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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/321731172 Paradigma Inflexível - 2017: O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão. Conference Paper · April 2017 CITATIONS 0 READS 1,115 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Master View project Mobility and Resistance Exercise View project João C Moscão 1 PUBLICATION 0 CITATIONS SEE PROFILE José Vilaça Alves Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro 92 PUBLICATIONS 274 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by João C Moscão on 11 December 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/321731172_Paradigma_Inflexivel_-_2017_O_Treino_da_Flexibilidade_Tradicao_Pesquisa_e_Compreensao?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/321731172_Paradigma_Inflexivel_-_2017_O_Treino_da_Flexibilidade_Tradicao_Pesquisa_e_Compreensao?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Master-25?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Mobility-and-Resistance-Exercise?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Moscao?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Moscao?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Moscao?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jose_Alves14?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jose_Alves14?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_de_Tras-os-Montes_e_Alto_Douro?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Jose_Alves14?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Moscao?enrichId=rgreq-7800e4d163488d1592c0f338cb8d279c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyMTczMTE3MjtBUzo1NzA0MzQ2OTQ0NTUyOTZAMTUxMzAxMzYzNzI2Ng%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf “Paradigma Inflexível” O treino da flexibilidade: tradição, pesquisa e compreensão revisão 2017 João C. Moscão Revisão e prefácio: José Vilaça-Alves, PhD Advertência ao leitor O presente artigo está protegido ao abrigo do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos. A utilização não autorizada – além do uso como breve citação em artigos e críticas – pode configurar a prática de um crime de usurpação ou contrafação (arts. 195º e 196º do CDADC) para além de incorrer em irresponsabilidade civil conducente a um pedido de indemnização. João C. Moscão Diretor Pedagógico e Professor de formação na EXS – Exercise School Master Resistance Training Specialist (RTSM; EUA) Muscle Activation Certified Specialist (MAT; EUA) Personal Trainer Virgin Active Oeiras José Vilaça-Alves Doutor em Ciências do Desporto (UTAD) Mestre em Ciências do Desporto – Alto Rendimento (FADEUP-UP) Licenciatura em Educação Física e Desporto (ISMAI) Membro do Centro de Investigação em Desporto, Exercício, Saúde e Desenvolvimento Humano (UTAD) Lista de conteúdos: Prefácio .................................................................................................................................................................... 3 Sumário .................................................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................... 5 O que é flexibilidade? ........................................................................................................................................... 5 Correção da nomenclatura: mobilidade ........................................................................................................... 6 O que é o alongamento? ....................................................................................................................................... 6 Alongamento e mobilidade .................................................................................................................................. 8 Alongamento e força muscular ........................................................................................................................... 9 Alongamento e prevenção de lesões musculares ........................................................................................... 11 Alongamento e desempenho desportivo .......................................................................................................... 11 Efeitos do APE ..................................................................................................................................................... 13 Estruturais: Arquitetura ............................................................................................................................................... 13 Estruturais: Viscoelasticidade ...................................................................................................................................... 15 Neurais .............................................................................................................................................................................. 17 O PNF como alternativa ..................................................................................................................................... 18 O alongamento dinâmico como alternativa ................................................................................................... 20 Treino da mobilidade sem alongamento ......................................................................................................... 21 Paradigma alternativo ........................................................................................................................................ 24 Construção de um novo estímulo .....................................................................................................................25 Recomendações para o treino ........................................................................................................................... 27 Nota final ............................................................................................................................................................... 28 Agradecimentos .................................................................................................................................................... 28 Referências ............................................................................................................................................................ 29 Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 3 Prefácio Por José Vilaça-Alves O fitness, uma palavra anglo-saxónica que entrou nas nossas vidas, tem na sua génese não só o significado de estar em boa forma física mas também de ser saudável. Este estado, segundo a Organização Mundial de Saúde, pressupõem estar bem fisicamente, psicologicamente e socialmente. Desta forma, todas as atividades que pretendem fazer parte do conceito fitness devem ter em conta a melhoria da aptidão física, o incremento do bem estar psicológico e a promoção de uma integração social positiva. Dentro deste conceito de fitness surgiu um mercado que envolve um vasto número de agentes e de atividades que surgem como inovadoras e outras que são reinventadas. Contudo, na sua maioria, desaparecem à mesma velocidade vertiginosa com que aparecem no mercado. Esta situação pode ser considerada “normal dos nossos tempos”, em que o tempo parece passar cada vez mais rápido. Contudo, este aparecimento e desaparecimento constante de “novas” atividades e dos procedimentos nestas envolvidas cria uma elevada entropia. Desta forma, e tendo este mercado o ser humano como “objeto” de intervenção, julgo tornar-se importante em relação a estas atividades, às suas metodologias e procedimentos, e por esta ordem: i) parar; ii) observá-las; iii) questioná-las; iv) experimentá-las utilizando instrumentos validos e fiáveis; v) e efetuar deduções lógicas dos resultados obtidos, que podem levantar outras questões e, raramente ou por um golpe de genialidade, chegar-se a respostas conclusivas. Estes procedimentos tornam-se importantes para se tentar, com algum grau de certeza, distinguir quais as atividades que na realidade cumprem os requisitos para serem consideradas parte do fitness, ou seja a promoção de uma boa forma física que permita que o sujeito que a pratica seja saudável. Estes procedimentos fazem parte do método científico, que aliás na minha opinião não é mais do que a lógica aplicada à ciência. Contudo, o tempo que leva à sua concretização nem sempre é o tempo do “mercado do fitness”. Isto não quer dizer que não deva ser feito, aliás deve estar em constante realização. Pois, se não for efetuado, pode levar à aceitação de determinados conceitos e procedimentos como leis supremas e inquestionáveis que podem levar à ineficácia, e pior ainda, prejudicar a saúde daqueles que procuram a prática de exercício físico como meio privilegiado para melhorar a sua saúde e a sua qualidade de vida. Dentro deste espírito, inquieto e refletivo, o João Moscão, escreveu este artigo, “Paradigma inflexível”, refletindo sobre desenvolvimento da capacidade motora flexibilidade e as técnicas utilizadas para o efeito. O autor expressa num texto claro e fundamentado os resultados expressos na literatura científica e na lógica de interpretação dos seus resultados, bem como na lógica do seu pensamento. Não interpreta o desenvolvimento desta capacidade de uma forma isolada mas dentro de todo o contexto, complexo mas real, do movimento humano. Em sentido metafórico, procura, de modo a conhecer a floresta, conhecer a árvore, nunca a retirando do seu real contexto que é a floresta. Desta forma, traz para o conhecimento dos alunos que frequentam a Formação Contínua da EXS – Exercise School como se processa e quais os intervenientes na melhoria e manutenção da amplitude articular fisiológica do ser humano. Igualmente, corta com conceitos ultrapassados de desenvolvimento da flexibilidade, nomeadamente da supremacia do uso do alongamento passivo na prevenção de lesões e da importância dos músculos antagonistas do movimento na amplitude articular. Por fim, faz recomendações para se desenvolver esta capacidade motora de forma efetiva, indo de encontro ao conceito puro do fitness ajudando, assim, a diminuir a entropia existente. Aconselho uma leitura ativa deste artigo de forma refletida, como todas devem ser, mas com a mente receptiva a absorver novos conceitos, embora estes possam deixar o leitor mais inquieto. José Vilaça-Alves Póvoa de Varzim, Portugal Julho, 2016 Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 4 Sumário O presente artigo expressa uma opinião fundamentada, com recurso a dados científicos e à lógica. Foi elaborado e registado em 2013 e lançado a público no âmbito da Formação Contínua da EXS – Exercise School, fazendo parte da documentação de apoio entregue aos alunos. Entretanto foi revisto em 2016, conjuntamente com o Professor José Vilaça-Alves, e novamente em 2017, onde se acrescentou algumas secções de texto e a pesquisa científica atualizada. Problema: A capacidade motora designada de flexibilidade é uma componente importante do movimento humano e consequentemente do fitness físico. Contudo, a forma de desenvolvimento desta capacidade não tem sido consensual, principalmente no que respeita às causas da sua pouca expressividade. Habitualmente, esta tem sido atribuída à falta de extensibilidade muscular antagonista e não às possíveis debilidades na capacidade de coordenação entre a musculatura agonista, antagonista e sinergista do movimento que confere o arco articular analisado. Desta forma, a utilidade do alongamento do tipo passivo estático, aplicado à musculatura antagonista, com o objetivo do aumento da amplitude do movimento articular (entre outros objetivos), embora seja a intervenção mais utilizada, tem sido colocada em causa. Assim, o objetivo do presente artigo foi efetuar uma reflexão crítica sobre esta problemática tendo como base o raciocínio lógico e a revisão da literatura científica. Será dado enfâse aos efeitos do treino da flexibilidade: nos níveis de força, na prevenção de lesões, no desempenho desportivo e na estrutura e função muscular. Será, igualmente, efetuado uma reflexão sobre o efeito das diferentes técnicas de treino da flexibilidade, tais como a facilitação neuromuscular proprioceptiva (PNF) e a dinâmica. Serão abordados os efeitos do treino com resistências na flexibilidade e na capacidade de produzir força. Recursos bibliográficos: Para o efeito foram utilizados manuais de referência na área da prescrição de exercício e revistos cerca de 60 artigos científicos, entre eles 9 revisões sistemáticas, que relacionam alongamento e/ou treino com resistências com as capacidades motoras flexibilidade e força, no desempenho desportivo, na prevenção ou incidência de lesão, na estrutura e na função neural muscular. Os estudos usados apresentam probabilidade de erro inferior a 5%. Conclusões: Tendo como base a revisão da literatura científica consultada e a reflexão lógica efetuada sobre a mesma, concluímos que o alongamento do tipo passivo estático pode não ser útil na obtenção de flexibilidade ativa (funcional), e mesmo que seja, comportará sempre uma diminuição dos níveis de força muscular – à custa de alterações estruturais e neurais negativas. O aumento da extensibilidade muscular, e o consequente incremento de amplitude articular, que é verificado com o treino de alongamento, é maioritariamente causado por inibição neural aferente e eferente.São verificadas alterações nas propriedades estruturais musculares, tais como a viscoelasticidade ou o comprimento, que apesar de contribuírem também para o acréscimo de amplitude articular (em menor relevância que os efeitos neurais), também detêm potencial negativo nos níveis de força. O alongamento pode ter um efeito negativo no desempenho desportivo, não previne lesões e os aumento de flexibilidade que gera, passivos apenas, não transferem para a amplitude funcional. O treino com resistências pode melhorar a flexibilidade ativa, mesmo com o uso de contrações musculares isométricas, e permite ganhos superiores nos níveis de força quando comparado com o treino de alongamento. A combinação de ambos os tipos de treino – com resistências e alongamento na mesma sessão – não é relevante o suficiente para que se considere um método superior a sessões apenas com treino com resistências. As diretrizes do ACSM, no que concerne ao treino da flexibilidade, são incoerentes e não deverão ser seguidas. Aplicações práticas: Por definição e bom uso da língua portuguesa, o termo flexibilidade deverá ser substituído por melhor termo, um que expresse realmente a qualidade física que se manifesta em amplitude de movimento articular. O termo correto deverá ser mobilidade. É sugerida uma origem alternativa para a sua diminuída expressão, nomeadamente a falta de controlo da musculatura agonista. O autor defende o treino com resistências como método superior ao alongamento, no treino da mobilidade ativa, ganhos de força e prevenção de lesões. O cumprimento das diretrizes tradicionais de prescrição do treino com resistências, tal como apresentadas pelo ACSM, apresenta-se como suficientes para tal efeito. Contudo, recomendações mais concisas e menos generalistas são aqui descritas, ainda que seja necessário mais pesquisas para clarificar os parâmetros ideais de construção dos exercícios para o objetivo pretendido. Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 5 Introdução Antes de prosseguir é de fulcral importância que o leitor saiba discernir os conceitos de flexibilidade e alongamento. Flexibilidade é uma qualidade física mensurável, alongamento é uma intervenção, que tenta a deformação dos tecidos para a obtenção de melhorias na flexibilidade. A flexibilidade é uma qualidade física das componentes do fitness físico (ACSM, 2014). Fitness físico é o conjunto de atributos ou características necessárias ao desempenho de atividade física, sendo a flexibilidade uma componente relacionada com a saúde (ACSM, 2014). É frequente que a falta de flexibilidade seja atribuída à grande resistência que os músculos antagonistas de um determinado movimento oferecem ao alongamento. Consequentemente, é tradição incluir práticas de alongamento na prescrição do treino, com vista à redução deste “excesso” de resistência. Este modelo é um paradigma comum na área profissional da motricidade Humana e é perpetuado pelas diretrizes de prescrição do treino da flexibilidade, já que, desde há muito, é recomendada a inclusão do alongamento nos programas de exercícios de treino para todos os adultos (ACSM, 2006; ACSM, 2010; ACSM, 2011; ACSM, 2014). Para perceber se existe realmente esta relação de causa e efeito – entre alongamento e obtenção de melhorias no Fitness físico – quer na flexibilidade quer noutras componentes, iremos explorar as suas definições, relacioná- las com a fisiologia neural, articular e muscular e com as emergentes pesquisas científicas nesta matéria. Antes de partirmos para este assunto é importante salientar que o treino da flexibilidade, sendo assumido como essencial ao bom funcionamento motor, é visto como imprescindível à optimização da função músculo-articular. Esta prática é exercida maioritariamente por via de alongamentos do tipo passivo estático, antes, durante ou após as sessões de treino em contexto desportivo ou de fitness. A juntar aos possíveis benefícios na flexibilidade, são também atribuídos ao alongamento uma série de outros benefícios, de certa forma relacionados com a melhoria da função motora. Apesar desta manifesta importância metodológica atribuída às técnicas de alongamento, muitas questões se levantam. A real eficácia dos métodos tradicionalmente usados para melhorar a flexibilidade hoje, mais que nunca, são questionados. Desta forma, com o auxilio da literatura científica e da reflexão lógica, será abordado neste artigo a eficácia, ou não, do uso dos alongamentos, nomeadamente do tipo passivo. Serão apresentados somente resultados com uma probabilidade de erro inferior a 5% (p<0,05) e, para melhor transferência dos resultados para a prática, algumas vezes serão apresentadas variações percentuais e a magnitude dos efeitos decorrentes de cada método de treino, com base na escala de Hopkins, como trivial, baixa, moderada, alta ou muito alta (Flanagan, 2013). Tentaremos introduzir uma visão diferente da habitual, não esquecendo que cada um é detentor do livre arbítrio necessário ao seu próprio rumo técnico e profissional. Afinal de contas o treinador deverá ser o detentor de toda a informação acerca do seu treinando de forma a que a prescrição do exercício físico melhor se adeqúe ao mesmo. Desta forma, o principal objetivo do presente artigo é fomentar nos profissionais do exercício físico e saúde a não arbitrariedade da prescrição do treino e uma lógica que pode fazer diferença positiva na saúde e desempenho motor daqueles que procuram os seus serviços. O que é flexibilidade? A flexibilidade, segundo ACSM (2014), é a habilidade de mover uma articulação através da sua amplitude de movimento. É considerada uma qualidade física com importância no desempenho atlético e quotidiano (ACSM, 2014), e a sua melhoria faz-se pelo aumento da amplitude máxima de movimento articular (Freitas, 2010). Os níveis de flexibilidade dependem de muitos fatores, entre eles a herança genética, idade, sexo e estilo de vida (Júnior, 2004 e Freitas, 2010). Existe alguma correlação entre os níveis de flexibilidade, bem como o potencial de aquisição da mesma, e a hereditariedade, havendo estudos que demonstram índices de flexibilidade herdada entre os 48% e os 91% (Júnior, 2004). Ainda que seja difícil dissociar a idade do estilo de vida, por estarem na nossa sociedade intimamente relacionados, sugere-se que os níveis de flexibilidade diminuem com o envelhecimento – aumentam até à adolescência e depois diminuem – contudo é bem provável que ambos os fatores, idade e estilo de vida, contribuam para este decréscimo (Júnior, 2004). No que diz respeito à idade, sugere-se que a diminuição da flexibilidade com o envelhecimento poderá ter causa em alterações histológicas e neurais, nomeadamente no aumento da rigidez do tecido conjuntivo intra-muscular e uma desenervação e perda das fibras musculares (Júnior, 2004 e Freitas, 2010). A diferença entre os níveis de flexibilidade entre homens e mulheres é evidente, sendo o sexo feminino o que apresenta índices mais elevados em todas as faixas etárias. Esta diferença poderá ser reflexo de diferenças hormonais e histológicas, mas também é certo que na nossa sociedade as mulheres ainda levam a cabo atividades motoras diferentes dos homens, principalmente durante a infância e adolescência (Júnior, 2004). Mesmo assim, apesar das pesquisas científicas indicarem correlação entre sexo/idade e flexibilidade, observando-se um potencial de melhoria menor no sexo masculino e com o avançar da idade, estes dois fatores são secundários na evolução desta qualidade do fitness físico, já que o seu desenvolvimento é possível nos dois sexos e em todas as idades (Júnior, 2004). Quanto ao estilo de vida, pessoas fisicamente ativas apresentam mais flexibilidade que as sedentárias. Neste campo, a profissão e os hábitos desportivos são determinantes,já que diferentes profissões e desportos configuram diferentes características biomecânicas (Freitas, 2010). A sua expressão depende de múltiplos fatores, divididos em estruturais e neurais (passivos e ativos, respectivamente). Os fatores estruturais são principalmente referentes à composição histológica do tecido muscular (incluindo fáscias e mísios) bem como ao seu comprimento. Os fatores neurais dizem respeito ao controlo nervoso da mobilidade humana, portanto toda a função eferente (sistema nervoso Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 6 central para periférico) e aferente (sistema nervoso periférico para central). Quer os factores estruturais quer os neurais, ambos modulam a resistência que o músculo oferece ao alongamento, condicionando assim a flexibilidade, por via da tensão que este desenvolve, passiva e/ou ativa. Por este motivo a flexibilidade é tradicionalmente relacionada com a propriedade muscular que expressa a sua capacidade em alongar – extensibilidade – sendo que uma menor extensibilidade muscular origina uma diminuição na flexibilidade. O nível de flexibilidade é geralmente medido como amplitude de movimento (ADM) – em radianos ou graus, uma vez que as articulações se deslocam essencialmente em movimentos de rotação –, efetuada geralmente com recurso a um goniómetro e representa a amplitude de excursão que um dada articulação demonstra num dado momento. Os protocolos usados são variados e específicos para cada articulação e direção de movimento, havendo valores normativos (ACSM, 2014), para toda a população, ou tendo como referência o outro lado do corpo (procurando assim assimetrias). Na eventual presença de níveis considerados indesejados (classificação que varia imenso conforme a metodologia) o treinador, habitualmente, procede à prescrição de exercícios de alongamento. O alongamento incide, por noma, sobre os músculos antagonistas do movimento limitado, por apresentarem pouca extensibilidade (e.g. alongamento dos extensores da anca, aquando da limitada ADM observada na flexão da anca). Assim nasceu, no mercado do fitness, o paradigma que associa o alongamento dos antagonistas à melhoria da flexibilidade. Mas será que a ciência corrobora esta relação? Será o alongamento benéfico para a melhoria do fitness físico? Que efeitos tem o alongamento noutras qualidades motoras, por exemplo na força muscular? Haverão outras técnicas de treino que possam providenciar melhorias na flexibilidade, sem recurso ao alongamento? Estas e outras questões serão respondidas ao longo deste artigo de forma a clarificar os efeitos desta popular intervenção. Correção da nomenclatura: mobilidade Usualmente aparece nos livros de referencia das ciências do desporto, exercício e do movimento humano a nomenclatura flexibilidade como descritivo desta qualidade física. Contudo, julgo que esta nomenclatura está incorreta. Recuemos um pouco! O que é realmente flexibilidade? No dicionário da língua Portuguesa é “qualidade daquilo que é flexível”, sendo flexível algo “que se dobra ou verga facilmente sem quebrar”. Na realidade a origem etimológica da palavra flexível é flexibilis (do latim), que por sua vez é o adjetivo atribuível a algo que é capaz de estar flectido, do latim flecto (curvo) com abilis (capaz). A mobilidade humana não acontece em função do encurvamento de estrutura alguma, pois relaciona segmentos (ossos) que não são flexíveis, portanto não é flexível! As articulações humanas desempenham o seu movimento em torno de eixos (movimento rotacional) e a amplitude de movimento observada, tal como o nome sugere, depende do ato de mover. Mover (do latim movere), no dicionário da língua portuguesa, pode ser designado como “andar em torno de um eixo”. Agora sim, qual a qualidade do que é móvel? Mobilidade. E a mobilidade é gerada com recurso à “...interação entre a função muscular e os sistemas de alavancas articulares sob o controlo do sistema nervoso.” (Levangie e Norkin, 2011). A mobilidade depende da alteração da posição articular e é o resultado observável da interação muscular agonista e antagonista, expresso em ADM. Assim, usarei daqui em diante o termo mobilidade, em vez de flexibilidade, para me referir à ADM que os demais autores expressam em seus artigos científicos – exceção será nas citações propriamente ditas. O que é o alongamento? O alongamento, por ser definido como “...aumento da distância entre dois pontos de um determinado material...” (Freitas, 2010:21), acontece em todo o exercício físico que aumente a distância entre dois pontos de um determinado tecido. Olhando para o músculo em particular, será um exercício que afaste as suas inserções nos segmentos ósseos. Com isto, qualquer exercício de treino de força preenche os requisitos de inclusão nesta definição. Uma vez que a cada encurtamento muscular teremos um alongamento do lado oposto da articulação que se move, cada repetição é um alongamento muscular dos antagonistas desse movimento. Tomemos como exemplo um bench press. Não é de todo considerado, pela comunidade de profissionais de exercício físico, um exercício de alongamento. Contudo cabe nesta definição: a cada ação concêntrica dos adutores horizontais do ombro (e.g. grande peitoral e deltoide anterior) obtemos o afastamento das inserções dos seus antagonistas (e.g. deltoide posterior e pequeno redondo). Do ponto de vista biomecânico, e de acordo com a definição de alongamento, o bench press é um exercício de alongamento dos músculos posteriores do ombro, sempre que empurramos a barra. Mas então porque não é considerado como tal? Que características particulares tem de ter o exercício para ser designado de alongamento? Se elevar o braço à sua frente, até ficar paralelo ao solo (90 graus de flexão do ombro), e depois executar abdução horizontal a 45 graus, chamaria a isto um alongamento do grande peitoral? Provavelmente não. Mas se continuar a abduzir no plano horizontal até ser difícil continuar a mover, agora sim, a maioria dos treinadores já designaria o exercício de alongamento. Isto quer dizer que o único factor que determinou a designação de alongamento foi o ter-se atingido uma posição de limite músculo-articular, muitas vezes associada a uma sensação de “...tensão ou leve desconforto...” (ACSM, 2014:214). Posição esta, em que os músculos antagonistas desenvolvem uma tensão limitativa e manifestam a tal falta de extensibilidade. Podemos dizer que é, manifestamente, uma prática que se relaciona com os limites do movimento. Portanto, assume um cariz de risco, perante uma limitação imposta passiva e/ou ativamente – oriunda dos fatores musculares estruturais e neurais, respetivamente. Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 7 Dentro dos vários tipos de alongamento que existe, destaca-se um que é prática comum na área do fitness, bem como no treino desportivo em todos os níveis competitivos, o alongamento passivo estático. Por alongamento passivo estático (APE) entenda-se: uma ação que provocou distanciamento das inserções musculares por meio de uma força externa ao músculo alongado, sem recurso à contração voluntária dos músculos agonistas desse movimento (dai passivo), “...até à obtenção da amplitude articular máxima” (Freitas, 2010:164) e que, ao se encontrar este limite articular, o músculo é mantido nessa posição de alongamento durante um determinado tempo – as recomendações para a duração variam, sendo 2 a 4 repetições diárias, de 10 a 60 segundos de duração, o valor recomendado pelo ACSM (2014), após as pesquisas sobre a dose-resposta terem concluído que durações superiores a 60 segundos aumentavam demasiado os efeitos negativos do APE. Nesta definição estão incluídos exercíciosde alongamento em que se usa um objecto externo, tais como uma parede ou step, as intervenções em que o treinador ou uma máquina automatizada manipulam a articulação, ou mesmo quando o mesmo sujeito faz recurso de um braço para alongar o outro. A ADM resultante de um APE é designada de amplitude de movimento passiva (ADM passiva). A diferença entre ADM passiva e ADM ativa são as forças que as originam. Na passiva a articulação é manipulada e o músculo é alongado por forças externas a ele mesmo, por exemplo: uma máquina – é uma ação involuntária. Já na ADM ativa a articulação é movida e o músculo alongado por ação dos agonistas do movimento, por exemplo: alongamento do bíceps brachii como resultado da ação concêntrica do triceps brachii – neste caso a ação é voluntária. Portanto, a ADM ativa é voluntária e a ADM passiva é, na maioria das vezes, involuntária – exceção feita ao APE de um grupo muscular de um braço com recurso à ação do outro braço que, apesar ser uma ação voluntária, considera-se APE por a força que originou o alongamento ser externa ao músculo alongado. Posto isto, embora não seja o objetivo principal dos exercícios de treino de força, devido à ação de controle do movimento dos músculos antagonistas do mesmo, se possa considerar, igualmente, um exercício de alongamento ativo, resultando numa ADM ativa. Se a diferenciação estiver a ser feita somente pelo facto do praticante ter ou não um haltere na mão, então lembro que há sempre resistência externa mesmo sem o haltere, o peso dos segmentos ósseos! No entanto existem exercícios de treino de força e exercícios de alongamento ativo! Contudo, ambos são exercícios de treino com resistências (TR), pois as forças musculares internas tentam opor-se às externas (o haltere ou o peso dos segmentos ósseos são externos ao músculo agonista). Aliás, a definição de alongamento ativo dada pelo ACSM é a seguinte: “...manutenção da posição de alongamento usando a força do músculo agonista como é comum em muitas formas de yoga.” (ACSM, 2014:213) Esta definição de alongamento ativo é incoerente, pois é, em essência, a definição de TR isométrico – e sim, o yoga, nesta definição, deverá ser considerado TR isométrico com o peso corporal. Abordar a definição de alongamento à luz da biomecânica, prova que esta divisão foi originada pela ignorância – que nada de mal tem, simplesmente não deve ser mantida assim que compreendida e desconstruída. Aproveito para fazer uma breve referencia ao tipo de alongamento dinâmico (AD), que é do tipo ativo, mas com múltiplas repetições e, também este, em nada difere do TR. Seja como for, o APE é a mais comum intervenção no treino da mobilidade e, quer no âmbito recreativo quer competitivo é, quase que inquestionavelmente, usado com os seguintes objectivos: • Aumentar a mobilidade • Promover mais ganhos de força muscular • Prevenir lesões musculares • Melhorar o desempenho desportivo. Diversos autores salientem esta atribuída importância nas introduções dos seus estudos de revisão: “Muitas pessoas alongam antes e após o envolvimento em atividades atléticas (...) para reduzir o risco de lesão, ou para melhorar o desempenho atlético.” (Herbert e Gabriel, 2002) “...muitos clínicos e autores aconselham atualmente o alongamento para a prevenção de lesões (...) muitos autores também recomendam o alongamento para melhorar o desempenho.” (Shrier, 2004) “Alongar antes da participação em atividades atléticas é uma prática estandardizada para todos os níveis de desportos, competitivos ou recreativos. Atletas, treinadores, instrutores, fisioterapeutas e médicos recomendam o alongamento na tentativa de prevenir a lesão e desenvolver o desempenho.” (Thacker e col., 2004) “Executar uma rotina de alongamentos, antes da principal sessão de exercícios, tal como o treino de força, é prática comum entre atletas, treinadores e praticantes recreativos. A juntar a isto, os exercícios de alongamento têm sido recomendados em muitos manuais para o aclamado propósito de prevenir lesões (...) ou mesmo melhorar o desempenho.” (Rubini e col., 2007) “O alongamento é habitualmente praticado antes da participação em desportos (...) Os propósitos intencionais do alongamento antes de evento atlético são: garantir que o individuo tem amplitude de movimento suficiente (...) diminuir o risco de lesão. Por isso tem como intensão afectar o desempenho e o risco de lesão.” (McHugh e Cosgrave, 2010) “...o alongamento muscular estático é a mais comum forma de alongamento pré-exercício usada em populações clinicas, normais e atléticas...” (Kay e Blazevich, 2012) “O uso do alongamento nos programas de treino de atletas recreativos e competitivos tem historicamente sido uma trivialidade.” (Peck e col., 2014) Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 8 “O alongamento passivo estático é considerado um método efetivo para aumentar a amplitude de movimento, habitualmente pensa-se que melhora o desempenho e reduz a incidência de lesões. É, por isso, comummente executado em rotinas pré-atividade.” (Behm e col., 2016) Antes de prosseguir é importante distinguir dois conceitos, que relacionam estas melhorias com o tempo esperado para a sua ocorrência. Serão analisadas respostas de 2 tipos: agudas e crónicas. Quando estudando os efeitos agudos do alongamento estaremos a analisar o que acontece como resposta imediata a uma única intervenção, ao passo que os efeitos crónicos são os efeitos que advém da repetição sucessiva dessa intervenção (geralmente durante várias semanas). Numa popular revisão, Shrier (2004) analisou os efeitos agudos e crónicos do alongamento (APE e PNF) na força, desempenho desportivo e atividade neural (as três categorias agrupadas numa só, designada pelo autor por desempenho motor). O autor concluiu que o alongamento não gerou efeitos agudos positivos alguns. Na verdade os efeitos agudos foram negativos – diminuiu os níveis de força, velocidade, altura do salto e de atividade neural nos músculos alongados, em diversas populações de várias faixas etárias de homens e mulheres, treinados e sedentários. No entanto, quando praticado regularmente, os seus efeitos crónicos foram positivos – aumentou os níveis de força. Apesar do alongamento não se ter demonstrado positivo nos outros parâmetros analisados, também não foi negativo. O autor concluiu que o alongamento antecedente ao exercício diminui a produção de força e a velocidade de contração. Mas, se praticado regularmente, produz os feitos precisamente opostos, melhorando a produção de força e a velocidade de contração. Assim, declarou que “...o alongamento imediatamente antes do exercício diminui os resultados no desempenho (...) Portanto, se formos alongar, que o façamos após o exercício, ou numa altura não relacionada com o exercício...” (Shrier, 2004). Entretanto, já recentemente, numa revisão acerca dos efeitos crónicos da prática de alongamentos na força muscular e desempenho desportivo (que os autores incluíram numa só categoria, designada por desempenho muscular), Medeiros e Lima (2017), analisaram todos os estudos, publicados até à data, que cumpriram os critérios de inclusão. Verificaram que metade dos estudos analisados demonstrava haver benefícios decorrentes da prática frequente de alongamento (incluíram na análise vários tipos de alongamento, APE, AD e PNF). Mesmo assim, acerca destas melhorias reportadas, os autores advertiram: “...a qualidade metodológica dos estudos incluídos é questionável, e os seus resultados controversos devem ser levados em conta.” (Medeiros e Lima, 2017) Esta afirmação é justificada pela análise do risco de enviesamento desses mesmos estudos, pela qual os autores concluíram que “nenhum dos estudos incluídos apresentou todos os itens na análise do risco de enviesamento.É crucial que futuras investigações mostrem maior preocupação acerca da validade interna, de forma a melhorar a fiabilidade dos dados.” (Medeiros e Lima, 2017). Aparentemente, os efeitos agudos do alongamento na força e desempenho desportivo são negativos, e os crónicos parcialmente positivos, embora os estudos que os suportam não apresentem um desenho metodológico adequado. Entremos então na análise crítica acerca da relação do alongamento com a mobilidade, a força, a lesão e o desempenho desportivo – quer nos seus efeitos agudos quer crónicos. Alongamento e mobilidade O primeiro objectivo proposto é mais ADM, i.e. mais mobilidade. Porque precisaremos de mais amplitude? Uma maior ADM é tida pelos treinadores como um benefício, ou seja, terá uma relação direta com uma melhor função motora. É fácil aceitar esta premissa, as articulações móveis estão “desenhadas” para proporcionar graus de liberdade que, se não forem usados, diminuirão progressivamente. Mas será que mais é sempre melhor? “...porque a maioria das lesões ocorre durante contrações excêntricas dentro da normal ADM articular, não está claro como é que o aumento da ADM através do alongamento pode reduzir o risco de lesão.” (Thacker e col., 2004) Aparentemente ter limites mais além poderá não servir de muito. Neste caso, segundo a pesquisa mencionada, não haveria um benefício direto da obtenção de mais ADM. Aliás, Magnusson (1998) sugeriu ser possível que indivíduos com mais mobilidade, cujos músculos se apresentem com maior extensibilidade, venham a ter um maior risco de lesão, já que esta musculatura pode providenciar uma maior ADM às articulações que cruza e, por isso mesmo, atingir níveis de maior tensão muscular no limite. Mais poderá não ser sempre melhor. Apear disto, é possível que os ganhos de ADM possam ter um efeito indireto, mas benéfico, na função articular. Mas que tipo de ADM é realmente útil ao bom funcionamento motor? Passiva ou ativa? Ao procurar obter um determinado efeito do treino, neste caso mobilidade, teremos de instrumentalizar o princípio da especificidade. Segundo ACSM (2006), os efeitos derivados de um programa de exercício são específicos para os exercícios executados. Portanto os exercícios só serão considerados específicos para a melhoria da mobilidade se os seus efeitos forem mais ADM, passiva ou ativa. Considerando o APE, é de esperar que os maiores ganhos sejam passivos, ou seja, ganhos de amplitude verificada sob ação de forças externas – uma ADM mais involuntária que voluntária. Contudo, a função articular normal está dependente da capacidade voluntária de controlar ativamente o movimento. Talvez por este motivo, a ADM ativa é por vezes, indiscutivelmente, designada de funcional (Sharman e col., 2006; McHugh e Cosgrave, 2010). Assim, leva-nos a questionar se através da ADM passiva se consegue melhorias nos padrões de movimento funcionais? Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 9 Moreside e McGill (2013) submeteram um grupo de indivíduos a 6 semanas de APE na articulação da anca (coxo-femoral), com uma periodicidade de 4 sessões por semana. De uma forma geral a intervenção originou ganhos de ADM passiva nos movimentos de extensão e rotação. Contudo, a ADM funcional não teve alterações significativas, na verdade até diminuiu ligeiramente na anca, o que obrigou ao aumento de ADM funcional em movimentos da coluna, provavelmente como compensação. A conclusão dos autores é bastante explicita: “...a amplitude ganha passivamente não transfere para padrões de movimento funcional...” (Moreside e McGill, 2013). Portanto, os ganhos de ADM passiva podem não nos ajudar de uma forma direta. Contudo o APE pode despoletar ganhos de ADM ativa mas, como veremos mais a diante neste artigo, não é o tipo de treino que melhor se adequa a tal efeito. Apesar do anterior disposto, é desde já importante referir que a origem dos ganhos de ADM decorrentes do APE tem sido remetida, desde há muito, para duas possíveis origens (ambas descritas de forma mais detalhada na secção: Efeitos do APE): • Aumento da tolerância ao próprio alongamento – fenómeno com origem nas alterações da informação neural aferente. Algo que, a verificar-se, não será sinal algum de melhoria... • Aumento do comprimento muscular – fenómeno que coloca o tecido muscular em desvantagem contráctil e, por isto, também tem sido associado à perda de força gerada pelo APE. Novamente, a verificar-se, não será sinal de melhoria alguma... Alongamento e força muscular Em 2007, Rubini e col., no seu artigo de revisão da literatura científica sobre os efeitos agudos do alongamento nos níveis de força, registaram decréscimos significativos, em média de 16%, decorrentes do APE. Posteriormente, McHugh e Cosgrave (2010), numa revisão semelhante, determinaram que as perdas de força vão em média dos 8% aos 22%, consoante a duração total da intervenção com APE, corroborando com as conclusões de Rubini e col. (2007). Em revisão similar, Kay e Blazevich (2012), determinaram que os níveis de força só são comprometidos quando a duração total do alongamento (número de repetições vezes a duração de cada repetição) é igual ou superior aos 60 segundos, sendo que com o uso de tempos inferiores a 30 segundos, aparentemente, os níveis de força não são comprometidos. De referir que as revisões de Rubini e col. (2007) e McHugh e Cosgrave (2010), são baseadas no desempenho da força medida de forma concisa e especificamente nos músculos que foram alongados. Ao passo que na revisão de Kay e Blazevich (2012) foram acrescentados estudos que avaliaram o efeito do APE no desempenho motor integrado, portanto tarefas que requerem mais articulações e músculos além dos que foram submetidos ao alongamento, tais como o salto vertical, corrida e lançamento de bola medicinal. Desta forma, talvez os efeitos decrementais do APE, observados nos estudos revistos por Kay e Blazevich, (2012), possam ser só evidentes quando a duração da intervenção excede o aconselhado, podendo o organismo humano, com tempos de APE mais baixos, ainda demonstrar capacidade para suprir a inibição da força causada somente num ou dois grupos musculares. Este modo de medição da força, pelo desempenho integrado, dificulta o julgamento dos efeitos na força dos músculos que sofreram o APE. Mesmo assim, não se notaram melhorias significativas nos níveis de força com duração alguma (Kay e Blazevich (2012). Mais recentemente, Matsuo e col. (2013), investigaram novamente os efeitos agudos do APE e colmatam a lacuna de julgamento anteriormente referida. Verificaram uma redução significativa nos níveis de força dos músculos alongados, quer a intervenção efetuada por APE tenha durado um total de 20, 60, 180 ou 300 segundos (mesmo gerando mais ADM passiva). Os autores apontam ainda, como possível causa deste défice de força, uma inibição neural aferente (o que pode estar na origem da redução de atividade dos músculos alongados, e dos ganhos de ADM). Aliás, um dos estudos referidos por Kay e Blazevich (2012) reportou uma diminuição significativa dos níveis de força com concomitante diminuição da atividade muscular após 3 repetições de APE, quer a duração fosse 30 quer 60 segundos cada e, novamente, sugerem a tal inibição neural aferente (Rossi e col., 2010). É importante referir que os testes de força usados em pesquisas científicas, são habitualmente feitos com recurso a exercícios idênticos aos tradicionalmente prescritos no TR. Este facto impele-nos a interrogar se este défice de força afecta do mesmo modo indivíduos com distintos níveis de experiência de treino. Desta forma, Serra e col. (2013) testaram esta hipótese com 2 grupos de indivíduos. Um grupo com no mínimo 12 meses sem participar em qualquer tipo de treino e outro grupo desujeitos com experiência em TR (mínimo 6 meses de treino, com um mínimo de 6 treinos semanais de 60 minutos). A intervenção com APE foi em 3 repetições de 30 segundos de duração aplicada aos músculos agonistas dos testes de força usados. No final do estudo foi concluído que ambos os grupos demonstraram uma redução semelhante na força muscular. Portanto, a depressão que o APE provoca nos níveis de força é independente da experiência do indivíduo. Behm e col. (2016) levaram a cabo uma revisão que incluiu 188 intervenções com APE e respetivas medições dos níveis de força, antes e depois. Os resultados apresentam uma diminuição da força em 42% dos estudos analisados, sugerindo que o APE tem um efeito negativo nesta capacidade motora. O APE só provocou aumento da força em 1% dos estudos analisados – portanto positivo – os restantes 57% não demonstraram nenhuma alteração nos níveis de força – portanto irrelevantes. De salientar que foram observados, no estudo anteriormente referido, efeitos agudos do APE negativos e irrelevantes, mesmo com durações inferiores a 60 segundos. Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 10 Assim, está claro que o APE diminui os níveis de força de forma aguda, ou pelo menos não os aumenta, o que não favorece a prática desportiva ou recreativa de exercício após a sua intervenção. Na verdade o ACSM, apesar de não desaconselhar expressamente a prática de alongamentos antes da fase de condicionamento – do treino propriamente dito – admite que “os exercícios de alongamento podem resultar numa diminuição imediata, de curta duração, na força muscular...” (ACSM, 2014:186) Quanto aos efeitos crónicos do APE nos níveis de força, Worrel e col. (1994), demonstraram ser possível obter ganhos médios de força na ordem dos 11% nos flexores do joelho. Isto após 3 semanas de APE neste grupo muscular em ambas as pernas (4 repetições de 20 segundos, em 5 dias da semana). Os ganhos foram significativos, contudo estes resultados podem ter sido mal interpretados. O alongamento, que foi a flexão passiva de ambas as ancas na posição de pé, com o joelho em extensão máxima, recorrendo a uma mesa para apoiar o calcanhar da perna a alongar enquanto a outra perna, no chão, suportava o peso do corpo, faz com que ocorra uma contração isométrica (em igual volume de tempo) do membro inferior mantido no solo, enquanto o outro era sujeito ao APE. O que pode sugerir que os ganhos de força possam ter resultado da isometria e não do APE. Como em todas as matérias de estudo, é necessário conhecer bem o tipo de intervenção que se está a aplicar aos atletas ou clientes, de forma a poder determinar qual foi realmente a origem da melhoria. Indo de encontro à análise por nós efetuada sobre o estudo anteriormente referido, Kakkonen e col., (2007), é um excelente exemplo de que os resultados divulgados nem sempre são o que parecem ser (e de certa forma responde à dúvida que o estudo anterior levanta inadvertidamente). Os autores submeteram um grupo de indivíduos inativos, ou no máximo com nível de experiência recreativo, a um programa de 15 alongamentos em ambas as pernas (40 minutos por sessão, 3 sessões por semana, durante 10 semanas). No final do estudo os ganhos médios de força foram significativos (cerca de 24%). Neste caso em particular os autores manifestaram o devido discernimento, da biomecânica da intervenção, e salvaguardaram que: “...a melhoria vista neste estudo pode não estar relacionada com os exercícios de alongamento. É possível que os ganhos de força em cada perna tenham sido resultado das contrações musculares da perna não alongada que é usada para estabilizar o corpo durante o alongamento.” (Kakkonen e col., 2007) Talvez tenha sido este tipo de confusão metodológica que tenha dado origem ao mito de que o uso repetido do APE é fundamental para potenciar os ganhos de força. Entretanto, algo ainda mais interessante foi verificado por LaRoche e col. (2008). Os efeitos crónicos que o APE desencadeia nos níveis de força máxima, poderão ser idênticos a não os fazer! Esta investigação demonstrou que um programa de 10 alongamentos (30 segundos cada, repetido em 3 sessões por semana por 4 semanas de duração), gerou praticamente os mesmos ganhos de força que o grupo de controlo (que não fez nenhum exercício físico durante esse período). As melhorias foram pouco expressivas em ambos os grupos e originadas simplesmente pela repetição dos procedimentos de teste, à qual o grupo de controlo também foi sujeito. Fazer ou não fazer o APE, foi igual. Apesar das evidências contrárias, o APE é estranhamente considerado um essencial componente do TR, com a justificação de que otimiza os ganhos de força. Existe mesmo uma espécie de estigma em torno da separação das duas modalidades, como se o TR tivesse menor eficácia se não for combinado com o APE. Será que juntar o APE ao TR potencia a melhoria da força? Kakkonen e col. (2010), analisaram o efeito crónico potenciador que o APE poderia ter nos ganhos de força, quando feito juntamente com um programa de TR. Após 8 semanas os autores reportaram um incremento da força, em cerca de 13%, nos sujeitos que adicionaram o APE à sua rotina de treino, sugere que o APE pode maximizar os ganhos de força e incentiva a sua inclusão nas rotinas semanais de treino. Contudo, apesar da dúvida levantada em Kakkonen e col. (2007), a tipologia de sujeitos usados no estudo e a rotina de APE usada foi exatamente a mesma que antes, sujeitos novatos e APE com grande demanda de estabilização, ou seja TR isométrico. Neste caso o autor já não manifestou estes dois factos como limitações do seu estudo, o que o deveria ter feito... ainda assim refere o seguinte: “Apesar do alongamento ter melhorado o desempenho de indivíduos esporadicamente ativos, não se conhece se pessoas com músculos mais treinados irão responder de forma similar ao estímulo de alongamento.” (Kakkonnen e col., 2010) Mais tarde, Bastos e col. (2013) procuraram investigar qual a resposta ao TR comparativamente à combinação deste com o alongamento (APE+TR). Foram analisados, antes e 10 semanas após a intervenção, os níveis de força e de concentração de IGF-1 (insulinlike growth factor 1), hormona que pode despoletar um aumento de síntese proteica e, consequentemente, podendo provocar aumentos de massa muscular. Todos os grupos de indivíduos fizeram TR, perfazendo 3 sessões semanais de 4 exercícios (4 séries de 8-10RM). Um grupo somente fez TR, os outros grupos acrescentavam o APE aos seus programas de treino (4 exercícios com duração de 30 segundos), antes do TR ou entre as séries de TR. Aqui ficam os ganhos médios reportados, considerando os resultados estatisticamente significativos: • Força: TR=27%; APE+TR=18% • IGF-1: TR=25%; APE+TR=0% Em termos práticos, a magnitude dos efeitos do TR nos níveis de força foi muito alta e a do APE+TR foi apenas moderada. Citando os autores: “...o alongamento comprometeu os incrementos de força alcançados pelo treino com resistências” (Bastos e col., 2013). Relativamente aos níveis de IGF-1, fica implícito que o APE suprimiu por completo a sua subida. Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 11 Na mais recente revisão acerca dos efeitos crónicos do alongamento na força, e já referida anteriormente, Medeiros e Lima (2017), verificaram que cerca de 50% dos estudos manifestaram efeitos crónicos positivos. Contudo, a maior parte destas melhorias foram efeito decorrente da prática de alongamentos do tipo AD ou PNF (cerca de 77% dos estudos) – o APE mostrou-se positivo nos níveis de força somente em cerca 23% dos estudos analisados. Ainda assim, as melhorias reportadas foram, pelos autores, remetidas para a poucaqualidade metodológica e elevado risco de enviesamento. Concluindo, os efeitos agudos que o APE surte nos níveis de força são negativos. Cronicamente o APE poderá não surtir melhoria alguma na força. Ainda assim, as poucas melhorias registadas deixam dúvidas, relativamente ao procedimento usado, e são inexpressivas, face aos níveis de melhoria que o TR pode oferecer. Igualmente evidente, é que a inclusão do APE nas sessões de TR inibe os benefícios que este último pode proporcionar por si só. Alongamento e prevenção de lesões musculares O risco de lesão pode ser mais elevado com pronunciada falta ou excesso de mobilidade (Magnusson, 1998). Apesar disto, é compreensível que a maioria das lesões, não ocorrendo perto dos limites articulares, não tenha a sua incidência diminuída pelo aumento da ADM, como já foi sugerido. Portanto, custa a crer que o alongamento, cujas melhorias na ADM podem não ser funcionais e que causa uma depressão significativa nos níveis de força, possa de alguma forma prevenir lesões! Mas o que tem a ciência a dizer sobre isto? O APE ajuda a prevenir lesões? Os estudos que tentam relacionar o APE e o risco de lesão, na sua esmagadora maioria, demonstram não haver relação entre esta prática e uma menor incidência de lesão. Na verdade, uma revisão de literatura levada a cabo por Herbert e Gabriel (2002), concluiu que seriam precisos cerca de 23 anos de prática de APE para prevenir uma única lesão. Sendo este tempo de adaptação extremamente longo para que a prevenção de lesão seja considerada um benefício do alongamento (seguramente alguns dos atletas acabariam suas carreiras antes deste prazo terminar). Quanto aos clientes de personal training, talvez fosse mais ético dizer- lhes a verdade: “Vamos fazer uma primeira fase de prevenção de lesões antes de iniciar a musculação. Tem a duração de 23 anos e um custo de 70.000 euros”, (mas talvez a captação de clientes fosse baixa...). Como se não bastasse, e infelizmente, a relação pouco útil entre APE e prevenção de lesão muscular não fica por aqui... “…em alguns casos, na verdade, aumentou o risco de lesão (…) alongar pode causar danos ao nível do citoesqueleto, e pode ter um efeito analgésico no músculo.” (Bracko, 2002) A citação anterior já é suficientemente explicita, mas ainda reitero que significa que o APE pode propiciar a ocorrência dum incidente que, inicialmente, se propunha a evitar. Quanto ao efeito analgésico no músculo, pode ser o que está na origem do bem-estar habitualmente sentido pelos praticantes após uma sessão de APE. Ainda assim, é questionável tal efeito ser a melhor opção para prevenir que o tecido muscular incorra em danos estruturais. Apesar de tudo isto, McHugh e Cosgrave, (2010), reviram alguns estudos que observam menor incidência de lesão muscular quando o APE está presente antes da atividade desportiva. Contudo, os estudos analisados que reportam tal benefício não foram bem sucedidos em conseguir discernir se esse efeito teve origem no APE ou noutras atividades, igualmente presentes antes do inicio da prática desportiva. Para se ter chegado à conclusão apresentada pelos autores, anteriormente referidos, o APE deveria ter sido analisado de forma isolada. O ACSM resume de modo bastante elucidativo esta temática: “Não há ligação consistente que tenha sido demonstrada entre o exercício regular de flexibilidade e a redução de lesões músculo-tendinosas...” (ACSM, 2011) “É possível que o exercício regular da flexibilidade possa resultar numa redução de lesões músculo-tendinosas (...) mas as evidências estão longe de ser definitivas.” (ACSM, 2014:186) No entanto, o APE continua a ser recomendado para a prevenção de lesões, inclusive nos documentos onde constam as citações acima – incoerente, no mínimo. Entretanto, numa revisão feita a 25 estudos no âmbito da prevenção de lesões desportivas (que incluiu mais de 26.500 participantes), Lauersen e col. (2013), verificaram que todos os métodos de treino analisados foram efetivos na redução da incidência de lesão no desporto, todos com exceção do alongamento. Mais ainda, o APE pode provocar um atraso na resposta neuromuscular e isso poderá aumentar o risco de lesão músculo-esquelética (Minshull e col., 2013). Apesar de tudo isto, o ACSM, estranhamente, na sua mais recente publicação (2014) não faz a mínima referência a estes estudos. Como se verifica, a tradição e prática comum entre os treinadores não poderiam estar mais longe da realidade, o APE não previne lesões, de nenhum tipo, conclusão esta confirmada recentemente por Behm e col. (2016), numa revisão de estudos desde 1984. Alongamento e desempenho desportivo O desempenho desportivo comporta tarefas motoras complexas e depende também do fitness físico. Assim, a sua melhoria depende da interação conjunta de várias melhorias, entre elas duas anteriormente atribuídas infundadamente ao APE, nomeadamente o aumento da ADM ativa e da força muscular. Já que nenhuma destas se confirmou, é de esperar que o desempenho desportivo seja também negativamente afetado após uma intervenção com alongamento. Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 12 Apesar da descida notada no desempenho desportivo ser menos expressiva que a verificada nos níveis de força, McHugh e Cosgrave (2010), determinaram que a maioria dos estudos observa uma redução média de 3,5% no salto vertical. Por sua vez, Nelson e col. (2005) e Sayers e col. (2008), reportaram uma significativa diminuição na velocidade e aceleração na corrida em atletas, universitários e profissionais, respectivamente com aplicação de 3 exercício de APE (1 por grupo muscular, com duração de 30 segundos). Como principal causa, ambos os autores sugerem uma inibição muscular aferente. Neste caso é perfeitamente compreensível que, mesmo que o músculo se demonstre menos resistente ao alongamento, e se obtenha mais ADM, que o desempenho seja negativamente afectado, já que esta inibição significará uma redução na força muscular (como já verificado) e eventual redução do controlo articular por uma deficiente propriocepção. Mas quanto tempo pode durar esta diminuição do desempenho desportivo? Haddad e col. (2013), demonstraram que um programa de 10 APE (2 por grupo muscular, com duração de 30 segundos cada) foi suficiente para diminuir significativamente a velocidade de sprint em atletas profissionais de futebol. As capacidades testadas mantiveram-se diminuídas por 24 horas. No que concerne aos efeitos agudos do alongamento no desempenho desportivo, o ACSM assumiu expressamente que “pode” haver uma diminuição no segundo, em consequência do primeiro (ACSM, 2014) – ainda assim, a palavra pode (usada pelos autores) dá-nos a sensação de se tratar de um evento de incidência moderada, o que não é verdade. Em 2014, Peck e col., levaram a cabo uma extensa revisão aos estudos que foram feitos desde o estudo de Shrier (2004). Desta vez para perceber de que forma o APE afeta diferentes expressões do desempenho desportivo. Assim, foram analisados 55 estudos que mediram os efeitos agudos do APE em 3 categorias do desempenho desportivo: força-potência (atividades envolvendo um único esforço, máximo e de curta duração, e.g. salto); velocidade-agilidade (atividades envolvendo várias ações musculares rápidas, cíclicas e de curta duração, e.g. sprint em 100m ou menos, ou múltiplas mudanças rápidas de direção); endurance (atividades cíclicas e de longa duração, e.g. corrida em 200m ou mais). Os resultados foram deveras inequívocos: • Efeitos na força-potência: • Estudos reportando efeitos positivos: 4% • Estudos reportando sem efeitos algum: 23% • Estudos reportando efeitos negativos: 73% • Efeitos na velocidade-agilidade: • Estudos reportando efeitos positivos: 11% • Estudos reportando sem efeitosalgum: 32% • Estudos reportando efeitos negativos: 57% • Efeitos no endurance: • Estudos reportando efeitos positivos: 0% • Estudos reportando sem efeitos algum: 50% • Estudos reportando efeitos negativos: 50% Se combinarmos as 3 categorias, é de salientar que somente 4% de estudos reportaram benefícios no desempenho e que esta percentagem representa, somente, 2 estudos (dos 55 totais). No entanto, em 31% dos estudos o APE foi irrelevante, não surtindo efeito algum no desempenho, ao passo que 65% dos estudos manifestaram uma diminuição do desempenho após a intervenção com APE. Em 2016, Behm e col. reviram todos os estudos que analisavam os efeitos agudos do APE no desempenho desportivo (como pré-exercício do salto vertical e tempo de sprint), reportados em artigos relevantes, desde 1984. Ao todo consideram um universo de 270 medições fiáveis, antes e depois da intervenção. O APE despoletou melhorias em somente 2% dos casos, em 54% das vezes foi irrelevante (sem alterações no desempenho) e em 44% desencadeou efeitos negativos (diminuição do desempenho). Porque se tem suposto nos últimos anos que o APE só seria negativo com durações superiores aos 60 segundos, obviamente como estratégia argumentativa de fuga às evidências, este mesmo estudo reviu também esta questão. A duração ser superior aos 60 segundos é, sem dúvida, uma agravante. Contudo, não significa que com durações inferiores se torne numa poção milagrosa, pois os efeitos negativos do APE surgiram numa relação de dobro para os positivos, ao passo que a sua irrelevância foi 9 vezes superior. O APE com duração inferior a 60 segundos é, no mínimo, perda de tempo. Como já referi anteriormente, no estudo dos efeitos crónicos que o APE tem no desempenho desportivo, há evidência de benefícios (Shrier, 2004). Contudo, não há estudos suficientes para proceder a esta análise de forma tão detalhada como nos outros assuntos abordados neste artigo. Seja como for, Shrier (2004) apontou a hipertrofia induzida pelo alongamento, como uma possível causa das melhorias crónicas no desempenho desportivo, decorrentes do alongamento. “Se alongarmos um grupo muscular por 30 a 60 segundos por dia, ao longo de meses, também resulta em hipertrofia, assim poderíamos predizer um aumento na força e na velocidade de contração; isto foi observado em todos os estudos que investigaram estes resultados.” (Shrier, 2004) Ora, se assim for, nem deste modo o alongamento é a melhor intervenção para a melhoria do desempenho, já que o TR é a mais adequada intervenção para gerar ganhos crónicos de hipertrofia (Fleck e Kraemer, 2004). Medeiros e Lima (2017), na já referida revisão sistematizada, ao analisar os efeitos crónicos do APE no desempenho desportivo, verificaram que metade dos estudos analisados não apresentaram efeito crónico positivo, ou mostraram-se com influência de parcialidade. A outra metade que manifestou ter benefícios foi, pelos autores, remetida para a falta de qualidade metodológica e risco de enviesamento. Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 13 Efeitos do APE Analisamos os efeitos do alongamento, medidos externamente, i.e. ADM, força e desempenho desportivo, bem como a sua influência na prevenção de lesões. Agora, que ficou claro que não tem os resultados que habitualmente lhe são imputados, iremos explorar um pouco os seus efeitos ao nível fisiológico. No fundo vamos perceber, em termos fisiológicos, o porquê do aumento de ADM passiva e a concomitante diminuição da força muscular, que poderá estar na origem da redução do desempenho desportivo e da ineficácia na prevenção de lesões. Alguns estudos associaram a prática regular de alongamento ao aumento do comprimento muscular. Por exemplo Covert e col. (2010), concluíram que somente 360 segundos de APE, divididos por 4 semanas, foram suficientes para provocar aumentos significativos no comprimento muscular. Esta pesquisa, como muitas outras do género, mediu o comprimento muscular de forma muito indireta, pela ADM passiva. Ou seja, partem do pressuposto que o incremento de ADM significa um aumento do comprimento das fibras musculares. No entanto... “...a amplitude de movimento articular não providencia informação acerca das propriedades materiais da unidade músculo-tendinosa. Mais, não fica claro o que é que determina o ponto final da medição goniométrica.” (Magnusson, 1998) Assim sendo, a ADM não reflete o comprimento muscular, até porque pode ser fruto do nível de atividade contráctil que o músculo desenvolve nesse preciso momento, esteja em que comprimento estiver. A mobilidade pode estar limitada por motivos estruturais e neurais. Apesar de ambas as categorias apresentarem modelos válidos para as causas da falta de extensibilidade muscular, que condiciona a mobilidade, os factores estruturais são considerados os principais factores determinantes desta qualidade (Freitas, 2010). Estruturais: Arquitetura Nas áreas da motricidade humana, a explicação mais comum para as causas do excesso de tensão antagonista é a de que esta musculatura se encontra “encurtada”. Este modelo explicativo faz sentido, se pensarmos que ao alongar o músculo, se este se adaptar ficando com maior comprimento, a sua extensibilidade aumenta, resultando em maior ADM. Explicação inserida fundamentalmente nos factores estruturais musculares que condicionam a mobilidade. Faz sentido e merece que nos debrucemos sobre ela, já que deu origem à noção de que o APE pode aumentar a ADM por aumentar o comprimento muscular. O conjunto de características estruturais em que consiste a organização fascicular relativa à unidade músculo- tendinosa (de forma muito simplificada), designa-se de arquitetura muscular. Entre as muitas características a demarcar, as mais relevantes para este artigo são: comprimento muscular; comprimento fascicular; número de sarcómeros em série; ângulo de penação (ângulo entre o eixo longitudinal fascicular e o eixo longitudinal muscular). Um músculo realmente encurtado significará que tem menos sarcómeros em série. Por isso, a observação das alterações na arquitetura muscular tem sido usada para perceber se o músculo realmente aumenta de comprimento como efeito do APE, e que consequências isso têm – um músculo que aumentou o seu comprimento como efeito decorrente da intervenção com APE, terá significado que aumentou o seu número de sarcómeros em série. Este fenómeno designa-se de sarcomerogénese. A ocorrência de sarcomerogénese no músculo esquelético, como consequência do APE, é revista no artigo de perspetiva de Deyne (2001), onde este conclui que “as observações têm levado à hipótese de hipertrofia alongamento-induzida. Esta hipótese estabelece que, se alongado, o músculo responde adicionando mais sarcómeros.” (Deyne, 2001). A conclusão de que ocorreu uma sarcomerogénese por observação direta só poderá ser feita in vitro (tecido muscular morto), com recurso a dissecção das miofibrilhas (como em Williams e Goldspink, 1971), ou in vivo (tecido muscular vivo) recorrendo a biopsia (como em Boakes e col. 2006). Por motivos óbvios, como veremos, é aceite que se faça em ratos ou coelhos, pouco comum em humanos por ser invasivo. Por isso, em humanos, tem-se recorrido à ultrassonografia, para aferir a variação nas outras características arquitectónicas (comprimento muscular, comprimento fascicular e ângulo de penação), de forma a inferir a variação no número de sarcómeros dentro dos fascículos. Contudo, não tem sido fácil e os resultados são contraditórios. Williams e Goldspink (1971 e 1973), imobilizaram durante 4 semanas a articulação do tornozelo em ratos, com o objectivo de analisar as variações de comprimento do músculo soleus. Ao imobilizar a articulação em máxima flexão plantar (soleus encurtado) registaramuma diminuição de 40% no número de sarcómeros em série. O músculo encurtou! Poderíamos agora argumentar que os clientes mais sedentários, por se manterem muito tempo sentados, terão muitos músculos encurtados, mas note-se que foram precisas 4 semanas de completa imobilização para isto acontecer! (Não é o caso da maioria dos clientes e atletas, a menos que tenham mantido a articulação com gesso). Mesmo assim, quanto tempo por dia seria preciso alongar um músculo para prevenir este tipo de encurtamento? Williams (1988), executou novamente a experiência. Contudo, desta vez, todos os dias retirava o molde imobilizador dos ratos e aplicava APE a esta musculatura. A duração diária dos APE variou de grupo para grupo, entre os 15 e os 180 minutos por dia. A pesquisa determinou que são precisos no mínimo 30 minutos por dia para evitar o encurtamento muscular. Transferindo agora estes resultados para a prática desportiva ou recreativa de exercício, julgo que é justo dizer que 30 minutos de APE por grupo muscular, por dia, é provavelmente demasiado. Tomemos como exemplo um sedentário que está o dia todo sentado: para evitar o Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 14 encurtamento muscular dos flexores dorsais do tornozelo, flexores do joelho, flexores da anca, flexores da coluna dorso-lombar, protratores escapulares e extensores da cervical, precisaria de uma sessão diária com 3 horas de duração, só de APE. Tanto tempo de alongamento não é comum nos treinos desportivos ou recreativos (nem tão pouco exequível). Por tal, Deyne (2001) adverte: “... foi aplicada uma magnitude constante de alongamento passivo por muitos dias (...) Os métodos usados nestas experiências não se comparam exatamente aos métodos de alongamento habitualmente usados por fisioterapeutas (alongamentos manuais ou amplitude de movimento assistida).” (Deyne, 2001) As alterações no número de sarcómeros em série, quando a articulação é mantida em imobilização por considerável período de tempo, são atribuídas a uma adaptação da curva de força muscular. É sabido que a fibra muscular apresenta o seu ponto de força-comprimento ótima (FCO) a meio do seu comprimento, o que significa que o sarcómero apresenta uma diminuição do seu potencial de produção de força nos extremos do seu comprimento – alongado e encurtado (Lieber, 2010). Por isto, a curva de força-comprimento muscular é de perfil sinusoidal. Assim, quando o músculo é mantido, durante algumas semanas, num comprimento que coloque os seus sarcómeros nos extremos desta curva, a adaptação esperada será a de ajustar o número de sarcómeros em série para que todos possam voltar ao comprimento ideal (Williams e Goldspink, 1977) – quando mantido em posição de encurtamento, o diminuído comprimento sarcomérico resultará numa perda de potencial de produção de força, então a fibra perderá sarcómeros em série para poder alongar os remanescentes até ao comprimento ótimo (o inverso acontece se o músculo for mantido em posição de alongamento). Caso o leitor se pergunte (e com muita pertinência) se o comprimento muscular humano também varia desta forma, ou seja, se a sarcomerogénese acontece em humanos, a resposta foi dada por Boakes e col. (2006) e é sim! Neste estudo, o comprimento dos fascículos musculares aumentou cerca de 111% e o número de sarcómeros em série aumentou praticamente 100%, após 8 meses de distração femoral que comportou 4 cm de aumento no comprimento ósseo, in vivo. Espero que o leitor perceba que a tração óssea in vivo não é algo que se deva fazer aos praticantes de exercício físico, quer recreativos quer desportivos, por motivos óbvios... Portanto, tentemos perceber se a sarcomerogénese é possível pela intervenção com o APE. Alguns autores têm sido infortúnios na tentativa de demonstrar que os aumentos de ADM decorrentes do APE são gerados por um aumento do comprimento fascicular. Nakamura e col. (2011), após 4 semanas de APE (2 repetições diárias de 60 segundos cada) no músculo gastrocnemius, não observaram alterações no comprimento fascicular nem no ângulo de penação. O incremento de mobilidade foi atribuído a alterações viscoelásticas (redução da sua resistência ao alongamento – explicado na secção seguinte). Konrad e Tilp (2014) também não encontraram alterações na arquitetura muscular do músculo gastrocnémius, após 6 semanas de APE (4 repetições de 30 segundos cada, 4 vezes por semana). Lima e col. (2015) também não encontraram diferenças na arquitetura dos músculos vastus lateralis e bicep femoris, após 8 semanas de APE (3 repetições diárias de 30 segundos cada, 3 vezes por semana). Os 3 autores supracitados registaram aumentos na ADM passiva, contudo não terá sido decorrente de alterações na arquitetura muscular. Nakamura e col. (2011) sugeriram uma diminuição da viscoelasticidade muscular como causa – ver secção: Efeitos do APE: viscoelasticidade). Konrad e Tilp (2014) sugeriram alterações sensoriais. Lima e col. (2015) sugerem, também, alterações sensoriais (ver secção: Efeitos do APE: neurais) ou, novamente, diminuição da viscoelasticidade muscular. Mas, Blazevich e col. (2014), após um programa de 4 repetições de APE com duração de 30 segundos, 2 vezes por dia, durante 3 semanas, observaram um aumento da ADM articular passiva na dorsiflexão do tornozelo (20%) com aumento médio do comprimento dos músculos gastrocnémius e soleus (13%), sem que o comprimento fascicular alterasse. Os autores referiram que “...o número de sarcómeros dispostos em série nas fibras podem ser considerados candidatos à alteração” (Blazevich e col., 2014:460), supondo assim a ocorrência de sarcomerogénese. Aparentemente, durações dentro das recomendações habituais poderão aumentar, realmente, o comprimento muscular e consequentemente a mobilidade (ainda que passiva). Mas, tal suposição, não passa disso mesmo, pois o número de sarcómeros em série não foi medido diretamente. Apesar de Blazevich e col. (2014) reportarem a medição do ângulo fascicular, não apresentaram os resultados da mesma, nem antes nem depois da intervenção. Tratando-se de músculos penados, é possível que o APE tenha provocado uma diminuição no ângulo de penação dos fascículos (Fowles e col., 2000; Freitas e Mil-Homens, 2015) – diminuindo o ângulo entre o eixo longitudinal das fibras e o do músculo – o que provocaria uma disposição fibrilhar mais longitudinal e um aumento do comprimento muscular, sem que o comprimento fascicular alterasse. Provavelmente também não se tratou de sarcomerogénese. Entretanto, Freitas e Mil-Homens (2015), sugerindo que a duração e intensidade do APE nas experiências anteriores terão sido insuficientes (tal como sugerido, também, por Konrad e Tilp, 2014), afirmam que “...as alterações nos parâmetros da arquitetura muscular após o alongamento estático podem depender da intensidade do alongamento...” (Freitas e Mil-Homens, 2015). Isto porque a intensidade do APE nos estudos supracitados terá sido medida de forma extremamente subjetiva – baseada na qualidade da sensação reportada pelos indivíduos intervencionados: “maior alongamento que os participantes estavam dispostos a tolerar” (Nakamura e col., 2011) ou “dentro do limite fisiológico e precedendo o limiar de dor” (Lima e col., 2015). Assim levaram a cabo uma intervenção de 5 repetições de APE com duração de 90 segundos, no músculo bicep femoris, 5 dias por semana durante 8 semanas. Neste estudo o APE foi aplicado na ADM que correspondia à maior força passiva tolerada antes do aparecimento da dor, entretanto a ADM era aumentada a cada 90 segundos para uma nova ADM máxima, sem que o indivíduo repousasse Paradigma Inflexível – O Treino da Flexibilidade: Tradição, Pesquisa e Compreensão © João Moscão, 2017 – Cópia não autorizada é crime 15 entre repetições, mantendo assim a
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