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Curitiba 2020 Libras e temas contemporâneos em educação Faculdade Educacional da Lapa (Org.) FAEL Direção Acadêmica Fabio Heinzen Fonseca Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Edição Aline CabralMariela Castro Projeto Gráfico Sandro Niemicz Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário 1. Políticas públicas para a inclusão | 5 2. Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem | 19 3. Sujeitos surdos e a educação bilíngue | 43 4. Deficiência visual | 73 5. Libras como linguagem | 91 6. Multiculturalismo | 107 7. Cultura e diversidade | 125 8. Inclusão: ensinando e aprendendo na diversidade | 147 9. O trabalho como princípio educativo | 177 10. Educação e cidadania | 197 11. Educação como direito da criança | 213 Referências | 225 1 Políticas públicas para a inclusão A educação é um direito universal, garantido por lei para todos os cidadãos. No entanto, é preciso garantir que esse direito seja alcançado efetivamente e isso vai muito além de oferecer escolas gratuitas. Vivemos em uma sociedade de grandes desigualdades eco- nômicas e sociais. A educação tem a função de proporcionar um meio de amenizar esse cenário, mas precisa ser realizada dentro dos princípios de igualdade e, consequentemente, de inclusão de minorias. Antes de mais nada, é preciso entender o que é minoria. Minorias são grupos em situação de desvantagem social, que sofrem algum tipo de opressão e são estigmatizados por outros grupos dominantes (AMARAL, et al, 2017). Note que o termo não se refere a quantidade de pessoas, mas sim à sua situação na sociedade. Mulheres são metade da Libras e temas contemporâneos em educação – 6 – população e, ainda assim, uma minoria. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, ao final de 2019, 56,1% dos 210 milhões de brasileiros eram negros ou pardos; ou seja, uma maioria numérica, mas uma minoria social. O que se busca em uma sociedade ética é o respeito à diversidade de maneira não-discriminatória. O que isso significa? Que é preciso reconhe- cer que grupos minoritários têm características particulares e que isso não precisa ser mudado ou apontado, mas sim reconhecido e apoiado. Na prática, isso pode acontecer por meio de ações, políticas públicas e leis que entendam esse contexto e supram as necessidades identificadas. Ou seja, tratar a todos de maneira igual significa oferecer os meios neces- sários para que a condição de igualdade seja alcançada. Além disso, a inclusão precisa considerar os processos históricos que levam à discriminação das minorias. Esse processo é essencial para enten- der a configuração atual da sociedade e perceber as áreas que apresentam as maiores necessidades de atuação. Em outras palavras, é preciso identificar momentos da história em que houve a negação dos direitos humanos de cer- tos grupos para tentar minimizar os efeitos que isso ainda tem no presente. Na educação, a maior prática que visa essa igualdade é a inclusão. Ela se caracteriza por oferecer aos alunos as condições necessárias para que seu acesso, permanência e aproveitamento no ambiente educacional seja o mesmo que de alunos de grupos não-minoritários. Veremos, a seguir, algumas medidas que representam passos impor- tantes para a conquista da inclusão e para a garantia de direitos igualitários. 1.1 Legislação: apoio oficial à educação especial Constituição Federal (1988) Ao afirmar que a legislação brasileira pretende “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º inciso IV), a Constituição de 1988 oferece as bases necessárias para a inclusão. – 7 – Políticas públicas para a inclusão Isso significa que a lei brasileira garante de modo geral que todas as pessoas devem ter acesso adequado aos seus direitos. A Constituição também aponta para a obrigatoriedade do Estado em oferecer atendimento educacional especializado (AEE) gratuito e prefe- rencialmente na rede regular de ensino. Isso implica na necessidade de trazer alunos com deficiências ou difi- culdades de aprendizado para a sala de aula regular. Em 1994, a Portaria MEC nº 1.793 estabeleceu que aspectos éticos, políticos e educacionais da integração da pessoa com deficiência deveriam fazer parte do currículo de cursos de Pedagogia, Psicologia e Licenciaturas em geral. Ou seja, inicia- -se um processo de preparação do professor para lidar com alunos com necessidades educacionais especiais. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001) Em 2001, o Ministério da Educação emitiu a Resolução MEC CNE/ CEB 2, que determinava as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. O documento assegura o atendimento ao aluno com necessidades especiais desde creches e pré-escolas, oferecendo o acompanhamento adequado em todo o seu percurso escolar. Outro ponto importante da resolução é a própria definição de educa- ção especial, apresentada em seu artigo 3°: Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados ins- titucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialida- des dos educandos que apresentam necessidades educacionais espe- ciais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. Perceba que a inserção do aluno no ensino regular é priorizada, assim como é reforçada a obrigação da escola em oferecer o que for necessário para o aluno - e não o contrário. Libras e temas contemporâneos em educação – 8 – Logo em seguida, foi emitido o Parecer CNE/CEB 17, que dispunha também sobre as diretrizes, mas estendia suas orientações para além da educação básica. No mesmo ano, saiu ainda o Parecer CNE/CP 9, que apontava as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de gradu- ação plena. Ou seja, a inclusão passava agora para a necessidade da capacitação dos professores para atender aos alunos de maneira ade- quada e eficiente. Decreto nº 6.214 (2007) Em 2007, o Decreto nº 6.214 aprovou o Regulamento do Benefício de Prestação Continuada. Esse benefício tem um caráter de assistência social, que integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), e para acessá-lo não é necessário ter contri- buído com a Previdência Social. Ele determina a concessão de um benefício no valor de um salário mínimo a pessoas com deficiência (física, mental, intelectual ou sensorial) e idosos acima de 65 anos que encontrem dificuldades em exercer ativi- dade profissional. Em 2011, o Decreto n. 7.617 alterou o regulamento e flexibilizou algumas medidas, como cálculo da renda per capita, o que ampliou o acesso ao benefício. Plano de Desenvolvimento da Educação (2007) O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), publicado em 2007 pelo Ministério da Educação e pelo governo federal, é outra conquista na luta por direitos das pessoas com deficiência. Visando o fortalecimento da inclusão, ele determina uma série de medidas que devem ser executadas para que isso aconteça na prática. São elas: 2 Programa de Formação Continuada de Professores na Educa- ção Especial; 2 Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; – 9 – Políticas públicas para a inclusão 2 Programa de Acompanhamento e Monitoramento do Acesso e Permanência na Escola das Pessoas com Deficiência Beneficiá- rias do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social; 2 Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior; 2 Programa de Ações Afirmativas para a População Negra nas Ins- tituições Públicas de Educação Superior; 2 Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indígenas; 2 ProgramaNacional de Informática na Educação do Campo (Proinfo Campo); 2 Projovem Campo – Saberes da Terra e Programa Dinheiro Direto na Escola do Campo (PDDE Campo), entre outros. Política Nacional de Educação Inclusiva (2008) Em 2008, a Educação Especial é oficialmente deslocada da escola especial para o campo da educação regular, configurando-se como educa- ção inclusiva. A Educação Especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional espe- cializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto à sua utili- zação no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular (BRASIL, 2008). A ideia de Educação Especial como uma proposta pedagógica dá lugar à ideia de disponibilização de recursos e serviços, como eviden- ciado na redação do Decreto 6.571/2008. Nele, a expressão “educação especial” foi substituída por “atendimento educacional especializado”. As funções de apoiar e substituir foram retiradas da definição de educação especial, assumindo a ideia de que ela é um complemento e um suple- mento à escola comum. O Decreto 6.571 foi posteriormente revogado em 2011, pelo Decreto 7.611. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educa- ção Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos Libras e temas contemporâneos em educação – 10 – com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida- des/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: a) acesso, com participação e aprendizagem, no ensino comum; b) oferta do atendimento educacional especializado; c) continuidade de estudos e acesso aos níveis mais elevados de ensino; d) promoção da acessibilidade universal; e) formação continuada de professores para o atendimento educa- cional especializado; f) formação dos profissionais da educação e comunidade escolar; g) transversalidade da modalidade de ensino especial desde a edu- cação infantil até a educação superior; h) articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008). Decreto n. 7.612 (2011) Em 2011, um grande avanço na legislação de inclusão foi a institui- ção do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite. O plano aponta as condições necessárias para a equidade dos direitos das pessoas com deficiência. São determinadas as ações, políticas públicas e medidas que devem ser realizadas para que isso aconteça. Um diferencial desse documento é o fato de que ele não foca somente na educação. Seu texto destaca que a equidade real só pode ser obtida se combinarmos quatro eixos: educação, saúde, inclusão social e acessibilidade. O plano estabelece ainda a responsabilidade do governo fede- ral, em parceria com estados e municípios, de viabilizar todos esses atendimentos. Além disso, todas as contas e verbas poderiam ser fis- calizadas pelo CONADE (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência). – 11 – Políticas públicas para a inclusão Diretrizes do Plano Viver Sem Limites: 2 garantia de um sistema educacional inclusivo; 2 garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte adequado; 2 ampliação da participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mediante sua capacitação e qualifica- ção profissional; 2 ampliação do acesso das pessoas com deficiência às políti- cas de assistência social e de combate à extrema pobreza; 2 prevenção das causas de deficiência; 2 ampliação e qualificação da rede de atenção à saúde da pes- soa com deficiência, em especial os serviços de habilitação e reabilitação; 2 ampliação do acesso das pessoas com deficiência à habita- ção adaptável e com recursos de acessibilidade; e 2 promoção do acesso, do desenvolvimento e da inovação em Tecnologia Assistiva (BRASIL, 2011). Lei n. 12.764 – Lei do Autismo (2012) O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem características bas- tante particulares, já que apresenta diagnóstico mais complexo e não é tão conhecido pela sociedade. Por isso, é notável a importância da Lei do Autismo, criada em 2012 e que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. No novo texto, define-se que uma pessoa com TEA é a que apre- senta dificuldades de comunicação verbal e não verbal e de interação Libras e temas contemporâneos em educação – 12 – social; ausência de reciprocidade social no seu nível de desenvolvi- mento; padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos. Resoluções 7 e 11 (2012) As resoluções 7 e 11, divulgadas em 2012, criaram o centro-dia, uni- dades do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) dedicadas a atendi- mento para pessoas com deficiência e familiares. A ideia do projeto é criar ambientes de suporte e acolhimento a esses grupos, facilitando as rotinas diárias ao mesmo tempo em que favorecem a criação de vínculos sociais e grupos de apoio. Nesse serviço também são prestados orientação e apoio, inclusive no domicílio, aos cuidadores familiares, incentivando a autonomia da pessoa com deficiência e de seu cuidador familiar e, ainda, sua inclusão social. Lei 12.796 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2013) Em 2013, uma atualização da Lei de Diretrizes e Bases da Educação original, que havia sido publicada em 1996, trouxe outra abordagem à educação especial. Ela retomou um caráter preferencial de uma educa- ção inclusiva mas não obrigatória. Ou seja, na prática, isso representa um direito de escolha para os pais: se preferem matricular o filho na rede regular de ensino ou em escolas especiais. Essa perspectiva é bem diferente, por exemplo, da que víamos no Decreto 6.571, de 2008, que valorizava a inclusão no ensino regular, pra- ticamente implicando no fechamento das escolas especiais. Programa Escola Acessível (2013) A preocupação com a estrutura física da escola para atender aos alu- nos com necessidades especiais ganhou fôlego em 2013, com a implan- tação do Programa Escola Acessível. A partir daí as escolas poderiam – 13 – Políticas públicas para a inclusão utilizar recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), para esse objetivo. Com isso, foram realizados projetos de adequação arquitetônica (rampas, sanitários, vias de acesso, instalação de corrimão e de sinaliza- ção visual, tátil e sonora), e aquisição de cadeiras de rodas, recursos de Tecnologia Assistiva, bebedouros e mobiliários acessíveis. Lei n. 13.004 – Plano Nacional da Educação (2014) Com vigência de dez anos, o Plano Nacional da Educação (PNE) foi criado em 2014 e traz metas a serem cumpridas pela educação brasileira durante uma década. Ao todo, são vinte metas, que falam sobre aspec- tos diversos do sistema educacional e das perspectivas e necessidades a longo prazo. A meta quatro está relacionada à Educação Especial e visa: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/super- dotação, o acesso à Educação Básica e ao atendimento educacional especializado (AEE), preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recur- sos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. Note que o texto fala ainda sobre alunos com altas habilidades/super- dotação, ou seja, capacidade de aprendizado acima da média. O atendi- mento a estudantes que se encaixem nessa categoria tornou-se, assim, também gratuito e obrigatório. Lei n. 13.146 – Lei Brasileira da Inclusão (2015) A Lei Brasileira da Inclusão, também conhecida como Estatuto da Pes- soa com Deficiência,foi criada em 2015 e assegura os direitos de maneira bastante ampla. Ela dispõe sobre os critérios para a associação das deficiên- cias com os indivíduos e a maneira como a avaliação será realizada. Em relação à educação, ela reitera a necessidade de escolas inclusi- vas (assim como aulas e materiais), apoio individual aos alunos e o uso de tecnologias que possam facilitar o processo de aprendizagem. Libras e temas contemporâneos em educação – 14 – Você sabia? A Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Defici- ência (SNPD) é um órgão integrante da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e coordena políticas públicas voltadas às pessoas com deficiência. Atua nas áreas de coordenação e supervisão de programas, trabalho, acessibilidade, inclusão, formulação de legis- lações, pareceres técnicos e atos normativos, consultas públicas, convê- nios e parcerias, estudos e pesquisas, entre outros. 1.2 Concepções teóricas: olhares sobre a deficiência A inclusão não se baseia na extinção das diferenças, mas sim no res- peito a elas e na criação de medidas que permitam o acesso a todos os seus direitos. Mas nem sempre foi assim. 1.2.1 Institucionalização (modelo biomédico) Quando se pensa no histórico do tratamento de pessoas com deficiên- cia, a institucionalização foi vista como a resposta durante séculos. A criação de casas de internação, “manicômios” e escolas especiais foi uma prática adotada durante muito tempo. Basicamente, tinham a mesma visão: a de que pessoas com deficiência deveriam ser afastadas do convívio social e agrupadas com seus “semelhantes”. Ou seja, em “insti- tuições” que se ocupariam delas, longe da sociedade. O Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, é um dos exem- plos mais conhecidos dessas instituições. Fundado em 1903, o hospital tornou-se um reduto para o qual era enviadas pessoas com transtornos psicológicos, alcoólatras, viciados em drogas, homossexuais e diversas outras pessoas que tinham comportamentos divergentes com o “normal”. Não havia um critério adequado de diagnóstico e muitas pessoas passa- vam a vida inteira nas dependências do hospital. – 15 – Políticas públicas para a inclusão O caso de Barbacena é conhecido pelos maus-tratos aos internos e pela morte de cerca de 60 mil pessoas devido aos “tratamentos” baseados em choques, violência e tortura. Contudo, independentemente da situação de maus-tratos, a institucionali- zação passou a ser combatida por seu caráter discriminatório e finalista. Não se trata de negar a importância de unidades de tratamento integral, mas elas devem ter um caráter de reabilitação e reintegração à sociedade, e não de permanência. 18/5 – Dia Nacional da Luta Antimanicomial O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela defesa dos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta Antimanicomial faz lembrar que, como todo cidadão, essas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isso tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos. Extraído de: http://bvsms.saude.gov.br/ultimas- -noticias/2721-18-5-dia-nacional-da-luta-antimanicomial-2 1.2.2 Normalização e integração As críticas ao processo de institucionalização, que segregava as pes- soas, resultaram na defesa da normalização, isto é, de uma tentativa de fazer com que todos seguissem as mesmas normas de maneira padroni- zada, exigindo a adaptação da pessoa à sociedade. A isso se deu o nome de integração. Ela se baseava na culpabilização da pessoa com deficiência por não “acompanhar” aquilo que era feito pelos outros. Imagine uma pessoa com miopia, que usa óculos de grau, e que fre- quenta a escola. Oferecer óculos, livros com letras maiores e pensar em um bom lugar para ela se sentar na sala de aula são medidas de inclusão. Solicitar que ela estude com pessoas que possam ler o material, oferecer os mesmos materiais e negar a relevância da dificuldade de visão seriam medidas de integração. Libras e temas contemporâneos em educação – 16 – A integração pregava uma ideia de que todos deveriam se sentir nor- mais, mas negava espaços de manifestação e fazia com que a deficiência fosse motivo de vergonha. A pessoa com deficiência deveria esconder suas necessidades específicas e encontrar, por si mesma, maneiras de realizar atividades diversas - o que é, muitas vezes, praticamente impossível. A ideia de integração está apoiada no princípio da autonomia e da liberdade individual, que inspiram o liberalismo. Nessa filosofia, cada pessoa é responsabilizada pelo lugar que ocupa, pelas propriedades que possui, pelo poder que exerce, ou pelo conhecimento que domina. Ou seja, para se integrar, a pessoa com deficiência teria que se modi- ficar até apresentar as mesmas atitudes e comportamentos “desejáveis” em seu grupo social. A educação, na perspectiva integradora, reproduzia a exclusão social, recusando-se a modificar sua estrutura de organização e suas normas de atenção, de acordo com as diferenças e capacidades das pessoas com deficiência. Dica cultural O filme italiano Vermelho como o céu, de 2007, narra a história de Mirco, um menino da região da Toscana (Itália) que perde a visão após um aci- dente na infância. De acordo com a legislação da época, crianças cegas deveriam estudar em internatos específicos e é para uma dessas escolas que Mirco é enviado. Lá, ele faz amizade com seus colegas e utiliza todos os elementos disponíveis para ensinar aos colegas como é a vida das pessoas que não podem ver. 1.3 Dois paradigmas para lidar com o diferente 1.3.1 Paradigma de serviços Como vimos, a integração era baseada na adaptação das pessoas à norma social. Ou seja, a sociedade e o governo eram isentados de suas obrigações para com grupos minoritários e cabia a cada pessoa buscar sua – 17 – Políticas públicas para a inclusão adaptação. Essa perspectiva ia ao lado de um paradigma de serviços, que era organizado em três etapas. 2 Primeira: a avaliação, que visava identificar o que deveria ser modi- ficado na pessoa para que ela se tornasse “próxima ao normal”. 2 Segunda: a intervenção, que se tratava da oferta da atenção sis- tematizada de acordo com as necessidades de normalização da pessoa. Por exemplo: o estudante com deficiência visual deveria acompanhar o ritmo de aprendizagem dos demais, sem esperar nenhum tipo de adequação, além do uso do sistema Braille para a realização das provas. O serviço oferecido era o professor itinerante, que frequentava a escola da Educação Básica, onde estava matriculado o estudante, para transcrever em Braille as provas e, posteriormente, transcrever em tinta. 2 Terceira: o encaminhamento, que se tratava da indicação da pes- soa para a busca individual dos programas de qualificação pro- fissional existentes na comunidade. Outro exemplo de serviço era a organização de programas de formação profissional, nos quais as pessoas com deficiência eram cadastradas e treinadas a realizar tarefas ou funções de caráter prático. 1.3.2 Paradigma de suporte: inclusão social A contraposição do paradigma de serviços é o paradigma de suporte. Ele se baseia na oferta das condições necessárias para que cada indivíduo alcance seus direitos e a igualdade social. O caminho básico para isso é o reconhecimento das diferenças. Não como problemas ou como dificuldades, mas somente como diferenças. As diferenças devem ser respeitadas e é preciso que as esferas sociais e insti- tucionais entendam isso e cumpram seu papel para a garantia dos direitos das minorias. A pessoa com deficiência não precisa isolar-se, ter vergonha da defi- ciência. A pessoa cega não precisa esconder sua bengala, aparentando não ter nenhumadeficiência. Quando forjamos exageradamente a aparência, encobrimos o que somos. Ao revelarmos nossos próprios limites, anuncia- Libras e temas contemporâneos em educação – 18 – mos ao outro que podemos demonstrar o que somos, mesmo que venha- mos a errar. Assim, podemos perguntar, solicitar ajuda, dizer que não entendemos o que nos foi explicado, avisar que não conseguimos fazer o que nos foi ensinado. 2 Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem Reflexão A metáfora da escola dos animais Havia uma escola para animais onde, por algum motivo, todos os ani- mais estavam indo mal. O pato era a estrela da classe de natação, porém, não conseguia subir nas árvores. O macaco era excelente subindo em árvores, mas era reprovado na natação. Os frangos se destacavam nos estudos sobre os grãos, mas desorganizavam tanto a aula de subir em árvores que sempre acabavam na sala do diretor. Os coelhos eram sen- sacionais nas corridas, mas precisavam de aulas particulares em nata- ção. O mais triste de tudo era ver as tartarugas, que, depois de vários exames e testes, foram diagnosticados como tendo “atraso de desen- volvimento”. De fato, foram enviadas para classe de Educação Especial numa distante toca de esquilos. Libras e temas contemporâneos em educação – 20 – 2.1 Como a deficiência intelectual é percebida no contexto social? A pessoa com deficiência intelectual é capaz de desenvolver a per- cepção de si mesma, da realidade que a cerca, logo, pode tomar decisões. Já a pessoa com a doença mental apresenta discernimento comprometido, devido à lesão de outras áreas cerebrais. Até 1992, a deficiência intelectual era caracterizada pela Quantidade de Inteligência (QI) (AAIDD, 2011): 2 leve – QI entre 50-70 2 moderada – QI entre 35-49 2 severa – QI entre 20-30 2 profunda – QI menor que 20 Após 1992, inicia-se um novo sistema de conceituação baseado na intensidade dos apoios necessários. A deficiência intelectual passa a ser relacionada ao contexto social em que vive a pessoa. Já conhecemos vários relatos, segundo os quais a mudança do contexto de vida determi- nou a afronta com barreiras sociais, novas exigências que não existiam no contexto anterior. As mães relatam que, antes de frequentar a escola, o filho era con- siderado uma criança única e singular. Era amada e valorizada. Os com- portamentos de ecolalia, os movimentos repetitivos e o isolamento social eram tomados como parte do processo do desenvolvimento. Quando a família foi obrigada a matricular a criança na escola, as dificuldades e as queixas passaram a preocupar. Quando chegaram os cálculos matemáti- cos, ela não conseguia mais acompanhar os outros colegas. Situação idêntica ocorre quando uma família vive e trabalha na zona rural. As atividades relacionadas ao trabalho de natureza física ocultam as barreiras de natureza intelectual, como a necessidade de abstração, gene- ralização, comparação, etc. O trabalho físico pode ser democrático para as pessoas que apresentam condições orgânicas que permitem o desempenho da tarefa. No contexto escolar, porém, os instrumentos do trabalho social e intelectual são a língua, a simbolização, a atenção, a comunicação, a inter- – 21 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem pretação, a memória e outras capacidades. Assim, a deficiência intelectual aparece nos contextos determinados, exigindo adequações instrumentais que ampliem as condições de participação da pessoa. 2.1.1 Como identificar a pessoa com deficiência intelectual? Diante de circunstâncias sociais, ela apresenta limitações no funcio- namento intelectual e no comportamento adaptativo, que se manifestam nas habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas. Essa condição manifesta-se antes dos 18 anos. 1. Funcionamento cognitivo ou intelectual: é a capacidade do cérebro da pessoa para aprender, resolver problemas, encontrar um sentido da vida e compreender a funcionalidade das coisas do cotidiano. 2. Comportamento adaptativo ou funcionamento adaptativo: a competência necessária para viver com autonomia e indepen- dência na comunidade em que se insere. Enquanto o diagnóstico do funcionamento cognitivo é realizado por profissionais (psi- cólogos, neurologistas, fonoaudiólogos, psiquiatras), o funcio- namento adaptativo deve ser objeto de observação por parte da família, dos pais e dos educadores que convivem com a criança, para compor a avaliação. 2.1.2 O que são as funções cognitivas superiores? São relacionadas à capacidade de aprender e compreender. As fun- ções superiores envolvem as capacidades de linguagem, aquisição da informação, percepção, memória, raciocínio, pensamento, etc. Demons- tramos essas capacidades nas tarefas de leitura, escrita, cálculos, planeja- mento, classificação, comparação, conceituação, sequência de movimen- tos e ações, problematização, percepção do ponto de vista do outro, dentre outras (AAIDD, 2011; MALLOY-DINIZ et al., 2010). Assim, a característica fundamental da deficiência intelectual é o significativo prejuízo cognitivo. A Associação Americana de Deficiência Libras e temas contemporâneos em educação – 22 – Intelectual e do Desenvolvimento (AAIDD, 2011) define tal deficiência como um funcionamento intelectual (QI) inferior à média, havendo limita- ções significativas das competências práticas, sociais e emocionais, além de limitações adaptativas em pelo menos duas habilidades. Como vimos, são três critérios básicos para conhecer parcialmente a pessoa com deficiência intelectual: a condição intelectual, as dificuldades adaptativas e o tempo de vida. Quais são as habilidades adaptativas? A pessoa apresentaria dificul- dades ao menos em duas destas áreas: comunicação, autocuidado, vida no lar, interação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, autodeterminação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. Outro critério para sua identificação é a manifestação antes dos 18 anos de vida. Nota-se que a definição “abaixo da média”, implicitamente, sugere com- paração, inferiorização, estigmatização, padronização, o que justifica a ela- boração de práticas baseadas no modelo padrão e homogeneizado da cultura. A deficiência intelectual não significa uma incapacidade fixa. Há que considerar tanto as diferenças entre as pessoas, quanto as diferenças dos contextos educativos. Considera-se que a deficiência intelectual pode até ser estrutural, mas não pode ser agravada pela falta de estimulação ade- quada, pois toda pessoa é capaz de aprender. Apesar da mudança semântica de deficiência mental para deficiên- cia intelectual, as noções de incapacidade e anormalidade, que advêm do modelo médico, refletem uma sintomatologia fixa. A pedagogia não pode se render a essa noção de incapacidade. A incapacidade do sujeito é apenas uma condição, cabendo à peda- gogia criar situações de enriquecimento dos recursos de comunicação e de percepção de si e do cotidiano. Trata-se de ampliar as capacidades adap- tativas, dirigindo-se para a funcionalidade de cada tarefa, inundando o sujeito de sentido afetivo particular para o que realiza. 2.1.3 Quais são os sinais identificadores? Somos contrários a toda forma de rotulação e de generalização. Conhecer, respeitar e amar cada pessoa é o mínimo que podemos fazer. – 23 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem O quadro da deficiência intelectual é marcado por uma inteligência geral comprometida. A condição cognitiva apresenta: restrito raciocínio lógico, restrita capacidade de planejamento, solução de problemas deficitária, fraco pen- samento abstrato, baixa fluidez da aprendizagem, memorização restrita, baixa coordenação visual espacial e lateralidade, esquema corporal difi- cultado, limitada atenção, limitada generalização, prejuízo da capacidade expressiva (principalmente a verbal), deficitária capacidade de percepção, ausência de autodirecionamento, etc. Essa condição resulta em dificuldades nas habilidades sociais,pes- soais e ocupacionais. São observadas restrições e comprometimentos dos seguintes aspectos: responsabilidade, autonomia, observância das regras sociais, iniciativa ocupacional, interdependência, segurança pessoal (pre- sença de ingenuidade), controle emocional (manifestado tanto com agres- sividade quanto com passividade), desenvolvimento neuropsicomotor, assumência de papeis sociais (heteronomia social: dependente de direcio- namentos externos), interação interpessoal, autocuidado referente à saúde e higiene, estruturação da experiência (AAIDD, 2011; MALLOY-DINIZ et al., 2010). 2.2 Dimensões para avaliação da deficiência intelectual A Associação Americana de Retardo Mental define cinco dimensões relacionadas à deficiência intelectual. 1. Habilidades intelectuais: capacidade em planejar, raciocinar, solucionar problemas, exercer pensamento abstrato, compreen- der ideias complexas, rapidez de aprendizagem. 2. Comportamento adaptativo: habilidades práticas, sociais, auto- nomia de vida diária, responsabilidade, autoestima, observância de regras e leis, relação interpessoal e conceituais, aspectos aca- dêmicos, cognitivos e de comunicação. 3. Participação na vida comunitária: interações sociais. Libras e temas contemporâneos em educação – 24 – 4. Condições da saúde física e mental. 5. Contextos: ambiente sociocultural e o funcionamento dos sujei- tos nos ambientes social imediato (micro), a comunidade, as organizações educacionais (meso) e os grupos populacionais distintos (macro) (CARVALHO E MACIEL, 2003; PLETSCH E GLAT, 2007). 2.3 Pressupostos da aprendizagem Não é a condição inata, mas são os apoios e mediações para estabe- lecer trocas comunicativas, cooperação, empatia e interesse por ativida- des comuns a outras pessoas que melhor explicam quem é o sujeito ou o que poderá tornar-se. Esse funcionamento em contextos e nas outras dimensões pode indicar o planejamento para a aprendizagem no plano potencial do aluno. O desenvolvimento da pessoa nos contextos das relações que estabelece e os apoios que recebe nas cinco dimensões descritas são fundamentais, em vez dos critérios quantitativos pautados no QI. Para Feuerstein (1980) algumas funções cognitivas ficam prejudica- das quando não há provimento de mediação social comunicativa e intera- ção. O autor classifica as seguintes fases: 2 fase de assimilação – exploração impulsiva e desordenada de um dado problema. Pouca necessidade de exatidão na conside- ração dos dados do problema. Dificuldade para a consideração simultânea de duas ou mais fontes de informação. 2 fase de análise – dificuldade para distinguir entre informações relevantes e irrelevantes. Compreensão episódica ou desconexa das dimensões espaço-temporais. Precariedade de trabalho lógico (conexões de pensamento em uma linha indutiva “se – então”. Reflexão deficitária dos próprios processos de pensamento. 2 fase da resposta – forma egocêntrica de se comunicar. Conduta do tipo “ensaio e erro”. Impulsividade. – 25 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem Na escola regular, a metodologia de ensino exige alternativas peda- gógicas por meio das quais os alunos com deficiência intelectual sejam membros participativos e atuantes no processo educacional, além da defi- nição da documentação sobre as necessidades específicas do aluno rela- cionadas com: conteúdos e objetivos, procedimentos de ensino, avaliação e níveis de apoio pedagógico. Não aprendemos porque repetimos exaus- tivamente uma ação, mas porque nos apropriamos do significado social de algo. A escola deve aproximar a pessoa com deficiência intelectual dos demais e não a afastar. Vygotsky (1997), em seu livro Fundamentos de defectologia, cita que [...] as crianças mentalmente atrasadas devem estudar o mesmo que as demais crianças, receber a mesma preparação para a vida futura, para que depois participem dela em certa medida, junto com as demais... [Entretanto] [...] a criança atrasada domina com enorme dificuldade o pensamento abstrato, por isso, a escola exclui de seu material tudo que exige esforço de pensamento abstrato e funda- menta o ensino no caráter concreto e na visualização [...]. A memória não deve ser exercitada mecanicamente nos estudantes com deficiência intelectual. São importantes as intervenções que envolvam a reten- ção e as capacidades para a lembrança e a reconstituição de fatos e objetos, elaborando narrativas com palavras, histórias, ilustrações e significados. Em sala de aula, “o desenvolvimento de habilidades intelectuais alter- nativas e a mediação para estimular o funcionamento mental no meio esco- lar acontecem quando os alunos estão inseridos em um meio escolar livre de imposições e de tensões sociais, afetivas e intelectuais” (MANTOAN, 2006). O professor mediador não domina apenas o conhecimento objetivo, mas os processos de pensamento, a historicidade, as linguagens e implica- ções do conhecimento, no presente e no futuro de diferentes pessoas. A linguagem e o pensamento são funções primordiais para o desen- volvimento do pensamento abstrato da criança com deficiência intelec- tual, para a compensação da sua deficiência. Incluir é levar à inserção cultural, significar suas atitudes, sua fala, seu desenho, suas produções e sua aprendizagem. Não é ler e escrever como no mundo letrado, mas o sentido que isso pode ter para a pessoa. Libras e temas contemporâneos em educação – 26 – 2.4 A educação das pessoas com deficiência intelectual Na pedagogia tradicional, o método de aprendizagem ocorre por meio da repetição de conteúdos de forma mecânica, o que não faz sentido para os alunos. Nessa pedagogia, não se valorizam as experiências vividas pelos alunos, no desenvolvimento do raciocínio. Os professores utilizam esse método de ensino com alunos com deficiência intelectual justificando suas dificuldades de aprendizagem, antecipando seu fracasso, por não acreditarem em sua capacidade de aprender. Gomes (2010) identifica procedimentos do professor na “peda- gogia da negação”: 2 deixa de ensinar conteúdo ao aluno, por receio de não aprender, gerando desmotivação; 2 quando o professor aprova o trabalho do aluno, sem que este tenha se esforçado para se dedicar aos estudos; 2 quando o professor resolve o problema no lugar do aluno logo que ele apresenta dificuldades; 2 quando o professor não desafia o aluno, provocando dúvida, contrapondo ideias; 2 coloca na mochila do aluno o material necessário para os deve- res e para as lições de casa. Portanto, a pessoa com deficiência intelectual tem uma maneira própria de lidar com o saber que não corresponde aos ideais da escola. Em outra perspectiva, a aquisição do saber trata-se de uma conquista individual, não padronizada. Ou seja, se um aluno com deficiência intelectual se desenvolve no campo socioafetivo, por exemplo, representa uma grande conquista, mesmo que não alcance o mesmo desenvolvimento no campo educacional. A superproteção da pessoa com deficiência representa obstáculo ao seu desenvolvimento, configurando-se em uma forma de discriminação, pois é tomada como incapaz. Assim, pais e professores podem acreditar no potencial do aluno. Mesmo que não ocorra aprendizagem de todos os conteúdos, progressos são sempre possíveis. – 27 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem Algumas evidências sobre problemas de comportamento de crian- ças com transtorno ou deficiência intelectual indicam a permissividade e até a indiferença de professores e pais em relação aos comportamen- tos considerados socialmente inadequados (BANACO, 1997; SMITH; STRICK, 2008). Na perspectiva histórico cultural, a educação escolar tem por funda- mento atender a todos, considerando as diferenças, as singularidades, e há necessidade de promover adequações das práticas pedagógicas e avaliativas, de modo que as crianças e jovens, em sua singularidade, tenham a possibi- lidade de desenvolver tanto suas capacidades cognitivas quanto as sociais. A perspectivada inclusão escolar não se restringe à superação das dificuldades do aluno ou à socialização, mas tem como proposta favorecer a emancipação intelectual por meio da incorporação de novos conheci- mentos, de acordo com a possibilidade de ampliar o que já se conhece e de favorecer o desenvolvimento geral (BRASIL, 2006). Se a aprendizagem determina o desenvolvimento, então, o trabalho do professor não pode se limitar à transmissão de conteúdos formais. Nenhum conhecimento é aprendido se não for aplicado em uma situação que possa ser manifestada, compartilhada, sentida, que produza alegria e sentimento de potência naquele que aprende. Por exploração ou por asso- ciação, o saber só permanece quando fica um símbolo, uma marca cogni- tiva ou afetiva, nascendo um novo sujeito e um novo olhar social sobre ele. O critério para escolher o que ensinar é a possibilidade da manifesta- ção, da representação e a simbolização no cotidiano do aluno. 2.5 Aspectos da avaliação dos sujeitos no contexto escolar e social No início do processo de escolarização, é necessária a avaliação do aluno para conhecer sua trajetória de vida, os aspectos sociais, linguís- ticos, comunicativos, emocionais e motores importantes no desenvolvi- mento da percepção, da cognição, da afetividade. Com a articulação do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o corpo da escola, tem- -se a avaliação diagnóstica. O professor poderá organizar o plano de tra- Libras e temas contemporâneos em educação – 28 – balho movido pelos princípios da equidade, da flexibilidade, procedendo revisões e alterações continuadamente. É necessário observar o aluno em diversos ambientes, em diferentes situações, como: atividades motoras, brincadeiras, jogos, comunicação verbal, corporal, visual, relações com os colegas, o autocuidado, dentre outros aspectos essenciais para o professor propor as mediações adequadas. Familiares e professores promovem diálogos e trocas recíprocas No processo de ensino-aprendizagem, o professor deve abordar con- ceitos a partir de situações vivenciadas em seu cotidiano, que estimulem o raciocínio para resolvê-las. É fundamental explorar o contexto social do estudante e os saberes prévios, para traçar objetivos de aprendizagem. Valorizar os interesses, as preferências do aluno elevam sua autoestima, sua motivação para participar nas atividades, contribuindo na formação do vínculo com o professor. A exploração do concreto não se restringe à dimensão física. As his- tórias, as problematizações a partir de ilustrações podem formar conceitos sociais válidos. Para oportunizar a compreensão consistente, permanente e as generalizações, são necessárias as repetições, valendo-se de linguagem falada e de outras linguagens. Mas a repetição resulta significativa sempre que for acompanhada de valor afetivo e emocional. A repetição não pode ser verbalização isolada do professor. O aluno irá sentir-se estimulado sempre que for desafiado a realizar exploração ativa e for valorizado com a fala, o afeto do professor. A oportunidade de demonstrar, manifestar suas conquistas, confere-lhe empoderamento e autoconfiança. 2.5.1 Avaliação A avaliação inicial do aluno terá acompanhamento contínuo, para reorganizar as ações pedagógicas, de acordo com as observações realiza- das, articulando informações de familiares, professores da sala comum e professores do AEE. Caso as estratégias de aprendizado não alcancem as expectativas esperadas, devem ser reorganizadas durante o processo. Como lidar com alunos com deficiência intelectual na escola? Promovendo trocas simbólicas para a formação da sua identidade e a – 29 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem tomada de consciência sobre suas capacidades. Caberá ao professor ela- borar e organizar materiais levando em conta as especificidades de cada aluno. No desenvolvimento físico, a pessoa pode apresentar falta de equilíbrio e coordenação motora, dificuldade em locomoção e manipu- lação de objetos. 2.5.2 Motivação Na área emocional, o aluno pode evitar situações de dificuldades, não conseguir controlar a ansiedade e manter o autocontrole. A qua- lidade das relações sociais, as interações sociais negativas, a expec- tativa de fracasso, a dependência dos outros e a baixa autoestima são fatores importantes. O professor deve: 2 Levar o aluno a sentir-se apoiado e seguro, livre de tensão, estresse, medo, irritabilidade e ansiedade. 2 Organização da rotina: falar para o aluno, previamente, o que será necessário para realizar determinada tarefa e quais etapas devem ser seguidas. 2 Analisar o envolvimento do aluno com a atividade proposta. 2 Respeitar o interesse do aluno, o tempo, estabelecendo alternati- vas de forma positiva. 2 Oferecer períodos de descanso, silêncio, contato com objetos favoritos, conexão com uma pessoa estimada, um jogo prefe- rido, como presentes pelo trabalho. 2 Focar vagarosamente em uma atividade de cada vez. 2 O aluno aumentará seu poder de atenção e de concentração, con- dição essencial para dominar as funções cognitivas superiores. A avaliação será realizada por meio de atividades lúdicas, para o aluno apresentar sua livre expressão. O brincar propicia a formação de vínculos, liberando a espontaneidade e o bem-estar psíquico-emocional. O brincar provoca as interações, o pensar e a conexão com a realidade. Libras e temas contemporâneos em educação – 30 – 2.5.3 Aspectos a serem considerados na avaliação do desenvolvimento intelectual 1. Considerar três dimensões: 2 o aluno é um sujeito epistêmico (sujeito do conhecimento, capaz de aprender). 2 o aluno é uma pessoa contextualizada, resultado das rela- ções sociais. 2 o aluno atribui significado ao meio físico e social (sujeito de percepção e de identidade). 2. Diversificar as formas de exposição, produção e manifestação do conteúdo. 3. Flexibilizar o tempo para a realização das atividades. 4. Usar estratégias de aprendizagem cooperativa, o que contribui para a socialização do aluno. 5. Reconhecer o esforço do aluno. 6. Acompanhar o aluno em seu percurso de resolução de problema quando ele apresenta dificuldade. 7. Propor problemas adequados (Zona de Desenvolvimento Proximal). 8. Verbalizar e demonstrar para o aluno suas capacidades. 9. Solicitar que faça narrativas sobre o modo como faz o que faz, estimulando a metacognição. 2.5.4 Expressão oral É avaliada no que diz respeito à compreensão de mensagens (reca- dos) e expressão de ideias de modo coerente com o contexto em questão e utilizando vocabulário diversificado, mesmo quando o aluno não é capaz de falar. O professor pode avaliar solicitando que o aluno crie histórias escritas e, caso apresente dificuldades, ele pode se expressar por meio de desenhos, modelagens e jogos simbólicos. Pode, ainda, apontar materiais e expressões corporais em gestos afirmativos e negativos. – 31 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem A linguagem é o principal instrumento de transferência do social para o individual. Com a posse da fala, aprendemos a pensar, escolher, atribuir significado aos fatos, ao vivido, aos relatos, etc. O trabalho do professor deverá estimular a internalização da palavra como signo que lhe confere capacidades de perceber a si, os significados das ações e objetos, e ante- cipar mentalmente as tarefas a realizar. As dificuldades no uso da língua para elaborar o pensamento produzem prejuízos nas interações sociais. O professor pode enfatizar a construção de frases curtas e o modo como essa formulação é percebida por outro colega. A tomada de consciência do sentido de cada construção favorece a diferenciação entre as percepções das pessoas. Praticar as capacidades expressiva e receptiva pode ampliar os benefícios das interações sociais diárias. Todo relato, seja oral ou gestual, precisa ser valorizado e reiterativo, acrescentando-se elementos verbais que expressem aquele significado. O aluno precisa ser provocado a relataro que aprende, valendo-se de imagens, ilustrações, figuras e apoio de um colega ou do professor. Sua narrativa lhe permite pensar e entender o sentido para si. O raciocínio lógico é possível desde que o aluno seja estimulado para tal. O trabalho principal localiza-se sobre as capacidades expressivas orais, que ampliam o repertório verbal, a possibilidade de pensar, interpretar, orga- nizar lembranças, sequências de fatos e ideias, por meio de apresentação de relatos subjetivos, contação de histórias, apresentação de perguntas durante a aula, descrição de imagens, uso de linguagem variadas. O professor pode avaliar seu trabalho e o aluno, observando os seguintes aspectos: 2 aquisição dos conteúdos que foram selecionados no planejamento; 2 o desenvolvimento atual; 2 a forma como o aluno se manifesta e se relaciona; 2 como o aluno usa os recursos nas situações de aprendizagem; 2 o que ele é capaz de fazer mesmo com a mediação de terceiros (a autonomia); 2 a relação grupal (interdependência). Libras e temas contemporâneos em educação – 32 – 2.5.5 A aquisição da língua escrita É avaliada no que se refere ao aluno escrever o próprio nome, tanto manualmente quanto com o alfabeto móvel, com a sequência de letras que o formem. Deve ser avaliado se o aluno consegue escrever seu nome com a ajuda do professor, se ele reconhece seu nome escrito, mesmo quando falta uma das letras ou com a ordem alterada. A produção espontânea é avaliada ao solicitar que o aluno escreva um grupo de palavras do mesmo campo semântico, em que pode ser avaliado o nível de compreensão do aluno. Outro tipo de avaliação é solicitar ao discente que encontre no texto palavras indicadas pelo professor, observando-se se o aluno encontra as palavras por meio da memória ou da leitura. Recursos frequentes para o incentivo e a evolução da escrita são, por exemplo, canetas coloridas, folhas de papel reduzidas gradativamente de tamanho, pinceis durante as atividades de pintura, etc. O treino da escrita, ainda, deve ser organizado de tal modo que a atividade seja reconhecida como necessária para a vida diária, que estabeleça instruções diretas sobre comportamentos considerados adequados no ambiente escolar e social, possibilitando a aprendizagem de regras comuns para o convívio coletivo (por exemplo, conservação de objetos e do ambiente; silêncio em ativida- des comuns que o requerem). Atenção! Observa-se dificuldade em orientar a atenção para aquilo que interessa. Compromete o desenvolvimento do aluno: no ritmo de aprendizagem; na resolução de problemas; na transferência de informações no interior de um procedimento. No plano pedagógico, é fundamental: 1. dar orientações breves e precisas aos alunos. 2. solicitar ao aluno que explore e descreva o material sobre o qual ele irá trabalhar. 3. explicar para o aluno exatamente o que está sendo solicitado dele (compreensão do problema); – 33 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem 4. propor atividades de aprendizagem significativas e de interesse do aluno; 5. orientar o aluno a verificar suas respostas. 2.5.6 Memória As dificuldades de memória têm relação com ausência de estratégias cognitivas de reagrupamento, de repetição interna, metacognição, significado. No plano pedagógico: 1. solicitar que o aluno formule com suas próprias palavras a demanda do professor; 2. perguntar ao aluno se ele já realizou aprendizagens ou proble- mas semelhantes; 3. Interrogar frequentemente o aluno sobre as orientações para a realização da tarefa; 4. solicitar ao aluno que verifique se ele respeitou as orientações para a realização da tarefa; 5. pedir ao aluno que organize as informações, reagrupando-as de maneira que possibilite a conservação da informação; 6. ajudar o aluno a dar sentido ao seu percurso; 7. estabelecer relações com a família de maneira que as aprendiza- gens feitas na escola possam ser aplicadas também em situações da vida cotidiana e vice-versa; 8. planejar com o aluno a aplicação de seus novos saberes e o saber fazer em diferentes contextos. 2.5.7 Metacognição Dificuldades em definir com clareza a natureza do problema a resol- ver, estabelecer relações com outros problemas semelhantes e selecionar Libras e temas contemporâneos em educação – 34 – estratégias úteis para solucioná-los são comuns em pessoas com deficiên- cia intelectual. Mediar as estratégias metacognitivas, tais como: 2 antecipar a natureza e as implicações do problema; 2 comparar e selecionar as estratégias de execução significa pen- sar sobre o próprio pensamento. 2.5.8 O que considerar na prática pedagógica? 1. Considerar as narrativas, as produções, a percepção das identi- dades e das diferenças. 2. Análise dos objetivos relacionados ao ensino voltado para as diferenças. 3. Identificação das estratégias de ensino que desenvolve em sala de aula. 4. Partir de um planejamento que envolva a organização da rotina, o clima social da aula, as estratégias e os recursos pedagógicos. 5. Ajudar os alunos a atribuírem significado pessoal à aprendizagem. 6. Explorar as ideias prévias antes de iniciar nova aprendizagem. 7. Adotar uma variedade de estratégias e possibilidades de escolha. 8. Utilizar estratégias de aprendizagem cooperativa. 9. Dar oportunidade para que os alunos pratiquem e apliquem com autonomia o que foi aprendido. 10. Preparar e organizar os materiais e recursos de aprendizagem. 11. Monitorar permanentemente o processo de aprendizagem dos alunos para ajustar o ensino. 12. Fortalecer as interações entre professor-aluno e dos alunos entre si; 13. Estabelecer expectativas positivas. 14. Fortalecer os saberes dos professores (curriculares, experien- ciais, etc.); – 35 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem 15. Pautar-se pela colaboração entre os profissionais (trabalho simultâneo, cooperativo e participativo); 16. Instaurar a reflexão pelo professor sobre a prática que realiza. 17. Desenvolver diferentes atividades ao mesmo tempo na sala de aula, o que implica organização da classe e cooperação entre os professores no planejamento. 2.5.9 As aprendizagens escolares Na sala de aula, é avaliado se o aluno manifesta dependência ou autonomia, quais são os recursos, equipamentos e materiais necessários para a acessibilidade. O professor precisa propor experiências sensoriais, interações, relatos verbais e ilustrados, para propiciar a manifestação de cada aluno singular. Diante do que o aluno manifesta, o professor passa a enxergar e reiterar verbalmente o que ele já sabe. O conhecimento potencial é sempre apoiado no conhecimento real e na mediação do professor. Desse modo, é possível gerar con- dições para que o aluno acerte mais do que erre, receba mais reforço imediato e feedback. Assim, promove-se a tomada de consciência da capacidade individual. Assim, o aluno reúne autoconfiança e vínculo afetivo que lhe conferem segurança emocional para dar atenção à tarefa que lhe é solicitada; 2.5.10 O desenvolvimento afetivo- social e as interações sociais Pode ser uma dificuldade para o aluno construir uma imagem de si mesmo. O aluno pode sofrer preconceito, exclusão social. As atividades que não executam com êxito em seu cotidiano podem representar desmo- tivação e baixa autoestima A memória associativa é recurso fundamental. São utilizados elementos do contexto familiar, aspectos afetivos e emocio- nais, objetos de apego, etc. O trabalho de evocação, isto é, recuperação de algo memorizado, oferecendo estímulos novos, é prática comum com os alunos com deficiência intelectual. Libras e temas contemporâneos em educação – 36 – 2.5.11 Os comportamentos e atitudes em situação de aprendizagem Como o aluno interpreta e manifesta o conhecimento? Como ele faz narrativas sobre o aprendizado, sobre o vivido? Quais são suas contribui- ções dentro de um grupo? Faz perguntas ao colega? Relata seus hábitos, suas preferências, suashabilidades e suas dificuldades? Compartilha oral- mente ou com fotos seu cotidiano? Demonstra esforço, motivação, para entender o que se passa no entorno? Oferece ajuda ao colega, às pessoas da casa em que vive? Conhecendo aspectos da percepção, da cognição e das trocas sociais do aluno, o professor pode organizar desafios sobre a dimensão potencial, verbalizando o que ele está aprendendo. Com os novos objetivos, as prá- ticas do aluno e a mediação do professor, o aluno apropria-se de novos saberes. Situações de exploração são internalizadas quando produzimos relatos e somos valorizados, perguntados e demandados. O professor organiza situações-problema para o aluno levantar hipóteses, mediante seus conhecimentos prévios. Ele irá pensar em uma ideia em várias situações diferentes, semelhantes e contrárias. Esse exer- cício lhe permitirá dominar as funções superiores, como a de abstração e de generalização. 2.5.12 Desenvolvimento psicomotor É avaliado quanto a manipular objetos de diferentes texturas, formas e tamanho, segurar o lápis para pintar, desenhar e escrever. Caso o aluno apresente dificuldades, o professor pode utilizar uma grande folha de papel, como o pardo, e aos poucos ir diminuindo esse tamanho. A avaliação não precisa ser necessariamente escrita, mas pode ser realizada por meio do uso de indicadores de avaliação; além disso, é importante que as potencialidades do aluno sejam comparadas com seus próprios parâmetros, e não com os resultados dos demais alunos da turma. Os objetivos educacionais necessitam ser centrados nos processos for- mativos e no vínculo com o mundo do trabalho e com a prática social. Desse modo, a partir das considerações de Batista e Enumo (2004), Bra- – 37 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem sil (2006, 2007, 2010), Castro, Almeida e Ferreira (2010), Fletcher et al. (2009), Malloy-Diniz et al. (2010), Sánchez (2008), Smith e Strick (2008) e Vygotsky (1998), o currículo e o planejamento propostos ao aluno com deficiência intelectual devem gerar experiências em um ambiente: 2 possível de definir ou reforçar a identidade do aluno (quem ele é, seu valor pessoal, sua cultura); sem discriminações e que pro- mova segurança, relação interpessoal, contingências positivas e bem-estar pessoal; 2 que permita a acessibilidade ao ambiente físico e a acessibili- dade instrumental (materiais e recursos que minimizem as difi- culdades sensoriais e motoras); 2 assim como em relação aos demais alunos sem deficiência, as prá- ticas de ensino devem considerar as fases de desenvolvimento do aluno, as quais podem prolongar-se por um tempo maior; 2 com práticas motivadoras, alegres e afirmativas; com estratégias ricas em estimulação e diversificadas quando necessário (por exemplo, recursos audiovisuais, objetos de diferentes materiais, cores e texturas), conforme contribuições de Gomes, Poulin e Figueiredo (2010). O bom professor desdobra uma atividade em pequenas etapas. Ele ensina o aluno a realizar uma única atividade relacionada a cada instrução, aprendendo a focar a atenção e não a desviar. O aluno pratica iniciar e terminar uma atividade, percebendo o valor da capacidade demonstrada, a beleza do trabalho, o sentido afetivo para si e para o outro. O professor presta o apoio necessário, mas verbaliza a capacidade que o aluno demonstra, levando-o a perceber essa capacidade em si. A fala do professor o ajuda a internalizar as habilidades positivas que favorecem sua autonomia. A interação com colegas que já executam tarefas de leitura, escrita e organização de materiais pode favorecer o aluno com deficiência inte- lectual. Mas a fala do professor, referida a cada tarefa do aluno, além das oportunidades de manifestação oral, são decisivas para a aprendizagem e seu desenvolvimento. Libras e temas contemporâneos em educação – 38 – Os objetivos pedagógicos podem ser: 2 estimular o desenvolvimento dos processos mentais: atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação, criatividade, lin- guagem, entre outros; 2 fortalecer a autonomia dos alunos para decidir, opinar, escolher e tomar iniciativas, a partir de suas necessidades e motivações; 2 promover a saída de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem para o acesso e apropriação ativa do próprio saber; 2 engajar o aluno em um processo particular de descoberta e o desenvolvimento de relacionamento recíproco entre a sua res- posta e o desafio apresentado pelo professor; 2 priorizar o desenvolvimento dos processos mentais dos alunos, oportunizando atividades que permitam a descoberta, inventivi- dade e criatividade; 2 a criança com deficiência intelectual precisa exercitar sua ati- vidade cognitiva, mediante comunicação e apoio prolongados. Segundo Ross (2004), o professor pode planejar sua aula inclusiva valendo-se menos do livro texto e mais de situações-problema, aprendi- zado cooperativo, complexo temático, pensamento crítico e estético, valo- rização autêntica das pessoas e de seus potenciais. Em uma aula do 4º ano do Ensino Fundamental, os alunos se organizam em equipes, com o critério de se manter a heterogeneidade. A partir do tema água, por exemplo, os desafios são propostos, um para cada equipe, a saber: elaborar problemas sobre volume em diferentes caixas redondas, quadradas, planas, inclinadas; leitura sobre o atual estado das águas próprias para o consumo humano; escrever uma carta reivindi- cando melhorias na estação de tratamento; compor uma paródia sobre a utilidade da água em nossa vida; demonstrar o relativismo dos conceitos de frio, morno e quente; planejar uma visita a um lago da cidade; planejar pesquisas cooperativas sobre o tema água; construir diagramas e murais sobre o consumo e economia de água. – 39 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem Esse trabalho interativo inclui leitura, escrita, dança, imaginação, canto, poesia, desenho, visitas, resolução de problemas, cálculos, decisões teóricas e práticas. Nessas atividades interativas e divertidas, os desafios são em diferentes áreas, disciplinas, linguagens, estágios, diferentes com- plexidades e graus de autonomia. O menino com deficiência intelectual pode, com ajuda, recortar ou desenhar e, ainda, colar a figura da nuvem ou demonstrá-la no momento da apresentação, com independência. Assim, enquanto um grupo está realizando entrevista e desenvol- vendo habilidade de ouvir, transcrever, parafrasear e fazer perguntas, outros estão moldando em um mural ou em maquete o curso de um dos rios da cidade, após terem feito observações, cálculos de escalas, cortes, colagens e moldagens de materiais. Nessa pedagogia, os estudantes traba- lham juntos e ensinam uns aos outros. São cogestores, planejam e vivem o que aprendem. 2.6 O aluno com deficiência intelectual, a escola e a família É importante o professor saber sobre o desempenho do aluno em atividades domiciliares, na questão da interação, e se o aluno é tratado com superproteção ou autonomia, assim como é importante os familiares terem conhecimento das aprendizagens do aluno no ambiente escolar. As manifestações orais sobre o vivido, estimuladas na escola, são práticas a serem lembradas no ambiente familiar. Esse aluno tende a não dirigir por conta própria seu comportamento. Ele quase não aprende pela observação. Eis porque ele precisa da fala externa do mediador e precisa verbalizar tudo o que faz, o que vai fazer e o que já terminou. Todo conflito de interesses necessita ser resolvido imediata e paci- ficamente. Há momentos em que a fala produz ruído demais. Diante de estresse e irritabilidade, é importante ensinar o aluno a respirar profun- damente por várias vezes e lembra-lo do seu valor para as pessoas que o amam. A impulsividade e a dificuldade de autocontrole emocional podem ser superadas com práticas diárias de reforço dos vínculos afetivos e tro- cas recíprocas de reconhecimento e de valorização do outro. Libras e temas contemporâneosem educação – 40 – As atividades escolares precisam carregar um valor afetivo. Por exemplo: “vou escrever minha rotina diária para demonstrar meu amor por minha mãe”. A baixa autoestima e o sentimento de incapacidade podem ser sempre vencidos com o apoio e o encorajamento da professora e das pessoas da família. Diante de situações de estresse, é necessário o apoio emocional, trans- mitindo sensação de segurança e de estabilidade, visando evitar comporta- mentos de agressividade, como gritos, arremessos de materiais e violência física. As pessoas da família podem solicitar que ele relate determinados fatos vividos no contexto social, devendo lembrar de repeti-lo em sala de aula, a fim de motivá-lo a aprender e participar das atividades curriculares. É importante oportunizar ao aluno diferentes explorações do mundo real, bem como a criação de histórias e desafios que estimulem a imaginação, a curiosidade, a descoberta e a busca de um objetivo que lhe proporcione alegria e sentimento de capacidade. A mediação da fala do professor representa a confirmação e a validação social do que o aluno realiza. Os relatos orais ou ilustrados sobre uma exploração realizada resultam na elevação do poder pessoal. O aluno percebe a atenção do outro. A atenção, a escuta, o olhar do meu semelhante são formas de afeto e de reconhecimento do valor do outro, de quem todos nós necessitamos, afinal, somos constituídos por ele. Somos seres relacionais e dialógicos. Necessitamos pertencer e participar socialmente e, do mesmo modo, necessitamos tomar posse de nossa própria individualidade. Diante da dificuldade de abstração, o professor promove mediações continuadas para atribuir sentido positivo, fortalecer o valor afetivo, o sen- timento de capacidade do aluno. Todo discente com deficiência intelectual precisa reconhecer, ilustrar e narrar suas rotinas escolares e pessoais. As mudanças são desejadas, mas precisam ser programadas com antecedên- cia, envolvendo afeto e a participação do aluno. Ele precisa sentir-se ator do que irá realizar. A improvisação pode gerar ansiedade e insegurança. 2.7 Atendimento Educacional Especializado (AEE) A Educação Especial, os serviços de apoio e o Atendimento Educa- cional Especializado são destinados ao aluno quando houver ao menos um – 41 – Deficiência intelectual: avaliação e aprendizagem dos seguintes prejuízos: no desenvolvimento cognitivo, na motricidade, na comunicação, na competência socioemocional, na aprendizagem, ou na capacidade adaptativa (BRASIL, 2006). O AEE deve envolver benefícios que vão além do acréscimo dos con- teúdos curriculares, tendo em vista: ganhos educacionais; a maximização do desenvolvimento; a redução do isolamento, do estresse e da frustração que podem ser vivenciados pelo aluno e pela família; a independência e a autonomia; a maior produtividade pessoal; e as competências permanen- tes que reduzam futuras necessidades relativas à Educação Especial, aos cuidados com a saúde e à reabilitação (BRASIL, 2006). No AEE, objetiva-se um aprendizado diferenciado dos conteúdos curriculares estabelecidos no ensino comum, procurando criar condições para o aluno ultrapassar as barreiras comunicativas e sociais. O conheci- mento faz o caminho da dimensão social para a individual, do objetivo ao subjetivo. Na sala de aula, o conhecimento retrata o conteúdo curricular. No AEE, o aluno irá expressar uma forma subjetiva, uma habilidade social e pessoal que podem ser compreendidas com a posse de recursos pedagógi- cos ou uma prática de demonstração do seu valor e de sua capacidade. A aquisição de habilidades sociais e pessoais, não o reforço escolar, é o que fundamenta o trabalho no AEE, que se baseia na perspectiva da constru- ção do conhecimento que se converta em mais autonomia pessoal e mais benefícios das interações sociais. 2.8 Tecnologias e Softwares Educativos A Tecnologia Assistiva (TA) e as Tecnologias de Informação e Comu- nicação (TICs) são estratégias de estimulação dos processos cognitivos que podem ser utilizadas na área da educação. Os recursos, equipamentos e serviços de TA são utilizados para ampliar as habilidades funcionais, o desempenho de tarefas das pessoas com deficiência e promover maior independência e pertencimento social. O uso de jogos favorece o raciocínio lógico, a função psicomotora, a concentração, o seguimento de regras, o levantamento de hipóteses, a curiosidade, os interesses, a noção temporal, oferecendo o reforço ime- Libras e temas contemporâneos em educação – 42 – diato dos acertos. Com a observação e o feedback rápido do próprio desempenho, o professor faz a mediação, verbalizando e demonstrando as etapas percorridas e as habilidades demonstradas. A prática com jogos estimula a memória, a capacidade perceptiva, a motivação, a solução de problemas, o seguimento do ritmo próprio na execução da atividade, o reconhecimento e o treino da intencionalidade, a consciência da ação, etc. O objetivo de terminar uma tarefa, vencer uma fase, atingir uma meta pode ensinar capacidades fundamentais, como as diferentes formas de persistência. O domínio das tecnologias e a prática de jogos contri- buem para o desenvolvimento das inteligências múltiplas nas áreas da comunicação, musical, lógico-matemática, espacial, sinestésica, inter- pessoal e intrapessoal. As tecnologias favorecem os progressos específicos em leitura, escrita, verbalização, coordenação motora fina. Os Softwares Educativos podem registrar os avanços do aluno, permitindo traçar novos objetivos. 3 Sujeitos surdos e a educação bilíngue 3.1 Introdução Este capítulo tem por objetivo apresentar concepções da surdez, apontando possibilidades para as pessoas surdas cons- tituírem-se como sujeitos linguísticos por meio da Educação Bilíngue, desenvolvida no espaço escolar das classes comuns, no Atendimento Educacional Especializado e nas trocas sociais, formando identidade no contexto da cultura surda. Discutiremos as barreiras relacionadas à cultura ouvinte, ao processo de ora- lização e às possibilidades de acesso à educação, ao trabalho e à participação social, por meio da comunicação em Libras, da posse do conhecimento e da constituição da identidade surda. Libras e temas contemporâneos em educação – 44 – 3.2 Pressupostos da educação e do desenvolvimento Partimos do pressuposto de que nós não somos definidos apenas individualmente, nem apenas pelo que nos falta. A pessoa surda pode ser compreendida a partir das oportunidades sociocomunicativas, que lhe per- mitem estabelecer trocas e alianças, conferir significados, formar autocon- ceito, conhecer a realidade e participar socialmente. Essa historicidade de relações visuais/espaciais lhe confere singularidade e identidade não fixas, pois se reconstituem na medida em que os sujeitos interagem socialmente. A perda auditiva não a define, mas implica o acúmulo de experiências comunicativas de caráter visual, relacionadas ao tempo de vida de cada um, às barreiras e às interações sociais das quais participou e participa. Ao tomá-la na condição de criança, por exemplo, teremos de avaliar o contexto familiar e escolar, o processo de aquisição da Libras, as relações com os pais (se surdos ou ouvintes), a compreensão da Língua Portuguesa, os grupos sociais de que participa, etc. O tempo de vida e as experiências socioculturais produzem sua con- dição presente, cabendo ao professor ampliar as possibilidades de comu- nicação, de conhecimento e de participação social. As interações e as trocas simbólicas vão determinar suas capacidades de representação, de manifestação do conhecimento e de percepção de si e do outro. A criança com surdez necessita interagir socialmente para tomar posse da língua que lhe favoreça a manifestação espontânea do pensa- mento e a apropriação dos significados veiculados pela cultura. Eis porque a cultura, centrada apenas na oralidade, representa barreira ao desenvolvi- mento cognitivo, afetivo, linguístico,psíquico, social e cultural, afetando negativamente a formação de sua autoestima, identidade e a participação nas brincadeiras e outras trocas sociais. Na escola, alunos com surdez podem ser impedidos de se beneficiar das mediações fundamentais do professor que lhe permitam a compre- ensão das ideias e símbolos, a tomada de consciência dos significados socialmente atribuídos aos conteúdos culturais, a identificação das dife- renças e das semelhanças, implicando perdas no processo de abstração, na capacidade de compreensão e manifestação e partilha das suas criações. – 45 – Sujeitos surdos e a educação bilíngue Não há conhecimento sem a posse e a reelaboração dos conceitos e significados da cultura. Nessa perspectiva, a identidade surda só seria pro- duzida em contextos de diversidade linguística, nos quais a Libras fosse não apenas um instrumento de manifestação individual da pessoa com surdez, mas um campo de trocas afetivas, políticas, disputas, resultando, em cada sujeito, no poder de reflexão, de criação, de conhecimento, de produção de narrativas, interpretações e a tomada de decisão. Sem Libras na escola, nos currículos e nas práticas pedagógicas, não haverá aprendi- zagem nem respeito à dignidade do estudante com surdez. Sem Libras, poderá haver exclusão radical do aluno surdo, oprimido pela dominação dos ouvintes e da força da cultura oralizada. A heterogeneidade pode ser enriquecedora do ser humano, desde que propaguemos a diversidade linguística. Que uma língua não seja instru- mento de opressão e de silenciamento do outro, mas a forma de manifes- tação das diferenças, provocando em cada sujeito a atitude de aprender, de admirar e de refletir: “o que o outro sabe e por que ele sabe o que eu não sei?”; “O que eu posso aprender com o outro?” Reiteramos o pressuposto, segundo o qual as diferenças não são dadas pela condição biológica, mas são constituídas dialeticamente nas trocas culturais e na percepção do que somos e do que podemos nos tor- nar. Não precisamos estabelecer a fronteira e a separação entre as pessoas com surdez e as ouvintes, em nome da condição linguística, mas temos de materializar o direito à construção da cultura surda, a identidade surda, tornando a pessoa um sujeito capaz de atuar na realidade social e modi- ficar os valores equivocados do imaginário social, relacionado à diversi- dade humana, fazendo-se singular nessas trocas interativas. 3.3 Aspectos históricos Conforme Goldfield (1997), até o século XV, o surdo era conce- bido como um ser primitivo, logo, permanecia a ideia de que não poderia ser educado. No século XVI, o médico Cardano declarou não ser crime educar e instruir a pessoa surda. A partir daí, iniciaram-se os estudos sobre as metodologias de educação de crianças com surdez. Surgiram estudos baseados na linguagem oral, ou seja, metodologia auditiva-oral baseada Libras e temas contemporâneos em educação – 46 – na língua falada em sua região. Outros estudos defenderam a Língua de Sinais, que se constitui em uma língua espaço-visual, desenvolvida pela comunicação natural, ao longo de gerações, pelos próprios surdos. Segundo Goldfield (1997), no século XVI, na Espanha, o monge benedi- tino Pedro Ponce de Leon (1520-1584) desenvolveu uma metodologia de educação para crianças com surdez que incluía datilologia (representação manual das letras do alfabeto), escrita e oralização. A metodologia do Alfabeto Manual de Ponce de Leon foi sistematizada, em 1620, na obra de Juan Martin Pablo Bonet. Em 1750, na França, Abade Charles Michel de L’Epée aprendeu com as pessoas surdas a Língua de Sinais, criando os Sinais Metódicos. Ele transformou sua casa em uma escola pública, assegurando aos surdos o direito à educação gratuita. Na Alemanha, no século XVIII, Samuel Heinick defendia a filosofia educacional oralista, em oposição à Língua de Sinais. Heinick fundou a primeira escola pública para crianças com surdez, baseada no oralismo. Em 1817, nos Estados Unidos, Thomas Hopkins Gallaudet e Laurent Clerc fundaram a primeira escola permanente para alunos surdos, utili- zando o francês sinalizado, adaptado para língua inglesa. A partir de 1821, as escolas públicas americanas passaram a trabalhar com a Língua de Sinais Americana (ASL). Em 1864, foi fundada a primeira universidade nacional para surdos, a Universidade Gallaudet (POKER, 2013). No Congresso Internacional de Educadores de Surdos, realizado em Milão, em 1880, foi escolhido o método oralista como obrigatório na edu- cação dos surdos. A Língua de Sinais foi proibida. No século XX, grande parte das escolas abandona a Língua de Sinais. A oralização passa a ser o objetivo da educação de surdos. Para aprenderem a falar, as crianças eram submetidas a treinamentos de oralização rígidos e prolongados. O estudo das disciplinas foi deixado em segundo plano, resultando na queda dos níveis de escolarização da pessoa surda. Focava-se na oralização, cau- sando sofrimento e negação da forma espontânea de comunicação da pes- soa surda. Nos anos 60, pesquisas de William Stokoe e outros autores demons- traram que a Língua de Sinais apresenta as características das línguas orais, propiciando a consciência de si, do outro, do senso de identidade, de pertencimento. Os próprios surdos expressaram a insatisfação com a – 47 – Sujeitos surdos e a educação bilíngue abordagem oralista. Conforme Goldfield (1997), a filosofia bilíngue foi se disseminando por todos os países do mundo, tornando a Língua de Sinais a língua natural das pessoas surdas. No Brasil, em 1857, foi criada a primeira Escola Especial para Edu- cação de Surdos, pelo professor francês surdo Ernest Huet e com apoio do Imperador Dom Pedro II. Hoje, essa escola é o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Segundo Goldfield (1997), o INES, em 1911, passou a assumir a abordagem oralista, enfrentando a resistência dos alunos surdos, os quais continuavam a se comunicar com a Língua de Sinais, nos corredores e pátios da escola. O método oralista perdeu o caráter obrigatório com a chegada, no Brasil, na década de 70 do século XX, do Método da Comu- nicação Total. Na década seguinte, inicia-se o bilinguismo, impulsionado pelas pesquisas da professora linguista Lucinda Ferreira Brito, sobre a Língua Brasileira de Sinais. 3.4 Educação e desenvolvimento social da pessoa surda Quais os currículos de que necessitamos para construir essas diferen- ças? A criança, o jovem e o adulto surdo necessitam de ambientes fami- liares, escolares e sociais que lhes oportunizem conhecer, perceber-se e participar, recebendo o reconhecimento adequado sobre o valor social do que produzem e do que são. Família e escola, desde o nascimento da criança, da Educação Infantil ao Ensino Superior, podem propiciar as mediações que lhe permita não apenas comunicação visual corporal, por meio da Libras, mas a apropria- ção do conhecimento escolar e a participação social. Como o professor pode organizar o ensino para provocar o pensa- mento e a produção do aluno? Todo conhecimento curricular representa determinados significa- dos sociais, antes de ser internalizado, reelaborado e receber um sentido particular. Assim, o conhecimento necessita ser problematizado, recons- Libras e temas contemporâneos em educação – 48 – tituído histórica, social e individualmente. Todo conhecimento pode ser explorado por meio de aproximações empíricas, sensoriais, procedendo leituras, conversações, observações, assistindo a vídeos, identificando a presença humana na construção cultural. Essas aproximações necessitam ser elaboradas na forma de narrati- vas, fazendo nascer dentro de cada sujeito o chamado “desejo de apren- der”. Feitas as narrativas em Libras e em outras linguagens, conferidos atenção e afeto à tarefa, ao outro e a si, estabelecidas as interações com outros pares, recebidas as mediações do professor, estão criadas as possi- bilidades externas e internas para aprender. Quando a escola e as famílias
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