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RESUMO DIREITO CIVIL NP3 FRANCISCA JERLANDIA CLARENTINO DA SILVA (@JER.ESTUDANTE) 2020.1 BENS: CONCEITO DE BENS: “As coisas são materiais e concretas, enquanto que se reserva para designar imateriais ou abstratos o nome bens, em sentido estrito”. Coisa seria gênero, e bem seria espécie. “Coisa é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem”. Já “bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico”. ✓ Quanto aos animais, são enquadrados atualmente como coisas dentro do Direito Privado Brasileiro. Os animais, via de regra, se enquadram na categoria de bens semoventes, isto é, ‘móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Três correntes sobre o tema: A primeira pretende elevar os animais ao status de pessoa, seriam parentes muito próximos dos humanos. A segunda corrente sustenta que “o melhor seria separar o conceito de pessoa e o de sujeito de direito” Terceira corrente, a mais tradicional, os animais, mesmo os de companhia ou de estimação, devem permanecer dentro da categoria das coisas e bens. PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DOS BENS: Classificação quanto à tangibilidade: ▪ Bens corpóreos, materiais ou tangíveis – são aqueles bens que possuem existência corpórea, podendo ser tocados. Exemplos: uma casa, um carro. ▪ Bens incorpóreos, imateriais ou intangíveis – são aqueles com existência abstrata e que não podem ser tocados pela pessoa humana. A ilustrar, podem ser citados como bens incorpóreos os direitos de autor, a propriedade industrial, o fundo empresarial, a hipoteca, o penhor, a anticrese. ▪ Os primeiros (CORPOREOS) podem ser objeto de contrato de compra e venda, enquanto os bens imateriais somente se transferem por contrato de cessão, bem como não podem, em teoria tradicional, ser adquiridos por usucapião, nem ser objeto de tradição. ▪ Os objetos de primeira ordem são os bens materiais e imateriais relativos às invenções. ▪ Os objetos de segunda ordem são os direitos e as relações jurídicas a eles atinentes. Classificação dos bens quanto à mobilidade: ▪ Bens imóveis (arts. 79 a 81 do CC) – São aqueles que não podem ser removidos ou transportados sem a sua deterioração ou destruição. ✓ Bens imóveis por natureza ou por essência: são aqueles formados pelo solo e tudo quanto se lhe incorporar de forma natural (art. 79 do CC). Os bens imóveis por natureza abrangem o solo com sua superfície, o subsolo e o espaço aéreo. Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa ✓ Bens imóveis por acessão física industrial ou artificial: são aqueles bens formados por tudo o que o homem incorporar permanentemente ao solo, não podendo removê-lo sem a sua destruição ou deterioração. Tais bens imóveis têm origem em construções e plantações, situações em que ocorre a intervenção humana, não perdem caráter de imóveis. ✓ As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local. ✓ Os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem. ✓ Bens imóveis por acessão física intelectual: conceito relacionado com tudo o que foi empregado intencionalmente para a exploração industrial, aformoseamento e comodidade, São os bens móveis que foram imobilizados pelo proprietário, constituindo uma ficção jurídica, sendo tratados, via de regra, como pertenças - o que se entende por pertença, pela qual o bem móvel passa a compor o imóvel, para realizar suas finalidades”. ✓ Bens imóveis por disposição legal: tais bens são considerados como imóveis, para que possam receber melhor proteção jurídica. São bens imóveis por determinação legal: • O direito à sucessão aberta. • Os direitos reais sobre os imóveis, caso da hipoteca, como regra geral, e do penhor agrícola, excepcionalmente. ▪ Bens móveis (arts. 82 a 84 do CC) – Os bens móveis são aqueles que podem ser transportados, por força própria ou de terceiro, sem a deterioração, destruição e alteração da substância ou da destinação econômico-social: ✓ Bens móveis por natureza ou essência: são os bens que podem ser transportados sem qualquer dano, por força própria ou alheia. Quando o bem móvel puder ser movido de um local para outro, por força própria, será denominado bem móvel semovente, como é o caso dos animais. Os materiais destinados a uma construção, enquanto não empregados, conservam a sua mobilidade sendo, por isso, denominados bens móveis propriamente ditos. ✓ Bens móveis por antecipação: são os bens que eram imóveis, mas que foram mobilizados por uma atividade humana. Exemplo típico é a árvore cortada, que se transforma em lenha, para alguma finalidade. há uma situação oposta à imobilização por acessão física industrial. no caso de demolição, os bens imóveis podem ser mobilizados, ocorrendo a antecipação. ✓ Bens móveis por determinação legal: situações em que a lei determina que o bem é móvel: • Os direitos reais e as ações respectivas que recaiam sobre bens móveis, caso do penhor, em regra. • As energias com valor econômico, como é o caso da energia elétrica. • Os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações, caso dos direitos autorais. Classificação quanto à fungibilidade: ▪ Bens infungíveis – São aqueles que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade. São também denominados bens personalizados ou individualizados, sendo interessante lembrar que os bens imóveis são sempre infungíveis. Os veículos são bens infungíveis, todos os automóveis são identificados pelo número do chassi. Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa Jerlandia Sousa ▪ Bens fungíveis - fungíveis são os bens que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Todos os bens imóveis são personalizados, eis que possuem registro, daí serem infungíveis. Já os bens móveis são, na maior parte das vezes, bens fungíveis, mas podem também ser infungíveis, caso dos automóveis e de obras de arte em geral. ▪ Mútuo é o negócio que se refere ao empréstimo de coisas fungíveis (empréstimo de consumo). Por outro lado, o comodato é o contrato de empréstimo gratuito de coisas infungíveis (empréstimo de uso). Classificação quanto à consuntibilidade: Se o consumo do bem implica destruição imediata, a consuntibilidade é física ou de fato ou, ainda, fática. Se o bem pode ser ou não objeto de consumo, ou seja, se pode ser alienado, a consuntibilidade é jurídica ou de direito. ▪ Bens consumíveis – São bens móveis, cujo uso importa na destruição imediata da própria coisa (consuntibilidade física), bem como aqueles destinados à alienação (consuntibilidade jurídica). ▪ Bens inconsumíveis – São aqueles que proporcionam reiteradas utilizações, permitindo que se retire a sua utilidade, sem deterioração ou destruição imediata (inconsuntibilidade física), bem como aqueles que são inalienáveis (inconsuntibilidade jurídica). ▪ Os bens duráveis são aqueles que não desaparecem facilmente com o consumo, enquanto os não duráveis não têm permanência com o uso. Os prazos para reclamação de vícios decorrentes de tais produtos são de 90 e 30 dias, respectivamente, contados da tradição ou entrega efetiva da coisa (quando o vício for aparente) e do conhecimento do problema (quando o vício for oculto). Classificação quanto à divisibilidade: ▪ Bens divisíveis – “São os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam”. Exemplifica-se com sacas de cereais, que podem ser divididas sem qualquer destruição.▪ Bens indivisíveis – São os bens que não podem ser partilhados, pois deixariam de formar um todo perfeito, gerando a sua divisão uma desvalorização ou perda das qualidades essenciais do todo: Indivisibilidade natural: caso de uma casa térrea, bem imóvel, cuja divisão gera diminuição do seu valor. Indivisibilidade legal ou jurídica: caso da herança, que é indivisível até a partilha, por força do princípio da saisine, a hipoteca e as servidões. Divisibilidade convencional: se dois proprietários de um boi, convencionarem que o animal será utilizado para a reprodução, o que retira a possibilidade de sua divisão. Quanto ao condômino. Classificação quanto à individualidade: ▪ Bens singulares ou individuais – São bens singulares aqueles que, embora reunidos, possam ser considerados de per si, independentemente dos demais, “podem ser simples, quando as suas partes componentes encontram-se ligadas naturalmente (uma árvore, um cavalo), ou compostos, quando a coesão de seus componentes decorre do engenho humano (um avião, um relógio)”, um boi e uma casa. ▪ Bens coletivos ou universais – São os bens que se encontram agregados em um todo. Os bens coletivos são constituídos por várias coisas singulares, consideradas em conjunto e formando um todo individualizado, união fática ou jurídica. ✓ Universidade ou universalidade de fato – é o conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos, ligados entre si pela vontade humana e que tenham utilização unitária ou homogênea, sendo possível que tais bens sejam objeto de relações jurídicas próprias. Alcateia (lobos), manada (elefantes). ✓ Universidade ou universalidade de direito – é o conjunto de bens singulares, tangíveis ou não, a que uma ficção legal, com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade individualizada. É exemplos o patrimônio, a herança de determinada pessoa, o espólio, a massa falida. O patrimônio como “o complexo de relações jurídicas apreciáveis economicamente (ativas e passivas) de uma determinada pessoa. Ou seja, é a totalidade dos bens dotados de economicidade pertencentes a um titular, sejam corpóreos (casa, automóvel etc.) ou incorpóreos (direitos autorais)”. (Universalidade jurídica) Para a configuração da universalidade, não há necessidade de que o bem pertença à mesma pessoa. A pertinência subjetiva é mencionada expressamente como requisito da universalidade fática. Classificação quanto à dependência em relação a outro bem (bens reciprocamente considerados): ▪ Bens principais (ou independentes) – São os bens que existem de maneira autônoma e independente, de forma concreta ou abstrata. ▪ Bens acessórios (ou dependentes) – São os bens cuja existência e finalidade depende de outro bem, denominado bem principal. ▪ Princípio geral do Direito Civil – o bem acessório segue o principal, salvo disposição especial em contrário– princípio da gravitação jurídica. ▪ Quem for o proprietário do bem principal será também do bem acessório; a natureza jurídica do acessório será a mesma do principal. São bens acessórios, previstos no ordenamento jurídico brasileiro: • Frutos – são bens acessórios que têm sua origem no bem principal, mantendo a integridade desse último, sem a diminuição da sua substância ou quantidade. Os frutos, quanto à origem, podem ser assim classificados: Frutos naturais – são aqueles decorrentes da essência da coisa principal, como as frutas produzidas por uma árvore. Frutos industriais – decorre de uma atividade humana, caso de um material produzido por uma fábrica. Frutos civis – originados de uma relação jurídica ou econômica, de natureza privada, também denominados rendimentos. É o caso dos valores decorrentes do aluguel de um imóvel, de juros de capital. Quanto ao estado em que eventualmente se encontrarem, os frutos podem ser: • Frutos pendentes – são aqueles que estão ligados à coisa principal, e que não foram colhidos. Exemplo: maçãs que ainda estão presas à macieira. • Frutos percebidos – são os já colhidos do principal e separados. Exemplo: maçãs que foram colhidas pelo produtor. • Frutos estantes – são aqueles frutos que foram colhidos e encontram-se armazenados. Exemplo: maçãs colhidas e colocadas em caixas em um armazém. • Frutos percipiendos – são os frutos que deveriam ter sido colhidos, mas não foram. Exemplo: maçãs maduras que deveriam ter sido colhidas e que estão apodrecendo. • Frutos consumidos – são os frutos que foram colhidos e não existem mais. São as maçãs que foram colhidas pelo produtor e já vendidas a terceiros. ✓ Produtos – são os bens acessórios que saem da coisa principal, diminuindo a sua quantidade e substância - pepita de ouro retirada de uma mina. ✓ Pertenças – são bens destinados a servir outro bem principal, por vontade ou trabalho intelectual do proprietário. “São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro”. Servir de adorno ao bem principal, sem ser parte integrante. “Apesar de acessórios, conservam sua individualidade e autonomia, tendo apenas como principal uma subordinação econômico- jurídica, São pertenças todos os bens móveis que o proprietário, intencionalmente, empregar na exploração industrial de um imóvel, no seu aformoseamento ou na sua comodidade”, As pertenças podem ser classificadas em essenciais ou não essenciais. ✓ Os aparelhos de adaptação veicular para deficientes físicos são pertenças, não dependem diretamente do principal, destinados a facilitar o uso da coisa principal, no caso, o veículo. ✓ Pertença pode surgir por destinação da vontade do proprietário, o que é regra, ou de outra razão de ordem objetiva. ▪ Partes integrantes – as partes integrantes são os bens acessórios que estão unidos ao bem principal, formando com este último um todo independente. As partes integrantes são desprovidas de existência material própria, mesmo mantendo sua integridade, lâmpada e a lente não têm a mesma funcionalidade quando não estão ligadas ao principal. Como se vê, a parte integrante sempre deve ser analisada tendo outro bem como parâmetro. A diferença substancial em relação às pertenças é que as últimas têm certa individualidade. ▪ • Benfeitorias – são os bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas: ✓ Benfeitorias necessárias – sendo essenciais ao bem principal, são as que têm por fim conservar ou evitar que o bem se deteriore. Exemplo: a reforma do telhado de uma casa. ✓ Benfeitorias úteis – são as que aumentam ou facilitam o uso da coisa, tornando-a mais útil. Exemplo: instalação de uma grade na janela de uma casa. ✓ Benfeitorias voluptuárias – são as de mero deleite, de mero luxo, que não facilitam a utilidade da coisa, mas apenas tornam mais agradável o uso da coisa. Exemplo: construção de uma piscina em uma casa. ✓ Não se podem confundir as benfeitorias com as acessões, que são as incorporações introduzidas em outro bem, imóvel, pelo proprietário, possuidor e detentor. ✓ Diferencia as benfeitorias das pertenças é que as primeiras são introduzidas por quem não é o proprietário, enquanto as últimas por aquele que tem o domínio. Classificação em relação ao titular do domínio: ▪ Bens particulares ou privados – São os que pertencem às pessoas físicas ou jurídicas de Direito privado. Atendem exclusivamente aos interesses dos seus proprietários. ▪ Bens públicos ou do Estado – São os que pertencem a uma entidade de direito público interno, como no caso da União, Estados, Distrito Federal, Municípios, entre outros. Os bens públicos podem ser assim classificados: Bens de uso geral ou comum do povo. São os bens destinados à utilização do público em geral, sem necessidade de permissão especial, caso das praças, jardins,ruas, estradas, mares, rios, praias, golfos, entre outros. Bens de uso especial. São os edifícios e terrenos utilizados pelo próprio Estado para a execução de serviço público especial, havendo uma destinação especial, denominada afetação. Bens dominicais ou dominiais. São os bens públicos que constituem o patrimônio disponível e alienável da pessoa jurídica de Direito Público, abrangendo tanto móveis quanto imóveis. São exemplos de bens dominicais os terrenos de marinha, as terras devolutas, as estradas de ferro. Os bens públicos de uso geral do povo e os de uso especial são bens do domínio público do Estado. Os dominicais são do domínio privado do Estado. Bens públicos de uso comum do povo e de uso especial têm como característica a inalienabilidade, a inalienabilidade não é absoluta, podendo perder essa característica pela desafetação - “desafetação é mudança de destinação do bem, visando incluir bens de uso comum do povo, ou bens de uso especial, na categoria de bens dominicais, para possibilitar a alienação, nos termos das regras do Direito Administrativo”. FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS. CONCEITOS INICIAIS: Fato, que significa qualquer ocorrência que interessa ou não ao direito, ao âmbito jurídico, “são fatos jurídicos todos os acontecimentos que, de forma direta ou indireta, ocasionam efeito jurídico”. Subdivididos em fatos naturais e humanos. ▪ O fato jurídico natural é aquele que independe da atuação humana, podendo ser conceituado também como fato jurídico stricto sensu. Fato jurídico natural ordinário – é o evento natural previsível e comum de ocorrer, como é o caso da morte, do nascimento, do decurso de prazo, da prescrição e da decadência. Influência do elemento tempo. Fato jurídico natural extraordinário – é o evento decorrente da natureza, como o caso fortuito (evento totalmente imprevisível) ou a força maior (evento previsível, mas inevitável ou irresistível). Enchente. ▪ O fato humano ou jurígeno pode ser assim classificado: Ato jurídico em sentido amplo ou ato jurídico lato sensu – também denominado ato voluntário. Ato ilícito – é a conduta voluntária ou involuntária que está em desacordo com o ordenamento jurídico. O ilícito pode ser penal, administrativo ou civil, “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Ato ilícito é fato jurígeno, pela presença da vontade humana, mas não constitui ato jurídico em sentido amplo, pois o que é antijurídico não é jurídico. ▪ Ato jurídico lato sensu, que pode ser assim subclassificado: Ato jurídico em sentido estrito (ou ato jurídico stricto sensu) – configura-se quando houver objetivo de mera realização da vontade do titular de um determinado direito, não havendo a criação de instituto jurídico próprio para regular direito e deveres. Os efeitos da manifestação de vontade estão predeterminados pela lei. Ocupação de um imóvel, o pagamento de uma obrigação e o reconhecimento de um filho. Negócio jurídico – é o fato jurídico, com elemento volitivo qualificado, cujo conteúdo seja lícito, visando a regular direito e deveres específicos de acordo com os interesses das partes envolvidas. Há a criação de um instituto jurídico próprio, visando a regular direito e deveres. O negócio jurídico constitui o principal exercício da autonomia privada, da liberdade negocial. Pressupostos de existência, validade e eficácia. Contrato e o casamento. Ato-fato jurídico, um fato jurídico qualificado por uma atuação humana, por uma vontade não relevante juridicamente, “Nesse caso, é irrelevante para o direito se a pessoa teve ou não a intenção de praticá-lo”. O que se leva em conta é o efeito resultante do ato que pode ter repercussão jurídica, inclusive ocasionando prejuízos a terceiros. Ao tratar dos atos-fatos jurídicos, Pontes de Miranda desenvolve o conceito de atos-reais, Nos atos reais, a vontade não é elemento do suporte fático - o suporte fático seria suficiente, ainda sem ela. São os principais atos reais: • a) a tomada de posse ou aquisição da posse, • b) a transmissão da posse pela tradição; • c) o abandono da posse; • d) o descobrimento do tesouro; • e) a especificação; • f) a composição de obra científica, artística ou literária; • g) “a ocupação” DO ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO OU ATO JURÍDICO STRICTO SENSU: ✓ No ato jurídico em sentido estrito há uma manifestação de vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas em lei e não na vontade das partes, ausente qualquer composição volitiva entre os seus envolvidos. Ademais, não há criação de um instituto jurídico próprio, visando a regulamentar interesse das partes. ✓ Suporte fático a manifestação ou declaração unilateral de vontade cujos efeitos jurídicos são prefixados pelas normas jurídicas e invariáveis, reconhecimento de um filho, pagamento direto de uma obrigação, ocupação de um imóvel. ✓ O ato jurídico stricto sensu constitui um fato jurídico, bem como um fato jurígeno, pela presença do elemento volitivo. Constitui também um ato jurídico lato sensu. DO NEGÓCIO JURÍDICO: O negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo (lato sensu), constituindo ainda um fato jurídico, particularmente um fato jurígeno, pela presença da vontade. Toda a ação humana, de autonomia privada, com a qual os particulares regulam por si os próprios interesses, havendo uma composição de vontades, cujo conteúdo deve ser lícito. • O negócio jurídico típico por excelência é o contrato, concebido como um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, à modificação ou à extinção de direitos e deveres, com conteúdo patrimonial, todo contrato constitui negócio jurídico, sem exceção. • Os casos de nulidade ou anulabilidade do negócio geram o contrato nulo e anulável, respectivamente. • O casamento, do mesmo modo, constitui um negócio jurídico, especial ou sui generis. • Os princípios sociais contratuais, caso da função social e da boa-fé objetiva. Principais classificações dos negócios jurídicos: As classificações a seguir servem tanto para os negócios quanto para os atos jurídicos stricto sensu. ▪ Quanto às manifestações de vontade dos envolvidos: ✓ Negócios jurídicos unilaterais – são aqueles atos e negócios em que a declaração de vontade emana de apenas uma pessoa, com um único objetivo. É exemplos de negócios jurídicos unilaterais o testamento, a renúncia a um crédito e a promessa de recompensa. Os negócios unilaterais podem ainda ser classificados em receptícios – aqueles em que a declaração deve ser levada a conhecimento do seu destinatário para que possa produzir efeitos – e em não receptícios – em que o conhecimento pelo destinatário é irrelevante. ✓ Negócios jurídicos bilaterais – são aqueles em que há duas manifestações de vontade coincidentes sobre o objeto ou bem jurídico tutelado. O contrato. ✓ Negócios jurídicos plurilaterais – são os negócios jurídicos que envolvem mais de duas partes, com interesses coincidentes no plano jurídico. Contrato de consórcio e o contrato de sociedade entre várias pessoas. ▪ Quanto às vantagens patrimoniais para os envolvidos: ✓ Negócios jurídicos gratuitos – são os atos de liberalidade, que outorgam vantagens sem impor ao beneficiado a obrigação de uma contraprestação. Não envolvem, portanto, sacrifício patrimonial de todas as partes, situações em que uma parte só tem vantagens, não assumindo deveres. Exemplo é o contrato de doação pura. ✓ Negócios jurídicos onerosos – são os atos que envolvem sacrifícios e vantagens patrimoniais para todas as partes no negócio, como é o caso dos contratos de locação e de compra e venda. ✓ Negócios jurídicos neutros – são aqueles em que não há uma atribuição patrimonial determinada, não podendo ser enquadrados como gratuito ou oneroso caso da instituiçãode um bem de família voluntário ou convencional. ✓ Negócios jurídicos bifrontes – são aqueles que tanto podem ser gratuitos como oneroso o que depende da autonomia privada, da intenção das partes. Podem ser citados os contratos de depósito e de mandato, que podem assumir as duas formas, pela presença ou não da remuneração. ▪ Quanto aos efeitos, no aspecto temporal: ✓ Negócios jurídicos inter- vivos – são aqueles destinados a produzir efeitos desde logo, isto é, durante a vida dos negociantes ou interessados, como ocorre, por exemplo, nos contratos, caso da compra e venda; e no casamento. ✓ Negócio jurídico mortis causa – aqueles cujos efeitos só ocorrem após a morte de determinada pessoa, como, para ilustrar, se dá no testamento e no legado. ▪ Quanto à necessidade ou não de solenidades e formalidades: ✓ Negócios jurídicos formais ou solenes – são aqueles que obedecem a uma forma ou solenidade prevista em lei para a sua validade e aperfeiçoamento, caso do casamento e do testamento. ✓ Negócios jurídicos informais ou não solenes – são aqueles que admitem forma livre, sentido de simplicidade ou de facilitação do Direito Civil. São, por regra, negócios jurídicos informais a locação, a prestação de serviços e a compra e venda de bens móveis. ▪ Quanto à independência ou autonomia: ✓ Negócios jurídicos principais ou independentes – são os negócios que têm vida própria e não dependem de qualquer outro negócio jurídico para terem existência e validade. Exemplo a ser citado é o contrato de locação. ✓ Negócios jurídicos acessórios ou dependentes – são aqueles cuja existência está subordinada a outro negócio jurídico, denominado principal. Exemplo típico de negócio acessório é o contrato de fiança, geralmente relacionado com um contrato de locação. ▪ Quanto às condições pessoais especiais dos negociantes: ✓ Negócios jurídicos impessoais – são aqueles que não dependem de qualquer condição especial dos envolvidos, podendo a prestação ser cumprida tanto pelo obrigado quanto por um terceiro. Exemplo é o contrato de compra e venda. ✓ Negócios jurídicos personalíssimos ou intuitu personae – são aqueles dependentes de uma condição especial de um dos negociantes, havendo uma obrigação infungível, como ocorre no contrato de fiança. Como outro exemplo cite-se a contratação de um pintor famoso, com talento único, para fazer o retrato de uma família. ▪ Quanto à sua causa determinante: ✓ Negócios jurídicos causais ou materiais – são aqueles em que o motivo consta expressamente do seu conteúdo como ocorre, por exemplo, em um termo de separação ou de divórcio. ✓ Negócios jurídicos abstratos ou formais – são aqueles cuja razão não se encontra inseridos no conteúdo, decorrendo dele naturalmente. Exemplos que podem ser citados são um termo de transmissão da propriedade e a simples emissão de um título de crédito. ▪ Quanto ao momento de aperfeiçoamento: ✓ Negócios jurídicos consensuais – são aqueles que geram efeitos a partir do momento em que há o acordo de vontades entre as partes, como ocorre na compra e venda pura. ✓ Negócios jurídicos reais – são aqueles que geram efeitos a partir da entrega do objeto, do bem jurídico tutelado. Alguns contratos, como o comodato, o mútuo, o contrato estimatório e o depósito, assumem essa forma. ▪ Quanto à extensão dos efeitos: ✓ Negócios jurídicos constitutivos – é os negócios que geram efeitos ex nunc partir da sua conclusão, pois constituem positiva ou negativamente determinados direitos, como ocorre com a compra e venda. ✓ Negócios jurídicos declarativos – são os negócios que geram efeitos ex tunc, a partir do momento do fato que constitui os seus objetos, caso da partilha de bens no inventário. Os elementos constitutivos do negócio jurídico: • O negócio jurídico tem três planos: o Plano da existência; o Plano da validade; o Plano da eficácia. • No plano da existência: Constituem, portanto, o suporte fático do negócio jurídico (pressupostos de existência). Apenas substantivos, sem qualquer qualificação, ou seja, substantivos sem adjetivos. Esses substantivos são: partes (ou agentes), vontade, objeto e forma. Não havendo algum desses elementos, o negócio jurídico é inexistente. • No segundo plano, o da validade, as palavras acima indicadas ganham qualificações, ou seja, os substantivos recebem adjetivos, a saber: partes ou agentes capazes; vontade livre, sem vícios; objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita e não defesa em lei. O negócio jurídico que não se enquadra nesses elementos de validade é, por regra, nulo de pleno direito, ou seja, haverá nulidade absoluta ou nulidade. Eventualmente, o negócio pode ser também anulável (nulidade relativa ou anulabilidade). • No plano da eficácia estão os elementos relacionados com a suspensão e resolução de direitos e deveres, estão os efeitos gerados pelo negócio em relação às partes e em relação a terceiros, ou seja, as suas consequências jurídicas e práticas. • O fato jurídico pode ser valer e não ser eficaz, ou ser, não valer e ser eficaz. É possível que o negócio seja existente, inválido e eficaz, caso de um negócio jurídico anulável que esteja gerando efeitos. Também é possível que o negócio seja existente, válido e ineficaz. Elementos essenciais do negócio jurídico: o Estão no plano da existência e da validade: São elementos essenciais: a capacidade do agente; o objeto lícito, possível, determinado ou determinável; à vontade ou consentimento livre e a forma prescrita ou não defesa em lei. • A capacidade do agente: Como todo negócio jurídico traz como conteúdo uma declaração de vontade (o elemento volitivo que caracteriza o ato jurígeno), a capacidade das partes é indispensável para a sua validade. Enquanto os absolutamente incapazes devem ser representados por seus pais ou tutores; os relativamente incapazes devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O negócio praticado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação é nulo, O realizado por relativamente incapaz sem a correspondente assistência é anulável. Para determinados negócios, exige-se a capacidade especial para certos atos, denominada legitimação. • Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: Somente será considerado válido o negócio jurídico que tenha como conteúdo um objeto lícito, nos limites impostos pela lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública, à boa-fé e à função social ou econômica de um instituto. Como se sabe, ilícito o objeto, nulo será o negócio jurídico. ✓ Além disso, o objeto deve ser possível no plano fático. Se o negócio implicar prestações impossíveis, também deverá ser declarado nulo. Tal impossibilidade pode ser física ou jurídica. A impossibilidade física está presente quando o objeto não pode ser apropriado por alguém ou quando a prestação não puder ser cumprida por alguma razão. Por outra via, a impossibilidade jurídica está presente quando a lei vedar o seu conteúdo. ✓ A impossibilidade inicial do objeto não gera a nulidade do negócio se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. Em suma, somente a impossibilidade absoluta é que tem o condão de nulificar o negócio. ✓ O objeto do negócio deve ser determinado ou, pelo menos, determinável. O objeto deve ser ainda consumível do ponto de vista jurídico, o objeto deve ser alienável. • Vontade ou consentimento livre: Vale dizer que a vontade é que diferencia o negócio, enquadrado dentro dos fatos humanos, fatos jurígenos e atos jurídicos, dos fatos naturais ou stricto sensu. O consentimento pode ser expresso – escrito ou verbal, de forma pública e explícita – ou tácita – quando resulta de um comportamento implícito do negociante, que importe em concordância ou anuência. ✓ O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessáriaa declaração de vontade expressa. Desse modo, por regra, quem cala não consente, eis que, para que seja válida a vontade tácita, devem estar preenchidos os requisitos apontados. ✓ Sendo o consentimento inexistente, o negócio jurídico existirá apenas na aparência, mas não para o mundo jurídico, sendo passível de declaração de inexistência ou de nulidade absoluta. • Forma prescrita ou não defesa em lei: “não defesa” significa não proibida. Forma como “o conjunto de solenidades, que se devem observar, para que a declaração da vontade tenha eficácia jurídica. É o revestimento jurídico, a exteriorizar a declaração de vontade. Esta é a substancia do ato, que a forma revela”. ✓ Desse modo, os negócios jurídicos, em regra, são informais, que consagra o princípio da liberdade das formas. ✓ Solenidade significa a necessidade de ato público (escritura pública), enquanto formalidade constitui qualquer exigência de qualquer forma apontada pela lei, como, por exemplo, a de forma escrita. No contrato solene, a ausência de forma torna-o nulo. ✓ As formalidades ou solenidades previstas em lei ainda têm por finalidade garantir a autenticidade do negócio, para, eventualmente, facilitar sua prova, bem como garantir que a autonomia privada. ✓ Não se pode confundir a escritura pública com o registro. A primeira representa o próprio contrato de compra e venda que pode ser celebrado em qualquer Tabelionato, o registro gera a aquisição da propriedade imóvel, devendo ocorrer, necessariamente, no Cartório de Registro de Imóveis do local em que o bem estiver situado. A escritura pública, sendo forma, está no plano da validade do negócio jurídico; o registro imobiliário está no plano de sua eficácia. Elementos naturais ou identificadores do negócio jurídico: Os elementos naturais do negócio jurídico são aqueles que identificam determinado negócio jurídico celebrado. Têm a sua origem nos efeitos comuns do negócio, Sendo o elemento natural também essencial, e havendo vício ou problema quanto a esse, poderá o negócio jurídico ser declarado nulo ou anulável. Elementos acidentais do negócio jurídico: o Os elementos acidentais do negócio jurídico são aqueles “que se lhe acrescentam com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequências naturais”. o Não estão no plano da sua existência ou validade, mas no plano de sua eficácia, sendo a sua presença até dispensável. o Condição, o termo e o encargo ou modo.
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