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DOENÇAS EMERGENTES E REEMERGENTES Doenças infecciosas emergentes: Surgiram recentemente numa população ou ameaçam expandir-se em futuro próximo. Ex: COVID-19. Doenças infeciosas reemergentes: Causadas por microorganismos bem conhecido que estavam sobre controle, mas se tornaram resistentes aos agentes antimicrobianos comuns (Ex: malária, tuberculose), ou então se expandiram rapidamente em incidência ou em uma área geográfica (por ex: cólera nas Américas). Nelas também se incluem as “deliberadamente emergentes” (por ex: as que são decorrentes de terrorismo). Fatores associados à emergência de doenças infecciosas Emergência viral: Surgimento de um novo patógeno para um hospedeiro, como o do vírus da imunodeficiência humana no século XX. Também frequentemente se refere a reaparição viral depois de um longo período de ausência, como nas epidemias periódicas de influenza humana e nas pandemias. Três etapas são necessárias para que ocorra a emergência e reemergência de uma doença viral: 1. Introdução de um patógeno viral numa nova espécie de hospedeiro. 2. Adaptação do patógeno ao novo hospedeiro 3. Disseminação do patógeno para uma grande quantidade de indivíduos da nova espécie, para desencadear surtos, epidemias e pandemias. Uma complexa rede de influências ambientais, ecológicas e sociológicas pode alterar a probabilidade de um contato entre um patógeno e o novo hospedeiro. Entre os fatores que podem influenciar a emergência de doenças infecciosas citam-se o comércio internacional, a demografia e o comportamento humano, a suscetibilidade humana a infecções, a pobreza e a desigualdade social, a guerra e a fome, a falta de continuidade das medidas preventivas de saúde pública, a indústria e a tecnologia, as modificações do clima e o tempo, a alteração dos ecossistemas, a intenção de provocar o mal, a falta de vontade política, a adaptabilidade e a alteração genômica do microorganismo, o desenvolvimento econômico e o uso da terra (MORENS, 2008). Aparentemente, a variação do genoma participa em cada uma das fases do processo que culmina na disseminação de um novo patógeno em um hospedeiro recentemente colonizado; Possivelmente, as oportunidades de encontro com o novo hospedeiro são frequentes; É provável que apenas uma minoria desses encontros resulte em doença viral emergente ou reemergente; Possíveis explicações para o sucesso da introdução de um novo vírus numa nova espécie de hospedeiro são o fato de o vírus ser capaz de colonizar o novo hospedeiro sem necessidade de variação genética, como também de se reproduzi em quantidade suficiente para ser transmitido a um novo hospedeiro; A quantidade necessária para a transmissão vai depender da estabilidade da partícula viral e de sua capacidade de escapar da resposta imune do novo hospedeiro, entre outros fatores; Se o vírus não é tão eficiente em se replicar no novo hospedeiro, este precisará da intervenção da variação genética para ser introduzido eficientemente. A adaptação, isto é, sua capacidade de se replicar produzindo novas partículas infectantes num dado ambiente, dependerá de ajustes que podem ser mediados por mutações pontuais e de sua capacidade de escapar da resposta imune natural ou farmacológicos; A disseminação do vírus por meio de uma nova espécie será tão eficiente quanto menor for a quantidade de partículas virais necessárias para desencadear a infecção. Essa etapa dependerá da carga viral alcançada no hospedeiro fonte, da quantidade de vírus nas excreções, do modo de transmissão e da estabilidade das partícula virais, entre outros. A capacidade do vírus de se replicar o novo hospedeiro e de produzir novas partículas transmissíveis a um hospedeiro suscetível é essencial para a emergência de uma nova infecção. Por esse ângulo, uma infecção emergente ou reemergente pode ser definida como episódios de adaptação de um patógeno a um novo ambiente. O agente será responsável pela emergência de uma doença com potencial epidêmico se ele for capaz de causar infecção em mais de um indivíduo (R0>1). Se R0 estiver próximo a zero, a tendência é que a infecção não seja importante, mesmo que a doença seja grave, como é o caso da raiva humana e da hantavirose. Entretanto, se R0 estiver próximo a 1, o agente poderá sofrer pequenas adaptações genéticas, passar para o nível epidêmico e se tornar emergente. Sob esse aspecto, seria possível estudar agentes responsáveis por doenças epidêmicas em animais e estimar sua capacidade de tornar-se emergente em humanos, centrando atenção na dinâmica dos parasitos no período pré-epidêmico e contribuindo para elaboração de estratégias globais para a defesa de doenças emergentes. A adaptação epidemiológica descreve de modo semiquantitativo a capacidade de um vírus (sorotipo, cepa ou variante) tornar-se dominante em relação a ouros sorotipos, cepas ou variantes da mesma espécie. Um exemplo é o vírus da influenza H1N1, que era a espécie dominante no início da pandemia de 2009. Os mecanismos de adaptação do novo patógeno parecem estar associados a mutação, recombinação e rearranjos segmentados genômicos. Vários fatores estão envolvidos na probabilidade da geração de mutações. Um dos mais importantes é a ausência de uma enzima polimerase que corrige erros na codificação do ácido nucleico. Os vírus que têm RNA não tem essa enzima e apresenta maiores chances de mutações. A alta frequência de mutações nos vírus RNA origina mutantes, denominados quasiespécies, que constituem um reservatório de variantes genéticas e fenotípicas com diversas implicações biológicas no que se refere à patogênese e que podem ser selecionados em resposta a uma mudança ambiental, como um hospedeiro alternativo. Sob esse aspecto, a mutação não seria um evento ocasional, mas sim um evento contínuo. Um fator que pode influenciar a frequência de mutações nos vírus DNA é quando a DNA polimerase de alta ou de baixa fidelidade e reparo pós replicativo alcançam os pontos de replicação viral e também quando são capazes de corrigir os erros em muitos genomas surgidos nas complexas replicações virais que se acumula no DNA viral. Essa questão ainda não está completamente esclarecida. Recombinação ocorre tanto em vírus DNA como RNA, independente de haver replicação viral ou não. É uma forma de recuperar a adaptação dos progenitores que ficou baixa ou de eliminar mutações nocivas ou, ainda, de explorar potenciais adaptativos de combinações genômicas raras. Rearranjos de segmentos do genoma têm grande importância evolutiva para os vírus com genoma segmentado, sendo os mais estudados os dos vírus influenza A. Rearranjos com vírus de animais, especialmente aves e suínos, deram origem à aquisição de genes de hemaglutinina e /ou neuraminidase, que foram responsáveis pelas pandemias de influenza em 1918. Esses vírus adquiriram antígenos que não eram bem reconhecidos pelos anticorpos neutralizantes presente na população humana. A aquisição de novos segmentos de genoma que produzem modificação na especificidade antigênica é denominada shift antigênico. Modificações antigênicas graduais durante a fase de circulação do vírus na população humana são denominadas drift antigênico e pode resultar de mutações pontuais para melhor adaptação do vírus ao novo ambiente. Mutação, recombinação e rearranjo podem produzir novas formas virais, mas somente uma minoria delas será competente para se replicar no novo hospedeiro, uma vez que essas novas formas terão de superar a resposta imune do hospedeiro e talvez outras ameaças do novo meio. Desse modo, os múltiplos mecanismos adaptativos são importantes para formatar o patógeno, que obtém sucesso como um emergente. Entre as doenças infeciosas emergentes, citam-se o HIV/AIDS, síndrome pulmonar por hantavírus, dengue, dengue hemorrágico e cólera. Fatores específicos que precipitamo surgimento dessas doenças geralmente podem ser identificados. Entre eles, podem ser citados fatores demográficos, ecológicos e ambientais eu aumentam o contato de hospedeiros suscetíveis com o hospedeiro natural ou com o que promove a disseminação. Os microorganismos também continuam evoluindo, surgindo variantes de vírus e bactérias além da seleção daqueles resistentes a medicamentos. Portanto, doenças infeciosas continuarão a surgir, e o pensamento de alguns anos passados, de que com os antibióticos e os inseticidas seria possível aposentar os livros de doenças infeciosas não parece corresponder á realidade atual.
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