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Atualizações de Direito [1] Atualizações de Direito Atualizações de Direito [2] Prefácio NOSSA AMIZADE PODERIA TER OFUSCADO MINHA VISÃO CRÍTICA, TORNANDO-A COMPLASCENTE COM QUAISQUER LINHAS QUE VOCÊ ESCREVESSE. MAS A CLAREZA E A OBJETIVIDADE DE SUAS LIÇÕES (POIS É EXATAMENTE ISTO - LIÇÕES) TORNARAM INÓCUA TAL COMPLASCÊNCIA, POIS A LINGUAGEM COLOQUIAL, PRECISA, CONSTRUIU UM LIVRO MAIS DO QUE NECESSÁRIO PARA AQUELES QUE PROCURAM A ATUALIZAÇÃO NOS ESTUDOS JURÍDICOS, MAS UM LIVRO QUE, POR SER RICO EM COMENTÁRIOS DOUTRINÁRIOS, JULGADOS RELEVANTES CONSEGUE SER ÚNICO, A COROAR COM LOUVOR ESTE SEU COMEÇO NA ÁRDUA ESTRADA DA EXTENSA BIBLIOGRAFIA JURÍDICA. Atualizações de Direito [3] OBRIGADA PELA PRESENTE OBRA QUE VOCÊ OFERECE A TODOS QUE AMAM A CIÊNCIA JURÍDICA. MARIA ALICE DA FONSECA LOPES. Servidora Pública pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Atualizações de Direito [4] Agradecimentos: Aos meus pais Paulo Brigagão e Maria Aparecida Naves Brigagão, in memoriam, por todo amor ofertado, ao longo de anos, minha eterna gratidão, amor e saudade. Devo a vocês tudo o que sou! Aos meus professores dos bancos de Faculdade: Marcus Quaresma e Claúdia Márcia Gonçalves Vidal, que começaram meus professores, se tornaram meus amigos e hoje são vivos em minha lembrança, como expressão máxima de afeto. Aos meus professores dos bancos da Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, hoje Ministros do Supremo Tribunal Federal e fontes da minha inspiração no estudo de casos concretos. Ao Claidson Gonçalves Silva, esposo, parceiro de caminhada, sempre ao meu lado, me presenteando com o nosso filho, minha maior riqueza! Gratidão! Amamos você! Atualizações de Direito [5] Ao Brunno e Brenno, meus enteados, meus amigos! Com o carinho de sempre! Ao Carlos Alberto, sogro e avô de carisma, alegria e amor inigualáveis. Ao Bernardo Queiroz Naves Brigagão, meu filho, o maior amor da minha vida! Significante e significado de todas as coisas. Ao Espírito Santo, pelas iluminações extraídas de cada julgado. A todos os leitores que vão construir, junto comigo, cada linha deste livro. Obrigada por existirem! Sem vocês, não haveria sentido! Inverno, 21 de junho de 2020. Paula Naves Brigagão. Atualizações de Direito [6] Notas da Autora Escrever um livro de atualizações de Direito, com base na jurisprudência, sob a forma de questões, foi um grande desafio para mim, pois isso consistiu em, praticamente, revisitar, vários institutos jurídicos, nem todos eles vistos de forma harmônica, no sistema como um todo. O Direito não precisa ser difícil para ser compreendido. É o meu, é o seu, é o nosso dia a dia. É vivo. É pulsante. Costumo dizer: É a vida como ela é, em suas múltiplas e variadas facetas. Com esse livro, através de casos concretos, personagens caricatos, alguma dose de humor e muita leveza, vamos juntos procurar apreender as riquezas de algumas disciplinas, sob a luz da jurisprudência, ao abrigo do método tópico- problemático. E assim, no ir e vir das letras, das propostas desse livro, a ideia é formarmos a nossa base para avançarmos rumo ao Conhecimento. Estudar com amor também é um momento de prazer. Que eu possa colocar sentido à sua Atualizações de Direito [7] caminhada no estudo da jurisprudência de forma rica, aprazível e gratificante. Seguiremos juntos! Inverno, 07 de julho de 2020. Paula Naves Brigagão Atualizações de Direito [8] Sumário. Informativos do STF e STJ sob a forma de questões de múltipla-escolha 9 Informativos do STF e STJ sob a forma de questões discursivas 115 Atualizações de Direito [9] MÚLTIPLA-ESCOLHA QUESTÃO 1 Manoel Cupim possui uma Chácara de Lazer em que reside (Sítio de Recreio) no Município de Varre e Sai. Cria galinhas no local, mas não sobrevive com a renda dessa cultura. Eis que o Município está lhe cobrando IPTU sobre o bem imóvel, mas Cupim se insurgiu com a cobrança, alegando que, na região, não há meio fio, sistema de esgoto sanitário, tampouco escola primária ou posto de saúde. Além de restar ausente o abastecimento de água. Logo, para ele, se o Município não preenche dois dos requisitos mínimos elencados no ART. .32, §1°do CTN não poderia, agora, cobrar o IPTU. Diante de tal situação: a) É plenamente possível a cobrança de IPTU, tendo em vista que não se trata de zona urbana, mas zona de expansão urbana, em que não se exigem os melhoramentos do ART.32, §1°do Código Tributário Nacional, contentando-se o legislador no ART. 32, § 2° com a destinação do imóvel à habitação, à indústria ou ao comércio. (Súmula 626 do STJ); b) É plenamente possível a cobrança de IPTU, por se tratar de zona urbana, sendo exigido, para tanto, apenas um dos requisitos do ART. 32, § 1° do CTN, de acordo com o teor da Súmula 626 do STF; Atualizações de Direito [10] c) Não se revela possível a cobrança do IPTU por restarem ausentes na zona urbana, pelo menos, dois dos melhoramentos do ART 32, § 1° do CTN; d) É incabível a cobrança do IPTU por restarem ausentes, na zona de extensão urbana, pelo menos dois dos melhoramentos do ART 32, § 1° do CTN, de acordo com o teor da Súmula 626 do STJ; e) Não se afigura possível a cobrança do IPTU tendo em vista que zona urbana recebe o mesmo tratamento normativo de zona de expansão urbana. Resposta: Alternativa A. A zona urbana não se confunde com zona de expansão urbana, recebendo do CTN tratamentos distintos. Na zona de expansão urbana, como o próprio nome indica, são áreas para onde a cidade está crescendo. O Município precisa arrecadar, justamente para realizar os melhoramentos (fornecimento de água, saneamento básico, educação, etc). Aqui, o fator preponderante não se traduz em melhoramentos, e, sim, na destinação do imóvel à habitação, à indústria ou ao comércio (ART. 32, § 2° do CTN). Esse é o teor da Súmula 626 do STJ: A incidência do IPTU sobre imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de expansão urbana não está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no art. 32, § 1º, do CTN. (STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018). Atualizações de Direito [11] Confira o leitor o enunciado da Súmula 626 do Superior Tribunal de Justiça: Súmula 626/STJ - 17/12/2018. Tributário. IPTU. Imóvel situado em área considerada pela lei local como urbanizável ou de expansão urbana não está condicionada à existência dos melhoramentos elencados no CTN, art. 32, § 1º. Grifos nossos! QUESTÃO 2 Pedro Guaraná era homem de muitas posses e rendimentos. Porém não gostava de distribuir sua riqueza com ninguém, muito menos com o Fisco. Ocorre que, ao sonegar imposto de renda para a Fazenda, prestando declarações falsas, Pedro incidiu no crime do ART. 1°, l da Lei 8.137/90. Tal se deu no ano de 1998. O processo administrativo fiscal se arrastou por anos. O crédito tributário foi constituído no ano de 2010. Pedro foi condenado no ano de 2011, por fatos praticados no ano de 1998 (as ditas informações falsas ao Fisco), aplicando -se, a ele, o teor da Súmula Vinculante n°24, editada no ano de 2009, que reitera que o crime material contra a ordem tributária só se consuma com o lançamento definitivo do tributo. Diante de tais premissas: a) A decisão do magistrado foi incorreta, pois ocorreu a prescrição; https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=stj&num=626#topo https://www.legjur.com/legislacao/art/lei_00051721966-32Atualizações de Direito [12] b) A decisão do magistrado foi incorreta, pois houve retroatividade maléfica, em desfavor de Pedro Guaraná; c) A decisão do magistrado foi incorreta, pois entendimento jurisprudencial não pode ser veiculado como forma de prejudicar o contribuinte; d) A decisão do magistrado foi correta porque a Súmula recebe o mesmo tratamento da lei; e) A decisão do magistrado foi correta. Súmula não se confunde com a lei, podendo retroagir e alcançar fatos ocorridos em momentos pretéritos à sua edição. Resposta: Alternativa E. Se o crime só se consuma com o lançamento definitivo do tributo, sua, irmã gêmea, a prescrição só começará a incidir na mesma circunstância, ou seja, com o lançamento definitivo do tributo. Dessa forma, ainda que a sonegação fiscal tenha se dado no ano de 1998, o prazo prescricional tem o seu lapso inicial no ano de 2010, ocasião em que o crédito tributário foi constituído. Não há que se falar em retroatividade maléfica pela aplicação retroativa, da Súmula Vinculante n° 24, haja vista que não estamos diante de uma norma penal incriminadora e, sim, de uma Súmula Vinculante, sem qualquer caráter normativo, que apenas retrata uma interpretação jurisprudencial pretérita e já consolidada em nossos Tribunais. Esse foi o entendimento do Superior Atualizações de Direito [13] Tribunal de Justiça, em seu Informativo 639, ao qual remetemos o leitor para uma análise mais aprofundada do tema! Confira logo abaixo o teor da ementa do julgado acima versado: A Súmula Vinculante 24 tem aplicação aos fatos ocorridos anteriormente à sua edição. Como a SV 24 representa a mera consolidação da interpretação judicial que já era adotada pelo STF e pelo STJ mesmo antes da sua edição, entende-se que é possível a aplicação do enunciado para fatos ocorridos anteriormente à sua publicação. STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info 786). STJ. 3ª Seção. EREsp 1.318.662- PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28/11/2018 (Info 639). QUESTÃO 3 Antônio Apimentado, contribuinte - empregador, proprietário de uma indústria automobilística, estava apurrinhado com uma contribuição social, que julgou pagar a maior para o Fisco. Sabedor que o destino da arrecadação será destinado ao SENAI, acredita que quem detém o bônus suporta o ônus. Ajuizou uma ação de repetição de indébito em face da União e do SENAI. Em sua visão, o SENAI, por deter interesse quanto ao repasse das verbas, se afigura como parte legítima a compor pólo passivo da demanda. Assinale a opção correta: a) Por deter interesse quanto ao repasse das verbas, se afigura legítima a inclusão do SENAI no pólo passivo da demanda; Atualizações de Direito [14] b) Por deter interesse jurídico, o SENAI é parte legítima para figurar no pólo passivo; c) O SENAI é parte ilegítima para figurar no pólo passivo, por receber meros repasses, subvenções do Poder Público, detendo tão somente interesse econômico; d) O SENAI é parte legítima para figurar no pólo passivo porque faz parte da Administração Indireta do Estado; e) O SENAI é parte legítima para figurar como litisconsórcio necessário porque a relação travada com o Poder Público assim impõe. Resposta: Alternativa C. O SENAI qualifica-se como parte ilegítima para figurar no pólo passivo de tal demanda. Não há que se falar em litisconsórcio com a União, já que a relação travada entre a União e Os Serviços Sociais Autônomos (dentre os quais se incluem o SENAI) é de mera subvenção, de modo que o SENAI é detentor da posição de mero recebedor do repasse financeiro. Tal posição, por si só, é insuficiente para qualificar o seu interesse como jurídico. O interesse, aqui, é meramente econômico e, por conseguinte, não se mostra legítima a sua qualificação de parte na relação travada entre o Fisco e o contribuinte. Há que se destacar que os Serviços Sociais Autônomos não são partes integrantes da Administração Indireta, tampouco existe imposição legal de Atualizações de Direito [15] solidariedade a justificar um litisconsórcio necessário. A solidariedade não se presume. (Questão baseada no Informativo 646 do Superior Tribunal de Justiça). Confira o leitor a ementa do julgado abaixo: As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações judiciais em que se discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas. Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas de direito privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte e ente federado. O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse jurídico a ponto de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais autônomos nesta lide é reflexo e meramente econômico. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019 (Info 646). QUESTÃO 4 Aparício Barriga era homem sistemático. Pagava os seus tributos com pontualidade. Contudo, fato é que, na conjectura em que se encontrava, devia e era, ao mesmo tempo, credor da Fazenda Municipal. Ocorre que, por erro, efetuou um pagamento a maior do IPTU ao Fisco, no ano de 2008. Ficou com o crédito de lambuja. Em 2010, ao ser cobrado pelo Fisco acerca de um débito de IPTU de um outro bem imóvel que possuía, lembrou-se do Atualizações de Direito [16] crédito e disse: "Veja bem Fisco. Estou descapitalizado. Desejo que você compense o crédito que tenho com você acerca daquele IPTU antigo, que paguei a mais, no ano de 2008 com o débito atual, pois tenho crédito com você!". Assim agindo, formalizou, administrativamente, o pedido de compensação junto ao Município. Todavia, o Fisco Municipal, que não é bobo nem nada, enrolou o quanto pôde (dois anos) para fornecer a resposta negativa no tocante a compensação tributária. Inconformado, no ano de 2014, Barriga ajuizou uma ação de repetição de indébito no que se refere a segunda cobrança do IPTU, ao argumento de ostentar a qualidade de credor da Fazenda. Contudo, ao prolatar a sentença, no ano de 2015, o magistrado reconheceu a prescrição da pretensão autoral, julgando o pedido improcedente. Diante de tais premissas: a) A decisão do magistrado foi incorreta, pois não incidiu a prescrição; b) A decisão do magistrado foi incorreta, já que a compensação se revela um instrumento adequado na extinção do crédito tributário; c) A decisão do magistrado foi incorreta, pois o pedido administrativo de compensação interrompe a contagem; Atualizações de Direito [17] d) Não se revela possível o instituto da compensação em seara tributária, já que afeto ao Direito Privado; e) A decisão do magistrado foi correta. O pedido administrativo de compensação não interrompe o fluxo do prazo prescricional no que toca ao ajuizamento da ação de repetição de indébito. Resposta por nós ofertada. Resposta: Alternativa E. A questão versa sobre o Verbete Sumular 625 do STJ. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça editou o Enunciado Sumular 625: "O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o CTN, art. 168 nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública". Logo, Barriga desperdiçou o seu precioso tempo discutindo a compensação do crédito tributário em seara administrativa, enquanto corria contra ele o prazo prescricional de cinco anos para a propositura da ação de repetição de indébito, prazo esse ignorado por sua pessoa. Gritou no deserto! Perdeu tempo demaissem judicializar a questão! Sua inércia em tal procedimento deu ensejo a prescrição. Ele ficou mais pobre e o Fisco mais rico. E, aqui, aplica-se o brocardo: " o Direito não socorre aos que dormem". Dura lex sed lex! Confira o leitor o teor da súmula ora comentada: Atualizações de Direito [18] Súmula 625-STJ: O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução de título judicial contra a FazendaPública. . STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018. QUESTÃO 5 A Distribuidora de Combustíveis S.A, estabelecida no Rio de Janeiro, vende combustível ao Posto Triângulo LTDA, situado em São José dos Campos. Contudo, ao encaminhar o produto ao estabelecimento adquirente, assim o faz, sem emitir nota fiscal. Ferro nela! Por conta disso, sofre auto de infração lavrado pela Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro, que faz o favor de aplicar multa à conduta negligente da empresa. Sendo a venda em questão imune ao ICMS, a empresa usa o argumento defensivo de que a obrigação acessória segue a sorte da principal, razão pela qual a não emissão de nota fiscal não implicaria em multa. Diante de tais premissas: a) Assiste razão à Distribuidora. Se a obrigação principal é isenta, igualmente isenta a obrigação acessória; Atualizações de Direito [19] b) Em Direito Tributário os conceitos de obrigação principal e obrigação acessória confundem-se; c) Não assiste razão à Distribuidora porque os conceitos de obrigação principal e obrigação acessória confundem-se; d) Não assiste razão à Distribuidora, haja vista que a extinção da obrigação principal não acarreta a automática extinção da obrigação acessória; e) Não assiste razão à Distribuidora porque a isenção afastou a obrigação acessória. Resposta: Alternativa D. No Direito Privado diz-se que o acessório segue o destino do principal (princípio da gravitação jurídica). Tal fenômeno não se aplica ao Direito Tributário. O que ocorre, com absoluta precisão, é que o descumprimento de uma obrigação acessória configura uma infração tributária, constituindo, outrossim, um fato gerador de uma multa. Descumprida uma obrigação acessória, ela não desaparece. Dá lugar a uma obrigação principal, qual seja, o pagamento de uma multa. QUESTÃO 6 Atualizações de Direito [20] O Governo Federal, com fins arrecadatórios, através de Decreto aumentou a taxa de embarque nos aeroportos pelos passageiros com destino ao exterior. O contribuinte questionou a legalidade de tal conduta. Mediante o exposto na questão, conclui-se: a) O Governo Federal não poderia adotar tal medida, haja vista que as taxas não são da competência da União; b) O Governo Federal poderia ter adotado tal medida, pois a criação de taxa é da competência comum entre os entes federativos; c) O Governo Federal não violou o princípio da legalidade, já que a taxa já havia sido criada por lei; d) O Governo Federal ofendeu o princípio da legalidade tributária, haja vista que não só a criação, mas o aumento das taxas são temas afetos à lei; e) O Governo Federal não poderia ter aumentado o valor de taxa já existente, sob pena de ofensa ao princípio da anterioridade. Resposta: Alternativa D. Pela ocupação dos terrenos, edificações, bem como pelo exercício de qualquer atividade na área dos aeroportos e aeródromos públicos, pela sua utilização ou dos Atualizações de Direito [21] respectivos serviços e equipamentos são devidas as cobranças de taxas. As taxas, de fato, são de competência comum, ou seja, qualquer ente da federação poderá efetuar a cobrança. No caso concreto por nós idealizado, o decreto não está criando a taxa, posto que essa já foi criada por lei. Todavia, o decreto tem o condão de ofender, sim, o princípio da legalidade, pois a taxa, sendo um tributo, só pode ser aumentada por lei, e não por decreto - que guarda a natureza jurídica de ato infralegal. Trata-se da aplicação concreta do paralelismo de formas. O leitor deve se atentar que aqui não é um mero reajuste no valor da taxa de embarque. O reajuste, com base nos índices oficiais de correção monetária, é plenamente cabível e chancelado pelo Supremo Tribunal Federal. Reajuste, contudo, não se confunde com aumento do valor do tributo. O Supremo Tribunal Federal aplicou o raciocínio acima em um caso concreto envolvendo uma empresa têxtil catarinense, que questionou a legalidade de uma taxa (Siscomex), reajustada em percentual que exorbitava aquele definido no INPC (500%), com emblemática excessividade da base de cálculo, por portaria do Ministério da Fazenda. Trata-se da taxa de utilização do sistema integrado do comércio exterior. Índice de reajuste notoriamente superior à inflação. Nesta oportunidade o Supremo voltou a enfatizar que o reajuste da taxa por ato infralegal é possível, mas não pode ser um reajuste mascarado de aumento. Atualizações de Direito [22] Deve-se, pois, obedecer aos índices oficiais (INPC), de correção monetária já existentes. Confira o leitor trecho da decisão que foi analisada em tema de repercussão geral pela Suprema Corte, em maio de 2020: 1085 - Majoração de taxa tributária realizada por ato infralegal a partir de delegação legislativa e viabilidade de o Poder Executivo atualizar os valores fixados em lei, de acordo com percentual não superior aos índices oficiais de correção monetária. Relator: MINISTRO PRESIDENTE No mérito, sustenta que não discute a inconstitucionalidade da taxa, mas sim a majoração implementada mediante a Portaria MF nº 257/2011. Assim, argumenta que qualquer acréscimo de base de cálculo desse tributo estará pautado no aumento das despesas públicas que justificam as receitas auferidas. Afirma que o ato infralegal foi além das balizas legais, o que independe da fixação de critérios objetivos pela legislação ou do referido aumento ter ocorrido por ato normativo. Pugna, portanto, pelo afastamento por completo da majoração da taxa SISCOMEX levada a efeito pela portaria referida. Observo que o acórdão recorrido assentou a ilegalidade do reajuste da taxa de utilização do SISCOMEX promovido pela Portaria MF nº 257/2011 em variação superior à inflação, ficando restrita a legalidade da exigência ao reajuste de 131,60%, por sua vez correspondente à variação de preços, medida pelo INPC, entre janeiro de 1999 e abril de 2011. Observo que o acórdão recorrido assentou a ilegalidade do reajuste da Atualizações de Direito [23] taxa de utilização do SISCOMEX promovido pela Portaria MF nº 257/2011 em variação superior à inflação, ficando restrita a legalidade da exigência ao reajuste de 131,60%, por sua vez correspondente à variação de preços, medida pelo INPC, entre janeiro de 1999 e abril de 2011. Por conseguinte, o entendimento de que é possível o reajuste da base de cálculo da taxa SISCOMEX por índices oficiais de correção monetária tem sido aplicado em diversos julgados do STF: RE nº 1.226.823/RS-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 10/12/19; RE nº 1.199.014/RS-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Edson Fachin, DJe de 12/12/2019. QUESTÃO 7 Juca Galinha propôs ação ordinária em face do Município de Bem Me Quer pleiteando a anulação do lançamento de contribuição de melhoria incidente sob o imóvel de sua propriedade, ao argumento de que o tributo foi instituído por medida provisória. Contestou a Fazenda Pública no sentido de que a Lei Orgânica do Município admite expressamente a edição de medida provisória pelo Chefe do Executivo local. Diante de tais premissas: a) O auto de lançamento deve ser anulado, pois é vedado ao Poder Executivo dispor, através de medidaprovisória, acerca da contribuição de melhoria, pois não estão presentes os requisitos configuradores da medida provisória, quais seja, a relevância e urgência; Atualizações de Direito [24] b) É vedada a edição de medida provisória pelo Chefe do Executivo local; c) O lançamento é ato administrativo insuscetível de anulação; d) O não pagamento da contribuição de melhoria implicaria enriquecimento ilícito ao contribuinte, visto que beneficiou-se da obra pública; e) A contribuição de melhoria não se revela possível, mas o contribuinte deve pagar imposto ao Fisco pela referida obra. Resposta: Alternativa A. É plenamente possível a cobrança de tributo por medida provisória, muito embora, no caso concreto, restou incabível a edição de medida provisória, a fim de criar o respectivo tributo. Isso porque os requisitos de relevância e urgência são, por si mesmos, incompatíveis com a demora de uma obra pública. Tal entendimento restou consagrado pelo Supremo Tribunal Federal, no bojo da Ação Direta de Inconstitucionalidade 162, a qual remetemos o leitor para uma análise mais aprofundada do tema. Confira o leitor abaixo: Medida Provisória: Requisito de Urgência Por unanimidade, o Tribunal deferiu medida cautelar em ação direta ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, para suspender a eficácia do art. Atualizações de Direito [25] 4º e seu parágrafo único, da MP nº 1.632-11/98 ("O direito de propor ação rescisória por parte da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, bem como das autarquias e das fundações instituídas pelo Poder Público extingue-se em cinco anos, contados do trânsito em julgado da decisão. Parágrafo único - Além das hipóteses referidas no art. 485 do Código de Processo Civil, será cabível ação rescisória quando a indenização fixada em ação de desapropriação, em ação ordinária de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta, e também em ação que vise a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à proteção ambiental, for flagrantemente superior ao preço de mercado do bem objeto da ação judicial."). O Tribunal reconheceu, excepcionalmente, a ofensa aparente ao art. 62, caput, da CF, ("Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, ..."), pela falta de urgência necessária à edição da Medida Provisória impugnada. Considerou-se também relevante a tese de ofensa aos princípios da isonomia e do devido processo legal, pela disparidade entre o prazo de 5 anos de que dispõe o Estado para o ajuizamento de ação rescisória em face do prazo decadencial de 2 anos previsto para o particular (CPC, art. 495). Precedente citado: ADInMC 162- DF (DJU de 19.9.97) . ADInMC 1.753-DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 16.4.98. QUESTÃO 8 Ribamar Goiaba é homem letrado. Gosta de ler e difundir a cultura. Montou faz pouco tempo um negócio próprio, qual, seja, uma editora de livros e fascículos. Em sua atividade, Goiaba comercializa livros impressos e digitais (e-books). Ao final do mês, quando do momento de prestação de contas Atualizações de Direito [26] com o “amigo” Leão (Fisco), o editor deparou-se com a cobrança, por parte do Fico Estadual de ICMS, no tocante a comercialização dos livros eletrônicos pela editora. Resolveu pagar para depois discutir. Desta feita, judicializou a questão. Em peça vestibular da ação de repetição de indébito, Goiaba argumentou que o conceito de livro deve ser entendido em sentido amplo, com suportes diversos, como um mecanismo e incentivo a difusão da cultura. Citou que, inclusive, no passado, utilizavam-se lascas de madeira da árvore como exteriorizações do pensamento. Em contrapartida, o Fisco Estadual usou como argumento defensivo a interpretação literal da norma insculpida no artigo 150, VI, d da CRFB/88, que, ao fazer menção a imunidade no tocante ao livro, não contempla o livro eletrônico, mas tão somente o suporte em papel. Diante de tal contexto analise as assertivas abaixo: A) Não assiste razão ao postulante, pois as normas que disciplinam a imunidade tributária devem ser interpretadas restritivamente; B) O legislador constituinte ao não especificar o tipo de imunidade incidiu em silêncio eloquente e, portanto, incabível interpretação ampliativa sobre o tema; C) Sob o prisma dos métodos hermenêuticos sistemático e finalista, o Supremo Tribunal Federal, apregoou que as imunidades estão revestidas sob o manto de valores e princípios que exigem do interpreto um olhar Atualizações de Direito [27] mais detalhado acerca da finalidade da norma, o que, por si só, abarca o livro em suporte físico ou não, sendo, pois, extensivas aos livros eletrônicos e acessórios; D) A imunidade é tema afeto ao legislador constituinte, não podendo tal tema ser decidido pelo poder judiciário, sob pena de afronta ao princípio da separação de poderes; E) Tal imunidade não poderá ser concedida, pois não fora prevista em lei complementar. Resposta. Alternativa C. Instado a pronunciar- se sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal não só apreciou, como sumulou o tema. Analisando as razões do julgado extraímos as seguintes premissas: Já se foi o tempo em que o medo de exteriorização do pensamento era punido com prisões e mortes. Com o fim do Estado Novo e da censura, o ser humano experimentou o processo de formação cultural indene de manipulações. O corpo físico da obra é de somenos importância, desde que haja a difusão do valor nela refletido. Com tal pensar o Supremo Tribunal Federal, em meados de abril do ano de 2020, editou a seguinte Súmula Vinculante: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias. STF. Plenário. Aprovada em 15/04/2020. Atualizações de Direito [28] QUESTÃO 9 Vicente Carrancudo parecia homem sistemático. Muito bravo com a esposa e filhos, no fundo, escondia o seu lado devasso. Professor de matemática, por vinte e cinco anos, não conseguia disfarçar a satisfação quando se deparava com um decote mais ousado de uma aluna da faculdade, em que ministrava aulas. Eis que, dia desses, não se conteve mesmo. Aproveitou-se da inocência de Kátia Pureza. No dia da entrega das provas e lançamento das notas no diário, o professor, sem que ninguém visse, passou a mão sobre os seios da aluna, por fora e dentro da roupa da moça, com a seguinte fala: "sua nota comigo pode melhorar!" Como se matemática já não fosse um calo no sapato para Kátia, agora ainda tinha que conviver com as investidas e olhar pidão do mestre "tarado". Levando a questão ao reitor, que fez " vista grossa" e nada adiantou, Kátia judicializou a questão. Diante de tal cenário: a) Carrancudo foi condenado pelo crime de assédio sexual, nos termos do art. 216, A do C; b) o crime de assédio sexual exige ascendência funcional, derivada de uma relação empregatícia, o que não se revela no presente caso; Atualizações de Direito [29] c) Não há previsão legal acerca do assédio sexual cometido por professor, razão pela qual eventual condenação ofenderia o princípio da reserva legal; d) O tipo legal pertinente ao assédio sexual é tipo aberto, abarcando qualquer relação hierárquica, de qualquer nível; e) Não há que se falar em assédio sexual, tendo em vista que a aluna usou decote provocativo. Resposta: Alternativa A. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, no Informativo 658, no ensinou o seguinte: É preciso dar aoART. 216, A do Código Penal uma interpretação teleológica, no sentido de considerar que a relação aluno-mestre alcança a autoridade fraternal. O professor, presente na vida dos alunos de todas as idades, é exemplo de conduta, guia para a formação cidadã e profissional do ser humano, razão pela qual a expressão "ascendência" contida no tipo, ART. 216, A do Código Penal não se limita a relação empregatícia. Observe o leitor que, aqui, não há ofensa ao princípio da reserva legal, mas interpretação, quanto ao modo, de um tipo penal já existente! Confira o leitor o teor da ementa referente ao julgado acima versado: EMENTA RECURSO ESPECIAL1759.135. ASSÉDIO SEXUAL. ART. 216-A, § 2º, DO CP. SÚMULA N. 7 DO STJ. NÃO https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28003933/artigo-216a-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984002/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 Atualizações de Direito [30] APLICAÇÃO. PALAVRA DA VÍTIMA. HARMONIA COM DEMAIS PROVAS. RELAÇÃO PROFESSOR- ALUNO. INCIDÊNCIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Insere-se no tipo penal de assédio sexual a conduta de professor que, em ambiente de sala de aula, aproxima-se de aluna e, com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, toca partes de seu corpo (barriga e seios), por ser propósito do legislador penal punir aquele que se prevalece de sua autoridade moral e intelectual – dado que o docente naturalmente suscita reverência e vulnerabilidade e, não raro, alcança autoridade paternal – para auferir a vantagem de natureza sexual, pois o vínculo de confiança e admiração criado entre aluno e mestre implica inegável superioridade, capaz de alterar o ânimo da pessoa constrangida. 4. É patente a aludida "ascendência", em virtude da "função" desempenhada pelo recorrente – também elemento normativo do tipo –, devido à atribuição que tem o professor de interferir diretamente na avaliação e no desempenho acadêmico do discente, contexto que lhe gera, inclusive, o receio da reprovação. Logo, a "ascendência" constante do tipo penal objeto deste recurso não deve se limitar à ideia de relação empregatícia entre as partes. Interpretação teleológica que se dá ao texto legal. QUESTÃO 10 Zé Pimenta não se emendava. Namorador como ele só, vivia entrando em "gelada" para bancar o galanteador. Eis que furtou um perfume importado para Josefina, e fora, por conta disso, condenado por furto. Após a condenação, meses depois, resolveu namorar Lindalva, e, dessa vez, selando o amor com um beijo de cinema, furtou uma bala de caramelo, que, romanticamente, dividiu Atualizações de Direito [31] entre os lábios de sua amada. Levando-se em consideração que Zé Pimenta já havia sido condenado por furto, e já configurada a reincidência, conclui-se: a) que a reincidência, por si mesma, é incompatível com princípio da insignificância, ante a reprovabilidade social da conduta; b) reincidência implica em personalidade voltada ao crime, incompatível com o princípio da insignificância; c) A reincidência afasta a tipicidade da conduta; d) A reincidência, por si só, não impede o reconhecimento do princípio da insignificância, mas quando a conduta social se revelar desfavorável, o juiz pode substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos; e) A reincidência é incompatível com as penas restritivas de direitos, em qualquer situação. Resposta: Alternativa D. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, no Informativo 938, nos ensinou o seguinte: A reincidência, por si só, não é causa obstativa ao reconhecimento do princípio da insignificância, mas cabe ao magistrado avaliar se a aplicação do princípio é socialmente adequada e, não o sendo, Atualizações de Direito [32] substituir a pena de prisão por restritivas de direitos. No caso concreto levado à apreciação da Corte Superior, essa não aplicou o princípio da insignificância para fins de excluir a tipicidade material da conduta e, sim, para alterar o regime de cumprimento da pena. Dessa forma, criou uma exceção jurisprudencial à regra do Art. 33, § 2°, c do Código Penal, de maneira a permitir o cumprimento da pena em regime aberto aos condenados reincidentes, quando os fatos objeto de julgamento revelarem a incidência, no caso concreto, do princípio da insignificância. Confira o leitor a ementa do julgado acima relatado: A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem furtado ser insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma exceção jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio da proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938). QUESTÃO 11 Ricardo Gambá, Lucas Formiga, Joaquim Barriga e Apolinário Boquinha são quatro amigos, Atualizações de Direito [33] no tráfico e na vida. Presos em flagrante delito por tráfico de drogas, integram uma organização criminosa famosa, na localidade em que residem. O grande problema (e, para eles, a solução!) é que, todos, são pessoas muito bem relacionadas, fato esse que facilita e muito a difusão dos entorpecentes. Nem a cadeia foi capaz de segregar o quesito comunicação. A imobilidade física, reduzida em grades, em nada afetou a mobilidade informacional. São aqueles bolos com recheio de celulares, é o presidiário amigo mais antigo que sempre tem um celular guardado para oferecer, ou mesmo aquele agente penitenciário que recebe um "agrado" e agrada, fornecendo, para tanto, um celular. Não se sabe ao certo como os celulares chegam às penitenciárias. Mas... Que chegam, chegam! Pois bem! Um dia o telhado penitenciário caiu. Eis que o diretor do presídio surpreendeu o quarteto realizando grandes negociações de venda de droga para o mundo a fora, justo por tais aparelhos celulares, que chegaram, sem procedência de destino. E fato: Os quatro organizavam toda a dinâmica da associação pelo telefone. A consequência jurídico-penal desse cenário foi o aumento da pena de cada qual em 2/3, na forma do ART. 40, III da Lei 11.343/06. Irresignados, apresentaram resistência, ao argumento de que as drogas, objeto do crime, não passaram por dentro do presídio, lugar a que se visa dar proteção. Diante de tal cenário: Atualizações de Direito [34] a) O aumento da pena não se justifica, já que a droga não circulou pelo estabelecimento; b) O aumento só se justificaria se alguém dentro do presídio tivesse adquirido a droga; c) O aumento se justifica tendo em vista que o crime de tráfico foi praticado dentro do presídio, através de contato telefônico, produzindo efeitos externos; d) O aumento não se justifica porque não foi colocado em risco a segurança dos detentos; e) O aumento não se justifica porque não foi colocado em risco a segurança do Estado. Resposta: Alternativa C. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, no Informativo 659 nos revelou o seguinte: O art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006 dispõe que as penas previstas nos arts. 33 a 37 da Lei (e, aqui, incluso o crime de tráfico) são aumentadas de um sexto a dois terços se a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais. Havendo a inclusão dos autores do crime no sistema penitenciário, não pode afastar a conclusão queos seus atos foram praticados no interior do presídio: relação de causa e efeito, pouco importando se a droga circulou lá dentro, já que o reflexo de seus atos projetaram-se por quilômetros de distância. Logo, por ser crime de Atualizações de Direito [35] perigo abstrato, a saúde pública foi exposta da mesma forma! Confira o leitor a ementa do julgado acima narrado: Tráfico de drogas. Crime praticado em presídio por meio de telefone. Art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006. Majorante. Incidência. Tráfico de drogas. Crime praticado em presídio por meio de telefone. Art. 40, inciso III, da Lei n. 11.343/2006. Majorante. Incidência. Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006. O art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006 dispõe que as penas previstas nos arts. 33 a 37 da Lei são aumentadas de um sexto a dois terços se a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos. No caso, parte dos acusados de integrar associação criminosa que movimentava grandes volumes de entorpecentes entre estados diversos da federação estavam presos e organizavam a dinâmica da quadrilha por meio de telefones celulares possuídos clandestinamente. Assim, em estando os autores dos crimes incluídos no sistema penitenciário, não se pode afastar a conclusão de que seus atos foram praticados no interior do presídio, ainda que os efeitos destes atos tenham se manifestado a quilômetros de distância. O inciso III do art. 40 da Lei n. 11.343/2006 não faz a exigência de que as drogas, objeto do crime, efetivamente passem por dentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior. Atualizações de Direito [36] QUESTÃO 12 Anastácio Azedo é servidor público municipal da prefeitura de Xodó do Leste faz mais de trinta anos. Nutre o desejo e a ambição de tornar- se prefeito. Sabedor que o Sr. Serafim do Anjos, atual prefeito pretende candidatar-se nas próximas eleições, o servidor "fura olho" planta na prefeitura, entre os colegas servidores, a notícia que o prefeito comete fraudes na merenda escolar e irregularidades nas licitações. Seu desejo mesmo é jogar o nome do Prefeito na lama e, com isso, impedir o administrador municipal de concorrer nas próximas eleições. Não se contentando em espalhar a fofoca na prefeitura, Anastácio leva a conversa fiada para a rádio comunitária. Ato contínuo, Anastácio divulga em seu perfil das redes sociais que para moralizar o município irá se candidatar nas próximas eleições. Concluídas as investigações, realizadas com autorização do Tribunal de Justiça, o parquet conclui que não havia justa causa para o oferecimento da denúncia e, de imediato, verificou a responsabilidade do Sr. Anastácio, o invejoso, que movimentou desnecessariamente a máquina estatal. Diante de tal cenário: a) O MP denunciará Anastácio pelo crime de denunciação caluniosa do CP, já que inexistente tipo penal similar na legislação eleitoral; Atualizações de Direito [37] b) No caso, aplica-se o princípio da insignificância, já que não adveio nenhum prejuízo efetivo ao prefeito; c) No caso, aplica-se o princípio da insignificância, já que não adveio nenhum prejuízo efetivo ao Erário; d) Anastácio poderá ser denunciado pelo crime de denunciação caluniosa eleitoral devido ao dolo específico que demonstrou com a sua conduta; e) O crime de denunciação caluniosa eleitoral possui penas superiores ao crime de denunciação caluniosa do CP. Resposta: Alternativa D. O "língua de trapo" é denunciado pelo crime de denunciação caluniosa eleitoral. Não se sustenta a alegação de não estava " de olho" no cargo do Prefeito, que só repetiu o que ouviu dizer (com isso querendo afastar o dolo específico de finalidade eleitoral. A sua mídia social fala por si só. Atente o leitor para um detalhe de suma importância: Aqui, de acordo com a Lei 13.834/19, o fofoqueiro não é punido tão só pelo " leva e traz", mas por ter sido o protagonista de violação direta de um bem jurídico eleitoral, qual seja, a liberdade do exercício de voto. Pune-se o "boca de Matilde" para assegurar a preservação do modelo democrático e, assim, garantir ao cidadão o seu direito fundamental de quarta dimensão. A questão não revela nenhum julgado estampado nos Atualizações de Direito [38] informativos, mas traz ao leitor o conhecimento de uma lei recente, qual seja, a lei 13.834/19, de suma importância para fins de atualizações. QUESTÃO 13 Joaquim das Nuvens era o rei da pirataria. Empresário do comércio informal era conhecido por não deixar " ninguém na mão". Só não vendia a sua falecida mãezinha porque Deus a levou antes. Dentre as suas atividades, a principal, era vender internet pirata. Em outras palavras, comercializava ilegalmente internet via rádio. Preso em flagrante pelo delito do ART. 183 da Lei 9.472/97, no momento em que instalava a torre a um dos seus clientes, Joaquim impetrou habeas corpus, ao argumento de que a sua conduta seria atípica tendo em vista que o equipamento de rádio comercializado era de utilização restrita, de modo que não realizava, por si só, atividade de telecomunicação propriamente dita. Invocou, ainda, o princípio da insignificância, já que possuía poucos clientes. Em contrapartida, o Ministério Público Federal denunciou Joaquim pelo crime do ART. 183 da Lei 9.472/97 - haja vista que o provedor de acesso à internet desenvolve dois serviços, quais sejam, um serviço de telecomunicações (comunicação multimídia) e um serviço adicionado (conexão com a internet). Diante de tal cenário: a) O fato é típico porque o valor adicionado está agregado ao serviço de telecomunicação; Atualizações de Direito [39] b) O fato é típico devido ao fato de se criminalizar uma atividade clandestina; c) O valor adicionado prevalece sobre a atividade de telecomunicações, razão pela qual deve ser reconhecida a atipicidade da conduta; d) A atividade de telecomunicações prepondera sobre o valor adicionado, razão pela qual a conduta é atípica; e) A atividade de telecomunicações prepondera sobre o valor adicionado, razão pela qual a conduta é típica. Resposta por nós ofertada: Alternativa C. Instado a pronunciar-se sobre o tema o Supremo Tribunal Federal, em sede de habeas corpus, nos revelou o seguinte: A discussão cinge-se a preponderância da atividade exercida e, se o valor adicionado, por si só excluiria a atividade de telecomunicação, bem como a lesão ao bem jurídico decorrente de tal atividade. A matéria não é pacífica dentro do próprio STF. Para parte dos Ministros, o ART. 183 da Lei 9472/97 engloba tanto o valor adicionado como a telecomunicação. Denota crime formal, o que prescinde do efetivo prejuízo. De outra banda, outros Ministros entendem que a oferta de serviço de internet não pode ser considerada atividade clandestina, já que revestida de valor adicionado. O que houve foi um empate na votação no caso concreto e, sabemos, quando há empate na Atualizações de Direito [40] votação prevalece a decisão mais favorável ao paciente. Nas palavras do Ministro Marco Aurélio: " O serviço de internet é serviço de valor adicionado, não constituindo serviço de telecomunicação, classificando-se o provedor como usuário do serviço que lhe dá suporte, com os direitose deveres inerentes a essa condição. O artigo 183 da lei define o crime de atividade clandestina jungindo-o às telecomunicações". Logo, o STF deu uma interpretação restritiva ao dispositivo legal acima citado, prevalecendo, assim, o valor adicionado (conduta atípica) sobre a atividade de telecomunicação por ser aquele a atividade fim. Confira o leitor a ementa do julgado acima versado: Decisão : HC 127978. Submete-se ao princípio da legalidade estrita. SERVIÇO DE INTERNET – ARTIGO 183 DA LEI Nº 9.472/1997. A oferta de serviço de internet não é passível de ser enquadrada como atividade clandestina de telecomunicações – inteligência do artigo 183 da Lei nº 9.472/1997. QUESTÃO 14 A escola de samba As Virgens do Formigueiro é tida, por muitos, como sendo de puro glamour. Não economiza em suas alegorias. Guardando em si a natureza jurídica de associação civil, sem fins lucrativos, através de contrato de gestão, firmou um termo de parceria com o Poder Público, com dupla troca, ou seja, recebe subsídio Atualizações de Direito [41] do Poder Público e patrocínio de empresas. Em contrapartida, fomenta o turismo, viabilizando uma das maiores festas culturais do planeta: o carnaval. Pois bem... Assim é... Contudo, as Virgens do Formigueiro gostam de arrecadar, mas não são fãs em pagar as contas. Eis que a escola de samba se aproveitou da prestação de serviços do Carnavalesco Sr. Manoel Espada, mas não o remunerou pelos serviços prestados. Ele investiu o seu tempo e mão de obra. Acabou o carnaval e ele saiu de mãos vazias. Inconformado, Espada judicializou a questão. O resultado foi a penhora da verba pública recebida pela escola de samba. Inconformada, a escola de samba bateu às portas do STJ, ao argumento de que o carnaval é manifestação cultural e símbolo da educação no Brasil. Invocou o ART. 833, I e IX do CPC - no que toca a impenhorabilidade dos recursos públicos para instituições privadas, no que diz respeito a educação; bem como o ART. 35 da Lei 13.019/14 - que prevê que os materiais e equipamentos adquiridos com os recursos provenientes da parceria são inalienáveis. Diante de tais considerações: a) A penhora foi ilícita, pois o carnaval, como bem cultural, é patrimônio impenhorável; b) A penhora foi ilícita, pois a cultura faz parte da educação do povo brasileiro; c) A penhora foi ilícita, pois a escola de samba mantém-se com verba pública; Atualizações de Direito [42] d) A penhora foi lícita, haja vista que o carnaval não é abarcado pela educação e o que não se pode penhorar são equipamentos adquiridos com a verba pública, e não a verba pública em si; e) A penhora foi válida porque a educação é bem penhorável. Resposta: Letra D. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, no Informativo 660, nos ensinou o seguinte: A interpretação quanto a impenhorabilidade é restritiva. Se o produto do investimento dos recursos públicos é impenhorável, não se pode dizer o mesmo dos recursos em si. A lei não veda a impenhorabilidade quanto as verbas recebidas. É inquestionável o valor social, cultural, histórico e turístico do carnaval brasileiro. Contudo, tal reconhecimento, por si só, não conduz ao fomento à educação e assistência social. Nas palavras da Ministra Nancy Andrighi : "As escolas de sambas devem sim, como todo brasileiro, pagar as suas contas", classificando de terrorista o argumento de que a penhora inviabilizaria o Carnaval. Confira o leitor a ementa do julgado acima citado: São penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria público-privada com a administração pública. A situação NÃO se enquadra na hipótese do art. 833, IX, do CPC: Art. 833. São impenhoráveis: (...) IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.095-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). São Atualizações de Direito [43] penhoráveis as verbas recebidas por escola de samba a título de parceria público-privada com a administração pública. A situação NÃO se enquadra na hipótese do art. 833, IX, do CPC: Art. 833. São impenhoráveis: (...) IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.095-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660). QUESTÃO 15 Alírio Perninha era latifundiário famoso lá pelas bandas do Mato Grosso. Estava apurrinhado porque uma de suas propriedades fora invadida pelos agricultores rurais sem terra, integrantes do MST. As famílias estavam se reproduzindo entre si no local, e o mesmo acontecendo com a plantação. Pois bem... Como se não bastasse, o Estado instalou uma escola e um posto de saúde no local. Aquilo era demais para ele: agora o Poder Público, ao não coibir o esbulho possessório, apoia os "sem terra", dizia ele. E, na sua visão, como quem cala consente, o Poder Público também figurava como esbulhador. Judicializou a questão. Perninha propôs uma demanda indenizatória em face do Poder Público por desapropriação indireta, ao argumento de que o Poder Público estaria praticando um ato ilícito ao apossar-se do seu imóvel, sem pagar-lhe qualquer tipo de indenização por isso. Analisando o contexto acima, podemos afirmar: Atualizações de Direito [44] a) O Poder Público, ao não coibir o esbulho, praticou ato ilícito consubstanciado na desapropriação indireta; b) O Poder Público não agiu corretamente, pois os serviços públicos não se compatibilizam com atos ilícitos; c) O Poder Público está ratificando atos ilícitos de terceiros; d) O Poder Público está impedido de prestar saúde e educação, pois deve respeito ao princípio da reserva do possível; e) O Poder Público não desapropriou a propriedade do particular. Os atos ilícitos praticados por terceiros não impede o Poder Público de garantir o mínimo existencial. Resposta: Alternativa E. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, no Informativo 660, nos revelou o seguinte: Não vamos aqui nos comportar como camaleões normativos, fingindo que não estamos vendo o déficit de concretização dos direitos fundamentais de segunda dimensão, os direitos prestacionais. O local não apresenta qualquer infraestrutura de saúde, educação, higiene e urbanização. Como deixar a população a míngua de direitos básicos? O esbulho, por si só, não tem o condão de obrigar o Poder Público a fingir-se de morto para a realidade fática, Atualizações de Direito [45] de uma situação já consolidada e irreversível. Mas com isso não se quer dizer que Poder Público seja um esbulhador ao quadrado. O esbulho foi ocasionado exclusivamente por particulares. A prestação de serviços públicos pelo Poder Público, diversamente da desapropriação indireta, é baseada em ato lícito, amparado por um mandamento constitucional de oferta de saúde pública, ensino e urbanização local. Em outras palavras, o Estado concretiza direitos de segunda dimensão como forma de garantir o mínimo existencial para as famílias e para os agricultores sem terra, e, pouco importa se possuem ou não razão por terem esbulhado a propriedade de Perninha. Primeiro o ser. É essa a essência! Para sermos fiéis ao julgado exarado pela Corte Cidadã reproduzimos o teor de sua ementa. Confira o leitor: Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação indireta quando, em gleba cuja ocupação por terceiros apresenta situação consolidada e irreversível, limita-se a realizar serviços públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido para o esbulho ocasionado exclusivamente por particulares. Assim, na medida emque o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado “apossamento administrativo” nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve responder pela perda da propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e serviços públicos essenciais para a comunidade instalada no local. STJ. 2ª Turma.REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660) Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação indireta quando, em gleba cuja ocupação Atualizações de Direito [46] por terceiros apresenta situação consolidada e irreversível, limita-se a realizar serviços públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido para o esbulho ocasionado exclusivamente por particulares. Assim, na medida em que o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado “apossamento administrativo” nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve responder pela perda da propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e serviços públicos essenciais para a comunidade instalada no local. STJ. 2ª Turma.REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660). Grifos nossos! QUESTÃO 16 Aline Envertebrada era mulher de bandido, literalmente falando! Casada com André Tomate já tinha o complexo penitenciário Frei Caneca, como segunda casa. Eis que seu digníssimo esposo estava preso por tráfico de drogas. Em suas visitas íntimas, além do amor, Aline ainda levava drogas para o marido. Assim o fazia escondendo o entorpecente, em seus órgãos genitais. Mas Aline era moça bonita. De muitos fãs, alguns até ressentidos. Um deles, Serafim Maligno, a fim de vingar-se pelo desprezo da amada, denunciou a entrega de drogas de Aline ao marido, e, assim o fez através de telefonema anônimo para a polícia. Afinal, dizia Serafim:" se não for minha não será de mais ninguém"! E, assim, antes mesmo que a droga fosse entregue, a polícia, Atualizações de Direito [47] já aguardando a sua chegada, efetuou a sua prisão em flagrante. Diante de tais fatos: a) A prisão em flagrante de Aline foi válida, pois as visitas íntimas são constitucionais; b) A prisão de Aline foi válida, pois a visita íntima visa a segurança de quem está dentro e fora do presídio; c) A prisão em flagrante foi válida, embora baseada em denúncia anônima, pois as irregularidades do inquérito não contaminam a ação penal; d) A prisão em flagrante de Aline foi ilegal e deve ser relaxada, pois baseada em denúncia anônima; e) A prisão em flagrante de Aline foi inválida, pois violou o contraditório. Resposta: Alternativa D. Instado a manifestar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, no Informativo 659 nos revelou o seguinte: A prova obtida através de denúncia anônima, oriunda de visita íntima, sem que fossem realizadas investigações preliminares, é revestida de ilicitude. Deixando de lado a questão de saber se a visita íntima viola a dignidade humana, fato é que existe sim a necessidade de se controlar a entrada de produtos proibidos nos presídios, para a segurança Atualizações de Direito [48] de quem está lá e de quem está fora. Contudo, no caso em apreço a denúncia anônima não embasa as fundadas suspeitas para a realização daquela revista íntima em específico. Entendeu o STJ que o ato da acusada expor a sua cavidade vaginal violou a sua imagem e honra, ainda que levada em consideração a boa fé dos policiais. Deveriam, sim, antes de expor o corpo da acusada, efetuarem investigações preliminares, a fim de colherem as fundadas suspeitas. Se tal não ocorreu, os fins não justificam os meios. No juízo de ponderação entre a segurança pública e o direito à intimidade, o STJ optou pelo segundo valor. Para sermos fiéis ao julgado do Superior Tribunal de Justiça reproduzimos, aqui, o teor de sua ementa. Confira o leitor: Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior. STJ. 5ª Turma. HC 440.888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659) Não é necessário que a droga passe por dentro do presídio para que incida a majorante prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006. Esse dispositivo não faz a exigência de que as drogas efetivamente passem por dentro dos locais que se busca dar maior proteção, mas apenas que o cometimento dos crimes tenha ocorrido em seu interior. STJ. 5ª Turma. HC 440.888-MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/10/2019 (Info 659). Atualizações de Direito [49] QUESTÃO 17 Juca Açafrão era fazendeiro influente na região sul do Brasil. Candidatou-se no ano de 2009 a Prefeito de Não - Me - Toque. Eis que durante a sua campanha política valeu-se da presença de policiais militares e de viaturas policiais para a segurança dos eventos políticos que realizava. Detectada a utilização de bem público em campanha, tal uso irregular de veículos, por conseguinte, ensejou a sua condenação por abuso do poder econômico ou político, em Ação de Investigação Judicial Eleitoral. Pois bem...Na época, ainda não vigorava a Lei da Ficha Limpa, e, assim, o "castigo" de Açafrão foi dado pelo ART.1°, I, d da LC 64/90, qual seja, a inelegibilidade pelo prazo de três anos. No ano de 2010 houve o trânsito em julgado de tal decisão e, ato contínuo, o cumprimento do prazo de três anos de inelegibilidade. Eis que no ano de 2016 Açafrão volta com a corda toda. Tentou concorrer novamente ao cargo de Prefeito, mas deu com os burros n'água. Teve o seu registro de candidatura cassado por aplicação da Lei da Ficha Limpa. Diante de tal situação: a) o prazo da Lei Complementar 64/90 - três anos - não pode ser estendido pelo prazo da Lei da Ficha Limpa - oito anos, por fatos anteriores cometidos antes da vigência da Lei da Ficha Limpa, sob pena de retroatividade maléfica; Atualizações de Direito [50] b) Caso fosse admitida a retroatividade haveria burla à autoridade da coisa julgada, o que acarretaria em grave insegurança jurídica; c) Tal prazo de inelegibilidade teria natureza sancionatória; d) A Lei da Ficha Limpa não é aplicada, pois tem natureza puramente administrativa e não penal; e) A Lei da Ficha Limpa poderá retroagir, pois a inelegibilidade não é uma sanção, mas apenas uma restrição da capacidade eleitoral passiva. Resposta: Gabarito. Alternativa: Letra E. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o STF, no Informativo 951, nos revelou o seguinte: As medidas eleitorais da Lei da Ficha Limpa, que estendem o prazo de inelegibilidade para oito anos, poderão ser aplicadas de forma retroativa, sem que se fale em ofensa à coisa julgada. A inelegibilidade não seria uma imposição de pena (sanção), mas apenas uma restrição da capacidade eleitoral passiva do indivíduo - requisito negativo de adequação do indivíduo ao regime jurídico do processo eleitoral. Ademais, a imposição do prazo de inelegibilidade configura uma relação jurídica continuativa, sujeita a cláusula "rebus sic stantibus", ou seja, as situações terão validade enquanto a situação que deu origem a elas se mantiver, razão pela qual não há que se falar em ofensa à coisa julgada. Para sermos fiéis ao que Atualizações de Direito [51] ditou a Suprema Corte reproduzimos, aqui, a ementa do julgado esposada pela Corte. Confira o leitor: É possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo já tinha transitado em julgadoquando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. O fato de a condenação nos autos de representação por abuso de poder econômico ou político haver transitado em julgado, ou mesmo haver transcorrido o prazo da sanção de três anos, imposta por força de condenação pela Justiça Eleitoral, não afasta a incidência da inelegibilidade constante da alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, cujo prazo passou a ser de 8 anos. Exemplo: em 2009, João, político, foi condenado em Ação de Investigação Judicial Eleitoral, pela prática de abuso de poder político. Naquela época não havia ainda a Lei da Ficha Limpa. Vigorava a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90. Logo, a Justiça Eleitoral determinou que João ficasse inelegível por 3 anos. O processo transitou em julgado em 10/09/2010 e João cumpriu os 3 anos de inelegibilidade, conforme havia sido determinado. Nas eleições de 2016, já imaginando que estaria livre da inelegibilidade, ele tentou concorrer ao cargo de Prefeito, apresentando requerimento de registro de candidatura. Ele não pode concorrer. Isso porque, em 2010, a Lei da Ficha Limpa aumentou a punição prevista no art. 1º, I, “d”, da LC 64/90 de 3 para 8 anos. Mesmo a Lei da Ficha Limpa tendo entrado em vigor após o fato praticado por João, este novo diploma deve ser aplicado ao caso concreto. Logo, a inelegibilidade de João, que era de 3 anos (e que acabou em 2012 = 3 + 2009), subiria para 8 anos (e a inelegibilidade perduraria até 2017 = 8 + 2009). STF. Plenário. ARE 1180658 AgR/RN, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 10/9/2019 (Info 951). É possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo Atualizações de Direito [52] nos casos em que o processo já tinha transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. O fato de a condenação nos autos de representação por abuso de poder econômico ou político haver transitado em julgado, ou mesmo haver transcorrido o prazo da sanção de três anos, imposta por força de condenação pela Justiça Eleitoral, não afasta a incidência da inelegibilidade constante da alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, cujo prazo passou a ser de 8 anos. Exemplo: em 2009, João, político, foi condenado em Ação de Investigação Judicial Eleitoral, pela prática de abuso de poder político. Naquela época não havia ainda a Lei da Ficha Limpa. Vigorava a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90. Logo, a Justiça Eleitoral determinou que João ficasse inelegível por 3 anos. O processo transitou em julgado em 10/09/2010 e João cumpriu os 3 anos de inelegibilidade, conforme havia sido determinado. Nas eleições de 2016, já imaginando que estaria livre da inelegibilidade, ele tentou concorrer ao cargo de Prefeito, apresentando requerimento de registro de candidatura. Ele não pode concorrer. Isso porque, em 2010, a Lei da Ficha Limpa aumentou a punição prevista no art. 1º, I, “d”, da LC 64/90 de 3 para 8 anos. Mesmo a Lei da Ficha Limpa tendo entrado em vigor após o fato praticado por João, este novo diploma deve ser aplicado ao caso concreto. Logo, a inelegibilidade de João, que era de 3 anos (e que acabou em 2012 = 3 + 2009), subiria para 8 anos (e a inelegibilidade perduraria até 2017 = 8 + 2009). STF. Plenário. ARE 1180658 AgR/RN, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 10/9/2019 (Info 951). QUESTÃO 18 Não se pode dizer que José do Açude não tenha desfrutado a vida durante o tempo em atuou como Vereador no Município de Passa e Fica. Era churrasco e cervejada com os amigos todos os finais Atualizações de Direito [53] de semana. Agora que o mandato acabou, a fonte secou, e a boca também. A fim de conseguir um "extra," ingressou em juízo em face do Município, pleiteando do ente público férias e décimo terceiro salário, pelo período em que atuou, afinal, dizia ele, o direito ao décimo terceiro salário é estendido aos ocupantes de cargos públicos. Diante de tal situação: a) O pagamento de férias e décimo terceiro salário é automático tendo em vista que os cargos eletivos também são considerados cargos públicos, com a peculiaridade de serem ocupados por agentes com voto popular; b) A gratificação natalina e as férias são direitos de todo e qualquer trabalhador e são pagas em qualquer situação; c) O ART. 39 § 4º da CR contempla tão só a remuneração por subsídio, incompatível com qualquer gratificação; d) Por ser inexistente lei Municipal acerca do pagamento de tais verbas remuneratórias, tais verbas poderão ser exigidas, pois constituem direitos de segunda dimensão, previstos constitucionalmente; e) Tal direito poderá ser exercido, desde que exista previsão legal - o que não se revela no caso concreto. Atualizações de Direito [54] Resposta: Alternativa E. Instado a manifestar-se sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, em sede de Repercussão Geral, no Informativo 950, nos ensinou o seguinte: Os direitos fundamentais de férias e à gratificação natalina devem ser garantidos aos ocupantes de cargos eletivos, porquanto a remuneração por parcela única (ART. 39 § 4º), por si só, não tem o condão de derrogar direitos assegurados pelo ART. 39 § 3º. Contudo, tais recebimentos ficam condicionados ao campo de discricionariedade legislativa municipal. No caso concreto, como não existia norma regulamentadora municipal, tal direito não pôde ser implementado. Logo, o pagamento de tais verbas não constitui um dever, mas uma faculdade, inserida no espaço de liberdade de conformação do legislador infraconstitucional. Para sermos fiéis ao julgado proferido pela Suprema Corte reproduzimos, aqui, trecho do julgado. Confira o leitor: O STF decidiu que o art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de férias e décimo terceiro salário (Tema 484 da Repercussão Geral). Assim, os Vereadores, mesmo recebendo sua remuneração por meio de subsídio (parcela única), podem ter direito ao pagamento de terço de férias e de décimo terceiro salário. Vale ressaltar, no entanto, que o pagamento de décimo terceiro e do terço constitucional de férias aos agentes políticos com mandato eletivo não é um dever, mas sim uma opção, que depende do legislador infraconstitucional. Assim, a definição sobre a adequação de percepção dessas verbas está inserida no espaço de Atualizações de Direito [55] liberdade de conformação do legislador infraconstitucional. Em outras palavras, o legislador municipal decide se irá ou não conceder tais verbas aos Vereadores. Se não houver lei concedendo, eles não terão direito. Desse modo, é possível o pagamento de terço de férias e de décimo terceiro salário aos Vereadores, mas desde que a percepção de tais verbas esteja prevista em lei municipal. STF. 1ª Turma. Rcl 32483 AgR/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950). QUESTÃO 19 Apolinário Pomar era homem de uma simplicidade impagável. Apesar de fazendeiro muito rico, não perdia a humildade. Eis que foi morto, a sangue frio, por um vizinho, Sr. Antônio Melhorança, que disputava com ele o marco da cerca divisória. Apolinário, além de muito dinheiro, deixou dois filhos: Zé Laranja e Zé Limão. Antônio Melhorança foi pronunciado e julgado pelo Tribunal de Júri. Zé Limão, o filho mais velho da vítima, atuou como assistente de acusação. Melhorança foi condenado pelo crime de homicídio doloso qualificado, por motivo fútil. Inconformado, recorreu. O Tribunal de Justiça, em sede de apelação, por entender que a condenação dos jurados foi contrária a prova dos autos, absolveu Melhorança. O Ministério Público, mais inconformado ainda, interpôs recurso extraordinário. O STFconcordou com o MP e entendeu que a condenação deveria ser mantida, em respeito à soberania dos veredictos. A Defesa, logo em seguida, ajuíza Revisão Criminal. O Tribunal de Justiça, teimoso, absolve novamente, ao argumento Atualizações de Direito [56] de inexistir prova cabal para o decreto condenatório. Cansado do jogo de empurra-empurra, Zé Limão "azeda" de vez e sai do jogo. O irmão, Zé Laranja, querendo Justiça pela morte do pai, ajuíza reclamação perante o STF e faz a fofoca: "Olha STF, o TJ não anda respeitando a autoridade das suas decisões não!" Melhorança, ao saber disso, dá logo o grito: "Isso até pode ser verdade, mas você, Zé Laranja, não é parte legítima para ajuizar reclamação porque não figurou como assistente de acusação. Não se meta onde não é chamado!". Diante de tal cenário: a) A reclamação não é cabível porque Zé Laranja não possui relação jurídica com o processo; b) Não cabe reclamação porque a decisão do STF foi meramente reflexa; c) A reclamação deve ser recebida mesmo ausente a legitimidade do reclamante; d) Zé Laranja, por buscar proteger os interesses da família, é parte legítima para ajuizar reclamação; e) A condição de não ser herdeiro exclusivo afasta a legitimidade de Zé Laranja para ajuizar reclamação. Resposta: Alternativa D. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Supremo Tribunal Atualizações de Direito [57] Federal, no Informativo 945, nos revelou o seguinte: A forma não prevalece sobre o fundo. Ainda que o outro filho da vítima (Zé Laranja) não tenha atuado como assistente de acusação, quando ajuíza reclamação, é inegável que está defendendo interesse da família. Assim, não se deve, por excessivo rigor formal, afastar a pertinência subjetiva daquele filho que atua, igualmente, na qualidade de representante dos interesses da família. Para sermos fiéis ao que decidiu a Suprema Corte reproduzimos trecho do julgado que versa sobre o caso concreto objeto da questão. Confira o leitor: A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental e manteve decisão monocrática que considerou parcialmente procedente a reclamação por afronta à autoridade do que decidido no Recurso Extraordinário (RE) 594.104. Dessa maneira, determinou ao Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (TJ/MT) que profira novo julgamento à luz das demais causas de pedir da revisão criminal (Informativo 934).Na decisão paradigma, proferida nos autos do RE 594.104, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu provimento ao recurso extraordinário para restaurar o veredicto condenatório prolatado pelo tribunal do júri. Deste modo, o STF cassou acórdão mediante o qual, na análise de apelação interposta, o tribunal de justiça trancou a ação penal por entender que o pronunciamento do tribunal do júri era manifestamente contrário à prova dos autos. Naquela oportunidade, o STF concluiu ter sido violada a soberania dos veredictos prevista no art. 5º, XXXVIII, c, da Constituição Federal (CF) (1).Após o http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo934.htm#Reclama%C3%A7%C3%A3o%20e%20tribunal%20do%20j%C3%BAri http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo934.htm#Reclama%C3%A7%C3%A3o%20e%20tribunal%20do%20j%C3%BAri http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo934.htm#Reclama%C3%A7%C3%A3o%20e%20tribunal%20do%20j%C3%BAri http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2643249 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2643249 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2643249 Atualizações de Direito [58] trânsito em julgado da condenação, o TJ/MT, ao examinar revisão criminal, absolveu o réu, considerada a ausência de prova de que ele teria concorrido para a infração penal.A Turma afirmou que, na decisão paradigma — confirmada no colegiado, após sucessivos recursos da defesa —, ficou consignado que a suficiência de um único depoimento para a prolação do juízo condenatório é matéria constitucionalmente afeta ao tribunal do júri e infensa à reforma pelo tribunal de justiça, ao qual não cabe a valoração da prova.A despeito disso, a primeira decisão proferida, em apelação, pelo TJ/MT, a qual fora anulada pelo STF, teve seus fundamentos reiterados no ato decisório objeto da presente reclamação, agora em revisão criminal. Assim, novamente o TJ/MT desconsiderou o veredito condenatório do tribunal do júri para absolver o acusado de participação no homicídio ao fundamento – já afastado pelo STF no RE 594.104 – de suposta ausência de provas. A Turma asseverou que a reclamação, por expressa determinação constitucional, destina-se a preservar a competência do STF e garantir a autoridade de suas decisões. Na espécie, cuida-se de reclamação ajuizada por um dos filhos da vítima do homicídio. A alegação de violação da decisão do STF em vista da nova absolvição prolatada pelo TJ/MT, pelos mesmos fundamentos anteriormente afastados, autoriza o reconhecimento da legitimidade ativa do filho da vítima, ainda que não tenha se habilitado como assistente de acusação no curso da ação penal. Conforme se extrai dos autos do RE 594.104, o patrocínio daquele recurso foi produzido pela mesma advogada que atua nos autos da presente reclamação, tendo atuado em defesa de um dos filhos da vítima. Logo, mostra-se inequívoco o interesse da família da vítima no deslinde do caso. Não se pode, por excessivo apelo formal, afastar a relação de pertinência subjetiva do autor da reclamação em comento, http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2643249 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2643249 Atualizações de Direito [59] que, como filho da vítima, atua também na qualidade de representante dos interesses da família. Grifos nossos! QUESTÃO 20 Maria da Consolação é mulher dinâmica. Com dois filhos e dois empregos corrre o dia inteiro para dar conta do recado. No mais das vezes seu almoço é a barra de cereais adquirida na lojinha do português, Sr. Manolo, de frente ao terminal de ônibus. Mas eis que a sua última refeição não lhe caiu nada bem. Ao ingerir a barrinha notou um gosto estranho na boca com a primeira mordida. Resolveu partir o alimento ao meio e, para a sua surpresa, verificou que a barra era compartilhada, por ela e por insetos (baratinhas). Era uma barra de companhia coletiva. "Ecooooo! "🕷🕷🕷🕷🕷Gritava ela, aos quatro ventos. Por mais que o tempo passasse, ela sabia que nunca iria esquecer aquele gosto rançoso e aquela cena dos insetos agitados, baratinhas voadoras subindo em seu braço. Não obtendo um acordo amigável com o português a respeito do ressarcimento pelo alimento estragado, e, inconsolada com a questão, Consolação bateu às portas do Judiciário. Diante de tal cenário: a) Não se revela cabível a indenização por danos materiais e morais porque Consolação não mastigou o inseto, logo, não sofreu dano efetivo; Atualizações de Direito [60] b) Comprovado o alimento impróprio para o consumo se revela cabível a indenização tão somente por danos materiais; c) É cabível o dano moral, mas o dano material não restou comprovado; d) Subsistem os danos materiais e morais. Expor a saúde e segurança do consumidor afeta a sua dignidade, justificando a incidência do dano moral; e) Incabível o dano moral, pois descabe o dano moral quando patente o dano material, sob pena de bis in idem. Resposta: Alternativa D. Instado a pronunciar-se sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça, no Informativo 656, nos ensinou o seguinte: Presentes, no caso, os danos materiais e morais. O dano moral subsiste e, pouco importa que o produto tenha sido consumido por inteiro, ou pela metade. Um produto comercializado com corpo estranho, por si só, expõe o consumidor a risco concreto
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