a soma dos pontos obtidos for de sete a 10, indica família altamente funcional; de quatro a seis, família moderadamente disfuncional; e de zero a três, família severamente disfuncional.9 A ampliação do instrumento foi realizada porque a intenção era não apenas mensurar o funcionamento familiar, mas também identificar a percepção do doente crônico frente a este funcionamento e, ainda, apreender como o mesmo se vê no contexto familiar. Desta forma, foi solicitado que o participante justificasse a resposta dada a cada item e respondesse a duas novas questões: há algo que você gostaria que fosse diferente em suas relações familiares? Como você se sente por precisar receber cuidados por parte de seus familiares? Para análise dos dados, as entrevistas foram transcritas na íntegra e posteriormente submetidas a um processo de análise de conteúdo,10 constituído por uma fase de pré- análise e exploração dos dados; seguida da organização sistemática dos dados em unidades temáticas, com descrição detalhada das características pertinentes. Os resultados foram então agrupados em categorias temáticas, conforme semelhança nos depoimentos. O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade com o estabelecido pela Resolução 196\96 do Conselho Nacional de Saúde e seu projeto foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Maringá (Parecer nº 084/2006). Todos os participantes do estudo ou seu responsável assinaram o termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias. Para a diferenciação dos sujeitos e preservação de sua identidade, foram utilizados os seguintes códigos: a letra P, relacionada a paciente, seguido pelo número de ordem da entrevista, acompanhada da letra M ou F, para indicar o sexo do mesmo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização dos participantes do estudo Os doentes em estudo tinham idade entre 50 e 89 anos, com predomínio da faixa etária de 70 a 79 anos. Mais da metade deles (sete) era do sexo feminino e os problemas de saúde mais frequentemente citados foram: hipertensão arterial e o Diabetes Mellitus, havendo também associações com outras doenças como o acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, dislipidemia e doenças reumáticas. A progressão das doenças crônicas ocasiona amplas repercussões na vida das pessoas afetadas, especialmente as idosas. Isto porque muitas vezes elas são múltiplas e quando não adequadamente acompanhadas, podem ocasionar dificuldades na realização das atividades de vida diária e nas relações sociais.11 Em relação à renda familiar, nove participantes relataram renda variando entre um e três salários mínimos, dois recebem em média quatro salários mínimos e apenas um relatou receber acima de cinco salários. A baixa renda encontrada neste estudo é um fato importante, pois rendas inferiores podem limitar o acesso aos cuidados alimentares e sociais, comprometendo de forma significativa a qualidade de vida das pessoas,4 especialmente quando trata-se de doentes crônicos e/ou idosos, dada à necessidade de gastos com medicamentos e serviços de saúde.12 O tipo de família variou, sendo seis famílias do tipo nuclear completa – aquela formada por pais biológicos e filhos solteiros, quatro do tipo extensa – aquela que possui mais de uma geração no mesmo ambiente, e duas famílias do Enzo Augusto – 3º período tipo monoparental – constituída por filhos solteiros e um dos pais4. É válido ressaltar que famílias extensas e completas oferecem maior suporte financeiro e recursos para o cuidado à pessoa com doença crônica4, especialmente quando se trata de idosos, como foi o caso de alguns dos participantes deste estudo. Quando este tipo de constituição familiar está presente, observa-se como diminuída a carga de trabalho dos familiares, reduzindo a sobrecarga e melhorando a qualidade dos cuidados, através do revezamento entre seus membros. Nestes casos caracterizam-se ainda como importante suporte emocional e instrumental, pois seus membros funcionam como facilitadores do cuidado.12 Funcionalidade familiar Em relação à funcionalidade familiar constatamos, por meio da pontuação obtida com a aplicação da escala de APGAR, que apenas quatro indivíduos consideram suas famílias como funcionais e os demais as consideram disfuncionais, seja de forma moderada (cinco) ou severa (três). Em relação ao primeiro componente do APGAR de família que é a adaptação, sete entrevistados afirmaram que ao recorrer à família em busca de ajuda, quase sempre ficam satisfeitos com a atenção que recebem da família, quatro que às vezes ficam satisfeitos e apenas um afirmou que raramente fica satisfeito. Quanto ao segundo componente que é a participação, cinco sujeitos afirmaram que às vezes ficam satisfeitos com a maneira pela qual a família conversa e compartilha com eles a resolução de problemas, quatro quase sempre ficam satisfeitos e três raramente ficam satisfeitos. O terceiro componente refere-se ao crescimento, ou seja, ele avalia a maneira como a família aceita e apóia os desejos do indivíduo de iniciar ou buscar novas atividades e realizar mudanças em suas vidas. Este ítem foi o que apresentou o maior número de entrevistados (seis) raramente satisfeitos, outros cinco referiram quase sempre ficar satisfeitos e apenas um às vezes ficar satisfeito. A afeição refere-se à maneira pela qual a família demonstra afeição e reage às emoções tais como mágoa, tristeza, raiva e amor. Constatamos que três doentes crônicos relataram quase sempre estarem satisfeitos com as interações emocionais no contexto familiar, seis às vezes ficam satisfeitos e três raramente ficam satisfeitos. O quinto componente refere-se à capacidade resolutiva, e cinco entrevistados referiram às vezes ficarem satisfeitos com a maneira pela qual a família e o próprio individuo compartilham o tempo juntos, quatro, que raramente ficam satisfeitos, e três, que quase sempre ficam satisfeitos. Por fim, observa-se que os elementos que mais contribuíram para a identificação da disfuncionalidade das famílias em estudo foram a afeição, resolução e participação, enquanto que a adaptação foi o que mais contribuiu para a identificação de uma funcionalidade positiva. A família é a principal fonte de suporte e apoio a qual seus membros recorrem para resolução de problemas, especialmente quando estes estão associados à saúde ou a falta dela.1 Nos casos de ausência de saúde somada às limitações decorrentes da velhice, a família é ainda mais necessária, estando envolvida em diferentes atividades, desde a simples até as mais complexas. São exemplos de atividades a preparação da refeição, a realização de cuidados diretos, o proporcionar atividades de lazer; a administração de medicamentos de uso contínuo e o acompanhar em consultas para avaliação do estado de saúde.13 Deste modo, as famílias assumem parcela significativa de responsabilidade na prestação do cuidado à saúde de seus membros. Nos casos de uma condição crônica, sua participação é fundamental, visando o controle da doença, manutenção da saúde e a prevenção das possíveis complicações associadas a ela.7 Sendo assim, os cuidados implementados pela família têm a finalidade de preservar a vida do doente, de maneira adequada às suas próprias possibilidades, aos seus padrões culturais, às necessidades particulares de cada indivíduo e às condições do meio onde vivem.14 Diante da necessidade de adaptação familiar aos cuidados e do próprio doente em recebê- los, destacamos a importância em conhecer a funcionalidade familiar, pois, acredita-se que a relação entre esta, a qualidade do cuidado e a satisfação do cuidador e do doente, é diretamente proporcional.8 Observamos, com este estudo, que a necessidade de adaptação familiar trás desconforto e insatisfação para os doentes: [...] me sinto muito mal com isso de elas [se referindo as filhas] terem que