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04 Aborto

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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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www.medresumos.com.br 
 
 
ABORTAMENTO 
 
Abortamento é a interrupção da gravidez antes que o feto se torne viável, ou seja, antes que tenha condições de 
vida extrauterina. Em lugar de abortamento, é comum o uso do termo aborto, que, a rigor, designa o próprio feto morto 
em consequência de sua expulsão do útero. Aborto (do latim, abortus; ab = privação + ortus = nascimento) é o tema 
mais discutido dentro da bioética, ainda que não tenham ocorridos avanços substanciais sobre a questão ultimamente. 
No sentido etimológico, aborto quer dizer privação de nascimento. Advém de ab, que significa privação, e ortus, 
nascimento. A palavra abortamento tem maior significado técnico que aborto. Aquela indica a conduta de abortar; esta, o 
produto da concepção cuja gravidez foi interrompida. 
O tema “aborto” envolve uma gama de assuntos a serem conceituados e discutidos. Vejamos agora alguns 
conceitos quanto ao tema: 
 Conceito obstétrico de aborto: Interrupção da gravidez, espontânea ou provocada, até a 20ª ou 22ª semana, 
ou até o feto atingir 500 g, ou até atingir 25 cm. O aborto obstétrico, também considerado espontâneo, não tem 
interesse legal, uma vez que é um fato natural. Depois desse período, o concepto morto é considerado 
natimorto. Busca-se, por tanto, traçar um binômio materno-fetal, estando relacionado com a viabilidade fetal. 
 Conceito médico-legal de aborto: Interrupção dolosa da gravidez, antes do seu termo, independente da idade 
gestacional. Busca-se, portanto, preservar a vida do concepto independente de qual fase o mesmo passa na 
gestação. 
 Aborto criminoso: aborto provocado dolosamente (vontade deliberada de obter um resultado) pela mãe, por 
terceiro com o consentimento da mãe, ou por um terceiro sem o consentimento da mãe. 
 Nascimento: É a completa expulsão ou extração, do organismo materno, de um feto, independentemente do 
fato de o cordão ter sido cortado ou de a placenta estar inserida. Fetos pesando menos de 500g não são viáveis 
e, portanto, não são considerados como nascimento para fins de estatísticas perinatais. Na ausência de peso de 
nascimento, a idade gestacional de 20 - 22 semanas completas é considerada equivalente a 500g. Quando não 
se sabe nem o peso nem a idade gestacional, o comprimento de 25cm (crânio - calcanhar) é considerado 
equivalente a 500g. 
 Natimorto: É o produto do nascimento de um feto morto. Considera-se feto morto aquele que nasce pesando 
mais de 500g e que não tem evidência de vida depois de nascer. Para fins de cálculos estatísticos de taxa de 
mortalidade perinatal para comparação internacional, somente se incluirão fetos mortos que pesam 1000g ou 
mais ao nascer. 
 Morte Fetal: é a morte do produto da concepção, ocorrida antes da sua completa expulsão ou extração do 
organismo materno, independentemente do tempo de gestação. A morte é indicada pelo fato de que, depois da 
separação, o feto não respira nem mostra qualquer outro sinal de vida, como batimentos cardíacos, pulsações 
do cordão umbilical ou movimentos de músculos voluntários. 
 Nascido vivo: A vida é considerada presente ao nascimento quando o RN respira ou mostra qualquer outra 
evidência vital, tal como: batimento cardíaco, pulsação do cordão umbilical ou movimentos efetivos da 
musculatura voluntária. 
 
A vida, no Brasil, por tanto, é protegida desde a nidação (implantação). No âmbito jurídico, a definição do aborto 
encontra-se na remansosa doutrina, associação entre a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção, 
em qualquer fase do ciclo gravídico. Com muita propriedade podemos destacar o conceito de aborto na doutrina de 
Mirabete: ”O aborto é a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção, que pode ser ovo, embrião ou o 
feto, conforme a fase de sua evolução. Pode ser espontânea, natural ou provocado, sendo nesse último caso criminoso, 
exceto se praticado em uma das formas do art. 128.” 
 
 
MODALIDADES DE ABORTO 
 Eugênico: consiste em interromper a gestação quando o feto for portador de graves anomalias fetais tanto físicas 
como psíquicas, que torne a vida extra-uterina do produto da concepção inviável, este tipo de aborto não é 
previsto na legislação. Ainda é tido como aborto criminoso. 
 Social: Ainda é tido como aborto criminoso. 
 Sentimental ou humanitário: permitido pela legislação penal brasileira, e consiste em interromper a gestação pois 
esta foi fruto de uma violência sofrida pela gestante, tal gravidez não era planejada e tão pouco querida porem 
com o ato sexual forçado adveio a gestação, tal aborto é previsto e legalizado afim de zelar pela saúde mental 
da gestante. É tido como aborto legal. 
 Terapêutico ou necessário: consiste em interromper a gestação quando esta traz riscos fundados a gestante, 
pois tutela-se um bem jurídico já existente ao invés de tutelar uma expectativa. É tido como aborto legal. Os 
Arlindo Ugulino Netto. 
BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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requisitos para este aborto são: a mãe deve ser acometida de uma doença que seja agravada ainda mais com o 
decorrer da gravidez, pondo a mãe em um estado de perigo de vida. Para que o aborto seja necessário e 
autorizável, este deve responder, de fato, á melhoria na saúde da mãe. Mesmo diante disso, o parecer deve ser 
assinado por mais de um médico (junta médica, de número ímpar). 
Ex: Paciente com estenose mitral, apresentando edema agudo de pulmão, entubada na UTI, quadro este 
agravado ainda mais com a situação hemodinâmica que apresenta na gravidez. Todos os procedimentos 
possíveis foram realizados, mas sem sucesso. Por estar em perigo de vida (se não houver intervenção médica, o 
quadro evolui para óbito) deve-se praticar o aborto, independente da vontade da mãe ou da família. 
Ex²: Paciente grávida sofreu uma facada no tórax com atelectasia pulmonar. A paciente estava em risco de vida. 
Deveria ser feito uma cirurgia com expansão pulmonar, mas com grande risco ao feto. A paciente pode optar em 
não fazer a cirurgia para tentar manter a gravidez. 
 Espontâneo ou natural: fator patológico onde o próprio corpo da mulher expulsa o feto, sem a ajuda ou a 
querência da gestante ou de terceiro tal aborto não é cabível de punição pois é algo que ocorre naturalmente 
sem a influencia do homem. 
 
OBS
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: De maneira geral, existem duas grandes correntes com relação ao aborto. Uma parte entende que a vida é 
heterônima, ou seja, que não cabe a nós decidir a cerca da vida de um ser, sendo baseada em aspectos religiosos, e 
tomando como fundamento a santidade da vida, o aborto é crime. Por outro lado, há quem pense que a mulher tem 
autonomia reprodutiva, de modo que a vida seja tangível, e o aborto é uma pratica inteiramente neutra. Esta hipótese 
que é importante para a ética médica. 
 
 
LEGISLAÇÃO 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO III - RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 
 Art. 15. Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de tecidos, esterilização, 
fecundação artificial, abortamento, manipulação ou terapia genética. [O CEM só faz essa menção sobre aborto: 
remete o aborto a uma legislação que está fora do CEM, estando então no Código Penal] 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará 
seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para 
permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade. 
 
Em face do Código de Ética Médica, o médico não pode tomar nenhuma posição com relação ao aborto, uma 
vez que este remete o aborto a uma legislação específica - o Código Penal Brasileiro, que admite o aborto em duas 
hipóteses: na modalidade sentimental e terapêutica (necessário). 
Em nenhum momento, o Código Penal protege a hipótesede aborto com embriões anencefálicos. Qualquer 
decisão judicial ou posicionamento que esteja a favor em casos de anencefalia, está indo de encontro à lei penal. 
 
CÓDIGO PENAL 
 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: 
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque. PENA: detenção, de um a três 
anos. 
 Aborto provocado por terceiro 
Art. 125. Provocar aborto, sem consentimento da gestante. PENA: reclusão, de três a dez anos. [o médico que 
pratica aborto fora das hipóteses legais está descumprindo o artigo 125 do Código Penal Brasileiro] 
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante. PENA: reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada 
ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude (sem o consentimento), grave ameaça ou 
violência. 
Art. 127. As penas combinadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência 
do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são 
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevem a morte. 
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: 
 Aborto necessário 
 I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
 Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
 II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando 
incapaz, de seu representante legal. [tem-se dois valores: a integridade moral da mulher a vida do concepto, 
sendo o primeiro valor predominante para a lei] 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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OBS
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: Para a mulher provar que foi estuprada, não necessita de absolutamente nada, nenhuma prova ou documento. O 
CFM orienta apenas o médico que solicite um boletim de ocorrência para transparecer a situação. 
OBS
3
: Mesmo o médico tendo valores contra o aborto, ele deverá interromper a gestação ou realizar uma curetagem em 
uma gestante caso a mesma corra perigo de morte e ele seja o único profissional disponível naquela localidade, naquele 
momento.

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