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Infectologia 1 Introdução • Protozoose amplamente difun- dida nas regiões tropicais e subtropicais do planeta. • Zoonose crônica e sistêmica. • Considerado uma das maiores endemias brasileiras. • Quando não tratada, pode evoluir para óbito em mais de 90% dos casos. • Sinônimos: Calazar, espleno- megalia tropical, febre dundu • Cerca 3.500 casos notifica- dos/ano, com maior incidên- cia no Nordeste do Brasil. • Manifesta franca expansão para grandes centros urbanos. • Causada protozoários tripano- somatídeos pertencentes ao complexo L. donovani, do gê- nero Leishmania – Leishmania infantum na Europa e Leishma- nia chagasi nas Américas. • Transmissão: picada de um fle- botomíneo, a Lutzomya longi- palpis (mosquito-palha). • Reservatórios conhecidos são: o cão, a raposa e alguns caní- deos silvestres. • As leishmânias são parasitas in- tracelulares → infectam as cé- lulas do sistema macrófago- linfocítico. ↓ • Órgãos mais atingidos são fí- gado, baço, medula óssea, pulmões e tecido linfoide do in- testino delgado. • Caracteriza-se por alterações importantes na imunidade ce- lular e humoral do hospedeiro. • Não ocorre transmissão de pessoa a pessoa. • Período de incubação: de 10 dias a 24 meses, com média entre 2 e 6 meses. • Crianças e idosos são mais sus- cetíveis. Quadro clínico • Forma assintomática: corres- ponde à infecção inaparente e é detectada em indivíduos sem manifestação clínica em inquéritos epidemiológicos ou em áreas de transmissão. • Forma oligossintomática: pode passar despercebida ou ser Leishmaniose Visceral Infectologia 2 confundida com outras doen- ças infecciosas. Manifesta: o Discreto comprometimento do estado geral. o História de febre, discreta anemia, diarreia, emagre- cimento e adinamia. o Hepatomegalia normal- mente está presente e não ultrapassa 5 cm. o Esplenomegalia é discreta e pode estar ausente. o As alterações laboratoriais são pouco evidentes. • Forma clássica: o Doença plenamente mani- festa. o Período agudo: febre diária com duração de 15 a 21 dias e estado geral preser- vado. o Hepatoesplenomegalia e anemia discretas. o Calafrios e sudorese. o Anorexia, enfraqueci- mento e emagrecimento o Se desnutrição grave: ca- belos secos e quebradiços, cílios longos e pele seca. o Palidez cutânea. o Aumento progressivo do volume abdominal. o Desconforto no hipocôn- drio esquerdo. o Aumento gradativo do ta- manho do fígado e do baço. o Manifestações hemorrági- cas (epistaxes, gengivorra- gias) e gastrointestinais (quadros diarreicos). o Tosse seca → pneumonite intersticial da LV. o Quadro geralmente com mais de 3 meses de evolu- ção. Obs.: Leishmaniose visceral grave • Pacientes com < 6 meses de idade ou com > 65 anos. • Desnutrição grave. • Comorbidades. • Um dos seguintes: o Icterícia. o Fenômenos hemorrágicos (exceto epistaxe). o Edema generalizado. o Sinais de toxemia (letargia, má perfusão, cianose, taqui- cardia ou bradicardia, hipo- ventilação ou hiperventila- ção e instabilidade hemodi- nâmica). Infectologia 3 Diagnósticos diferenciais • Hepatoesplenomegalias febris: o Malária. o Febre tifoide. o Enterobacteriose septicê- mica prolongada. o Esquistossomose mansônica. o Doença de Chagas aguda. o Toxoplasmose aguda. o Histoplasmose. • Outras: linfomas e as leuce- mias, especialmente a mie- loide crônica e as colagenose. Diagnóstico laborato- rial • Exames parasitológicos: o Demonstração de amasti- gotas em esfregaços de as- pirados de tecido – padrão- ouro. ▪ Esfregaços esplênicos: sensibilidade > 95% (mas apresenta dificuldade técnica operacional). ▪ Esfregaços de medula ós- sea: sensibilidade 60-85%. o Cultura de aspirado de te- cido aumenta a sensibili- dade. • Testes sorológicas: ▪ Ensaio imunoabsorvente li- gado `enzima (ELISA). ▪ Teste com anticorpo de flu- orescência indireta (IFA). ▪ Teste imunocromatográfico recombinante (K39r) por anticorpos (mais realizado na prática). • Exames laboratoriais inespecí- ficos: o Hemograma: anemia, leuco-penia com neutrope- nia e, frequentemente, pla- quetopenia. o Eletroforese de proteínas: di- minuição da albumina e ele- vação dos níveis de gama- globulina em pico policlo- nal. o Aminotransferases (ALT, AST): elevação discreta. Obs.: Títulos variáveis dos exames sorológicos podem persistir posi- tivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim, o resul- tado de um teste positivo, na au- sência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de tera- pêutica! Infectologia 4 Tratamento • Recomenda-se o antimoniato de N-metil glucamina como fármaco de primeira escolha para o tratamento da LV. o 20mg/Sb+5/kg/dia, por via endovenosa ou intramuscu- lar, 1x ao dia, por 20 - 40 dias. o Efeitos adverosos: Artralgias, mialgias, inapetência, náu- seas, vômitos, plenitude gás- trica, epigastralgia, pirose, dor abdominal, dor no local da aplicação, febre, cardio- toxicidade, hepatotoxici- dade, nefrotoxicidade e pancreatite. o Monitorar enzimas hepáti- cas, função renal, amilase e lipase sérica. o Pacientes > 40 anos ou ante- cedentes familiares de car- diopatia: ▪ Realizar eletrocardio- grama no início, durante (semanalmente) e ao final do tratamento para moni- torar o intervalo QT corri- gido, arritmias e achata- mento da onda T. • Anfotericina B lipossomal: para pacientes com pelo menos 1 dos critérios abaixo: ✓ Idade < 1 ano. ✓ Idade > 50 anos. ✓ Escore de gravidade: clínico >4 ou clínico-laboratorial >6. ✓ Insuficiência renal, hepática, cardíaca. ✓ Intervalo QT corrigido maior que 450ms. ✓ Uso concomitante de medi- camentos que alteram o in- tervalo QT; ✓ Hipersensibilidade ao anti- monial pentavalente ou a outros medicamentos utiliza- dos para o tratamento da LV. ✓ Infecção pelo HIV. ✓ Comorbidades que compro- metem a imunidade. ✓ Uso de medicação imunos- supressores. ✓ Falha terapêutica ao antimo- nial pentavalente ou a outros medicamentos utilizados para o tratamento da LV. ✓ Gestantes. o 3mg/kg/dia, durante 7 dias, ou 4mg/kg/dia, durante 5 dias em infusão venosa, em uma dose diária. Infectologia 5 o Efeitos adversos: Febre, cefa- leia, náusea, vômitos, tremo- res, calafrios e dor lombar. o Recomendações: Monitorar função renal, potássio e mag- nésio séricos. Repor potássio, quando indicado. • Desoxicolato da anfotericina B: se hipersensibilidade ou falha terapêutica ao antimonial pen- tavalente e não se enquadre em nenhum dos critérios de in- dicação para utilização da an- fotericina B lipossomal. o 1mg/kg/dia por infusão ve- nosa, durante 14 a 20 dias (dose máxima diária de 50 mg). o Efeitos adversos: Febre, cefa- leia, náuseas, vômitos, hipore- xia, tremores, calafrios, flebite, cianose, hipotensão, hipopo- tassemia, hipomagnesemia e alteração da função renal. o Monitorar função renal, po- tássio e magnésio séricos. Re- por potássio quando indi- cado. Referências • AMATO, Valdir Sabbaga. et al. Leishmaniose Visce- ral. In: MARTINS, Mílton de Arruda. et al. Clínica mé- dica, volume 7: alergia e imunologia clínica, doen- ças da pele, doenças in- fecciosas e parasitárias. Barueri: Manole, 2016. v. 7, cap. 7, p. 496-508. • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação- Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Servi- ços. Guia de Vigilância em Saúde. 1 ed. Brasília: Minis- tério da Saúde, 2016. 773 p. • LONG, Dan L. et al. Me- dicina Interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2017. 2v.
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