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artigo - função social da empresa

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A FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA E O IMPERATIVO 
DE SUA REUMANIZAÇÃO 
ALFREDo LAMY FILHO 
1. Origem e caracterfsticas da empresa. 2. Importância econômica, polftica 
e social da empresa. 3. O Estado empresdrio. 4. O poder da empresa e sua 
correlata responsabilidade social. 5. O dever social e a ética da empresa. 
1. Origem e caracterfsticas da empresa 
A empresa é uma instituição relativamente nova no mundo econômico. Nasceu 
com a Revolução Industrial, ou melhor, é a expressão econômica dessa revolução. 
Esquematicamente, pode-se aflrmar que até o surgimento da indústria a atividade 
econômica se processava, precipuamente, no campo (relações feudais), na oflcina 
do artesão ou no comércio (feiras, mercados, lojas). 
O comércio - que sempre existiu na sociedade humana - ganhou impulso e 
foros de cidade na Idade Média. É nessa fase histórica que vamos encontrar singular 
desenvolvimento da atividade dos agentes comerciais - negociantes, ma;tres de loi-
re, armadores, e tantos outros - que, por imposição do tipo de viàa que levavam, 
e crescente importância de atividade que exerciam, acabaram por modelar suas pró-
prias leis, e instituições. Assim, criaram-se as sociedades mercantis, passou-se a ad-
mitir a limitação da responsabilidade do devedor a uma parcela de seu patrimônio 
(como no abandono liberatório, ou nas sociedades em comandita, e em outras, até 
chegar à anônima), instituiu-se o registro do comércio (nas corporações de ofício), 
adotaram-se os livros mercantis e a contabilidade, surgiram os títulos de créditos, 
o contrato de seguros, a falência, etc. (sem essas práticas, e instituições, aliás, o mundo 
econômico de hoje seria inviável). 
Havendo se aflrmado como "a classe mais apta e a mais ágil" para a vida eco-
nômica, o comerciante liderou a revolução industrial, adotando na exploração das 
novas forças então descobertas ou inventadas e postas a serviço do homem (a má-
quina a vapor, depois o petróleo, a eletricidade, e recentemente a energia atômica) 
as mesmas instituições que se habituara a utilizar em sua vida comercial. Com efei-
R. Dir. Adm., Rio de Janeiro, 190:54-60, out./dez. 1992 
to, os primeiros "industriais" foram os comerciantes, e as primeiras "empresas" 
eram casas comerciais voltadas para a atividade industrial. 
As diferenças da empresa industrial para as primitivas atividades artesanais e 
casas comerciais foi se acentuando, extremando-se, com o tempo, dada a necessida-
de crescente de capital fIxo (ao invés de, apenas, capital de giro do comerciante); 
a dilatação do tempo de maturação do investimento; o envolvimento de mais pes-
soas, com a necessidade de maior número de empregados (nascimento do proletaria-
do); complexidade das operações econômicas em que se envolviam; as exigências tec-
nológicas sempre mais sofIsticadas; a grande concentração de capital, etc. 
Formou-se, assim, a empresa - até chegar aos nossos dias, como a unidade 
de produção típica da economia moderna - sob a égide do comerciante, e das insti-
tuições comerciais, vale dizer sob o domínio do empresário titular do capital (que 
adquiria o maquinário), com a vida regulada pela disciplina contratual. Essa passa-
gem do comerciante a empresário se fez, pois, sem maior percepção por parte do 
"comerciante-empresário" (nem dos juristas e redatores de leis, que ignoraram a em-
presa até poucos anos atrás) centrada no "dono" da empresa, ou seja, no proprietá-
rio dos bens necessários ao seu funcionamento. 
Submetidas a um processo de competição selvagem (início do capitalismo in-
dustrial) as empresas, a serviço dos donos de seu capital, viram-se obrigadas a um 
esforço de racionalização e redução de custos que as permitissem lutar e sobreviver 
- o que fez muito às custas da mão-de-obra explorada até seu pOnto de ruptura. 
Nasce, assim, a questão social, com a luta pela sindicalização, as greves~ o abandono 
dos campos, e a entrada em cena do proletariado (homens cuja força de trabalho 
era vendida como insumo para o melhor funcionamento da máquina). Er~ então, 
que a empresa - reunindo capitais, pessoal e tecnologia, para prod~ bens ou ser-
viços a serem oferecidos ao mercado - era defInida por Sombart como o ''micro-
cosmo capitalista, cuja essência espiritual é o lucro", para concluir: -:"a empresa 
desumanizou o trabalho". 
2. Importlincia social, econ6mica e polftica da empresa 
A partir do fIm do século XIX o processo de mudança econ8mita, resultante 
da atividade empresarial, ganha aceleração imprevisível, e passa a produzir conse-
qüências insuspeitadas nos campos político e social - até chegarmos, em nossos dias, 
à "era da empresa". 
Com efeito, o desenvolvimento tecnológico, que caracteriza o mundo de hoje; 
a exigência de produção de massa para atender ao consumo de massa; o processo 
de urbanização e formação das megalópolis; a concentração de capital requerida pa-
ra atender ao reclamo da escala e o sucesso das indústrias modernas (informática, 
petroquímica, energia atômica, comunicações, etc.); a competição cada vez mais acir-
rada em termos de novos processos, gerados por custosas pesquisas que, por sua vez, 
obrigam a outras pesquisas; as exigências sociais crescentes de um universo em esta-
55 
do permanente de reivindicação, estimulada pelos meios de comunicação e diversão 
(sobretudo a televisão); o ideal do desenvolvimento econômico como prioridade bá-
sica dos povos; a internacionalização, ou transnacionalização, da economia - tudo 
concorre para colocar a empresa como centro do questionamento básico da socieda-
de moderna. 
No conhecido Relatório Sudreau (encomendado pelo governo francês, sobre a 
Reforma da Empresa, de 1975) foi dito: 
"Esse papel motor da empresa é um dos traços dominantes de nosso 
modelo econômico: por seu poder de proposição, a empresa é a fonte de cria-
ção constante da riqueza nacional; ela é também lugar de inovação e de pro-
moção." 
E adiante: 
"A empresa é, igualmente, um campo de. iniciativa pessoal. Ela oferece, 
a cada um, um itinerário de promoção." 
No livro Quand L 'entreprise s'éveille à la conscience sociale (paris, 1975) os em-
presários François Dalle e J. Bounine afirmam: 
"No curso dos últimos anos, as sociedades industriais viram crescer seus 
índices de produção a taxas jamais igualadas. Seus membros puderam benefIciar-
se de uma abundância de bens materiais e modos de vida que teriam sido inima-
gináveis há apenas quinze anos. Mas, para tanto, tiveram que consentir em vi-
ver em estado de simbiose sem precedentes com a empresa. Jamais os homens, 
em atividade ou aposentados, trabalhando ou viajando, repousando ou se ali-
mentando, sentiram tão intensamente como em nossos dias os efeitos do pro-
cesso de industrialização." (pág. 37) 
Já que estamos trazendo à colação o depoimento de alguns autores - dentre 
os muitos, em número crescente, que se têm preocupado com o tema - invoquemos 
a palavra de Francis-Paul Bénoit que, ao lançar a revista Connaissance Politique, 
dedicou o primeiro número, de 1983, integralmente, ao exame da problemática da 
empresa, e explicou: 
56 
"Por que a empresa é objeto deste primeiro número? Porque ela está no 
coração do debate político atual." 
É na empresa que se realizam - no seio de sociedades como a nossa, na 
qual a economia repousa sobre o desenvolvimento das ciências, das técnicas e 
da indústria - as adaptações que implicam-a evolução do saber, dos meios e 
das mentalidades. Com a revolução tecnológica que vivemos, o homem criou 
utilidades novas; essas utilidades mudam as condições de vida, e podem mudar 
o próprio homem. São as empresas que, fundamentalmente, têm feito face aos 
difíceis problemas de iniciativa, do controle - e da aceitação também - dessas 
transformações. 
É a empresa o quadro de reencontro dos homens para a ação em comum 
que assegura sua existência. É na empresa - sejam patrões, executivos, técni-
cos, empregados ou trabalhadores - que os mais capazes de iniciativa, de es-
forço, de responsabilidade, os mais dotados, os mais hábeis, os maistrabalha-
dores, se põem aos serviços dos outros, para a criação de riquezas, das quais 
se beneficia a humanidade por inteiro. É também na empresa que se exprimem 
as tensões no que conceme à partilha dos papéis e do proveito entre todos os 
que contribuem para a produção." 
E, pouco depois: 
"Meio de vida, lugar de criação, de adaptação, de cooperação, mas tam-
bém de confrontação, a empresa tomou-se, com a família, a instituição essen-
cial da sociedade." 
3. O Estado empresário 
Também a intervenção do Estado no domínio econômico - que se costuma da-
tar do "New Deal" de Roosevelt - assumiu, em sua maior parte, a forma de empre-
sas públicas, ou mistas, de que foi precursora a Tenessee Valley Authority nos Esta-
dos Unidos. 
O pós-guerra viu ampliar-se a atividade estatal no campo empresarial, em ini-
ciativas, algumas bem-sucedidas, em que o Estado teoricamente, como observava 
Barthelemy, se despia de seu manto soberano para sentar-se, nas assembléias gerais, 
em pé de igualdade com os demais acionistas. Essa "igualdade" era, sem dúvida, 
difícil de ser alcançada, e ao espírito prático inglês deve-se a lição dada pelos sócios 
das primeiras regulated companies que não admitiram o ingresso do rei James I na 
sociedade sob o fundamento de que seria impossível o funcionamento de uma as-
sembléia em que o rei e seus súditos divergissem. 
Em verdade, as empresas estatais continham em si uma contradição, na medida 
em que o Estado, por definição, não visa lucro em sua atividade, quando o lucro 
era o objetivo com que se acenava aos demais sócios. 
Por outro lado, quando exerciam atividades monopolistas, ressentiam-se as em-
presas públicas e mistas da ausência do elemento que constituíra característi~ bási-
ca do funcionamento bem-sucedido das empresas, que era a competição, o fator de 
risco de sua atividade. 
Tudo isso levou à necessidade do que se chamou, na França e na Itália, de uma 
"vasta operação de controle e fiscalização", e que ultimamente se traduziu no cla-
mor pela privatização. 
Qualquer que seja a opinião que se tenha sobre a matéria, importa assinalar a 
relevância do papel que a empresa pública e a mista representaram, e, em certos ca-
sos, ainda representam, na economia de todos os países. 
57 
4. O poder da empresa e sua correlata responsabilidade 
As referências acima bastam para evidenciar que a empresa, pela sua importân-
cia econômica (unidade de produção da economia moderna) e significado humano 
("quadro de encontro dos homens para a ação em comum que lhes assegura sua exis-
tência") ascendeu a um significado político e social, transformando-se no pólo de 
discussão e debates dos sociólogos, dos economistas, dos politicólogos, dos juristas, 
que sobre ela se debruçam em busca da inteligência e da solução dos problemas con-
temporâneos. 
Essa importância econômica e social haveria que projetar-se em termos de po-
der. Com efeito, cada empresa representa um universo, integrado pelos recursos fi-
nanceiros de que dispõe e pelo número de pessoas que mobiliza a seu serviço direto. 
O círculo de dependentes das decisões empresariais não se esgota aí, no entanto. As-
sim, no campo econômico-financeiro a atividade traz repercussões aos fornecedores 
dos insumos, às empresas concorrentes ou complementares, aos consumidores que 
se habituaram aos seus produtos, aos investidores que se associaram à empresa, e 
aos mercados em geral; no setor humano, a empresa, como se disse, é campo de pro-
moção e realização individual, cuja ação (de propiciar emprego, demitir, promover, 
remover, estimular e punir) ultrapassa a pessoa diretamente atingida para projetar-
se nos campos familiar e social. 
Ora, decisões tão abrangentes (na pequena, média ou grande empresa, nesta es-
pecialmente) e de que depende a vida, e a realização de tantas pessoas, e o desenvol-
vimento econômico em geral, são tomadas pelos administradores da empresa - que 
exercem, assim, um poder da mais relevante expressão, não só econômica como po-
lítica e social, e o das mais fundas conseqüências na vida moderna. 
A existência desse poder empresarial, de tão extraordinário relevo na sociedade 
moderna, importa - tem que importar - necessariamente em responsabilidade so-
cial. Este é o preço - dizia Ferdinand Stone - que a empresa moderna terá que 
pagar em contrapartida ao poder que detém. 
5. O dever social e a ética da empresa 
O dever social da empresa traduz-se na obrigação que lhe assiste, de pôr-se em 
consonância com os interesses da sociedade a que serve, e da qual se serve. As deci-
sões, que adota - como vimos - têm repercussão que ultrapassam de muito seu 
objeto estatutário, e se projetam na vida da sociedade como um todo. Participa, as-
sim, o poder empresarial do interesse público, que a todos cabe respeitar. 
Não é demais recordar que o tema há muito vem sendo objeto de exame na lite-
ratura especializada de todo o mundo. É conhecido o debate, travado entre os Profs. 
Adolf Berle e Merich Dodd Jr., através da Harvard Law Review, anos de 1931/1932, 
sobre o problema, em que o primeiro sustentava que os poderes e responsabilidades 
dos administradores são, necessariamente, e em todas as hipóteses "exercisable only 
58 
for the ratable benefit of ali the stockholders as their interest appears", enquando 
o segundo aditava que o uso da propriedade privada envolvia fundamente o interes-
se público (deeply affected with a public interest"). Esse debate, dos mais esclarece-
dores, terminou com a concordância de Berle "at least for the time being" com as 
teses de Dodd - como se pode ler no seu livro The 20th Century Copitalist Revolu-
tion, N.Y., 1954, pág. 169. 
No estudo de Eugene Rostow, então "Dean of the Law School", Yale Univer-
sity ("To whom and for what ends is corporate management responsable?" in "The 
Corporation in Modem Society", de E. Mason, págs. 46 e segs.) cita ele a manifes-
tação do Ministro Douglas, da Corte Suprema, então chairman da Securities and 
Exchange Commission: 
"Hoje é geralmente reconhecido que todas as companhias possuem um ele-
mento de interesse público. O Diretor de uma sociedade deve pensar não so-
mente em função dos acionistas mas também do trabalhador, do fornecedor, 
do vendedor, e do consumidor último de seus produtos. 
Nossa economia é como uma corrente que não será mais forte que qual-
quer de seus elos." 
E, em verdade, a matéria não mais comporta divergência no direito brasileiro, 
pois já foi consagrada na vigente Lei de Sociedades por Ações (Lei 6.404/76) que, 
no art. 154, prescreveu: 
"Art. 1 54 - O administrador deve exercer as atribuições que a lei o estatu-
to lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as 
exig~ncias do bem público e da função saciol da empresa." 
Da mesma forma, no art. 116, parágrafo único, ao disciplinar a figura do acio-
nista controlador, dispôs: 
"O acionista controlador deve usar o poder com o flDl de fazer a compa-
nhia realizar o seu objetivo a cumprir suafunção social, e tem deveres e respon-
sabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham 
e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente 
respeitar e atender." 
A satisfação desses deveres e responsabilidades há que traduzir-se na busca atenta 
e permanente da conciliação do interesse empresarial com o interesse público; no aten-
dimento aos reclamos da economia nacional, como um todo, na identificação da ação 
empresarial com as reivindicações comunitárias - numa palavra, na observância de 
uma ética empresarial, que, aímal, é o que distingue o aventureiro do empresário. 
Mas ainda, o dever social da empresa é, também, um compromisso permanente 
com a reumanização da economia - como, aliás, vem sendo proposto e executado 
em várias partes do mundo. Citem-se, a titulo de ilustração, alguns exemplos: a ins-
tituição das comissões de fábricas, já vigentes nos países nórdicos, com poderes para 
deliberarem sobre condições do trabalho, higiene e segurança, luta contraa mono-
59 
tonia de certas tarefas, etc.; a instituição dos comitês de empresa, competente para 
as discussões de interesse geral, salários, planos de desenvolvimento, dispensas, etc.; 
a co-gestão ou co-decisão - integrando os trabalhadores nos Conselhos das empre-
sas (modelo alemão); a participação nos lucros direta ou indiretamente; a participa-
ção na propriedade e no contrato de empresa (projeto sueco); a obrigatoriedade da 
realização anual de um "balanço social da empresa (como propõe A. Chevalier, Le 
Bilan Social de L 'Enterprise, Ed. Masson), para quantificar (ou tentar fazê-lo) o de-
senvolvimento de programas de caráter social, de aperfeiçoamento de recursos hu-
manos, assistência social, etc. 
Ao lado da proteção direta do interesse do trabalhador, hão de ser alinhadas 
as outras medidas que visam a proteger a própria empresa (e pois a sobrevivência 
de sua atividade de interesse econômico e social), como v .g., tratamento fiscal para 
os dividendos mínimos como "salário" dos investidores e empresários; assistência 
técnica e fmanceira às empresas (criação dos chamados "hospitais de empresa"), 
a alteração da lei de falências para introduzir o processo de reorganização de empre-
sa; e, talvez, a personalização jurídica da empresa, admitida a limitação individual 
de responsabilidade. 
O comportamento ético da empresa, sua orientação no sentido da observância 
do interesse público, é, pois, um dever legal, já agora inscrito em nosso direito posi-
tivo. Mas, entre a norma genérica, enunciada como ideal a ser atingido, e a prática 
da vida empresarial vai distância que só a divulgação desses princípios, com a corre-
lata ação do Estado pode - e deve - superar. 
É imprescindível, e inadiável, que, de par com a atenta fiscalização da salva-
guarda desses princípios, ou standards legais, os Poders Públicos induzam as empre-
sas à sua observância, seja nas leis fiscais, sociais, ou societárias, seja no trato, ou 
nos contratos, que com elas mantêm no curso de sua atividade econômica. Por ou-
tro lado, ao cumprimento desse dever social - sobretudo na fase inicial que atraves-
samos, em que poucas empresas têm consciência do problema - há que correspon-
der a ação do poder público; em reconhecê-lo e premiá-lo, de forma a criar legítimo 
interesse na sua observância. 
Em outras palavras, impõe-se que o cumprimento dos deveres sociais das em-
presas, e a lealdade na busca do interesse público, ascendam com a eficiência a crité-
rios básicos e distintivos entre a boa e a má corporação, entre a idônea e a inidônea 
- e que se priVilegiem as boas como sanção das más. 
Só agora os estudiosos se vão dando conta de que nos encontramos no vórtice 
de um processo de transformação social que tem por base a cédula empresarial. O 
preço dessa transformação será tanto menor quanto mais os empresários e o Estado 
se anteciparem na compreensão do fenômeno, e agirem em conseqüência. 
Trata-se, numa palavra, da tarefa básica do mundo moderno: reumanizar a em-
presa. Como disse Saint-Exupéry, com a revolução industrial, o homem construiu 
uma nova casa - mas nã.o aprendeu, ainda, a habitá-la. Cumpre a todos, e a cada 
um, tomá-la habitável. 
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