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p.92 • R Enferm UERJ 2003; 11:92-7.
Escuta terapêutica: instrumento
EEEEESCUTSCUTSCUTSCUTSCUTAAAAA TTTTTERAPÊUTICERAPÊUTICERAPÊUTICERAPÊUTICERAPÊUTICAAAAA:::::
INSTRUMENTOINSTRUMENTOINSTRUMENTOINSTRUMENTOINSTRUMENTO ESSENCIALESSENCIALESSENCIALESSENCIALESSENCIAL
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INSTRUMENTINSTRUMENTINSTRUMENTINSTRUMENTINSTRUMENT INININININ NURSINGNURSINGNURSINGNURSINGNURSING CARECARECARECARECARE
Rozemere Cardoso de Souza*
Maria Auxiliadora Pereira**
Luciane Prado Kantorski***
RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO: A comunicação é um processo que se realiza nas interações humanas, no qual partilham-se
e compreendem-se idéias, podendo ser um recurso valoroso na relação de ajuda. Nesse processo,
alguns instrumentos como a escuta e a observação são fundamentais, principalmente porque a escuta é
uma habilidade de auto e hetero-compreensão. Os autores objetivaram investigar, através da literatura,
um meio de aprofundar conhecimentos sobre a importância e a aplicabilidade desse recurso na saúde
mental. Descreveram, entre outros aspectos, um histórico apresentando os principais autores que
introduziram o conceito de escuta nos modelos de assistência psiquiátrica, formas de compreendê-la,
sua finalidade, condições favoráveis à sua promoção e as conseqüências da não-escuta. Dessa maneira,
este estudo poderá contribuir para a valorização e utilização da escuta no cuidado de enfermagem.
Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: Comunicação; escuta terapêutica; relacionamento interpessoal; saúde mental.
ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACT::::: Communication is a process that takes place in human interaction and in which ideas are
shared and understood; therefore, it can be a valuable resource in a helping relationship. In this process,
some instruments such as listening and observation are fundamental, especially because listening is a
self- and interpersonal- understanding skill. The authors of this work aimed at investigating, through the
literature, a means to deepen knowledge concerning the importance and applicability of this resource in
mental health. They describe, among others aspects, a history introducing the main authors that introduced
the concept of listening in psychiatric care models, ways to understand it, its purpose, favorable conditions
to its promotion and the consequences of non-listening. In this way, this study can contribute to the
valorization and use of therapeutic listening in the nursing care.
Keywords:Keywords:Keywords:Keywords:Keywords: Communication; therapeutic listening; interpersonal relationship; mental health.
IIIIINTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃONTRODUÇÃO
Na arte de cuidar do outro, neste início de
milênio, vivenciamos momentos especiais de
reflexão sobre a natureza das relações humanas, na
tentativa de destacar a relevância sobre a forma como
se estabelece a relação profissional-cliente.
No campo da saúde mental, observamos que a
assistência às pessoas portadoras de transtornos
mentais, desde os tempos mais primitivos, vem
sofrendo transformações, entretanto, qualquer que
seja a forma de tratamento que adotemos, fica visível
que na relação com o cliente deve haver uma melhor
comunicação, através de uma linguagem comum
entre profissionais que se aceitem como pessoas,
cuidando de pessoas, a fim de promoverem uma
assistência mais humanizada.
Nesse sentido, algumas habilidades
interpessoais necessitam ser desenvolvidas, entre as
quais a escuta, que é considerada um instrumento
indispensável à relação de ajuda.
A utilização da escuta como um instrumento
terapêutico foi iniciada por Freud, no século XIX1.
Em seu Modelo Psicodinâmico, o tratamento
funciona como um invólucro dentro do qual o
paciente pode se revelar, examinar eventos
traumáticos e identificar comportamentos
inadequados, através da escuta do terapeuta. No
entanto, cabe a este último interpretar sua situação
e impor uma direção para solução de seus problemas2.
A partir do Modelo Centrado na Pessoa,
desenvolvido por Carl Rogers, outro sentido é dado
R Enferm UERJ 2003; 11:92-7. • p.93
Souza RC, Pereira MA, Kantorski LP
para a escuta, cuja utilização passa a valorizar a pessoa
como sujeito que busca e é capaz de se desenvolver.
Nessa interação, o terapeuta intervém apenas para
aumentar a informação do paciente sobre a sua
própria atividade mental2, para ajudá-lo a se
expressar de tal forma que consiga compreender a si
mesmo e a identificar o que é melhor para si.
No contexto da reforma da atenção
psiquiátrica, a escuta sobressai como uma das
habilidades interpessoais a serem aprendidas por
todos os profissionais de saúde. Reconhece-se que a
comunicação consigo mesmo é o caminho mais
apropriado que a pessoa possui para se reajustar3, e
isso só é possível através da escuta.
Assim sendo, buscamos, neste estudo,
investigar esse instrumento, aprofundando
conhecimentos acerca de sua importância e
aplicabilidade em saúde mental, a partir da literatura
que aborda tal temática.
Adotamos como referencial teórico o Modelo
Centrado na Pessoa, cuja ênfase terapêutica é dada
ao tipo de comunicação e interação desenvolvidas,
incluindo a percepção e a escuta como elementos
indispensáveis para a ajuda.
Este estudo também encontra embasamento
teórico nas teorias desenvolvidas por Travelbee4 e
Stefanelli5 que enfocam o potencial terapêutico do
relacionamento e da comunicação para a assistência
de enfermagem, apontando a escuta, ouvir
reflexivamente, como um recurso valioso para o
efetivo desempenho dessa assistência.
O objetivo deste trabalho é elaborar um estudo
teórico sobre a escuta terapêutica, pontuando sua
importância, aplicabilidade e contribuição para a
prática de enfermagem e de saúde mental.
CCCCCOMPREENSÕESOMPREENSÕESOMPREENSÕESOMPREENSÕESOMPREENSÕES DDDDDAAAAA EEEEESCUTSCUTSCUTSCUTSCUTAAAAA
Buscando compreender o significado da
palavra escuta, encontramos que ela deriva do verbo
“escutar, do latim auscultare, que quer dizer tornar-
se ou estar atento para ouvir; dar ouvidos a aplicar o
ouvido com atenção para perceber ou ouvir e ouvir”,
conforme Ferreira (p.693)6.
Alguns autores também utilizam as expressões
escutar e ouvir como sinônimos. Para Pagés7 e
Tahka8, escutar é uma atitude ativa, ou seja, dinâmica,
que exprime esforço para compreender a significação
do que é dito, incluindo continuadas identificações
ou tentativas de identificações com a pessoa e com
sua situação. Segundo Benjamim9, ouvir é um
instrumento essencial para compreensão do outro, é
uma atitude positiva de calor, interesse e respeito,
sendo, portanto, terapêutica.
Por outro lado, outros autores, ao abordarem a
questão da escuta, chamam a atenção para a
diferença que há entre escutar e ouvir. Para
Travelbee4, escutar é mais que ouvir, é comprometer-
se totalmente com o outro. Segundo a autora,
podemos ouvir uma mensagem, o que não quer dizer
escutá-la realmente, pois podemos não extrair dela
qualquer significado e não utilizar o encontro como
um meio de comunicação com outro ser humano.
Hirdes (p.163)10 afirma que “no escutar
colocamo-nos no espaço objetivo externo e no
espaço subjetivo interno do outro, através de uma
participação, de um compartilhar do vivido”,
diferentemente de ouvir, que é apenas a constatação
de algo através do sistema auditivo, ou seja, “uma
ação fisiológica que demanda uma constituição
neurológica”.
Benjamim (p.68)9 descreve: “ouvimos com
nossos ouvidos, mas escutamos também com nossos
olhos, coração, mente e vísceras”. Assim, uma pessoa
que escuta constata um fenômeno não somente
através da estimulação do sistema auditivo, mas pela
apreensão do conjunto de suas percepções externas
e internas. Escutar é, portanto, um processo ativo e
voluntário11.
A partir desses conceitos, evidenciamos a
diferença entre o sentidodos termos escutar e ouvir,
no entanto, percebemos que, para os autores aqui
citados, que utilizam um ou outro termo nos seus
trabalhos sobre interação humana, o propósito é o
de buscar a compreensão do outro, para ajudá-lo,
conscientemente.
Dessa maneira, destacamos dois atributos da
escuta: a compreensão e a ajuda. O primeiro já inclui
uma ação de ajuda, pois a maneira mais significativa
de compreender o outro, apontada por Benjamim9 e
implícita pelos outros autores, é aquela realizada com
uma outra pessoa, na qual deixamos de lado tudo,
menos o senso de humanidade, e através dele
tentamos compreender com a outra pessoa como ela
pensa, sente e vê o mundo ao seu redor. Somente
dessa maneira poderemos ajudá-la através da escuta.
A ajuda, por sua vez, pode ser promovida apenas
pela escuta. Miranda e Miranda12 afirmam que,
muitas vezes, a pessoa necessita apenas ser escutada
para que ordene e organize sua própria experiência,
e mesmo que a solução para seus problemas pareça
distante ou até impossível, o mero falar traz um alívio
imediato para ela. Para ilustrar, os autores citam a
p.94 • R Enferm UERJ 2003; 11:92-7.
Escuta terapêutica: instrumento
imagem de um reservatório preste a se romper pelo
acúmulo de água represada. Se permitirmos que essa
água se escoe por uma pequena brecha, haverá um
alívio e o reservatório não mais se romperá. Quando
uma pessoa sobrecarregada de emoções se expressa,
encontra alívio, e a escuta é que proporciona esse
alívio, impedindo que ela se desestruture por
experimentar um nível de tensão acima de seu limite,
por não ter com quem dividir o peso.
Além dos termos escutar e ouvir, outras
expressões foramempregadasna literatura, abarcando
a compreensão aqui descrita, são elas: escuta ativa7,13,
escuta integral ou atenta11, ouvir reflexivamente5,
escuta compreensiva14, escuta terapêutica10.
Considerando os atributos identificados para a
escuta e sua inserção nos processos de comunicação e
interação terapêuticos, optamos por utilizar, neste
trabalho, a expressão escuta terapêutica.
JJJJJUSTIFICUSTIFICUSTIFICUSTIFICUSTIFICAAAAATIVTIVTIVTIVTIVAAAAA/R/R/R/R/RELEVÂNCIAELEVÂNCIAELEVÂNCIAELEVÂNCIAELEVÂNCIA DDDDDAAAAA
EEEEESCUTSCUTSCUTSCUTSCUTAAAAA TTTTTERAPÊUTICERAPÊUTICERAPÊUTICERAPÊUTICERAPÊUTICAAAAA
Aescutaterapêuticajustifica-se, primariamente,
pelanecessidadeque todapessoa temde se comunicar,
de compartilhar seus sentimentos, idéias, expectativas
e situações. Afinal, o homem como um ser social
estabelece suas relações através da comunicação que,
para ser efetiva, exige a escuta.
No entanto, para Miranda e Miranda12, poucas
pessoas têm a capacidade de escutar, sendo freqüente
níveis de comunicação superficiais quenãopromovem
ajuda, nem desenvolvimento pessoal. Essa é uma
realidade tambémpresentenos serviçosde saúde,onde
a escuta, muitas vezes, é esquecida. Não falam dela,
nem a desenvolvem adequadamente11, ocorrendo,
desse modo, uma lacuna no cuidado que é prestado às
pessoas que chegam a esses serviços.
Tahka8 aponta que, aproximadamente, 50% das
pessoas vistas na clínica geral apresentam sintomas
que são, principalmente, expressos por problemas
psicossociais subjacentes. Além disso, lembra que
o sofrimento é sempre uma experiência psíquica,
independentemente de sua causa... parte muito
grande do sofrimento subjetivo dos pacientes acha-
se associada com distúrbios psíquicos agudos ou
crônicos, produzam eles ou não sintomas
experimentados como somáticos (p.67)8.
Essas são algumasdas razões que tornamaescuta
terapêutica relevante na prática em saúde.
Provavelmente, muitas outras podem se somar a essa
prática, na medida em que essa habilidade for
exercitada.
FFFFFINALIDINALIDINALIDINALIDINALIDADESADESADESADESADES DDDDDAAAAA EEEEESCUTSCUTSCUTSCUTSCUTAAAAA
TTTTTERAPÊUTICAERAPÊUTICAERAPÊUTICAERAPÊUTICAERAPÊUTICA
Compreender o outro9, possibilitando
comunicar-se consigo mesmo 7. Enquanto se expressa,
apessoapodeescutara simesmaeelaborar sua situação
de maneira a visualizar escapes; obter informações
necessárias à complementação do exame físico e
diagnóstico da doença, além de planejar e efetivar os
procedimentos terapêuticos que melhor a ajudarão8.
Tais procedimentos são também planejados de modo
eficaz e realista, a partir da identificação das emoções,
necessidades e problemas da pessoa escutada,
favorecendo, assim, um impacto positivo na
assistência que lhe é prestada; manifestar-lhe que é
uma pessoa importante para o terapeuta11, pois este
lhe dedicará atenção necessária à implementação da
ajuda; aliviar tensões; promover que o escutado
aprenda também a escutar outras pessoas4.
Para alcance dessas finalidades e realização da
escuta terapêutica, algumas condições são necessárias
ou até mesmo indispensáveis. Essas condições
referem-se a fatores internos e externos ao terapeuta,
pessoa que se dispõe a ajudar, e em muitos momentos
estão relacionadas, entretanto, buscando facilitar a sua
identificação, elas são apresentadas separadamente a
seguir, comdestaqueparaos requisitosnecessáriospara
sua efetividade.
CCCCCONDIÇÕESONDIÇÕESONDIÇÕESONDIÇÕESONDIÇÕES RRRRRELACIONADASELACIONADASELACIONADASELACIONADASELACIONADAS AOAOAOAOAO
TTTTTERAPEUTERAPEUTERAPEUTERAPEUTERAPEUTAAAAA
Estar livre de preocupações - preocupações
consigo mesmo, ainda que sejam referentes ao papel
desenvolvido na interação com o outro, como o que
dizer ou fazer em seguida à escuta, constituem,
segundo Benjamin, um muro entre o terapeuta e a
pessoa entrevistada, pois este desvia sua atenção, o
que o impede de exercer a escuta. O terapeuta, então,
deve estar comprometido totalmente com a
interação4, 9,12.
- Ser sincero, autêntico e congruente – identidade
pessoal 9,11,15 - enquanto escuta, o terapeuta deve ser
ele mesmo, deve permanecer com sua estrutura
interna para que possa ajudar o outro. Para isso, deve
ter claro quem ele é, compreender seus sentimentos,
escutar a si próprio, sem, no entanto, colocar-se no
caminho do outro. Benjamim9 descreve que a ajuda
exige, geralmente, mais que escutar; portanto, se o
terapeuta não se afasta de sua própria estrutura de
referência, enquantoescuta, poderá compreender algo
R Enferm UERJ 2003; 11:92-7. • p.95
Souza RC, Pereira MA, Kantorski LP
que a pessoa ainda não entendeu; poderá adquirir
insights sobre a situaçãodooutroque talvez ele precise
saber, para mudar. Por outro lado, como aponta
Rogers15, se ele se deprime com a depressão do outro
(identificação), nãopoderá ajudá-lo.Oterapeutadeve
existir independentemente do outro, não se deixando
perder, ser destruído, escravizado ou absorvido pelos
seus sentimentos2. De modo que, se o terapeuta
enfrenta dificuldades e angústias, precisa ouvir a si
próprio ou até mesmo ser escutado por alguém, e
dependendo da sua situação, não poderá oferecer
ajuda, num dado momento, devendo ser sincero com
quem interage. Ressaltamos, ainda, a importância de
a pessoa ajudada não perceber nenhuma mensagem
contraditória pordetrás daspalavrasdo terapeuta, pois
isso favorecerá o aprendizado de escutar
genuinamente a si própria, sem censura.
- Interessar-sepelooutro -umprofissionalquenãotenha
esse interesse, não escutará alguém que precise de sua
ajuda. O interesse pelo outro é que motivará o
profissional a escutar a pessoa e a se esforçar por
compreendê-la. Para Tahka (p.63)8, “um médico que
não possua esse interesse fará melhor em procurar, nas
disciplinas médicas, uma carreira que envolva pouca
ou, preferivelmente, nenhuma interação com os
pacientes”.Essacompreensãodeveserestendidaatodos
os profissionais que lidem com pessoas, embora
reconheçamos a inexistência de alguma disciplina no
campo da saúde que torne nula a interação com o
sujeitos.
-Estardispostoemotivadoparaescutar-paraaprendera
escutar e a praticar a escuta é preciso dispor-se e se
motivar para isso, estando consciente da importância
que a escuta tem para o outro e para si.8,11
-Estarnomundodossentimentosedasconcepçõespessoais
do outro e vê-los como ele os vê – ser empático - isso
significa que o terapeuta entrará no mundo dos
sentimentos e concepções pessoais do outro,sem fazer
apreciaçõese julgamentospréviosdoseupontodevista.
Ele compreenderá o que o outro expressa, alcançando
os significadosqueeledá,entendendoarealidadecomo
ele a entende, sem, no entanto, como já referimos,
perder a sua própria identidade2,10.
- Ter boa capacidade auditiva - essa é uma condição
biológica necessária ao terapeuta e à pessoa ajudada.
No entanto, alguma dificuldade auditiva pode ser
superada por meio de elementos como a paciência, o
interesse e o afeto12.
-Compreenderasquestõesculturais - eisumacondição
fundamental para a escuta. O uso de linguagem
inacessível ao ajudado constitui-se em barreira para a
comunicação. Uma linguagem clara permitirá
identificar e compreender aspectos culturais da fala
do outro, evitando julgamentos e confusão desses
aspectos com os relacionados à sua doença12,16.
- Fazer-se presente por meio do silêncio - o silêncio
pode ter diferentes sentidos. Aqui nos referimos
àquele que demonstra respeito, atenção e interesse
pelo outro. O silêncio que permite a verbalização
do outro, a compreensão e o estabelecimento de
uma relação de confiança9,10.
CCCCCONDIÇÕESONDIÇÕESONDIÇÕESONDIÇÕESONDIÇÕES EEEEEXTERNASXTERNASXTERNASXTERNASXTERNAS AOAOAOAOAO
TTTTTERAPEUTERAPEUTERAPEUTERAPEUTERAPEUTAAAAA
Reservar tempo suficiente paraaescuta -uma
maneira de exercitar tal condição é estabelecer
um contrato com a pessoa, tão logo haja o interesse
e disponibilidade para ajudá-la, e deixar claro quanto
tempo e em que dias da semana poderá escutá-la8.
-Manter aprivacidade sem interrupções -dificilmente,
uma pessoa consegue expressar, em profundidade, sua
situação, se é interrompido a todo o instante ou,
dependendo do problema, se está em presença de
pessoas estranhas. Por isso, o momento dedicado à
escuta deve ser respeitado e, para que não haja
interrupções, é necessário um espaço destinado a esse
fim. Eis algumas sugestões para a manutenção da
privacidade: avisar às demais pessoas do serviço para
não interromper; pôr um aviso na porta da sala;
manter a porta fechada; desligar aparelhos de
telefonia celular e outros; utilizar o biombo8,12.
-Prepararoambienteparaaescuta -oambienteprecisa
ser acolhedor e tranqüilo, devendo-se evitar
temperaturas muito altas ou baixas, estímulos visuais
e ruídos12.
O QO QO QO QO QUEUEUEUEUE EEEEESCUTSCUTSCUTSCUTSCUTARARARARAR
Benjamim9 descreve que, durante a escuta,
devemos estar atentos para o seguinte: o que o
entrevistado pensa e como se sente em relação a si
mesmo; como ele se percebe; o que ele sente e pensa
sobre os outros em seu mundo, especialmente aqueles
que lhe são importantes;oquepensae senteemrelação
àspessoasemgeral;comopercebeosoutrosrelacionados
consigo; o que, em sua opinião, os outros pensam e
sentememrelaçãoaele, especialmenteaquelesque são
mais importantes emsuavida; comopercebeoassunto
queele eoentrevistador, ouambos, desejamdiscutir; o
que pensa e como se sente em relação à problemática
em que está envolvido; quais são suas aspirações,
ambições e objetivos; que mecanismos de
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Escuta terapêutica: instrumento
enfrentamento usa ou é capaz de usar. Tahka8
também ressalta outros aspectos a serem incentivados
na exposição, tais como: quais as reações da pessoa
em relação ao terapeuta, seus valores e filosofia de
vida.
Para alguns autores8,17, a atenção na escuta
é importante tanto para as frustrações como para
as necessidades da pessoa, as quais podem ser
simuladas através de críticas ou mesmo de elogios.
Semelhantemente, a atenção deve voltar-se para o
que o escutado fala espontaneamente e o que evita.
Aquilo que se repete é considerado como o tema
central da sua fala.
CCCCCONSEQÜÊNCIASONSEQÜÊNCIASONSEQÜÊNCIASONSEQÜÊNCIASONSEQÜÊNCIAS DDDDDAAAAA NNNNNÃOÃOÃOÃOÃO-E-E-E-E-ESCUTSCUTSCUTSCUTSCUTAAAAA
Anão-escutapodeocorrer por váriosmotivos,
quevãodesdeadeliberação intencionaldenãoescutar
atéodesejodeescutar frustradopor fatores própriosda
situação4.Numextremo, o terapeutapodeacharqueo
problema é da cabeça do outro e que nada pode fazer.
Alémde julgá-lo, subestimaaescutaedeixadeoferecer
algumtipode ajuda.
Situações de irritação decorrentes dos
comentários,depedidosouperguntasdapessoaajudada,
ou mesmo de antipatia por ele e de julgamento do que
vai dizer, também dificultam e/ou impedem a escuta4.
Aconseqüência imediata,nesses casos, é a interrupção
da comunicaçãooudistorçõesnamensagemrecebida,
que conduz ao distanciamento entre as pessoas
envolvidas no processo.
Comumente ocorre a medicalização do
sofrimento8, atravésdaprescriçãodedrogaspsicoativas,
comoos tranqüilizantes,quepodemamenizar sintomas,
mas que mascaram o sofrimento, conduzindo-o ao
agravamento ou mesmo à cronicidade. A pessoa, por
sua vez, pode torna-se dependente do serviço médico
para levar suavidadiária epassaa terbaixaautonomia,
e assim outros problemas somam-se aos iniciais.
A não-escuta também transmite à pessoa a
mensagem de que ela não merece que lhe dediquem
tempo, ou que se interessem por ela12, conduzindo
ou aumentando seu sentimento de desvalorização.
Assim, se a pessoa que não é escutada experimenta
sintomas depressivos, como sentimento de culpa,
baixa auto-estima e idéias suicidas, tal atitude poderá
acentuar esses sintomas podendo levá-la à morte, pois
confirmarão seus sentimentos de que viver não vale
a pena. Tahka8 cita, como exemplo, uma pessoa que
cometeu suicídio imediatamente após uma consulta
em que o médico, ao invés de escutá-la, a sujeitou a
uma conferência sobre moral.
Dessa maneira, as conseqüências da não-
escuta podem ser desastrosas e provocar o inverso
daquilo que a escuta propõe, ou seja, manter o
sofrimento ou até mesmo conduzir a pessoa a
atitudes deletérias, entre elas a morte, sendo esta
aqui entendida como um fim existencial ou como
uma separação entre duas ou mais pessoas.
CCCCCONSIDERAÇÕESONSIDERAÇÕESONSIDERAÇÕESONSIDERAÇÕESONSIDERAÇÕES FFFFFINAISINAISINAISINAISINAIS
Ao final deste trabalho, evidenciamos a
escuta terapêutica como indispensável ao processo
de mudança da atenção psiquiátrica, principalmente
porque possibilita que a pessoa ajudada seja
protagonista de seu cuidado, cujo papel é tão
importante quanto o do terapeuta, no transcorrer de
suas interações.
Destacamos o montante de condições internas
ao terapeuta, apontadas na literatura, favoráveis à
escuta. Ao visualizá-las, devemos ter o cuidado de
não desanimarmos a ajudar através desse instrumento,
entendendo ser impossível todas as condições
desejadas. Lembremosqueaperfeiçãonãoexiste eque
a escuta, como uma habilidade interpessoal, deve ser
aprendida e aperfeiçoada durante seu exercício. Não
praticá-la significa ignorar a pessoa que sofre em sua
totalidade e as conseqüências dessa atitude podem
adquirir dimensões indescritíveis, apesar de algumas
estarem pontuadas neste trabalho.
Dessa maneira, apontamos para a escuta
terapêutica como um instrumento dos serviços de
saúde, especialmente dos de saúde mental, a fim de
tornar a assistência integral e mais humanizada.
Precisamos começar a desenvolvê-la com os recursos
que dispomos e algumas sugestões de como fazê-la
encontram-se neste trabalho.
Finalmente, apesar da inexistência de receitas
prontas para todo o tipo de interação, ressaltamos
a importância das trocas de experiências entre
aqueles que se dispõem a escutar, e que outros
trabalhos apontem as dificuldades e possibilidades
desse processo nos serviços de saúde.
RRRRREFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIASEFERÊNCIAS
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EEEEELLLLL AAAAACTOCTOCTOCTOCTO DEDEDEDEDE EEEEESCUCHARSCUCHARSCUCHARSCUCHARSCUCHAR TTTTTERAPÉUTICOERAPÉUTICOERAPÉUTICOERAPÉUTICOERAPÉUTICO::::: INSTRUMENTOINSTRUMENTOINSTRUMENTOINSTRUMENTOINSTRUMENTO ESENCIALESENCIALESENCIALESENCIALESENCIAL DELDELDELDELDEL CUIDADOCUIDADOCUIDADOCUIDADOCUIDADO ENENENENEN ENFERMERÍAENFERMERÍAENFERMERÍAENFERMERÍAENFERMERÍA
RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN:RESUMEN: La comunicación es un proceso que se realiza en las interacciones humanas, en la cual se
comparten y se comprenden ideas, pudiendo ser un valioso recurso en la nómina de ayuda. En ese
proceso, algunos instrumentos, tales como el acto de escuchar y la observación, son indispensables,
principalmente porque el escuchar es una habilidad de auto y heterocomprensión. El objetivo de los
autores fue investigar, a través de la literatura, un medio de profundizar conocimientos sobre la importancia
y la aplicación de ese recurso en la salud mental. Describieron, entre otros aspectos, una apresentación
de los principales autores que utilizaron el concepto de la escucha en los modelos de asistencia
psiquiátrica, el modo de comprenderlo, su finalidad, las condiciones favorables para promoverlo y las
consecuencias del no escuchar. De esa manera, este estudio podrá contribuir para la valoración y
utilización de la escucha terapéutica en el proceso de cambios en la atención de enfermería.
Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave:Palabras clave: Comunicación; escucha terapéutica; relacionamiento interpersonal; salud mental.
Recebido em: 09.01.03
Aprovado em: 05.05.03
NotasNotasNotasNotasNotas
*Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/Universidade Estadual de Santa Cruz
**Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/Universidade Estadual do Pará
***Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas/ RS.

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