezes varia de aquoso a sanguinolento, dependendo da intensidade da infecção e do tempo de enfermidade; ▪ Possibilidade de desencadear a síndrome de GuillainBarré, o que acontece em 1 de cada 1.000 indivíduos infectados. o Clostridium difficile: ▪ Bactéria Gram-positiva; ▪ Responsável por 15 a 20% dos casos de diarreia secundária ao uso de antibióticos e de praticamente todos os casos de colite pseudomembranosa; ▪ É ingerida na forma de esporos e, se encontra microbiota alterada pelo uso de antibióticos ou outros fatores, converte-se na forma vegetativa; ▪ Produz toxinas (A e B) que provocam aumento da permeabilidade intestinal e destruição das células epiteliais colônicas; ▪ Diarreia aquosa em indivíduos com história de uso recente de antibióticos (3 ou mais dias); ▪ Pode ser grave o suficiente para por em risco a vida do paciente. o Clostridium perfringens: ▪ Bactéria Gram-positiva, anaeróbica, geralmente em forma de esporos; ▪ É abundante no meio ambiente, ocorrendo com frequência no intestino humano; ▪ Transmitida por alimentos contaminados, como carnes e maioneses; ▪ Bloqueia a absorção de água através de enterotoxinas, provocando diarreia aquosa. o Escherichia coli: ▪ Bastonete Gram-negativo, não formador de esporos, flagelado; ▪ E. coli diarreiogênica: • Inclui cinco diferentes sorotipos com características patogênicas individuais: o Enteroinvasiva (EIEC); o Enterotoxigênica (ETEC); o Enteroagregante (EAEC); o Enteropatogênica (EPEC); o Entero- hemorrágica (EHEC); • É transmitida por alimentos e água contaminados com fezes humanas ou de animais, raramente podendo ocorrer transmissão pessoa a pessoa; • Atuam por meio da produção de enterotoxinas, que estimulam a secreção de cloro e reduzem a absorção de sódio, e de citotoxinas, que agridem o epitélio intestinal, alterando sua estrutura; • As características da diarreia dependem do sorotipo: o Diarreia aquosa: associada à infecção pelos sorotipos EPEC, ETEC e EAEC; o Disenteria: sorotipos EIEC e EHEC causam disenteria; • A EHEC produz a toxina Shiga, que pode causar complicações sistêmicas graves, incluindo síndrome hemolítico- urêmica; o Salmonella: ▪ Bastonete Gram-negativo; ▪ Transmitido por ovos, aves domésticas, leite e outros alimentos contaminados; ▪ A S. typhimurium está intimamente relacionada com gastroenterites, enquanto a S. typhi está mais relacionada a efeitos sistêmicos tóxicos (febre tifoide); ▪ Produz enterotoxinas que estimulam secreção de cloro, e invadem a mucosa, ativando eventos infamatórios; ▪ Manifesta-se inicialmente por diarreia aquosa, seguida de diarreia sanguinolenta; ▪ Na infecção pela S. typhi, a diarreia é o evento menos importante, uma vez que os eventos sistêmicos são proeminentes e podem ser graves. o Shigella: ▪ Bastonete Gram-negativo; ▪ Transmitido por via fecal-oral e por meio de alimentos e água contaminados; ▪ Produz enterotoxina potente, além de penetrar nas células colônicas, provocando degeneração do epitélio e infamação da lâmina própria, o que resulta em descamação e ulceração; ▪ Os sintomas surgem após um período de incubação de um a dois dias; ▪ A fase inicial, de enterite, manifesta-se por diarreia aquosa, seguida por colite, com diarreia mucossanguinolenta. o Staphylococcus: ▪ Coco Gram-positivo; ▪ A diarreia causada por esse microrganismo está relacionada à contaminação de alimentos e produção de toxina termoestável, cuja ingestão causa diarreia e vômitos; ▪ Os sintomas surgem 2 a 8 horas após a ingestão e tendem a regredir espontaneamente em até 48 horas; ▪ As fezes apresentam aspecto aquoso. o Vibrio cholerae: ▪ Bacilo Gram-negativo, com fagelo polar; ▪ Transmitido principalmente por água contaminada; ▪ Provoca diarreia por meio de uma potente toxina que estimula o AMP cíclico, ocasionando a redução da absorção de sódio e a secreção de cloreto; ▪ A diarreia secundária a essa infecção é aquosa, extremamente volumosa e coloca a vida do paciente em risco por desidratação. o Yersinia enterocolitica: ▪ Bacilo Gramnegativo; ▪ Responsável por quadros de diarreia aguda, linfadenite mesentérica, ileíte terminal e pseudoapendicite; ▪ Transmitido por leite cru, água e alimentos contaminados, vegetais crus e de animais para pessoas; ▪ A diarreia é usualmente aquosa, porém, pode ser sanguinolenta nos casos severos; ▪ Os vômitos podem estar presentes em 10% a 40% dos casos. • Fungos: o Candida albicans: ▪ Fungo comensal, presente habitualmente no trato gastrointestinal; ▪ Torna-se patogênico em situações específcas que envolvem imunodepressão - uso de corticosteroides e uso de antibióticos; ▪ Possivelmente causa diarreia por inibição da lactase; ▪ Produz enzima proteolítica que degrada a mucina; ▪ A diarreia secundária a essa infecção é aquosa e, às vezes, explosiva. • Protozoários: o Cryptosporidium: ▪ Transmitido por meio da ingestão de oocistos presentes em água e alimentos contaminados, podendo ser transmitido também de uma pessoa para outra e de um animal para uma pessoa; ▪ Tem ação predominantemente secretora, mas pode se associar a atrofa vilositária e infltrado infamatório da lâmina própria; ▪ Diarreia aquosa, que pode ser prolongada; o Giardia lamblia: ▪ Protozoário fagelado, binucleado; ▪ Transmissão: a partir da ingestão de cistos em água contaminada, podendo ser transmitido de uma pessoa para outra em lugares com más condições de higiene; ▪ A patogênese ainda não é completamente entendida, mas sabe-se que pode provocar destruição da borda em escova das células epiteliais, assim como induzir resposta imune do hospedeiro; ▪ Infestações maciças podem resultar em má absorção, tanto pelas lesões da mucosa como, em algumas situações, pelo impedimento mecânico da absorção de nutrientes provocada pelo revestimento da mucosa; ▪ A apresentação clínica varia de ausência de sintomas a diarreia aquosa - pode se tornar crônica, causando má absorção e perda de peso. o Entamoeba histolytica: ▪ Transmitida por meio da ingestão de cistos maduros a partir de água, alimentos ou mãos contaminadas; ▪ Produz enzimas proteolíticas que provocam ulcerações, hemorragia e, até mesmo, perfuração; ▪ A infestação por esse protozoário pode não ter qualquer manifestação clínica aparente, mas pode se manifestar como quadro de amebíase invasiva intestinal, com colite disentérica, apendicite, megacólon tóxico e ameboma, e extraintestinal (peritonite, abscesso hepático e outras); • Nematoide: o Strongyloides stercoralis: ▪ Penetração de larvas flariformes através da pele; ▪ Em situações especiais,como constipação intestinal, alterações da motilidade intestinal e moléstia diverticular dos cólons, a permanência da larva rabditiforme por tempo prolongado no intestino pode favorecer sua evolução para larvas flariformes, iniciando um ciclo de infestação interna, a autoinfecção - essa condição pode estar exacerbada em indivíduos imunocomprometidos, o que pode ocasionar hiperinfecção, quadro clínico grave, frequentemente fatal; Diarreias não infecciosas DIAGNÓSTICO • Faz-se necessário classificar a diarreia em aguda ou crônica, o que definirá a abordagem inicial; • Exames auxiliares de diagnóstico: o Como a diarreia aguda é habitualmente auto-limitada, o pedido de exames de diagnóstico está indicado apenas nos casos mais graves, sendo eles: diarreia sanguinolenta, febre> 38,5ºC, mais de 6 dejecções/dia ou duração da doença superior a 48h, dor abdominal severa, doentes idosos ou imunodeprimidos; o Exames laboratoriais: ▪ O hemograma está indicado para avaliar a presença de anemia e alterações na fórmula leucocitária; ▪ O ionograma, a ureia e a creatinina permitem avaliar a depleção de fluidos e electrólitos e o seu impacto na função renal; o Exame das fezes: ▪ A detecção dos leucócitos fecais é um teste pouco sensível e específico - ajuda a selecionar quais os doentes que devem realizar coprocultura; ▪ A coprocultura está indicada nos imunodeprimidos, nas comorbilidades importantes, na doença severa, diarreia sanguinolenta e na DII; • A pesquisa de ovos e parasitas nas fezes apresenta uma baixa relação custo benefício, pelo que está indicada apenas em viagens recentes a regiões endémicas, crianças em infantários, homossexuais e na diarreia sanguinolenta com poucos ou nenhuns leucócitos fecais. Os ovos e parasitas apresentam uma excreção intermitente, pelo que a sua colheita deve ser feita em três dias consecutivos; o Exames endoscópicos: A realização de colonoscopia não está indicada na maioria dos casos, mas poderá trazer benefício na suspeita de colite pseudomembranosa, colite isquémica, DII e imunodeprimidos. Diarreia aguda: • A grande maioria das diarreias agudas é autolimitada, com tendência à regressão espontânea, exigindo apenas tratamento sintomático; • Os primeiros passos serão uma boa história clínica e o exame físico; • Coleta dos dados da história: o Tempo de evolução: como enfatizado anteriormente, uma evolução maior que 15 ou 30 dias, caracterizando quadros persistentes ou crônicos, mudará a abordagem diagnóstica, uma vez que esses casos necessitam de uma investigação complementar mais ampla, diferentemente dos quadros de diarreia aguda; ▪ Diarreias tóxicas: surgem entre 4 e 24 horas após a ingestão do alimento contaminado por toxinas de bactérias como Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens e Bacillus cereus, e tendem a regredir logo após a eliminação da toxina, entre 1 e 2 dias após seu início; ▪ Diarreia infecciosas: ocorrem 48 horas ou mais após a contaminação. São mais frequentemente secundárias a infecções virais, porém, podem ser causadas por bactérias ou protozoários. A duração das diarreias virais não costuma ser maior que 3 a 4 dias, ao passo que as bacterianas podem evoluir por até 7 dias. Quadros diarreicos que duram mais de 1 semana devem levantar a suspeita de infecção por protozoários. ▪ Diarreias funcionais: ao contrário das diarreias orgânicas, as funcionais apresentam características como duração maior que três meses (Roma III), ausência de sintomas ou sinais de alarme como perda de peso signifcativa, são intermitentes e não costumam acontecer durante a noite. o Características físicas das evacuações: ▪ Consistência, presença de sangue ou muco, volume, número, presença de gordura; • Diarreias secundárias a doenças do delgado costumam ser aquosas e volumosas, apresentando risco maior de desidratação. • Nas diarreias secundárias a colites as fezes são de pequeno volume e podem apresentar muco ou sangue, o que será sugestivo de infecção por microrganismo com potencial invasivo (Campylobacter, E. coli, Shigella e V. parahemolyticus); • Presença de gordura nas fezes sugere doença disabsortiva. o Presença de outros sintomas: febre, náusea, vômitos, dor abdominal; ▪ A febre é sugestiva de doença infecciosa, mais frequentemente viral; ▪ A presença de vômitos deve servir de alerta para a maior probabilidade de desidratação, uma vez que aumenta a perda de líquidos, ao mesmo tempo que prejudica a reposição oral. Além disso, vômitos sem diarreia ou com diarreia mínima são sugestivos de etiologia viral; ▪ A presença de dor abdominal torna pouco provável o diagnóstico de diarreia funcional. o Dados epidemiológicos: contatos, viagens, uso de medicamentos, refeições em ambientes que não o domicílio, ingestão de alimentos crus, principalmente frutos do mar (ostras); ▪ História de contato com indivíduo portador de sintomas semelhantes há mais de 48 horas sugere doença infecciosa. Relatos de epidemias na região de domicílio do paciente podem direcionar o diagnóstico. • Os agentes etiológicos mais frequentes da diarreia do viajante, como grupo, são as E. coli diarreiogênicas (E. coli enterotoxigênica, E. coli enteropatogênica, E. coli êntero-hemorrágica, E. coli enteroagregante e E. coli enteroinvasiva).; • Viagens a países tropicais: esquistossomose, amebíase, giardíase e outras helmintíases intestinais; • A diarreia do viajante não exige, no entanto, o contato com agentes infecciosos ou toxinas para ser desencadeada. A ingestão de alimentos exóticos, totalmente fora dos padrões de alimentação do indivíduo, pode ter como consequência um quadro diarreico que tem como característica a curta duração (24 a 48 horas), com resolução espontânea.; • Antecedentes patológicos pessoais: alergias (gastroenterites eosinofílicas), diabete melito (neuropatia diabética), doenças pancreáticas (má absorção), intolerância à lactose (diarreia osmótica), hipertiroidismo (hiperperistaltismo), infecção pelo HIV (imunodepressão), cirurgias digestivas mutilantes, como colectomias, gastrectomias e ressecções do intestino delgado (diminuição da superfície absortiva); • Antecedentes patológicos familiares: história de doenças neoplásicas, doença intestinal infamatória ou doença celíaca na família devem servir de alerta para a possibilidade desses diagnósticos, dependendo dos demais dados clínicos apresentados; • A diarreia aguda exige apenas tratamento de suporte, enquanto se aguarda sua resolução espontânea; • Sintomas são de uma gastroenterite aguda: manifestações digestivas altas, como náuseas e vômitos; • O exame físico do paciente com diarreia é útil, principalmente para avaliar a severidade dos sintomas; • A avaliação do nível de desidratação através do turgor da pele, da frequência cardíaca e da mensuração da pressão arterial em decúbito e sentado é o mais importante dado a ser colhido; • O exame do abdome avaliará distensão e sensibilidade abdominais; • Patologias infamatórias do tubo digestivo apresentam manifestações extraintestinais que poderão ser identifcadas durante o exame físico - lesões oculares como irites, iridociclites e ceratoconjuntivites, eritema nodoso, pioderma gangrenoso, artrites e ulcerações aftoides, associadas à síndrome de Behçet e às doenças intestinais infamatórias (retocolite ulcerativa inespecífca e doença de Crohn); • Achados infamatórios articulares são também associados a infecções por Y. enterocolitica e C. jejuni, como parte da síndrome de Reiter; • Exames complementares (manifestações mais severas): hemograma, níveis do sódio e potássio séricos, ureia e creatinina;Diarreia crônica: • A coleta dos dados da história e o exame físico são essenciais; • Aspecto das fezes: o Diarreia crônica sanguinolenta: apesar de poder ser secundária a infecções bacterianas por Shigella, Salmonella, C. difcile, E. coli e outras, essa forma de apresentação está, mais provavelmente, relacionada à doença intestinal infamatória; o Diarreia crônica não sanguinolenta: pequena probabilidade de infecções bacterianas mais comuns. A investigação deve ser direcionada para G. lamblia e C. difcile; • Os exames complementares utilizados na investigação da diarreia podem ser separados em dois grupos: o Inespecíficos: avaliam as alterações gerais decorrentes da diarreia, sugerir a possibilidade de doença infecciosa ou direcionar o diagnóstico para doença orgânica ou funcional; ▪ Hemograma: • Poderá sugerir infecção bacteriana, quando há desvios à esquerda; • Infecções crônicas podem cursar, no entanto, apenas com neutroflia, sem o desvio à esquerda; • Algumas infecções podem se apresentar com neutropenia, como a salmonelose (febre tifoide), assim como as infecções por E. coli, Yersinia e Campylobacter. A eosinoflia pode estar associada a enterites eosinofílicas e a parasitoses como a estrongiloidíase; • Anemia poderá sugerir processo crônico ou sangramento oculto; • Trombocitose em portadores de doença intestinal infamatória (doença de Crohn e RCUI) serve de alerta para doença ativa e risco de complicações tromboembólicas; ▪ Ureia e creatinina: • a avaliação da função renal no paciente com quadros de diarreia intensos é imprescindível, uma vez que a desidratação poderá causar insufciência renal; • mudança repentina na ureia de um dia pra outro: desidratação ▪ Sódio e potássio séricos: • a secreção ativa ou passiva de líquidos para a luz intestinal determinada pela diarreia provoca desequilíbrios hidroeletrolíticos que exigem correção por via oral ou infusão venosa; ▪ Albumina sérica: • diarreia crônica associada à má absorção pode provocar a queda dos níveis séricos dessa proteína calprotectina fecal – a calprotectina corresponde a 60% do conteúdo protéico citoplasmático dos polimorfonucleares neutrófilos - níveis plasmáticos aumentam 5 a 40 vezes na presença de processos infecciosos ou infamatórios, com níveis ainda mais elevados nas fezes (6 vezes os níveis plasmáticos); • Seus níveis fecais são determinados pela ELISA, com valor superior da normalidade de 50 mcg/g; • É importante na distinção entre processos funcionais e processos infamatórios, sugerindo a presença destes últimos quando acima de 100 mcg/g; o Valores elevados indicam fortemente a presença de doença orgânica, porém, valores dentro da normalidade não determinam a presença de doença funcional, uma vez que doenças orgânicas nas quais não há ativação dos polimorfonucleares neutróflos, como a doença celíaca e o carcinoma do cólon, podem ter resultados negativos. o Específicos: REFEFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Dani, Renato. Gastroenterologia essencial I. 4. ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Tratado de gastroenterologia: da graduação à pós- graduação. 2. ed. - São Paulo: Editora Atheneu, 2016. Ministério da Saúde do Brasil. Manejo do paciente com diarreia. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/cartazes/ manejo_paciente_diarreia_cartaz.pdf Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8ª ed. rev. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
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