vital à leitura, à escrita e à atenção aos detalhes, ficando intacta apenas a visão peri- férica. Para melhorar a visão, é necessário aproximar o objeto. Para aumentar o tamanho, pergun- tar ao aluno o que está vendo. Para interpretar corretamente o que vê, ampliar letras, figuras e usar porta- -texto, representado na figura 4.2. 2 Retinose pigmentar: é consi- derado um grupo de doenças da retina, de caráter degenerativo e hereditário. Leva à perda de visão noturna, dificuldade de enxergar quando há pouca luminosidade ou claridade excessiva. Resulta na perda progressiva da visão perifé- rica e no estreitamento do campo visual, chamado de visão tubular. A pessoa passa a necessitar de bengala para locomoção segura em ambientes desconhecidos ou escuros. Não são necessárias Figura 6.2 – Porta-texto Fonte:www.ergonomize.com. Libras e temas contemporâneos em educação – 80 – ampliações de imagens ou letras. Ao contrário, poderá ser neces- sária a diminuição de imagens e letras, pois a perda da visão periférica dificulta a percepção de objetos grandes. As pessoas com deficiência visual, dependendo das causas, podem enxergar de maneiras diferentes. Podem perder a visão central, perder a visão periférica, enxergar manchas pretas na imagem ou enxergar de forma opaca, como demonstrado na figura a seguir: Figura 4.3 – Diversas formas de enxergar 4.6 Sinais de alteração da visão 2 Irritação crônica indicada por olhos lacrimejantes, pálpebras avermelhadas, inchadas ou remelosas. 2 Náuseas, dupla visão ou névoas durante ou após a leitura. 2 Hábito de esfregar os olhos, franzir ou contrair o rosto ao olhar objetos distantes. 2 Inquietação, irritabilidade ou nervosismo excessivos depois de um prolongado e atento trabalho visual. 2 Pestanejamento contínuo, sobretudo durante a leitura. 2 Capacidade de leitura por apenas um período curto. 2 Inclinação da cabeça para um lado ou outro durante a leitura. 2 Cautela excessiva no andar, correr raramente e tropeçar sem motivo aparente. – 81 – Deficiência visual 2 Durante a leitura, hábito de segurar o livro muito perto, muito distante, em outra posição incomum, ou, ainda, fechar ou tapar um olho. 4.7 Avaliação funcional A avaliação funcional requer a observação do desempenho visual do aluno em todas as atividades diárias, incluindo a utilização da visão para as tarefas escolares. A avaliação funcional da visão revela dados qualitativos de observa- ção informal sobre: 2 desenvolvimento visual do aluno; 2 nível funcional da visão residual; 2 necessidade de adaptação à luz e aos contrastes; 2 adaptação de recursos ópticos e não ópticos. 4.8 Estimulação sensorial precoce A estimulação precoce consiste em programa oferecido às crianças com deficiência, de 0 a 3 anos, com o objetivo de contribuir no seu desen- volvimento integral, isto é, favorecer a formação social, afetiva, cognitiva, sensorial-motora, comunicativa e adaptativa. O trabalho de estimulação permite à criança participar de experi- ências lúdicas, comunicativas, sensoriais, apropriar-se dos elementos da cultura, da língua, desenvolver capacidades para resolver problemas de natureza prática, estabelecer a posse de objetos, atribuir significados fun- cionais, afetivos e simbólicos ao vivido. A criança passa da percepção sensorial dos objetos à aquisição de conceitos pelo uso funcional do objeto e pela atribuição de significados. No trabalho de estimulação precoce, a criança com deficiência inicia o processo de percepção de si e do outro. Aprende os procedimentos de pro- teção e o uso de referências ou pistas físicas do ambiente para realização da sua mobilidade independente e domínio do espaço. Libras e temas contemporâneos em educação – 82 – No programa de estimulação precoce, as crianças têm oportunida- des de participar de jogos, brincadeiras e apropriar-se da língua para a comunicação, para a negociação, para resolver problemas e internalizar a cultura em que vivem. As crianças aprendem a estabelecer trocas sociais e projetar sua subjetividade nas suas construções lúdicas e artísticas. A ausência de oportunidades de socialização implica dificuldades comunicativas, passividade, baixa coordenação motora e tendência ao isolamento social, que pode resultar em distúrbios secundários, como autismo e déficits de cognição (FRAIBERB, 1975). Para a pessoa cega, a mão assume um papel protagonista em seu desenvolvimento, pois é por meio da linguagem e da experimentação tátil que obtém grande parte de informações do ambiente. Além disso, a per- cepção tátil e a afetividade são os recursos para o desenvolvimento normal da criança, podendo alcançar um potencial cognitivo maior e a consti- tuição de uma personalidade em equilíbrio com o meio social e físico (LUCERGA REVUELTA, 1993). Para criança de baixa visão, as atividades são acompanhadas de exercí- cios com luz e objetos de cores que produzam destaques, contrastes, estimu- lando a consciência visual, a focalização, o segmento visual, a fixação, a dis- criminação de figuras e de detalhes, a percepção do todo e da figura de fundo. 4.9 Desenvolvimento tátil As pessoas com deficiência visual dispõem de uma ampla gama de possibilidades de perceber o mundo que as cerca, utilizando as modalida- des sensoriais remanescentes: audição, tato, olfato e paladar. Entre os sentidos remanescentes, o tato permite a formação de repre- sentações mentais de caráter espacial e a retenção na memória, a curto prazo, da informação apresentada pelo tato. Isso é relevante para a leitura, pois a codificação dos fonemas se processa via tato, a leitura Braille. A percepção tátil apresenta quatro estágios, sendo: 2 estágio da qualidade tátil – tridimensional – o todo; 2 estágio de reconhecimento concepção de forma – bidimensiona- lidade – todo e partes do todo; – 83 – Deficiência visual 2 estágio de representação gráfica – reprodução de objetos em relevo; 2 estágio sistema de simbologia Braille. O tato é de fundamental importância para a leitura do Braille. O pro- fessor utiliza-se de vários recursos para desenvolver a sensibilidade tátil do aluno, conferindo significado a toda experiência háptica (ciência que estuda a capacidade de perceber a realidade a partir do toque, isto é, tama- nho, forma, pressão, textura, temperatura, vibração e outras sensações). Com o trabalho de mediação adequada, a pessoa cega poderá adquirir habilidades para identificar e distinguir tecidos, roupas, talheres, alimen- tos, além de reconhecer texturas (liso e áspero), espessura (grosso ou fino), temperatura (quente ou frio), baixo e alto relevo, posição, forma, detalhes de objetos e reconhecimento dos aspectos físicos e sociais das pessoas. Pode-se explorar, com atenção aos detalhes e verbalização, todos os ambientes disponíveis, visando à formação dos conceitos de espaço, tamanho, distância, contribuindo para a tomada de consciência de si e dos elementos no nosso cotidiano. Aprender a brincar com jogos de mesa, como dominó, xadrez, dama e baralho, é uma oportunidade de trocas sociais que favorece a formação da autoimagem e a percepção do outro. O professor não é apenas aquele que ensina o aluno cego a aprender a ver com as mãos, mas aquele que o ensina a pensar e compreender a complexidade da cultura humana e da natureza. Para Bonilha (2006) “[...] o aluno com deficiência visual tem um papel importante na constituição do vínculo com o professor. Esse aluno poderá fornecer orientações gerais sobre sua deficiência, bem como poderá coo- perar com o professor no desenvolvimento de algumas estratégias peda- gógicas”. O estudante precisa estar aberto ao diálogo e à possibilidade de esclarecer quaisquer dúvidas levantadas pelo educador. Nas palavras de Lucerga Revuelta, a criança cega conta com a afeti- vidade e a percepção tátil como dois recursos fundamentais para integrar os dados da sua experiência. O desenvolvimento da sua afetividade é fun- damental para garantir o desenvolvimento