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LUÍSA BOMBASSARO – MED UFR – T4 Bradicardias INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES - Bradicardia é caracterizada por frequência cardíaca baixa – absoluta quando <60 bpm ou relativa quando o paciente apresenta necessidade de débito cardíaco aumentado e frequência cardíaca inapropriada à sua condição clínica (exemplo: em torno de 60bpm no choque séptico ou hipovolemia.) - Pode ser normal em pessoas jovens e com bom condicionamento físico e em algumas situações de tônus vagal excessivo como no pós-prandial, durante o sono, durante a passagem de SNG ou durante situações de estresse. - Ela é considerada patológica se houver sintomas secundários a repercussões hemodinâmicas. ETIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO. - Em condições normais, o impulso elétrico é gerado no nó sinoatrial (NSA) que envia o impulso ao átrio esquerdo através das células chamadas de feixes de Bachman. A despolarização segue então por células específicas até o nó atrioventricular (NAV) e então ao sistema His-Purkinje (SHP). Quanto mais próxima do NSA, maior o automatismo de determinada célula cardíaca e maior a frequeência cardíaca que esta será capaz de gerar. Quanto mais distante o acometimento estiver do NSA, mais acentuada será a bradicardia. A depender da localização da lesão o bloqueio poderá ser classificado como SUPRA-HISSIANO (alto) ou INFRA- HISSIANO (baixo). CLASSIFICAÇÃO - Bradicardia sinusal: • Ritmo: normal • FC: baixa • Onda P: presente (impulso é gerado no NSA). • Geralmente não é patológica. • Pode ser consequência do uso de drogas como B-bloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio, lítio, antiarrítmicos, clonidina e digoxina. • É patológica quando leva repercussões hemodinâmicas – baixa frequência cardíaca impede um aumento necessário do débito cardíaco. • Quando presente em idosos pode haver a doença do nó sinusal (DNS) que normalmente é de etiologia degenerativa e decorrente do comprometimento ESTRUTURAL do NSA, no qual as células sofrem LUÍSA BOMBASSARO – MED UFR – T4 substituição por tec. Fibroso e/ou gorduroso. Mais prevalente em mulheres com > 60 anos. Pode ser acompanhada de pausas > 3seg e bloqueio sinoatrial ou alternância com períodos de taquiarritmias supraventriculares. O tratamento costuma ser implante de marca-passo definitivo. - Bloqueio sinoatrial: • 1º grau: retardo do estímulo sinusal no tecido atrial, mas ele progride. Não é detectável no ECG. • 2º grau: TIPO I – encurtamento gradual do intervalo PP antes da pausa sinusal. TIPO II: pausas sinusais súbitas são precedidas por intervalos PP regulares. • 3º grau: bloqueio total da passagem dos estímulos sinusais pela junção sinoatrial no qual ocorrem pausa sinusal e batimentos de escapes. - Bradicardia atrial: • É semelhante à bradicardia sinusal mas a orientação da onda P é diferente da sinusal. - Bradicardia juncional: • Não há visualização de onda P precedendo o QRS. É originada quando as células do NAV são as de maior automatismo e assumem o ritmo diante de uma disfunção do NSA. - Bloqueios atrioventriculares: a falha de condução ocorre na transição entre átrios e ventrículos e pode ser contínua ou intermitente. • 1º grau: presença do intervalo PR superior a 200ms. Ocorre um atraso na condução do NAV, mas sem repercussão patológica. • 2º grau: (uma onda P é bloqueada para cada onda P que conduz. Não é possível definir se é Mobitz I ou II) MOBITZ I- há aumento progressivo do intervalo PR até que uma onde P não é conduzida por QRS (fenômeno de Weckebach). Sua ocorrência não tem repercussões hemodinâmicas. O intervalo PR que precede a onda P bloqueada é maior que o intervalo PR posterior ao bloqueio. (o intervalo PR gradualmente aumenta até ser bloqueado. No batimento pré- bloqueio o intervalo PR é maior (360 ms)do que no batimento após bloqueio (240 ms), o que define bloqueio atrioventricular (BAV) Mobitz I ou Wenckebach.) (Aumento progressivo de PR até a ocorrência do bloqueio – intervalo Pr antes da bloqueada é maior do que o de depois) LUÍSA BOMBASSARO – MED UFR – T4 MOBITZ II – ocorre súbita interrupção da condução atrioventricular que não é precedida pelo aumento progressivo de PR. Pode evoluir para bloqueio atrioventricular total. É necessário buscar causas reversíveis associadas (isquemia, distúrbio eletrolítico ou uso de medicação cronotrópica negativa. O implante de marca-passo definitivo não depende da instabilidade hemodinâmica. (o intervalo PR é constante, o intervalo PP é constante e uma onda P aleatoriamente é bloqueada, o que define BAV Mobitz II) • 3º grau: BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR TOTAL (BAVT) – completa dissociação entre a onda P e o complexo QRS. Quanto mais próximo do NAV for o escape ventricular, maior a FC e mais estreito o QRS. Quando o escape ventricular provém do SHP, a FC será abaixo de 40 bpm e o QRS > 120ms. Possíveis causas: congênito, isquemia, doença valvar, pós – operatório de cirurgia cardíaca, miocardiopatias ou doenças neurodegenerativas. Pode haver BAVT mesmo se não tiver despolarização atrial (como na fibrilação atria) e nesse caso vai ter linha de base isoelétrica (sem ondas P) ou com ondas F de fibrilação atrial e complexos QRS regulares e bradicárdicos (FA com BAVT tem ritmo regular). Diagnóstico diferencial: dissociação atrioventricular (se ritmo atrial é maior que ritmo ventricular = BAVT). (Bloqueio atrioventricular total. Observam-se ondas P com intervalos PP constantes mas sem enlace AV [não há relação entre a onda P e os complexos QRS, o que define o bloqueio atrioventricular total]). BAVT supra-hissiano com escape juncional (dissociação atrioventricular completa – intervalo PP e RR regulares porém sem enlace AV) (Presença de escape juncional – QRS estreito e FC > 40 bpm) CLÍNICA - A bradicardia vai desencadear sintomas quando a FC estiver abaixo de 50 bpm. - No pronto socorro o paciente pode apresentar confusão mental, síncope, pré-síncope, fraqueza inespecífica, dispneia ou dor torácica. - Importante questionar condições clínicas subjacentes como disfunção renal ou intervenção cardíaca prévia. - Pode ser incidentalmente diagnosticada ao exame físico. LUÍSA BOMBASSARO – MED UFR – T4 - Exame físico deve ser cuidadoso, incluindo palpação de pulsos, medida de PA, avaliação da perfusão periférica, ausculta cardíaca e exame neurológico sumário. EXAMES COMPLEMENTARES - Principal: ECG de 12 derivações. - Bradicardias estáveis podem requerer avaliação complementar: holter, monitor de eventos, teste ergométrico, tilt-test e estudo eletrofisiológico. - Na emergência: eletrólitos, hemoglobina/hematócrito, função renal, gasometria, troponina, função tireoidiana, ecocardiograma e dosagem de antiarrítmicos, conforme a suspeita clínica. - Exame físico, história e exames complementares devem ser direcionados para identificar a etiologia e só depois da estabilização hemodinâmica direcionar o tratamento. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Bradicardia do atleta – investigar se sintomas associados como síncope, pré-síncope, tontura. - Medicamentos – b-bloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, digoxina, antiarrítmicos, antidepressivos tricíclicos, lítio. - Distúrbios eletrolíticos – hipercalemia, hipercalcemia. - Hipoxemia - Hipertensão intracraniana - Reflexo vagal – compressão extrínseca do seio carotídeo em alguns indivíduos com hipersensibilidade do seio carotídeo, acidental ou provocada, também pode associar-se à ocorrência de bradicardia. - Isquemia miocárdica - Lesão mecânica do sistema de condução - Doenças degenerativas do sistema de condução TRATAMENTO - Bradicardias ESTÁVEIS: . não gera repercussões hemodinâmicas . BAV de 2 grau Mobitz II e BAVT: internação hospitalar em ambiente com monitorização cardíaca e avaliação do cardiologista. Marca-passo transvenoso obrigatório se frequênciade escape ventricular < 30 bpm e QRS > 120 ms e se sintomas secundários à bradicardia. . Pode utilizar atropina no propósito de elucidação diagnóstica da capacidade de resposta cronotrópica do paciente – teste positivo se houver reversão da bradicardia e indica efeito supranodal e nodal possivelmente medicamentoso. - Bradicardias INSTÁVEIS: . INSTABILIDADE: rebaixamento de nível de consciência, angina, hipotensão, síncope ou sinais de choque . Inicial: estabilização do paciente com suporte de via aérea e ventilação, oxigênio suplementar se necessário, monitorização e avaliação de sinais vitais (PA, FC, sat O2) e acesso venoso central. Avaliação constante do nível de consciência. . Assim que possível deve obter o ECG de 12 derivações. . Coletar exames gerais de acordo com a história clínica. . Marca-passo transcutâneo ou droga em bomba de infusão contínua – dopamina ou adrenalina. Administrar atropina intravenosa e providenciar a passagem do marca-passo transvenoso.
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