Buscar

Resenha: KEOHANE, Robert and MARTIN, Lisa (1995). The Promise of Institutionalist Theory. International Security, 20(1): 39-51.

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Resenha: KEOHANE, Robert and MARTIN, Lisa (1995). “The Promise of Institutionalist
Theory”. International Security, 20(1): 39-51.
Por Raissa Januzzi Pessotti
Este artigo dialoga diretamente com os trabalhos do realista ofensivo, John
Mearsheimer, que vem criticando e reduzindo a capacidade explicativa da escola
institucionalista. Keohane e Lisa Martin em resposta, vão pontuar os erros centrais da
própria teoriazação de Mearsheimer e rebater suas principais afirmações sobre o
institucionalismo: divisão entre segurança e problemas econômicos, desimportância dos
ganhos relativos e falta de trabalhos empíricos que demonstram a importância das
instituições.
Na primeira parte, utilizam as seguintes afirmações de Mearsheimer, que
pós-Guerra Fria a importância das instituições internacionais é declinante, portanto,
passam a exercer cada vez menos influência significativa sobre o comportamento dos
Estados e sobre a manutenção da estabilidade internacional, assim como os
investimentos realizados pelos Estados na expansão das instituições é em função da
“cegueira ideológica dos políticos americanos, que hostilizam o realismo”
(MEARSHEIMER, p. 47-49).
A qual os autores respondem, enfatizando a centralidade e dominância do
pensamento realista na política e cobram evidências tanto da afirmação ilusão dos líderes
políticos quanto do papel marginal das instituições. E contra-argumentam que o aumento
substancial de investimentos dos Estados no fortalecimento e expansão das instituições
é evidência de uma alternativa concreta ao realismo em si.
Uma das diferenças centrais das teorias realistas e institucionalistas, assenta-se
sobre a abordagem científica, a primeira organiza-se por meio de generalizações e carece
de explicações sobre as condições em que estas são aplicadas, enquanto o
institucionalismo, centra-se em examinar atentamente em que circunstâncias específicas
as instituições têm impacto e quais proposições realistas são válidas.
Por um lado é demonstrado que as instituições podem, em determinadas
circunstâncias, equilibrar os efeitos da política de poder e interesse, reduzir custos de
transação, estabelecer pontos de cooperação, diminuir a desconfiança, fornecer
informações, sendo uma variável tanto independente quanto dependente e possuindo
efeito interativo. Enquanto as proposições realistas generalistas de motivação estatal
baseada em ganhos relativos e que os Estados buscam indubitavelmente estabelecer-se
como potências militares, podem ser falsas em determinadas circunstâncias. Fica claro
aqui a falta de explicações de condições específicas dos realistas.
Sobre o suposto dilema entre economia e segurança, e a preocupação dos estados
com ganhos relativos, Keohane e Martin, apresentam inicialmente duas principais
correções sobre a interpretação institucionalista de Mearsheimer. A primeira é que não há
predominância na literatura institucionalista, de que exista a afirmada divisão entre
economia política e segurança. A teoria pode ser aplicada aos dois campos, e na
segurança, argumentam os autores, as instituições podem prover informações que levam
ao desenvolvimento de políticas com utilidade maximizada. O que nem sempre é atingido,
pela premissa realista de análise de pior caso, esperando os piores resultados, muito em
função da falta de informação. Neste ponto, os autores criticam a tendência de
Mersheimer de privilegiar seu próprio ponto de vista, inviabilizando o reconhecimento do
poder do institucionalismo aplicado à área de segurança.
A segunda correção é de que a preocupação sobre a distribuição de ganhos não é
tão importante quanto evitar a trapaça. Diferentemente dos realistas, os institucionalistas
partem do princípio de determinar condições, nas quais os ganhos relativos são
importantes e o papel das instituições nessas condições. As respostas institucionalistas
são, de que a importância dos ganhos relativos dependem do número de grandes
potências no sistema e se a vantagem militar é defensiva ou ofensiva. Segundo alguns
trabalhos como os de Duncan Snidal, a tendência é de que a importância dos ganhos
relativos sejam minimizados em situações cooperativas em que os potenciais ganhos
absolutos são robustos.
Já quando os ganhos distributivos são importantes, o papel das instituições é
acrescido, amenizando duas das principais barreiras para a cooperação: diminuindo a
possibilidade de trapaça e estabelecendo pontos focais para coordenar o alcance dos
melhores resultados cooperativos para os envolvidos. As instituições, provendo
informações sobre os ganhos distributivos, também mitigam o medo realista dos ganhos
distributivos dos oponentes serem maiores. Dada a importância das instituições,
demonstrada pelos autores, o foco de pesquisa recai acerca das especificações sobre as
condições em que as instituições, na ausência de um sistema central de fiscalização
podem contribuir provendo soluções para o problema dos ganhos distributivos.
1
Acerca das pesquisas sobre as instituições, dois pontos centrais sobre a
conceitualização na teoria institucionalista são sublinhados, as instituições entendidas
como variáveis dependentes e independentes. O primeiro, porque são criadas pelos
Estados de acordo com seus interesses, onde os institucionalistas focam em examinar as
condições em que são criadas. O segundo, porque as instituições podem mudar e exercer
impacto sobre o comportamento dos Estados. Os autores afirmam então, que o foco da
necessidade de estudos empíricos recaem sobre “distinguir os efeitos das condições
subjacentes daquelas das próprias instituições” (p. 47), sugerindo o estudo de casos em
que a conjuntura muda e as instituições permanecem relativamente constantes e
vice-versa.
Keohane e Martin concordam com Mearsheimer, que “mais trabalho empírico é
necessário antes que um julgamento final seja feito sobre o poder explicativo do
institucionalismo liberal” (p. 26). Como foi demonstrado mais de uma vez ao longo do
artigo, são evidentes os dados sobre a importância das instituições, seja na área de
segurança ou econômica. Além dos argumentos teóricos, os autores apresentam
exemplos como os dos problemas de poluição por óleo e os impactos do tratado o
comportamento Estatal; o caso da Corte Europeia de Justiça e o impacto na integração
europeia; o Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o impacto das normas e regras na
estabilidade; o caso das Ilhas Malvinas e o papel da cooperação coercitiva na imposição
de sanções econômicas.
Logo, o argumento realista de que as instituições apenas produzem efeitos
marginais no comportamento dos Estados, se mostra contraditório e centrado no próprio
ponto de vista, porque não seria racional o investimento estatal nas instituições se estas
não fizessem diferença. Neste ponto, Keohane e Martin invertem a questão e desafiam os
realistas “a construir uma explicação da variação e efeitos institucionais que possam ser
testados contra a alternativa institucionalista” (p. 48).
Segundo os autores, o que dificulta o reconhecimento da importância das
instituições pelos realistas a exemplo de Meirshmeier, são os limites impostos pelo seu
modo de teorizar, privilegiando o próprio ponto de vista, falhando na explicação das
condições de operacionalização de suas generalizações e sua lógica contraditória. Porém,
os argumentos explanados que sublinham a necessidade das instituições são
perfeitamente capazes de demonstrar que em síntese, as instituições importam e o ponto
2
de divergência fundamental entre realistas e institucionalistas liberais é determinar com
exatidão, quais as condições de criação das instituições e a extensão de seus impactos.
Keohane e Lisa Martin tecem neste artigo, críticas muito objetivas e certeiras sobre
o que pode ser considerado “falhas do teorizar” realistas, sobre as quais são estruturadas
suas premissas e que refletem na interpretação dos realistas sobre demais teorias.
Considero um dos pontos mais interessantes e profícuos para o desenvolvimentoda
disciplina, além das críticas ao realismo, que instigam o aprofundamento de suas
premissas generalizadas, o convite que os autores fazem de pensar junto, de abrir o
debate para um diálogo construtivo cooperativo.
Por um lado estimulando realista a absorver elementos institucionais liberais
empiricamente comprovados e, por outro, incorporar os componentes e críticas realistas,
que possam enriquecer o desenvolvimento do institucionalismo. Por fim, o toque de
genialidade do artigo está na inversão da lógica, em vez de apenas rebater as críticas,
instigar os realistas a proporem uma alternativa diante dos dos dados expostos e que
possa subsidiar os argumentos que utilizam para criticar o institucionalismo.
3

Outros materiais