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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DANIEL MASETTO DO AMARAL ARTE E ANATOMIA HUMANA: UMA RELAÇÃO ENTRE ENSINO E ESPAÇOS NÃO FORMAIS DISSERTAÇÃO PONTA GROSSA 2018 DANIEL MASETTO DO AMARAL ARTE E ANATOMIA HUMANA: UMA RELAÇÃO ENTRE ENSINO E ESPAÇOS NÃO FORMAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia, Área de Concentração: Ciência, Tecnologia e Ensino, Linha de Pesquisa: Arte, Ciência e Teknè: Diálogos Interdisciplinares, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino, Ciência e Tecnologia. Orientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin PONTA GROSSA 2018 Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento de Biblioteca da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Ponta Grossa n. 61/18 Elson Heraldo Ribeiro Junior. CRB-9/1413. 14/12/2018. A485 Amaral, Daniel Masetto do Arte e anatomia humana: uma relação entre ensino e espaços não formais. / Daniel Masetto do Amaral. 2018. 113 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2018. 1. Anatomia humana. 2. Arte. 3. Educação não-formal. I. Miquelin, Awdry Feisser. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. III. Título. CDD 507 TERMO DE APROVAÇÃO Título da Dissertação Nº 145/2018 ARTE, CIÊNCIA E ANATOMIA HUMANA: UMA RELAÇÃO ENTRE ENSINO E ESPAÇOS NÃO FORMAIS por Daniel Masetto do Amaral Esta dissertação foi apresentada em 10 de setembro de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências e Tecnologia. O candidato foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado. _________________________________ Awdry Feisser Miquelin Prof. Orientador (UTFPR) __________________________________ Ana Luisa Ruschel Nunes (UEPG) __________________________________ Danislei Bertoni (UTFPR) __________________________________ Coordenadora do PPGECT – Profª. Drª. Eloiza Aparecida Silva Avila de Matos (UTFPR) - O Termo de Aprovação assinado encontra-se arquivado na Secretaria Acadêmica - À minha família: Carla, companheira que me apoia nas decisões pessoais e profissionais. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin pelo incentivo a pesquisa em arte e anatomia humana e suas relações, pelas sugestões de leitura e escrita, por compartilhar seu conhecimento durante o processo. À Prof.ª Dr.ª Ana Luisa Ruschel Nunes por despertar o gosto pela pesquisa nas aulas da graduação, por me mostrar as possibilidades da arte contemporânea na produção em poéticas visuais e pelas contribuições e sugestões a esta pesquisa. Ao Prof. Dr. Danislei Bertoni por enriquecer meu trabalho com seus conhecimentos sobre ensino de ciências e tecnologia. A todos os professores do PPGECT pelos ensinamentos. A todos os colegas do PPGECT. As amigas e artistas Rute Yumi Onoda, Rosane Volpi Santos e Mariângela Digiovanni pelo apoio constante nas exposições e produções artísticas, e pelo conhecimento compartilhado sobre arte e sociedade. Ao amigo Rafael Giovanetti, que compartilhou seu conhecimento sobre ciências biológicas e pelo auxílio na montagem das exposições de anatomia. À Universidade Estadual de Ponta Grossa, pelo apoio incondicional as exposições de anatomia humana e ao empréstimo das peças cadavéricas para as exposições. Ao responsável técnico do laboratório de anatomia humana da Universidade Estadual de Ponta Grossa Sr. Jeiel Marques, pelo apoio em todas as exposições. À UniCesumar pelo apoio à pesquisa e a exposição de anatomia, tornando o seu hall de entrada em um espaço não formal de ensino de anatomia humana. Muito obrigado. "Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente." Karl Rokitansky RESUMO AMARAL, Daniel Masetto. Arte, ciência e anatomia humana: uma relação entre ensino e espaços não formais. 2018. 113 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciência e Tecnologia) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2018. Esta pesquisa propôs analisar e fazer considerações acerca da relação da Arte com o ensino da disciplina de Anatomia Humana dentro da perspectiva de ensino não formal. Com esse intuito, foram traçados os seguintes objetivos específicos: abordagem sobre o histórico da anatomia humana; análise do espaço não formal de ensino; considerações a respeito da relação da Arte com a anatomia humana; apreciação do reconhecimento da contribuição da Arte para a Anatomia Humana. Questionou-se, neste estudo, se a disciplina de Anatomia Humana pode também ser transmitida em espaços não formais de ensino, uma vez que o histórico desta disciplina traz uma relação singular com a Arte. A fim de responder tal questionamento e alcançar os objetivos aqui propostos, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, investigando a relação da anatomia com a Arte e os espaços não formais de ensino relativos à disciplina de Anatomia Humana ministrada para as mais diversas áreas de saúde. Para desenvolver este estudo foi realizada uma matriz dialógica problematizadora, fazendo uma associação entre a pesquisa e a prática de ensino no contexto da Disciplina de Anatomia Humana. Tal matriz e a pesquisa com matriz investigativa auxiliaram na coleta de dados, na sua categorização e na análise para a realização desta pesquisa. A análise dos resultados obtidos só vem a ressaltar a necessidade de mais espaços não formais, de fácil acesso a população, para exposições relacionando a Arte e Anatomia Humana, permitindo a aprendizagem de forma lúdica e dinâmica. Palavras-chave: Anatomia humana; Arte; Ensino não formal. ABSTRACT AMARAL, Daniel Masetto. Art, science and human anatomy: a relationship between teaching and non-formal spaces. 2018. 113 p. Master’s Thesis (Master in Teaching of the Science and Technology) - Federal University of Technology - Paraná, Ponta Grossa, 2018. This project proposes to analyze and make considerations about the relationship between Art and the teaching of the Human Anatomy discipline, within the perspective of non-formal education. With this aim, the following specific objectives were drawn: approach in the history of the human anatomy; analysis of non-formal teaching space; considerations about the relation of art to human anatomy; recognition of the contribution of Art to Human Anatomy. It was questioned in this study if whether the discipline of Human Anatomycan also be transmitted in non- formal spaces of education, since the history of this discipline brings a unique relation with Art. To answer this question and to reach the proposed objectives, a qualitative research was conducted, investigating the relationship between anatomy and Art and the non-formal spaces of education related to the Human Anatomy discipline, which is taught for the most different areas of health. Keywords: Human anatomy; Art; Non-formal education. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Papiro demonstrando tratamento médio no Egito antigo .......................... 16 Figura 2 - Busto em mármore de Hipócrates, autor desconhecido ........................... 19 Figura 3 - Escultura em bronze de Aristóteles, de Cipri Adolf Bermann, 1915 .......... 20 Figura 4 - Busto em mármore do imperador Alexandre Magno, autor desconhecido ............................................................................................................ 20 Figura 5 - Retrato de Galeno de Pergamo ................................................................ 22 Figura 6 - Galeno abrindo a ferida de um soldado .................................................... 22 Figura 7 - Ilustração anatômica. Mansur ibn Muhammad ibn Ahmad ibn Yusuf ibn Ilyas (fl. ca. 1390) ................................................................................................ 23 Figura 8 - Post Mortem Examination - Mondino de Cuzzi in Bologna in 1318, canvas by Ernest Bond (ca 1890) ............................................................................. 24 Figura 9 - Early Dissection - the first ilustrated medical procedure, dissection from “Fasciculus Medicinae” by Johannes de Ketham (1493) ................................... 25 Figura 10 - The Fasciculus Medicinae of Johannes De Ketham Alemanus .............. 25 Figura 11 - Title page of Anathomia Corporis Humanis by Mondino de Luzzi ........... 26 Figura 12 - Vitruvian Man - Pen, ink, watercolour and metalpoint on paper, 1492 .... 27 Figura 13 - Self-portrait, red chalk on paper, 1512 .................................................... 28 Figura 14 - Muscle of the Arm, sketch (ca 1500) ....................................................... 28 Figura 15 - Studies of human skull, black pen, ink and black chalk on paper, 1489 .......................................................................................................................... 28 Figura 16 - Anatomical Studies, (ca 1500) ................................................................ 29 Figura 17 - Studies of the sexual act and male sexual organ, pen and ink on paper, 1492 ............................................................................................................... 29 Figura 18 - Studies of embryos, black and red chalk, pen and ink wash on paper, 1509-14 ..................................................................................................................... 30 Figura 19 - Skeletal Siystem, sketch by Leonardo da Vinci (ca 1500) ....................... 30 Figura 20 - Heart and its Blood Vessels (ac 1500) .................................................... 31 Figura 21 - Studies of legs of man and the leg of a horse, pen, ink, red chalk on red prepared paper, 1506-07..................................................................................... 31 Figura 22 - Male head in profile with proportions, c. 1490 ......................................... 33 Figura 23 - Various figure studies .............................................................................. 33 Figura 24 - The Last Supper, 1498 ............................................................................ 34 Figura 25 - Automobile, 1478-80 ............................................................................... 34 Figura 26 - Siege Defenses, 1480-82 ........................................................................ 35 Figura 27 - Anatomical studies of the shoulder, black chalk, pen and ink on paper, 1510-11 .......................................................................................................... 36 Figura 28 - A expulsão do paraíso, Fresco, 1426-27 ................................................ 38 Figura 29 - Judith e Holofernes, escultura em bronze, 1455-60 ................................ 38 Figura 30 - Hercules and the hydra, tempera on wood, 1475.................................... 39 Figura 31 - Madonna whith Sts John the Batist and Donatus, tempera on wood, 1475-83 ..................................................................................................................... 39 Figura 32 - Tomb of Giuliano de Medici (detail), marble, 1526-33 ............................. 40 Figura 33 - Portrait of Julius II, oil on wood, 1511-12 ................................................ 40 Figura 34- Self portrait from “De humani corporis fabrica libri septem” by Vesalius, 1543 ........................................................................................................... 43 Figura 35 - De Humani Corporis – title page of “Humani Corporis” by Andreas Vesalius, 1543 ........................................................................................................... 44 Figura 36 - Muscle man from “De humani corporis fabrica libri septem” by Andreas Vesalius, 1543 ............................................................................................ 45 Figura 37- Skeletal Anatomy from “De humani corporis fabrica libri septem” by Andreas Vesalius, 1543 ............................................................................................ 45 Figura 38 - Various Studies, de Michelangelo Buonarroti, pen and brown ink, 1501-02 ..................................................................................................................... 46 Figura 39 - David, marble, 1504 ................................................................................ 47 Figura 40 - Moisés, marble, 1515 .............................................................................. 47 Figura 41 - Teto da capela Sistina, Afresco, 1508-12 ............................................... 48 Figura 42 - Various Studies, de Michelangelo Buonarroti, black chalk on brown paper, 1534-36 .......................................................................................................... 49 Figura 43 - The anatomy lecture of Nicolaes Tulp, Oil on canvas, 1632 ................... 50 Figura 44 - The anatomy lecture of Nicolaes Tulp, Oil on canvas (detail), 1632 ....... 51 Figura 45 - The anatomy lecture of Nicolaes Tulp, Oil on canvas (detail), 1632 ....... 51 Figura 46 - Kneeling Skeleton, from “Nouveau recueil d´osteologie et de myologie” by Jacques Gamelin, 1779 ....................................................................... 52 Figura 47 - llustrator´s Lounge, from “Nouveau recueil d´osteologie et de myologie” by Jacques Gamelin, 1779 ....................................................................... 53 Figura 48 - Muscular anatomy, from “Anatomie de la tete en tableaux”, by Jacques Gautier DÁgoty, 1748 .................................................................................. 53 Figura 49 - The flayed angel, from “Mytologie complete en colour et grandeur naturelle .................................................................................................................... 54 Figura 50 - Muscle man, from “Tabulae Sceleti e Musculorum Corporis Humani” by Albinus, 1747 ........................................................................................................ 56 Figura 51 - Cultura oriental, carvão sobre tela, 2017 ................................................ 74 Figura 52 - O sufrágio da água, carvão sobre tela, 2017 .......................................... 75 Figura 53 - Sistema esqueléticoe muscular, nanquim sobre canson, 2017 ............. 75 Figura 54 - Sistema muscular e venoso, nanquim sobre canson, 2017 .................... 75 Figura 55 - Coração I, nanquim e aquarela sobre canson, 2017............................... 76 Figura 56 - Coração II, nanquim e aquarela sobre canson, 2017.............................. 76 Figura 57 - Dissecação, sanguínea, sépia e carvão sobre canson, 2017 ................. 77 Figura 58 - Relações interpessoais, carvão sobre canson, 2017 .............................. 77 Figura 59 - Cérebro I, nanquim sobre canson, 2017 ................................................. 77 Figura 60 - Cérebro II, nanquim sobre canson, 2017 ................................................ 78 Figura 61 - Escalpelamento, nanquim sobre canson, 2017 ...................................... 78 Figura 62 - Sistema muscular III, nanquim sobre canson, 2017................................ 78 Figura 63 - Sistemas esqueléticos e muscular II, nanquim sobre canson, 2017 ....... 79 Figura 64 - As três fases da vida, nanquim sobre canson, 2017 ............................... 79 Figura 65 - Nascimento & Morte I, peça cadavérica conservada em álcool, 2017 .... 80 Figura 66 - Nascimento & Morte II, peça cadavérica conservada em álcool, 2017 ... 80 Figura 67 - O pensador (frente), peça cadavérica conservada em plastinação, 2017 .......................................................................................................................... 80 Figura 68 - O pensador (verso), peça cadavérica conservada em plastinação, 2017 .......................................................................................................................... 81 Figura 69 - Peças cadavéricas conservadas em álcool, 2017................................... 81 Figura 70 - Peças cadavéricas conservadas em glicerina, 2017 ............................... 82 Figura 71 - Peça cadavérica conservada na plastinação, 2017 ................................ 82 Figura 72 - Hall de entrada com exposição montada, 2017 ...................................... 83 Figura 73 - Hall de entrada com painéis expositivos, 2017 ....................................... 83 Figura 74 - Visitantes observando cabeça dissecada, 2017 ..................................... 83 Figura 75 - Visitantes observando peças anatômicas e quadros, 2017 .................... 84 Figura 76 - Cadastro na plataforma digital, 2018 ...................................................... 84 Figura 77 - Escolha do template de design, 2018 ..................................................... 85 Figura 78 - Escolha da página inicial do site, 2018 ................................................... 85 Figura 79 - Realizando a hospedagem do site .......................................................... 85 Figura 80 - Configurando a página inicial .................................................................. 86 Figura 81 - Determinando os ícones do site .............................................................. 86 Figura 82 - Página inicial de desktop ........................................................................ 87 Figura 83 - Conteúdo desktop de arte e anatomistas ................................................ 87 Figura 84 - Página inicial formato mobile .................................................................. 87 Figura 85 - Conteúdo mobile de arte e anatomistas .................................................. 87 Gráfico 1 - O estudo da anatomia humana ............................................................... 92 Gráfico 2 - Grupo de estudo ...................................................................................... 98 Gráfico 3 - Espaço alternativo de aprendizagem ....................................................... 99 Gráfico 4 - Relação Arte x Anatomia ....................................................................... 101 Gráfico 5 - Estudo não-formal ................................................................................. 102 Quadro 1 - Matriz investigativa .................................................................................. 89 Quadro 2 - Cursos e gêneros dos acadêmicos ......................................................... 91 LISTA DE SIGLAS DCN Diretrizes Curriculares Nacional MDP Matriz Dialógica Problematizadora PPP Plano Político Pedagógico UEPG Universidade Estadual de Ponta Grossa UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................13 2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ANATOMIA HUMANA E A ARTE ..............16 3 O ENSINO DA DISCIPLINA DE ANATOMIA HUMANA NOS CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE ..................................................................................................60 4 O ESPAÇO NÃO FORMAL PARA O ENSINO ....................................................66 4.1 A RELEVÂNCIA DOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE ENSINO ......................67 4.2 BENEFÍCIOS E DIFERENÇAS DO ESPAÇO FORMAL, COM ENFOQUE AO ESPAÇO NÃO FORMAL DE ARTE (MUSEU, GALERIA) PARA O ENSINO DA ANATOMIA HUMANA .......................................................................................70 5 A EXPOSIÇÃO DE ARTE PARA O ENSINO NÃO FORMAL DE ANATOMIA HUMANA ................................................................................................................74 6 OS CAMINHOS DA PESQUISA ..........................................................................88 6.1 COLETA DE DADOS E ANÁLISE ....................................................................91 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................105 REFERÊNCIAS .......................................................................................................110 13 1 INTRODUÇÃO Desde a pré-história o fascínio sobre o corpo humano está presente entre os homens. Entretanto, somente a partir da antiguidade se observa, disseca e teoriza sobre o corpo. Aristóteles, Platão, Hipócrates, Cícero, Galeno, Vesalius, Fabricius, Descartes e Harvey representam aqueles que dedicaram suas vidas a este estudo, muitas vezes tendo que burlar as leis civis e religiosas para poder aprofundar-se no conhecimento científico e filosófico. Sempre ao lado da ciência temos a arte, como meios de produção simbólica e histórica entre estes mestres da pena e do pincel podemos citar Leonardo da Vinci, Rafaello de Sanzio, Michelângelo Buonarotti, Tiziano e Rembrandt, que fizeram importantes contribuições para a compreensão da anatomia humana por meio da habilidade técnica e de observação, desde o óbvio até o inesperado e desconhecido. Vivemos em um mundo rodeado de tecnologia, informação e concreto, uma vida baseada no trabalho, que não deixa espaço para a reflexão sobre o corpo humano e os processos que ocorrem diariamente nele, pensando nisto, por que não utilizar estes espaços de concreto, muitas vezes mal utilizados, para despertar a curiosidade e desenvolver o conhecimento sobre o próprio corpo, unindo arte, anatomia e tecnologia para alcançar este desejo do pesquisador. Durante minha trajetória acadêmica e artística sempre fiquei fascinado pelo o que havia além da pele, estudando o sistema esquelético, muscular, respiratório, nervoso, digestivo, urinário, circulatório e tegumentário. Este estudo foi realizado em peças cadavéricas em laboratório de anatomia, teóricos em atlas, livros, artigos ou informal com profissionais da área da saúde. Todo o estudo reverteu em representação gráfica do corpo, seja pelo desenho, pintura ou vídeo arte, com qualidade técnica e sensível. Estas representações foram expostas em museus e galerias de arte, e despertaram curiosidades nas pessoas que visitavam, e em sua grande maioria comentava que não imaginavaver estudos de anatomia em local destinado a arte, esquecendo que arte e ciência caminham juntas. Na concepção popular estudo de anatomia é para aqueles que estudam medicina, e peças cadavéricas são destinadas para laboratórios anatômicos, para estudos através de dissecações, e a obra de arte deve ter somente a função estética (paisagens, natureza-morta, retratos, casarios, marinas, entre outras). Neste 14 contexto esta dissertação visa criar subsídio para que ocorra uma possível mudança de concepção cultural em relação a arte e ciência, ou seja, não se apreende somente anatomia humana em universidades, especificamente em laboratórios de anatomia humana (espaço formal), e que galerias e museus são espaços destinados à arte contemplativa. Para estabelecer os objetivos da pesquisa foram realizadas 20 representações gráficas de anatomia humana, seja por meio de observação da peça cadavérica, ou estudo de atlas de anatomia humana, utilizando as técnicas de desenho e pintura, obras que integraram a exposição “Arte & Anatomia”, em um espaço informal (Hall de entrada de uma universidade particular da cidade de Ponta Grossa), além das pinturas e desenhos, integravam a exposição peças cadavéricas, montadas como instalações em caixas de vidro e vídeos arte mostrando o funcionamento do corpo humano. Portanto, nesta exposição se observou o interesse do público alvo na relação anatomia humana, arte e autoconhecimento. Desse modo, foi traçado o objetivo geral e os objetivos específicos, a questão investigativa, bem como a metodologia para a realização deste estudo, e a questão investigativa que este estudo buscou responder. No primeiro capítulo, foi realizado um breve relato histórico da anatomia humana e sua estreita relação com a arte, quando o homem observava em outro homem as diversas partes do corpo de que eram formados e os representa, seja de forma artística ou científica, ficando evidente a busca pelo autoconhecimento. O segundo capítulo é sobre o processo de ensino-aprendizagem da disciplina de anatomia humana nos cursos da área da saúde ao longo da história, especificando no curso de ciências biológicas. No terceiro capítulo a abordagem recai sobre os espaços não formais para o ensino, que são reconhecidos por estudiosos em educação, professores e profissionais em educação como ambiente que podem ser utilizados para ampliar atividades educativas, as possibilidades que a exposição de arte traz para o ensino de anatomia humana em galerias e museus de arte e anatomia. No capítulo 4 “A exposição de arte para o ensino de anatomia humana”, parte da poética pessoal do artista/pesquisador, de produções de desenhos e pinturas tendo como temática principal a anatomia humana e, em segundo plano a cultura e sociedade humana, com a produção audiovisual realizada pelo pesquisador, foi instaurada uma exposição “Arte e Anatomia Humana”. Esta 15 exposição foi realizada em espaço não institucionalizado como espaço para arte e ensino - o hall de entrada de uma universidade particular na cidade de Ponta Grossa no Estado do Paraná. Foram efetuados registros fotográficos e coletados relatos de experiências dos “visitantes” (pessoas que passavam diariamente naquele local e não haviam tido contato com exposição de arte e anatomia). Com estes dados foi possível perceber a necessidade de expandir a exposição para um meio que independesse do período de exposição e do espaço (espaço arquitetônico) para existir, com isso surgiu à ideia de realizar um site, que contenha tanto as informações a respeito da história da anatomia e sua relação com a arte, como as obras expostas como forma de galeria virtual, com uma exposição permanente de arte e anatomia humana. Este site também contém os caminhos percorridos pelo pesquisador para realizar a exposição física e dicas de como o visitante do site pode organizar uma exposição, configurando o mesmo, como produto educacional do programa de Mestrado Profissional. A análise e coleta dos dados são apresentadas no capítulo 5. Sendo uma pesquisa qualitativa, a coleta de dados foi realizada por meio de questionário semiestruturado aplicado aos acadêmicos da área da saúde. A categorização e discussões dos dados são orientadas pela matriz investigativa problematizadora da nossa pesquisa. 16 2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ANATOMIA HUMANA E A ARTE Os primeiros anatomistas, cientistas e médicos foram os egípcios (Figura 1). Figura 1 - Papiro demonstrando tratamento médio no Egito antigo Fonte: https://ascendingstarseed.wordpress.com Na medicina, os egípcios eram cirurgiões competentes, o qual pode ser validado em dois papiros médicos que sobreviveram a esta época, no papiro podemos notar sensatez, profundidade e ausência de superstição, os egípcios que compilaram o conhecimento destes papiros não eram só experientes, como também sábios. Em um dos papiros, faz-se uma descrição de um homem “com uma ferida aberta na cabeça”, com detalhes que comprovam que o médico tinha observado as membranas que envolvem o cérebro, as circunvoluções cerebrais e o fluido ali existente; evidencia-se também que o autor pensava que o cérebro era o centro controlador do corpo (RONAN, 1987, p. 29). Outra prática egípcia que deixa claro o conhecimento sobre a anatomia humana foi o embalsamamento, além da preocupação em preservar o corpo para esta existência, se preocupavam com a vida material após a morte. O cérebro, os intestinos e outros órgãos vitais eram retirados e, depois de lavados em vinho, colocados com ervas em canopos. As cavidades do corpo eram preenchidas com perfumes e resinas docemente aromáticas, e o corpo era, então, costurado. A seguir, imergiam-no em salitre por setenta dias e, então, era lavado e envolto em bandagens umedecidas em material viscoso (resina). Finalmente, o corpo era colocado no sarcófago e selado (RONAN, 1987, p. 29). 17 Dentro da pirâmide social do antigo Egito não se conhece a posição do médico, o primeiro registro de um médico que se conhece foi Imhotep, ministro do faraó Djoser, responsável pela construção da grande pirâmide de degraus, que mais tarde se tornou o deus da medicina. Como os egípcios, os mesopotâmios também estão entre os mais antigos povos a desenvolverem o conhecimento sobre a medicina e a anatomia; empregavam drogas produzidas por ervas medicinais de forma ampla. Ronan (1987) nos aponta a evidência de textos e livros de medicina, e que muitas coisas dependiam da experiência do médico. Os médicos não eram funcionários da corte, mas viviam dos seus honorários. A medicina entre os mesopotâmios era fortemente relacionada à crença de origem divina e a adivinhação. Os babilônios realizavam técnicas de hepatoscopia, uma forma de adivinhação baseado no exame do fígado de um animal, normalmente ovelha ou cabra. A ideia de usar fígados de animais fornece algumas informações a respeito do conhecimento dos babilônios sobre o funcionamento do organismo dos homens e dos animais. Certamente, tinham consciência da importância do sangue: sangue era vida. Se um homem perde sangue, desmaia, se perde demais, morre. O fígado é o órgão do corpo que “contém” maior quantidade de sangue, assim ele se revestia de grande importância (RONAN, 1987, p. 37). Os mesopotâmios também davam extrema importância aos médicos que cuidavam dos animais, o exercício da atividade foi destacado pelo "Código de Hamurabi"1, este prestígio foi devido à utilização de cavalos para diversos fins, como por exemplo, transporte, máquina de guerra e moeda de escambo. Na Grécia antiga houve importantes descobertas no campo da medicina e anatomia. O fundador da medicina grega foi Esculápio, o qual se encontra menção no texto Ilíada do escritor Homero. Os conhecimentos teóricos produzidos pelos gregos se desenvolveram principalmente em suas quatro escolas médicas, a primeira foi a Pitagórica,que pregava que a saúde se devia a um equilíbrio de forças dentro do corpo; a segunda 1 Código de Hamurabi - O Código de Hamurabi é um conjunto de leis criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C, pelo rei Hamurabi da primeira dinastia babilônica. O código é baseado na lei de talião, “olho por olho, dente por dente”. As 281 leis foram talhadas numa rocha de diorito de cor escura. 18 escola foi a Siciliana, que enfatizavam a importância do ar, dentro do corpo; a terceira escola era a jônica, aonde se fizeram algumas dissecações anatômicas; e a quarta e última escola era centralizada em Abdera, a qual dava grande importância ao uso medicinal da ginástica e da dieta, um dos membros dessa escola foi Heródico, suposto mestre de Hipócrates (RONAN, 1987). As quatro escolas do pensamento médico eram todas primitivas, e no tempo de Hipócrates - fim do século V e primeiras décadas do século IV a.C. -, foram substituídos por dois centros básicos de estudos médicos, um em Cnido e outro em Cós”. (RONAN, 1987, p. 98). O principal centro de estudo da medicina passou a ser em Cós, o qual produziu cerca de sessenta textos importantes, que ficaram conhecidos como “Corpus Hipocraticum”, que datam das últimas décadas do século V a.C., e que foram reunidos por estudiosos gregos em Alexandria. Devemos nos lembrar que o conhecimento anatômico era rudimentar, conhecíamos ossos, mas os textos dos médicos de Cós sobre os órgãos internos eram superficiais. Certamente deveriam ter uma ideia aproximada do modo pelo qual o corpo funcionava, se quisessem tratar pacientes de modo sistemático; assim formularam a doutrina dos “humores”, eu líquidos, ideia que não era nova, mas a que eles deram uma base racional. Originariamente, como resultado de observações, não havia dúvida de que os corpos humano e animal continham vários fluidos, como o sangue e a bílis, que eram, obviamente, elementos importantes. De fato, algumas condições são acompanhadas de secreção de líquidos” (RONAN, 1987, p. 98). Hipócrates (figura 02), além do conhecimento que desenvolveu na área da medicina, também escrevia sobre ciência de forma ampla. É de autoria de Hipócrates a frase “O médico deve estar pronto não somente para executar sua missão, mas também para se assegurar da cooperação do paciente, dos atendentes e dos acompanhantes”. 19 Figura 2 - Busto em mármore de Hipócrates, autor desconhecido Fonte: https://www.pensador.com Para aqueles que se formam em medicina, realizam o “Juramento de Hipócrates”, que é usado como parâmetro para a conduta pessoal do médico, que tem como ênfase o dever profissional de saúde em trabalhar em benefício dos pacientes e à inviolabilidade da confidência entre paciente e médico. Segundo Ronan (1987) aonde encontramos a primeira evidência no ocidente na medicina como ciência é com Hipócrates e seus sucessores; Hipócrates foi o criador dos registros médicos no ocidente, mas infelizmente seu exemplo não foi seguido até o século IX d. C. no mundo mulçumano, foi somente no iniciado no século XVI na Europa. No século IV a. C. na Grécia, surge um grande filósofo, Aristóteles (figura 03), que realizou pesquisas nas áreas de anatomia animal a anatomia humana e a função dos órgãos no corpo. Seus estudos eram, em grande parte comparativos, como se poderia esperar de um homem cujo trabalho estava orientado para a zoologia; sem dúvidas ele era bom quanto aos animais e medíocre quando se tratava dos homens. Também errou a respeito das funções do cérebro e do coração, já que acreditava que o primeiro era um órgão destinado a resfriar o sangue e o último, o centro da consciência (RONAN, 1987, p. 114). Aristóteles aceitou a equivocada teoria de Hipócrates dos “humores”, e relacionou esta teoria as funções do corpo; enquanto realizava excelentes realizações no campo da zoologia, no campo da anatomia humana realizou vários equívocos. 20 Figura 3 - Escultura em bronze de Aristóteles, de Cipri Adolf Bermann, 1915 Fonte: http://viajaredescobrir.blogspot.com.br/2014/01/aristoteles.html A Grécia perde sua independência em 338 a. C., com a conquista macedônica, dois anos depois, Filipe da Macedônia é assassinado, e seu filho Alexandre (figura 04), que foi aluno de Aristóteles, tornou-se imperador; Alexandre conquistou um extenso território, que foi das praias ocidentais do Mediterrâneo até o Indo, e do Egito e Babilônia até o Caspio. Figura 4 - Busto em mármore do imperador Alexandre Magno, autor desconhecido Fonte: https://www.pensador.com/frase/NTQ5NDQ Com a morte de Alexandre em 323 a. C., o império se dividiu em três regiões, uma das regiões, o Egito, foi dado a Ptolomeu I Sóter, que iniciou a dinastia ptolemaica. Ptolomeu construiu um museu e uma biblioteca em Alexandria, era o local de estudos avançados da cultura helenística, devido a isso atraiu pensadores 21 como Euclides e Arquimedes, por 700 anos a biblioteca e o museu atraiu filósofos, matemáticos, astrônomos, artistas e médicos. No início do século III a. C., o médico Herófilo fundou uma notável escola de medicina no museu de Alexandria; a dissecação do corpo humano não encontrava a desaprovação que recebia em outras cidades gregas, essa era uma grande vantagem para a pesquisa médica, da qual Herófilo tirou muitos benefícios. Herófilo baseou sua teoria e sua prática médica nos quatro humores, mas foi em anatomia que fez seu melhor trabalho, investigando o cérebro, o sistema nervoso, o sistema de veias e artérias (ele fez distinção entre as duas), os órgãos genitais e o olho, Identificou corretamente o cérebro, e não o coração, como o centro do sistema nervoso, e descobriu os nervos, do cérebro até a coluna vertebral, embora tenha escrito também sobre a rete mirabile (rede maravilhosa), um complexo de nervos e vasos sanguíneos que existe nos animais, mas não no homem (RONAN, 1987, p. 114). O médico Erasístrato foi discípulo de Herófilo em Alexandria, escreveu um grande número de livros, que tratam não apenas de anatomia humana, mas também do abdômen, febres, gota, hidropisia e vômito de sangue, e sobre a higiene; realizou autópsias para estudar as causas da morte. As pesquisas metabólicas de Erasístrato conduziram-no a sugerir que todas as partes do corpo das criaturas vivas eram um tecido composto de veias, artérias e nervos, realizações assombrosas nos dias anteriores à invenção do microscópio. Ele também abandonou a errada suposição de que a digestão era uma forma de cozimento ou fermentação, e descreveu a ação dos músculos do estômago; além disso, mostrou como a laringe se fecha durante a deglutição e provou, assim, que era impossível aos líquidos entrar nos pulmões (RONAN, 1987, p. 123). Herófilo e Erasístrato lançaram os fundamentos da anatomia e da fisiologia para o mundo ocidental. Desastres ocorreram sobre o museu nos séculos III e V d. C., teve sua total destruição no século VII d. C.; o conhecimento que se perdurou da biblioteca de Alexandria em grande parte foi por causa do cirurgião grego Galeno (figura 05 e figura 06), que viveu em Pérgamo, no século II d.C., que visitava Alexandria e registrava muitas das realizações da escola de medicina. 22 Figura 5 - Retrato de Galeno de Pergamo Fonte: https://scientificusblogpt.wordpress.com/2018/01/04/galeno-de-pergamo A filosofia anatômica de Galeno era descritiva e de cunho filosófico estoico, de modo que o “príncipe dos médicos” procurou justificar a forma e a estrutura de todos os órgãos em relação às funções para as quais ele acreditava que fossem destinados (TALAMONI, 2014, p. 25). A influência deste estudioso e suas ideias perduraram por muitos anos, estendendo-se, através da medicina árabe, e pela Idade Média até o século XVIII. Figura 6 - Galeno abrindo a ferida de um soldado Fonte: https://psiquiatriaonlinebr.files.wordpress.com/2015/06/galeno.jpgNa Idade Média, a dissecação de cadáveres era condicionada pelo cristianismo e pela lei islâmica (figura 07) e a representação do corpo humano, era somente liberada as imagens diagramáticas com intenção didática. 23 Figura 7 - Ilustração anatômica. Mansur ibn Muhammad ibn Ahmad ibn Yusuf ibn Ilyas (fl. ca. 1390) Fonte: https://cienciasmorfologicas.webnode.pt/introdu%C3%A7%C3%A3o%20a%20anatomia/historia -da-anatomia/ No século XIV, enquanto as dissecações tornavam-se cada vez mais comuns no âmbito acadêmico italiano, um decreto ordenou ao Colégio de Médicos e Cirurgiões de Veneza que efetuasse pelo menos uma dissecação pública por ano. (TALAMONI, 2014). No Ocidente Medieval, a representação do corpo era realizada por meio de figuras planas e esquemáticas, representadas através de perfis de três quartos e direções oblíquas do torso ou dos membros. Na medicina, tais concepções assumiam a forma de manequins, anatômicos e cirúrgicos, que geralmente eram usados no ensino da anatomia e da cirurgia. Um grande incentivador da anatomia, no século XIV, Mondino de Luzzi (figura 08), professor de anatomia em Bolonha, escreveu o livro Anathomia, no ano de 1316. Essa obra era um manual de dissecação sem imagens, fundamentada nos escritos dos anotadores e tradutores árabes de Galeno, e se destinava para os estudantes. 24 Figura 8 - Post Mortem Examination - Mondino de Cuzzi in Bologna in 1318, canvas by Ernest Bond (ca 1890) Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY No livro, Mondino, estudava de forma separada as distintas partes do corpo, introduzindo pequenas correções à anatomia galênica justificadas pela sua experiência. A primeira publicação com cunho médico ilustrada foi o Fasciculus medicinæ de Johannes de Ketham (figura 09), que teve sua publicação em Veneza no ano de 1491. Tal obra embora tenha sido muito divulgada neste período, ela não contribuiu muito para o conhecimento da anatomia, pois, era uma obra fundamentada em noções incipientes (figura 10). 25 Figura 9 - Early Dissection - the first ilustrated medical procedure, dissection from “Fasciculus Medicinae” by Johannes de Ketham (1493) Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY Figura 10 - The Fasciculus Medicinae of Johannes De Ketham Alemanus Fonte: https://www.heldfond.com/pages/books/7304/johannes-de-ketham/the-fasciculus- medicinae-of-johannes-de-ketham-alemanus No entanto, refletia uma das ilustrações mais expressadas na literatura médica (figura 11), que era o cenário da sala de dissecações de Mondino, na Bolonha, onde o professor se encontrava sentado diante do cadáver que estava sendo dissecado possivelmente por um cirurgião-barbeiro. 26 Figura 11 - Title page of Anathomia Corporis Humanis by Mondino de Luzzi Fonte: https://www.clinanat.com/mtd/548-mondino-de-luzzi No renascimento, os artistas podiam reproduzir a natureza como ela se apresentava, no entanto, eles tinham de ter conhecimento, a princípio, de como elas eram e, posteriormente, como elas poderiam ser reproduzidas. Nesse sentido a teoria da arte do Renascimento representava duas questões distintas, a material e a formal ou representacional. Desse modo, o artista fornecia informação científica sobre os fenômenos naturais em si: acerca da estrutura e função do corpo humano, da expressão das emoções humanas, das características das plantas e dos animais, da ação da luz e da atmosfera sobre os corpos sólidos, etc. Por outro lado, ele tinha de desenvolver um processo científico a perspectiva renascentista através do qual a totalidade destes fenômenos […] pudesse ser corretamente representada, ou de preferência reconstruída, numa superfície bidimensional (PANOFSKY, 1943, p.244). Para o artista na fase do Renascimento, a imagem não representava um simples traçado, como era feito na Idade Média, mas uma transparência que refletia a realidade exterior das coisas e dos seres, tanto o seu interior e oscilação, num retrocesso ao classicismo: Os artistas que pesquisavam a realidade do corpo humano e do seu movimento tinham encontrado os cânones da Grécia clássica - as proporções matemáticas do corpo, codificadas pelo arquitecto romano Vitrúvio - idealizando a beleza plástica dos atletas e dos deuses (LEMIRE, 1993, p. 702). 27 Com a mudança de pensamento e com isso de suas crenças, os artistas renascentistas deixavam de lado o pensamento medieval que tudo acontecia devido à vontade de um deus católico, para a busca do conhecimento científico, de como e o porquê as coisas ocorriam. Retomando o conhecimento greco-romano, Leonardo da Vinci preocupado com a representação gráfica do corpo humano, buscou no conhecimento desenvolvido por Vitrúvio a sua representação da proporção perfeita, no seu desenho “O Homem Vitruviano” (Figura 12). Figura 12 - Vitruvian Man - Pen, ink, watercolour and metalpoint on paper, 1492 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Leonardo da Vinci (figura 13) se interessou pelas dimensões do corpo como sendo uma combinação biológica e anatômica que se referia à parte interna do corpo humano, visibilizando propriedades jamais observadas com esse empenho e amplitude (figuras 14, 15, 16 e 17). 28 Figura 13 - Self-portrait, red chalk on paper, 1512 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 14 - Muscle of the Arm, sketch (ca 1500) Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 15 - Studies of human skull, black pen, ink and black chalk on paper, 1489 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 29 Figura 16 - Anatomical Studies, (ca 1500) Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 17 - Studies of the sexual act and male sexual organ, pen and ink on paper, 1492 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html No entanto atenta-se para o fato de que suas anotações não se referem somente a um apontamento a respeito apenas da arte ou somente referente a dimensões humanas, mas compreendiam também estudos de fisiologia humana, considerando da embriologia (figura 18) às dimensões dos ossos (figura 19), investigando nervos e vasos sanguíneos (figura 20) e analisando os movimentos (figura 21). 30 Figura 18 - Studies of embryos, black and red chalk, pen and ink wash on paper, 1509-14 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 19 - Skeletal Siystem, sketch by Leonardo da Vinci (ca 1500) Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 31 Figura 20 - Heart and its Blood Vessels (ac 1500) Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 21 - Studies of legs of man and the leg of a horse, pen, ink, red chalk on red prepared paper, 1506-07 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Leonardo decompôs o corpo e analisou cada detalhe anatômico, dissecando-o e representando-o. Ao dissecar o ombro, desenhava-o em tamanho ampliado retratando os nervos isoladamente. Porém, a representação definitiva não seria a da musculatura isoladamente, mas a dos músculos, ossos, nervos e vasos em conjunto. Trinta anos mais tarde Vesalius concebeu a dissecação do corpo, decompondo-o em partes, agora observadas enquanto peças. È certo que os desenhos de Leonardo inspiraram a elaboração da obra (CHEREM, 2005, p. 82). No Renascimento, a intenção dos artistas não era simplesmente tomar conhecimento da parte exterior dos acontecimentos e das criaturas, mas, cintilar seu 32 interior, ao “esqueleto básico ou armadura que determina a “essência” das coisas”, pois assim eles podiam representar de forma convincente um universo variado e dinâmico. Como observa Francisco de Holanda: E lembremos que a figura que ao natural tirardes em retrato para fazerdes de fantasia, que debaixo do vestido há de ter carne, e debaixo da carne metidos a intersecção dos ossos, porque aqui cometem grandes ignorâncias os ignorantes (HOLANDA, 1549, p.36). Essa ideia fez com que artistas renascentistas como MichelangeloBuonarotti e Leonardo da Vinci, utilizassem o procedimento da dissecação. No decorrer da sua vida, Leonardo da Vinci dissecou cadáveres, escrevendo sobre anatomia: As anotações anatômicas começaram a surgir no final de 1480 entre os estudos dos rostos e das poses que ele fez para a Última Ceia em Milão, crescendo positivamente em número e complexidade até à sua morte. De fato, Leonardo queria ir para além dos limites da análise material e adquirir uma compreensão global de todas as facetas do universo (CLAYTON, 1992, p.15). Foi por meio da observação e da dissecação da anatomia humana (figura 22 e figura 23), Leonardo da Vinci produziu as suas mais belas obras, como a Santa Ceia (figura 24), um mural para o convento de Santa Maria da Graça em Milão. 33 Figura 22 - Male head in profile with proportions, c. 1490 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 23 - Various figure studies Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 34 Figura 24 - The Last Supper, 1498 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Além dos desenhos e pinturas, as invenções de Leonardo da Vinci representavam “sonhos tecnológicos” (figura 25 e figura 26), e mostravam “total confiança nas possibilidades inéditas oferecidas ao homem pela técnica (voar como os pássaros, viver debaixo de água como os peixes)”, com reflexões para “o entusiasmo e a expectativa de toda uma época marcada por descobertas exaltantes e pelo contínuo alargamento dos horizontes geográficos” (GALLUZZI, 1995, p.47). Figura 25 - Automobile, 1478-80 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 35 Figura 26 - Siege Defenses, 1480-82 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Neste período Alberti e Leonardo decidiram, Encarar a própria natureza e aproximaram-se do corpo humano vivo com compasso e régua. Ao definirem tridimensionalmente a figura humana normal na sua articulação orgânica, elevaram a teoria das proporções ao nível de uma ciência empírica. Estes dois “modernos” divergiam porém, dentro de um aspecto relevante: Alberti buscava atingir o objetivo comum através do aperfeiçoamento do método; Leonardo, pela expansão e elaboração do material (PANOFSKY, 1943, p.64). Após o auxílio e a supervisão de Marco Antonio della Torre, um colecionador de anatomia em Pádua, Leonardo voltou a ter contato com ele em Pávia, quando os dois conviveram na corte dos Visconti. Em seguida, Da Vinci teve oportunidade de examinar a composição do organismo durante a dissecação de cadáveres. Assim ele pode elaborar esquemas considerados perfeitos, das veias e artérias, ramificações do aparelho respiratório, estômago, intestinos, esqueleto, músculos e tendões, ao mesmo tempo em que cometia alguns enganos como o caso da placenta de vaca representada no lugar de uma humana, pois da Vinci nunca havia dissecado uma mulher (AMORIM, 1973, p. 69). Observe na figura 27 um dos estudos anatômicos realizados por Leonardo da Vinci por meio de uma dissecação. 36 Figura 27 - Anatomical studies of the shoulder, black chalk, pen and ink on paper, 1510-11 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Apesar do brilhantismo do trabalho de anatomia de Leonardo da Vinci, sua obra ficou desaparecida vários séculos. Após a morte do artista/anatomista/engenheiro, em 1519, todos os desenhos e textos que ele havia produzido foram herdados por seu aluno Francesco Melzi, que os manteve sobre sua guarda até 1570. A partir daí os caminhos percorridos pelos diversos cadernos de Leonardo, especialmente de seus estudos anatômicos, são pouco conhecidos. Em 1690, há evidências de que eles já estavam na Biblioteca Real de Windsor, Inglaterra, como parte da Coleção Real (VICENTINO, 2014). O primeiro esforço para trazer os desenhos anatômicos e textos para conhecimento público ocorreu em 1898 com a publicação de alguns deles por Theodore Sabachnikoff, mais orientado para a curiosidade dos leitores, por ser uma novidade, não tendo importância o estudo anatômico. Somente no século passado, houve um emprego adequado para organizar os desenhos e traduzir os textos, o que resultou na edição de O'Malley e livro Saunders (CHEREM, 2005). Trinta anos mais tarde dos estudos de Leonardo da Vinci, Vesalius fez a dissecação de corpos, observando parte por parte. Os desenhos de Leonardo inspiraram a elaboração da obra “De humani corporis fabrica libri septem”, mas agora o interesse artístico transformava-se em interesse científico. 37 Precursor da influência da arte renascentista italiana sobre a Anatomia, Leonardo, que utilizou pela primeira vez o termo “demonstração”, foi considerado um dos maiores anatomistas de todos os tempos. Suas descobertas eram originais para a época, mas pouco contribuíram com o estágio mais avançado da disciplina anatômica [...] (TALAMONI, 2014, p. 40). Do ponto de vista prático, a obra de Leonardo da Vinci contribuiu muito pouco para o desenvolvimento da anatomia, contrariamente com o que sucedeu com os trabalhos de Vesalius, que iriam surgir poucos anos mais tarde. Tal fato se explica, devido à maneira de trabalhar de da Vinci, essa teria sido a razão principal pela qual o valor de suas observações isoladas e toda a força de intuição de que era capaz não terem dado os frutos que normalmente seria lícito esperar. (AMORIM, 2013). Foi o primeiro a fazer um molde de cera do interior de um crânio e a pensar em utilizar modelos de vidro ou cerâmica a fim de mostrar o funcionamento do globo ocular e do coração. Foi o primeiro a desenhar um útero aberto com o embrião dentro, embora o processo de placentação fosse de uma vaca (CITINO, 1998). A profundidade dos textos explicativos que acompanham os desenhos coloca Leonardo como autêntico Homem Novo, o símbolo do Renascimento, talvez demasiadamente genial para ser compreendido pelos seus contemporâneos. (AMORIM, 2013) Fora que seus treze volumes foram escritos da direita para a esquerda o que parecia um código indecifrável, porém, como a letra boa e clara, se lia com facilidade por meio de um espelho. É provável que da Vinci não quisesse que todos lessem seus escritos (CITINO, 1998). É relevante considerar a separação entre os artistas e os anatomistas até a época de Vesalius. A partir da primeira metade do século XV, nas mãos de artistas como Masaccio (figura 28), Donatello (figura 29), Pollaiuolo (figura 30), Verrocchio (figura 31), Michelangelo (figura 32) e Raffaello (figura 33), e artistas teóricos como Alberti e Leonardo, entre muitos outros, a arte europeia tomou a direção do naturalismo. 38 Figura 28 - A expulsão do paraíso, Fresco, 1426-27 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 29 - Judith e Holofernes, escultura em bronze, 1455-60 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 39 Figura 30 - Hercules and the hydra, tempera on wood, 1475 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 31 - Madonna whith Sts John the Batist and Donatus, tempera on wood, 1475-83 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 40 Figura 32 - Tomb of Giuliano de Medici (detail), marble, 1526-33 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Figura 33 - Portrait of Julius II, oil on wood, 1511-12 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 41 Para obedecer a um padrão cultural que passou a ser valorizado, e para sintonizar-se com um novo tipo de sensibilidade, barroca, para a qual os limites entre o belo e o grotesco, o agradável e o repugnante tornaram-se imprecisos e maleáveis, a aristocracia anglo-saxônica logo tratou de providenciar seus próprios anfiteatros, que proliferaram ao longo dos séculos XV e XVI. Nos teatros anatômicos particulares eram realizadas sessões privadas de dissecação para um número restrito de “convidados” (TALAMONI, 2014, p. 45). Sendo então o homem o centro de todas as perguntas, ou ao menos das perguntas mais importantes, a descrição do corpo humano tomoua posição central nessa busca. A intersecção dos respectivos saberes e práticas fraseiam ao nível da representação médico-anatômica. Os desenhos eram realizados pelos artistas, médicos, artistas contratados pelos médicos, pelos médicos habilitados como artistas ou por artistas que no futuro passaram a ser médicos. Essa disposição das pessoas e do cadáver no momento do ensino juntamente com os instrumentos de dissecação, cada qual com seu lugar específico a ocupar, e com um papel a desempenhar, consagraram o ritual da aula de Anatomia em um espaço peculiar, denominado “estúdio anatômico” - os atuais “laboratórios de Anatomia” (PANOFSKY, 1943, p.66). Os artistas buscavam a proporção, da beleza perfeita que admitisse aproximar o mundo dos homens com o universo dos deuses. Com o advento da modernidade e com a necessária organização das instâncias científicas, as dissecações, enquanto práticas culturais deixaram sua esfera mais ampla para restringirem-se à subcultura científica, aos laboratórios de Anatomia, às aulas práticas de cirurgia e aos museus universitários. Nesses casos, o cadáver passou a ser um objeto anônimo de ensino. É com esse objeto anatômico-científico, dotado de uma história que a Anatomia tenta permanentemente exorcizar, que se deparam professores e estudantes de Anatomia na atualidade (OLIVEIRA, 1981, p. 83). Distinguindo indícios e síndromes, as artes visuais, bem como a medicina, lembram a maneira intraduzível e incomunicável, intocável e inatingível da dor. Para o paciente expor a dor, não é simplesmente falar dela, mas interpretar o que se está sentindo. 42 Dentre os feitos anatômicos que podem ser pontuados no século XV, por exemplo, destacou-se a postura observadora de Leonardo da Vinci, que proporcionou a realização de ilustrações acuradas acerca do corpo humano que foram, de certa forma, expressões antecipadas do movimento renascentista do século XVI sob a tendência naturalista (que se estabeleceu a partir do final no século XIII) (TALAMONI, 2014, p. 36). Sob o enfoque da medicina é impraticável impetrar a dor, porque embora apresente as anamneses completas e os exames clínicos ou complementares de alta tecnologia ou ainda as técnicas cirúrgicas mais inequívocas, uma vez que o local simulado pela enfermidade é bem localizado, existe uma probabilidade do resíduo que não evidencia o que seja da ordem da experiência e da sensibilidade dolorosa. No século XIV e até meados do século XVI o estudo da anatomia nas universidades era feito a partir da leitura de um texto pelo docente desta disciplina para acadêmicos da área de saúde, no geral era utilizado, o pequeno e prático Anathomia de Mondino dei Liucci, seguido no século XVI por textos de Galeno, enquanto um assistente, usualmente um cirurgião iletrado, mostrava junto do cadáver as estruturas descritas nesse texto (KICKHOFEL, 2003, p. 391). As necropsias objetivavam conduzir o treinamento dos alunos de medicina, mas essa prática era apenas instrutiva e não investigativa. Nos estudos de KickhofeI (2003) encontra-se um comentário de Saunders e O’Malley sobre a necropsia dessa época, “ver um professor descer de sua cátedra acadêmica para dissecar e fazer demonstrações pessoais no cadáver era algo totalmente inusitado na época” (KICKHOFEL, 2003, p.391). Nesse momento da história da humanidade a anatomia era entendida como o principal objetivo dos cuidados dos médicos, apesar deles dissecarem cada nervo para conseguir esse intento, a anatomia passou a extinguir-se quando os esses médicos, incumbindo esses atos a outros indivíduos, a estragaram. Do século XIII ao início do século XVI, os avanços no conhecimento anatômico foram paulatinos, baseados na contínua revisão e ampliação de tratados preexistentes. A Anatomia Macroscópica foi privilegiada nesse período, mas para seu desenvolvimento foi necessário o aprimoramento das técnicas de observação, de dissecação, de descrição, de ilustração e o gradual refinamento terminológico (TALAMONI, 2014, p.32). 43 A necropsia para os médicos servia apenas para estudar os cuidados com as doenças internas, assim, para eles, era interessante apenas conhecer as vísceras, negligenciando a disposição dos ossos e músculos, e dos nervos, veias, artérias que acontecem através dos ossos e músculos, não tinha relevância. Desse modo, quando as necropsias passaram a ser realizadas pelos cirurgiões-barbeiros, os médicos perderam o real conhecimento das vísceras, dando fim à dissecção, porque os médicos passaram a não realizar esse ato, sendo delegada somente a aqueles que aprenderam a técnica manual, pessoas que não tinham capacidade de interpretar os escritos dos professores de anatomia. A obra de Vesalius foi à síntese de um movimento histórico-cultural mais amplo que permeou a Europa renascentista. O fio que conduziu sua construção, assim como ela se mostrou, foi engendrado por uma visão global do corpo, o microcosmo que existia em consonância com o macrocosmo, segundo a revolução copernicana (TALAMONI, 2014, p.33). Andreas Vesalius (figura 34) é um nome que muito contribuiu para a anatomia moderna. Vesalius, assim como outros estudiosos da época, observou e descreveu o corpo humano. Figura 34- Self portrait from “De humani corporis fabrica libri septem” by Vesalius, 1543 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY 44 A anatomia vesaliana (figura 35) prevaleceu desde o século XVI até o surgimento da morfologia anátomo-comparativa, posterior ao século XVIII, o que não foi óbice para ambos os critérios, o funcional e o arquitetural. Figura 35 - De Humani Corporis – title page of “Humani Corporis” by Andreas Vesalius, 1543 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY Na história da Anatomia, o século XVI mostra-se de grande relevo em razão da obra do anatomista Andreas Vesalius (1514-1564). No cenário italiano, Vesalius revelou-se um ferrenho defensor da técnica da dissecação, que considerava como a única forma de se conhecer realmente o corpo humano. O intuito de sua obra era, a partir da dissecação sistemática de cadáveres, abandonar o caráter “revisionista” que prevalecia nas investigações anatômicas (TALAMONI, 2014, p.34). 45 A relevância da anatomia é lembrada por Vesalius devido ao seu íntimo estudo de anatomia (figura 36 e figura 37) osteo-mio-articular2 que se empenhava para entender mais atentamente a patofisiologia das suas propriedades. Figura 36 - Muscle man from “De humani corporis fabrica libri septem” by Andreas Vesalius, 1543 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY Figura 37- Skeletal Anatomy from “De humani corporis fabrica libri septem” by Andreas Vesalius, 1543 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY Ao mesmo tempo que Vesalius se dedicava à pesquisa científica sobre o corpo humano ele dissecava animais, retomando a prática da Anatomia Comparada, cuja tradição remontava a Galeno. No entanto, em uma perspectiva nova na trajetória anatômica, a dissecação de animais realizada por Vesalius não objetivava a compreensão da anatomia humana e sim a sua paulatina distinção, permitindo-lhe identificar e corrigir inúmeros equívocos presentes nas obras de Galeno (TALAMONI, 2014, p.35). 2 Sistema osteo-mio-articular: é o responsável pela movimentação e sustentação de nosso corpo. 46 Michelangelo Buonarroti foi outro artista que também contribuiu para a história da anatomia (figura 38). Vem dele as teorias de que o que é verdadeiro, pode não ser visto. Figura 38 - Various Studies, de Michelangelo Buonarroti, pen and brown ink, 1501-02 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Michelangelo passou vinte anos em busca de conhecimentos por meio de dissecações anatômicas, realizadas por ele, sobretudo no Convento do Espírito Santo, na cidade de Florença, ele dissecou e registrou por meio de desenhos,buscou capturar a realidade em suas produções artísticas, como em sua escultura David (figura 39), uma obra-prima da anatomia humana. 47 Figura 39 - David, marble, 1504 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Na escultura de Moisés (figura 40), concluída em 1515, Michelangelo fornece a estrutura de uma perna dissecada, no teto da Capela Sistina (figura 41) ele representa passagens bíblicas em grandes proporções, mas todos os personagens estão anatomicamente corretos (VICENTINO, 2014). Figura 40 - Moisés, marble, 1515 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 48 Figura 41 - Teto da capela Sistina, Afresco, 1508-12 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 49 Michelangelo lembra a importância de um exame mais minucioso para a compreensão das coisas (Figura 42), porque de uma proeminência sem grande relevância pode ser uma contribuição expressiva para esclarecer clinicamente o mecanismo e funcionamento do corpo, o qual também é o pensamento dos anatomistas Vesalius e Harvey. Figura 42 - Various Studies, de Michelangelo Buonarroti, black chalk on brown paper, 1534-36 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Muitos artistas tiveram o contato com a dissecação, mesmo não atuando como médicos, Dürer, Leonardo e Berrettini, estudaram anatomia, mas fora do contexto médico; os irmãos escoceses John Bell e Charles Bell receberam treino como artistas antes de se tornarem cirurgiões; o anatomista francês Jules Cloquet, já no século XIX, aprendeu arte antes de se tornar médico; e William Hunter, obstetra e anatomista, também se dedicou ao ensino de anatomia a artistas (PANOFSKY, 1943, p.65). Por volta de 1600, à dissecação cirúrgica de cadáveres na Holanda havia se tornado oficial, embora não frequente, com procedimentos fixos controlados pela corporação. Era proibido fazer uma dissecação, em público ou privado, sem a permissão da guilda, e o cadáver tinha que ser de um criminoso executado. A única dissecção que se sabe ter ocorrido foi em Amsterdã em 31 de janeiro de1632, quando o criminoso Adriaen Adriaensz foi executado. O Dr. Nicolaes Tulp foi o principal anatomista e conferencista da Associação de Cirurgiões de Amsterdã de 1629 a 1653. 50 Entre os séculos XVII e XVIII, anatomistas e artistas começaram a servir-se de elementos imaginativos de ilustração científica. O valor real da anatomia foi comprometido por metáforas visuais, paisagens fantásticas e poses. (SANTOS, 2014). Um dos artistas que acabou se “perdendo” do realismo para uma representação de poses que não retratava corretamente o posicionamento da parte dissecada foi Rembrandt van Rijn, um pintor holandês, retratista do século XVII, o qual recebe a encomenda de pintar um grupo de sete pessoas observando seu professor Dr. Nicolaes Tulp em uma de suas aulas de anatomia Humana, a obra “A lição de anatomia do Dr. Nicolaes Tulp” de 1632 (figura 43), demostra a rapidez com que ele superou a técnica suave dos retratistas da moda de Amsterdã, o retrato do grupo de Tulp, apontado como 'praelector anatomiae' da guilda de cirurgiões de Amsterdã. O cadáver é o foco da composição, por seu brilho intenso, o olho do espectador é levado para as cabeças iluminadas dos ouvintes, cujas expressões e atitudes refletem diferentes graus de atenção, e para o rosto e as mãos do Dr. Nicolaes Tulp (figura 44), que é uma representação mais convincente de um pesquisador absorvido em seu assunto. (GOMBRICH, 1959). Figura 43 - The anatomy lecture of Nicolaes Tulp, Oil on canvas, 1632 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 51 Figura 44 - The anatomy lecture of Nicolaes Tulp, Oil on canvas (detail), 1632 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html Na figura 45 observa-se o Dr. Tulp com uma pinça na mão direita, segura os músculos e tendões do braço que controlam o movimento da mão (figura 45), enquanto os dedos curvos da mão esquerda demonstram um aspecto de sua ação maravilhosa, o ilusionismo é reforçado pela caracterização vívida dos indivíduos, bem como pelo grande poder do artista em dramatizar o momento, sem o forte chiaroscuro (contraste de claro e escuro) e a fina qualidade atmosférica combinada com ele, a imagem perderia sua intensidade, a qualidade escultural das formas e toda dramaticidade do instante. Figura 45 - The anatomy lecture of Nicolaes Tulp, Oil on canvas (detail), 1632 Fonte: https://www.wga.hu/index1.html 52 No geral, os livros de anatomia direcionados aos médicos eram feitos com a coparticipação de artistas e médicos. Jacques Gamelin (figura 46 e figura 47) ou Gautier d’Agoty (figuras 48 e 50). Estes artistas lançaram livros excepcionais sobre anatomia, onde o seu fundo anatômico passou para segundo plano em decorrência do seu teor artístico. Figura 46 - Kneeling Skeleton, from “Nouveau recueil d´osteologie et de myologie” by Jacques Gamelin, 1779 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY 53 Figura 47 - llustrator´s Lounge, from “Nouveau recueil d´osteologie et de myologie” by Jacques Gamelin, 1779 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY Figura 48 - Muscular anatomy, from “Anatomie de la tete en tableaux”, by Jacques Gautier DÁgoty, 1748 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY 54 Figura 49 - The flayed angel, from “Mytologie complete en colour et grandeur naturelle compose de l´essai”, by Jacques Gautier D´Agoty, 1746 Fonte: http://medicalantiques.jalbum.net/ANATOMY Sobre os livros de anatomia Panofsky (1943) observa que: As ilustrações dos livros de anatomia desenvolveram uma categoria especial de imagens que se manteve até ao século XIX visando integrar as múltiplas dimensões simbólicas do ser morto e dissecado, desde a sua condição física à sua condição moral. O morto era frequentemente representado não como uma figura inanimada mas como a personificação da nossa forma de vida e do destino, em imagens ricas tanto do ponto de vista científico como artístico (PANOFSKY, 1943, p.67). Os melhores livros de anatomia eram destinados para médicos e cirurgiões, e também para um público específico que tinha aptidões culturais, ou seja, artistas, intelectuais e colecionadores, que se interessavam pelo conteúdo científico e também pela estética e pelo grafismo delicado das divulgações. A sensibilidade anatômica encorajou não só a proliferação dos teatros anatômicos particulares como também as práticas de se colecionar órgãos e esqueletos humanos. As imagens mórbidas da carne apontadas pela dissecação ampliaram os limites do que se poderia “ver”, e casos de malformação física, mutilações e exposição de corpos putrefatos passaram a ser alvo de curiosidade e audiência semelhantes (TALAMONI, 2014, p. 46). O cadáver foi concebido em posições vivas, em uma representação onde a alegoria paisagística era parte integrante, a imagem da Arcádia, o paraíso terrestre. 55 Desse modo, a utilização paisagística no fundo era destinada não apenas para a criação fictícia da realidade, mas também, como perspectiva de imagens anatômicas, e para chamar um assunto clássico que servia de inspiração para diversos artistas do Renascimento à atualidade. A anatomia no século XVIII era ensinada aos artistas por meio de cursos realizados por médicos ou por livros de anatomia, no geral através dos escritos feitos pelos médicos. O cruzamento dos relativos saberes e práticas se faziam ao nível da representação médico-anatômica. As ilustrações eram feitas por artistas, por médicos, por artistas contratados por médicos, por médicos treinados como artistas ou por artistas que posteriormente se tornaram médicos. A Anatomia Descritiva Macroscópica foi “esgotando-se” ao longo do século XVIII (Coleman, 1977). Exemplo disso é que, dentre os grandes nomes dessa modalidade específica da Anatomia, nesse período, destacaram-se William Sharpey (1802-1880) e Henry Gray (1827-1861), ambosreconhecidos por suas contribuições tanto na organização de algumas das edições do Quain’s Anatomy15 quanto na publicação do Gray’s Anatomy, obras destinadas à melhoria do conhecimento da anatomia humana por parte de médicos-cirurgiões, cujas atividades foram impulsionadas pelo advento da anestesia (TALAMONI, 2014, p. 44). Alguns pesquisadores desta época pesquisaram a anatomia, fora do contexto médico. Os livros de anatomia, na maioria das vezes, neste período, eram direcionados a médicos tendo colaborações entre artistas e médicos, e vice-versa. No século XVIII, Bernard Siegfried Albinus, um professor do centro de saberes anatômicos da Universidade de Leiden), após o apogeu de Pádua nos séculos XVI e XVII) desenvolveu novos meios de representações gráficas em anatomia. Albinus representa respectivamente o final da era da representação anatômica (figura 50) e o começo de outra onde arte, ciência e religião estariam enfim separadas. 56 Figura 50 - Muscle man, from “Tabulae Sceleti e Musculorum Corporis Humani” by Albinus, 1747 Fonte: https://www.clinanat.com/mtd/548-mondino-de-luzzi Os livros de anatomia desenvolveram uma categoria particular de ilustrações que se fixou até ao século XIX, tendendo associar as diversas extensões peculiares do cadáver dissecado, desde a sua condição física à sua condição moral; os livros de anatomia foram destinados não somente a médicos e cirurgiões, mas a um público amplo, com cunho cultural, formado por artistas, intelectuais e colecionadores, com interesse científico e estético, e no grafismo requintado das esplêndidas publicações. O desenvolvimento científico do século XIX, por seu turno, buscou salientar a dimensão ativa do homem no ato de conhecer sendo sua expressão máxima, de um lado, o idealismo hegeliano do início do século e, do outro, o positivismo de Augusto Comte (17981857). Destaca-se nesse período o surgimento de novas técnicas de medição e aferição que fizeram do século XIX o século da instrumentalização da biologia e da medicina, oferecendo bases concretas para novas descobertas, inclusive no âmbito anatômico (TALAMONI, 2014, p. 37). Durante os séculos XVII e XVIII, a anatomia atingiu aceitação insuperável. Duas das contribuições mais importantes foram à explicação do fluxo sanguíneo e o desenvolvimento do microscópio. Harvey, em 1628, com o trabalho “A circulação do coração e sangue em animais”, o que comprova a circulação contínua de sangue nos vasos, e Leeuwenhoek na microscopia, com o desenvolvimento de técnicas 57 para examinar os tecidos e descrição das células do sangue, músculo, esqueleto, e a lente dos olhos. Malpighi, o pai da histologia, foi o primeiro a confirmar a existência de capilares (SANTOS, 2014). A biologia fez grandes progressos no século XIX, vários processos fisiológicos foram examinados com maior detalhamento, baseado no termo “animal- máquina”. De todos os avanços, segundo Ronan (1987), os mais significativos foram - a teoria da célula e os estudos sobre a geração espontânea. Hooke foi o primeiro a utilizar o termo “célula”, mas a teoria desenvolvida no século XIX era uma possibilidade de enfrentar uma questão básica: “O que é um organismo?”. As primeiras abordagens desse problema se deram na França, onde cerca de 1800 médicos associaram as autópsias a uma descrição clínica do estado do cadáver, tornando possível localizar em que parte do corpo as coisas tinham falhado. Isso, por sua vez, levou a um estudo detalhado dos próprios órgãos. O pioneiro nesse campo foi Xavier Bichat, que, na época de sua morte, em 1802, havia identificado pelo menos 21 tipos de tecido nos órgãos - mucosa, tecidos fibrosos, etc, - descrevendo sua distribuição (RONAN, 1987, p. 17). Para que o conhecimento desenvolvido por Bichat evoluísse, foi necessário esperar até o ano de 1830, pela evolução dos microscópios acromáticos, os quais iriam desenvolver novamente até 1880, com o trabalho de Ernest Abbe, na fábrica da Carl Zeiss, desenvolvendo o microscópio óptico. Segundo Ronan (1987) os microscópios ópticos puderam distinguir partículas que não tinham mais de dois milésimos de milímetro de diâmetro, trazendo assim, os instrumentos quase ao seu limite teórico de definição. A apoteose da teoria celular chegou à segunda metade do século XIX, com a publicação em 1858 de Patologia Celular, do microscopista e médico Rudolf Virchow, que aborda as questões da célula no tecido vivo. Nesse livro, desaprovou a teoria de formação da célula de Schleiden - Schwann e apresentou a proposição de que as células só podiam surgir de outras preexistentes. Continuando, Virchow mostrou que as células são o último elo da grande cadeia de formações subordinadas que criam tecido, órgãos, sistemas e o indivíduo (RONAN, 1987, p. 17). 58 Apesar da publicação Patologia Celular de Virchow, ainda faltava demonstrar que a célula era de fato uma “unidade funcional fundamental”, quem irá demonstrar de forma efetiva esta teoria é o fisiologista Claude Bernard, o qual realizou um trabalho sobre digestão, a fisiologia dos nervos e substâncias tóxicas. Virchow e Bernard realizaram importantes contribuições na teoria celular, mas em 1843, surge uma teoria na convicção de que nenhum ovo de mamífero se desenvolveria sem que o espermatozoide estivesse presente. Nada mudou até 1876 e 1877, quando Oskar Hertwig e Herman Fol conseguiram comprovar a presença, não de apenas um, mas de dois núcleos, um macho e outro fêmea, no ovo fertilizado. Isso transferiu o elo entre as sucessivas gerações de animais e plantas da célula para o seu núcleo, o que constituiu uma descoberta decisiva (RONAN, 1987, p. 19). No final do século XIX Charles Sherrington acreditava que a mente era uma entidade não física, enquanto o corpo era um organismo físico, o pesquisador referia-se à transmissão de impulsos dos nervos. Os estudos de Sherrington foram baseados na pesquisa desenvolvida por Ramón y Cajal, que em 1880, em um trabalho microscópico descobriu que os nervos de todos os animais eram feitos de unidades individuais, os “neurônios”. Em 1906 Sherrington publicou Ação Integrada do Sistema Nervoso, livro que influenciou por 50 anos o pensamento sobre o comportamento e a fisiologia. Esse livro incorporava sua abalizada opinião de que havia três níveis em que se devia estudar o comportamento animal: o nível físico-químico, referente às ações dentro dos neurônios individuais, que dava ao animal o aspecto de “máquina”, o nível da psique, no qual os processos neurológicos se unem para formar uma criatura pensante e perceptiva, e, em terceiro lugar, um nível de relacionamento mente-corpo” (RONAN, 1987, p. 99). No início do século XX, surgiu uma crença de que todos os fenômenos da vida podiam ser reduzidos às leis básicas da química e da física, Jacques Loeb foi um líder dessa escola mecanicista da vida (RONAN, 1987). Em 1930 biólogos procuravam encontrar relações no comportamento e na organização de um organismo, essas teorias ficaram conhecidas como fisiologia experimental, que é o oposto do pensamento da Mecânica de Desenvolvimento de Loeb. 59 Ainda na primeira metade do século XX, pesquisadores como Ivan Pávlov, por meio de pesquisa em cães concluiu que todos os comportamentos é um misto entre estímulos internos e externos aos nervos, e conclui que a aprendizagem era feita pela composição de reflexos, Pávlov proporcionou a descoberta da relação entre comportamento e a fisiologia (RONAN, 1987). 60 3 O ENSINO DA DISCIPLINA DE ANATOMIA HUMANA NOS CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE A anatomia pode ser definida como a parte da biologia que se encarrega de estudar a forma e a estrutura dos seres vivos e quando somente é focada na anatomia dos seres humanos, denomina-se de Anatomia Humana. Esse segmento de estudo é uma disciplina que se encontra nos cursos de Medicina, Odontologia, Biomedicina, Farmácia, Educação
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