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RELATÓRIO CONTROLE DE QUALIDADE DE MATÉRIAS PRIMAS INTRODUÇÃO O controle da qualidade da matéria prima é o processo de inspeção e controle da qualidade de toda matéria prima recebida. Ao receber produtos de seus fornecedores é necessário realizar os testes e inspeções determinados para comprovar a qualidade do material recebido e se o mesmo atende os requisitos. Esse controle pode passar por diferentes etapas, dependendo do tipo de matéria-prima ou do produto final. Em resumo, as principais são: recebimento da matéria-prima, teste de comprovação da qualidade, análise dos resultados, identificação de conformidade ou não conformidade e comunicação para o fornecedor da matéria-prima. O farmacêutico é responsável por essas etapas de verificação, alguns requisitos como: especificar a matéria prima de acordo com a referência estabelecida, aprovar ou rejeitar a matéria prima, selecionar e escolher métodos e equipamentos, manter o registro das atividades procedidas, garantir e registrar manutenção de equipamentos, entre outros. A realização dos testes são definidas a partir da RDC 67/07 e 87/07. A matéria prima deve seguir testes de características organolépticas, solubilidade, pH, peso, volume, ponto de fusão, densidade e é necessário uma avaliação do laudo do fabricante ou fornecedor. A partir dos resultados obtidos compõe-se o índice de qualificação de fornecedor (IQF), sendo assim é possível avaliar e recorrer aos melhores fornecedores de matérias primas. Nesta aula prática foi realizado o controle de qualidade do Captopril, fabricado pelo laboratório Natural Farma, com o número de lote 510303006C. O captopril é um análogo da prolina contendo sulfidrila, com atividade anti-hipertensiva e potencial atividade antineoplásica. https://blog-pt.checklistfacil.com/nao-conformidades-nas-empresas/ estrutura química do captopril Apresenta considerável estabilidade porém é fortemente susceptível à degradação oxidativa causada por elevadas temperaturas e umidade, ou ainda pela mistura de excipientes higroscópicos. A degradação do captopril leva à formação do dissulfeto de captopril (DSC). O aumento da quantidade do produto de degradação leva à perda da eficácia e segurança do medicamento, pois ele não mais apresentará a dose terapêutica adequada ao tratamento dos pacientes. E além disso, tanto os produtos da síntese do captopril quanto os seus produtos de degradação são potencialmente tóxicos para o meio ambiente, por isso o controle de qualidade desse fármaco é importante e o descarte do mesmo também deve ser feito de forma adequada. Os testes realizados para determinar a qualidade da amostra do captopril foram os seguintes: ● ensaios de identificação - características físicas, solubilidade, faixa de fusão e identificação de grupos funcionais ● ensaios de pureza - ph ● doseamento Para verificar as características físicas foi realizado uma análise a olho nu de uma amostra de captopril. OBJETIVO O objetivo desta prática foi determinar se o composto analisado, o captopril, atendia as especificações da farmacopeia brasileira. METODOLOGIA A solubilidade foi determinada pesando 0,1 g de amostra e usando os solventes descritos na monografia, que são a água, metanol e NaOH. A quantidade de cada solvente foi determinada também pela farmacopéia que indicava que em água e em NaOH o captopril é solúvel, o que equivale a 10 a 30 partes. E em metanol ele é facilmente solúvel, o que equivale de 1 a 10 partes. Fazendo uma conta básica os valores em ml são respectivamente 1 a 3 ml e 0,1 a 1 ml. Na prática foram utilizados os valores máximos de ml. A determinação da faixa de fusão foi realizada primeiramente reduzindo a quantidade da amostra a um pó fino e dissecando a amostra durante 20 min a 60ºC. Após, colocou-se a amostra entre duas lâminas e determinou-se a faixa de fusão no aparelho digital de ponto de fusão. A identificação do grupo funcional enxofre, que tem poder redutor, foi feita a dissolução de 2 ml de amostra e água e acrescentado 0,5 ml de iodo. A presença do grupo com potencial redutor se daria pelo desaparecimento da cor do iodo. Já a identificação do ácido carboxílico foi feita pela dissolução de captopril em bicarbonato de sódio. A presença deste grupo funcional se daria pelo desprendimento de gás Para o ph foi feita a dissolução de 200 mg de captopril em 10 ml de água morna e medido usando o phmetro. O doseamento foi realizado utilizando-se a técnica de titulação com iodo. Transferiu-se exatamente cerca de 0,15g de captopril para um erlenmeyer de 125 ml e dissolveu-o com 50 ml de água. Após foi feita uma titulação com iodo 0,05 M e utilizando 1 ml de amido para determinar o ponto final. Monografia do captopril CAPTOPRIL - Captoprilum Contém, no mínimo, 97,5% e, no máximo, 102,0% de C9H15NO3S, em relação à substância dessecada. DESCRIÇÃO Características físicas: Pó cristalino branco ou quase branco. Solubilidade: Solúvel em água, facilmente solúvel em álcool metílico. Solúvel em soluções diluídas de hidróxidos alcalinos. CONSTANTES FÍSICO-QUÍMICAS Faixa de fusão (5.2.2): 105 ºC a 108 ºC. Rotação óptica específica (5.2.8): –156 a –161, em relação à substância dessecada. Determinar em solução a 2% (p/v) em água isenta de dióxido de carbono. IDENTIFICAÇÃO A. No espectro de absorção no infravermelho (5.2.14) da amostra, previamente dessecada, dispersa em brometo de potássio, há máximos de absorção somente nos mesmos comprimentos de onda e com as mesmas intensidades relativas daqueles observados no espectro de captopril SQR, preparado de maneira idêntica. B. O tempo de retenção do pico principal do cromatograma da Solução amostra, obtida no método B. de Doseamento, corresponde àquele do pico principal da Solução padrão ENSAIOS DE PUREZA pH (5.2.19). 2,0 a 2,6. Determinar em solução a 2% (p/v) da amostra em água isenta de dióxido de carbono. Substâncias relacionadas. Proceder conforme descrito no método B. de Doseamento. Preparar as Soluções teste como descrito a seguir. Solução (1): transferir 50 mg da amostra para balão volumétrico de 100 mL, dissolver com Fase móvel, completar o volume com o mesmo solvente e homogeneizar. Solução (2): transferir 1 mL da Solução (1) para balão volumétrico de 50 mL, completar o volume com Fase móvel e homogeneizar. Solução (3): dissolver 10 mg da amostra em 20 mL de Fase móvel, adicionar 0,25 mL de iodo 0,05 M e completar o volume para 100 mL com o mesmo solvente. Homogeneizar. Transferir 5 mL dessa solução para balão volumétrico de 50 mL, homogeneizar e completar o volume com o mesmo solvente. Procedimento: injetar, separadamente, 20 μL de cada solução, registrar os cromatogramas por, no mínimo, três vezes o tempo de retenção do captopril e medir as áreas sob os picos. O teste somente é válido se o cromatograma obtido com a Solução (3) apresenta três picos e a resolução entre os dois picos de maior tempo de retenção for de, no mínimo, 2,0. Os três picos correspondem, respectivamente, ao excesso de iodo, ao captopril e ao dissulfeto de captopril formado. A área de qualquer pico secundário obtido no cromatograma com a Solução (1) é de, no máximo, a metade da área sob o pico principal, obtido no cromatograma com a Solução (2) (1,0%). A soma das áreas de todos os picos obtidos com a Solução (1), exceto a do pico principal, é de, no máximo, a área sob o pico principal obtido com a Solução (2) (2,0%). Não considerar picos referentes ao solvente ou com área inferior a 10% da área sob o pico principal, obtido no cromatograma com a Solução (2) (0,2%). Metais pesados (5.3.2.3). Utilizar o Método III. No máximo 0,002% (20 ppm). Perda por dessecação (5.2.9.1). Determinar em 1 g da amostra. Dessecar em estufa a 60 ºC, sob pressão reduzida, por 3 horas. No máximo 1,0%. Resíduo por incineração (5.2.10). Determinar em 1 g da amostra. No máximo 0,2%. TESTES DE SEGURANÇA BIOLÓGICA Contagem do número total de micro-organismos mesofílicos (5.5.3.1.2). Cumpre o teste.Pesquisa de micro-organismos patogênicos (5.5.3.1.3). Cumpre o teste DOSEAMENTO Empregar um dos métodos descritos a seguir. A. Transferir, quantitativamente, cerca de 0,15 g de amostra para erlenmeyer de 125 mL e dissolver em 50 mL de água. Titular com iodo 0,05 M SV, determinando o ponto final potenciométricamente ou utilizando 1 mL de amido SI. Cada mL de iodo 0,05 M SV equivale a 21,729 mg de C9H15NO3S. B. Proceder conforme descrito em Cromatografia a líquido de alta eficiência (5.2.17.4). Utilizar cromatógrafo provido de detector ultravioleta a 220 nm; coluna de 250 mm de comprimento e 4,6 mm de diâmetro interno, empacotada com sílica quimicamente ligada a grupo octadecilsilano (5 μm), mantida à temperatura ambiente; fluxo da Fase móvel de 1,0 mL/minuto. Fase móvel: mistura de ácido fosfórico a 0,11% (v/v) e álcool metílico (45:55). Nota: proteger as soluções descritas a seguir, da exposição ao ar e utilizá-las dentro de, no máximo,8 horas. Solução amostra: dissolver quantidade da amostra, pesada com exatidão, em Fase móvel, de modo a obter solução a 0,5 mg/mL. Solução padrão: dissolver quantidade de captopril SQR, pesada com exatidão, em Fase móvel, de modo a obter solução a 0,5 mg/mL. Injetar 20 μL da Solução (3) obtida em Substâncias Relacionadas. O teste somente é válido se o cromatograma obtido apresentar três picos e a resolução entre os dois picos de maior tempo de retenção for de, no mínimo, 2,0. Injetar replicatas de 20 μL da Solução padrão. O desvio padrão relativo das áreas de replicatas dos picos registrados é de, no máximo, 2,0%. Procedimento: injetar, separadamente, 20 μL da Solução padrão e da Solução amostra, registrar os cromatogramas e medir as áreas sob os picos. Calcular o teor de C9H15NO3S na amostra, a partir das respostas obtidas com as Soluções padrão e amostra. EMBALAGEM E ARMAZENAMENTO - Em recipientes herméticos. ROTULAGEM - Observar a legislação vigente. CLASSE TERAPÊUTICA - Anti-hipertensivo. RESULTADOS E DISCUSSÕES CARACTERÍSTICAS FÍSICAS O primeiro teste realizado, o de características físicas, mostrou que o captopril que deveria ser um pó cristalino branco, na verdade estava com aparência de pó amorfo de coloração branca. Isso se deu devido ao processo de degradação já instalado na amostra visto que ela já estava vencida há algum tempo. SOLUBILIDADE No teste de solubilidade viu-se que o captopril se solubilizou apenas no metanol. As amostras que foram dissolvidas em água e em hidróxido de sódio não se dissolveram totalmente, formaram um precipitado e ficaram turvas. Esse resultado também pode estar relacionado com o vencimento da amostra analisada. FAIXA DE FUSÃO No teste de determinação de faixa de fusão as temperaturas obtidas foram 103,3 e 106,2ºC, estando assim fora da faixa de fusão esperada, entre 105 e 108ºC. Provavelmente a faixa de fusão ficou abaixo do esperado devido a degradação da amostra de captopril. Com a degradação formam-se substâncias como dissulfeto de captopril e o aumento dessa substância pode ter interferido na faixa de fusão do captopril, diminuindo-a. PODER REDUTOR No teste do poder redutor, ao adicionar o iodo a coloração logo ficou transparente, sinal de que o iodo foi reduzido, demonstrando assim a presença do grupo tiol. O tiol age como um agente redutor de iodo. Quando a reação acontece a coloração característica do iodo desaparece e a solução fica transparente. IDENTIFICAÇÃO DE ÁCIDO CARBOXÍLICO No teste de identificação do grupo ácido carboxílico ao realizar a dissolução notou-se a formação de bolhas indicando que estava acontecendo a reação de decomposição do bicarbonato de sódio em carboxila. Pela equação de decomposição é possível notar que um dos produtos é o CO2, responsável pelo desprendimento de gás observado durante o teste. PH No teste de determinação de Ph o resultado obtido foi 2,07, estando dentro da faixa estimada que é 2,0 a 2,6. DOSEAMENTO Cálculos realizados: 1 titulação: 5,5 ml gastos pesou-se 0,1506 g 2 titulação: 5,8 ml gastos pesou-se 0,1549 g 3 titulação : 5,7 ml gastos pesou-se 0,1514 g Multiplicação pelo valor em mg equivalente a cada ml 1- 5,5x21,729 = 119,50 mg —— 0,119 g 2- 5,8x21,729= 126,02 mg —— 0,126 g 3- 5,7x21,729= 123,85 mg —— 0,123 g 1- 0,1506-100% 0,119- X X=79,01% 2- 0,1549 - 100% 0,126 - X X= 81,34% 3- 0,1514 - 100% 0,123 - X X = 81,24% Média dos três valores: 79,01+81,34+81,24= 80,23% De acordo com as especificações da farmacopeia, os valores deveriam ser no mínimo, 97,5% e, no máximo, 102,0%, assim os resultados obtidos estão abaixo do esperado. Este resultado novamente está relacionado com o processo de degradação do captopril em dissulfeto de captopril. Com o aumento da concentração do produto há uma consequente queda na concentração da substância ativa que é o captopril, com isso ao fazer o doseamento a porcentagem de captopril que deveria ter na amostra aparece diminuída, abaixo dos valores de referência. LAUDO TÉCNICO FÁRMACO A SER ANALISADO: Captopril 4. Identificação do produto e controle das características gerais: 4.1. Laboratório produtor: natural farma 4.2.Número de lote: 510303006C 4.3.Data de validade: 12/2005 Controle das características físicas e físico-químicas Característica Especificação Resultado Caracteres físicos análise a olho nu não cumpre Solubilidade teste de solubilidade não cumpre Faixa de fusão determinação faixa de fusão pelo uso do aparelho digital de ponto de fusão não cumpre Reação de identificação do potencial redutor ensaio colorimétrico com iodo cumpre Identificação do grupo ácido carboxílico decomposição de bicarbonato em carboxila cumpre pH phmetro cumpre Doseamento titulação com iodo não cumpre Resultado final: A amostra foi reprovada por não atender a todas as especificações exigidas pela farmácia brasileira. Responsável: Paola Pauli Christoffel e Maria Beatriz Assinatura:Paola Pauli Christoffel e Maria Beatriz Data: 12/04/21 Local: Furb REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARTINS, Estefânia. Como fazer o controle de qualidade da matéria-prima. 2020. Disponível em: https://blog-pt.checklistfacil.com/controle-de-qualidade-da-materia-prima/. Acesso em: 19 abr. 2021. SANITÁRIA, Agência Nacional de Vigilância. Farmacopeia Brasileira. 6. ed. Brasília: ., 2019. 1504 p. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira/arqu ivos/7987json-file-1. Acesso em: 19 abr. 2021. SP, Crf (ed.). Orientações sobre controle de qualidade na farmácia com manipulação. 2019. Disponível em: http://portal.crfsp.org.br/orienta%C3%A7%C3%A3o-farmac%C3%AAutica/641-fiscali zacao-parceira/farm%C3%A1cia/10474-fiscaliza%C3%A7%C3%A3o-orientativa-212.h tml. Acesso em: 19 abr. 2021. SOUZA, Julia Aparecida Lourenço de. Desenvolvimento de uma metodologia baseada na espectroscopia no infravermelho próximo para determinação do produto de degradação do captopril em comprimidos. 2011. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3332. Acesso em: 19 abr. 2021. PUBCHEM, National Library Of Medicine -. Electronic Orange Book-Approved Drug Products with Therapeutic Equivalence Evaluations. 2017. Disponível em: https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/captopril#section=Regulatory-Informa tion. Acesso em: 19 abr. 2021. FREITAS, Julia Raquel Lino e. CARACTERIZAÇÃO DOS PRODUTOS DE DEGRADAÇÃO DO CAPTOPRIL POR ESPECTROMETRIA DE MASSAS DE ALTA RESOLUÇÃO E AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE APÓS A FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA (TiO2/UV-C). 2014. Disponível em: https://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/4212/1/DISSERTACAO_Carac teriza%C3%A7%C3%A3oProdutosDegrada%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 19 abr. 2021. INMETRO. FICHA DE INFORMAÇÕES DE SEGURANÇA DE PRODUTOS QUÍMICOS CAPTOPRIL. 2012. Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/metcientifica/MRC/8637_captopril.pdf. Acesso em: 19 abr. 2021.
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