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Genétic� � Desenvolviment� Bases cromossômica e genômica das doenças: distúrbios dos autossomos e dos cromossomos sexuais (cap. 6 Thompson e Thompson) 1. Aneuploidias ● Trissomia do 21: incidência de 1 em 850. - Resulta da não disjunção meiótica do par de cromossomos 21; - O erro meiótico responsável pela trissomia geralmente ocorre durante a meiose materna (aproximadamente 90% dos casos), predominantemente na meiose I, mas cerca de 10% dos casos ocorrem na meiose paterna, frequentemente na meiose II; - Aproximadamente 4% dos pacientes com síndrome de Down têm 46 cromossomos, sendo que um deles é a translocação Robertsoniana entre o cromossomo 21q e o braço longo de um dos outros cromossomos acrocêntricos (geralmente, o cromossomo 14 ou 22); - Um portador de uma translocação Robertsoniana que envolve, por exemplo, os cromossomos 14 e 21 tem apenas 45 cromossomos, pois um deles foi suprimido pelo processo de translocação. Assim, ele corre o risco de ter um filho com síndrome de Down. Por isso, a cariotipagem dos pais, nesse caso, é importante. ● Trissomia do 18: 1 em 6000-8000. ● Trissomia do 13: 1 em 12000-20000. Obs.: essas duas últimas são mais severas. 2. Cromossomos sexuais e suas anomalias ● O cromossomo Y é relativamente pobre em genes e as funções de uma elevada proporção deles estão restritas ao desenvolvimento gonadal e genital. - A deleção de genes em regiões específicas do cromossomo Y pode ocasionar, por exemplo, azoospermia e oligospermia. ● O cromossomo X está envolvido nas aneuploidias citogenéticas mais comuns. No entanto, há uma relativa tolerância a essas anomalias devido ao fenômeno da inativação do X (somente em mulheres). - Em quase todos os pacientes com anomalias estruturais desbalanceadas de um cromossomo X, o cromossomo estruturalmente anormal é sempre o X inativo, por isso tais anomalias têm menos impacto sobre o fenótipo. ● Anomalias citogenéticas dos cromossomos sexuais - Incidência: 1 em cada 400 nativivos; - Mais comuns: aneuploidia para os cromossomos X e/ou Y (principalmente trissomias: XXY, XXX, XYY); - São distúrbios menos graves se comparados aos autossômicos, uma vez que a inativação do X e o baixo conteúdo de genes do Y atenuam as manifestações clínicas. - Síndrome de Klinefelter: estimada em até 1 a cada 600 indivíduos do sexo masculino. Aproximadamente metade dos casos resulta da não disjunção da meiose I paterna. Frequentemente, o cariótipo é de mosaico 46,XY/47,XXY. - A Síndrome do X frágil é um distúrbio de deficiência intelectual ligado ao X, provocando distúrbios na forma moderada em homens e na forma leve em mulheres. Geralmente, os pacientes afetados apresentam comportamentos anômalos, como hiperatividade, hábito de agitar ou de morder as mãos, explosões de temperamento, etc. - Síndrome de Turner: causada por ausência completa ou parcial de um segundo cromossomo X em mulheres. A incidência é entre 1 em cada 2000 e 1 em cada 5000 meninas nativivas. Pode surgir pela falha na transmissão de um cromossomo sexual pelo gameta ou pela perda de um cromossomo sexual do zigoto ou do embrião inicial. Padrões de herança monogênica (cap. 7 Thompson e Thompson) 1. Conceitos ● Genótipo: constituído por ambos os alelos que ocupam um locus nos dois cromossomos homólogos; ● Haplótipo: conjunto de alelos em dois ou mais loci próximos em um dos cromossomos do par de homólogos; ● Fenótipo: expressão do genótipo por meio de um traço morfológico, clínico, celular ou bioquímico. Na imagem abaixo, o genótipo é Aa e Bb (heterozigoto nos loci 1 e 2) e o haplótipo, AB e ab. ● Penetrância: probabilidade de um ou mais alelos mutantes apresentarem qualquer expressão fenotípica. É um fenômeno de tudo ou nada: ou expressa, ou não expressa (pode ser penetrante ou não penetrante). ● Expressividade: não é referente à ausência ou à presença de um fenótipo, mas sim à gravidade ou grau de expressão do fenótipo. ● Heredograma - Primeiro grau: pais, irmãos e prole de um indivíduo afetado; - Segundo grau: avós e netos, tios e tias, sobrinhos e sobrinhas, meio-irmãos; - Terceiro grau: por exemplo, primos em primeiro grau; - Casais consanguíneos têm um ou mais antepassados em comum 2. Padrões autossômicos de herança mendeliana ● Distúrbios autossômicos recessivos influenciados pelo sexo: em geral, os distúrbios autossômicos apresentam frequência e gravidade iguais entre ambos os sexos, com exceção de alguns, que são influenciados por esse fator. Como exemplo, há a hemocromatose hereditária, em que ocorre aumento da absorção do ferro da alimentação, provocando sobrecarga e danos no coração, no fígado e no pâncreas. É uma doença de 5 a 10 vezes mais comum em homens do que em mulheres, o que provavelmente se deve porque elas apresentam menor ingestão de ferro na dieta, menor ingestão de álcool e maior perda do íon pela menstruação. Obs.: a presença de consanguinidade entre os genitores de um paciente com um distúrbio genético é uma forte evidência (mas não uma prova) de que o distúrbio foi herdado de maneira autossômica recessiva. ● Doença autossômica dominante: o risco e a gravidade de doenças transmitidas de forma dominante para a prole dependem de se um ou ambos os genitores são afetados e se esse caráter é dominante puro ou dominante incompleto. - Dominante puro → afetado (D/D ou D/d) ou não afetado (d/d); - Dominante incompleto ou semidominante → afetado gravemente (D/D), afetado (D/d) ou não afetado (d/d). Ex.: acondroplasia (herança dominante incompleta) → criança falecida é frequentemente homozigota para essa condição. 3. Herança ligada ao X ● Como as mulheres têm dois cromossomos X e os homens têm dois, apenas dois genótipos são possíveis para os homens e quatro para as mulheres no que se refere aos alelos mutantes em um locus ligado ao X. ● Herança recessiva ligada ao X: se expressa fenotipicamente em todos os homens que a recebem e, consequentemente, distúrbios recessivos ligados ao X são geralmente restritos aos homens, como a hemofilia A (deficiência na coagulação). As mulheres podem ser portadoras e heterozigotas manifestantes, mesmo a condição sendo recessiva, o que depende da inativação do X. ● Herança dominante ligada ao X: possui expressão regular em heterozigotas. Pode ser diferenciada da doença autossômica dominante pela ausência de transmissão homem a homem, já que eles transmitem o cromossomo Y. - Em múltiplas famílias com uma doença dominante ligada ao X, a expressão é geralmente mais atenuada nas mulheres heterozigotas, devido ao alelo mutante estar localizado no cromossomo X inativo em uma parte de suas células. Desse modo, a maioria dos distúrbios dominantes ligados ao X é dominante incompleta, como ocorre na maioria dos distúrbios autossômicos dominantes. Ex.: raquitismo hipofosfatêmico (comprometimento dos túbulos renais na filtração do fosfato). Obs.: a inativação do X é um processo fisiológico normal nas mulheres que inativa, nas células somáticas, a maioria dos genes de um dos cromossomos X, mas não os genes do único cromossomo X nos homens. Por isso, as portadoras de doenças relacionadas ao X como a distrofia muscular de Duchenne apresentam manifestação típica de mosaico, já que ocorre inativação aleatória do X nos tecidos, o que faz variar as apresentações clínicas dependendo da proporção e se o tecido é relevante ou não. 4. Herança pseudoautossômica ● Definição: herança autossômica demonstrada em determinada doença, embora o gene não esteja nos autossomos. Na meiose, ocorre recombinação entre os loci de cromossomos homólogos, como sabemos. No entanto, isso só acontece nas mulheres, já que elas apresentam dois cromossomos X, ao contrário dos homens, que possuem um cromossomo X e outro Y. Embora isso seja verdadeiro, algumas regiões de ambos os cromossomos sexuais masculinos são homólogas, proporcionando a recombinação meiótica, mecanismo que faz com que um alelo mutante do X seja transferido ao Y. Ex.: discondrosteose. No heredograma abaixo, umhomem herdou o caráter no cromossomo Y do pai, mas este herdou do cromossomo X da mãe. 5. DNA mitocondrial ● As mitocôndrias dos espermatozoides geralmente são eliminadas do embrião, por isso o mtDNA é herdado da mãe. Assim, todos os filhos de uma mulher que seja homoplasmática para uma mutação no mtDNA herdarão essa mutação, enquanto nenhum dos descendentes de um homem portador herdará. Ex.: neuropatia óptica de Leber. Herança complexa dos distúrbios multifatoriais comuns (cap. 8 Thompson e Thompson) 1. Conceito ● São doenças que raramente resultam simplesmente da herança de um ou dois alelos de efeito maior em um único locus, mas sim de interações complexas entre diversas variantes genéticas que alteram a susceptibilidade à doença, combinadas com determinadas exposições ambientais e possíveis eventos casuais. 2. Exemplos de doenças multifatoriais comuns com uma contribuição genética ● Malformações congênitas multifatoriais: fissura labial com ou sem fissura palatina, fissura palatina, luxação congênita do quadril, cardiopatias congênitas, defeito do septo ventricular, persistência do ducto arterioso, defeito do septo arterial, estenose aórtica, defeitos do tubo neural, espinha bífida e anencefalia e estenose pilórica; ● Defeitos no tubo neural: os mais comuns são espinha bífida (má formação do arco ósseo das vértebras, tipicamente na região lombar) e anencefalia (a parte anterior do cérebro ou prosencéfalo + meninges, calota craniana e pele estão ausentes). Sabe-se que o grande e único fator responsável por defeitos no tubo neural é a deficiência de ácido fólico materno durante a gravidez. O impacto da deficiência de ácido fólico é exacerbado pela variante genética da enzima MTHFR, causada por uma mutação que a torna instável, o que atrapalha a reciclagem de tetraidrofolato e a metilação da homocisteína para metionina. ● Doenças não monogênicas → não demonstram padrão simples de herança mendeliana; ● Agregação familiar → parentes de um indivíduo afetado são mais propensos a ter alelos que predispõe à doença do que os não aparentados; ● Mais comuns entre parentes próximos de um indivíduo afetado (probando); ● Pode não ter penetrância → papel crucial de fatores não genéticos. Ex.: gêmeos monozigóticos discordantes; ● Distúrbios neuropsiquiátricos → esquizofrenia (a maioria dos pacientes não têm alterações genéticas conhecidas), transtorno bipolar (o risco de doença é elevado para familiares de afetados, mas não se sabe muito sobre os genes e os alelos que predispõem ao transtorno bipolar); ● Doença arterial coronariana → quando o probando é do sexo feminino ou jovem, a contribuição genética para o infarto do miocárdio na família é mais provável. A maioria dos casos de DAC demonstra herança multifatorial, com fatores de predisposição genéticos e não genéticos. 3. Exemplos de características multifatoriais para as quais fatores genéticos e ambientais específicos são conhecidos ● Genes modificadores nos distúrbios mendelianos → a variação em outros loci gênicos pode influenciar algum aspecto do genótipo (herança complexa). Ex.: na fibrose cística, outros genes podem funcionar como modificadores genéticos, exercendo efeito na gravidade da doença. ● Herança digênica → distúrbio determinado pelo efeito aditivo de genótipos de dois ou mais loci. Ex.: retinite pigmentosa (RP) → indivíduos afetados são heterozigotos para alelos mutantes em dois loci diferentes. Se apenas um dos loci for mutante, o indivíduo não é afetado. ● Diabetes mellitus tipo 1 → tem incidência menor na população caucasiana do que nas asiáticas e africanas. Geralmente, se manifesta na infância ou na adolescência como resultado da destruição de células 𝜷 do pâncreas, que produzem insulina, além do desenvolvimento de anticorpos contra uma série de proteínas como a insulina. Alguns fatores genéticos englobam essa doença, como a concordância de 40% entre gêmeos monozigóticos, o que indica que pessoas de parentesco próximo com o probando (indivíduo afetado) apresentam maior risco de desenvolver esse tipo de diabetes. No entanto, fatores genéticos isoladamente não causam a doença. ● Doença de Alzheimer → mostra padrão de agregação familiar e tem uma razão de risco relativo elevada, característico dos distúrbios de herança complexa.
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