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Epidemiologia ➔ É um transtorno de longa duração no qual o indivíduo experimenta períodos de crises e remissões que resultam em deterioração do funcionamento do doente e da família, causa diversos danos e perdas nas habilidades de todo grupo: diminuição da habilidade para cuidar de si mesmo, para trabalhar, para se relacionar individual e socialmente e para manter pensamentos completos ➔ É uma das doenças mentais graves mais frequentes e tem sido identificada como uma prioridade em termos de políticas de saúde devido ao défice de funcionamento inerente e à mortalidade precoce ➔ Identificada em todas as partes do mundo, em todas as classes sociais e etnias, as taxas de incidência diferem entre 7,7 e 43,0 por 100.000 habitantes, sendo esta maior em meios urbanos e em classes sociais mais desfavorecidas ➔ A incidência ainda parece ser significativamente maior em indivíduos do sexo masculino, com uma razão de 1,4 em relação ao sexo feminino ➔ As primeiras manifestações da doença surgem, habitualmente, na parte final da adolescência ou no início da vida adulta. ◆ Em doentes do sexo masculino ocorrem geralmente entre os 15 e os 25 anos e, no caso do sexo feminino, observa-se uma distribuição etária bimodal, com um primeiro pico entre os 25 e 30 anos e um segundo pico mais tarde na idade adulta (entre 3% a 10% das mulheres têm o início da doença após os 40 anos de idade) ➔ A taxa de mortalidade por acidente e doença natural é mais elevada nesta população. ◆ Estudos recentes mostram que estes doentes morrem, em média, 15 a 20 anos mais cedo do que a população geral, com maior prevalência de doença cardiovascular e neoplásica e diabetes mellitus ◆ Os efeitos adversos da medicação antipsicótica, a escassez de atividade física, a dieta e os hábitos tabágicos importantes são fatores que contribuem para o aparecimento de comorbilidades ➔ Tanto os doentes e suas famílias, como a sociedade sofrem um impacto econômico importante. ◆ As hospitalizações representam o custo direto mais substancial da esquizofrenia Fatores de risco ➔ história familiar de esquizofrenia ➔ problemas pré-natais, como infecções maternas e desnutrição ➔ complicações neonatais, como hipóxia ➔ eventos estressores na infância, como abuso físico e sexual Comorbidades ➔ Dentre as mais frequentes, está o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), que tem até 12 vezes mais chance de estar presente do que em indivíduos saudáveis ➔ Transtornos do humor também são comuns: até 25% dos pacientes têm depressão associada. ➔ O suicídio ainda é uma das principais causas de morte entre os esquizofrênicos, sendo responsável por até 30% dos óbitos. ➔ Os transtornos relacionados com o uso de substâncias também estão estreitamente ligados à esquizofrenia, com até 50% de comorbidade Etiologia ➔ É um transtorno causado por diversos fatores biopsicossociais que interagem, criando situações, as quais podem ser favoráveis ou não ao aparecimento do transtorno ➔ Os fatores biológicos seriam aqueles ligados à genética e/ou aqueles que são devidos a uma lesão ou anormalidade de estruturas cerebrais e deficiência em neurotransmissores ➔ Os fatores psicossociais são aqueles ligados ao indivíduo, do ponto de vista psicológico e de sua interação com o seu ambiente social, tais como: ansiedade muito intensa, estado de estresse elevado, fobia social e situações sociais e emocionais intensas Etiologia ➔ Vários fatores ambientais têm sido associados à doença, nomeadamente complicações obstétricas e perinatais, infecções e má nutrição materna, nascimentos nos meses de inverno, urbanidade, migração e consumo de substâncias ◆ O consumo de canabinóides, pode constituir um fator precipitante em indivíduos predispostos ou surgir como um fator secundário ao início dos sintomas, para além de conferir pior prognóstico Etiopatogenia ➔ Teoria de neurotransmissores ◆ Dopaminérgica ● Propôs-se que os antipsicóticos agiriam por intermédio do antagonismo de receptores dopaminérgicos, o que causaria um aumento compensatório nos níveis de dopamina ● As anfetaminas são utilizadas como drogas de abuso e podem induzir quadros psicóticos em indivíduos sem patologia psiquiátrica prévia e precipitar crises em pacientes com esquizofrenia ○ Atuam por meio da inibição do transportador de dopamina e do transportador vesicular de monoaminas, levando à liberação de dopamina armazenada nos neurônios pré-sinápticos. ○ Observou-se também que os antipsicóticos eram capazes de inibir a ativação e os movimentos estereotipados induzidos por anfetaminas em roedores. ● Alterações nos níveis de dopamina seriam responsáveis pelos sintomas observados na esquizofrenia. ○ Numa formulação mais recente, uma hipofunção dopaminérgica no córtex pré-frontal seria responsável pelos sintomas negativos e um evento primário na esquizofrenia, levando a uma hiperfunção dopaminérgica secundária no estriado, o que, por sua vez, levaria ao surgimento dos sintomas positivos Etiopatogenia ➔ Teoria de neurotransmissores ◆ Dopaminérgica ● Desse modo, acredita-se que na via mesolímbica, que vai do núcleo tegmentar ventral do mesencéfalo ao núcleo accumbens no sistema límbico, haveria uma hiperativação dopaminérgica que causaria os sintomas positivos do transtorno; já na via mesocortical, que também parte do mesencéfalo, mas chega ao córtex pré-frontal, a dopamina estaria hipoativa, resultando nos sintomas negativos. ◆ Glutamatérgica ● Propõe que os receptores glutamatérgicos do tipo N-metil-D-aspartato (NMDA) estariam deficientes na esquizofrenia, fazendo com que essa substância estimule excessivamente outros receptores não NMDA. ○ Sugere-se com essa ideia que as alterações em vias dopaminérgicas poderiam ser apenas efeitos secundários do funcionamento anormal do glutamato no cérebro. ● As duas vias interagem entre si, e é provável que a ação do glutamato regule o tônus dopaminérgico em regiões encefálicas específicas. ● A fenciclidina é uma substância inicialmente utilizada como anestésico e que teve o uso clínico abolido após relatos que associavam o medicamento a sintomas psicóticos, ao uso abusivo (angel dust) e à neurotoxicidade. ○ Atua como antagonista não-competitivo de receptor glutamatérgico tipo NMDA ● A ketamina é um anestésico quimicamente relacionado, utilizado em crianças e que apresenta afinidade entre 10 e 50 vezes menor por esse receptor. ○ A infusão intravenosa de ketamina em indivíduos normais induz delírios, desorganização, ilusões visuais e auditivas e um estado amotivacional marcado por embotamento afetivo, isolamento e retardo psicomotor Etiopatogenia ➔ Teoria de neurotransmissores ◆ Glutamatérgica ● Estudos post-mortem identificaram alteração na densidade de receptores glutamatérgicos e em sua composição no córtex pré-frontal, tálamo e lobo temporal, áreas que apresentam ativação diminuída durante testes de performance em esquizofrênicos ● A administração crônica de fenciclidina reduz o turnover de dopamina no córtex frontal e aumenta a liberação de dopamina em regiões subcorticais, particularmente no núcleo accumbens ○ Essa e outras evidências demonstram a interligação dos sistemas glutamatérgico e dopaminérgico, deixando claro que são conceitos complementares na compreensão da patogênese da esquizofrenia. ◆ Serotoninérgica (controversa) ● O uso de LSD causa sintomas como desrealização, despersonalização e alucinações visuais, experiências semelhantes a alguns sintomas da esquizofrenia. Esses efeitos se dão por intermédio do antagonismo de receptores serotoninérgicos. ● Essa observação, feita ainda na década de 1950, levantou a possibilidade de que um déficit de serotonina estivesse envolvido na patogênese da esquizofrenia. ● Os antipsicóticos atípicos apresentavam ação antipsicótica com baixa capacidade de induzir sintomas extrapiramidais e uma afinidade maior por receptores serotoninérgicos do que por receptores dopaminérgicos. ● Acreditava-se que a ação serotoninérgica seria responsável por um melhor efeitosobre sintomas negativos e teria reações protetoras sobre a indução de sintomas extrapiramidais ◆ Outros ● A adenosina tem ação modulatória sobre os sistemas glutamatérgico e dopaminérgico Etiopatogenia ➔ Teoria de neurotransmissores ◆ Outros ● O aumento de adenosina durante as fases iniciais do desenvolvimento cerebral tem sido relacionado a alargamento ventricular, alterações difusas de substância branca e cinzenta e redução do volume axonal ● Além disso, insultos cerebrais como hipoxia, convulsões, infecções e traumas podem aumentar os níveis de adenosina. ➔ Hipótese neurodesenvolvimental ◆ A proliferação neuronal e das células da glia, a migração celular, a diferenciação morfológica e bioquímica e a formação de sinapses dependem de complexas interações intracelulares com o ambiente celular, as quais determinam cada fase do processo de desenvolvimento cerebral. ◆ Uma variação genética ou um fator ambiental podem levar a uma cadeia de eventos, em que ocorrendo numa fase sensível, por sua vez, podem determinar um desenvolvimento cerebral alterado, eliciando uma estrutura mais vulnerável ao surgimento e perpetuação da psicose e/ou de outros sintomas que compõem a esquizofrenia ➔ Genético ◆ A esquizofrenia é considerada uma doença poligênica ◆ Todavia, alguns loci estão mais relacionados, como o 2q11, o 3q13-31 e o 8q12 ◆ Alguns genes candidatos têm sido estudados: ● COMT (catecol-O-metil-transferase) ● NRG1 (neurorregulina 1) ● DRD1-4 (receptores de dopamina 1-4) ● DISC1 e 2 Etiopatogenia ➔ Fatores psicossociais ◆ Uma destas correntes diz respeito ao ambiente familiar de pacientes esquizofrênicos ◆ O conceito de emoção expressa (EE) tornou-se particularmente importante nesta área, sendo usado para definir determinados tipos de atitudes hostis ou do excesso de envolvimento emocional por parte de familiares de esquizofrênicos. ◆ Apesar do mecanismo pelo qual a EE leva a recaída ser ainda desconhecido, os achados anteriores têm implicações fundamentais não só para o esclarecimento da relação fatores psicossociais versus sintomas esquizofrênicos, mas também para a formulação de estratégias terapêuticas e psicoeducativas visando a prevenção de recaídas ◆ A Segunda corrente atual de pesquisa na área relaciona-se com o estudo da influência de "eventos estressores psicossociais" no curso da doença. Sabe-se que o curso de diversas doenças de clara etiologia biológica pode ser influenciado por "eventos estressores psicossociais" como perda de familiar próximo, mudança de moradia, exames escolares etc. ◆ Estudos recentes investigando a influência destes life-events no curso da esquizofrenia sugerem que pacientes esquizofrênicos podem apresentar pioras sintomatológicas diante deste tipo de estresse Subtipos ➔ Paranóide: ◆ há proeminência de alucinações, principalmente auditivas, e de delírios de qualquer tipo ◆ O comprometimento do afeto e os sintomas psicomotores, quando presentes, não dominam a apresentação ◆ Tem melhor prognóstico se comparada às demais. Subtipos ➔ Hebefrênica: ◆ o afeto está gravemente comprometido com expressões de incongruência, embotamento e ambivalência ◆ O indivíduo pode se mostrar pueril ou “atoleimado” ◆ Também ocorre maior afrouxamento das associações do pensamento, podendo estar completamente desagregado ◆ Alucinações e delírios não predominam e seu início se dá na adolescência com pior prognóstico entre todos os subtipos. ➔ Catatônica: ◆ os sintomas psicomotores são os mais importantes, com estupor, rigidez muscular (catalepsia), movimentos estereotipados, fenômenos em eco (ecolalia e ecopraxia), flexibilidade cérea, negativismo ativo e passivo, além de obediência automática ◆ Durante o curso do transtorno, podem emergir episódio de intensa agitação e agressividade, aparentemente sem objetivo, chamada de furor catatônico. ➔ Simples: ◆ caracteriza-se por ser de evolução lenta e insidiosa, ao longo de pelo menos 1 ano, com expressão apenas de sintomas negativos, como retraimento social, apatia, introspecção, avolia, embotamento afetivo e empobrecimento do discurso ◆ Delírios e alucinações proeminentes não estão presentes. ➔ Depressão pós-esquizofrênica: ◆ apesar de ser uma denominação ainda controversa, é diagnosticada quando o paciente apresenta sintomas marcadamente depressivos, como lentificação psicomotora, humor deprimido, deficiência no autocuidado e ideação suicida, logo após o término de um surto esquizofrênico Subtipos ➔ Esquizofrenia indiferenciada: diagnóstico atribuído aos indivíduos que, apesar de preencherem critérios para esquizofrenia, não se diferenciam em nenhum dos demais subtipos Curso ➔ Antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas, o paciente já pode apresentar anormalidade de funcionamento, como retraimento social, dificuldade de aprendizagem, traços esquizóides ou esquizotípicos de personalidade e atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor (período pré-mórbido). ➔ Fase prodrômica ◆ Meses antes da eclosão da psicose propriamente dita há geralmente uma queda no funcionamento do sujeito, que se torna mais isolado, ansioso, pouco comunicativo, com ideias distorcidas e a sensação de estranhamento do ambiente, comportamentos esquisitos e até mesmo alterações sensoperceptivas menos complexas. ➔ Fase ativa ◆ Ao final desse tempo emerge a psicose com delírios, alucinações e desorganização comportamental, ➔ Fase residual ◆ evolução da fase ativa com redução gradual dos sintomas positivos e persistência de sintomas negativos, como autonegligência, embotamento afetivo e empobrecimento do discurso Critérios Diagnósticos ➔ 6As de Bleuer: ambivalência, afeto embotado, associações frouxas, autismo, atenção prejudicada e avolição ◆ Desse modo, delírios e alucinações seriam sintomas acessórios por estarem presentes também em outros transtornos mentais Critérios Diagnósticos ➔ Kurt Schneider, em 1952, enunciou que alguns sintomas eram tão característicos das psicoses esquizofrênicas que poderiam ser aceitos como patognomônicos ◆ Estes foram chamados de sintomas de primeira ordem ◆ Outros fenômenos menos específicos foram por ele denominados sintomas de segunda ordem ➔ Seguindo as ideias de Sir. John Jackson (1835-1911) sobre um modelo hierárquico de funcionamento do sistema nervoso central, os sintomas foram posteriormente separados em positivos e negativos. ◆ Sintomas positivos seriam os que expressam “aumento da atividade mental”, como alucinações, delírios, desorganização do comportamento, agitação psicomotora e desagregação do pensamento ◆ Sintomas negativos seriam os que refletem “diminuição da atividade mental”, como embotamento afetivo, pobreza do discurso, retraimento social, apragmatismo e prejuízo cognitivo Diagnósticos Diferenciais ➔ Transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar com características psicóticas ou catatônicas ➔ Transtorno esquizoafetivo, transtorno esquizofreniforme, transtorno psicótico breve, transt. de personalidade esquizotípica ➔ Transtorno delirante ➔ Transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno dismórfico corporal ➔ Transtorno de estresse pós-traumático ➔ Transtorno do espectro autista ou transtornos da comunicação ➔ Psicose lúpica (pedir FAN, anti-DNA e antiproteína-P-ribossomal/anti-P) ➔ Intoxicação por drogas como cocaína/crack ou maconha ➔ Delirium A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Delírios (1) Alucinações (2) Discurso desorganizado (3) Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia) B. Prejuízos sociais (relações interpessoais ou autocuidado) por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação. C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazerao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados E, A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes Tratamento ➔ Farmacológico ◆ Entre os sistemas dopaminérgicos cerebrais nos quais os antipsicóticos atuam, o mesocortical e o mesolímbico são os que provavelmente estão mais relacionados com a fisiopatologia da esquizofrenia ◆ Já o bloqueio de receptores dopaminérgicos do sistema nigroestriatal é considerado responsável pelos efeitos extrapiramidais dos neurolépticos, enquanto a ação no sistema túbero-infundibular parece ser responsável pelos efeitos endocrinológicos causados por estas drogas. ◆ Atualmente, os esforços concentram-se na busca de antipsicóticos com menos efeitos extrapiramidais e que sejam eficazes no tratamento dos sintomas negativos da esquizofrenia, denominados antipsicóticos atípicos, a exemplo da clozapina, risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona e mais recentemente o aripiprazol. ◆ Efeitos colaterais ● Como vimos, a via dopaminérgica nigroestriatal participa da regulação da atividade motora ● Por bloquearem receptores dopaminérgicos estriatais, os antipsicóticos típicos podem produzir o aparecimento de efeitos adversos extrapiramidais. ● Estes incluem parkinsonismo, reações distônicas agudas, acatisia, acinesia e síndrome neuroléptica maligna ● Reações distônicas agudas também podem ocorrer, como espasmos dos músculos da face, pescoço e língua. ● A acatisia refere-se ao estado de desconforto intenso nos membros inferiores, acompanhado de incapacidade de ficar com as pernas paradas. ● No entanto, o efeito adverso motor mais temido dos neurolépticos é a discinesia tardia ○ Ela é caracterizada por movimentos estereotipados involuntários, principalmente da face, como sucção com os lábios, movimentos laterais da mandíbula e movimentos anormais da língua, descritos como fly-catching. Pode também envolver movimentos coreiformes de braços, troncos ou pernas. Tratamento ➔ Farmacológico ◆ Efeitos colaterais ● Outros efeitos adversos também de origem central são os que afetam o sistema neuroendócrino causando ginecomastia, galactorréia e amenorréia. ● Os neurolépticos atuam também na periferia do organismo, afetando o sistema nervoso autônomo. ● Assim, bloqueiam os receptores da acetilcolina, do tipo muscarínico, levando a sintomas como secura da boca e da pele, midríase e dificuldade de acomodação visual, taquicardia, constipação intestinal e retenção urinária. ◆ De maneira geral, recomenda-se iniciar o tratamento com um antipsicótico atípico (olanzapina, risperidona, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona, paliperidona, asenapina), chegando a doses efetivas, por no mínimo 4 a 8 semanas. ● Os antipsicóticos levam dias a semanas para produzirem seus efeitos terapêuticos máximos ○ Como vimos, sua principal ação consiste no bloqueio de receptores dopaminérgicos D2 no SNC ○ Diversos estudos demonstram uma relação direta entre a potência terapêutica dessas drogas e sua capacidade em bloquear receptores D2. ● Caso não ocorra resposta clínica a esse primeiro ensaio ou a tolerabilidade seja pequena, opta-se por outro antipsicótico, típico ou atípico, em doses eficazes pelo mesmo período de tempo. ◆ Se mais uma vez não houver melhora satisfatória, o paciente é classificado como refratário e está indicada a clozapina, que deve ser prescrita até a dose de 900mg/dia por pelo menos 6 meses. ◆ Cerca de 30% dos indivíduos são refratários e 30% desses não melhoram nem mesmo com a clozapina, sendo considerados super-refratários. Tratamento ➔ Farmacológico ◆ Para indivíduos super-refratários não há protocolos clínicos bem definidos e restam poucas opções, lançando-se mão da associação da clozapina a outras estratégias, como lamotrigina, risperidona, eletroconvulsoterapia (ECT) e estimulação magnética transcraniana (EMT) (esta última para alucinações auditivas refratárias). ◆ Em situações de maior risco, como agitação psicomotora, agressividade, ideação suicida ou homicida, recusa alimentar e má adesão, deve-se considerar a possibilidade de internação, visando assegurar a proteção do paciente e de terceiros. ◆ Antipsicóticos de longa ação, como haloperidol, risperidona e paliperidona, disponíveis em formulações de depósito, podem reduzir de maneira consistente o risco de má adesão. Nas apresentações catatônicas, os antipsicóticos se mostram pouco efetivos. ◆ Do ponto de vista neuropsicofarmacológico, alguns estudos preconizam o uso de benzodiazepínicos em doses altas, particularmente o lorazepam e o clonazepam ● A ECT, nesses casos, pode ser o tratamento de primeira escolha por sua alta taxa de resposta e segurança ➔ Não-farmacológicos ◆ Como a esquizofrenia costuma comprometer a vida do paciente, torná-lo frágil diante de situações estressantes e aumentar o risco de suicídio, é exigido um acompanhamento do paciente em longo prazo e que o psiquiatra faça um planejamento para segui-lo ao longo do tempo. ◆ O objetivo principal do acompanhamento psiquiátrico é a prevenção de recaídas, pois elas contribuem para a deterioração do paciente. Como objetivos secundários estão a prevenção do suicídio, a reabilitação do paciente e a diminuição do estresse familiar. Tratamento ➔ Não-farmacológicos ◆ Na fase aguda: ● A decisão de internação é tomada quando não houver suporte familiar ou a crise for muito intensa e representar risco para o paciente e seus familiares. ● A internação deve ser a mais curta possível (15 a 30 dias) e manejada para buscar a dose ideal do antipsicótico e para aprofundar o vínculo com o paciente. ● Assim que melhorar a agitação ou agressividade, é possível o acompanhamento ambulatorial, mesmo que a remissão total não tenha ocorrido. ◆ Psicoterapia ● Deve ter por finalidade melhorar os sintomas, prevenir as recaídas e evitar a institucionalização ● Entretanto, nos momentos de crise, deve ajudar a encarar uma internação necessária como medida protetora. ● Deve priorizar o apoio, por se tratar o portador de esquizofrenia de pessoa com dificuldades específicas que necessitam de suporte que o capacite a obter melhora em sua qualidade de vida ● Na psicoterapia de grupo, o terapeuta deve ser ativo e monitorar o ambiente do grupo ○ Deve buscar temas, estimular e organizar a conversação, oferecer suporte e proteção, favorecendo a coesão grupal. ◆ Terapia ocupacional ● Sua finalidade é recuperar a capacidade de voltar a fazer algo e combater a falta de vontade ● É indicada para aquelas pessoas que estão em estado de desorganização, isoladas e com a vontade comprometida ● A atividade faz com que a pessoa se organize e possa desenvolver sua criatividade. Tratamento ➔ Não-farmacológicos ◆ Acompanhante terapêutico ● O acompanhante terapêutico (às vezes designado como "amigo qualificado") é um profissional de saúde mental que vai ajudar o portador a recuperar habilidades perdidas, acompanhando-o em seu dia-a-dia. ● O acompanhante vai à casa da pessoa, sai com ela, vai ao shopping, ajuda-o a voltar a dirigir etc. ● É uma atividade "corpo a corpo", em que as inadequações são denunciadas até mesmo vivenciando, em conjunto, situações de constrangimento e de vergonha. ● Tem a finalidade de ajudar o portador a locomover-se pela cidade, estar inteirado dos preços, buscar o lazer. ◆ Orientação familiar ● Estudos internacionais mostram que as recaídas são mais frequentes quando o ambiente familiar é estressante. ● Assim, as intervenções definidas como programas de tratamento psicopedagógico das famílias têm a finalidadede diminuir as tensões presentes no ambiente familiar e de melhorar o funcionamento social do portador. ● Há programas familiares que são realizados com a presença conjunta dos portadores e dos demais membros da família, enquanto outras metodologias propõem a realização de programas de orientação aos familiares sem a presença conjunta dos portadores ◆ Abordagem psicossocial em instituições ● Em determinados momentos de crise a internação ainda pode ser útil ● Caso seja necessária, a internação deve ser em curto prazo ● Em geral, de 15 a 30 dias são suficientes para controlar os sintomas mais evidentes Tratamento ➔ Não-farmacológicos ◆ Abordagem psicossocial em instituições ● Nesse período, é importante que a família fique em contato com o doente, leve-o para casa nas licenças de fim de semana e assim que receba alta ● Em alguns casos, nos momentos críticos, o hospital-dia pode ser uma alternativa à internação hospitalar. ● Após a alta hospitalar, igualmente, há casos em que o hospital-dia pode ser uma boa alternativa até a remissão completa do surto ● A recuperação vai sendo alcançada com a internação parcial. ● O doente fica durante o dia em atividades de grupo ou terapia ocupacional e, à noite, volta para casa ● A alta do hospital-dia pode ser realizada de maneira gradual, com a diminuição do número de dias frequentados por semana. ● A família é orientada para a sequência dos passos até a remissão do surto e a volta do equilíbrio na vida familiar. ● Os centros de atenção psicossocial (CAPS) ou os núcleos de atenção psicossocial (NAPS), centros de convivência e algumas associações de portadores e familiares estão organizados para atividades de reabilitação social do portador. ◆ Grupos de auto-ajuda ● Ao longo da vida, grupos de auto-ajuda como os Psicóticos Anônimos (PA) e os Amigos e Parentes dos Psicóticos Anônimos (APPA) contribuem para que os portadores e seus familiares troquem experiências, encontrem-se, apoiem-se e busquem alternativas para melhor conviver com a doença.
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