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APS Função e Disfunção dos Sistemas I e II PNEUMOTÓRAX EM UM CANINO – RELATO DE CASO INTRODUÇÃO O pneumotórax é o acúmulo de ar entre as pleuras parietal e visceral, levando ao aumento da pressão intratorácica, com colapso do tecido pulmonar ipsilateral, resultando em grave anormalidade de relação ventilação-perfusão, redução da capacidade vital, do volume-minuto e do retorno venoso, levando à hipóxia por aumento do shunt pulmonar. Pode ser traumático, iatrogênico ou espontâneo e a forma traumática é a mais comum em cães. Um pneumotórax pode ser fechado ou aberto; no primeiro caso (o tipo mais comum), o ar escapa do pulmão ou da via aérea lesionados para o interior do espaço pleural; no pneumotórax aberto, o ar entra no espaço pleural através de um ferimento aberto na parede torácica. Animais com pneumotórax compensam-se adotando o padrão respiratório rápido e superficial. O diagnóstico é concluído com base nos achados físicos e radiográficos característicos e na toracocentese do ar do espaço pleural. No exame físico, devem ser avaliados inicialmente os sinais vitais do paciente como frequências cardíaca e respiratória, coloração da mucosa, tempo de preenchimento capilar, temperatura e nível de consciência. Na avaliação do sistema respiratório, deve-se observar a frequência, profundidade e esforço de cada movimento respiratório. O desenvolvimento rápido de um quadro de dispneia geralmente é resultante de pneumotórax, contusão pulmonar ou hipovolemia. Na auscultação, a ausência de sons respiratórios é um indício de deslocamento pulmonar por ar, fluido ou órgãos abdominais. Na auscultação cardíaca, deslocamento ou arritmia dos sons cardíacos são fatos sugestivos de deslocamento do coração por acúmulo de ar, fluido ou vísceras. O diagnóstico radiográfico de pneumotórax requer diferenciação entre o ar pleural livre e o ar intrapulmonar. O tratamento clínico de pacientes com pneumotórax consiste, inicialmente, no alívio da dispneia por meio de toracocentese. O objetivo da drenagem é a remoção de fluidos ou gases da cavidade pleural, aliviando os sintomas provenientes de angústia respiratória. MATERIAL E MÉTODOS Um canino SRD, 10 meses de idade e peso de 6,4 kg foi atendido no Hospital Veterinário da UFRPE. À anamnese, relatou-se que o animal havia sido atropelado há 2 dias e levado ao veterinário de uma clínica particular que, ao exame clínico, diagnosticou pneumotórax. Foi então drenado 150 mL de ar e prescrito Tramal (2 mg/kg) e Ketofen 1% (0,2 mL/kg). Após tais procedimentos, foi então encaminhado para o Hospital Veterinário. O proprietário relatou também ter administrado água de coco na seringa pela via oral. Ao exame físico, os sinais vitais do animal estavam dentro da normalidade, exceto pela frequência respiratória, na qual se observou dispneia. A parede torácica também estava íntegra. Na parte interna da coxa, observou-se escoriação. No exame radiográfico, realizaram-se duas projeções: latero-lateral e ventro-dorsal. O pulmão apresentou-se em menor tamanho que o normal e o coração parecia elevado acima do esterno. Foi também observado ar pleural livre. No procedimento clínico, optou-se por fazer toracocentese. O material utilizado para a drenagem foi uma agulha de escalpe acoplada a uma válvula de três vias e uma seringa de 20 mL. A toracocentese foi realizada no oitavo espaço intercostal e foi drenado 100 mL de ar no antímero esquerdo e 80 mL de ar no antímero direito. O animal foi enviado para casa com prescrição de Tramal (2 mg/kg) e Maxicam (0,1 mg/kg). Também foi indicada a lavagem da ferida com tintura de aroeira. No retorno ao Hospital Veterinário, passados sete dias, o animal já apresentava todos os parâmetros clínicos normais e cicatrização da ferida. RESULTADOS E DISCUSSÃO O quadro de pneumotórax que o animal apresentou devido ao atropelamento condiz com a causa mais comum de pneumotórax traumático fechado em cães. Há relatos que esse tipo de pneumotórax é mais comum nos cães jovens porque é mais provável que eles sejam lesados por veículos motorizados, afirmação compatível com a idade do canino (10 meses de idade). A dispneia que o animal apresentou é característica de resultado de traumatismo. Também é importante a diferenciação do pneumotórax traumático e espontâneo, pois o primeiro tipo geralmente responde a tratamento médico, enquanto o segundo exige cirurgia. A informação de atropelamento relatada pelo proprietário foi decisiva para a escolha do procedimento clínico. O pneumotórax relatado nesse caso foi do tipo fechado simples, pois os sinais clínicos característicos do pneumotórax hipertensivo são cianose, dispneia, distensão da jugular, agitação e taquicardia, sinais esses que não foram observados no animal exceto pela disnpeia. O achado no exame radiográfico onde o pulmão apresentou-se em menor tamanho e o coração elevado acima do esterno foi compatível com o diagnóstico de pneumotórax. Há relatos que à medida que o ar preenche o espaço pleural, os pulmões retraem-se da pleura parietal, tornando-se relativamente mais radiopacos do que o ar pleural livre. A presença de ar pleural livre permite que o coração se desloque na visão em decúbito lateral, dando ao coração a aparência de estar sendo elevado ao esterno, imagem esta encontrada na radiografia do cão. A escolha do tratamento médico pela toracocentese visou aliviar a dispneia do animal, procedimento este que corroborou com a literatura consultada, no qual relata que a toracocentese deve ser realizada para evitar dispneia, enquanto a lesão pulmonar cicatriza dentro de 3 a 5 dias. A drenagem poderia ter sido feita em apenas um antímero, visto que a aspiração em qualquer lado do tórax drenará adequadamente o hemitórax contralateral, pois o mediastino de cães e gatos é fino e permeável a fluidos. A melhora do quadro do animal no retorno demonstra que recorrência neste tipo de pneumotórax é incomum e raramente se exige uma intervenção cirúrgica. EXERCÍCIO Leia atentamente o conceito de pneumotórax (acúmulo de ar no espaço pleural) e atelectasia (expansão incompleta pulmonar). Leia o caso clínico descrito em sequência e responda as questões. PNEUMOTÓRAX – CONCEITO E TIPOS: O pneumotórax é definido como o acúmulo de ar no espaço pleural, podendo ser traumático, iatrogênico ou espontâneo. A forma traumática é a mais comum em cães, sendo que cerca de 47% dos animais que sofrem trauma torácico apresentam a referida doença. O pneumotórax pode ser classificado como aberto ou fechado. O primeiro está relacionado a traumas penetrantes no tórax e corresponde ao acúmulo progressivo de ar no espaço pleural proveniente de uma comunicação com o ambiente externo, o qual gera pressão intrapleural positiva e influxo de ar entre as pleuras quando o animal inspira. Em contrapartida, o fechado geralmente é decorrente de trauma contuso e o acúmulo de ar ocorre devido ao extravasamento a partir do parênquima pulmonar, da árvore brônquica, da traqueia ou do esôfago lesionados. O pneumotórax fechado é subdividido em simples e de tensão. No simples ocorre acúmulo de ar não-progressivo na cavidade pleural, decorrente de pequenas lacerações no parênquima e cápsula pulmonares. Já no pneumotórax de tensão, também denominado hipertensivo, observa- se acúmulo progressivo de ar em virtude de lesão extensa no pulmão, a qual cria válvula de direção única, aumentando a pressão intrapleural e levando ao colapso pulmonar. Constitui emergência médica na medida em que a elevação da pressão ocasiona a compressão dos vasos principais, e diminuição do retorno venoso e do débito cardíaco, levando ao desenvolvimento de insuficiência respiratória progressiva, síncope e morte rápida. O pneumotórax espontâneo ocorre na ausência de trauma torácico, sendo classificado em primário e secundário. Primariamente ocorre em pacientes sem doença pulmonar evidente, geralmente,decorrente do rompimento de bolhas subpleurais pela alta pressão negativa intratorácica. Complicações decorrentes de pneumonias, abscessos pulmonares, neoplasias, infecções granulomatosas crônicas e parasitas pulmonares desencadeiam pneumotórax espontâneo secundário. ATELECTASIA Por definição, atelectasia é a expansão incompleta do pulmão, que pode ser localizada ou generalizada, e resulta no colapso de alvéolos previamente preenchidos por ar. Portanto, morfologicamente, a atelectasia é caracterizada pela condição na qual os alvéolos pulmonares encontram-se sem ar e sem nenhum outro conteúdo em seu interior. A atelectasia pode ser congênita, em decorrência da expansão incompleta dos alvéolos, ou adquirida, devido ao colapso alveolar. A atelectasia congênita pode ser subclassificada em total ou parcial (focal ou multifocal). A atelectasia adquirida, por sua vez, pode ser obstrutiva, devido à obstrução total de vias respiratórias, ou compressiva, por compressão externa do parênquima pulmonar. CASO CLÍNICO Um cão foi atendido em um Hospital Veterinário com histórico de atropelamento há dois dias, diagnóstico prévio de pneumotórax após drenagem de 150 ml de ar em toracocentese e primeiros socorros realizados por colega veterinário que encaminhou o animal para o HOVET. O exame clínico do animal revelou parâmetros vitais dentro da normalidade exceto a dispneia, dificuldade respiratória, observada ao avaliar frequência respiratória. O exame radiográfico em posição latero-lateral e ventro-dorsal revelou pulmão com menores dimensões, ar livre pleural e coração elevado acima do esterno (Figuras 1 e 2). Não se observou alterações na parede torácica. Optou-se por nova drenagem de ar em toracocentese (Figura 3) com retirada de 100 e 80 ml de antímero direito e esquerdo, respectivamente. Prescrição medicamentosa adequada foi realizada. Após uma semana o animal retornou com parâmetros clínicos normais. QUESTÕES Diante do diagnóstico de pneumotórax no animal do caso acima relatado, responda as seguintes questões: A. Classifique o tipo de pneumotórax e justifique sua resposta. Com relação ao caso relatado, o pneumotórax é do tipo traumático fechado simples. Traumático, pois o pneumotórax foi ocasionado devido ao atropelamento do cão; fechado, pois a parede torácica não foi perfurada nem lesionada e simples, dado que o acúmulo de ar não foi progressivo na cavidade pleural, tendo em vista que foram necessárias apenas 2 drenagens e tratamento com medicamentos durante 1 semana. Isso significa que houve pequenas lacerações no parênquima e cápsulas pulmonares e não, lesão extensa no pulmão, como citado no texto de apoio. B. O distúrbio hidroaéreo desenvolvido neste caso é a Atelectasia. Nesta situação, a Atelectasia pode ser classificada como obstrutiva ou compressiva. Por quê? Conforme explicado no texto de apoio, atelectasia é a expansão incompleta do pulmão. A atelectasia obstrutiva é a forma mais comum, decorrendo de uma obstrução total de alguma via respiratória. Já a atelectasia compressiva é causada por lesões pleurais, mediastinais ou pulmonares. Estas lesões ocupam espaço na cavidade torácica e, consequenemente, comprimem o parênquima pulmonar. Este é o caso que ocorre no pneumotórax, por exemplo. Como visto no caso relatado, o cão apresentou dispneia, ou seja, dificuldade de respirar e isso significa que houve obstrução das vias respiratórias. Este também apresentou no exame radiográfico seus pulmões com menores dimensões e coração com maiores dimensões, o que significa que seus pulmões estavam comprimidos. C. Explique a dispneia a partir das alterações de pressão intrapleural que se desenvolvem. A Dispneia é caracterizada como dificuldade de respirar, havendo respiração curta e lenta; já a pressão intrapleural é a encontrada na cavidade pleural. Neste caso, a dispneia pode ser explicada pelo acúmulo de ar preenchendo o espaço pleural, fazendo com que os pulmões se retraiam da pleura parietal e aparentem estar em menor tamanho, fazendo com que, assim, o coração se desloque na visão em decúbito lateral, dando a aparência de estar elevado ao esterno como nas imagens radiográficas apresentadas. D. Caso o animal tivesse evoluído para óbito, à necrópsia identificaríamos uma imagem macroscópica semelhante a abaixo, em tórax. Descreva o que é observado nesta figura e qual seria o aspecto microscópico. Macroscopicamente, os pulmões apresentam coloração vermelho escura por não ter havido separação das paredes alveolares por ar, o que dilui a coloração vermelha no pulmão normal. Microscopicamente, em se tratando de uma atelectasia adquirida devido ao atropelamento, a área afetada apresenta-se deprimida em relação ao restante da superfície do órgão, com coloração vermelho escura. Tal coloração se deve ao fato de que os capilares na área atelectásica encontram-se mais próximos uns dos outros do que no parênquima com conteúdo normal de ar. A área atelectásica tem consistência flácida com ausência completa de crepitação à palpação.
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