Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 1 3º PERÍODO PALMAS-TO/ 2006 Direito Processual Penal I Ana Patrícia Rodrigues Pimentel e Luciana Avila Zanotelli Pinheiro EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 2 Fu nd aç ão Un iv ers idade do To can tins Fundação Universidade do Tocantins Reitor: Humberto Luiz Falcão Coelho Vice-Reitor: Lívio William Reis de Carvalho Pró-Reitor Acadêmico: Galileu Marcos Guarenghi Pró-Reitora de Pós-Graduação e Extensão: Maria Luiza C. P. do Nascimento Pró-Reitora de Pesquisa: Antônia Custódia Pedreira Pró-Reitora de Administração e Finanças: Maria Valdênia Rodrigues Noleto Diretor de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais: Claudemir Andreaci Coordenador do Curso: José Kasuo Otsuka Organização dos Conteúdos – Unitins Conteúdos da Disciplina: Ana Patrícia Rodrigues Pimentel e Luciana Avila Zanotelli Pinheiro Equipe de Produção Gráfica Coordenação de Produção Gráfica: Vivianni Asevedo Soares Borges Diagramação: Douglas Donizeti Soares e Vivianni Asevedo Soares Borges Capas e Ilustrações: Edglei Dias Rodrigues e Geuvar Silva de Oliveira EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 3 Apresentação Caro aluno, neste semestre você estudará o Direito Processual Penal. Como norma processual de direito, desenvolve-se em etapas e procedimentos que garantem às pessoas conhecimentos como, a ampla defesa e o contraditório dentro do processo. Dentro da linha processual, estudaremos os princípios que norteiam o Direito Processual Penal, dando-lhes base de sustentação ao amplo e confiável andamento do processo penal. Como peça que arranja e instrui o processo penal, analisaremos o Inquérito Policial, suas fases, pressupostos e requisitos, que garantem ao Inquérito Policial seu perfeito e correto andamento. No entanto, o Processo, em regra, inicia-se com a denúncia ou com a queixa-crime, que são as peças inaugurais da Ação Penal. Ainda na linha do processo, temos a Jurisdição e a competência com regras e limites próprios que norteiam e garantem o procedimento processual penal na sua forma e pressupostos essenciais. O estudo das partes dentro do processo destaca-se pela relevância de conhecimento quanto a estrutura, deveres e direitos inerentes as mesmas, que, na busca de uma verdade para os fatos, utilizam-se dos meios de prova admissíveis em direito, a fim de provar suas alegações. Por fim, destaca-se a prisão e a sentença, aquela sendo sanção imputada ao acusado, não somente pela prática de um crime, na condenação, mas, às vezes, tem por finalidade assegurar o bom e perfeito andamento processual; esta como meio de decisão judicial a respeito da demanda analisada, suas espécies e seus efeitos. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 4 Plano de Ensino CURSO: Fundamentos em Práticas Judiciárias PERÍODO: 3º DISCIPLINA: Direito Processual Penal I EMENTA Inquérito policial, princípios do processo penal, ação penal, jurisdição e competência, exceções e questões incidentais, provas, sujeitos processuais, procedimentos, prisão, liberdade provisória, atos processuais, aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, coisa julgada. OBJETIVO GERAL Discutir e entender o Direito Processual Penal OBJETIVOS ESPECÍFICOS Entender o Direito Processual Penal, suas classificações e elementos; Analisar os processos e procedimentos penais; Identificar a ação penal, a jurisdição o órgão julgador competente; Compreender os procedimentos prejudiciais e incidentais dentro do Processo Penal; Classificar as formas de prisão e os requisitos da liberdade provisória; Compreender as decisões judiciais e a coisa julgada no Direito Processual Penal. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO TEMA 01: Contextualização do direito processual penal, origem, princípios e a natureza jurídica. TEMA 02: Inquérito policial TEMA 03: Ação penal, jurisdição e competência, exceções e questões incidentais, provas, sujeitos processuais, procedimentos e os atos processuais. TEMA 04: Prisão e liberdade provisória, aplicação provisória de interdição de direitos e medida de segurança. TEMA 05: Sentença e Coisa julgada. BIBLIOGRAFIA BÁSICA CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 13 ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 8 ed. rev. Atual. São Paulo: Saraiva, 1986. MIRABETE, Julio Fabrini. Código de processo penal interpretado. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2001. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo Penal. São Paulo: Método, 2005. BARROS, Francisco Dirceu. Direito processual Penal. vol. I. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7 ed. rev. ampl. São Paulo: Saraiva, 2001. DAOUN, Alexandre Jean. Resumo Jurídico de Processo Penal. vol.7. 4 ed. São Paulo: Quartier Latin, 2005. OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 6 ed. rev. atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. BONFIM, Edílson Mougenot. Processo Penal I: dos fundamentos à sentença. São Paulo: Saraiva, 2000. NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 6 Sumário Tema 1 – O que é Direito Processual Penal ...................................................07 Tema 2 – Inquérito policial...............................................................................19 Tema 3 – Ação Penal, Jurisdição e Competência, Provas, Sujeitos e Procedimentos Processuais.............................................................................43 Tema 4 – Prisão e Liberdade Provisória..........................................................91 Tema 5 – Sentença e a Coisa Julgada............................................................99 EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 7 O que é Direito Processual Penal? Meta da aula Apresentação do conceito de Direito Processual Penal, seus Princípios, origem e natureza. Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: Definir o que é Direito Processual Penal; Indicar como o mesmo surgiu e como é aplicado hoje no Brasil; Explicitar quais são os princípios aplicáveis e como os mesmos influem na aplicação do Direito Processual Penal. Pré-requisitos Você terá mais facilidade no acompanhamento desta aula se fizer uma releitura dos assuntos estudados nas Disciplinas de Direito Penal I, e Teoria Geral do Processo. Introdução Caro aluno, neste tema, começaremos a estudar o que é o Direito Processual Penal, bem como os princípios que norteiam sua aplicação no território brasileiro. Direito de Punir A vida em sociedade é regida por normas de conduta sem as quais ela seria praticamente impossível. Este conjunto de normas é o que chamamos de Direito Penal Objetivo Mas quem pode fazer valer o Direito Penal Objetivo? Somente o Estado, em sua função de promover o bem-comum, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções. Tema 01 Direito penal Objetivo é o conjunto de normas queregulam a ação estatal, definindo crimes e cominando as respectivas sanções. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 8 O Estado é único titular do DIREITO DE PUNIR (Jus Puniendi), que é exatamente o que chamamos de Direito Penal Subjetivo. Esse direito, porém, é limitado pelo próprio estado, pelo princípio da legalidade. Como bem ensina José Frederico Marques (2003, p. 5) O “jus puniendi é a manifestação do poder de império do Estado, pois este punindo exerce sua soberania.” E ainda ensina o mesmo autor (MARQUES apud MIRABETE 1995, p. 24) o jus puniendi pode ser definido como o direito que tem o Estado de aplicar a pena cominada no preceito secundário da norma penal incriminadora, contra quem praticou a ação ou a omissão descrita no preceito primário, causando um dano ou lesão jurídica”. O Estado não tem apenas o Direito de punir, mas, sim, tem o DEVER de punir, pois seu dever, dentre outros, é resguardar a sociedade. O jus puniendi é uma manifestação da soberania estatal. Pretensão Punitiva Com a prática de um Ilícito penal, surge um conflito de interesses entre o Direito Subjetivo de Punir do Estado e o direito à liberdade do autor da prática ilícita. Mirabete (2003, p.25), já ensina que “da exigência de subordinação do interesse do autor da Infração ao interesse do Estado, resulta a pretensão punitiva” que é, na realidade a possibilidade, a pretensão que tem o Estado de punir, fazendo vigorar o seu interesse, em prejuízo do interesse do autor do ilícito. Lide penal Lide, como já vimos em Teoria Geral do Processo, é a oposição de uma pretensão à outra, ou seja, há lide quando, no conflito de interesses, uma parte se opõe ao que é pretendido pela outra. Na esfera penal, quando se opõe o titular do direito à liberdade a pretensão punitiva do Estado, têm-se a lide penal. O Estado não pode simplesmente aplicar uma sanção, uma vez que é também seu dever proteger o direito à liberdade do autor do ilícito. Sendo assim, somente poderá o Estado aplicar a pena prevista ao crime cometido se utilizar como instrumento o Direito de ação. Mas o que é DIREITO DE AÇÃO? Direito de ação, segundo Magalhães Noronha (1999, p. 4) “trata-se de um direito subjetivo, que confere ao Estado o poder de promover a perseguição ao autor do delito”, e ainda, segundo Mirabete (1995, p. 26) “consiste em obter o Estado do juiz a sentença sobre a lide deduzida no processo a fim de que Chamamos de Jus Puniendi o Direito de Punir do Estado! EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 9 seja aplicada a sanção penal sem a violação do direito à liberdade do autor da infração penal”. Ou seja, é o direito que tem o Estado de recorrer ao juiz para que ele, com base nos dados colhidos no processo, tendo em vista a lide penal, decida sobre a mesma, prolatando sentença e determinando a aplicação da sanção. Pois assim, mesmo restringindo o Estado a liberdade do autor do ilícito, não ferirá seu direito à liberdade. Processo Penal A forma que o Estado impõe para compor os litígios, por meio dos órgãos próprios da administração da Justiça, tem o nome de PROCESSO. Já nos ensima Mirabete (2003, p. 26): “Como na Infração penal há sempre uma lesão ao Estado, este como Estado-Administração, toma a iniciativa de garantir a observância da lei, recorrendo ao Estado-juiz para, no processo penal, fazer valer sua pretensão punitiva”. Processo Penal é, então, o conjunto de atos cronologicamente encadeados, submetido a princípios e regras jurídicas e destinados a compor as lides de caráter penal. Sua finalidade é a aplicação do DIREITO PENAL OBJETIVO, mas para atingir tal objetivo são indispensáveis atividades investigatórias (atos administrativos da polícia judiciária – Inquérito Policial). Então, tem-se o Direito Processual Penal como: “o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares” (MARQUES, apud MIRABETE, 2004, p. 29) . Tem, o Direito Processual Penal, caráter instrumental, pois serve como instrumento para a aplicação do direito penal objetivo. Mirabete (2004, p. 30) ainda acrescenta que “é uma disciplina normativa, pois parte da Norma Jurídica, investiga os princípios, organiza os institutos e constrói, então, o sistema”. O Direito Processual Penal é um ramo do Direito Público e possui método técnico-jurídico, permitindo ao jurista extrair do direito objetivo os preceitos aplicáveis a uma situação concreta, descobrindo seu significado e lhe desenvolvendo as conseqüências. Evolução Histórica Podemos perceber com os ensinamentos de John Gilissen, em seu célebre livro Introdução Histórica ao Direito (2001, p. 51 - 522) que o Direito Processual Penal surgiu na Grécia, quando era utilizado para punir os crimes que feriam os interesses sociais. Havia a participação direta dos cidadãos e era um procedimento oral e público. IP – é a abreviação que utilizamos para Inquérito Policial. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 10 Em Roma, o Direito processual penal era utilizado para punir os delicta publica, ou seja, os crimes que feriam o interesse da sociedade, mas também utilizado para arbitrar os delitos de interesse privado. Na época da Santa Inquisição o Direito Processual Penal, nos afirma o citado autor, era realizado pela Igreja. O procedimento era iniciado por uma acusação feita por bispos, arcebispos ou oficiais encarregados de exercer a função jurisdicional. Era um processo totalmente inquisitivo, ou seja, a mesma pessoa que acusava colhia as provas e julgava, não havendo possibilidade real de defesa para o acusado. Após a Revolução Francesa, e com o advento das garantias penais, houve uma revolução no Direito Processual penal, chegando-se ao que temos hoje posto como tal: a garantia de defesa para o acusado e, ainda, o respeito ao contraditório e à ampla defesa, possibilitando-se ao acusado efetuar uma defesa eficiente a seu favor. De forma que o procedimento inquisitivo fica reservado a um momento preliminar do processo, sendo dado após plena capacidade de defesa ao réu (GILISSEN, 2001, p. 51 - 522). Princípios Estado de Inocência O princípio do Estado de Inocência, ou da Presunção da Inocência, ou mesmo Princípio da Inocência está contemplado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5°, inciso LVII. Surge pela primeira vez em 1789, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, foi novamente utilizado no art 26 da Declaração Americana de Direitos e Deveres de 1948, no art 11 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Muitos doutrinadores como Mirabete (1999, P. 42) e Ney Moura Telles (2005, p. 90) utilizam a nomenclatura Presunção de Inocência tendo em vista que a mesma não é absoluta. Somente se presume que a pessoa não seja culpada até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, mas não se dá total certeza a isso, pois, se assim fosse, não seria possível a prisão em flagrante, ou mesmo a prisão preventiva e a instauração do processo, uma vez que seria incoerente prender alguém considerado inocente no todo, ou até mesmo processar alguém que já se sabe inocente. Existem inclusive autores como Carlos Rubianes (apud MIRABETE, 2003, p.42), que consideram que existe uma presunção de culpabilidade quando se instaura a ação penal, pois ela é um ataque à inocência do acusado, e, se não a destrói, a põe em incerteza até a sentença definitiva. Após muitas discussões acerca do assunto, chegou-se à conclusão que o principio do Estado de Inocência não revoga os dispositivos relativos à prisão preventiva, pois estão os mesmos dispostos na própria ConstituiçãoFederal. CF – art. 5º LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Sentença Definitiva é aquela contra a qual não cabem mais recursos. Sentença recorrível é aquela que ainda não se tornou definitiva, da qual cabe recurso. Sentença de Pronúncia é a primeira sentença de um processo no Tribunal do Júri, pela qual o Juiz diz que aquele caso deve ser apreciado pelo Tribunal referido. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 11 Podemos chegar às seguintes conclusões a partir do Princípio do Estado de Inocência: 1) Somente pode haver restrição à liberdade do acusado antes da sentença definitiva a título de medida cautelar, de necessidade ou conveniência. 2) O réu não tem dever de provar sua inocência, pois a mesma é presumida, cabe sim, ao acusador, provar a “culpa” do acusado. 3) Para condenar o acusado, o juiz deve ter a convicção de que é o réu o autor do delito, bastando a mínima dúvida para que seja imperativa a absolvição. ( in dúbio pro reo). Como bem ensina Mirabete (2003, p. 42). “Diante deste princípio fica clara a revogação (derrogação) do art 393 II e 408 § 1º do CPP, que diziam sobre a inscrição do nome do réu no rol dos culpados com a sentença condenatória recorrível ou sentença de pronúncia” Princípio do Contraditório Este princípio é um dos mais importantes princípios não só do Direito Processual Penal , mas de todo o direito em si. Está inscrito na CF/88 art 5º inc LV, e garante a ampla defesa do acusado. Segundo este princípio, tem o acusado direito de defesa, sem restrições, ou melhor, tem o acusado, na sua defesa, os mesmos direitos que o acusador. As partes são vistas da mesma forma no processo, tendo as mesmas oportunidades e limitações. Tal princípio é importantíssimo para garantir a imparcialidade do julgamento do magistrado. Ensina Rui Portanova (2001, p.160-164) que pelo princípio do contraditório, todos os atos processuais “devem primar pela ciência bilateral das partes, e pela possibilidade de tais atos serem contrariados com alegações e provas” . É em decorrência deste princípio que existe a obrigatoriedade de comunicação ao réu de cada ato do processo e, ainda, de cada documento juntado e, também, a oportunização de que o mesmo se manifeste sobre os documentos. Uma exceção a essa decorrência do princípio do contraditório é a revelia penal, pois afasta esse instituto a necessidade de comunicação ao réu dos demais atos do processo, podendo ele comparecer voluntariamente. A garantia do contraditório abrange toda a instrução criminal, incluindo- se aqui todos os atos do processo que possam interferir na decisão do magistrado, incluindo coleta de provas, arrazoados e alegações das partes, mas não inclui o Inquérito Policial. O princípio do contraditório impede ainda que, mesmo sendo o réu revel, seja este julgado sem defesa. Diferente do que acontece em juízo cível, em que um dos efeitos da revelia é a confissão tácita,, na esfera penal, a CF/88 art 5° LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; A comunicação ao réu dos atos do processo pode se dar por meio de citação ou intimação Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 12 revelia só tem como efeito a cessação das intimações do réu quanto aos atos do processo, sendo nomeado defensor para o mesmo, garantindo assim o cumprimento do contraditório. Princípio da Ampla Defesa Por este princípio, que se encontra na Constituição Federal de 1988 em seu art 5°, inciso LV, pode o réu utilizar em sua defesa todos os meios que não forem proibidos por lei. E ainda, atrelado ao Princípio do contraditório, é por ele que o réu tem o direito de manifestar-se sobre qualquer prova, sobre qualquer documento acostado ao processo. O contraditório dá o direito ao réu de conhecer o que contra si foi apurado, e a ampla defesa permite a ele defender-se de cada acusação formulada contra sua pessoa. Segundo bem ensina Tourinho Filho (2004, p. 44): Em todo processo de tipo acusatório, como o nosso, vigora esse princípio, segundo o qual o acusado, isto é, a pessoa em relação a quem se propõe a ação penal, goza do direito ‘primário e absoluto’ da defesa. A ampla defesa, assim como o contraditório, não é aplicada durante a fase do Inquérito Policial, mas sim durante toda a instrução penal. Pare e Pense 1)Tente responder: Seria possível, no Brasil, com a utilização do Princípio do Contraditório, que surgisse na última hora em um processo uma prova surpresa que fosse decisiva para a condenação ou absolvição do réu? Comentário da questão: Procure buscar a resposta, analisando profundamente em que consiste o princípio do Contraditório e o da Ampla Defesa, e quais as suas conseqüências! Princípio da Verdade Real Pelo princípio da verdade real, tem-se que se deve buscar, no processo penal, sempre a verdade dos fatos, não se limitando às verdades abstratas que admite, por exemplo, o processo civil. Neste sentido normativo, o art. 156 do CPP dispõe que: “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer; mas o juiz poderá, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante”. Como preleciona Mirabete (2003, p.44): Com o princípio da verdade real se procura estabelecer que o jus puniendi somente seja exercido contra aquele que praticou a infração penal e nos exatos limites de sua culpa numa investigação que não encontra limites na forma ou na iniciativa das partes. Prisão Preventiva é a que se dá antes da sentença definitiva, fundada em causar o acusado perigo ao trâmite do processo, ou haver perigo de fuga do acusado, entre outras justificativas. Neste Sentido temos decisão do Supremo Tribunal Federal: “O Princípio da Contraditoriedade... deve ser observado na instrução criminal, e jamais na investigação criminal, pois esta é inquisitória, incontraditável por natureza. até mesmo no procedimento sumário, que se desenvolve perante autoridade investigante do fato havido por criminoso, a contraditoriedade e admitida em fase posterior à investigação, que também no referido procedimento conserva seu caráter inquisitivo”(STF, HC 55.447, DJU 16.9.77, P 6281). “De fato, enquanto o juiz não penal deve satisfazer-se com a verdade formal ou convencional que surja das manifestações formuladas pelas partes, e sua indagação deve circunscrever-se aos fatos por elas debatidos, no Processo penal o Juiz tem o dever de investigar a verdade real, procurar saber como os fatos se passaram na realidade, quem realmente praticou a infração e em que considerações a perpetrou, para dar base certa à justiça” (TOURINHO FILHO, 2004, p. 37) EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 13 Por este princípio deve o juiz procurar, mesmo não havendo interesse das partes, levantar a verdade dos fatos, dar impulso ao processo, buscar as provas necessárias à formação de seu convencimento e, ainda, pode, mesmo após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, com novas provas, absolver o réu anteriormente condenado. Não pode o Juiz penal se contentar com a verdade formal dos fatos, mas sim com a verdade real dos mesmos. Princípio da Oralidade Pelo princípio da oralidadesegundo Mirabete (2003, p. 44), deve-se observar que as “declarações feitas perante os juízes e tribunais só possuem eficácia quando formuladas através da palavra oral, ao contrário do procedimento e escrito”. Conseqüências desse princípio: 1) A necessidade de concentração: que consiste em realizar todo o julgamento em uma ou em poucas audiências que tenham intervalos pequenos entre si. Ex: Júri (MIRABETE, 1999, p. 45) 2) Imediatidade: o juiz deve ficar em contato direto com as partes e as provas, recebendo, assim, diretamente os elementos que basearão a formação de sua convicção para o julgamento. (MARQUES, apud MIRABETE, 2003, p.44) 3) Identidade Fisica do Juiz: fica o magistrado ligado, vinculado aos processos cuja instrução iniciou; mas, na realidade, sendo a magistratura um órgão uno, pode haver, em caso de extrema necessidade, a alteração da pessoa do julgador, mas havendo a preservação da identidade de órgão. (TOURINHO FILHO, 2004, p. 56 – 57) É importante salientar que, em nosso sistema penal, ainda vigem regras do procedimento escrito (defesa prévia, alegações finais, sentença, etc), sendo que na realidade há um misto de procedimento escrito e oral. Um grande avanço em direção à aplicação do procedimento oral foi o procedimento dos Juizados Especiais Criminais, em que há um primor pela oralidade e imediatilidade. Princípio da Publicidade A publicidade é garantida em todo o procedimento, seja ele judicial ou até mesmo administrativo, por ser a mesma tanto uma garantia para o indivíduo quanto para a sociedade. No Direito pátrio vigora o princípio da publicidade absoluta, como regra. As audiências, as sessões e a realização de outros atos processuais são franqueados ao público em geral. Qualquer pessoa pode ir ao Fórum, sede do juízo, assistir à audição de testemunhas, ao interrogatório do réu, aos debates. Em se tratando de processo da competência No art. 5º XXXIII dispõe que: “Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 14 do Júri, são impostas algumas limitações (TOURINHO FILHO, 2004, p. 43) Pode haver restrição a publicidade dos atos processuais nos casos descritos no art 5º LX da CF/88 que reza “A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”. Serve a regra da Publicidade para tentar impedir a fraude e a corrupção, fazendo com que os atos processuais fiquem os mais visíveis possíveis a fim de que possa a sociedade e as próprias partes servir de fiscais do cumprimento da lei. A publicidade não é total, pois até mesmo a Constituição Federal (art 5° LX) prevê algumas ressalvas a ela. Utilizamos as ressalvas constitucionais quando se restringe o número de pessoas em determinado ato (ex. votação dos jurados em um júri, que deve ser na sala secreta e com número reduzido de pessoas), ou, ainda, utilizamos tais ressalvas para retirar o réu da sala de audiências para que não influa em testemunho. No Inquérito Policial, deve-se preservar o sigilo necessário à elucidação do fato, podendo, então, ser bem restrita a publicidade de atos. Pare e Pense 1)Num júri, quando os jurados se reúnem na sala secreta para a votação, se está ferindo o princípio da publicidade? Por quê? Comentário da questão: Na verdade não, pois o ato processual (julgamento em si) é público, mas somente aquela parte do ato (votação) é secreta, para garantir o interesse do sigilo e imparcialidade das votações. Princípio da Obrigatoriedade O princípio da Obrigatoriedade está contido nos arts 5º, 6º e 24 do CPP e diz que: “sendo necessário para a manutenção da ordem social que os delitos sejam punidos, deve, obrigatoriamente, o estado promover o jus puniendi”. O princípio da obrigatoriedade faz com que a autoridade policial instaure o Inquérito Policial, e que o Ministério Público promova a ação penal pública (só a pública porque a privada é de iniciativa do ofendido). Segundo Mirabete (2003, p. 46): (...) no momento em que ocorre a infração penal é necessário que o Estado promova o Jus Puniendi, sem que se conceda aos órgãos encarregados da persecução penal poderes discricionários para apreciar a conveniência ou oportunidade de apresentar sua pretensão ao estado-Juiz. É exceção do Princípio da Obrigatoriedade, o princípio da oportunidade ou bagatela (não deve o Estado promover a ação penal quando dela resultar Pelo princípio da bagatela, não deve o direito penal se ocupar de lesões a bens jurídicos insignificantes. Ação penal privada ocorre em certos crimes, em que somente interessa à vítima ou a seus representantes dar continuidade à persecução penal. Ainda no art. 93 IX dispõe: “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados ou somente à estes”. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 15 mais inconvenientes que vantagens à sociedade). No Brasil, este princípio acaba ficando restrito aos crimes de ação privada e nos delitos que dependem de representação do Ministro da Justiça. A Lei 9.099/95 em seu art. 72 acaba diminuindo a aplicação deste princípio, já que tem o instituto da transação penal, que tranca o processo antes do oferecimento da denúncia, por meio de um acordo celebrado entre o réu e o Ministério Público. Princípio da Oficialidade Este princípio está previsto nos artigos 5º LIX, 144, 129 I; 128 I e II da Constituição Federal, e ainda nos artigos 4º e seguintes e artigo 29 Código de Processo Penal. Diz este princípio que já que a repressão do crime é função exclusiva do Estado, e dele devem derivar os atos de persecução penal, ou seja, a repressão ao crime deve ser originada e sucedida pelos órgãos oficiais do Estado. Como ensina Mirabete (2003, p.47): Como a repressão ao criminoso é função essencial do Estado, deve ele instituir órgãos que assumam a persecução pena. É o princípio da oficialidade, de que os órgãos encarregados de deduzir a pretensão punitiva sejam órgãos oficiais. O Ministério Público e a Polícia, órgãos oficiais responsáveis pela repressão penal, têm autoridade, podendo requisitar documentos, determinar diligências e quaisquer atos necessários à instrução criminal seja durante a fase inquisitiva (Inquérito Policial), seja durante a Ação Penal, cada um, é claro, em cumprimento a suas atribuições (MIRABETE, 1999, p. 48). Devemos perceber que esse princípio não é absoluto, porque na ação penal privada a iniciativa da ação é tida pelo ofendido, e não pelos órgãos oficiais, o mesmo ocorrendo na ação penal privada subsidiária da pública. Princípio da Indisponibilidade do Processo Está previsto nos artigos 10, 17, 25, 28, 42, 576, 385 do Código de Processo Penal e vale desde a fase do Inquérito Policial, mesmo não sendo o inquérito considerado como processo penal propriamente dito. Segundo Mirabete (1999, p. 48), o da indisponibilidade decorre do princípio da obrigatoriedade, sendo que este vigora inclusive na fase do Inquérito Policial. Por este princípio, após ser instaurado o Inquérito Policial, não pode o mesmo ser paralisado indefinidamente, ou arquivado. O arquivamento do Inquérito Policial, em decorrência do princípio da indisponibilidade somente pode se dar, mesmo com requerimento do Ministério Público, após ser submetido ao Juiz. Este, caso concorde, decidepelo arquivamento, mas se achar que é equivocado o pedido do arquivamento, submeterá os autos ao Procurador Geral do Ministério Público. Desistência ocorre quando a parte ofendida deixa, expressamente de ter interesse no prosseguimento da ação. Renúncia é quando o ofendido deixa de iniciar a ação penal. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 16 Caso o Procurador Geral do Ministério Público concorde com o juiz, poderá designar novo representante do Ministério Público para atuar no processo, ou oferecer a denúncia ele mesmo (Procurador), na hipótese do art. 28 do CPP. Discordando do posicionamento do Magistrado e, acatando o posicionamento do Promotor de Justiça, considerando acertada a decisão pelo arquivamento do Inquérito Policial, o Procurador Geral do Ministério Público remeterá tal decisão ao juiz que estará então obrigado a atender. Além disso, é esse princípio que proíbe o Ministério Público de desistir da ação penal que já esteja em andamento e de eventual recurso interposto, de acordo com o disposto nos arts 42 e 576 CPP respectivamente , e, ainda, permite que o juiz condene o réu mesmo com pedido de absolvição por parte do Ministério Público. Na ação penal privada, não cabe este princípio, já que o ofendido dispõe do processo, podendo extingui-lo por meio de desistência, perdão, renúncia etc., e ainda, nas ações penais públicas dependentes de representação, pode o ofendido, antes do oferecimento da denúncia, retratar- se, impedindo assim a interposição da ação penal. Princípio do Juiz Natural ou Juiz Constitucional Encontra-se previsto no artigo 5º LIII, XXXVII da Constituição Federal e ainda nos artigos 92 a 126 do Código de Processo Penal. Como diz Mirabete (2003, p.48) “o autor do ilícito só pode ser processado e julgado perante o órgão que a Constituição Federal, implícita ou explicitamente, atribui a competência para o julgamento”. Não pode a lei determinar magistrados definidos para o julgamento de determinadas pessoas ou fatos. Antigamente se dizia que este princípio informava ser obrigatório que um juiz que começasse um processo ficasse ao mesmo ligado até o final. No Brasil não se utilizou tal descrição até mesmo pela distribuição da carreira da magistratura. Assim, desde a CF/88 estabeleceu-se o juiz natural, não seria um juiz em pessoa, mas sim o juiz competente (órgão do Estado) (ZAFFARONI; PIERANGELI, 1997, p. 212 -228). Princípio da Iniciativa das Partes Este princípio é previsto no Código de Processo Penal, nos artigos 24, 29 e 30. No processo penal, são as partes (e aqui se considera o ministério Público como parte na ação penal pública) que devem produzir as provas. O juiz deve ficar restrito aos pedidos do autor e o que foi provado pelo réu, nunca indo além disso. Sendo o direito de ação penal o de invocar a tutela jurisdicional-penal do Estado é evidente que deve caber à CF/88 art 5° LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Denúncia é o nome que damos à peça inicial da ação penal pública. Art. 5° LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. O Dominus Litis, ou seja, o dono da ação, nas Ações Penais Públicas, é o Ministério Público, e nas Ações Penais Privadas é o ofendido ou seus representantes. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 17 parte ofendida a iniciativa de propô-la, não se devendo conceder ao juiz a possibilidade de deduzir a pretensão punitiva perante si próprio (MIRABETE, 2003, p.48) Não pode, por exemplo, o juiz começar um processo de ofício, somente pode iniciar um processo por petição de parte. Pode, porém, terminar o processo sem ter se chegado a verdade real, ou seja, por nulidade, ou por prescrição, falta de intimação da sentença de pronúncia, etc, ou então, com sentença de mérito, absolvendo ou condenando o réu. Princípio do Impulso Oficial Está previsto nos artigos 251, 156, 168, 176, 196 do Código de Processo Penal. Ensina Mirabete (2003, p. 49) que “(...) embora a iniciativa na produção das provas pertença às partes, incumbe ao juiz, segundo o CPP, prover a regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos”. Neste sentido, dispõe ainda o autor que cabe ao magistrado, em busca da verdade real manter a regularidade do processo, mesmo que as partes não o façam. Serve este princípio para evitar que o processo fique paralizado por falta de iniciativa das partes. Principio do Duplo Grau de Jurisdição Este princípio não está expresso na CF, mas decorre do próprio sistema Constitucional e diz que os Tribunais poderão rever as decisões em grau de recurso, ou seja, um tribunal, que é superior ao juiz singular, tem o poder de rever a decisão do juiz de primeiro grau. Conclusão O Direito Processual Penal evoluiu com as socieddaes e existe para que seja possível a aplicação do Direito Penal Objetivo, que segue princípios que buscam assegurar os direitos dos cidadãos na sua defesa, bem como a imparcialidade do julgamento. Vamos exercitar? 1- Trace um paralelo entre os princípios utilizados pelo Direito Processual Penal, indicando quais são os contemplados pela Constituição Federal. Comentário Você pode confirmar sua resposta no art 5 ° a CF/88. 2- Não pode ser considerado como Princípio do Direito Processual Penal: a) O Princípio da Presunção de Inocência b) O Princípio do Contraditório Sentença de pronúncia é aquela que leva o réu acusado de cometer crime doloso contra à vida a ser julgado pelo Tribunal do Júri. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 18 c) O princípio da Anterioridade ou da legalidade d) O princípio da Verdade Real Comentário Tente localizar a resposta correta utilizando seus conhecimentos sobre os princípios do Direito Penal e do Direito Processual Penal, comparando-os e vendo qual não se aplica a ambas as áreas do Direito. 3- Assinale a alternativa correta de acordo com o princípio da Verdade Real: a) Deve o juiz buscar a melhor versão entre as apresentadas pelas partes; b) Deve o Juiz abster-se somente ao que foi questionado pelas partes em juízo; c) Deve o Juiz buscar a verdade real dos fatos, mesmo que contrária às alegações tanto da defesa quanto da acusação; d) NRA. Comentário Para chegar à resposta correta você deve parar e pensar sobre qual é o interesse do Processo Penal, utilizando seus conhecimentos sobre os princípios que o norteiam. Síntese da aula Neste tema, estudamos que o Direito Processual Penal teve sua origem na Grécia e que somente após a segunda metade do Séc XVIII, com as idéias iluministas é que veio o mesmo a atuar na defesa dos cidadãos. Apresentamos os princípios que regem esse ramo do Direito que guardam semelhança com os de Direito Penal. Referências GILISSEN, John. Introdução Histórica ao Direito. 3 ed. Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian, 2001. PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 4 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado 2001. ZAFFARONI, Eugênio Raúl, PIERANGELI, José Henrique; Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa; Processo Penal, Volume 1. 26. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. MARQUES, José Frederico; Elementos de Direito Processual Penal. 2 ed. Campinas-SP: Millennium, 2000. Informações sobre o próximo tema Em nosso próximo tema, estudaremos o Inquérito Policial, estudando sua origem, seus requisitos e suas conseqüências. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 19 O Inquérito Policial Meta do tema Exposição dos procedimentos aplicáveis no Inquérito Policial e agentes responsáveispor tal procedimento, suas características e fundamentos. Objetivos Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de: Definir o que é Inquérito Policial; Indicar quais são só procedimentos adotados durante o Inquérito Policial; Apontar qual o valor probatório do e como pode o Inquérito Policial ser arquivado ou transformado em ação penal. Pré-requisitos Você terá mais facilidade no acompanhamento desta aula se for capaz de identificar os preceitos estudados nas Disciplinas de Direito Penal I, Teoria Geral do Processo e ainda em nosso primeiro tema de Direito Processual Penal. Introdução Caro aluno, neste tema vamos estudar o Inquérito Policial, qual a sua necessidade, qual a sua validade e como o mesmo deve se dar. Polícia, o que é? Segundo bem nos trazem Tourinho Filho (2004, p. 187 - 188) e Marcos Luiz Bretas (1997, p. 39 - 60) o termo Polícia vem do grego politéia – de polis (cidade) – significou, a princípio, o ordenamento Jurídico do Estado, governo da cidade e até mesmo a arte de governar. Continua Tourinho ensinando que em Roma, o termo politia adquiriu um sentido especial, significando a ação do governo no sentido “de manter a ordem pública, a tranquilidade e a paz interna”. Depois, passou indicar o próprio órgão estatal incumbido de zelar da segurança dos cidadãos. Tema 02 O órgão responsável por realizar o inquérito Policial, segundo o art 144 § 4º CF é a Polícia Civil. Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: § 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 20 Segundo Tourinho (2004, p. 187 - 188), a polícia como hoje a compreendemos, no sentido de órgão do Estado incumbido de manter a ordem e a tranqüilidade públicas, surgiu, na velha Roma, onde foi criado um corpo de soldados, que além das funções de bombeiros, exerciam as de vigilantes noturnos, impedindo assim a consumação de crimes. Menciona o autor que no tempo do Império Romano, quando se desenvolveu a cognitio extra ordinem, havia funcionários incumbidos de levar as primeiras informações sobre a infração penal aos Magistrados. Eram os curiosi, os irenarche, os stationarii, os nunciatores, os digiti durii, que desempenhavam papel semelhante ao da nossa Polícia Judiciária. A Polícia Civil tem, assim, por finalidade investigar as infrações penais e apurar a respectiva autoria, a fim de que o titular da ação penal (ofendido na Ação Penal Privada e Ministério Público na Ação Penal Pública) disponha dos elementos para ingressar em juízo. Ela desenvolve a primeira etapa, o primeiro momento da atividade repressiva do Estado (TOURINHO FILHO, 2004, p. 187 - 188). Conceito, Natureza e Finalidade do Inquérito Policial. Até o ano de 1871, não havia previsão de Inquérito Policial em nossa legislação, não havendo, por exemplo, nas Ordenações Filipinas, qualquer menção ao Inquérito. (BRETAS, 1997, p.43) Ainda segundo Tourinho (2004, p. 190), começou a introduzir a idéia do IP no código de processo surgido em 1832 que apenas traçava normas sobre as funções dos inspetores de quarteirão, mas tais inspetores não exerciam atividade de polícia judiciária. Embora houvesse vários dispositivos sobre o procedimento informativo, não se tratava do IP, com esse nome. Foi somente com a Lei nº. 2.033 de 20/09/1871, que surgiu entre nós o IP com essa denominação. O art. 42 da referida lei chegava inclusive a defini- lo: O IP consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito. A elaboração do IP constitui uma das funções da Polícia Civil. O art. 4º do Código de Processo Penal dispõe de forma clara fica clara esta função, conforme se vê no box ao lado. Chamamos atenção ao fato de que onde hoje se lê circunscrição (art. 4º), antigamente constava jurisdição, e tal termo foi alterado porque uma vez que a jurisdição é somente relativa ao órgão judicial, não sendo a polícia tal órgão, ela possui circunscrição, e não jurisdição. O art. 144, § 4º CF dispõe sobre as atribuições da Polícia Civil, que possui as seguintes funções: A partir de agora, Passaremos a chamar o Inquérito Policial de IP! Circunscrição significa porção territorial, e Jurisdição significa poder, autoridade de interpretar a aplicar a lei. Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. (Redação dada ao caput pela Lei nº. 9.043, de 09.05.1995). Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 21 investigar as infrações penais e sua respectiva autoria; fornecer às autoridade judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; realizar as diligências requisitadas pela autoridade judiciária ou MP; cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades competentes; representar ao juiz no sentido de se proceder ao exame de insanidade mental do indiciado; representar ao juiz no sentido de ser decretada a prisão preventiva e temporária; cumprir cartas precatórias expedidas na área de investigação criminal colher a vida pregressa do indiciado; preceder a restituição, quando cabível, de coisas apreendidas; realizar as interceptações telefônicas nos termos da lei 9296/96; Mas o que compõe um Inquérito Policial? De acordo com os ensinamentos de Tourinho Filho (2004, p. 191), sendo o Estado o titular do jus puniendi, quando se verifica uma infração, o titular do direito de punir (Estado) desenvolve inicialmente uma agitada atividade por meio de órgãos próprios, que visa colher informações sobre o fato tido como infracional e a respectiva autoria. Essa primeira atividade persecutória do Estado que grosso modo é realizada pela polícia judiciária é informada de uma série de diligências tais como: busca e apreensão – consiste no uso da força, por meio de determinação judicial, fazer uso da força, na procura (busca) e apreensão de um determinado bem ou pessoa; exame de corpo de delito – é o exame que se faz no objeto material de um crime a fim de se buscar provas quanto à materialidade e a autoria do mesmo; exame grofoscópicos – exames de escrita; interrogatórios – oitivas de indiciados, suspeitos, etc.; depoimentos – oitivas de testemunhas; declarações – termos escritos sobre fatos presenciados pelo declarante; acareações – consiste em colocar frente à frente pessoas que tenham prestado informações conflitantes no IP. Reconhecimentos – consiste em mostrar à vítima ou testemunha uma série de pessoas (quer pessoalmente, quer por fotografias), ou ainda diversos objetos para que a mesma identifique o relacionado ao crime. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 22 (MIRABETE, 1999, p. 88-89) Tais procedimentos, quando reduzidos a escrito ou datilografados constituem os autos de um IP. Podemos dizer então que Inquérito Policial: É um procedimento persecutório de caráter administrativo e, como tal, por essa sua feição, não pode estar a salvo do controle de sua ilegalidade. Por meio dele é que são oferecidos os elementos que servem àformação da ‘opinio delicti’. Se ditos elementos não compõem um fato típico, ao menos em tese, não há como manter o constrangimento que dele decorre. Sem o que o procedimento da autoridade administrativa deixaria de ser discricionário para ser arbitrário RT 409/71( DAMÁSIO, 2004, p. 5). O IP faz parte da persecução penal, sendo na realidade uma fase anterior ao processo penal propriamente dito, Segundo Frederico Marques (2000, p.138) “Verifica-se, portanto que a persecutio criminis apresenta dois momentos distintos: o da investigação e o da ação penal” Encaixa-se o IP, no primeiro tipo. Alguns autores como Mirabete (2003, p. 76 a 78) o caracterizam como: a) Instrução provisória - porque as informações contidas nele não são absolutas, podendo verificar-se o contrário no transcorrer do processo; b) Instrução preparatória - porque serve para dar o subsídio necessário ao oferecimento da denúncia ou queixa, serve como uma preparação para a ação penal; c) Instrução informativa - porque serve somente para fazer um levantamento de fatos e dados e informá-los, não fazendo juízo de valor; Seu destinatário imediato é o Ministério Público (crime de ação penal pública) ou o ofendido (crime de ação penal privada) que com ele formam sua opinião sobre o delito para apresentar a denúncia ou queixa. O destinatário mediato do IP é o juiz, porque poderá ele basear seu convencimento também em peças do IP. ATENÇÃO não pode o juiz fundar a sentença, SOMENTE em fatos do IP, pois os fatos formadores de seu convencimento devem estar confirmados no Processo. Na afirmação de Mirabete (2003, p. 76), “o procedimento policial destina a reunir os elementos necessários à apuração da prática de uma infração penal e de sua autoria”. Não é o IP peça indispensável à propositura da denúncia ou queixa, pois pode o MP ou o ofendido, de posse das provas necessárias para a instrução do processo penal, iniciá-lo sem o auxilio do IP. Já que é mera peça informativa. MP é a abreviatura que utilizamos para Ministério Público! EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 23 O art. 39, § 5º e 46, § 1º do CPP acentuam a possibilidade de o MP fazer a denúncia sem necessidade de IP. A investigação procedida pela autoridade policial não deve ser confundida com a instrução criminal, que se dá durante a ação penal. Na primeira não se aplicam as regras do contraditório, até mesmo porque é o IP mera peça informativa, não havendo qualquer discussão de mérito. O IP poderá ser instaurado, segundo Tourinho Filho (2004, p. 212 - 218): a) De oficio – quando a autoridade policial sabe por meio de suas atividades rotineiras da ocorrência de um crime, e instaura o IP; b) Por portaria da autoridade policial – a portaria é uma peça simples, na qual a autoridade indica ter recebido ciência de um crime (de ação penal pública incondicionada), e indica ainda, se possível a data e local onde ocorreu o crime, o nome ou indicações de quem possa ser o autor e determina que seja instaurado o IP; c) Pela lavratura do auto de prisão em flagrante – quando o suposto autor do delito é preso cometendo o mesmo, ou logo após cometê-lo, é preso em flagrante delito, e o próprio auto da prisão em flagrante servirá como peça inicial do IP; d) Mediante representação do ofendido – nas Ações Penais Públicas Condicionadas, é imprescindível haver a representação do ofendido para que possa a autoridade policial instaurar o IP; e) Por requisição do juiz ou do MP – quando o Juiz ou o Ministério Público têm conhecimento da ocorrência de um crime, podem requisitar á autoridade policial que a mesma instaure o IP; f) Por requerimento da vítima – nas Ações Penais Privadas somente pode proceder a autoridade policial ao IP, quando o ofendido requer que o mesmo seja instaurado. Características São, segundo Mirabete (2003, p.77), características do Inquérito Policial: a) Discricionário – porque “as atribuições concedidas à polícia são de caráter discricionário, ou seja, têm elas a faculdade de operar ou deixar de operar, dentro de um campo cujos limites são fixados estritamente pelo direito” (MARQUES apud MIRABETE, 2003, p. 77). As atribuições concedidas à policia no IP têm caráter discricionário, tem ela a faculdade de operar ou não, dentro dos limites fixados pelo direito; com isso, pode então a autoridade policial deferir ou não diligência requisitada pelo ofendido ou pelo indiciado. Representação é, segundo Franco, Betanho e Feltrin é “a manifestação da vontade do ofendido ou de seu representante legal no sentido de autorizar o Ministério Público a desencadear a persecução penal” (apud MIRABETE,2003,p.1 13) Não há que se falar em ferir, sigilo do IP ao contraditório, pois devemos lembrar que o IP é inquisitivo, ou seja, nele não se observa o contraditório. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 24 Afirma o autor que autoridade policial não é sujeita à suspeição, ou seja, não se pode afastar um delegado de polícia, por exemplo, que tenha interesse em auxiliar ou prejudicar uma das partes, porque ele não terá, em tese, poder para fazer qualquer coisa neste sentido, já que o IP é mera peça informativa. Os atos da autoridade policial são, como ainda afirma o autor: a) auto-executáveis - não sendo preciso qualquer autorização do Poder Judiciário. Mas não pode haver arbitrariedade, pois estão submetidos a controle judicial posterior, podendo uma decisão arbitrária ser revogada pelo judiciário por meio de habeas-corpus, mandado de segurança etc. b) Escrito – porque como é peça informativa, deve ser reduzido a escrito para que possa fornecer os elementos ao titular da ação penal. É o IP, ainda na citação de Mirabete, um procedimento escrito, uma vez que é destinado a fornecer informações, porém não está sujeito a formas rígidas, mas tem certas formalidades na peça investigatória, como no que se refere ao interrogatório, prisão em flagrante etc. c) Sigiloso – porque sem o sigilo seria impossível à autoridade policial proceder a ás diligências necessárias para a elucidação do delito. Afirma ainda o autor que o IP é sigiloso, pois essa é uma característica necessária para o esclarecimento dos fatos. Uma vez que, sendo as informações de um Inquérito muito divulgadas, podem desaparecer provas e indícios que o inquérito busca. O sigilo, porém, não se estende ao MP, e nem ao advogado constituído, mas, este último poderá ser afastado de determinadas diligências, mantendo-se contudo, o seu amplo acesso aos autos do IP. Pode o advogado ainda, durante o IP, ainda na afirmação do autor, desde que agindo no interesse de seu constituinte, acompanhar a produção de provas, requisitar diligências e tomar as medidas pertinentes ao bom desempenho de sua função (evidenciando-se que cabe à autoridade policial deferir ou não os seus pedidos). Na hipótese de crime de ação penal pública, a instauração do IP é obrigatória, assim como afirma a lei, sendo que, em caso de crime de ação penal privada, depende do desejo do ofendido e, ainda, nos casos de representação, é necessário a mesma para que se dê início ao IP. Competência Exceto nas exceções legais, a competência para presidir o IP é dos delegados de polícia de carreira. Aqui fala-se em competência no sentido de atribuição. São tais casos de exceção legal: Art. 41 § único da Lei orgânica Nacional do MP (Lei 8625/93) Art. 43 e parágrafos do Regimento Interno STF; EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 25 A Súmula 397 STF Art. 33 LC 35/79 Lei Orgânica da Magistratura nacional. A competência, segundo Tourinho Filho (2004, p. 194-199), é distribuída, geralmente, em função do local do crime; pode ainda ser dividida pela matéria e pela especialidade de algum órgão policial(delegacias especializadas). Geralmente, será competente o delegado que estiver lotado na delegacia mais próxima ao local do crime, pois será mais fácil a colheita de provas referentes ao ilícito. Contudo, há que se observar a existência de delegacias especializadas, como por exemplo: delegacia de entorpecentes, de furtos e roubos, de crimes contra a mulher, dentre outras. Nessa hipótese (existência de delegacias especializadas), as mesmas serão competentes para a apuração dos ilícitos daquela natureza. A palavra competência é utilizada em sentido leigo, ou seja, poder atribuído a um funcionário de tomar conhecimento de determinado assunto. Não é impossível, segundo o art. 4° do CPP, que uma autoridade policial de uma circunscrição investigue fato ocorrido em outra circunscrição e que tenha reflexo na sua, ou nos casos de haver mais de uma circunscrição na sua Comarca. As investigações do IP não estão incluídas nas limitações desse artigo da CF, pois não se trata de processo propriamente dito, mas sim de ato administrativo informativo. A competência para IP de titulares de prerrogativa de função deverá ser procedido no próprio foro do indiciado (TJ, STJ, STF). Dispensabilidade Pode o MP recusar o IP para interpor uma ação? Sim, segundo o art. 46 § 1º CPP. Ou seja, sendo o Inquérito policial mera peça informativa, se já possuir o MP, ou o ofendido, os requisitos necessários para a propositura da ação penal, poderá tranquilamente dispensar a realização do Inquérito. (TOURINHO FILHO, 2004, p. 199 – 201). Valor Probatório Mas qual é o valor do Inquérito Policial como prova em um processo penal? Tem o IP, segundo nos informa Noronha (1999, p. 28 – 30), valor informativo, podendo nele ser realizadas algumas provas periciais que, por serem técnicas, acabam tendo o mesmo peso que as provas colhidas em juízo, mas, de resto somente serve de roteiro para que se produza em juízo, amparado no princípio do contraditório, as provas que contém real valor probante. No art. 5º da CF, inciso LIII temos: LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 26 Vícios Como é peça meramente informativa, e não possui por si só valor probatório específico, os vícios contidos no IP não atingem a ação penal que dele se originarem. A desobediência à certas formalidades pode retirar a eficácia do ato em si (ex.: prisão em flagrante), mas não afeta a ação penal. (NORONHA, 1999, p. 28). Afirma o autor que essa não transmissão dos vícios do IP para a ação penal se dá por ser possível o ajuizamento da ação penal desacompanhada do Inquérito, pois ele é somente uma peça informativa. Tanto faz à mesma (ação) que o Inquérito seja válido ou não, sendo assim, qualquer vício que ele emane, não afetará a ação penal que poderia ter começado sem o mesmo, afeta sim ao próprio Inquérito, mas tal afetação em nada influi na persecução penal. (MIRABETE, 1999, p. 82). Notitia Criminis Indicam Mirabete (1999, p. 83-84), Tourinho Filho (2004, p. 211) e José Frederico Marques (2000, p. 143 a 151): Notita Criminis é a notícia do crime, o conhecimento espontâneo ou provocado da ocorrência de um crime. Espontânea ou de cognição (conhecimento) imediata se dá quando a autoridade policial toma conhecimento direto da ocorrência do crime. Pode ser por conhecimento direto Ex.: flagrante delito. Ou comunicação não formal (informação prestada por subalterno, pelos meios de comunicação etc.), aqui não há formalização de uma comunicação á autoridade da existência do crime, a mesma simplesmente recebe a notícia e busca realizar as diligências necessárias. Provocada ou de cognição (conhecimento) mediata o conhecimento do crime é transmitido à autoridade policial pelos diversos meios previstos na lei. Pode se dar por comunicação formal da vítima ou de qualquer do povo, ou ainda, por requisição do MP ou do Juiz. Aqui, após a formalização da comunicação passará a autoridade policial a buscar os meios necessários à elucidação dos fatos. Pode ainda a notitia criminis estar revestida de forma coercitiva (ou ser de cognição coercitiva) que é o caso da prisão em flagrante. Autores e Destinatários Segundo a lei (art. 5º do CPP), qualquer pessoa do povo pode apresentar Notitia Criminis, no caso de ação penal pública, sendo que a mesma vai ser reduzida a escrito, vai ser verifica a procedência das informações pela autoridade policial, que então instaurará o IP. CPP, art. 5° § 3°: “Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunica-la a autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito” “Eventual vício do Inquérito Policial não anula a ação penal, uma vez que se trata de peça meramente de informação. Assim, não se pode falar em nulidade da ação penal por vício do Inquérito policial” (STF, RHC 56.092, DJU 16.6.78, p. 4394; RHC 58.237, DJU 19.9.80, p. 7203; RHC 58.254, DJU 3.10.80, p. 7735; RTJ 89/57 e 90/39; TAPR, HC 56.247, PJ 41/241; STF, HC 73.271, 1ª Turma, RTJ 168/897) (DAMASIO, 2004, p. 5) EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 27 Pode ainda, no caso de ação penal pública, ser comunicada por meio de notícia anônima de crime (notitia criminis inqualificada), sendo que, nesse caso, deve a autoridade policial agir com a maior cautela para verificar a procedência da informação antes de mandar que seja instaurado o IP. Um exemplo desse tipo de Notitia Criminis é o Disque Denúncia! Segundo Tucci (apud DAMASIO, 1998, p.8), em caso de notícia anônima do crime “Ainda assim tem a autoridade policial dever de instaurar o inquérito policial para apuração do fato”. O juiz que tenha ciência da ocorrência de crime de ação pública deve comunicar o fato ao MP, ou requisitar diretamente a instauração de IP. Ainda afirma o autor que toda pessoa que, no exercício da função pública, tiver conhecimento da ocorrência de um crime de ação pública tem o dever de informar o fato à autoridade competente, sob pena de cometimento de contravenção penal. A essa mesma informação, está obrigado o profissional no exercício da medicina ou outra atividade sanitária, desde que a comunicação não exponha o paciente à ação penal. Segundo a lei, nas ações privadas cabe ao ofendido ou a seu representante legal oferecer a notitia cirminis. É faculdade do ministro da Justiça a Notitia criminis nos crimes em que a ação depende de sua representação. Instauração de Inquérito Policial no caso de Ação Penal Pública Incondicionada O IP pode começar de ofício, ou mediante requisição do MP ou do juiz, ou ainda, por meio de auto de prisão em flagrante delito, conforme vimos há pouco pelas idéias de Tourinho Filho (2004, p. 212 – 218). Ainda afirma o autor que, tomando conhecimento da ocorrência de crime ao qual se processa por meio de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial tem a obrigação de instaurar o IP. Expõe o autor que se instala também por requerimento da vitima que deve conter: a) Narração do fato com todas as circunstâncias. b) Individualização do indiciado e suas carcterísticas, não sendo possível devem-se declinar o motivo de não o fazer. c) Nomeação de testemunhas com indicação de profissão e endereço. Este requerimento, afirma o autor, pode ser indeferido pela autoridade policial por entender, por exemplo, que não constitui ato ilícito, sendo que do indeferimento do requerimento cabe somente recurso administrativo ao secretário de Segurança Pública, não cabendo recurso judicial. Existe diferença na Instauração do Inquérito para cada tipo de ação penal (pública incondicionada,pública condicionada e privada) Devemos lembrar que existem quatro tipos de ação penal: Pública Incondicionada, Pública Condicionada, Privada e Privada subsidiária da Pública. No mesmo sentido: STJ: “Criminal. RHC. Notitia Criminis anônima. Inquérito Policial. Validade. 1. A Delatio Criminis anônima não constitui causa da ação penal que surgirá, em sendo caso, da investigação policial decorrente. Se colhidos elementos suficientes, haverá então, o ensejo para a denúncia. É bem verdade que a Constituição Federal (art 5° IV) veda o anonimato na manifestação do pensamento, nada impedindo, entretanto, mas, pelo contrário, sendo dever da autoridade policial proceder á investigação, cercando-se, naturalmente, de cautela. 2. Recurso ordinário improvido ”(RHC 7.329-GO- DJU de 4-5-98, p. 208 em MIRABETE, Código de Processo Penal Interpretado, 2003, p.99) EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 28 A comunicação verbal, como expõe o autor, é a forma mais comum de notitia criminis, devendo as declarações ser reduzidas a termo pela autoridade policial. Quando houver flagrante delito, o IP será instaurado pela própria prisão, que vem a ser a notitia criminis, e o auto de prisão em flagrante delito deve ser a primeira peça do IP, sendo os requerimentos ligados a ela e exigidos em lei as peças seguintes do Inquérito Policial.. Em caso de estupro e atentado violento ao pudor, pode a autoridade policial iniciar o IP de ofício, mesmo não sendo a princípio crime de ação penal pública incondicionada. Pois, nos casos em que houver violência real, esse crime será de ação pública incondicionada; não havendo violência real, perde o caráter de publico incondicionada, ficando restrito aos casos de representação, ou pedido de instauração de inquérito policial pela vítima. Nos outros casos de instauração de IP, deve a autoridade policial baixar portaria para a instauração. A portaria é uma peça simples a qual a autoridade policial consigna ter tido ciência da prática de crime de ação penal pública incondicionada, oferecendo ainda as informações quanto à hora, o local, e o dia da ocorrência ( se possível) as características do autor do fato (se possível) e os dados da vítima, conclui determinando a instauração do IP. E quando não soubermos quem é o autor do delito? Há possibilidade de Instauração de Inquérito? Nada impede que haja IP referente a crime de autoria ignorada, desde que seja provada a materialidade do fato, ou seja, desde que se comprove que o crime existiu, pois uma das finalidades do inquérito é levantar a possível autoria do fato! Na afirmação do autor, se for o caso de crime já prescrito, não há necessidade do Inquérito ser instaurado, pois não há utilidade em se instaurar investigação de crime que não poderá ser punido. O mesmo ocorre quando houver ciência de fato considerado atípico, ou ser a autoridade incompetente para tanto (casos de prerrogativa de função), e ainda, quando não forem fornecidos os elementos essenciais às investigações, pois nesses casos, não haveria possibilidade de prosperar a investigação policial. Na mesma linha de pensamento, temos por óbvio que não se pode instaurar IP sobre fato em que o réu foi absolvido ou condenado, pois não há objeto possível em se informar sobre processo que já foi inclusive encerrado. Instauração de IP no caso de Ação Penal Pública Condicionada Autores como Mirabete (1999, p. 86 – 87) e Tourinho Filho (2004, p. 224 -231) ensinam que Ação Pública Condicionada é aquela que para ter início Neste Sentido, Súmula 608 STF “608 - No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada. (D. Pen.; D. Proc. Pen.)” EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 29 necessita de autorização do ofendido ou do Ministro da Justiça, sendo que também é imprescindível tal autorização para o início do Inquérito Policial. A essa autorização damos o nome de representação e ela é na realidade um pedido-autorizaçao que dá o ofendido para que se proceda a ação penal e pode ser dirigida á autoridade policial, ao juiz ou ao MP. É uma manifestação, escrita ou oral, que contém as informações necessárias à apuração do crime. Mas como provar que houve a representação se ela for oral? No caso da representação oral ou sem assinatura reconhecida deve a mesma ser reduzida a termo, e ela poderá ser feita pelo ofendido, por seu representante legal ou ainda por procurador com poderezs específicos para tanto. Esta representação pode ser feita diretamente ao MP, mas se a mesma não contiver todos os elementos necessários à propositura da denúncia deve o MP requerer á autoridade policial a instauração de IP. A representação possui prazo decadencial, sendo que o seu não oferecimento dentro deste impossibilita que o ofendido a faça posteriormente. Instauração do Inquérito Policial em caso de Ação Penal Privada Utilizando-nos ainda das lições dos nobres professores Mirabete (1999, p. 87-88) e Tourinho Filho (2004, p. 232-235) temos que a Ação Penal Privada é aquela que só ocorre se for promovida pelo ofendido ou por seus representantes; por isso mesmo, somente pode ser instaurado o IP mediante iniciativa da vítima. Além do ofendido, são igualmente competentes para requerer a instauração do IP: representante legal - se o mesmo for incapaz; cônjuge, ascendente, descendente ou irmão - se for o caso de morte do ofendido. Antes da CF/88, a mulher casada somente poderia proceder à queixa se o marido concordasse. Com o advento da Carta Magna, com o princípio da igualdade entre homens e mulheres, não é mais necessário qualquer concordância do marido pra que a mulher casada possa exercer seu direito de queixa (art. 5º, I). Conforme os mesmos autores, o requerimento para o início do inquérito não exige formalidades, mas é necessário que forneça os elementos indispensáveis à instauração do IP, sendo que, quando efetuado verbalmente ou por documento sem reconhecimento de assinatura, deve o requerimento ser reduzido a termo, nos mesmos termos que vimos no caso de representação. CPP - Art. 35- A mulher casada não poderá exercer o direito de queixa sem consentimento do marido, salvo quando estiver separada ou quando a queixa for contra ele. EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 30 A autoridade policial terá que instaurar inquérito sempre quando for requerido? Não, a autoridade policial pode negar a instauração do Inquérito, mas somente poderá fazê-lo por decisão fundamentada da qual cabe recurso ao Chefe de Polícia. Mirabete informa ainda que esse Chefe de Polícia (na verdade a figura que não existe mais) hoje seria considerado como o superior hierárquico da autoridade que negou a instauração do inquérito. É possível flagrante de crime que se procede por ação penal privada? Sim, em caso de prisão em flagrante por crime que se procede mediante queixa, o auto da mesma somente poderá ser lavrado se já houver sido requerida a instauração do IP pelo ofendido ou por quem tenha poderes para tanto. Durante o curso do Inquérito, para de correr a decadência penal? Não, ensinam os autores que a instauração do IP não interrompe o prazo decadencial, devendo a parte interessada ingressar com a ação penal antes do término do prazo legal, sob pena de não mais poder faze-lo. Justifica- se tal fluência de prazo por ser prescindível o Inquérito. Conteúdo do Requerimento É necessário que no requerimento exista o conteúdo mencionado no artigo 5° do CPP, pois os requisitos elencados na verdade configuram as informações mínimas para que possa a autoridade policial instaurar o IP. Dever de Instauração do Inquérito Policial Deve a autoridade policial instaurar o IPsempre em caso de ação penal pública incondicionada (art. 5° CPP), sendo que a não instauração configurará o crime do art. 319 do CP, independente de sanção disciplinar imposta por seu superior. Não é possível também, recusar requerimento de abertura de IP proveniente do MP (art. 13 II CPP). Se a requisição vier sem os requisitos mínimos para que se possa iniciar o ato investigatório, deve a autoridade solicitar os esclarecimentos necessários para que se proceda à abertura do IP (MIRABETE, 1999, p 87-88). Providências do ofendido no caso de recusa de instauração do Inquérito Policial Conforme bem ensina Tourinho Filho (2004, p. 234 – 235), quando houver recusa da autoridade policial em instaurar o inquérito policial, pode o Prevaricação Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá- lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 31 ofendido impetrar recurso ao superior hierárquico da autoridade que negou a instauração do Inquérito. A lei fala em impetrar recurso junto ao chefe de polícia, mas tal figura não mais existe em nosso ordenamento, por isso passou-se a considerar equivalente ao antigo chefe de polícia, o superior hierárquico da autoridade policial. Neste sentido Mirabete (2003, p.98) manifesta-se em seu Código de Processo Penal Interpretado. Apresentado tal requerimento deve a autoridade despachá- lo, mandando autua-lo com as instruções para as diligências que devem ser efetuadas por seus subalternos, servindo o requerimento de peça inicial do inquérito. Pode o pedido ser indeferido no caso de a autoridade pública entender que não haja justa causa para o inquérito, mas o despacho deve ser fundamentado. Desse indeferimento cabe recurso ao “chefe de polícia” (chefe imediato da autoridade), qualquer que seja a denominação dessa autoridade conforme a regulamentação legal federal ou estadual. Mirabete (2003, p. 87-90) mostra que a lei não determinou prazo para a interposição deste recurso, sendo, assim, possível ao ofendido ingressar com o mesmo até o final do prazo decadencial. Afirma ainda que a lei não impede novo recurso em caso de indeferimento do primeiro, sendo assim, havendo a negativa do recurso pelo superior hierárquico, pode o ofendido ingressar com esse quantas vezes julgue necessário (até a decadência). Se, mesmo recorrendo, não houver êxito do particular em ver instaurado o Inquérito, pode o mesmo, ainda, recorrer ao MP para que, estando este convencido da necessidade do IP requisite a sua abertura à autoridade policial, que não a poderá negar. Sendo que pela negativa sem fundamentação responde a autoridade policial administrativa, disciplinar e criminalmente, pois é obrigação da autoridade policial realizar as diligências que este requisitar, nos termos do art. 13 II do CPP: Art. 13. Incumbirá inda á autoridade policial: I-... “II-Cumprir as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público”. Delatio Criminis Há entendimento no sentido de não ser considerada a delatio cirminis anônima por se considerar crime a denunciação caluniosa e a comunicação falsa de crime, sendo ainda hoje aceita, por seu caráter de maior abrangência (Disque denúncia) (TUCCI apud DAMÁSIO 1998, p. 08). Vimos as excludentes da Ilicitude em nosso tema 3 de Direito Penal, são elas: Estado de necessidade, Legítima Defesa, exercício Regular de Direito e estrito Art. 5º. Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: § 3º. Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 32 Procedimento Instauração e Atos Iniciais Utilizando-nos dos ensinamentos dos professores Mirabete (1999, p. 88-89) e Tourinho Filho (2004, p. 236 -262) verifica-se que o entendimento desses mestres é no sentido de que, mesmo que verifique a autoridade policial a ocorrência de uma causa excludente da ilicitude, deve instaurar o IP, porque somente se analisarão as excludentes da ilicitude na ação penal propriamente dita. Inicialmente deve a autoridade policial proceder de acordo com o art 6º CPP. Ele indica quais as primeiras diligências a serem tomadas para que a autoridade possa colher ao vivo os elementos da infração, devendo para isso agir com presteza para que não se mude o estado das coisas no local do crime ou ainda desapareçam armas ou indícios. Deve então, a autoridade, na afirmação do autor, de acordo com o referido artigo, dirigir-se ao local providenciando que não se mude o estado das coisas até a chegada da perícia criminal. Em caso de vítima necessitando de socorro médico, pode autorizar a sua imediata remoção para que seja prestado o socorro. Em caso de acidente de automóvel, pode ordenar a mudança da posição dos veículos se estiverem impedindo ou atrapalhando o tráfego. Ainda de acordo com o art. 6º do CPP, deve apreender os objetos que tiverem relação com o crime após a liberação pelos peritos criminais. Estes objetos devem acompanhar o IP. Cabe ainda à autoridade recolher as provas que sejam úteis ao esclarecimento dos fatos e suas circunstâncias. Ainda, os autores citados de inicio, indicam que pode a autoridade policial realizar qualquer diligencia que julgue necessária à apuração do fato, desde que sejam observados os direitos e garantias constitucionais pode a autoridade policial realizar qualquer diligência que julgue necessária á apuração do fato. Ressalva-se, porém, que não poderá realizar busca e apreensão em residência, à noite, mesmo com mandado e nem durante o dia, quando não tiver em posse do mesmo. Diligências O Artigo 169 CPP adianta que para o efeito do exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das cosias até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Em caso de acidente ou vítima necessitando de atendimento hospitalar de urgência, é possível à autoridade policial efetuar a modificação da posição dos veículos para fins de escoamento de tráfego e ainda a remoção da vítima ferida ao hospital (TOURINHO FILHO, 2004, p. 238). Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos. Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº. 8.862, de 28.03.1994) EAD UNITINS – DIREITO PROCESSUAL PENAL I – FUNDAMENTOS E PRÁTICAS JUDICIÁRIAS 33 Apreensão de Objetos Utilizando-nos dos conhecimentos de Tourinho Filho (2004, p. 239) entendemos que a autoridade policial pode apreender todos os objetos relacionados ao crime e a seu esclarecimento, sendo que tais objetos acompanharão o IP e o processo se necessário. Na afirmação dos autores, muitas vezes um objeto apreendido e relacionado ao crime, contém em si muitos indícios ou até mesmo provas da autoria do delito, sendo importante, portanto, para a instrução criminal que os mesmos fiquem à disposição caso seja necessário realizar
Compartilhar