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MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA ( ) Introdução Infecção na superfície endocárdica do coração Maioria dos casos acomete o endotélio valvar, mas também pode acometer: Tecidos vasculares extra-cardíacos Cateteres e marcapassos (chamada de endocardite subaguda ou aguda) Próteses valvares Prolapso de valva mitral (PVM) Cardiopatia de risco para ocorrência de endocardite Comunicação inteventricular (CIV) Estenose aórtica ou subaórtica Valva aórtica bicúspide Tetralogia de Fallot Coartação aórtica Lesões associadas à síndrome de Marfan Estenose pulmonar Valvopatias degenerativas (estenose aórtica calcificada) (risco principalmente no idoso) Formas Aguda: infecção de valvar cardíacas por microrganismos de elevada virulência (ex.: Staphylococcus aureus ou Streptococcus pneumoniae) com destruição rápida das valvas, septicemia e embolizações sistêmicas. Alta letalidade (óbito em menos de 6 semanas) Subaguda: acometimento de valvas previamente danificadas a infecção por organismos de baixa virulência (ex.: Streptococcus viridans: colonizam orofaringe; origem comum a partir da flora oral, após mastigação). Atualmente, nos países desenvolvidos, é de baixa prevalência em pacientes com moléstia reumática crônica (mas é fator cardíaco predisponente para endocardite no Brasil) Epidemiologia Maiores de 50 anos: 50% Usuário de drogas injetáveis Doenças cardíacas crônicas Crianças: raro Etiologia Estreptococos Comunicação interatrial (CIA), isoladamente, não predispõe à endocardite MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Grupo viridans: S. mitis, S. salivarius e S. mutans S. bovis S. pneumoniae (forma aguda) S. pyogenes Enterococos: E. faecalis e E. faecium Estafilococos S. aureus (forma aguda) Coagulase negativos: S. epidermidis, S. hominis Grupo HACEK: Haemophylus so, Actinobacillus sp, Cardiobacteriuim hominis, Eikenella sp, Kingella sp Infecções hospitalares Fatores de risco específicos: Salmonella, N. gonorrehae, Brucella so., Bartonella sp., Coxiella sp Fungos (agudo): gêneros Candida spp. e Aspergilus spp. endocardite fúngica acomete com maior frequência próteses valvares, mas pode ocorrer em valvas nativas (dependendo do cuidado relacionado à saúde) Acometimento valvar Lesão valvar prévia Valva nativa (que a pessoa nasceu com ela) Doenças degenerativas, PVM com regurgitação PVM com regurgitação tem risco aumentado de desenvolver endocardite - Maior incidência em mulheres. Homens com PVM e sopro sistólico têm maior risco da doença (sobretudo os :45 anos e degeneração mixomatose proeminente, com espessamento e redundância) - Identificação precoce e fechamento do ductus arteriosus provocam diminuição substancial na população de risco Brasil: doença reumática (principal fator predisponente) Doença causada por uma resposta imunológica a uma infecção por Strepcoccos pyogenes, principal causa da amigdalite bacteriana aguda. Essa bactéria tem na sua parede celular algumas proteínas semelhantes a proteínas humanas, predispondo uma resposta imunológica que se assemelha a uma reação autoimune. Essas manifestações acontecem no coração, artrite, coreia. Caso não tratada precocemente, ao estimular muito o sistema imune por vários dias, pode estimular a febre reumática (é uma resposta imune ao agente infecciosa que faz uma agressão aos próprios tecidos). No Brasil (e outros países subdesenvolvidos) ainda há alguns casos, já em países desenvolvidos não é mais comum essa doença, devido a qualidade do atendimento em saúde (dor de garganta: faz um teste com uma “fitinha” na garganta, caso dê positivo, já é aplicado benzetacil) MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Valva protética 10 a 20% dos casos de endocardite Próteses em posição aórtica são mais suscetíveis a infecções que as mitrais, sendo que não há diferença significativa em longo prazo na taxa de infecção entre tipos de próteses (biológicas ou metálicas) Há diferença entre os grupos quanto a microbiologia, aspectos clínicos, tratamento e prognóstico Divididas em: precoce e tardia Precoce: ocorrem até o final do 1º anos pós-implante cirúrgico da prótese valvar. Podem ocorrer durante a cirurgia ou logo após a cirurgia, sendo que a bacteremia pode ser originada de cateter, sonda vesical, cateter arterial de monitoração invasiva de PA, fios de marcapasso e IOT. São utilizados antibióticos profiláticos no momento do implante, mas pode ocorrer a infecção. Trata-se de um grupo de alta letalidade, sendo necessário tratamento agressivo Tardia: ocorrem depois de 1 ano da cirurgia. Ocorrem devido bacteremias transitórias que infectam a prótese valvar, e tem maior semelhança em seu curso e microbiologia à endocardite de valvas nativas. O curso clínico dessas endocardites é mais parecido com as endocardites de valvas naturais, porém, podem apresentar evolução fulminante em alguns casos Topografia Válvula mitral: 28 a 45% dos casos Válvula aórtica: é acometida isoladamente em 5 a 36% Válvula aórtica e mitral concomitantes: 0 a 35% Valvas tricúspide e pulmonar: menos de 1% Endocardite hospitalar Endocardite em usuários de drogas intravenosas (UDI) Maior prevalência no sexo masculino; média de idade 30 anos; 20% têm lesões cardíacas prévias, congênitas ou sequelas de casos anteriores de endocardite; valva tricúspide é mais afetada Endocardite secundária a injeções contaminadas, sendo que a flora microbiana da pele representa a fonte do organismo infectante (maioria dos casos) Bacteremia pode ser por contaminação das drogas, seringas, agulhas, possibilitando infecções por microrganismos não usuais Patógenos altamente virulentos: valva saudável MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Fisiopatologia Fatores hemodinâmicos que predispõem à endocardite: Jato de alta velocidade Fluxo de uma câmara de alta pressão para outra de baixa pressão Orifício que separa essas câmeras Lesões da endocardite (vegetações) Inicialmente as vegetações são estéreis Formam-se à jusante dos orifícios que geram o gradiente (superfície atrial das valvas mitral e tricúspide, e ventricular das valvas aórtica e pulmonar, assim como na artéria pulmonar no óstio do ductus arteriosus) Lesões satélites podem também se assentar no endocárdio do VD, onde se formam lesoes de jatos das comunicações intraventriculares, ou nos mm. papilares, em casos de insuficiência aórtica Vegetações também podem se formam na superfície de próteses valvares, ou tecido paravalvar danificado por cirurgia ou corpos estranhos (como suturas, fios de marcapasso e cateteres intracardíacos de longa permanência) Morfologia da vegetação depende: da interação entre o agente infectante com o hospedeiro, ou seja, virulência, resistência aos mecanismos de defesa inatos e imunológicos “A endocardite ocorre quando vegetações estéreis se infectam por bactérias capazes de aderir ao tecido conjuntivo subendotelial, fibrina, endotélio danificado e plaquetas, através de moléculas ‘ligantes’. A deposição adicional de fibrina e plaquetas que se segue à lesão inicial leva ao crescimento de uma vegetação, onde as bactérias podem proliferar com mais facilidade, uma vez que estão agora menos vulneráveis às células fagocíticas, complemento e anticorpos ” Desnudamento endotelial agregação plaquetária trombos microscópicos deposição e fibrina vegetação nodular estéril (endocardite trombótica não infecciosa) Toda valva doente tem esse desnudamento facilitado Bacteremia com capacidade de adesão + colonização trombo estéril = EI Trombose localizada agregação de plaquetas e fibrina aumento da massa vegetante (biofilme) Fator crítico para patogênese: bacteremias transitórias (tendem a ocorrerquando há traumas a tecidos ou superfície densamente colonizadas). Bacteremias comuns presentes em: Extrações dentárias Cirurgias periodontais Procedimentos invasivos na orofaringe Tratos GI e GU Infecções pulmonares Infecções cutâneas Doenças periodontal mais grave MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Resumindo para ter endocardite: valva doente, prótese ou alteração anatômica Quadro clínico Sinais e sintomas são variáveis e dependem de vários fatores: Sítio intracardíaco da infecção, com afecção de estruturas cardíacas (valvas, miocárdio, sistema de condução, etc) Embolização para sítios distantes Surgimento de focos infecciosos metastáticos Formação de complexos imunes e reações de hipersensibilidade Processo infeccioso e inflamatório per se Bacteremia prolongada gera resposta imune humoral e celular Infecção de tecidos cardíacos podem levar a: Destruição valvar com regurgitação Destruição valvar com abscessos miocárdicos Destruição do sistema de condução, causando bloqueios atrioventriculares (AV) Bacteremia intermitente: febre, astenia, artralgia, esplenomegalia (agudo ou subclínico) Mecânicos: sopro/IC/arritmias Fenômenos embólicos: SNC/baço/fígado/rins/pulmões/infartos Imunocomplexos circulantes/fenômenos imunológicos Lesões de Janeway: máculas hemorrágicas que ocorrem na periferia plantar e palmar; origem embólica ou vasculítica Nódulos de Osler: nódulos subcutâneos dolorosos que são palpáveis (mais do que visíveis) e ficam em regiões plantar e palmar; origem imunológica e duram algumas horas ou poucos dias Hemorragias subungueais de splinter, petéquias conjuntivais Manchar de Roth: lesões ovais vistas na retina, tendo aspecto hemorrágico e centro pálido; visualizada quando feito exame de fundo de olho (fenômenos trombóticos) Glomerulonefrite por deposição de imunocomplexos Sintomas Geralmente aparecem após 2 semanas a partir do início do processo infeccioso Casos subagudos (baixa virulência) Fadiga Astenia Anorexia Perda de peso Sudorese noturna Febre (em quase todos os pacientes) Sopros cardíacos, geralmente por S. aureus (exceto endocardite mural e tricúspide) Mialgia MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Artralgia Casos agudos (mais agressivos, como S. aureus) Sepse Choque séptico Longa duração (mais que 6 semanas) Esplenomegalia Petéquias Baqueteamento digital Exames complementares Anemia normocítica e normocrômica, leucocitose rara com desvio a esquerda Aumento provas inflamatórias (proteína C-reativa, VHS) Urina 1: hematúria, proteinúria USG/TC: imagens sugestivas de embolia HMC: três pares de hemocultura com uma hora de intervalo Sorologias: identificação de Coxiella sp, Bartonella sp Ecocardiografia: visualização da vegetação, avaliação do comprometimento valvar ou miocárdico (visualização mais detalhada das estruturas mais afetadas: valvas aórtica, mitral e tricúspide). Auxilia na avaliação de complicações no tratamento, guia para tratamento cirúrgico, tem valor prognóstico. Ecocardiograma transesofágico (ETE) e ecocardiograma transtorácico (ETT) MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Diagnóstico Suspeita: febre superior a 1 semana associada a sopro cardíaco (usuários de drogas intravenosas com febre, pessoas jovens com eventos neurológicos agudos febris, portadores de próteses valvares com febre ou descompensação aguda) Critérios de Duke modificado Baseados em hemoculturas e ecocardiografia Tratamento Clínico: antibioticoterapia Bactericida, altas doses (para penetração no cerne da vegetação), por duração suficiente Empírica Tratamento deve ser iniciado de maneira empírica enquanto se esperam os resultados das hemoculturas, com base na apresentação e quadro clínico Casos graves (bactérias mais agressivas) Prevalência EI cultura negativa MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Hemocultura: devem ser obtidas novas hemoculturas entre 2 a 3 dias após o início do tratamento, para a certeza de um bom efeito terapêutico; assim como proteína C-reativa (valor prognóstico positivo na primeira semana de tratamento) Direcionada: de acordo com agente isolado Estrepto e Enterococos: Pen/Ampi/Ceftriaxone + - Genta (ajustes se resistência ou alergia) Estafilo: Oxacilina ou Cefazolina x Vancomicina Prótese: associação rifampicina + aminoglicosídeo HACEK: ceftriaxone ou quinolona Fungos: Anfotericina, Equinocandinas Cirúrgico: indicações Insuficiência cardíaca congestiva de moderada a grave em virtude da disfunção valvar Infecção não controlável por antibioticoterapia Persistência de embolias HMC de controle positivas por mais de 7 dias Agentes de difícil controle: Fungos, P. aeruginosa e S; aureus Disfunção de prótese valvar, ou deiscência, ruptura de cordoalha Abscessos perivalvares Tamanho da vegetação: 10mm OBS: embolia SNC – aguardar 4 semanas, aneurisma micótico MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Prevenção Recomendação de profilaxia antibiótica Procedimento dentários Manipulação de gengivas Manipulação periapical dos dentes Perfuração de mucosas Não é indicada em anestesia em tecido não infectado, colocação, ajuste ou retirada de próteses e dispositivos ortodônticos, perda de primeira dentição ou trauma nos lábios e mucosa oral Procedimento em trato respiratório Amigdalectomia, adenoidectomia e que envolvem incisão ou biópsia da mucosa respiratória Broncoscopia quando houver perspectiva de biópsia Procedimentos em TGI ou TGU A profilaxia não é recomendada rotineiramente para tais procedimentos, nem na endoscopia digestiva alta ou colonoscopia (não há estudos que indiquem ou justifiquem) Os pacientes colonizados que serão submetidos à manipulação de TGI e TGU devem ser tratados antes do procedimento Conclusões Doença infecciosa predominantemente bacteriana, grave, de evolução aguda a subaguda Estreptococos e enterococos: subaguda Estafilococos: aguda e grave MEDICINA INTERNA I INFECTOLOGIA Diagnóstico diferencial com doenças febris, reumatológicas, em especial em pacientes cardiopatas Pistas diagnosticas: sopro cardíaco, lesões cutâneas, anemia, eventos neurológicos em pacientes jovens Pilares da investigação: ecocardiograma e hemoculturas Tratamento: antibioticoterapia eficaz, endovenosa, prolongada, se possível dirigida Em caso de próteses ou implantes: cirúrgica/remoção Prevenção: cardiopatas, saúde bucal e procedimentos que predispõem a bacteremia
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