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DADOS DE COPYRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo Sobre nós: O Le Livros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: lelivros.love ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link. "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutando por dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo nível." A TEORIA DUOHEXADIMENSIONAL DO DIREITO José Antônio da Silva (Tônio Verve) Amazon (Create Space) Título original em português: A Teoria Duohexadimensional do Direito Copyright © 2016 by José Antônio da Silva (Tônio Verve) Publicado pela Editora Amazon. Este livro contempla as regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Editor: José Antônio da Silva (Tônio Verve) Produção editorial: José Antônio da Silva (Tônio Verve) Revisão de prova: José Antônio da Silva (Tônio Verve) Diagramação: José Antônio da Silva (Tônio Verve). Ilustração e Capa: José Antônio da Silva (Tônio Verve) DADOS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Silva, José Antônio (Tônio Verve). A Teoria Duohexadimensional do Direito / José Antônio da Silva (Tônio Verve); Capa: José Antônio da Silva Rio de Janeiro, RJ – Create Space, 2016. Título original: A Teoria Duohexadimensional do Direito ISBN – 13: 978-1533689917 TÍTLE ID: 6332840 1.Direito - Teoria Jurídica. 2. Ciência Jurídica – Seis dimensões. 3. Conexões: linguagem. Seguimentos conhecimento humano, Índices para catálogo sistemático: 1.Direito: Dimensões: Cultura: Conhecimento humano: Anexos. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer processo, sem a permissão expressa do autor. É proibida a reprodução por xerox. A Editora Amazon é filiada nos Estados Unidos da América. Edição brasileira- 2016. Direitos em língua portuguesa adquiridos por José Antônio da Silva (Tônio Vever) Impresso no Brasil. SOBRE O AUTOR José Antônio da Silva (Tônio Verve): nasceu em 01 de Janeiro de 1959, na cidade do Rio de Janeiro – RJ, Brasil. Professor de Direito Tributário, Empresarial e Civil da Universidade Estácio de Sá. Técnico de Contabilidade; Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Bacharel em Direito pela Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, Bacharel em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá, Pós-graduação lato senso em Docência do Ensino Superior pela Universidade Castelo Branco. Cursou Direito Público e Privado pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, Fundação Escola Superior da Defensoria do Estado do Rio de Janeiro e Programme in Sport Management and Law (Gestão, Marketing e Direito do Esporte), pelo CIES – Centre International d’Étude du Sport, FGV - Fundação Getúlio Vargas e FIFA. - Fédération Internationale de Football Association. Poeta, Compositor, Músico Violonista Profissional. Professor de Teoria Musical e Violão Popular. Escritor Brasileiro. DEDICATÓRIAS “– Dedico essa obra científica, ideias e ideais, ao meu Pai: José Pedro da Silva. Homem que me apontou o caminho do bem. Ensinou-me que o amor é a mais poderosa energia que existe no universo, e me iluminou ao afirmar que a minha maior missão aqui na Terra seria propagar a minha Arte e conhecimento aos meus semelhantes. O seu amor está presente em todas as partículas do meu corpo e em cada expressão da minha alma”. “- Para os meus alunos e pra ti sociedade brasileira, as minhas primeiras ideias e proposições para o amanhã”. SUMÁRIO 1. PREFÁCIO I ...........................................................9 1.1 PREFÁCIO II ......................................................14 2 A DICOTOMIA EXISTENCIAL DAS ORDENS NATURAL E CULTURAL ........................................16 2.1 AS ORDENS NATURAL, CULTURAL E SEUS ELEMENTO ..............................................................16 2.1.2 Os Planos da existência, das concepções e da eficácia ...............................................................16 2.1.3 O Homem Primitivo como Fruto da Ordem Natural .....................................................................17 2.1.4 O homem natural e o homem cultural .........19 2.1.5 As coisas materiais e imateriais como objetos mediatos ................................................... 20 2.1.6 As ações, condutas e atividades humanas como objetos imediato ......................................... 21 2.1.7 As concepções criadas pelo Homem ......... 24 2.1.8 O homem, a sociedade e a cultura ............. 26 2.1.9 As culturas, popular, religiosa, intelectual e desportiva .............................................................. 27 2.2 AS RELAÇÕES JURÍDICAS-SUJEITOS DE DIREITO, O DIREITO OBJETIVO E OBJETOS DE INCIDÊNCIA DA NORMA JURÍDICA .................... 34 2.2.1 A sociedade, o Estado e o Direito .............. 34 2.2.2 O Homem Sujeito Titular de Direito, as Relações Jurídicas e seus elementos ................. 37 2.2.3 As atividades humanas - objetos imediatos das relações jurídicas ........................................... 42 2.2.4 As coisas e os bens - objetos mediatos das relações jurídicas .................................................. 51 2.2.5 A atividade desportiva - objeto imediato de relações jurídicas .................................................. 53 3 A TEORIA DUOHEXADIMENSIONAL DO DIREITO .................................................................................. 70 3.1 PRELIMINARES ............................................... 70 3.1.1 Introdução ..................................................... 70 3.1.2 Objetivos ....................................................... 73 3.1.3 Fundamentação teórica ............................... 76 3.1.4 Metodologia .................................................. 79 3.2 A TEORIA DUOHEXADIMENSIONAL DO DIREITO ................................................................. 80 3.2.1 Primeira Dimensão - As ordens natural e cultural ................................................................... 80 3.2.2 Segunda Dimensão - As concepções materializáveis as meramente abstratas ............ 84 3.2.3 Terceira Dimensão - Atos de cooperação e de concorrência-objetos imediatos das relações jurídicas .................................................................. 88 3.2.4 Quarta Dimensão - O espaço e o tempo jurídicos ................................................................ 110 3.2.5 Quinta Dimensão - As dialéticas anímica, substancial e processual .................................... 126 3.2.6 Sexta Dimensão - Os poderes individual e social. Seus respectivos deveres ...................... 131 3.3 CONCLUSÕES ............................................... 154 4 ANEXOS ............................................................ 159 4.1 ANEXO I - PROPOSTA DE UMA NOVA ORDEM JURÍDICA DESPORTIVA BRASILEIRA .............. 159 4.1.1 Propostade reforma da nossa Constituição Desportiva ............................................................ 159 4.1.2 Propostas de alterações no Código Civil Brasileiro para a consolidação de um novo Sistema Desportivo Nacional ............................. 174 4.1.3 Propostas de alterações da Lei das Sociedades Anônimas para a consolidação de um novo Sistema Desportivo Nacional ................... 182 4.1.4 Propostas de alterações do Estatuto da Microempresa e da Empresa de pequeno porte para a consolidação de um novo Sistema Desportivo Nacional ............................................ 194 4.1.5 Propostas de alterações da Lei Pelé – um novo Sistema Desportivo Nacional ................... 198 4.2 ANEXO II ......................................................... 253 4.2.1 Proposta de Emenda à Constituição nº de 2015 enviada ao congresso nacional ................ 253 4.2.2 Dispositivos da Constituição alterados ... 257 4.2.3 Justificativa ................................................. 259 4.3 ANEXO III - POESIAS MUSICALIZADAS ...... 274 4.3.1 Pra que Deus Aqui Possa Cantar .............. 274 4.3.2 Conversas de Vidas .................................... 276 4.3.3 Mistério da Vida ........................................... 277 4.3.4 Ridícula Partícula ....................................... 278 4.3.5 Arte Nordestina ........................................... 279 4.3.6 A Vida .......................................................... 280 4.3.7 De mãos Dadas ........................................... 281 5 BIBLIOGRAFIA .................................................. 282 1.PREFÁCIO I Não há palavras para descrever o quão me senti honrado e importante ao ser convidado a prefaciar a obra do amigo e Professor José Antônio da Silva. Ser humano leve, irmão de alma. Talvez pela nossa similitude poética de ver o mundo o tenha cativado a este convite. Tenho com ele muito mais a aprender e, certamente, a minha maior dificuldade em nominar o brilhantismo e o ineditismo da abordagem de um tema complexo, dada a interdisciplinaridade do Direito, com a filosofia, antropologia, sociologia jurídica, ciência política e econômica. O Professor Antônio foi quem me oportunizou o ingresso na docência universitária e agradeço a ele este passo importante que dei na vida, pelo qual serei eternamente grato. Nasceu daí a grande relação de discípulo que sou dele, razão pela qual será meu eterno Professor, hoje, também amigo, e por amor a coerência, que minhas impressões trazidas no prefácio possuem um grau de limitação que está muito longe de superar o Mestre. À influência antropológica à teoria acaba por remeter o Homem não somente pessoa, ao lembrar que cada sociedade possui uma herança de ordem natural e cultural, sublimada nos seus desejos, tão mencionados por Plantão (Eros), Aristóteles (philia) e Jesus (ágape), mas inicia uma jornada inédita à Ciência do Direito, que tem como tradição a demonstração de uma construção primordialmente de relações de poder, desconsiderando as origens humanas, resultando, obviamente nas insolúveis anomias do sistema jurídico, tão criticadas por Kelsen e Bobbio, e que vivemos atualmente. Não é por outro motivo que as soluções aos conflitos sistêmicos do Direito Objetivo apresentam-se no retorno dos valores do homem como ser humano e não somente como expressão de uma relação de poder e dominação, reavivando a proteção destes direitos pelos tratados de direitos humanos, em especial o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, como valores inerentes à natureza humana, documento de ordem universal, vinculativo aos Estados-partes, o que somente reafirma a necessidade das novas perspectivas hermenêuticas sobre os vínculos que tornam coesas, e acima de tudo, legitimadas a gerir os conflitos do homem e da sociedade em uma relação sinalagmática e simbiótica entre o Homem e a Ciência Jurídica, que não deixou de ser considerada, como cita o autor, pelo parágrafo primeiro do artigo 1◦ da Lei 9.615/98. Nas palavras do Professor Antônio a “cultura é construção da humanidade” e na senda de seus ensinamentos a ela deve servir como “fonte material do homem cultural”, e é em razão dela que o Direito deve ser construído sob o manto protetor da “Reserva de Domínio Social ou Estatal”, sob pena de vivenciarmos o colapso de legitimação do poder que hoje somos testemunhas, efeito colateral do utilitarismo custo/benefício oriundo do Capitalismo, ao que parece única fonte de domínio econômico norteadora dos valores normativos declarados pelo Estado, inclusive as destinadas para incidir sobre as atividades desportivas, deixando ao largo seu escopo de ser bem cultural material da pessoa humana. A construção da Teoria Duohexadimensional do Direito, de alcance pleno em todas as searas da Ciência Jurídica atribui ao Direito Desportivo caráter de valor transindividual de categoria social humanística e indissociável à unidade de sentido e valor, expressão da dignidade da pessoa humana, fazendo integrar sua teoria na teoria dos cinco componentes de Podlech mencionados por Canotilho criando, com isso, um mecanismo teórico sólido contra a coisificação do Homem, navegando nas mesmas águas epistemológicas que Peter Härbele em sua Fórmula-objeto de Düring. Fui verdadeiramente premiado ao me deliciar na leitura da obra do Professor e perceber que seu texto, como disse Schopenhauer é a mais “pura intuição sensível do espaço e do tempo”, mas com o toque de Midas de pé no chão do autor, pois, A Teoria Duohexadimensional do Direito passa a ser um referencial teórico para transformar a Ciência Jurídica na sua mais genuína expressão da regulação humana com base em um espírito humanístico, categórico da verdade como processo fenomenológico e emancipatório da vontade humana sem desconsiderar nenhum caráter anímico do ser, e ao mesmo tempo servirá de anteparo aos abusos do poder seja ele econômico, religioso ou moral, que sempre construíram um categórico de verdade na qual não suporta o passar de um tempo globalizado ou de um conceito de tempo e espaço tridimensional sem o reconhecimento de sua inadequação social com o tempo. Espero que o leitor perceba que apesar da complexidade dos argumentos há nas entranhas dessa obra um movimento visceral humanístico sensível à nossa realidade, fruto da necessidade de novos tempos e novos pensamentos, que somente poderiam fluir da alma de um poeta, compositor, músico e jurista, meu amigo, Professor e Mestre José Antônio da Silva (Tônio Verve). Meu apreço a obra e na esperança que nossos legisladores vejam nessas ideias uma luz no fim do túnel para uma nova era para a Ciência Jurídica. RUCHESTER MARREIROS BARBOSA 1.1PREFÁCIO II Muito me congratula o convite feito pelo Professor José Antônio da Silva, para prefaciar a sua mais nova empreitada jurídica: o livro A TEORIA DUOHEXADIMENSIONAL DO DIREITO. José é um estudioso de rara estirpe. Seus textos, sempre precisos e embebidos da orientação jurídica mais clássica, conduzem com segurança o leitor pelos corredores do conhecimento, especialmente em momentos atribulados como este. Afinal, atravessamos diversas mudanças nos mais variados aspectos da vida: sociais, políticos, culturais, entre muitos outros que tornam necessárias certas reflexões para que ajustes sejam realizados. A metodologia apresentada é segura e eficiente. Capítulos foram muito bem organizados e o texto igualmenteredigido, em linguagem clara sem descurar do tecnicismo em nenhum momento. É realmente impressionante o conteúdo, mormente se for considerada a elevada produtividade de José, seja em artigos e textos jurídicos nos mais variados meios (do físico ao eletrônico), além da presença em aulas, palestra e outros eventos. Se antes já admirava o seu trabalho, fico ainda mais impressionado após me debruçar sobre estas novas linhas, que comprovam todo este esmero, cuidado e amor no exercício da docência e na divulgação do conhecimento. É, realmente, um novo tempo para um novo ser humano! E, com ele precisamos de pessoas corajosas e conhecedoras da boa técnica que possam ajudar os demais que tanto se debruçam sobre questões do dia- a-dia. E José é, justamente, uma destas pessoas para nos conduzir. Parabenizo-o por mais esta empreitada jurídica. Que José continue com suas paixões pelo Direito, pela cátedra, e, principalmente, que continue a trilhar esse caminho maravilhoso de lutas e conquistas. Todos nós agradecemos. Sucesso do amigo dos tempos da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, quando foi reforçado nosso vínculo, respeito e comprometimento com o Direito. RODOLFO KRONEMBERG HARTMANN. Juiz Federal. Professor da EMERJ. Mestre em Direito. Escritor Brasileiro. 2 A DICOTOMIA EXISTENCIAL DAS ORDENS NATURAL E CULTURAL 2.1 AS ORDENS NATURAL, CULTURAL E SEUS ELEMENTOS 2.1.2 Os Planos da existência, das concepções e da eficácia Para o desenvolvimento da teoria que se propõe, fundamental a análise de no mínimo três dimensões, que aliadas poderão revelar conteúdos e formas coerentes com a proposição formulada, a saber: da existência, das concepções (das ideias) e da eficácia (dos efeitos), sem olvidar de uma premissa básica, também essencial que a ordem natural nos denuncia, qual seja: de que tudo e todos são frutos da causalidade, generalizada ou objetivada pelo Homem, que revela o liame existente entre os pressupostos, os elementos, e os efeitos de um evento, todos envolvidos ou não por concepções meramente abstratas ou materializáveis pelo Homem criadas. Esses três planos revelam a construção celular ideal para demonstrar os elementos, fático, concepcional e consequencial, que traduzem respectivamente as ordens natural, cultural e os efeitos por eles produzidos nos meios natural e social, o que nos autoriza defender que há o ser humano natural e o cultural, o primeiro balizado com qualquer outro animal que habita o nosso planeta, o segundo revestido por seus conceitos, ideias e proposições. Ademais, temos os elementos que compõem a ordem natural que rotulamos como coisas, que se adornados de valor econômico são definidos como bens, e o trabalho orgânico-fisiológico humano revestido de técnicas produtivas, que se inserido num processo produtivo passa a ter valor econômico e fundamenta o conceito de objeto imediato de uma relação jurídica trabalhista, entre outros exemplos. 2.1.3 O Homem Primitivo como Fruto da Ordem Natural É inquestionável que o indivíduo humano é fruto da ordem natural que o sustenta, e que a ela está vinculado, com todos os seres que com ela se movem, o que revela a impossibilidade de dissociação entre os mesmos, por representar essa ligação a expressão da vida, que se apresenta como energia adornada por uma estrutura bioquímica organicamente sistematizada dotada de autonomia dissociada e integrada a essa pedra úmida e fértil, que denominamos Planeta Terra, presente que ganhamos sem fazer ofício, o lar da humanidade. Podemos afirmar assim que não escolhemos para participar desse ambiente natural que estamos colados num grau de dependência vital, pois ele é ambiente indissociável da raça humana. Dessa forma, em face das autonomias, biológica e psíquica humanas, temos num primeiro plano a óbvia dualidade entre a ordem natural previamente estabelecida e o Homem primitivo ou racional, esse último indubitavelmente um ser social, tendo em vista que, para manter-se na derme planetária, se organiza em grupo, não só para procriar, mas também para produzir, consumir e se manter vivo, bem como criar concepções materializáveis ou meramente abstratas, para potencializar a satisfação de suas necessidades, utilidades e volúpias que emergem do meio social por ele formado e planificado no seu imaginário individualista. 2.1.4 O homem natural e o homem cultural Constrói-se assim a ideia de que o Homem é um elemento da ordem natural, que o criou e o alimentou numa primeira fase de seu desenvolvimento civilizatório, que podemos classificar de era primitiva, haja vista, o mesmo ter através dos tempos desenvolvido a sua inteligência e construído um ambiente concepcional, que podemos chamar de cultural. Essa argumentação nos leva a reconhecer que houve e há uma ordem natural que precedeu ao Homem, e uma concepcional por ele criada. Essa última tem como agente idealizador e propulsor o Homem cultural, que assumiu também o papel de transformador das duas ordens, e destinatário de todos os efeitos, positivos e negativos, gerados por essa construção humanitária. Portanto, as duas ordens em tela coexistem, e tem como protagonista o Homem Cultural, elemento subjetivo que se apresenta como o início, meio e fim da ordem cultural, que a Ciência Jurídica caracteriza como sujeito de direito dotado de personalidade, se nasce com vida (Código Civil, art. 1º). 2.1.5 As coisas materiais e imateriais como objetos mediatos Não podemos parar por aqui. Além do Homem natural e Cultural sujeito de direito, vimos afirmar que há outros elementos daquelas duas ordens que o circunda, e que os sensos comum, religioso e intelectual (científico, literário, artístico) e desportivo caracterizam como coisas ou bens, que se apresentam na vida relacional como materiais e imateriais. As primeiras resultantes da ordem natural, as últimas sempre produto da criação cultural do Homem, que assumem o conceito de objetos mediatos das relações humanas negociais se dotadas de valor econômico, que lhe atribui o status de bens no ambiente jurídico científico, que são ofertados e negociados nos ambientes mercadológicos, outra instituição criada pelo Homem cultural, que, apesar de ser uma de suas concepções abstratas, revela-se capaz de viabilizar a produção e a circulação da riqueza por ele criada. Portanto, a mais concreta das concepções criadas pelo Homem Cultural. Sem abdicar de bens de caráter extrapatrimonial que compõem o patrimônio jurídico de um sujeito de direito, como a sua moral subjetiva, objetiva, integridade física, entre outros objetos mediatos dessa natureza. 2.1.6 As ações, condutas e atividades humanas como objetos imediatos Não podemos abdicar da análise das ações, condutas e atividades humanas, tendo em vista que são fundamentais para a sustentação da tese que queremos afirmar, por representarem fatores de interação do meio natural e da vida de relação, elementos impulsionadores do desenvolvimento civilizatório da humanidade, que denominaremos a partir dessa alusão, de elementos do objeto imediato das relações humanas. O conceito de objeto imediato de Direito pode ser unitário ou plural. Unitário se ele é formado apenas uma ação, conduta ou atividade, plural se constituído de várias. Destarte, temos na ordem natural homens e mulheres, caracterizados pelo Estado como pessoas naturais, sujeitos de direitos, titulares de poderes, direitos, faculdades, deveres e obrigações, nesse oceano revolto formado pelas relações humanas naturais ou jurídicas, essas últimas disciplinadas pelo Direito Objetivo Positivo ou Consuetudinário, que traduzem o conjuntode postulados, conceitos, princípios e normas que tentam planificar a estrutura social de cada grupo social organizado no planeta. Intuitivo afirmar que o ser humano se apropria das coisas materiais que a ordem natural os oferece para a satisfação de suas necessidades na forma in natura, desde a sua aparição na superfície terrestre, fato natural que, diante da escassez provocada pela gradativa exaustão desses recursos, se tornou nuclear para obrigar o Homem a explorá-los, não só para a satisfação de suas necessidades vitais, mas principalmente para inseri-los em processos produtivos por ele idealizados materializados e desenvolvidos, o que nos revela que dentro do contexto do Homem Cultural, se apresenta o Homem Produtivo, que se tornou apto para produzir bens e serviços, para a satisfação de suas múltiplas pretensões, o que fez emergir, com o seu desenvolvimento civilizatório, para além de suas necessidades básicas, os planos das utilidades e volúpias criadas em seu imaginário individual e coletivo. Essa vertiginosa e crescente aptidão produtiva, aliada à procura incessante por meios mais aptos para potencializá-la através de invenções tecnológicas mutantes, sempre esteve em confronto como a evolução exponencial de suas demandas por inovações, criando o Homem Cultural, além dos valores econômicos e jurídicos, o valor modal, que influencia o estado anímico dos sujeitos e o imaginário social, e impulsiona cada vez mais a circulação da riqueza no planeta, o que tornou o mercado, a mais concreta das abstrações humanas, que para se revelar eficiente e eficaz deve estar adornado e vinculado aos princípios da liberdade, probidade, lealdade, socialidade e eticidade. Ideal que o tornaria um semideus garantidor do Princípio da dignidade humana, quer no plano material, quer no espiritual, o que nos leva a concluir e declarar que, se dissociado dos mesmos, apresentar-se-ia, como em tantos grupos sociais, como um monstro invisível cruel, destruidor de todas as virtudes e valores positivos criados pela humanidade. Revela-se assim, que o Homem produtivo diante da crescente, complexa e mutante estrutura social por ele criada fez eclodir, para a planificação e harmonia da ordem social, a sua criatividade normativa e jurídica, o que o levou a inventar, para além dos valores econômicos, os valores morais, éticos, jurídicos, bem como institutos e instituições, todos conexos a métodos, normas técnicas e jurídicas, para garantir a cada indivíduo o que legitimamente é seu. Evolução essa que revelou também o Homem Jurídico, construtor de ordens jurídicas dirigidas para solucionar os conflitos humanos e harmonizar as relações sociais, mediante a técnica denominada tipificação, que declara os pressupostos, institui os requisitos, declara os poderes e normas sedimentados no meio social de um fato considerado juridicamente relevante, bem como seus efeitos. Portanto, a incidência de uma norma jurídica declarada pelo Estado, ou simplesmente sedimentada no meio social, depende, na visão clássica do filósofo Miguel Reale, de um elemento fático, o valor a ele atribuído pela sociedade, e a norma posta pelo Estado, quer pela edição do Direito Positivo, quer pela sedimentação no imaginário social de um Direito consuetudinário, que se apresentam como elementos da Teoria Tridimensional do Direito por ele criada. Para esse ilustre Mestre o Direito é fato, valor e norma. 2.1.7 As concepções criadas pelo homem. É cediço que a humanidade foi além da condição natural que lhe foi inicialmente imposta, por ter construído um ambiente autônomo fundado em sistemas de comunicação que denominamos linguagem, que lhe deram a aptidão para construir conceitos ideias proposições e invenções que estruturaram a atmosfera cultural humana dotada de uma diversidade inventiva fascinante repleta de concepções materializáveis e meramente abstratas. Essas construções do pensamento humano têm como pressupostos subjetivos as suas representações ou imagens do entorno natural ou cultural, que tem o poder de gerar a vontade de inventar ou criar, que se projeta no mundo fenomênico como declarações dos sensos comum, religioso, intelectual e desportivo, nas suas várias modalidades, que são materializadas em ações condutas e atividades, por nós caracterizadas como objetos imediatos das relações humanas. Todas essas atividades podem se tornar aptas para deflagrar processos de produção e negociação, se os seus produtos, bens materiais ou imateriais, como afirmado (as obras de arte, bens e serviços) são adornados de valor, representados e aceitos como ativos atraentes para o consumo ou acumulação de riqueza. Portanto, o Homem cultural conquistou também o status de Homem Produtivo, idealizador de inúmeros meios, métodos, processos e técnicas de produção, que são aperfeiçoados através dos tempos, para atender as suas necessidades, utilidades e volúpias, todas reveladas por demandas em locais especializados para a circulação da riqueza por ele gerada, que chamamos de mercado. Temos, a partir dessa breve síntese das estruturas das ordens natural e cultural, a representação de que essa, constituída por concepções idealizadas pelo Homem está contida naquela, o que nos autoriza a assumir a filosofia do austríaco Karl Popper, quando afirma que realidade natural existe independentemente da realidade cultural humana, pois são autônomas. Significa dizer que a ordem natural é radicalmente diferente da ordem cultural, pois ambas apresentam experiências inconfundíveis, apesar dessa promover transformações impactantes na primeira, conforme defende esse brilhante filósofo. (História da Filosofia. p. 222. Bryan Magee. Edições Loyola). 2.1.8 O homem, a sociedade e a cultura Estabelecida a imagem dual composta pelas ordens natural e cultural é histórico que o “Homem Naturalis” adornado e impregnado de concepções pelo “Homem Culturalis”, por suas características naturais aliadas ao sentimento de pertencimento desenvolvido na sua evolução civilizatória, se organizou em grupo, para garantir e fomentar: a) a sua existência (fome); b) a sua presença no planeta (sexo); c) e, diante da escassez de coisas necessárias à sua alimentação e equilíbrio orgânico, a produção, tendo em vista que também se apresentou nas ordens estabelecidas como “Homem Produtivo”. Revela-se assim, que o conceito de sociedade está ligado à construção de uma ordem cultural criada e desenvolvida por grupos humanos, que adotam hábitos, costumes, normas morais, religiosas, éticas, técnicas e jurídicas, bem como sanções para aqueles que agridem a ordem natural e concepcional estabelecidas, para planificar e dar equilíbrio à vida grupal. 2.1.9 As culturas, popular, religiosa, intelectual e desportiva Estabelecida a base dualista com a Ordem Natural e a Ordem Cultural, fundamental pontuar que a última é construção humana, e se apresenta na visão desse autor em quatro planos: a cultura popular, a cultura religiosa, a cultura intelectual (científica, literária e artística) e a desportiva, todas dotadas de concepções criadas a partir da capacidade humana de representar imagens do entorno natural (representação), processá-las em seu sistema neural, e gerar vontades formadas na sua psique, que adornadas por uma decisão individual, se projetam no mundo circundante com declarações de vontade, que se materializam em ações, condutas ou atividades por ele desenvolvidas, para satisfação de suas pretensões pessoais ou do grupo social que ele está inserido. Dessa forma, o Homem se projeta na natureza não só como seu elemento natural, mas tambémcomo um elemento transformador a partir do fato inicial que deflagrou o processo de desenvolvimento da linguagem, que se apresenta em todos os períodos de seu desenvolvimento civilizatório, como a técnica mediadora e interativa de todas as relações humanas, nos planos de suas atuações, individual ou coletiva. O Homem, portanto, constitui-se como um indivíduo em busca permanente pelo conhecimento nas suas várias acepções, para estudar a sua própria figura biológica, a sua participação no meio sócio cultural, a sua origem e destino, as influências de um ser supremo sobre a sua existência e sobrevivência, entre outras abordagens possíveis sobre si mesmo e a natureza que lhe dá suporte vivencial. Essa perseguição cognitiva pode ter por fundamento o senso comum, o religioso, o intelectual científico, artístico, literário e filosófico (esse considerado por alguns pensadores como literário), ou o desportivo. Deflui dos argumentos acima os conceitos de Conhecimento Popular, Conhecimento Religioso, Conhecimento Intelectual e Conhecimento Desportivo, todos em permanente mutação e evolução através dos tempos, processo que tem o seu fundamental fator realizado a partir da aptidão do Homem de construir ideias, ideais, conceitos, teorias e proposições como suportes de sua aptidão de produzir cultura, atributo que o diferencia de todos os outros seres que se movem na nossa microscópica ordem natural planetária. O conhecimento popular funda-se na opinião despida de metodologia e lógica voltadas para a sistematização de pressupostos e elementos, para a explicação dos fenômenos do meio ambiente natural e do meio cultural. Aleatórias, portanto, essas invenções construídas no meio sócio cultural, tendo em vista o empirismo puro das ideias e proposições formuladas e aceitas por um determinado grupo social. Surge assim a figura do Homem leigo, diante do confronto com os conceitos de conhecimentos religioso, intelectual e desportivo profissional, esses últimos impregnados de conceitos dogmáticos ou científicos, institutos, normas morais, técnicas ou jurídicas, para a formulação de metodologias processos e meios de dominação ou produção, com a finalidade de planificar e harmonizar a vida em sociedade. Frise-se que as várias formas de conhecimento podem coexistir num único espírito humano, pois um cientista jurídico poderá ter fé nos postulados e dogmas de uma religião, criar ideias, teorias e proposições filosóficas, agir na sua vida ordinária em muitas experiências com fundamento em conceitos e rótulos agregados ao senso comum, ser um escritor e ter uma produção literária, ter uma produção autoral poética e compor melodias sobre as mesmas, e praticar qualquer desporto, em suas várias modalidades, quer num ambiente educacional, lúdico, competitivo, profissionalmente ou não. Parece que não podemos negar o atributo da transversalidade de todos os seguimentos do conhecimento no espírito humano. Podemos afirmar numa síntese apertada que o conhecimento popular ou senso comum é genuinamente empírico e fundado na imitação e na experiência pessoal sem vinculação a qualquer conceito de educação formal, e repercute de geração para geração espontaneamente. Noutro giro, temos o conhecimento intelectual, que abarca o científico, o artístico, o literário e o filosófico. Todos percebidos e sedimentados no imaginário individual ou coletivo por um processo racional anímico e ou substancial. O científico visa explicar o porquê e como os fenômenos naturais e humanos ocorrem. O artístico visa formular uma obra de arte fundada numa representação subjetiva de uma realidade humana natural ou cultural, a partir de uma perspectiva personalíssima do autor artista, que abarca também a vocação literária, quando o conteúdo exposto reúne um processo interno espiritual do artista. O conhecimento popular, segundo Babini: "É o saber que preenche a nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e sem se haver refletido sobre algo". (Babini, 1957, p.21). Portanto, o saber intelectual nas suas várias acepções demanda conceitos, princípios, normas, métodos, processos e procedimentos para explicar os fenômenos naturais e sociais. Não podemos olvidar que ambos buscam a racionalidade e objetividade. Entretanto, o que os diferencia são os meios métodos e processos para a observação das fenomenologias natural e cultural, o que nos autoriza afirmar que a ciência, a filosofia, a religião e a arte não são os únicos meios de acesso ao conhecimento. Podemos afirmar as características principais das várias modalidades do conhecimento cultural: a)O Popular apresenta-se superficial, pois, a aparência lhe é suficiente para tentar explicar um fenômeno vivenciado, que é percebido a partir de emoções e estados de ânimo do indivíduo. Não há sistematização na sua formulação e aquisição, e não se manifestam de uma forma crítica. b)O conhecimento filosófico apresenta-se carregado de racionalidade, pois reúne enunciados vinculados com lógica, apesar de não poder ser confirmado ou refutado por testes de observação ou experimentação. De intenso conteúdo valorativo e hipotético fundado na experiência, que tem por escopo uma representação coerente do fenômeno estudado, o que revela sistematização das ideias e proposições defendidas. De caráter generalista busca concepções unificadoras que sintonizem o espírito humano às leis universais numa busca incessante de harmonização entre a ciência e o espírito humano. c)O Religioso é sistemático que tenta explicar a origem, o significado, a finalidade e destino da vida e do mundo, que são invenções de um criador supremo e divino. Apresenta seu ideal numa ação, conduta ou atividade fundada na fé diante de uma experiência vivida. Os conceitos, ideias e proposições são infalíveis e indiscutíveis, pois fundada em dogmas e normas morais rígidas, haja vista, retratarem revelações de uma divindade que tem a sua existência para além da percepção humana. d)O científico apresenta-se na ordem cultural como factual, visto que explica fatos naturais e culturais, mediante experimentação baseada na razão, como ocorre na construção do conhecimento filosófico, assim é também contingente, e sistemático tendo em vista que é fundado em teorias, que retratam um conjunto de ideias conexas e harmoniosas, o que o torna verificável, superável e falível, apesar de ser taxado de ter o atributo de exatidão aproximada. 2.2 As relações jurídicas - sujeitos de direito, o direito objetivo e objetos de incidência da norma jurídica 2.2.1 A sociedade, o Estado e o Direito O Homes Societatis, produto do Homem Cultural, diante da complexidade organizacional dos sistemas e regimes por ele criados idealizou inúmeras instituições, cujas funções foram definidas a partir da presença de necessidades, interesses e conflitos individuais e coletivos, que deveriam ser satisfeitos e resolvidos, através dos tempos. Entre muitas instituições sociais o Homem criou o Estado, concepção meramente abstrata representativa das experiências culturais de cada grupo social organizado no planeta, em seus vários seguimentos de atividade, como o econômico, social, político, científico, entre outros. Portanto, a organização do Homem em sociedade exigiu a construção dessa concepção para nas várias fases de seu processo de evolução civilizatória exercer atividades de interesse difuso, coletivo, individuais homogêneos e individuais caracterizadas como um poder supremo terrestre, de império sobre os seus administrados, cuja razão de ser está numa autoridade máxima, conformeartigo 174 da Constituição da nossa república, dotada dos poderes, normativo, fiscalizador, sancionador e planificador das relações sociais e produtivas, a fim de buscar a harmonia na vida de relação. Para a efetividade desses poderes, o ambiente sócio cultural criou, sedimentou normas fundadas em conceitos princípios e valores para disciplinar as relações sociais, daí a consciência primitiva humana ter dado um salto para a consciência jurídica, o que provocou numa primeira fase, a criação de um Direito Objetivo denominado consuetudinário, fundado nos costumes sedimentados em cada grupo social, até chegar a construção de um Direito Positivo, fundado em processo legislativo estatal, editor de leis, constituições e Códigos sistematizados, todos com força coercitiva para submeter todos os indivíduos alcançados pela ordem jurídica declarada, impondo-lhes obediência às prescrições normativas postas, cujo descumprimento os submetem às sanções por ela cominadas. Surge desse processo social a Ciência Jurídica, como meio de repressão planificador das relações sociais, cujo objeto imediato de incidência é a ação conduta ou atividade humana, que devem estar em sintonia com as normas produzidas pela sociedade, para assumirem o atributo de conduta lícita. Por outro giro, como afirmado, temos os objetos mediatos, que são as coisas materiais ou imateriais dotadas de valor econômico, que a ciência jurídica denomina de bens, e que são levadas ao mercado como objetos de negócios jurídicos translativos dos direitos de propriedade, posse ou domínio útil. Ademais, o Direito Consuetudinário ou Positivo também reconhece declara e tutela outros bens de cunho não econômico-financeiro, que são também reconhecidos por esse autor como objetos mediatos de Direito, conhecidos na linguagem jurídica atual como bens extrapatrimoniais, expressão não aceita pelo mesmo, tendo em vista que o conceito de patrimônio jurídico abarca o conceito econômico dessa universalidade e de todos os poderes jurídicos titulados pelo sujeito de direito na vida em sociedade, como veremos adiante. 2.2.2 O Homem Sujeito Titular de Direito, as Relações Jurídicas e seus Elementos A partir da classificação binária da vida de relação em Ordem Natural e Ordem Cultural, que revelam respectivamente, como protagonistas dos respectivos processos causais, as figuras do Homem Primitivo e do Homem Cultural, e da tetra-classificação da segunda, em Cultura Popular, Cultura Religiosa, Cultura Intelectual e Desportiva, torna-se necessária a classificação da Ciência Jurídica como espécie da penúltima, por ser ela produto do meio sócio-econômico-cultural criado pelo Homem. Portanto, a Ciência Jurídica é um fenômeno histórico, que veio à tona a partir de concepções criadas nas quatro searas culturais supracitadas. Assertiva que nos autoriza ratificar o jargão, adotado por todos os cientistas sociais, que o Homem é o início, o meio e o fim de todas as suas criações, haja vista, ser ele o criador do meio cultural que o circunda (Homem Sapiens), o agente que o impulsiona com sua energia intelectual e laboral (Homem Faber), e o destinatário imediato de todos os efeitos por ela produzidos, que emergem de sua capacidade intelectual que fundou e mantém um ambiente mutante, interdisciplinar, multiprofissional e transversal de criatividades, composições e arranjos, que representam a riqueza cultural humana, consolidada num mundo fenomênico repleto de bens e serviços que são ofertados no mercado para a satisfação de suas pretensões necessárias, utilitárias e voluptuárias. É uníssono o som em todas as ordens jurídicas contemporâneas, a figura do Homem como pessoa natural, dotado de corpo e espírito, conceito que o especifica como sujeito de direito que, por prescrição técnica inventiva e normativa, adquire personalidade, titula poderes e deveres jurídicos a partir do seu nascimento com vida, sem desconsiderar outras interpretações que defendem que basta a sua concepção para a produção de todos esses efeitos. Destarte, o Homem Cultural como sujeito de direito é fato natural adornado de concepções jurídicas, que o torna protagonista de todas as relações e vínculos de que participa na vida social, mediante o exercício de ações, condutas e atividades individuais ou praticadas em grupo dirigidas por sua vontade autônoma ou por vontades heterônomas legitimadas socialmente, para a satisfação de suas pretensões pessoais ou produtivas, essas últimas materializadas pelo exercício de atividade econômica, organizada ou não, para a produção ou circulação de bens e serviços, que são direcionados para um local especializado denominado mercado, viabilizador da circulação da riqueza produzida pelo Homem Faber. Portanto, são homens e mulheres que exercem as atividades que compõem os objetos imediatos de incidência das normas jurídicas com ou sem a cooperação de terceiros, com fins individualistas ou ideais. Os primeiros, com finalidade lucrativa realizados por empresários e sociedades, simples ou empresárias, bem como por outros agentes econômicos, como os profissionais liberais. Os últimos inseridos numa contextualização conjuntural grupal que rotulamos de várias formas: familiar, religiosa, ideal, altruística ou estritamente social, que tem como protagonistas, respectivamente, a família, as entidades religiosas, os partidos políticos, as associações e o Estado, nas suas várias acepções - autarquias, fundações públicas, privadas e associações. Na ordem jurídica posta brasileira essa ideia é declarada na Lei n◦10.406/02 – o Código Civil, que afirma no seu artigo 104, os pressupostos e requisitos de validade das relações jurídicas formadas a partir de negócios e atos jurídicos, para que eles possam produzir os efeitos esperados pelos sujeitos de direito relacionados juridicamente, ou definidos pela sociedade e declarados pelo Estado legislador, in verbis: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - Agente capaz; II - Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - Forma prescrita ou não defesa em lei. Frise-se que o agente declarado no inciso I, por força de técnica jurídica sedimentada na Ciência Jurídica se apresenta nas relações jurídicas como pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado, esse último nas figuras jurídicas do nascituro, massa falida, espólio, condomínio edilício, sociedade em comum, entre outras. As duas primeiras dotadas de personalidade, a última dela despida. Todos são caracterizados como sujeitos de Direito e considerados um centro de imputação jurídica para que possam administrar e proteger os seus interesses, bens, universalidades de fato e de direito. Ademais, não podemos olvidar que todos têm capacidade de direito, mesmo sem capacidade pessoal de fato, situação que exige, para os sujeitos absoluta ou relativamente incapazes, representação ou assistência, para aperfeiçoar negócios e atos jurídicos válidos na vida jurídica de relação. Finalmente, os sujeitos de direito se organizam em grupo e se vinculam para satisfazer as suas pretensões materiais e ideais, e para tal assumem deveres jurídicos que são traduzidos em ações comissivas ou passivas, mediante objetivação de suas vontades que são emitidas e unidas para a formação de vínculos intersubjetivos ou de sujeição passiva indeterminada, que se dotados de relevância social assumem o status de relação jurídica, cujos elementos são: a) os sujeitos de direito relacionados; b) as vontades autônomas e heterônomas que se unem; c) os objetos imediatos definidos pelos deveres jurídicos assumidos; d) o bem jurídicopatrimonial ou extrapatrimonial com seus respectivos valores econômico ou social; e) os poderes por aqueles titulados (direitos subjetivos, potestativo e faculdades). 2.2.3 As atividades humanas - objetos imediatos das relações jurídicas Identificados os sujeitos que compõem as relações jurídicas, torna-se necessária a análise do inciso II do artigo 104 em tela, para a identificação da natureza jurídica do objeto nele declarado, que se manifesta, diante de uma interpretação sistemática do Direito Objetivo Positivo posto, com múltiplas versões. A primeira acepção do objeto jurídico é a imediata, por ser ele alvo de incidência direta das normas jurídicas criadas pela sociedade, declaradas ou não pelo Estado legislador. Ela é caracterizada como objeto imediato das relações jurídicas, que é constituído por ações, condutas e atividades exercidas pelos sujeitos e que representam deveres jurídicos assumidos pelos mesmos, ao se vincularem juridicamente com outros, com uma classe de sujeitos ou a sociedade como um todo. Portanto, me sinto autorizado para afirmar que o objeto imediato é para a Ciência Jurídica, qualquer agir humano valorado pela sociedade como juridicamente relevante, que evidencia no contexto social, um dever jurídico assumido por um sujeito de direito ao formar uma relação jurídica. Destarte, o vocábulo objeto revela-se por um verbo, que significa uma ação, positiva ou negativa de um sujeito, que deve ser lícita, possível, determinada ou determinável. Frise-se que a doutrina jurídica também o denomina objeto da obrigação, objeto obrigacional ou objeto imediato obrigacional. Imperativo ressaltar que aos agentes, a ordem jurídica impõe o elemento valorativo capacidade, e em determinados casos a legitimidade, para que possam se vincular em relações jurídicas obrigacionais. Aos objetos imediatos são atribuídos os valores da licitude, da possibilidade, da determinação atual ou futura, para que as relações jurídicas sejam válidas e produzam os efeitos esperados pela sociedade e pelos sujeitos. Desses argumentos podemos concluir que os objetos imediatos das relações jurídicas são elementos objetivos que apresentam, além de outros, conteúdo patrimonial translativo do direito de propriedade, de posse ou de domínio útil, e são considerados tecnicamente elementos dos vínculos jurídicos intersubjetivos ou de sujeição passiva indeterminada, que vinculam os sujeitos à realização de condutas ativas ou passivas, diante de poderes e direitos titulados pelo outro sujeito da relação. Para criar uma imagem real dessa proposição basta analisarmos os pressupostos e elementos de contrato de compra e venda na sua estrutura básica tipificada pelo Código Civil Brasileiro nos artigos 481 a 504, cujo bem negociado (objeto mediato) é um conjunto de uniformes para uma equipe de futebol de campo. Vejamos a causalidade para a formação e execução do contrato em tela: Preliminarmente, vamos nos aliar aos fundamentos do conceito de causalidade perseguido de forma intensa pelos filósofos David Hume e Emanuel Kant. O primeiro com a argumentação de que a nossa ideia de causa é derivada da experiência sensível da regularidade de eventos conjuntos, e o segundo que afirma que nós necessitamos do conceito de causa para obter qualquer experiência objetiva. Decidimos por escolher a argumentação Kantiana, a partir da identificação de uma causa tópica, que chamaremos de eficiente, para desenvolver o conteúdo de nossas proposições, a partir de sua argumentação analítica da experiência humana que tenta elucidar os pressupostos para o conhecimento, que é centrada na assertiva de que ele “é fundamentado em experiências, que são engendradas por entidades externas que afetam os sentidos”. (Collinson, Diané, Grandes filósofos da Grécia antiga ao século XX, pag. 156). Defende Kant que: “toda nossa intuição não é nada senão a representação da aparência. As coisas que intuímos não constituem em si mesmas, o que nós intuímos delas enquanto ser, nem são relações constituídas em si mesmas como aparecem a nós. Como aparências elas não podem existir em si mesmas, mas somente em nós. O que os objetos podem ser em si mesmos, e separados de toda a receptividade de nossa sensibilidade, permanece completamente desconhecido para nós”. (Kant, Crítica da razão pura, A 42, B 59.) A escolha dessa vertente filosófica nos direciona e autoriza afirmar que qualquer experiência natural ou cultural humana se torna realizável no mundo fenomênico com a formação de uma primeira imagem que se forma na psique do sujeito, a dita representação declarada por Kant e Hume. Essa é fator essencial para a formação da vontade, que se projeta no mundo para além do interior do sistema neuromuscular humano, com uma ou várias declarações e ações, que podem ser consideradas preparatórias ou executórias para consumação ou formação de um fato normatizado ou não pelo Direito Objetivo, portanto, jurídico ou não. Exterioriza-se assim, num primeiro momento, uma causalidade psíquica que provoca uma causalidade material que se projeta no mundo social humano. Revela-se a primeira dissociada do ambiente social externo, pois fenômeno bioquímico e psíquico de autonomia individualizada; a segunda, efeito da primeira, se revela no ambiente exterior por declarações unilaterais, bilaterais, plurilaterais, ações, condutas ou atividades exercidas pelo Homem cultural multifacetado em sujeitos de direito – entes despersonalizados, pessoas naturais e pessoas jurídicas. Por todo o exposto é intuitivo que todo agir humano pressupõe a formação de representações e vontades, que são projetadas no mundo fenomênico mediante a execução de um verbo (declarar, fazer, não fazer, dar) que é alvo direto imediato de normatização pela sociedade, por isso aqui denominado objeto imediato que a sociedade legitima e o Estado reconhece e declara, ora por sentenças ou acórdãos prolatados pelo Poder Judiciário, se fundadas em usos e costumes sedimentados no meio social, ora pela formalização do Direito Positivo. Podemos assim poetizar e afirmar que os princípios, as normas e regimes jurídicos criados representam todas as expressões da razão do agir ideal para se viver numa sociedade planificada e harmonizada pelos atributos da legalidade e legitimidade. Formam eles finalmente um arcabouço poético que resumo da seguinte forma: “É o Direito Objetivo uma universalidade de poesias cientificamente declarada”. Podemos assim defender a tese de que qualquer relação jurídica será formada a partir de uma ou várias manifestações de vontade que podem ser exteriorizadas de múltiplas formas. Vontades autônomas fundadas no Princípio da Liberdade ou heterônomas, quando manifestadas por um terceiro alheio à estrutura da relação jurídica com poder jurídico para nela intervir, como a vontade expressa na lei positivada que emana do Estado, ou dos usos e costumes sedimentados no meio social. Quando suficiente apenas uma, o negócio ou ato jurídico, espécies de fatos jurídicos no sentido estrito, é classificado no plano existencial como unilateral. Se duas vontades são necessárias são considerados bilaterais, se mais de duas plurilaterais. Frise-se que, quando duas ou mais vontades são manifestadas e unidas há a formação de um instituto jurídico denominado consenso, que é também considerado elemento subjetivo, e ato jurídico apto para a formação relacional de conteúdo jurídico. Vamos ao exemplo. No contrato de compra e venda na sequência causal estará sempre presente, quer no plano subjetivo, quer no objetivo: a) o vendedor(fornecedor, empresário individual ou coletivo), cria a representação da operação de venda, dos meios necessários, atos preparatórios e executórios, para a formação do contrato; b) essa representação provoca a vontade de aperfeiçoar o mesmo; c) ato sucessivo manifesta a sua vontade mediante oferta pública do objeto mediato (bem), que poderá ser negociado ou não, com a finalidade de provocar novas representações em potenciais compradores (consumidores); d) se alguma dessas representações for capaz de gerar uma nova vontade, a de adquirir o bem ofertado; e) o consumidor comprador irá exteriorizar aquela com outra manifestação unilateral de vontade, que a doutrina jurídica denomina aceitação, outra espécie de ato jurídico que; f) é apto para formar o consenso, também elemento subjetivo, que provoca a formação do contrato de compra e venda com todos os seus elementos essenciais e acidentais. A causalidade desenvolvida demonstra a sequência de manifestações sensíveis, convicções e aspirações que caracterizam as manifestações psíquicas de um sujeito de direito, as manifestações de vontade que se projetam no mundo exterior, a partir de signos e símbolos característicos da linguagem, que representam manifestações unilaterais de vontade, reconhecidas pela doutrina como atos jurídicos preparatórios e executórios para o aperfeiçoamento da relação jurídica contratual analisada. Uma síntese estreita demonstra a causalidade necessária e eficiente para a formação de uma relação jurídica contratual, qual seja: a) representações criadas nos estados anímicos do vendedor e do comprador – imagens de elementos externos; b) vontades formadas pelas representações – de vender e de comprar; c) manifestações de vontades dos potenciais sujeitos contratantes. Primeiro a oferta, ato preparatório, que provoca a aceitação, ato executório para a formação do contrato; d) formação do consenso, que é apto para o aperfeiçoamento do contrato ou relação jurídica. Podemos afirmar que as representações, vontades e o consenso formado são elementos subjetivos naturais do contrato de compra e venda em virtude dos primeiros se manifestarem no estado anímico dos sujeitos, e o último produto da união dos mesmos. Todas as manifestações ou os atos posteriores das construções psíquicas são condutas que se projetam no mundo fenomênico, que as tornam elementos objetivos como todos os outros elementos que compõem a relação jurídica contratual, para além da mente do agente, como: o objeto mediato negociado (mercadoria ou serviço); o seu preço ou valor; os objetos imediatos assumidos pelos contratantes, a entrega da coisa ao comprador (tradição), o pagamento do preço pelo último, os direitos subjetivos de crédito e os deveres jurídicos adquiridos e assumidos por ambos os contratantes, bem como outros elementos acidentais que compõem a relação por vontade das partes contratantes ou implicitamente insertos na relação jurídica, como o tempo e espaço definidos para o cumprimento dos deveres jurídicos ou para dirimir conflitos gerados pelo não cumprimento das convenções pactuadas. 2.2.4 As coisas e os bens - objetos mediatos das relações jurídicas Importante ressaltar que não podemos confundir objeto imediato do Direito Objetivo, com objeto mediato. O primeiro revela-se por ações, condutas, atividades que são realizadas pelos sujeitos de direito, e que representam deveres jurídicos assumidos nas relações jurídicas aperfeiçoadas. O segundo é formado por coisas materiais ou imateriais, que dotadas de valor econômico são chamados de bens ou serviços, que compõem a riqueza que circula no ambiente econômico social, que não podem no meu sentir serem declarados como lícitos ou ilícitos, mas sim como materiais ou imateriais, atuais ou futuros, fungíveis ou infungíveis, públicos ou privados, no mercado ou fora dele, móveis ou imóveis, alienáveis ou inalienáveis, penhoráveis ou não, contaminados ou não de vícios materiais, ocultos ou aparentes (redibitórios), ou jurídicos (evicção), entre outras classificações. Ademais temos outros objetos mediatos que não apresentam valor econômico e que são mediatamente alvos das normas legitimadas no meio ambiente social. Destarte, argumentando sobre o contrato de compra e venda acima explorado, se um sujeito de direito transfere para outro a posse ilegal do mesmo conjunto de uniformes de futebol, após furtá-lo de um estabelecimento empresarial que comercializa material esportivo, sabendo o adquirente do ato ilícito, não podemos afirmar que estamos diante de uma relação jurídica contratual, porque não há negócio jurídico, haja vista, a operação estar despida dos valores da licitude, possibilidade jurídica, e da determinação lícita das condutas. Assim sendo, há apenas negócio que se manifesta apenas no meio econômico, envolvido pelo injusto constituído pela carga negativa de ilicitude das condutas realizadas pelos agentes do fato antijurídico. Portanto, não podemos afirmar que o bem negociado é ilícito, mas sim as condutas de subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem, e receptá-la, praticadas pelos delinquentes, conforme as prescrições típicas insertas nos artigos 155 e 180 do Código Penal Brasileiro. Elementos objetivos de cunho patrimonial, as coisas dotadas de valor econômico, que a Ciência Jurídica chama de Bens, são classificados por ela como objeto mediato de relações jurídicas. Assim sendo, diante da indagação sobre a natureza jurídica de bens materiais ou imateriais podemos afirmar, sem medo de errar que aqueles são objetos mediatos do Direito Objetivo, e num plano mais restrito e técnico, objetos mediatos de relações jurídicas. 2.2.5 A atividade desportiva - objeto imediato de relações jurídicas Para a análise e interpretação jurídica da diversidade das atividades técnicas e métodos criados, desenvolvidos e exercidos no ambiente social vamos destacar apenas as de caráter econômico, com ou sem finalidade lucrativa, e seus protagonistas declarados pelo legislador brasileiro, porque sintonizam com o objetivo desse trabalho científico, quais sejam: os sujeitos de direito e atividades econômicas organizadas ou não dirigidas para a produção ou circulação de bens e serviços, inclusive as intelectuais, essas declaradas e especificadas como, científicas, artísticas e literárias, cujas estruturas produtivas poderão ou não apresentar uma organização complexa de fatores de produção, trabalho, capital, recursos naturais e tecnologia, para a sua gestão. O conceito de sujeito de direito é dogmático e se apresenta na ordem jurídica posta pelo Estado como todos os agentes que participam da vida em sociedade mediante a formação de relações intersubjetivas ou de sujeição passiva indeterminada, disciplinadas, pelo Direito Objetivo. Portanto, são os protagonistas de todas as experiências e fatos sociais chamados de fatos jurídicos. São classificados num primeiro plano como entes personalizados e despersonalizados. Os primeiros dotados personalidade jurídica, concepção jurídica abstrata que atribui ao agente, pessoa natural ou jurídica, capacidade de direito tornando-o sujeito titular de poderes, deveres, direitos, obrigações e faculdades. Os últimos, despidos desse instituto jurídico apresentam-se na ordem social com múltiplas versões. Entre essas o nascituro, que traduz o ser humano durante a vida intrauterina; dois tipos societários, a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação, que desenvolvem atividade econômica com finalidade lucrativa; o espólio, que é a universalidade formada pelos bens, direitos e obrigações,de pessoa natural após a sua morte; a massa falida, que é o patrimônio de um empresário ou sociedade empresária, que assume o estado jurídico de falidos após o trânsito em julgado de uma sentença ou acórdão prolatado pelo Poder Judiciário, comprovado o seu estado de insolvência (Código Civil, artigo 955), entre outros. O Código de Direito Privado Brasileiro, Lei n◦10.406/02 declara no artigo 1◦ a existência da pessoa natural, que ao adquirir capacidade de fato aos dezoito anos ou mediante emancipação (parágrafo único do artigo 5◦do Código Civil Brasileiro), pelo exercício pleno da liberdade de ofício e profissão declarado no inciso XIII do artigo 5◦ da Constituição da República, poderá assumir o estado jurídico profissional de empresário individual (artigo 966), profissional liberal ou autônomo (parágrafo único do mesmo artigo), Microempreendedor individual (artigo18 da Lei Complementar 123/06), ou em última instância exercer atividade econômica irregularmente, a margem da ordem legal estabelecida, sem registro, autorização ou habilitação. O mesmo estatuto legal declara no artigo 41,42 e 44, as pessoas jurídicas de direito público interno e externo e as pessoas jurídicas de direito privado, respectivamente, in verbis: Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos. VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. O exercício de atividade econômica sem a complexidade organizacional dos fatores da produção pode ser realizado por qualquer sujeito de direito: pessoas naturais, pessoas jurídicas ou entes despersonalizados, esses últimos formados por grupamento de pessoas que contratam sociedade, conforme artigo 981 do estatuto civil brasileiro, cujos instrumentos constitutivos, contrato social ou estatuto, não são registrados e arquivados no órgão competente de registro (Código Civil, artigos, 45, 985, 1150), e que o Direito posto pelo Estado brasileiro caracterizou, ora como um ente societário irregular, denominado sociedade em comum, ora como um tipo societário regular não dotado de personalidade jurídica (sociedade em conta de participação), que também são considerados centros de imputações jurídicas dotado de poderes e deveres jurídicos. As pessoas naturais quando exercem atividades econômicas típicas de empresário sujeita ao registro, sem organização complexa de fatores trabalho, recursos naturais, capital e tecnologia podem assumir os estados jurídicos profissionais de Microempreendedor Individual (Lei Complementar nº 123/06, artigo 18) ou Profissionais autônomos. Se, exercem atividades intelectuais podem assumir, em regra, o estado jurídico de profissional Liberal. Se as atividades intelectuais são exercidas por um grupo de pessoas que constituem sociedade pela formação de um contrato social, essa em regra será tipificada como sociedades simples (Código Civil, artigo 997 e seguintes), exceto se o tipo societário escolhido pelos empreendedores sócios é sociedade por ações (Código Civil, artigos 1.088 a 1092 c/c com a Lei n◦6.404/76), fato esse que torna irrelevante a análise da atividade ou atividades que formam o objeto social imediato, pois a sociedade em comandita por ações, ou as sociedades anônimas, nas suas várias modalidades atuais ou futuras terão sempre uma classificação legal, portanto impositiva, qual seja: a de sociedade empresária (parágrafo único do artigo 982 Código Civil Brasileiro). Se presente a complexidade organizacional daqueles fatores, independentemente da análise das atividades econômicas exercidas que formam o objeto imediato, as pessoas naturais exercerão atividade econômica organizada e assumirão o estado jurídico profissional de empresário individual, conforme dispõe o caput do artigo 966 e seu parágrafo único do Código de Direito Privado acima citado. Entretanto, se as atividades típicas de empresário sujeitas a registro (atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços), forem exercidas por um grupamento de pessoas que contratam sociedade (Código Civil, art. 981), estaremos em regra, diante de uma sociedade empresária, conforme caput do artigo 982 do Código em tela. Essa é a redação atual do artigo 996 do estatuto civil, in verbis: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito o registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo. Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a transformação. Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150). Insatisfeito com a limitada classificação da ordem jurídica brasileira das atividades humanas, declarada no parágrafo único do artigo 966 da Lei 10.406/02 – Código Civil Brasileiro, esse autor propõe a alteração do mesmo para incluir a atividade desportiva como espécie de atividadeautônoma, tendo em vista que ela se apresenta na atualidade repleta de elementos de outros campos do conhecimento humano, portanto, a sua formação se apresenta híbrida, pois composta de elementos subjetivos e objetivos intelectuais, científicos e artísticos, bem como cercada de atividades típicas de empresário individual sujeitas a registro, quando assume os caracteres do desporto profissional. Ademais, todas impregnadas do conhecimento popular, desde as suas primeiras manifestações culturais, do conhecimento intelectual, científico, principalmente, quando estamos diante do desporto educacional, do desporto de rendimento, exercidos profissionalmente ou não, conceituados pelo Estado Legislador, nos incisos I e III do artigo 3º, e seu parágrafo único, prescritos na Lei 9.615/98 - Lei Pelé, que também os classifica no seu artigo 1º, como prática desportiva formal, por exigir para a realização dos seus programas de trabalho, profissional especializado e habilitado, graduado nos cursos de Educação Física, nas modalidades de Licenciatura ou Bacharelado, conforme a parte final do inciso XIII, do artigo 5 º da Constituição da República Federativa do Brasil. Destarte, em virtude de seu caráter multidisciplinar e multiprofissional merece revisão a norma em tela para dar sustentáculo científico às inovações jurídicas propostas nesse trabalho. Essa é a nova redação proposta para o artigo 996 e parágrafo único do estatuto civil brasileiro, in verbis: LIVRO II Do Direito de Empresa TÍTULO I Do Empresário CAPÍTULO I Da Caracterização e da Inscrição Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, com finalidade lucrativa, inclusive a de desporto profissional. (Proposta de alteração do Código Civil Brasileiro - inovação) Dispositivo alterado. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. (Redação do Código Civil Brasileiro) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual de naturezas científica, literária ou artística, e a de desporto não profissional, com o concurso ou não de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (Proposta de alteração do Código Civil Brasileiro - inovação) Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (Redação do Código Civil Brasileiro) Portanto, num primeiro plano, se uma pessoa natural desenvolver atividade desportiva poderá ser atleta profissional ou autônomo, ambos vinculados a uma entidade de administração esportiva. O primeiro vinculado às entidades de prática desportiva, pela formação de contrato profissional de atleta, o segundo por contrato de natureza privada (civil), de acordo com o artigo 28 – A da Lei Pelé. Num segundo, sem organização complexa dos fatores da produção ela irá assumir vários estados jurídicos profissional, como por exemplo, o de microempreendedor individual. Quando afirmamos que o senso comum é idealizador e fator de criação de jogos e de suas regras técnicas é porque eles surgiram na História do Homem a partir de imagens e representações do sumo da realidade socialmente posta, que desde as suas primeiras manifestações e organizações fez emergir conflitos e competições da vida de relação. Portanto, dessa energia social a inteligência criativa do Homem idealizou, projetou, concretizou e fez repercutir, inspirado nesses fenômenos conflituosos carregados de energia primitiva, inúmeros jogos competitivos, individuais ou coletivos, impregnados de virtudes e ética, como forma de apelo espiritual, para revelar meios mais eficientes e eficazes para solução dos confrontos humanos. Quanto aos fatores do conhecimento científico é cediço que o desporto educacional e o de rendimento, para terem os seus programas de trabalho materializados pelo Estado ou pela iniciativa privada necessitam, pelo menos, de profissionais graduados em nível superior, em Licenciatura ou bacharelado em Educação Física. Ademais, quando tratamos do desporto de rendimento, praticado profissionalmente ou não, os atletas autônomos ou entidades de prática desportiva, na busca incessante de resultados e títulos, tentam formar equipes multiprofissionais para potencializar o rendimento atlético, e para tal fim alocam profissionais especializados em Psicologia do Esporte, Fisiologia, Biomecânica, Treinamento Desportivo, entre outros, além de investirem maciçamente, quando dotados de capacidade econômico- financeira, com recursos próprios e de terceiros, em tecnologia, instalações, máquinas e equipamentos sofisticados para elevar a desempenho atlético individual e das equipes. Revela-se, portanto, que a atividade desportiva se apresenta no meio social, como qualquer outra atividade econômica que pode ser exercida de forma organizada ou não, com ou sem finalidade lucrativa, por pessoas naturais vinculadas às entidades de prática desportiva ou educacionais sob diversos regimes jurídicos, ou por pessoas jurídicas, nas formas de associação ou sociedade empresária, conforme inovação legislativa realizada pela Lei n◦10.672/03, que incluiu o parágrafo 9◦ no artigo 27 da Lei n◦ 9.615/98 – Lei Pelé. Importante destacar que também é necessária a mudança na redação originária do parágrafo nono do artigo 27 em destaque, haja vista, apresentar impropriedade técnica na sua formulação, tendo em vista que, as entidades de prática desportiva e as entidades de administração do desporto nacional, apresentarem-se, como regra, no cenário econômico e jurídico nacional, na forma de associação. Significa dizer que já estão constituídas, e para assumirem formatação diversa das possíveis elencadas no artigo 44 do Código Civil Brasileiro, que declara os tipos de pessoas jurídicas de direito privado, seria necessário a transformação daquelas em sociedade empresária, mutação formal essa não disciplinada pelo Direito posto pelo Estado brasileiro até o presente momento. Diante da ausência de técnica jurídica na formulação normativa supracitada, resta-nos fazer uma análise dos elementos fáticos relevantes desse tema para propor inovações legislativas para sanar as impropriedades que revelamos, conforme a seguir se expõe: Num primeiro giro podemos afirmar que qualquer empreendedor nacional ou estrangeiro, diante do princípio da livre iniciativa declarado no artigo 170 da Constituição da República, pode desenvolver atividade desportiva individualmente ou com a colaboração de outros sujeitos de direito. No primeiro caso há as possibilidades jurídicas de constituição das figuras jurídicas: a) de um profissional liberal, devidamente habilitado, conforme a parte final do inciso XIII, do artigo 5◦ da Carta Política; b) a figura jurídica do empresário individual, se a atividade desportiva se tornar elemento da empresa (atividade econômica organizada); ou ainda c) a constituição da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, conforme as normas estabelecidas no artigo 980-A do mesmo código. No segundo, atividade econômica desenvolvida em grupo, teremos a figura jurídica da sociedade empresária, que diante da correção técnica proposta do parágrafo 9◦ em tela, poderá ser constituída, atualmente, na forma de qualquer espécie societária tipificada nos artigos 1.039 a 1.092 do estatuto civil brasileiro. Proposta
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