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Disciplina Avaliação do processo ensino- aprendizagem Coordenador da Disciplina Prof.ª Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca 3ª Edição Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição ao Instituto UFC Virtual. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Créditos desta disciplina Realização Autor Prof.ª Alanna Oliveira Pereira Carvalho Sumário Aula 01: O processo de Ensino e de Aprendizagem: Conceitos e perspectivas atuais........................ 01 Tópico 00: Apresentação ........................................................................................................................ 01 Tópico 01: Contextualizando a avaliação de aprendizagem. ................................................................. 03 Tópico 02: Os conceitos de ensino e de aprendizagem. ........................................................................ 05 Aula 02: A avaliação da aprendizagem e suas características .............................................................. 11 Tópico 01: Por que avaliar? Quem avaliar? ........................................................................................... 11 Tópico 02: Princípios gerais da avaliação. ............................................................................................. 15 Aula 03: Tipos e instrumentos de avaliação da aprendizagem ............................................................. 23 Tópico 01: Os tipos de avaliação da aprendizagem? ............................................................................. 23 Tópico 02: Pensando nos instrumentos de avaliação da aprendizagem. ................................................ 28 TÓPICO 00: APRESENTAÇÃO MENSAGEM DE BOAS VINDAS À DISCIPLINA Olá querido aluno! Estamos iniciando mais uma disciplina de Avaliação do Processo de Ensino Aprendizagem com a certeza de que colheremos bons frutos e cultivaremos outros tantos! A disciplina está dividia em três aulas: Aula 1 – O processo de ensino e de aprendizagem: conceitos e perspectivas atuais, Aula 2 – A avaliação da aprendizagem e suas características e Aula 3 - Tipos e instrumentos de avaliação da aprendizagem. Organizamos desta forma para que os conteúdos das aulas auxiliem você nesta caminhada da formação docente, pontuando especificamente a avaliação do processo de ensino e de aprendizagem no âmbito da prática educativa. Os autores e textos utilizados estão ao final de cada aula, esperamos que busquem aprofundar-se nas aulas e almejem uma avaliação da aprendizagem mais justa e humana! Ansiamos que gostem das aulas e se divirtam, afinal, o caminho da aprendizagem é permeado de muito entusiasmo, descoberta e alegria! Bons estudos! O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM: CONCEITOS E PERSPECTIVAS ATUAIS Caro aluno, pensar avaliação não é somente pensar em provas ou testes, deve ser mais que isso, deve ser pensar em processos educativos! Muitas situações durante a nossa vida escolar deixaram marcas em nossa maneira de pensar e ver o mundo, na grande maioria essas situações perpassaram pelos momentos pontuais de provas e exames a que fomos submetidos. OLHANDO DE PERTO Entender o fenômeno da avaliação e as suas implicações no cenário educativo é fundamental na formação docente. Apesar das experiências enquanto alunos, os professores em formação precisam estabelecer reflexões e questionamentos sobre os processos que constituem o seu trabalho. O ensino, processo específico do trabalho docente, está atrelado à aprendizagem. Ambos mantêm uma relação de interdependência que assegura a característica da prática educativa. E a avaliação nesse processo interage regulando e embasando estes processos, ora ao professor, ora ao aluno. É responsabilidade e trabalho docente entender como a avaliação se projeta nesses processos de ensino e de aprendizagem, e de que forma, o AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 01: O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM: CONCEITOS E PERSPECTIVAS ATUAIS 1 professor o principal ator no “saber fazer” dessa avaliação, a constituirá enquanto instrumento e mecanismo colaborativo nesses processos. Portanto, a primeira aula desta disciplina visa atentar para os olhares que precisamos ter diante da avaliação, não somente como momento pontual, mas como processo e fenômeno que envolve o ensino e a aprendizagem. Bons estudos! FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 2 TÓPICO 01: CONTEXTUALIZANDO A AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM VERSÃO TEXTUAL A avaliação é um conceito próprio do ser humano quando a utiliza para fazer um julgamento de valor a um determinado objeto, ou mesmo de outro ser humano. Antes mesmo de projetarmos as provas e testes na escola, a ação de avaliar já se fazia presente na seleção de bons guerreiros no Império Chinês há três mil anos e de professores gregos e romanos como nos trazem algumas passagens bíblicas. É fato que o ato de avaliar é inerente a ação humana, no entanto, quando se projeta a um sistema ou objetivos/resultados claros e concisos que se deseja atingir, a avaliação se torna um instrumento formal de tomada de decisões. Desde os testes formais do Renascimento para entrada na universidade até as avaliações enquanto testes de rendimento e verificação da aprendizagem, a avaliação passa por pesquisas e explorações quanto a sua função, conceito, características, forma e instrumentos. A avaliação do processo de ensino-aprendizagem não pode ser confundida com avaliações de programas de políticas públicas ou processos seletivos, há que se atentar para a sua função e característica básica do panorama nacional educacional. [...] a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais [...] (BRASIL, Lei 9.394/1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Art. 24, Inciso V). Nesse sentido, ao pensarmos avaliação escolar e mais especificamente do ensino-aprendizagem, devemos considerar outros fatores que não apenas aqueles que envolvem o instrumento da avaliação em si. Primeiro você deve se perguntar a que tipo de ensino e de aprendizagem essa avaliação está a serviço. Veja bem, ao falarmos em avaliação do ensino-aprendizagem supõe- se um modelo de ensino e de aprendizagem previamente elencados como possíveis e necessários àquela realidade. Ao pensarmos nessa avaliação do ensino-aprendizagem na escola, delimitamos ainda mais esse campo, especificando o seu objetivo sistematizado e contextualizado com a realidade, nível e modalidade de ensino a que se refere. Há, pois dois conceitos aí integrados: o ensino e a aprendizagem. AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 01: O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM: CONCEITOS E PERSPECTIVAS ATUAIS 3 Leia a tirinha abaixo. Fonte [2] Vamos pensar um pouco sobre isso... Na tirinha, o menino questiona o conceito atribuído ao seu desempenho escolar pela professora. Ele admite que é frequente, então não entende o porquê de receber um conceito abaixo da “média”, já que está na escola todos os dias e “consome” dos produtos que ela oferece como um freguês, concorda? E o que mais podemos pensar a partir dessa tirinha? REFLEXÃO O que o conceito péssimo significa? Quais critérios foram utilizados pela professora na atribuição deste conceito? Como a criança percebe este conceito com relação ao seu desempenho escolar? E com relação aos seus colegas? Isso significa que a criança não aprendeu?De que forma o ensino aconteceu para que pudesse sanar as dificuldades de aprendizagem da criança? Ao pensarmos numa avaliação escolar precisamos estabelecer algumas características vinculadas a esse contexto em específico, que garantem o ensino e a aprendizagem. Saul (1994) revela que a avaliação está se tornando o centro das atenções em sala de aula, ocupando o lugar que deveria ser dos processos de construção do conhecimento, ou de ensino e aprendizagem, envolvidos pelas pesquisas e/ou pelas relações entre professores e alunos. Portanto é preciso perceber que no contexto educacional escolar, a avaliação é uma parte que contribui e é contribuída pelo todo. Os processos de ensino e de aprendizagem garantem a manifestação da avaliação a partir dos seus objetivos e formas de entendimento. Por isso, faz-se necessário pensar um pouco sobre ensino e aprendizagem antes de pensar a avaliação. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://2.bp.blogspot.com/-IUMc19sArHs/UAjKKrcPwhI/AAAAAAAAM Ro/EVvXDClrxTU/s1600/+tirinha+mafalda.+escola.jpg 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 4 TÓPICO 02: OS CONCEITOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM Os processos de ensino e de aprendizagem estão interligados a uma prática educativa, que por sua vez atende a uma proposta de educação escolar. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/1996, art. 1º “a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” Além disso, a LDB/1996 afirma que a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Portanto, a prática social evidencia o ponto de partida para a prática do ensino, ou seja, as relações sociais como um todo interferem e serão interferidas pela prática do ensino a partir da sua inserção no mundo da construção do conhecimento pelo aluno sob a mediação do professor. VERSÃO TEXTUAL Nessa perspectiva, ensinar movimenta elementos da didática – objetivos, conteúdos e unidade ensino-aprendizagem, numa situação concreta, de contexto sociocultural da escola e alunos, da ação docente, dos recursos disponíveis, dos conhecimentos e experiências do professor e aluno. O ensino é a ação de mediação, de prover condições e meios para os alunos se tornarem ativos no processo de apropriação do saber sistematizado (LOPES, 1996). Diante disso, podemos pensar que o ensino não deve está pautado apenas sob o enfoque do livro didático ou dos conteúdos que são apresentados nas avaliações de larga escala. Os objetivos do ensino indicarão o caminho metodológico proposto para a sua sistematização e prática. Os princípios e fins da educação nacional, ressaltam a educação inspirada na liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. ESCALA As avaliações em larga escala na área educacional são geralmente propostas pelas Políticas Públicas e pelos órgãos gerenciadores como o Ministério da Educação, Secretarias de Educação Estadual ou Municipal. São exemplos as avaliações do SAEB, SPAECE, ENEM, ENADE, dentre outras. Nesse sentido, Coll (2007) apresenta vários princípios que devem ser vistos no processo de ensino a fim de vislumbrar um agrupamento das capacidades do indivíduo, cognitivas ou intelectuais, motoras, de equilíbrio e autonomia pessoal (afetivas), de relação interpessoal e de inserção e atuação AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 01: O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM: CONCEITOS E PERSPECTIVAS ATUAIS 5 social, desde compreender o processo de crescimento do indivíduo a partir das suas experiências até a concretização de uma proposta construtivista de intervenção pedagógica, quando são criadas condições para que os esquemas de conhecimento do indivíduo sejam construídos no decorrer das suas experiências, tendo o professor aí como mediador desse processo. Essas capacidades, trazidas por Coll (2007), também vão incidir sob uma perspectiva de visão sobre o aprender e o processo de aprendizagem. As teorias de aprendizagem, ou seja, construções humanas acerca das interpretações sobre o conceito aprendizagem trazem algumas características próprias de cada construção e desenvolvimento constituídos à época desse conceito. Nesse sentido, com vistas a tratar sob os conceitos atuais de ensino e de aprendizagem, trazemos autores que mais contextualizam esses conceitos no quadro a seguir. A TEORIA DE ENSINO DE JEROME BRUNNER (1915 – ATUAL) Considera que é possível ensinar qualquer assunto de maneira honesta a qualquer criança em estágio de desenvolvimento, considerando as especificidades do estágio em que a mesma se encontra. Considera que o ensino é um processo de descoberta, com exploração de alternativas e do currículo em espiral – ver o mesmo tópico em níveis de profundidade e complexidade. Para Brunner, uma questão básica do desenvolvimento é a representação, desse modo, o indivíduo passa por três modos de representação do mundo: • representação ativa – compreende o período da aquisição da linguagem e a época em que a criança começa a aprender a manipular símbolos, o trabalho mental da criança se dá nas relações entre experiência e ação. • representação icônica – compreende o estágio em que a criança já está na escola e opera na manipulação direta de objetos, ou interna, quando mentalmente; ação se difere do estágio anterior porque agora pode ser interiorizado – efetuar a resolução de um problema em sua mente, e reversível – uma operação pode ser compensada por outra inversa. • representação simbólica – capacidade da criança em operar sob proposições hipotéticas, sem restringir-se ao que já experimentou ou ao que tem diante de si, a criança utiliza símbolos nas suas operações intelectuais. Nesse sentido, o ensino em Brunner deve apontar experiências mais efetivas para implantar a predisposição do indivíduo a aprendizagem, especificar como deve ser estruturado o conjunto de conhecimentos para a melhor forma de aprendizagem do aprendente, além disso, desse especificar uma sequencia eficiente na aprendizagem desses conhecimentos, e por fim, deter-se na aplicação de prêmios e punições no processo de aprendizagem e ensino – que parte de uma perspectiva extrínseca, como elogios do professor à intrínseca, inerente à solução de um problema complexo. 6 Fonte [2] A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE JEAN PIAGET (1896 – 1980) As propostas da teoria de Piaget configuram uma teoria construtivista do desenvolvimento cognitivo humano, os períodos de desenvolvimento mental e os conceitos assimilação, acomodação e equilibração são a chave da sua teorização. São quatro os períodos do desenvolvimento cognitivo: • sensório-motor – vai do nascimento aos dois anos de idade, nesse estágio a criança não diferencia o eu dela do meio que a rodeia, ela é o centro e os objetos existem em função dela; • pré-operacional – vai dos dois aos seis ou sete anos, o pensamento começa a ser organizado pelo uso da linguagem, dos símbolos e imagens mentais, continua numa perspectiva egocêntrica vendo como a realidade a afeta; • operacional-concreto – vai de sete a oito anos e vai até os onze ou doze anos, nesse estágio há uma descentração da perspectiva egocêntrica que até então existia, o pensamento mais organizado possui operações lógicas reversíveis, é capaz de pensar no todo e nas partes simultaneamente; • operacional-formal – vai dos onze ou doze anos até a idade adulta, há nesse estágio a capacidade de raciocinar com hipóteses verbais e não apenas objetosconcretos, desenvolve o pensamento proposocional, manipula proposições racionalmente. Além disso, Piaget acredita que o crescimento cognitivo da criança se dá por meio da assimilação e acomodação. A assimilação traz a relação mental do indivíduo a partir da sua interação com o meio, não há modificação mental sob esse esquema de assimilação. A acomodação é a reestruturação da assimilação, o equilíbrio entre as duas é a adaptação à situação, portanto experiências acomodadas dão origem a novos esquemas de assimilação e um novo estágio de equilíbrio é atingido. Nesse sentido, o ensino deverá provocar o desequilíbrio no organismo (mente) da criança para que ela procurando o reequilíbrio se reestruture cognitivamente e aprenda. Clique na imagem abaixo para ampliar. 7 Fonte A TEORIA DA MEDIAÇÃO DE LEV SEMENOVITCH VYGOTSKY (1896 – 1934) Parte do desenvolvimento dos processos mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento volitivo) incorporados à referência ao contexto social e cultural que eles ocorrem, além disso, faz-se necessário entender os instrumentos – algo que pode ser usado para fazer alguma coisa, e signos – algo que significa outra coisa, que podem ser indicadores (tem relação de causa e efeito com aquilo que significam), icônicos (imagens ou desenho daquilo que significam) e simbólicos (tem uma relação abstrata com o que significam) como características que mediam esses processos. É com a interiorização dos instrumentos e sistemas de signos, produzidos culturalmente, que se dá o processo cognitivo do indivíduo. A zona de desenvolvimento proximal é uma característica da teoria de Vygotsky, ela aponta a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo – sua capacidade de resolver problemas independentemente, e o nível de desenvolvimento potencial – medido pela solução de problemas sob orientação ou em colaboração de companheiros mais capazes. Em Vygotsky, a função do professor será a de mediação na aquisição de significados contextualmente aceitos pelo aluno no que diz respeito a zona de desenvolvimento proximal do aprendiz. A linguagem é instrumento fundamental nesse processo de aprendizagem. Clique na imagem abaixo para ampliar. Fonte [3] A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE DAVID AUSUBEL (1918 – 2008) Definem-se três tipos gerais de aprendizagem – cognitiva, afetiva e psicomotora. No entanto, Ausubel enfocará o ponto de vista cognitivista – relaciona-se ao armazenamento organizado de informações na mente do ser que aprende, e esse complexo organizado é chamado de estrutura cognitiva. Na teoria de Ausubel o que mais influencia a aprendizagem da criança na escola é aquele conhecimento que ela já sabe, é tarefa do professor identificar e ensinar a partir disso. Há um processo de interação 8 onde conceitos mais relevantes e inclusos interagem com o novo material a ser aprendido, funcionando ancoradouro – ao mesmo tempo que abrange e integra, modifica-o. A aprendizagem significativa, em Ausubel, ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz, o que se contrapõe a aprendizagem mecânica que seria a aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma interação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva – informação armazenada de maneira arbitrária. Há três aprendizagens significativas: aprendizagem representacional – tipo mais básico que envolve atribuição de significados a determinados símbolos (tipicamente palavras), ou seja, identificação, em significado, de símbolos com seus referentes (objetos, eventos, conceitos); aprendizagem de conceitos – é uma aprendizagem representacional, no entanto, os conceitos representados por símbolos particulares são genéricos e categóricos, representam abstrações dos atributos essenciais dos referentes; aprendizagem proposicional – aprender o significado de ideais em forma de proposição, ao contrário da aprendizagem representacional, há que se ressaltar o significado das ideias expressas verbalmente por meio desses conceitos sob forma de uma proposição. Nesse sentido, a teoria de Ausubel focaliza a aprendizagem verbal significativa receptiva, verbal – tendo na linguagem (propriedade representacional da palavra) principal facilitador da aprendizagem significativa; receptiva – mecanismo humano por excelência para adquiria e armazenar vasta quantidade de ideias e informações de qualquer campo de conhecimentos; no entanto, receptiva não é sinônimo de passiva, pois a aprendizagem significativa prediz um processo cognitivo dinâmico. Clique na imagem abaixo para ampliar. Fonte Fonte: MOREIRA, 1999. Com base nos conceitos até agora evidenciados sobre ensino e aprendizagem, podemos pensar e refletir melhor sobre o papel da avaliação a partir desses processos, da forma como vemos e conceituamo-los. A prática educativa é permeada dos conceitos e representações que o docente traz acerca dos elementos que a compõem, nesse sentido não podemos enxergar a avaliação sob um prisma solitário, de forma apenas instrumental. Precisamos conhecer e perceber a avaliação do processo ensino- 9 aprendizagem a partir do que acreditamos e praticamos como ensino e aprendizagem. RESUMINDO... A forma de avaliar revela o conceito que o docente tem acerca do que seja ensinar e aprender. Não somente acerca daquilo que o aprendiz tem de assimilar, mas também acerca do modo como o professor pode ajudá-lo a fazê-lo (GUERRA, 2007, p.119). FÓRUM A partir da temática desenvolvida nesta aula, discuta no Fórum da Aula 1: quais são as concepções de ensino e de aprendizagem nos dias atuais? ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Com base na temática da Aula 1 e na leitura do texto Prática Educativa: processo versus produto - Luckesi (2006) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.), apresente uma situação em que a avaliação atenda a uma prática educativa enquanto um processo, e uma prática educativa enquanto produto. Essa atividade deverá ser realizada em grupos de no máximo quatro alunos. Não se esqueça de estabelecer relação com o conceito de ensino e de aprendizagem que os dois modelos de avaliação ressaltam. REFERÊNCIAS COLL, César. PSICOLOGIA E CURRÍCULO. Uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. Tradução: Cláudia Schilling. 5. ed. São Paulo: Ática, 2007. (Série Fundamentos). LOPES, Antonia Ozima. Relação de Interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. A. DIDÁTICA: o ensino e suas relações. Campinas, SP: Papirus, 1996. MOREIRA, Marco Antonio. TEORIAS DE APRENDIZAGEM. São Paulo: EPU, 1999. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://dialogandocomelo.blogspot.com/2013_05_01_archive.html 3. http://pt.slideshare.net/snvanessa/vygotsky-5317104 4. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 10 TÓPICO 01: POR QUE AVALIAR? QUEM AVALIAR? Na aula anterior pudemos perceber que a avaliação da aprendizagem está relacionada aos conceitos de ensino e de aprendizagem, pois está a serviço destes. E mais que isso, nas discussões percebemos os vários conceitos e contextos da prática educativa, e a avaliação atrelada a estes. Nesta aula, pontuaremos especificamente o que é a avaliação e quais são os princípios que a regem enquanto fenômeno do processo de aprendizagem em dois módulos. REFLEXÃO Pensamos nestas perguntas norteadoras: As características da ação docente trazem subsídios para entendermos a prática avaliativa a partir do processo de ensino, e quanto ao processo de aprendizagem? Como podemos pensar ou ver as características do processo da aprendizagem mediante o educando e o seu papel? Aproveite esta aula para pensar, refletir e questionar o papel e importância da avaliaçãosob as diferentes perspectivas da prática educativa, em específico, o processo de ensino e de aprendizagem, cenários da mediação do professor e participação ativa do aluno. Bons estudos! POR QUE AVALIAR? QUEM AVALIAR? Quantos de nós não sofremos com a data da prova ou do teste? Com estudos tediosos acerca dos conteúdos que “cairiam” na prova? Com atividades que exercitavam a escrita ou a fixação dos conteúdos para o tão esperado dia? Quanto nervosismo, ansiedade, dor de barriga! E tudo não passa de um momento pontual, que depois dali és livre para pensar e aprender o que quiser, admitindo a nota mínima da escala para não ficar reprovado. Será que a avaliação precisa mesmo ser assim? Sob a égide do medo? O professor precisa utilizá-la para ameaçar os alunos pelo mau comportamento em sala de aula? Há uma função de instrumento disciplinador envolto da avaliação que partilha do medo do aluno e do autoritarismo do professor? AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 02: A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E SUAS CARACTERÍSTICAS 11 Essa imagem é atual? É própria do cotidiano escolar? Pensemos sobre ela: que sentimentos essas falas da imagem acima nos trazem quando somos educandos? Quando somos os avaliados? São sentimentos bons ou ruins? A avaliação deve concentrar-se no processo de ensino, processo este que ampara a aprendizagem do educando, dentro de um contexto e intencionalidade educativos. A prática avaliativa que atende aos processos de ensino e de aprendizagem nos dias atuais deve se voltar a uma perspectiva diagnóstica e de inclusão. Para distinguir essas duas condutas – examinar ou avaliar na escola, basta relembrar sucintamente que o ato de examinar se caracteriza, especialmente (ainda que tenha outras características) pela classificação e seletividade do educando, enquanto que o ato de avaliar se caracteriza pelo seu diagnóstico e pela inclusão (LUKCESI, 2011, p.29). A avaliação em sua função diagnóstica desempenha um papel fundamental nos processos de ensino e da aprendizagem. Tanto para se conhecer o nível e contexto dos alunos quanto para intervir de maneira mais eficaz no seu desenvolvimento. A avaliação com fins de diagnóstico deve contribuir para a regulação das aprendizagens em curso no sentido dos domínios visados, conforme defende Perrenoud (1999). E em sua função inclusiva demonstra auxílio ao educando naquilo que ele pode aprender, na relação dialógica entre professor e aluno, partindo das suas aprendizagens para vislumbrar outras e novas (Luckesi, 2011). Durante algum tempo a prática avaliativa se limitou ao simples processo de atribuição de conceitos ou notas a um teste ou exame respondido pelo educando – prática do exame. De certo, essa prática permitiu um entendimento sobre o processo de ensino a partir das perspectivas de aprendizagem que se desenvolviam. Modelos tradicionais de ensino com foco na memorização e no comportamento do indivíduo vinculado ao ato de aprender. 12 ENSINO Pedagogia Tradicional e Tecnicista são duas tendências pedagógicas reconhecidas em Libâneo (1990), Saviani (1983), dentre outros autores que expressam o ensino a partir do preciosismo do método – conteúdo clássico e enciclopédico a ser ensinado e a racionalização do sistema de ensino a partir da lógica e seguimento empresarial – objetivos e conteúdos instrucionais para eficiência e eficácia, respectivamente. VERSÃO TEXTUAL Nos dias atuais vemos que o processo de ensino não pode mais ser o mesmo de uma tendência tradicional/tecnicista do ensino, com uma prática exacerbada de exames e testes, com foco numa metodologia de ensino baseada na exposição dos conteúdos pelo professor e numa concepção de aprendizagem de assimilação passiva destes, com vistas à ocupação futura desse indivíduo no meio social ou no mercado de trabalho. Viana (2000) assevera que o boom da avaliação se iniciou com os estudos e pesquisas de Ralph W. Tyler (1902 – 1994) que sugeria nos anos de 1930, no contexto norte-americano, uma avaliação que se voltasse para os pressupostos e objetivos do currículo. Encarando a mudança de comportamento do educando como principal requisito para análise avaliativa dos objetivos pré-estabelecidos e daqueles atingidos de fato, considerando uma releitura do próprio currículo e suas características. Essa proposta foi importada ao Brasil preocupada apenas com a classificação e desempenho do educando, desmerecendo a análise de currículo, metodologias e características da escola – indicadores que influenciavam também esse estudo avaliativo. Com isso, tivemos uma crescente expansão de objetivos, técnicas, instrumentos e análises dos testes escolares que geravam conceitos ou desempenhos mais bem elaborados atrelados ao tão somente ao rendimento do educando. Essa perspectiva de avaliação classificatória e seletiva propõe também um modelo de ensino, de escola, de sociedade – ou na verdade, está a serviço destes últimos. Ao pensarmos numa outra forma de avaliar precisamos entender estes conceitos para que relacionemos a avaliação à sua função primordial: de regulação do processo de ensino e de aprendizagem. Precisamos cuidar de um ensino que responda às demandas sociais e reais do indivíduo, partindo deste enquanto prática social e retornando a ela. O objetivo do ensino deve ser privilegiar a aquisição do saber, e de um saber vinculado às realidades sociais, promovendo métodos que favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos alunos. E que os alunos possam reconhecer nos conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prática social) (LIBANEO, 1990). OLHANDO DE PERTO 13 A avaliação deve ser entendida não apenas como comprovação de uma aprendizagem, mas como um processo que fundamenta, organiza e se relaciona à aprendizagem, como um fenômeno que a destina. A regulação no processo de ensino e de aprendizagem confere não apenas conhecimentos sobre as aprendizagens dos educandos, mas também dos métodos e técnicas utilizados pelos professores no ensino. A avaliação alimenta uma perspectiva de subsídio à própria reflexão do professor sobre a sua prática. Além de se relacionar enquanto auxílio que na construção do currículo e nas práticas próprias da escola em detrimento a aprendizagem dos educandos, bem como, da aprendizagem daqueles que fazem parte deste trabalho educativo que significa uma prática social em constante análise, reflexão e mudança. O que participa no desenvolvimento dos objetivos e princípios desenvolvidos na escola, almejando uma aprendizagem pautada em perspectivas relacionadas a essa prática social que se torna o ensino. Dessa forma, percebemos que a avaliação está relacionada não somente com o educando, mas com o docente, a gestão escolar, os profissionais da educação, a comunidade escolar, todos de forma geral. Não falamos aqui do instrumento prova esse não deve ser confundido com a avaliação, pois esta se faz num terreno mais amplo e fecundo do que o instrumento que nos permite identificá-la. O que falaremos na próxima aula. A partir disso, faz-se necessário pensarmos os princípios e características que regem esse ato de avaliar a aprendizagem e os sujeitos que o compõem trazendo de forma mais concreta o desenho que podemos criar da nossa prática avaliativa enquanto educando, professores e gestores. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 14 TÓPICO 02: PRINCÍPIOS GERAIS DA AVALIAÇÃO Ao pensarmos a avaliação precisamos esclarecer alguns princípios e características que nos permitem evidenciá-la como tal. Para isso, Miguel Guerra (2007) traz em seu livro Uma flecha no alvo: a avaliação como aprendizagem alguns princípios gerais da avaliação que poderão nortearo nosso trabalho enquanto educandos, educadores e gestores. PRINCÍPIOS GERAIS DA AVALIAÇÃO 1º PRINCÍPIO A AVALIAÇÃO É UM FENÔMENO MORAL, NÃO MERAMENTE TÉCNICO A avaliação, além de ser um processo técnico, é um fenômeno moral. É muito importante saber a que valores ela serve e a que pessoas beneficia. É muito importante avaliar bem, mas é mais importante saber a que causas serve a avaliação. É perigoso (e contraditório com o verdadeiro sentido da avaliação formativa) instalar no sistema de formação mecanismos que geram submissão, temor, injustiça, discriminação, arbitrariedade, desigualdade, etc. A avaliação não é um fenômeno neutro, que se possa realizar sem indagar pelos valores, pelo respeito às pessoas, pelo sentido da injustiça. A avaliação é também um fenômeno moral porque tem repercussões importantes para as pessoas, para as instituições e para a sociedade. Na avaliação há poder (que se deve se colocar a serviço das pessoas) e deve haver ética (House, 1994). Os fins da avaliação, as funções que cumpre são múltiplos. De uma perspectiva ética, devem ser potencializadas as funções que enriquecem o profissional e a instituição: dialogar, compreender, aprender, aperfeiçoar,estimular, orientar etc. As funções mais pobres não deveriam ter nenhum peso na pratica: classificar, discriminar, hierarquizar, competir, controlar etc. A avaliação tem um conteúdo social, já que ratifica – dentro de certos limites, é claro – que aqueles que exercem a profissão dominam os conhecimentos, possuem as habilidades e dispõem das atitudes que permitem assegurar que o exercício da prática será bem realizado no marco de uma instituição. Como o processo da avaliação se desenvolve num contexto amplo, é preciso respeitar as regras do jogo para que não sejam prejudicados os que se atêm a elas de forma fiel e coerente. 2º PRINCÍPIO A AVALIAÇÃO TEM DE SER UM PROCESSO E NÃO UM ATO ISOLADO A avaliação não deve se converter num ato concreto que se realiza uma vez que a formação tenha terminado. Deve ser um processo que acompanha a aprendizagem. Se a avaliação é convertida num ato isolado, corre o risco de não ser rigorosa, já que as variáveis que condicionam esse AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 02: A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E SUAS CARACTERÍSTICAS 15 momento são tantas e tão poderosas que não se pode garantir sua validade. Ademais, um ato isolado não pode atuar em condições de normalidade para aquele que está sendo avaliado. É fácil que a artificialidade do comportamento leve ao erro ou ao engano. A avaliação tem de estar contextualizada e deve levar em consideração as condições em que se produz a formação. Ela não é um fenômeno alheio, sobreposto, acrescentado e descontextualizado. A avaliação tem de ser contínua e deve ser realizada pelos agentes que compartilham sua prática com os avaliados, já que assim se pode garantir que o aprendizado será assimilado de maneira significativa. Este princípio exige que a avaliação vá se realizando conforme o avanço da formação, e no mesmo terreno em que esta ocorre. 3º PRINCÍPIO É PRECISO QUE A AVALIAÇÃO SEJA UM PROCESSO PARTICIPATIVO A participação no processo de avaliação tem múltiplas dimensões. Se os avaliadores participarem na elaboração do processo, será mais fácil que o ponham em pratica de maneira rigorosa e entusiástica. Pelo contrário, se é fruto de decisões hierárquicas procedentes de lógicas que não assumem como suas, a avaliação se tornará facilmente uma atividade meramente burocrática. Por outro lado, quanto maior a participação dos avaliados no processo de avaliação, mais potencialidades formativas ela terá. A participação, além disso, reduz a artificialidade do comportamento. Os avaliados devem tomar parte na decisão sobre o sentido e o desenvolvimento do processo, devem discutir seus critérios, sua aplicação e o resultado dela. Trata-se, pois, de uma participação real, e não meramente nominal, de uma participação que afeta as partes substanciais da avaliação e não as questões marginais ou irrelevantes dela. Isso exige um diálogo sincero e aberto, não meramente formal, e menos ainda ardiloso. Não é aceitável pedir a opinião quando não se tem a intenção de levá-la em consideração. A avaliação deverá ser um processo de diálogo (entre avaliados e avaliadores, entre os avaliados, entre responsáveis e avaliador/avaliadores etc.). Dessa maneira, tornar-se-á possível compreender a natureza da formação e, por meio dessa compreensão, melhorá-la (Santos Guerra, 1993, 1998). 4º PRINCÍPIO A AVALIAÇÃO TEM UM COMPONENTE CORROBORATIVO E UM PRINCÍPIO ATRIBUITIVO A avaliação comprova o aprendizado efetuado, mas também pode explicar por que ele não ocorreu. Essa explicação costuma atribuir a causa da ausência de aprendizagem exclusivamente ao avaliado: não se esforçou suficientemente, não é inteligente, não tem base, não presta atenção, não está motivado etc. É claro que existem causas atribuíveis ao avaliado. Porém, seriam todas as causas atribuíveis a ele? Não há nenhuma 16 responsabilidade imputável à instituição, ao diretor, aos governantes que geram as normas e concedem os meios, à maneira de aplicar a avaliação? Nem tudo aquilo que o avaliado deixou de aprender é de sua responsabilidade. É por essa razão que a avaliação tem de ser holística. Se a avaliação só leva em conta a atitude, o esforço e o rendimento do avaliado, corre o risco de se transformar numa força domesticadora e falsificadora da realidade. 5º PRINCÍPIO A LINGUAGEM SOBRE A AVALIAÇÃO NOS FAZ ENTENDER E TAMBÉM NOS CONFUNDE Uma coisa é a avaliação, e outra coisa, muito distinta, é a qualificação. Uma coisa é a medição e outra é a avaliação. Os ingleses utilizam diversos termos para fenômenos distintos que aqui incluímos no termo avaliação. utilizando um único termo, incluímos nele processos de assesstment, de accountability e de appraisal, de inspection, de self evaluation... É indispensável que respondamos previamente a esta questão: o que denominamos avaliação? Quais são seu sentido e sua finalidade? Trata-se fundamentalmente de saber quem é apto e quem não é apto para exercer uma tarefa ou para desenvolver processos de competitividade com a desculpa de que isso serve de estímulo para a formação? O mais importante é fazer uma classificação, seja qual for o procedimento e a qualquer custo? Quando não atribuímos às palavras o mesmo conteúdo semântico, estamos dizendo coisas diferentes com os mesmos termos. Quando duas pessoas dizem que é preciso melhorar a avaliação, podem estar se referindo a mudanças diametralmente opostas. Uma quer mais quantificação, aplicação de critérios mecanizados etc. A outra se refere à maior participação do avaliado na tomada de decisões a respeito da avaliação. Com a mesma sentença, essas pessoas estão se referindo a concepções e propostas diferentes e até mesmo opostas. 6º PRINCÍPIO PARA QUE A AVALIAÇÃO TENHA RIGOR, TEM DE UTILIZAR INSTRUMENTOS DIVERSOS Não se pode inserir em fichários simples uma realidade muito complexa. Não é possível reduzir com rigor a um simples número o trabalho realizado por uma pessoa. Para que haja rigor, requer-se a utilização de métodos diversos. A observação pode resultar enganosa se não dispomos da explicação do interessado. A entrevista pode ser pouco valida se não contrastamos o que o entrevistado diz com aquilo que de fato faz. Seria desejável que houvesse a intervenção de avaliadores diversos, já que no processo de avaliação há muitos fatores subjetivos condicionantes. Duas pessoas podem atribuir valorações bem diferentes ao mesmo fato, ao mesmo trabalho, à mesma frase. O contraste de opinião favorece o rigor. 7º PRINCÍPIO 17 A AVALIAÇÃO É UM CATALISADOR DE TODO O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM A avaliação permite que se ponham em discussão todas as nossas concepções sobre a sociedade, sobre a formação.Poderíamos dizer a alguém: “Dize-me como fazes a avaliação e te direi que tipo de profissional (e até que tipo de pessoa) és”. A avaliação condiciona o processo de aprendizagem, embora seja feita a posteriori, já que o avaliado procura se acomodar aos critérios de avaliação. Este fato é tão poderoso que, às vezes, o resultado da avaliação torna-se mais importante que o próprio aprendizado. Daí a importância de conceber, elaborar e realizar uma avaliação justa e enriquecedora. Certamente, os eixos da sociedade neoliberal introduzem perigosos elementos nas práticas profissionais (obsessão pela eficiência, individualismo, competitividade, relativismo moral, conformismo social etc.), razão pela qual o processo de avaliação terá que obedecer a diretrizes que sejam sensíveis aos valores. 8º PRINCÍPIO O CONTEÚDO DA AVALIAÇÃO TEM DE SER COMPLETO E GLOBALIZANTE O que é preciso avaliar? Somente os dados que o aprendiz conseguiu memorizar, ainda que estes dados sejam irrelevantes e estejam superficialmente ligados? É preciso avaliar também as habilidades, os procedimentos e atitudes. A aprendizagem inclui muitas facetas, nem todas igualmente avaliáveis. Não é a mesma coisa avaliar a aquisição de um conceito e avaliar o domínio de uma habilidade. A comprovação dessas duas aprendizagens exige métodos diferentes. A insistência que tem havido na avaliação de conhecimentos ocorreu em detrimento de outras dimensões da aprendizagem que todos nós consideramos teoricamente importantes. Como não valorizar a capacidade de comunicação de um aprendiz de professor? Como não levar em conta a disposição para um trabalho cooperativo? Como esquecer-se da atitude ética em relação à tarefa e em relação às pessoas? 9º PRINCÍPIO PARA AVALIAR, É NECESSÁRIO TER UM CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM Existe o erro muito consolidado de julgar que, para realizar tarefas de formação, não são necessários saberes específicos. Como se o ensino causasse a aprendizagem de forma automática. Do mesmo modo, considera-se que a avaliação é um processo elementar que consiste em perguntar o que os avaliados aprenderam. Trata-se de simplificações perigosas, por que são simplistas e interesseiras. 18 Daí deriva a necessidade de que os professores tenham uma formação especifica como docentes. Como é possível avaliar as atividades se nem sequer se sabe em que consistem e como se desenvolvem? (Bolívar, 1995). É preciso que a instituição acolha a docência não como um simples adorno ou uma atividade irrelevante, mas como uma dimensão fundamental da prática profissional. É imprescindível dispor de mecanismos que favoreçam uma formação pertinente dos profissionais. Essa formação não se produz por mágica, mas como consequência de rigorosos processos concebidos e desenvolvidos com base em pressupostos didáticos. 10º PRINCÍPIO A AVALIAÇÃO TEM DE SERVIR À APRENDIZAGEM A avaliação não serve somente para medir e classificar, mas tem de ser utilizada para os objetivos de compreender e aprender. Nas instituições das quais se avalia muito e se muda pouco, há algo errado. Porque, se avaliar ajuda a compreender, é inevitável que essa compreensão produza decisões de mudança. Quem pode aprender por meio da avaliação? Os avaliados, os avaliadores e a instituição. Uma comprovação de que se esta aprendendo é a modificação de alguns enfoques e atividades. Se a avaliação é uma atividade cega, não servirá para aprender. Remeto à metáfora que dá título a este livro: se arremessarmos a um alvo com os olhos vendados, continuaremos a arremessar de maneira dificilmente aperfeiçoável. Contudo, se formos capazes e enxergar o ponto que nosso disparo atingiu e de perceber por que erramos, poderemos melhorar. 11º PRINCÍPIO É IMPORTANTE REALIZAR UMA METAVALIAÇÃO, OU AVALIAR AS AVALIAÇÕES É decisivo, por ser congruente e eficaz, submeter o processo de avaliação a uma análise rigorosa. Pode-se cometer abusos que se enraízam nas instituições e, embora evidentes para todos, aos quais ninguém põe um fim. Em instituições que não aprendem, que repetem suas rotinas de maneira lamentável perpetuam-se os erros e os prejuízos. A rigidez da instituição, a falta de diálogo entre as autoridades que tomam as decisões e aqueles que põem em prática as atividades de formação conduzem ao desalento e à inércia. Submeter a avaliação a uma metavaliação ajudará a fazer com que todos compreendam e mudem as práticas. Se a mudança só for efetuada a partir das prescrições provenientes da hierarquia, e não em virtude da compreensão e das exigências dos profissionais que as praticam, haverá dificuldades graves para conseguir uma melhora profunda. 12º PRINCÍPIO A AVALIAÇÃO NÃO DEVE SER UM ATO INDIVIDUALISTA, MAS ASSOCIADO 19 A avaliação não é responsabilidade isolada de um diretor, mas um fato social pelo qual toda a instituição é responsável. Fazer bem a avaliação significa o aperfeiçoamento da prática da formação. Quando a avaliação se converte num ato individualista, existe um duplo perigo. O primeiro está ligado ao fato de que cada professor tem os seus critérios, as suas concepções e as suas atitudes, que aplica sem compartilhá-los com ninguém. Nem ele aprende nem os outros melhoram. O segundo perigo consiste em que cada aluno tem de enfrentar a avaliação como uma atividade individualista que depende somente dele. Com um agravante: quando os colegas se transformam em competidores, pode-se dar margem a atitudes nocivas à lealdade. O aluno pretende ser melhor que os outros, e não dar o melhor de si mesmo. Produz-se uma competitividade que bloqueia a aprendizagem compartilhada e mina o clima ético da instituição. Dessa perspectiva individualista, o que ocorre com os outros tem pouca importância. Cada um se preocupa consigo, sem que existam reflexões e preocupações sociais. É um erro que empobrece a avaliação e a instituição em geral. A avaliação pode (deve) se converter numa plataforma de debate que ajude a instituição a melhorar a formação de seus profissionais e as práticas que empreende. Isso supõe uma atitude questionadora que discute a prática e uma atitude de dialogo que conduz ao debate sobre o seu sentido e o seu aprimoramento. Discutir a prática, refletir sobre ela e compreendê-la é o caminho para o aprimoramento. Uma vez que essa prática inclui elementos que dependem do contexto organizacional e da gestão, será preciso exigir dos responsáveis as condições necessárias para que esse aprimoramento seja possível. A avaliação, por conseguinte, diz respeito a todos e serve a todos. Não deve ser uma prática que conduz ao individualismo e à competitividade. GUERRA, Miguel Ángel Santos. UMA FLECHA NO ALVO: a avaliação como aprendizagem. Edições Loyola, São Paulo: 2007. pp. 17 – 24. As nossas escolas buscam na avaliação uma regulação do seu trabalho? Que instrumentos avaliativos as escolas têm utilizado no processo de ensino e de aprendizagem? É o professor inteiramente responsável por estes instrumentos? Como podemos pensar uma avaliação à luz dos princípios de Guerra (2007)? Há várias avaliações ou modos de pensá-la? As percepções do autor nos trazem questionamentos, dúvidas e reflexões acerca do fenômeno avaliativo. Seus princípios foram pensados a partir das experiências e estudos que vem se fazendo sobre essa temática, no entanto, notamos o quanto se tem feito (pouco ou quase nada) para que estes princípios sejam considerados no ato de avaliar nos dias atuais. Você já pensou no que precisamos fazer para que estes princípios sejam observados nas nossas salas de aula? Nas nossas escolas? Pelos nossos professores e alunos? 20 FÓRUM Leia a tirinha abaixo e reflita sobre as percepções da prática avaliativa atual para uma prática necessária de avaliação. Fonte A partir das características evidenciadas da avaliação nesta aula 2 e da leitura dos Princípios Geraisda Avaliação (Guerra, 2007), quais são os principais desafios para a projeção de uma avaliação justa e inclusiva? Discuta no fórum da Aula 2, com os seus colegas e tutor, os principais desafios para a projeção de uma avaliação justa e inclusiva, a partir dos princípios gerais da avaliação visto em Guerra (2007). Se desejar, selecione dois princípios para ilustrar a sua ideia. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Faça uma entrevista com um aluno e um professor (que não tenham assistido a essa aula). Indague sobre as seguintes questões: 1. O que é avaliação da aprendizagem para você? 2. Quem são os atores dessa avaliação? 3. De que forma ela contribui para aprendizagem? 4. Em uma palavra descreva: a avaliação que você experiência hoje e a avaliação que você deseja experienciar no futuro. Depois da entrevista faça um parágrafo de análise das questões evidenciando a importância e função da avaliação. Para motivação assita ao vídeo: Avaliação: caminhos para a aprendizagem, entrevista com Jussara Hoffman e Cipriano Luckesi, vídeo 01. REFERÊNCIAS LIBÂNEO, José Carlos. DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA. São Paulo : Loyola, 1990. LUCKESI, C. C. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR. 8.ed. Cortez editora, São Paulo, 2011. PERRENOUD, P. AVALIAÇÃO: da Excelência à Regulação das Aprendizagens – entre duas lógicas. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed Editora, 1999. SAVIANI, Demerval. ESCOLA E DEMOCRACIA. São Paulo: Cortez Editora, 1983. 21 FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 22 TÓPICO 01: OS TIPOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM? Iniciamos esta aula motivando você a pensar sobre as possibilidades de avaliação em sala de aula. É comum estudarmos conceitos, princípios e teorias e não conseguirmos relacioná-los à prática cotidiana, ao chão da sala de aula, não é mesmo? Nesta aula, aprenderemos algumas especificidades do ato de avaliar a aprendizagem, ressaltando seus momentos, funções e instrumentos em dois módulos. Partindo da concepção do que é avaliação, pedimos que tenha em mente o objetivo que se planeja ao praticar a avaliação no processo de ensino e de aprendizagem. Bons estudos! A avaliação escolar é o termômetro que permite avaliar o estado em que se encontram os elementos envolvidos no contexto. Ela tem um papel altamente significativo na educação, tanto que nos arriscamos a dizer que a avaliação é alma do processo educacional. [...] O que queremos é sugerir meios e modos de tornar a avaliação mais justa, mais digna e humana (SANT'ANNA, 1995, p. 7). OS TIPOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM A avaliação do processo de ensino e de aprendizagem apresenta algumas funções a partir do que, quando e como se pretende avaliar. Vários autores nos afirmam esses momentos e funções da avaliação, Zabala (1998) apresenta as funções da avaliação numa perspectiva formativa que o objeto da avaliação é o processo de ensino e de aprendizagem e não os resultados, onde tanto aluno quanto professor/equipe são sujeitos nesse processo. Dessa perspectiva formativa, temos a avaliação: inicial, reguladora e final integradora. Segundo Zabala (1998), cada uma delas interage em um momento e processo no ensino/aprendizagem. VERSÃO TEXTUAL AVALIAÇÃO INICIAL A avaliação inicial consiste em conhecer o que cada aluno sabe, sabe fazer e é. Esse deve ser o ponto de partida para estabelecermos o tipo de atividades, relacionadas aos objetivos e conteúdos que devemos planejar para favorecer a aprendizagem dos alunos. Com isso, uma hipótese de trabalho permitirá intervir sobre determinadas necessidades dos alunos, bem como, conhecer outras ou readequá-las. AVALIAÇÃO REGULADORA AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 03: TIPOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 23 O movimento de intervenção e reflexão fará com que a avaliação reguladora estabeleça sua função na caracterização das novas necessidades e do conhecimento que cada aluno aprende ao longo do processo de ensino/aprendizagem. Com o passar do tempo, o conjunto de atividades realizado com os alunos permite evidenciar os objetivos atingidos ou não em determinado grau, diante dessa sistematização de conhecimentos, a avaliação final se apresenta. Contemplando os resultados obtidos e conhecimentos adquiridos pelo aluno naquela etapa ou conjunto de atividades. AVALIAÇÃO INTEGRADORA Por conseguinte, Zabala (1998) suscita uma outra função, a somativa ou integradora, que permite o conhecimento e a avaliação de todo o percurso escolar do aluno. Entende-se nessa avaliação todo o processo delimitado, desde a avaliação inicial, as medidas tomadas a partir das intervenções e demandas dos alunos, o resultado final do processo até as previsões do que é necessário refazer ou continuar a fazer. A seguir temos o quadro-síntese das ideias trazidas em Zabala (1998, p. 201). ESQUEMA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA Avaliação inicial, planejamento, adequação do plano (avaliação reguladora), avaliação final, avaliação integradora. A partir de uma opção que contempla como finalidade fundamental do ensino a formação integral da pessoa, e conforme uma concepção construtivista, a avaliação sempre tem que ser formativa, de maneira que o processo avaliador, independentemente de seu objeto de estudo, tem que observar as diferentes fases de uma intervenção que deverá ser estratégica. Quer dizer, que permita conhecer qual é a situação de partida, em função de determinados objetivos gerais bem definidos (a avaliação inicial); um planejamento da intervenção fundamentado e, ao mesmo tempo, flexível, entendido como uma hipótese de intervenção; uma atuação na aula, em que as atividades e tarefas e os próprios conteúdos de trabalho se adequarão constantemente (avaliação reguladora) às necessidades que vão se apresentando para chegar a determinados resultados (avaliação final) e a uma compreensão e valoração sobre o processo seguido, que permita estabelecer novas propostas de intervenção (avaliação integradora). Os tipos de avaliação em Zabala (1998) nos permitem entender e compreender como a função da avaliação passa a ser formativa dentro do processo de ensino e de aprendizagem, quando constitui elemento fundamental no aperfeiçoamento da prática educativa, vislumbrando o trabalho do educador a partir da constituição de todo o processo a partir das partes que o compõem. Clique na imagem abaixo para ampliar. 24 O planejamento é ferramenta primordial e forte aliada à avaliação, nele o professor poderá compreender e refletir sobre a natureza, justificativa, objetivos, metodologias dos conteúdos que se propõe a ensinar, bem como, àqueles que se fazem necessário aprender. Com isso, poderá efetivamente trabalhar a regulação dos processos de ensino e de aprendizagem a partir da avaliação formativa. A compreensão que devemos ter é de que trabalhar com apenas uma dessas avaliações não me dará o resultado significativo que espero quando penso na integralização delas. Muitas vezes a escola trabalha apenas com a avaliação final o que resulta numa aprendizagem-produto, descontextualizada das demandas e necessidades do aluno, dos conhecimentos que ele já traz consigo, das potencialidades que poderiam ter sido mediadas caso fossem conhecidas no processo. Faz-se necessário pensarmos em estratégias de avaliação que nos permitam informações significativas sobre quem é meu aluno, o que ele sabe, o que ele pode aprender, quais são as suas dificuldades e de que forma elas poderão ser mediadas no processo de ensino. E essas avaliações não são apenas instrumentais, elas partem da concepção inicial do professor do que é o ensino e a aprendizagem. Os tipos e instrumentos avaliativos “alimentam” uma concepção docente que permeia esses processos, constituindo um corpus capaz de gerar objetivosesperados ou não desse processo. Portanto, a maneira como vemos a avaliação influenciará os momentos em que iremos propô-la, a quem e como. Zabala (1998, p. 213-215) nos chama atenção para o que a avaliação deve informar: 1ª LUGAR Ao longo das diferentes etapas do ensino obrigatório temos que diferenciar entre o processo que cada aluno segue e os resultados ou competencias que vai adquirindo. [...] É evidente que dificilmente poderemos resumir numa indicação apenas, seja uma nota ou um conceito, a complexidade da informação. Por isso é imprescindível elaborar alguns registros completos que ajudem a entender o que está acontecendo a cada menino e menina, que incluam observações suficientes, com todos os dados que permitam conhecer em profundidade a complexidade dos processos que cada aluno realiza. Esquematicamente, deveríamos poder diferenciar entre o que se espera de cada aluno, o processo seguido, as dificuldades que encontrou, sua implicação na aprendizagem, os resultados obtidos e as medidas que é preciso tomar. 25 2ª LUGAR Em segundo lugar, é preciso diferenciar entre o que representam os resultados obtidos de acordo com os objetivos previstos para cada menino e menina, conforme suas possibilidades, e o que estes resultados representam em relação aos objetivos gerais para todo o grupo. O conhecimento que temos sobre como se aprende nos obriga a enfocar a aprendizagem como um processo de crescimento individual, singular, em que cada aluno avança com um ritmo e um estilo diferentes [...]. 3ª LUGAR Em terceiro lugar, na análise e avaliação das aprendizagens é indispensável diferenciar os conteudos que são de natureza diferente e não situá-los num mesmo indicador. Não podemos resolver a valoração de um aluno numa determinada área com um único dado que se refira às aprendizagens de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais ao mesmo tempo [...] Se nossa intenção é conhecer realmente para adotar as medidas educativas de que cada aluno necessita, esta informação dificilmente será útil se não específica os resultados ou a situação concreta para cada tipo de conteúdo. 4ª LUGAR Em quarto lugar, temos que diferenciar entre as demandas da administração e as necessidades de avaliação que temos na escola, em nossa responsabilidade profissional. [...] Os critérios e as formas exigidas pelos processos avaliadores devem ser, pelo que estamos vendo, eminentemente qualitativos. Por outro lado, as administrações tendem a simplificar com argumentos seguidamente paternalistas: os educadores que temos não saberão fazê-lo, logo simplifiquemos. Além do mais, a quantificação ou a resposta em poucos pontos sempre é mais fácil de controlar e, portanto, exige um menor investimento em recursos que permitam desenvolver processos qualitativos. [...] Dessa forma, vemos que a maneira como submetemos determinado instrumento ou tipo de avaliação ao processo de aprendizagem, estamos evidenciando aí nossa concepção de educação, de sociedade, de escola. É preciso que a avaliação permita um novo olhar daqueles que estão relacionados direta ou indiretamente a ela. Por isso, a função da avaliação, muitas vezes, depende da função que a escola exerce como formadora social. “Quando a formação integral é a finalidade principal do ensino e, portanto, seu objetivo é o desenvolvimento de todas as capacidades da pessoa e não apenas as cognitivas, muitos dos pressupostos da avaliação mudam.” (ZABALA, 1998, p.197). Acrescentam-se aí outros conteúdos além daqueles selecionados ao preparo do caminho à universidade, são os conteúdos que participam da formação integral do indivíduo que iremos ressaltar no próximo tópico. REFLEXÃO Para refletir... 26 O que pensar sobre uma prática avaliativa que não considera a diversidade e a singularidade do aluno? Já pensou como as crianças se sentem diante dessa “homogeneização” da prática educativa? Fonte [2] FÓRUM Com base no textoA avaliação em sala de aula – Bernadete Gatti (2009) (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.) discuta com seus colegas e tutor quais são os principais elementos de uma avaliação da aprendizagem. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer 2. http://educacaovsavaliacao.blogspot.com.br/ 3. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 27 TÓPICO 02: PENSANDO NOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM Diante de todo o aporte teórico desenvolvido nas aulas anteriores, chegou o momento mais esperado! Vamos pensar numa lógica de avaliação que nos permita estabelecer instrumentos capazes de nos ajudar nesta regulação do processo de ensino e de aprendizagem, correto? Vários são os instrumentos que podemos utilizar enquanto subsídios à prática avaliativa, desde fichas, formulários, portfólios, entrevistas, até as provas com questões dissertativas ou objetivas. Os instrumentos devem ser escolhidos com base nos conteúdos e objetivos que se desejam avaliar, bem como, nas características e subjetividades da turma. Os instrumentos avaliativos poderão se dar de forma individual, duplas, grupos, dentre outros. De acordo com Zabala (1998), a escola age exclusivamente, em sua maioria com conteúdos conceituais, factuais, de conhecimento enciclopédico, o que limita os instrumentos avaliativos às provas e exames. No entanto, mesmo escolhendo as provas escritas, podemos estabelecer outras relações com o conhecimento que não apenas as factuais. Como podemos constatar no texto Instrumentos de Avaliação da profa. Carmensita Passos. Com base em Zabala (1998), estimamos a natureza, aprendizagem e avaliação dos conteúdos conceituais, factuais, procedimentais e atitudinais para entendermos como se estabelecem as relações dos conteúdos, objetivos e avaliação na prática educativa. CLIQUE AQUI PARA VER A TABELA AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM AULA 03: TIPOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM 28 Fonte: Zabala, 1998. Anastasiou (2007, p. 13) também traz alguns tipos de instrumentos avaliativos para se utilizar no que tange aos aspectos cognitivo, psicomotor e afetivo. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO Aspecto Cognitivo Aspecto Psicomotor Aspecto Afetivo ✓ Provas, com questões objetivas ou dissertativas, ou predominantemente teóricas ou práticas. ✓ Protocolo, com roteiro básico de etapas e ações a serem efetivadas e acompanhadas. ✓ Memorial: utilizado com sucesso para processos de autoconhecimento e descrição pessoal e 29 ✓ Trabalhos de sínteses, aplicações, artísticos, etc. ✓ Relatórios. Resumos. Resenhas. ✓ Seminários e trabalhos grupais. ✓ Portfólios. ✓ Analise de textos e vídeos. ✓ Mapas conceituais. ✓ Fichas de observação, ou fichas registros para supervisão da prática, da clinica ou atividades com manequins, e outras; manobras e aprendizagens a partir de modelos. ✓ Roteiros para atividades de campo: construídos a partir dos objetivos e das condições concretas de efetivação das atividades. processual. ✓ Relatório. ✓ Observação, com fichas de incidentes. ✓ Anedotário para registro de atitudes fora do habitual. ✓ Entrevista. ✓ Portfólio. ✓ Aconselhamento. A elaboração de instrumentos avaliativos está relacionada ao planejamento escolar, aos objetivos designados para aquele conteúdo, de acordo com a sua tipologia. Para isso, faz-se necessário pensarmos em estratégias que nos auxiliem no trabalho docente, no cotidiano escolar. Gatti (2009, p. 69) nos traz algumas informações importantes sobre os fatores que podem intervir na qualidade de uma prova elaborada pelo professor, aspectos estes que envolvem a concepção de avaliação do próprio professor, vejamos: 1º ASPECTO A qualidade das questões ou itens – estes devem ser formulados de tal forma que os alunos entendam exatamente oque é pedido, ou seja, não devem se prestar a dúbias interpretações (cuidados com a linguagem utilizada); 2º ASPECTO A extensão da prova deve ser cuidada – em geral, quanto maior o número de questões maior as possibilidades para os alunos expressarem seus conhecimentos, dado que, com um maior número de questões, pode ser realmente abrangida a maior parte dos conteúdos e objetivos visados com esses conteúdos e, os variados tipos de aprendizagem possíveis. Porém, a extensão deve ser calibrada pela avaliação do cansaço que a prova pode provocar, e, do tempo disponível para a realização da mesma; 3º ASPECTO O nível de dificuldade da prova – se esta é muito fácil todos os alunos responderão a tudo, ou a grande parte; se ela é muito difícil as notas tenderão todas a ser muito baixas. Dizemos, num caso e noutro, que a prova não discriminou os conhecimentos diferenciados dos alunos; a prova deve ser equilibrada em seu grau de dificuldade; 4º ASPECTO A forma de atribuir os pontos às questões – é preciso que a atribuição de pontos seja consistente, equivalente de aluno para aluno. Um 30 padrão de correção deve ser estabelecido cuidadosamente antes da aplicação de qualquer prova e discutido após com os alunos; 5º ASPECTO O ambiente onde a prova é realizada – a classe deve estar livre o mais possível de barulhos, ruídos incômodos ou movimentos que possam perturbar os alunos a ponto de atrapalhar sua concentração ou dedicação à tarefa; 6º ASPECTO O estado emocional dos alunos – a ansiedade, a angústia ou a excitação que muitos alunos experimentam em situação de prova tende a perturbar sua realização; os professores devem organizar suas provas de tal forma que consigam diminuir estas influências emocionais ao mínimo, como já apontamos em outra parte deste texto. Dessa forma, estabelecemos com o educando uma relação harmoniosa para o momento pontual da avaliação (não se esquecendo dos demais momentos de observações sistemáticas), remetendo a esse momento pontual, critérios concernentes à capacidade e conhecimento do próprio educando, o que faz da avaliação ser mais justa. Além disso, precisamos trazer ao momento da avaliação maior transparência durante todas as suas etapas, antes, durante e depois. Elencar antecipadamente ao educando os conteúdos conceituais e factuais que serão exigidos numa avaliação é fundamental, pois não se pode promover um momento de avaliação sem fazer conhecer ao avaliando o que é, onde é e como ele será avaliado. Durante a avaliação a posição do professor deve ser de mediador, tanto na interpretação de perguntas que não estejam claras o suficiente até na compreensão prévia que o educando faz e deseja confirmar junto ao avaliador aquilo que pensou antes sobre uma questão. E no momento a posterior, o instrumento de avaliação deve promover um diálogo entre as partes, professor e aluno, estabelecendo características daquela avaliação de forma individual e coletiva, promovendo maior apropriação deste recurso enquanto regulador do processo de aprendizagem do e para o próprio aluno. PARADA OBRIGATÓRIA NÃO PODEMOS ESQUECER! Na avaliação da aprendizagem o professor deverá: coletar, analisar e sintetizar as manifestações de conduta (cognitiva, afetiva, psicomotor) do educando, atribuir uma qualidade a essa configuração da aprendizagem a partir de um padrão pré-estabelecido e válido (estabelecido no planejamento do ensino, sob uma teoria do ensino), e a partir dessa qualificação tomar uma decisão sobre as condutas docentes e discentes, com vistas à reorientação ou subsequência do processo de ensino e de aprendizagem (LUCKESI, 2011). REFERÊNCIAS 31 ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo. AVALIAÇÃO, ENSINO E APRENDIZAGEM: anotações para um começo de conversa... Santa Catarina: Texto de apostila, 2007. GATTI, Bernadete A. A AVALIAÇÃO EM SALA DE AULA. In: Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pesquisa em Turismo. Vol. 1, n. 1, p. 61-77, Maio/2009. PASSOS, Carmensita Matos Braga. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO. Notas de Aula. Universidade Federal do Ceará. SANT'ANNA, Ilza Martins. POR QUE AVALIAR? COMO AVALIAR?: Critérios e Instrumentos. Petrópolis: Vozes, 1995. ZABALA, A. A PRÁTICA EDUCATIVA: como ensinar. Tradução: Ernani F. da F. Rosa. Porto Alegre: Artmed, 1998. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.denso-wave.com/en/ Responsável: Professora Maria Isabel Filgueiras Lima Ciasca Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual 32 LPED Capa_Creditos_Sumario.pdf impresso_parcial.pdf 01.pdf 02.pdf 03.pdf 01.pdf 02.pdf 01.pdf 02.pdf LPED Contracapa.pdf
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