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1 Disposições Gerais: O cumprimento de sentença é uma fase do processo sincrético (do qual também integra a fase de conhecimento, liquidação de sentença, execução etc...). O cumprimento de sentença e o processo de execução fazem parte da fase executória, mas se diferenciam por: →Ação de execução: só é possível nos casos em que há título executivo extrajudicial!!! Nessa ação, não será necessário ingressar primeiro com ação de conhecimento. Então, para ser possível ingressar diretamente com uma ação de execução, prevista no art. 711 e seguintes, bastará apenas apresentar o título executivo extrajudicial (ex: cheque, nota promissória etc...) e a obrigação de que este seja certo, líquido e exigível como pede o art. 783 do CPC, além dos requisitos legais tradicionais (legitimidade, competência etc...). →Cumprimento de sentença: Quando há trânsito em julgado de uma sentença condenatória e o réu não paga a dívida, deve-se recorrer a fase de cumprimento de sentença. O cumprimento de sentença é o ato de executar uma determinação judicial exteriorizada em sentença (somente para títulos judiciais) prevista no art. 513 até 538 do CPC. Em suma: o cumprimento de sentença é a fase em que aquilo que foi estabelecido pelo juízo seja realizado no mundo real, que possa ser cobrado. O cumprimento de sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado eu do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento. Não se discute novamente o mérito nessa fase. A sentença transitada em julgado pode ser levada a protesto depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523. No título II, capítulo I da parte especial do CPC/15 tem as disposições acerca do cumprimento de sentença: Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código. Esse artigo é de suma importância, pois dispões que há uma necessidade de complementação das normas do cumprimento de sentença com as normas dispostas para a execução de títulos executivos extrajudiciais. Em verdade, um procedimento complementa o outro, suprindo as lacunas faltantes de cada um. No cumprimento de sentença a atividade é basicamente material, e não cognitiva como se dá na fase de conhecimento. Art. 513, § 1º O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente. Isso quer dizer que, se a sentença condena a uma obrigação de pagar quantia (dinheiro) não será possível o cumprimento de sentença ex offício, ou seja, é necessário requerimento do exequente. Caso o exequente não faça esse requerimento, nada o juiz poderá fazer acerca disto, apenas arquivar os autos, depois de transcorrido o prazo de prescrição, extinguindo o processo. Não devemos confundir com o processo penal, que devido á indisponibilidade do bem subjacente, admite a execução de ofício, independente de requerimento da parte ou do ministério público, e o mesmo se dá no direito trabalhista, devido a previsão na CLT. Já no processo de cumprimento de sentença para obrigação de pagar quantia(seja execução definitiva ou provisória) isso não ocorre, há aqui uma manifestação do princípio do dispositivo, que significa que a parte pode dispor do seu direito material (autonomia da vontade). O mesmo não se aplica para obrigações de fazer, não fazer (arts. 536 e 537 do CPC) ou entrega de coisa (art. 538). Nesses casos, não é necessário o requerimento do exequente para execução provisória ou definitiva. Aqui, o próprio juiz prolata a sentença, e nessa mesma sentença estipula multa (sentenças sem efeitos suspensivos até o recurso finalizar). Nessas hipóteses o requerimento se dá de ofício, independente de requerimento. Art. 513, § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos; IV - poredital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. Dada a utilização do processo sincrético, o devedor não será citado, mas sim intimado, visto que não há abertura de um novo processo, mas sim a continuidade do processo que antes era de conhecimento, com uma nova fase, e o devedor já era parte do processo, não se fazendo necessária a citação. 2 Revogação da Súmula 410/STJ: “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”→ No caso das obrigações de fazer e de não fazer, para que houvesse exigibilidade da multa, havia a necessidade de prévia intimação pessoal do devedor, após um tempo o STJ reviu esse posicionamento (e o NCPC acolheu essa revisão) e seguindo posição do STJ veio esse julgado que começou a afastar essa súmula: EAg 857.758/RS, Rel. Nancy Andrighi, 2ª Seção, julgado em 23/2/2011, DJe 25/8/2011→ para a incidência da multa, segundo essa súmula, se fazia necessária a intimação prévia do devedor, todavia, na lei de cumprimento de sentença (lei 11.232/05) se afirmava que se a parte era intimada para cumprir com a obrigação em 15 dias, caso contrário, começaria a se cobrar a multa. Essa intimação era feita na pessoa do advogado (porém haviam várias discrepâncias doutrinárias acerca do modo que devia ser feita essa intimação antes de que o STF decidisse de que iria ser para a pessoa do advogado). Isso gerou um problema de incongruência sistêmica dentro do STJ, pois para que se incidisse a multa do cumprimento de sentença, não se fazia necessária a intimação pessoal, agora, para que se incidisse a multa no caso de obrigação de fazer e não fazer, a súmula 410 exigia a intimação pessoal do executado. Para tanto, se tinha duas ratiodecidendicontrapostas, onde a súmula 410 afirmava que obrigação de fazer e de não fazer são atos personalíssimos e que exigem intimação pessoal, caso contrário a multa não começa a contar, já para a obrigação de pagar (que também é pessoal) não se havia necessidade de intimação pessoal do devedor, bastando a intimação do advogado pelo diário de justiça e a multa começaria a correr automaticamente. Então, havia uma incoerência, visto que mesmo sendo situações distintas, possuíam a mesma razão de ser e tinham a aplicação de regimes jurídicos distintos. Então, nesse julgado acima citado, o STJ optou por afastar a súmula 410 e com isso acabou com a necessidade de intimação pessoal do devedor para obrigações de fazer e de não fazer. Afastamento esse muito mais contumaz veio com o NCPC de 2015, que já prevê no art. 513, §2º, I que o devedor será intimado pela pessoa do seu advogado. Art. 513, § 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. Isso quer dizer que, em um ambiente de cooperação processual, onde as partes devem agir de boa-fé, se a parte mudar de endereço e não comunicar ao juízo, terá de arcar com os ônus dessa ação, pois se dará a presunção de que a parte continua morando no endereço anterior, então a obrigação de informar o novo endereço é uma decorrência do princípio da boa-fé objetiva. Art. 513, § 4º Se o requerimento a que alude o § 1º (pagar quantia) for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimentoencaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo. Se decorrido esse período de tempo e o devedor não tiver se manifestado, deverá ele ser intimado, pois pode este estar afastado dos autos e não ter conhecimento de que a execução está correndo. Art. 513, § 5º O cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento. Em virtude do respeito ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa, não se pode fazer um requerimento de execução contra uma pessoa que não fez parte da fase de conhecimento. Há aqui, subjacente, um princípio, que é o da fidelidade ao título executivo, que diz que o cumprimento de sentença deve ser fiel e obediente ás fases do processo de conhecimento. Essa fidelidade é tanto subjetiva, no sentido de que as partes do cumprimento de sentença devem refletir as partes que integraram a fase cognitiva, como também no sentido objetivo, no tocante de que no cumprimento de sentença não se pode exigir nada além daquilo que foi concedido na sentença, sob pena de excesso de execução, o que dará ensejo a uma defesa do executado. Enunciado nº 268/STJ: "O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado."→ Deve-se fazer a cumulação, do locatário contra qual irá ser emitida a ordem de despejo e o fiador que terá de pagar os alugueis atrasados (com o direito de colocar o patrimônio do devedor a frente do dele, o que é uma prerrogativa do fiador). Art. 514. Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou termo, o cumprimento da sentença dependerá de demonstração de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo. Condição é evento futuro e incerto, ao passo que o termo é um evento futuro e certo. Muitas vezes o juiz pode prolatar a norma jurídica do caso concreto, porém essa norma estar submetida a uma determinada condição, ou a um determinado termo. Se for requerida o cumprimento de sentença antes de que estes se realizem (o evento futuro e certo ou incerto), o devedor poderá atravessar uma impugnação ao cumprimento de sentença (que não tem natureza de ação cognitiva, ao contrário dos embargos à execução, dos títulos executivos extrajudiciais), visto que haverá uma inexigibilidade da obrigação. Rol dos títulos executivos judiciais: Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: 3 Os títulos executivos judiciais são chamados, por parcela substancial da doutrina de pressuposto jurídico da execução, ou também formal. Pois a ideia é de que sem esse pressuposto, a instauração e o desenvolvimento válido da relação jurídica de direito processual não se faz possível. I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; Não apenas as sentenças são títulos executivos judiciais, decisões interlocutórias também serão, visto que com o NCPC se admite o fracionamento do julgamento do mérito, ou seja, uma resolução progressiva do mérito de acordo com a sua aptidão para julgamento (como por exemplo o art. 356, que trata do julgamento antecipado parcial do mérito). Decisões declaratórias podem dar ensejo ao cumprimento de sentença (ou da decisão interlocutória)? Tradicionalmente a sentença declaratória sempre foi entendida como aquela que busca resolver um estado de incerteza jurídica, declarando a existência ou a inexistência ou também o modo de ser de uma relação jurídica (ou também quanto a falsidade ou autenticidade de um documento), então, via de regra a ação declaratória busca declarar direitos e não fatos. A sentença constitutiva por sua vez é aquela na qual se busca cria, modificar ou extinguir uma relação jurídica, ou uma situação jurídica. A sentença condenatória é aquela que impõe uma prestação. A sentença condenatória sempre foi identificada pela sua eficácia executiva, então sempre se afirmou que a sentença declaratória e a sentença constitutiva são auto satisfativas, pois prescindem de atos concretos de execução. Surgiu no STJ o entendimento de que, a sentença declaratória que traz todos os elementos obrigacionais, ou seja, que traz uma definição exaustiva dos elementos da relação jurídica, dará ensejo a atos executivos. Os elementos obrigacionais são cinco: an debeatur (existência da dívida), quantum debeatur (o quanto é devido), qui debeatur (a quem é devido), quid debeatur (modalidade de obrigação, como de fazer, não fazer etc...) equis debeatur (quem deve). Então, se a sentença declaratória exaure esses cinco elementos obrigacionais não há que se falar na necessidade de um novo exercício de jurisdição cognitiva (para prolatar uma sentença condenatória) ela poderá dar ensejo a realização dos atos executivos. Não só o juízo de procedência irá dar ensejo a atos executivos, pois também se faz possível a execução de uma decisão de improcedência. Toda decisão de improcedência é declaratória negativa. Toda ação declaratória é uma ação dúplice, pois a se se faz o requerimento de inexistência de uma relação jurídica, a procedência do pedido vem em forma de negação da existência. A sentença declaratória negativa também poderá dar ensejo a um processo de execução, como por exemplo se alguém requerer a conversão de auxílio saúde em aposentadoria, se o pedido for julgado improcedente e constatada má-fé no recebimento do auxílio saúde, o INSS irá tanto suspender o pagamento quanto executar as parcelas que foram pagas indevidamente. Então, esses são os três principais pontos desse inciso: → Não é apenas sentença que permite a execução, decisão interlocutória também; → Não são apenas decisões condenatórias que dão ensejo a execução, como também uma decisão declaratória poderá, desde que traga definição de todos os elementos da obrigação (sumulado pelo STJ, na súmula 461); → É possível a execução da sentença declaratória negativa; II - a decisão homologatória de autocomposição judicial; A sentença homologatória do juiz (art. 487) é uma decisão de mérito, porém nesse caso não há efetivamente julgamento de mérito, ou seja, não há interpretação do direito, revolvimento do quadro probatório, análise das provas, pois nesse caso o juiz irá meramente homologar o ato de transação das partes, que de forma consensual chegaram a uma determinada conclusão, e é por isso que nessa decisão homologatória o juiz não faz análise material, do conteúdo dessa autocomposição, mas sim um juízo de mera delibação, observando apenas os requisitos formais (direito ser ou não indisponível, se as partes estão regularmente representadas etc...). III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; A autocomposição que for assinada pelo devedor, credor e duas testemunhas já é título executivo extrajudiciário, já dando ao partícipe dessa autocomposição um “bilhete de ingresso” a um processo de execução. Porém a parte pode desejar um título executivo judicial, visto que as matérias que o devedor pode alegar em sede de cumprimento de sentença são mais restritas que aquelas que ele pode alegar em sede de embargo á execução do título executivo extrajudicial. Então, justamente para restringir essas matérias de defesa, pode o credor pleitear a homologação de uma autocomposição extrajudicial (observadas as regras do juizado espacial cível, pois esse procedimento é exclusivo dele, ou seja, até 40 salários mínimos podem estar envolvidos na demanda). IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; O formal nada maisé que uma certidão de partilha simplificada. Então, o formal e a certidão de partilha outorgam direitos sobre os bens que foram objeto de inventário, isso significa que o herdeiro que fez parte do processo de inventário pode-se utilizar desses documentos para executar outro herdeiro que esteja na posse do bem. Quem não fez parte do processo de inventário não poderá sofrer com esses atos de constrição. 4 V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; Anteriormente ao CPC de 2015 o crédito auxiliar de justiça era título extrajudicial, agora não sendo mais, mas sim judicial. A aplicabilidade desse inciso é baixa, pois geralmente perito, intérprete e tradutor recebem antes, não necessitando levar á juízo a cobrança da dívida, também os emolumentos devidos aos cartórios, que geralmente são cobrados na mesma hora da retirada das certidões. VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; Remissão ao art. 91, I do CP que diz que a sentença penal condenatória traz em si implícita a obrigação de indenizar. E também ao art. 387, IV do CPP que diz que o juiz, se possível, irá atribuir um valor mínimo de indenização para a condenação, pode a vítima, ao ingressar com ação de cumprimento de sentença penal condenatória transitada em julgado, pedir liquidação do valor residual (a mais) que ela entende devido. Em virtude do princípio da fidelidade do título executivo, não é possível o cumprimento de sentença contra quem não fez parte do processo penal condenatório, ou seja, há uma restrição do cumprimento do título ao réu do processo criminal (como por exemplo, responsabilidade objetiva do empregador para com atos do empregado na esfera civil, porém esse empregador não integrou o processo penal que condenou seu empregado, tendo que passar por uma nova ação cognitiva para que dele seja cobrado algo). VII - a sentença arbitral; É um título executivo judicial, não estando sujeita a homologação para fins de complemento. VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; Antes da EC/45 era o STF que possuía competência para homologar sentença estrangeira e a concessão do exequatur, com a ideia de desafogar o STF, passou-se isso para o STJ. Depois da homologação quem prossegue com o processo é o juiz federal, segundo o art. 109, I da CF. Importante perceber que não é propriamente a sentença ou decisão interlocutória estrangeira que é o título executivo, mas sim o ato homologatório, a sentença/decisão interlocutória por si só é inapta a produzir efeitos no território nacional enquanto não passar pela homologação. É o ato homologatório que é atributivo de eficácia interna a essa decisão estrangeira, e consequentemente, é esse ato homologatório que vai ser executado perante um juiz federal de primeiro grau de jurisdição. X - (VETADO). Esse inciso tratava de decisões do tribunal marítimo, porém foi vetado visto que causava um grande efeito quanto ao acesso à justiça, já que, não seria possível ao juiz, em sede de cumprimento de sentença, retirar a validade da decisão do tribunal marítimo, gerando uma perda de controle ao juiz togado. § 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. Vistos que nesses casos não houve um prévio processo de conhecimento, então a fase de cumprimento de sentença não irá integrar o processo sincrético. Nessas hipóteses não se terá um mero requerimento de cumprimento de sentença, mas sim um novo processo. Com o surgimento de um novo processo se faz necessário o ato de integrar um terceiro a esse processo, o que se dá pelo ato de citação. Se a dívida for liquida, automaticamente se vai para o cumprimento de sentença, porém se a sentença for ilíquida, o terceiro será citado para que se faça a liquidação dessa sentença. Também se for cumprimento de sentença penal condenatória e a vítima achar baixo o valor estipulado pelo juiz penal, se fará o cumprimento daquele valor e paralelamente a liquidação do valor residual. § 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo. Essa autocomposição pode abarcar interesses que não estão submetidos a apreciação, como por exemplo, a chegada de um acordo sobre uma dívida se houver redução de juros de outra dívida que as mesmas partes possuem entre si, trazendo assim para o processo, uma questão que não foi inicialmente posta. As partes poderão assim, ampliar o objeto litigioso do processo em qualquer momento, para fins de autocomposição, tendo assim uma alteração na estabilização objetiva do processo. Essa autocomposição pode também envolver um sujeito estranho ao processo, o que também irá causar uma alteração na estabilização subjetiva do processo. Competência: Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I - os tribunais, nas causas de sua competência originária; Toda e qualquer ação que seja de competência originária do tribunal, por ele terá o processo de cumprimento de sentença realizado (como por exemplo: reclamação, mandado de segurança etc...). Nessas hipóteses caberá ao relator, se o processo for de competência originária do supremo (regimento interno do STF, art. 21, II), se o processo tramitar no STJ, caberá a presidência do órgão (regimento interno do STJ, arts. 301 e 5 302), e nos demais tribunais será preciso verificar o regimento interno de cada um. II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; Se a ação se iniciou em primeiro grau de jurisdição, depois que teve todos os recursos possíveis julgados e transitou em julgado, será executada pelo juízo que a conheceu por primeiro (primeiro grau de jurisdição, sendo o juiz federal ou estadual). III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Essas são as hipóteses em que não se tem um prévio processo de conhecimento, tendo assim um ato citatório. A competência será do juízo cível, sendo assim: → Sentença penal condenatória: Como ocorreu um ato ilícito, deve-se observar a regra do art. 53, V, que traz foros concorrentes para a apreciação, sendo o do domicílio do autor ou do local do fato (forum comissi delicti). → Sentença arbitral: Observar as regras do art. 53, o qual dispõe das regras gerais de competência (domicílio do réu). → Sentença estrangeira: Observar o art. 109, X da CF, que coloca que a competência é do juiz federal do domicílio do réu. → Acórdão proferido pelo tribunal marítimo: Vetado!!! Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. Esses são foros concorrentes, ou seja, é facultado ao autor da ação escolher entre um deles. A competência para a execução sempre foi entendida como uma competência funcional, ou seja, decorre das funções do juiz, sendo assim é uma competência absoluta, não dependendo da vontade das partes, porém esse parágrafo único traz uma ideia de relativização da competência absoluta, visto que o exequente tem a prerrogativa de escolher outros locais que não o juízo que prolatou a sentença do processo de conhecimento. Art. 517. A decisão judicial transitada em julgadopoderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523. A lei do protesto sempre admitiu ao credor que este levasse a protesto um título executivo extrajudicial, como um cheque, por exemplo. A ideia do protesto é de se utilizar de um meio coercitivo para induzir o devedor ao pagamento, o protesto por si só não é um meio apto a subtrair bens do patrimônio do executado e transferir esses bens para o exequente, mas sim é um meio de induzir o executado ao pagamento. Decisão judicial submetida ao cumprimento provisório não pode ser protestada, pois é imprescindível que haja o trânsito em julgado da decisão, ou seja, apenas após a formação da coisa julgada é possível esse protesto. Não é possível se levar a dívida a protesto se o exequente entrar o com requerimento de cumprimento de sentença, com a ideia de se outorgar um prazo ao devedor para que ele adimpla com a sua dívida, e é por isso que apenas é possível se levar a protesto a dívida depois de transcorrido o prazo previsto para o pagamento voluntário no art. 523 (15 dias). Esse artigo se aplica apenas para as obrigações de pagar, não se aplicando a obrigações de fazer, não fazer ou entrega de coisa, visto que o art. 517 faz expressa remissão ao art. 523 que disciplina pagamento de quantia. O protesto independe de autorização do juiz. § 1º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão. § 2º A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário. Essa certidão irá ser expedida pelo serventuário, contendo o nome do exequente e do executado, o valor, o nº do processo, e também há quanto tempo o devedor se encontra inadimplente. § 3º O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado. A ação rescisória busca subtrair os efeitos de uma coisa julgada, ou seja, a ação rescisória é uma ação constitutiva negativa da coisa julgada, ela busca retirar esse manto de imutabilidade e de indiscutibilidade que recai sobre a coisa julgada. Ao devedor que ingressa com ação rescisória é facultada a possibilidade de se fazer consignar (deixar á margem desse protesto) que existe uma nova discussão acerca daquela decisão, ou seja, que foi postulado perante o poder judiciário um juízo reincidente dessa coisa julgada, no qual se busca a rescisão. § 4º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. O ideal é que o executado faça prova do pagamento perante o poder judiciário, o juiz sendo informado do pagamento irá expedir um ofício ao cartório, dentro do prazo de três dias para que dessa forma seja cancelado o protesto. Se não houver informação ao poder judiciário, não será expedido esse ofício, e dessa forma, o tabelião do protesto de títulos e documentos não irá poder de ofício cancelar o protesto, 6 pois é o juiz que detém competência para verificar se ocorreu o adimplemento completo ou não da dívida, para que assim possa dar por extinta a dívida e expedir o ofício. As custas do cancelamento devem ser arcadas pelo executado, visto que foi ele que deu causa a situação. Então, todo esse processo de protesto e o seu cancelamento deve ser pago pelo executado. Art. 518. Todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão decididas pelo juiz. Aqui se tem a ideia de desformalização da defesa do executado, ou seja, ele poderá atravessar uma petição nos autos que o juiz irá conhece-la e incidentalmente irá resolver sobre ela, para tanto essa decisão se dará mediante decisão interlocutória, admitindo agravo de instrumento. Art. 519. Aplicam-se as disposições relativas ao cumprimento da sentença, provisório ou definitivo, e à liquidação, no que couber, às decisões que concederem tutela provisória. Esse cumprimento provisório (da tutela provisória) segue as mesmas normas que o cumprimento de sentença comum, visto que a tutela provisória exige um cumprimento provisório, esta que nada mais é que a antecipação dos efeitos de uma sentença, que permite a pronta intervenção na esfera patrimonial do executado. DO CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA: O cumprimento provisório dessa sentença é provisório pelo motivo de que o título executivo é provisório (ainda não há coisa julgada formada) e pode ser a qualquer momento reformado no tribunal, se for alvo de uma apelação (ou recurso especial/extraordinário) sem efeito suspensivo, isso irá gerar uma anulação de todo aquele cumprimento provisório de sentença tendo de se retornar ao status quo (anterior). Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: O cumprimento provisório segue o regime do cumprimento definitivo, mas com determinadas exceções, todas correlacionadas ao fato do cumprimento ser provisório. O artigo fala em cumprimento provisório da sentença, mas decisões interlocutórias também podem ser cumpridas provisoriamente, como por exemplo uma tutela provisória. A sentença tem na sua natureza a característica de não produzir efeitos enquanto não transitar em julgado, sendo necessário expressar que ela não possui efeito suspensivo para que possa se executar seu cumprimento provisório, ao contrário da decisão interlocutória, que já nasce com o poder de produzir efeitos, só perdendo essa capacidade quando houver concessão de efeito suspensivo em sede de agravo de instrumento (o que se dá por meio de tutela provisória). CUMPRIMENTO PROVISÓRIO X DEFINITIVO: • Responsabilidade do exequente: Quem executa provisoriamente um título executivo o faz por sua conta e risco, visto que pode haver reforma da decisão pelo tribunal ou instancias superiores. O cumprimento de sentença provisória não é um ato incompleto, podendo geral a satisfação total do exequente. Existem medidas de cautela para proteger o executado, já que ele pode ter sua esfera jurídica patrimonial atingida por uma decisão que poderá vir a ser reformada. O cumprimento provisório, portanto, gera um regime de responsabilidade do exequente, responsabilidade essa objetiva (independendo de dolo ou culpa). A mera cassação do título executivo provisório gera o dever de indenizar por danos morais e materiais o exequente pois decorre por si só da reforma do título executivo. • Caução: Como o título é provisório deve-se também proteger o executado, visto que esse pode ser alvo de penhora, avaliação etc...porém há de se ter uma tutela a esses interesses do executado, pois pode ser que a decisão venha a ser reformada. Então, para fins de expropriação de bens ou de levantamento do dinheiro, é imprescindível a prestação de caução pelo exequente, porém há algumas exceções a essa regra (serão vistas posteriormente). • Retorno ao status quo anterior: No caso de cassação/anulação ao título executivo, é imprescindível o retorno ao status quo anterior, visto que, se aquele título foi cassado, não é mais possível a invasão ao patrimônio do devedor e também este deve ser restaurado, ou seja, o patrimônio que foi desfalcadoretorne ao estado em que existia anteriormente ao cumprimento da sentença. A seguir os incisos do art. 520 que demonstram essas características: I - corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; Se fala em sentença em sentido amplo, abarcando também os acórdãos. II - fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos; Se tivermos um acórdão que reforma ou anula a sentença, em ambas as hipóteses se tem a retirada do título executivo provisório do ordenamento jurídico. Então, o tribunal dando provimento à apelação ou ao recurso especial, seja com base em um errror in judicando ou um error in procedendo, o título executivo que deu ensejo ao 7 cumprimento provisório cai. A restituição das partes ao estado anterior se dará mediante liquidação do prejuízo nos próprios autos, ou seja, não será necessário o ingresso com uma nova ação pelo executado, que irá promover uma liquidação incidental do prejuízo, ou seja, irá se dar no bojo da mesma relação jurídica de direito processual, relação essa onde o executado passará a ser o exequente, gerando uma inversão dos polos processuais. III - se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução; Para tanto, todo o cumprimento provisório não será invalidado, mas sim apenas a parte que corresponda a modificação que foi feita na decisão que julgou o recurso. IV - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. O cumprimento provisório pode sim ser completo, gerando satisfação ao exequente, porém como o título é provisório é também importante tutelar os direitos do executado, através de uma caução prestada nos próprios autos. Porém, o art. 521, em seus incisos, traz hipóteses onde a caução irá ser dispensada: → O crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem: Ou seja, alimentos decorrentes de obrigação familiar, obrigação civil (indenizativos). → O credor demonstrar situação de necessidade: em uma situação premente de necessidade, como por exemplo, o credor necessitar fazer uma cirurgia urgente, haverá a dispensa de caução. Caso esse que se dará o cumprimento da obrigação por meio de uma tutela provisória. → Pender o agravo do art. 1.042: Que trata dos agravos em recurso especial e recurso extraordinário, na pendencia destes não é necessária a prestação de caução. → A sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos: Tem-se a ideia de prestigiar o sistema de precedentes, então, se a sentença ou acórdão está em consonância com precedente vinculante, ela muito provavelmente será mantida em sede recursal, então mesmo o título executivo sendo provisório, ele está amparado pelo precedente vinculante. O parágrafo único do art. 521 assegura que quando houver manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação as quatro situações acima serão afastadas e haverá a necessidade de prestação de caução. O executado terá que provar esse manifesto risco para que se haja a prestação de caução nos autos. § 1º No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525. O art. 525 traz a causa de pedir que pode ser deflagrada na impugnação ao cumprimento de sentença (rol taxativo, visto que já houve uma fase cognitiva), onde o executado pode alegar questões processuais e questões materiais apenas se forem supervenientes a formação do título executivo. § 2º A multa e os honorários a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa. O NCPC traz a possibilidade de fixação da multa e dos honorários em sede de cumprimento provisório, e isso sempre gerou muita polêmica, visto que o recurso que o executado interpôs e a multa pelo não cumprimento da obrigação são atos contraditórios, pois o executado estaria exercendo seu direito de recorrer. A questão dos honorários advocatícios também é difícil, pois se os polos se inverterem e o executado se tornar exequente, terá de integrar ao polo passivo também o advogado, para dele receber de volta os honorários. Esse § alterou o CPC de 73 e inclusive revogou súmulas dos tribunais que diziam o contrário. § 3º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto. Se o executado não quiser pagar a multa, mas também tiver a vontade de recorrer, se não houvesse essa disposição, cairíamos na preclusão lógica do recurso (visto que um ato é incompatível com o outro). Então, pode o executado depositar o valor judicialmente para que não incorra na multa. § 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado. Como por exemplo, se tivermos um imóvel alienado, onde um terceiro vem ao processo e o arremata, nessa hipótese, o terceiro comprou o imóvel de boa-fé, então, em virtude de uma necessidade de segurança jurídica, não irá ser possível o retorno daquele bem imóvel para o patrimônio do devedor, visto que isso geraria um colapso nas relações sociais, visto que dificultaria o interesse de compradores em bens que estivessem em processo de execução, causando uma queda nos preços. Então, para reparar esse prejuízo o executado poderá ingressar no patrimônio do exequente para receber os valores que lhes são devidos, o que não é possível é violar a boa-fé e a legítima expectativa desse terceiro que adquiriu o bem. Agora, se o exequente se 8 utilizar da adjudicação (ficar com os bens do executado, em vez de vende-los e ficar com o dinheiro) se poderá facilmente desfazer a alienação, pois não irá se tutelar a boa-fé do exequente, visto que esse tem conhecimento de que seu título executivo é provisório, então não existe nenhum prejuízo se esse bem que ingressou no patrimônio do exequente volte para o patrimônio do executado, visto que esse indevidamente teve seu patrimônio invadido, então são os seus direitos que devem ser tutelados, e não os do exequente. § 5º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo. Há uma necessidade de complementação subsidiária da execução de obrigação de fazer, não fazer e de entrega de coisa com a disciplina da obrigação de pagar. As especificidades do caso concreto irão informar o regime do cumprimento provisório desses tipos de obrigação. Exigibilidade da obrigação de pagar quantia: DO CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA: Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescidode custas, se houver. Então, se estiver fixada a quantia certa, quantia que já passou por processo de fixação, ou decisão sobre parcela incontroversa (decisão parcial do mérito, afastando a unicidade da sentença), poderá se proceder a execução definitiva. O cumprimento definitivo de sentença exige requerimento, não sendo possível a execução de ofício. Lembrando que o mesmo não se aplica a obrigações de fazer ou não fazer, entrega de coisa, sentença trabalhista e sentença penal, onde o juiz poderá realizar a execução de ofício. O que esse requerimento deve conter? Isso vem descrito no art. 524: → Qualificação das partes; → Demonstrativo discriminado e atualizado do crédito (juros de mora, correção monetário etc...); → Bens passíveis de penhora (faculdade do exequente). § 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput , o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento. Há uma discussão muito relevante quanto a natureza dessa multa de 10%, se ela seria coercitiva ou punitiva. A doutrina amplamente majoritária é de que essa multa teria um caráter coercitivo (astreinte), visto que, segundo essa corrente, se utilizaria de um meio de coerção para obrigar o executado ao cumprimento da sentença. A posição minoritária (adotada pelo professor Luiz Guilherme Marinoni) diz que essa multa não seria coercitiva, mas sim teria um intuito punitivo, pois esta deveria ter uma possibilidade de graduação, ajustando seu valor ao poder econômico do devedor, para que dessa forma fosse realmente eficaz, visto que a multa fixada em valor único (10%) não é eficiente no caso concreto. Vedação ao parcelamento (art. 916, §7º, previsão expressa de que o direito ao parcelamento da dívida apenas se aplica para execução de título executivo extrajudicial) x Permissão pelo STJ de 2012 → Lei do NCPC trouxe um entendimento contrário ao do STJ. Súmulas do STJ quanto aos honorários advocatícios nessa questão: - Súmula 517/STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte executada. - Súmula 519/STJ: Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis honorários advocatícios. § 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante. Ou seja, se a obrigação for adimplida apenas em parte, a multa de 10% e os honorários incidirão apenas sobre o valor faltante. § 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação. Isso se dá para garantir uma maior celeridade ao cumprimento de sentença, ou seja, se a dívida não for adimplida no prazo de 15 dias, os bens serão penhorados pelo oficial de justiça, e também, se possível, por ele avaliados, para que assim seja nomeado o depositário e se siga com os atos de expropriação. Uma novidade do novo código é a possibilidade de cumprimento invertido da obrigação, esse ponto está previsto no art. 526, que trata da possibilidade do executado requerer o cumprimento da obrigação (obrigação essa na qual ele se encontra no polo passivo), essa possibilidade de cumprimento invertido traz ao executado a vantagem do afastamento da multa de 10% e também dos honorários. A doutrina sempre questionou se isso seria propriamente uma execução de sentença ou seria uma hipótese de ação consignatória, visto que, via de regra, quem tem legitimidade ad causam para atuar no polo ativo da execução é o credor, porém em contrapartida o art. 526 vem com a possibilidade de que o executado pode ingressar com o cumprimento de sentença, visto que, todo devedor 9 tem direito ao pagamento para se eximir da obrigação, o que ocorre comumente na ação de consignação em pagamento, então o que se discute doutrinariamente é se essa realmente seria uma ação de execução movida pelo devedor, ou se seria uma hipótese travestida de ação de consignação em pagamento. Importante ressaltar que essa discussão quanto a natureza da ação não interfere de nenhuma forma a pratica desse instituto. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. O prazo do art. 523 é de 15 dias, dado para que o executado pague a dívida de maneira voluntária, passado esse prazo, inicia-se um novo prazo automaticamente, também de 15 dias, para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, impugne esse requerimento, nos próprios autos do processo. Importante: → A defesa do executado independe de garantia do juízo, diferentemente do CPC de 73, que exigia a garantia do juízo para que o réu oferecesse a sua impugnação. → O prazo de 15 dias para que o executado apresente a sua impugnação servirá para que a parte ofereça a sua defesa incidental, não havendo que se falar em formação de uma nova relação processual. → A cognição em sede de impugnação é extremamente limitada, visto que o espectro das matérias que podem ser deduzidas em sede de impugnação é restrito, visto que o momento para alegação de fatos Impeditivos, modificativos e restritivos se dá na contestação. Via de regra, os fundamentos da impugnação devem ser vinculados ao direito processual, podendo alegar causas de direito material desde que estas sejam supervenientes a formação do título executivo. MATERIAS QUE PODEM SER ALEGADAS EM SEDE DE IMPUGNAÇÃO (art. 525): § 1º Na impugnação, o executado poderá alegar: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; Falta ou nulidade de citação gera um vício muito grave para o processo, que inclusive, para parte da doutrina, geraria a inexistência da relação jurídica de direito processual, pois a citação válida seria um pressuposto processual de existência do processo, já, para outra parcela da doutrina, a ausência de citação gera a invalidade do processo, e não um vício no plano da existência. Para além dessas duas discussões o fato é que a inexistência ou nulidade da citação é um vício transrescisório, pois mesmo após o prazo de dois anos para a propositura da ação rescisória, a parte poderá ingressar com uma ação de querela nulitatis, que é uma ação sem previsão no ordenamento jurídico, porém tranquilamente admitida pela doutrina e pela jurisprudência, que pode declarar a inexistência da relação processual (para os defensores da tese de que a citação inválida é pressuposto de existência para o processo) ou ação declaratória de nulidade da ação (para os que defendem que a ausência de citação válida só gera uma invalidade ao processo). Como é um vício transrecisório essa questão pode ser alegada a qualquer tempo, mas é importante salientar que o comparecimento espontâneo do réu na fase cognitiva supre a falta ou nulidade da citação e também o se réu, se omitir de alegar ausência ou nulidade da citação na impugnação ao cumprimento de sentença não poderá alegar isso posteriormente em uma ação de querela nulitatis, pois segundo a doutrina dominante isso gera preclusão. II - ilegitimidade de parte; Deve-se observar que essa não é a legitimidade passiva ad causam que foi debatida na fase cognitiva do processo, mas sim a ilegitimidade para atuar no polo passivo do cumprimento de sentença, se o réu não figurar no título executivo. III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; Isso pode se dar em diferentes situações: → Vícios nas condições formais do título: comopor exemplo, a ausência de homologação da sentença estrangeira. → Termo, condição, encargo, contraprestação: Nessas situações não é possível requerer o cumprimento da sentença antes da resolução da situação que a bloqueia. → Inconstitucionalidade do fundamento da obrigação: Se dá quando a pretensão executiva está amparada em uma norma inconstitucional. Isso está mencionado expressamente no §12 desse mesmo artigo: “Para efeito do disposto no inciso III do § 1º deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.”. Esse dispositivo autoriza o reconhecimento da inexigibilidade da sentença ainda que transitada em julgado, fundada em lei (ou ato normativo) declarada inconstitucional, ou que deu a essa lei (ou ato normativo) que foi tida como incompatível com a Constituição Federal. No entanto, para que a sentença possa ser reconhecida como inexigível, é preciso que a declaração de inconstitucionalidade preceda o trânsito em julgado. Se ela for posterior, só caberá ação rescisória. Mas, nesse caso, o prazo da rescisória não será de dois anos a contar do transito em julgado da sentença, 10 mas de dois anos a contar do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em controle concentrado ou difuso de constitucionalidade. Quanto ao §13, esse prevê que “No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica.” Isso garante a possibilidade de modulação temporal dos efeitos, em virtude da necessidade de segurança jurídica (que é elemento incito ao estado de direito e um direito fundamental), declarando a matéria inconstitucional com efeitos ex nunc ou com data certa para começar a valer, ao contrário da regra geral, que retroagiria. Também disciplinam sobre essa matéria o §14 “A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda.” e §15 “Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.”. O §14 quer dizer que a decisão do STF, da qual trata do §12 é cronologicamente anterior ao transito em julgado da decisão exequenda, então, primeiro houve a declaração de inconstitucionalidade e a inobservância dessa norma pelo julgador, e após isso a formação do título, nesse caso, a pretensão rescisória pode ser deduzida incidentalmente em sede de impugnação. Já o §15 diz que, se a declaração de inconstitucionalidade foi formada após transito em julgado da decisão exequenda, ou seja, se não existe um vício na origem do título, caberá ação rescisória, não mais impugnação ao cumprimento de sentença, e o prazo para essa ação é móvel, pois será contado a partir da declaração de inconstitucionalidade pelo STF. IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; Existe uma ordem preferencial para a penhora, para que seja facilitado o processo de penhora (por exemplo, é mais fácil penhorar dinheiro do que penhorar um carro, um carro a um imóvel etc...), a ideia é de que existem bens patrimoniais que tem uma maior liquidez que outros. Então, deve-se observar a ordem estabelecida pelo legislador, priorizando os bens que possuem maior liquidez. Também há a impossibilidade da penhora de bens de família, sendo que se for penhorado haverá uma mácula, que poderá ser arguida em sede de impugnação. O mesmo se passa se houver a penhora de um bem impenhorável, como por exemplo, o utensílio de trabalho da pessoa física, também nesse caso, essa eiva na penhora poderá ser suscitada por ambas as partes (pelo exequente apenas atravessando mera petição nos autos, visto que pode o prejudicar também). Da mesma forma, é possível a impugnação de aspectos formais do ato de penhora, visto que este está sujeito a formalidades legais, não sendo possível que o auto de penhora inobserve os requisitos previstos no CPC. Igualmente, se houver uma avaliação errônea, tanto com um valor maior ou menor, que poderá causar prejuízos tanto para o exequente quanto para o executado, podendo ser suscitada por ambos. *A penhora e a avaliação do bem poderão ser prévias ou posteriores à impugnação. Se prévias, os eventuais equívocos deverão ser alegados na impugnação. Se posteriores, serão alegados por simples petição, no prazo de 15 dias a contar da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato, nos termos do art. 525, §11. Como a impugnação não exige prévia penhora e o prazo para apresenta-la corre automaticamente do término do prazo para pagamento voluntário, é possível que a penhora e a avaliação sejam posteriores, caso em que eventuais vícios ou equívocos deverão ser arguidos no prazo de 15 dias após a ciência do ato ou fato. V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; As hipóteses de excesso de execução estão previstas no art. 917, § 2º: “Art. 917, §2º Há excesso de execução quando: I - o exequente pleiteia quantia superior à do título; II - ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; III - ela se processa de modo diferente do que foi determinado no título; IV - o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do executado; V - o exequente não prova que a condição se realizou.” Cabe também alegação de cumulação indevida de execuções, visto que não se pode valer-se do mesmo procedimento para executar uma obrigação de pagar, de fazer e de entrega de coisa, ou seja, não se pode utilizar o mesmo procedimento para executar prestações de natureza diversa. Pode-se cumular mais de um título judicial distinto (independente de como foi dado) desde que as obrigações contidas se baseiem em obrigações da mesma espécie. Para fazer essa cumulação dentro da legalidade, deve-se observar as regras do art. 327. Um ponto importante nesse caso de excesso a execução é que é imprescindível, sob pena de inadmissibilidade, que o executado traga um demonstrativo discriminado da dívida, para que sejam apurados todos os pontos da prestação, indicando onde há excesso. Caso o executado não traga esse demonstrativo discriminado, não será válida essa alegação. → Excesso de execução x excesso de penhora: O que pode ser objeto de impugnação é excesso de execução, a cobrança de valores ou prestações maiores ou diferentes das que constam no título. Com ela não se confunde o excesso de penhora, que ocorre quando o credor cobra o que é devido, mas a penhora acaba recaindo sobre bens de valor superior ao débito. Não há excesso na cobrança, mas na garantia. Havendo apenas excesso de penhora, não é necessária a impugnação, bastando as partes, a qualquer 11 tempo, postular redução àquilo que seja suficiente para a garantia do crédito. VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; Essa é uma novidade do CPC de 2015, visto que essa alegação antes corria em autos apartados, e agora se dará no bojo do cumprimento de sentença, em semelhança ao que se tem no âmbito da fase cognitiva. É na impugnação que o executado deve arguir a incompetência do juízo, seja ela absoluta ou relativa. Dificilmente será possível arguir a incompetência se o título for sentença civil condenatória, já que teria sido alegado na fase cognitiva. Contudo, se o título executivo judicial for de outra espécie, como a sentença penal condenatória, a sentença arbitral, estrangeira etc., a incompetênciadeverá ser alegada em impugnação. Já o impedimento e a suspeição do juiz devem ser alegados por simples petição, observando o disposto nos arts. 146 e 148 do CPC. VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença. Esse rol é exemplificativo, e não taxativo, trazendo exemplos onde se dará a extinção da obrigação. A defesa desse inciso é substancial, sendo um fundamento do direito material, e não do direito processual. É imprescindível que essa causa pretendi surja após a formação do título executivo, visto que, se ela for anterior a sentença, ocorreu a eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 508), que significa que não podem ser re-suscitadas ou reanalisadas matérias que a parte poderia ter aventado na fase de formação do título. A doutrina tem uma opinião contrária a esse disposto, dizendo que esses fatos devem ser supervenientes ao segundo grau de jurisdição, uma vez que até esse momento o tribunal pode analisar fatos. Essa é a única hipótese dentre os incisos em que ocorrerá ação incidental, visto que, se o juiz emitir essa declaração, sua decisão revestir-se-á da autoridade de coisa julgada material. Ele não decidirá apenas questões processuais, mas a existência do direito material, do crédito que embasa a execução, caso em que a execução adquirirá a natureza de ação incidente. Não de processo autônomo, já que será sempre incidental a execução: tanto que o juiz proferirá ao final uma decisão interlocutória, não uma sentença. A impugnação terá natureza de mero incidente nas hipóteses do I a VI e de ação incidente no inciso VII. Seja uma coisa ou outra, o seu processamento far-se-á nos autos da execução, e não em apenso ou apartado. § 2º A alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148. Isso quer dizer que a alegação de impedimento ou suspeição será apresentada ao juiz perante mera impugnação nos autos do processo, basta atravessar uma peça para que essa matéria seja conhecida. § 3º Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229. O art. 229 trata do prazo em dobro para litisconsortes com advogados distintos, salvo hipótese de PJE. § 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. A apresentação de impugnação não tem efeito suspensivo, via de regra, sendo ope judices (depende do juiz para ser concedida) e não ope legis (depende da mera interposição). Essa avaliação do juiz se dará sobre os fundamentos e se o prosseguimento da execução possa gerar ao executado grave dano ou de difícil ou incerta reparação. A doutrina coloca que a atribuição de efeito suspensivo a impugnação ao cumprimento de sentença exige que se cumpram os requisitos da tutela provisória (fumus bonis iuris + periculum in mora) e também a garantia do juízo. Portanto, o juiz pode conceder o efeito suspensivo, desde que se cumpram esses requisitos, que são os mesmos para que ele os conceda nos embargos: • Que haja requerimento do impugnante; • Que o juízo esteja garantido com penhora, caução ou depósito suficientes; • Que seja relevante a sua fundamentação, isto é, que sejam verossímeis as alegações; • Que o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. A concessão de efeito suspensivo não impede a efetivação de atos de substituição, reforço ou redução de penhora e avaliação de bens. § 7º A concessão de efeito suspensivo a que se refere o § 6º não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de avaliação dos bens. Quando o valor do objeto/bem penhorado sofrer alguma perda ou aumento de valor durante o processo, esse valor poderá ser reforçado, substituído ou reduzido. § 8º Quando o efeito suspensivo atribuído à impugnação disser respeito apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte restante. Quando houverem mais capítulos da sentença, poderá o juiz dotar de efeito suspensivo apenas parcela da impugnação, ao capítulo que ele achar conveniente. § 9º A concessão de efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos executados não suspenderá a execução contra os que não impugnaram, quando o 12 respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao impugnante. Se houver um litisconsórcio no polo passivo da impugnação ao cumprimento de sentença e um executado oferece um fundamento na sua execução que é comum a ele e aos demais, a impugnação irá beneficiar aos demais. Já, se esse fundamento for pessoal e exclusivo dele, a atribuição de efeito suspensivo não irá beneficiar os demais. § 10. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando, nos próprios autos, caução suficiente e idônea a ser arbitrada pelo juiz. Mesmo que atribuído o efeito suspensivo a impugnação, o requerente poderá requerer o prosseguimento da execução com a expropriação dos bens, desde que esse preste garantia em juízo. § 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato. Se houver uma penhora posterior ao oferecimento da impugnação, não se apresenta nova impugnação, mas mera petição nos autos do processo. Há um prazo para tal de 15 dias. Exigibilidade da Obrigação de Alimentos É uma forma de obrigação de pagar, porém com um procedimento diferenciado das obrigações de pagar comuns, visto que a obrigação surge de uma relação de direito material alimentar. Tendo em vista a importância do adimplemento dessa obrigação, o CPC traz uma disciplina específica para tanto. CLASSIFICAÇÕES REFERENTES AO DIREITO Á ALIMENTOS: → Natureza: naturais ou civis. Essa classificação não é importante para o procedimento, pois sejam os alimentos naturais (entrega de valor para a compra de alimentos, para garantir a subsistência do alimentando) ou civis (objetivam manter o padrão de vida do alimentando) se submetem a mesma sistemática de execução. → Origem: legítimos, indenizativos ou voluntários. O alimento legítimo é aquele que imediatamente decorre da lei, visto que a lei prevê que são devidos nas relações de família. Os indenizativos decorrem de um ato ilícito (sendo que a lei não é a fonte de onde emanam imediatamente esses alimentos), portanto a lei apenas mediatamente gera a obrigação de pagar alimentos, mas é o ato ilícito em si (art. 186 do CC) que traz esse dever de pagar alimentos. Os alimentos voluntários decorrem da manifestação de vontade da parte, essa também é uma fonte mediata, pois embora a lei preveja essa modalidade, imediatamente é a manifestação volitiva da parte (viva em contrato ou falecida, por testamento) que traz essa obrigação alimentar. É absolutamente pacífico para a doutrina que se aplica o procedimento corriqueiro para os alimentos legítimos e voluntários, todavia, existe ainda discussão se esse procedimento se aplica para os alimentos indenizativos, visto que, parcela doutrinária afirma que não se aplicava para alimentos que decorrem de um ato ilícito, vistoque o CPC de 73 no seu art. 475, ’q’, assim como o novo CPC, no art. 533 traz uma previsão concernente ao cumprimento de obrigação decorrente de ato ilícito, que diz: “Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.” Para tanto, parcela doutrinária afirma que este dispositivo já previa o método de execução dessa obrigação, que é a constituição de capital, para tanto, para essa parcela da doutrina, não se poderia utilizar procedimento normal de execução de alimentos, que é previsto no art. 528 e seguintes (o qual prevê a prisão civil). Para provas → novo CPC tem previsão expressa de utilização do procedimento do 528 e seguintes para cumprimento de obrigação de alimentos indenizatórios → ERRADO (caiu no processo legislativo), porém é amplamente majoritária a posição segundo a qual é absolutamente indiferente a fonte da obrigação alimentar. → Momento: futuro ou pretérito. Essa classificação se mostra importante pois o CPC de 2015 encampou previsão sumular do STJ no sentido de que a prisão civil por dívidas apenas é possível quanto aos elementos futuros, e quanto aos passados, apenas com uma delimitação temporal de três meses anteriores. → Estabilidade: provisório, provisional ou definitivo: O alimento definitivo é aquele que decorre de uma cognição judicial exauriente. O alimento provisional foi derrubado pelo CPC de 2015, juntamente com as outras medidas cautelares inominadas, portanto, não tem mais embasamento normativo. Os alimentos provisórios são aqueles que irão ser concedidos com base em uma decisão interlocutória provisória, em juízo sumário. Importante ressaltar que esse rito de pagamento de alimentos previsto no CPC de 2015 se aplica tanto para os alimentos provisórios quanto para os alimentos definitivos, como diz a literalidade do art. 531: Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios. § 1º A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada em julgado, se processa em autos apartados. Para uma questão de organização processual, visto que o processo (físico) pode ser encaminhado para o tribunal, a execução correrá em apartado (se não tiver efeito suspensivo) ainda no primeiro grau, em autos apartados. 13 § 2º O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que tenha sido proferida a sentença. Nesse caso a sentença já transitou em julgado, não se fazendo necessário que a execução corra em autos apartados, visto que o processo não irá mais se sujeitar a recursos. PRINCIPAIS MEIOS DE EXECUTAR A PRESTAÇÃO: Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Esse artigo diz que o cumprimento da sentença ou da decisão interlocutória vai se dar a requerimento do exequente, ou seja, não poderá começar de ofício. Haverá uma intimação pessoal do executado, visto que, o pagamento é um ato de direito material, e não de direito processual, caso em que se justificaria a intimação na pessoa do procurador. Os três dias citados no artigo tem uma duplicidade de entendimentos, visto que, no CPC de 2015 consta que os prazos processuais correrão em dias úteis, porém, o pagamento é um ato de direito material, não processual, o que abriria espaço para o entendimento de que seriam três dias corridos. Prevalece divergência doutrinária e ainda não há posicionamento jurisprudencial. O juiz intimará o executado para exercer uma das três ações seguintes: • Pagar o débito: que está em aberto. • Provar o pagamento: já feito. • Justificar a impossibilidade de pagamento: Não será qualquer matéria que poderá ser alegada na impugnação do devedor, sendo elas: Pagamento ou qualquer outro meio extintivo da obrigação, como por exemplo a prescrição. Impossibilidade “temporária” de adimplir, é importante que essa impossibilidade seja temporária, visto que, se o executado pretende alegar uma impossibilidade absoluta, ou seja, a exoneração da obrigação alimentícia, é imprescindível que ele deduza uma ação autônoma para alegar tal fato. Essa justificativa dispensa a representação por advogado, uma vez que as consequências podem ser muito danosas para ambas as partes. § 1º Caso o executado, no prazo referido no caput , não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517 . A satisfação do direito do exequente pode se dar de forma sub-rogatória ou coercitivos. O meio sub-rogatório é aquele através do qual o poder judiciário se sub-roga na pessoa do devedor, retira o bem do seu patrimônio e entrega esse bem ao credor, nesse meio, o poder judiciário independe da manifestação de vontade do executado. Já os meios de coerção acarretam uma interferência na manifestação volitiva do devedor, nesse caso, o poder judiciário não prescinde de atividade do devedor, mas sim se utiliza de um meio coercitivo para obrigá-lo ao cumprimento. O novo CPC deixa mais um meio de coerção a disposição do credor, que é o protesto judicial, que “suja” o nome do devedor na praça. § 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento. Se faz necessária a comprovação de que é absolutamente impossível o adimplemento imediato, demais escusas não poderão ser veiculadas. Não se confunde com a exoneração da obrigação, é apenas um impedimento momentâneo. Meios de execução: → Desconto em folha (art. 529): Diretamente da folha de pagamento do executado, se faz contato (ofício) com o órgão público ou empresa em que o mesmo trabalha e se desconta o valor automaticamente. Não pressupõe expropriação. Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia. § 3º Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida (vincendas), não ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos. Essa é uma novidade do CPC de 2015, onde se podem somar parcelas vencidas e vincendas até 50% dos ganhos líquidos do devedor. Isso permite uma maior facilidade na satisfação do direito material. § 1º Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício. § 2º O ofício conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do executado, a importância a ser descontada mensalmente, o tempo de sua duração e a conta na qual deve ser feito o depósito. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art517 14 Esse é o procedimento para que o valor seja descontado dos vencimentos do devedor, por meio de simples ofício ao superior. → Coerção pessoal: É a chamada prisão civil. Tem previsão no pacto de São José da Costa Rica, que foi aprovado no Brasil pelo decreto 678/92. É a única possibilidade de prisão civil por dívida previstano nosso ordenamento jurídico, uma vez que o depositário judicial infiel não está mais nesse rol, uma vez que a Convenção Americana de Direitos Humanos foi recebida pela EC 45 (que garante que os tratados internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais) e esse pacto, em seu art. 71 prevê prisão civil apenas para o devedor de alimentos e não do depositário infiel. Art. 528, § 3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. O juiz possui discricionariedade para o estabelecimento do tempo de prisão a ser designado. Sua natureza é de meio de coerção, não tendo natureza sancionatória e tampouco substitutiva da obrigação alimentar. É possível a sua decretação de ofício ou se faz necessário o requerimento pela parte credora? Não é possível a decretação de ofício (STJ, HC 128.229, 3ª turma). Quanto ao prazo, a lei 5.478/68 (lei de alimentos) em seu art. 19, estabelecia que o prazo da prisão seria de até 60 dias, permanece discussão doutrinária quanto a esse ponto. § 4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns. Do ponto de vista doutrinário, o regime fechado funciona de maneira mais efetiva para forçar o pagamento da dívida, tendo grande aderência a realidade. § 5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas. Visto que, a prisão é um meio coercitivo e não um sucedâneo para o principal. § 6º Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão. Pagando o valor devido, em seguida o juiz suspenderá a prisão, não necessitando que o executado cumpra todo o tempo de pena pré-estabelecido. § 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. Recepciona a súmula 309 do STJ. Isso se dá, pois, a prestação de alimentos se dá principalmente para a manutenção da vida do alimentado, tendo ele passado os meses anteriores sem receber e não encontrando dificuldade para subsistir (parcelas anteriores não estão vinculadas à sobrevivência do alimentando), os meses que serão levados em consideração para que se decrete a prisão do devedor serão os três últimos e as vincendas (que vencerem durante o processo). “Decreto prisional abrange todas as prestações que se vencerem, no curso do processo, até o cumprimento do prazo de prisão” (STJ, HC 39.902)→ Esse ponto se mostra importante visto que se articula com a possibilidade de renovação da prisão durante o processo, que não se faz possível, visto que se faz necessário o inadimplemento superveniente à expiração do prazo da prisão (1 mês basta, se não foram cumpridas as obrigações durante os três meses de prisão). → Expropriação: Penhora, avaliação e venda dos bens do executado, feita como no procedimento comum. Art. 528, § 8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação. Esse parágrafo traz uma opção ao exequente quanto ás prestações futuras, pois as prestações pretéritas (que venceram até três meses antes do ajuizamento da ação) serão cobradas conforme a sistemática do Título II, Capítulo III, que se encontram disciplinados nos arts. 523 e seguintes, que disciplinam o cumprimento da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, então, para essas prestações pretéritas o credor não tem essa opção procedimental, que só se aplica ás prestações futuras e as três últimas antes do ajuizamento da ação. O que se tem aqui é uma dualidade de procedimentos, pois são dois ritos que estão à disposição, o que gera uma discricionariedade para o exequente. Também há a possibilidade de conversão do rito, ou seja, é possível, desde que se observe a diferença entre prestação futura e prestação passada, que o exequente comece por um rito e depois peça a conversão em outro (523→528 ou vice e versa). COMPETÊNCIA: Art. 528, § 9º Além das opções previstas no art. 516, parágrafo único, o exequente pode promover o cumprimento da sentença ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio. O art. 516 que traz o regime geral de competência para a execução diz que o juízo competente é aquele que participou da fase de conhecimento, onde os bens estão ou 15 no domicílio do executado. Esse parágrafo adiciona uma quarta opção nesse caso, que é no domicílio do exequente. Similar situação ocorre na fase de conhecimento, onde o art. 59, II reconhece que é competente o foro de domicílio do alimentando para processar e julgar a fase cognitiva. Art. 530. Não cumprida a obrigação, observar-se-á o disposto nos arts. 831 e seguintes. O art. 831 disciplina a penhora. Sendo inefetiva a prisão civil, se prosseguirá para a avaliação e penhora dos bens do devedor. Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios. § 1º A execução dos alimentos provisórios, bem como a dos alimentos fixados em sentença ainda não transitada em julgado, se processa em autos apartados. Visto que, nessas hipóteses, pode-se ter um agravo de instrumento contra a decisão que fixa os alimentos provisórios ou uma apelação contra a sentença (que não possui efeito suspensivo). Essa discussão perde relevância nos processos eletrônicos. § 2º O cumprimento definitivo da obrigação de prestar alimentos será processado nos mesmos autos em que tenha sido proferida a sentença. Uma vez que o processo se fixa naquele local, não sendo remetido para graus superiores. Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material. O crime de abandono material está disciplinado no art. 244 do Código Penal, incluída nesse tipo penal a conduta de não prestar alimentos a quem deles necessita. Então, o juiz verificando o executado pode e deve pagar e não o está fazendo em virtude de um ato arbitrário, obrigatoriamente deverá oficiar o MP, para, se for o caso, oferecer uma ação penal por crime de abandono material. Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão. Como por exemplo, deixar o valor em uma aplicação de renda fixa, onde os rendimentos mensais correspondam ao valor que o executado deve pagar ao exequente, esse patrimônio será chamado de patrimônio de afetação, que é um patrimônio em separa, que não responde pelas dívidas do devedor, servindo apenas para pagar a dívida alimentar. Essa constituição de renda se aplica apenas para verba alimentar, não cobre outros valores que o executado deve pagar, como dano estético, moral etc... Há parcela da doutrina que defende que nesse caso, como é prevista a constituição de renda, não é possível a prisão, porém outra parte defende que inexiste razão lógica para se diferenciar um credor de obrigação alimentar em virtude da origem dessa obrigação.
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