um efeito positivo, mas também pode produzir tanto perturbações quanto a própria destruição do ecossistema do individuo e da própria espécie humana, na medida e que a cobertura bacilar e viral, constituintes de riscos, sofre alterações decorrentes da intervenção ficando sujeitos a ataques contra 11 aqueles organismos que se encontravam protegidos anteriormente (ROSA, 2013. P. 139). O que podemos observar, então, é que a saúde, “a doença e o corpo passaram a fincar suas bases em certos processos de socialização na tentativa de equiparar determinadas desigualdades, como por exemplo, a acessibilidade do cuidado médico as classes menos abastadas” (ROSA, 2013. P 142). Nas palavras de Foucault: A meu ver, para a história do corpo no mundo ocidental moderno, deveriam ser selecionados esses anos 1940-1950 como datas de referencia que marcam o nascimento desse direito, dessa nova moral, dessa nova política, dessa nova economia do corpo. Desde então o corpo do individuo se converte em um dos objetivos principais da intervenção do Estado, um dos grandes objetos de que o próprio Estado deve encarregar-se (FOUCAULT apud ROSA, 2013. P. 142). O autor demonstra que mesmo a intervenção medica fazendo parte da longa social, esse fenômeno se faz atual, pois desde o século XVIII que a medicina toma para si assuntos que não estão diretamente relacionados com sua prática, ou seja, questões que ultrapassam a cura de doenças, como por exemplo, a qualidade da água, as condições de moradia ou o regime urbanístico (Rosa, 2013). E ainda complementa “que a dificuldade de sairmos dos tentáculos da medicalização se dá ao fato de que todos os esforços que possuíam este intuito certamente remetiam ao próprio saber medico” (Rosa, 2013. P. 145). 2.3 POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS (PRD) A PRD, atualmente executada em diversos países, iniciou-se com o relatório de Rolleston na Inglaterra em 1929, onde os médicos poderiam prescrever legalmente substâncias derivadas do ópio para dependentes de outros tipos de drogas. Nos anos subsequentes a política foi barrada, voltando a ser executada em 1990 pelo Departamento de Saúde de Merseyside, atendendo as demandas de Liverpool, onde os indivíduos diagnosticados como dependentes teriam à sua disposição desde as trocas de seringas e prescrições de heroína e cocaína, até programas de aconselhamento fundamentados na prevenção e minimização de danos provocados por certas substancias (Rosa, 2013). No que se refere à política como meio de reduzir os índices de HIV/AIDS, ela começou a ganhar notoriedade na década de 1980, onde foi sendo implantada nos países baixos, a exemplo do Reino Unido e Austrália. É interessante observar que mesmo com o êxito advindo de tais ações, somente em 1980 foi que ela foi sistematizada em forma de programa, sendo primeiramente implantada na Holanda (Rosa, 2013). 12 Outro exemplo de implementação da PRD foi a desenvolvida em Frankfurt, na Alemanha, iniciada em 1990, que se tornou grande referencia para as grandes cidades europeias. Lá o programa disponibilizava camionetes moveis para provisão de aconselhamento e trocas de seringas para usuários, programas de baixa exigência para fornecimento de metadona, quatro centros de urgência que ofereciam tratamento médico, também por meio de “cafeteiras de contato com os usuários” (Rosa, p.164), que seriam os lugares onde os usuários poderiam usar substancias sem serem importunados, dentre outras. É importante observar a eficácia de tais ações, onde podemos observar uma queda em relação às mortes por overdose, que foram de 140 em 1991 para 22 em 1994 (Rosa, 2013). Deste modo podemos observar que não se trata apenas de uma abordagem recuperativa, mas também preventiva do mal uso de substancias que possam vir a causar problemas físicos, onde podemos ver que a PRD se baseia no humanitarismo, no pragmatismo e, principalmente, em uma abordagem cunhada na saúde pública (Figueiredo, 2002). No que se refere às políticas realizadas no Brasil, Rosa, citando Siqueira dá-nos um ressumo do processo: O conceito de Redução de Danos chegou ao Brasil por volta de 1989, por intermédio da Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de Santos e do IEPES – Instituto de Estudos e Pesquisas sobre AIDS de Santos, cujos técnicos respaldados por uma convicção de Saúde Pública e, em face do grande número de casos de AIDS que relatavam o compartilhamento de seringas para uso de drogas injetáveis, tiveram a ousadia e clareza de implantar o primeiro programa de intervenção, tornando-se umas das maiores e mais importantes referencias nessa área para toda a America Latina que mesmo com grande atraso, buscou no Brasil respaldo por suas iniciativas. (ROSA apud SIQUEIRA, 2013. P. 183). No dia 25 de Junho de 2006 foi realizado em Santo André-SP o 6° Encontro Nacional de Redutores de Danos, que tinha como objetivo implantar a RD nas diretrizes no SUS como política nacional, tendo em vista que, muitas vezes, os usuários de drogas eram tratados por métodos degradantes, como os que eram realizados em 1990, quando os sujeitos eram internados em manicômios. Embora o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) fosse referência no SUS para tratamento de usuários em termos práticos, sua atuação deixava a desejar tendo em vista que, a priori, as ações eram mais direcionadas para uma perspectiva psiquiátrica do que precisamente para a política de RD (Rosa, 2013). Assim, em 2002 iniciou-se a implementação dos CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas), lançado oficialmente em 2004, tendo como 13 fundamento a diretriz clínica-política da RD. Rosa citando Espíndola deixa claro a função dos novos CAPS: Nos serviços de CAPS AD a abstinência não deve ser mais a única meta possível do tratamento (...). É parte ainda das propostas dos CAPS AD, não somente reduzir os prejuízos oriundos do uso abusivo de drogas, mas também garantir a autonomia e a responsabilidade do usuário em sua relação com essas abstinências (ROSA apud ESPÍNDOLA, 2013. P. 185). De acordo com a portaria N° 336 os CAPS AD devem oferecer serviços de atenção psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos advindos do uso abusivo de drogas. Algumas das características que são preconizadas pela referida portaria são: possuir capacidade técnica para desempenhar o papel de regulador de porta de entrada da rede assistencial local no âmbito de seu território e/ou módulo assistencial, definido na Norma Operacional de Assistência a Saúde (NOAS), de acordo com a determinação do gestor local; manter de dois a quatro leitos para desintoxicação e repouso; atendimentos em oficinas terapêuticas realizadas por profissionais de nível superior ou médio, dentre outras (Brasil, 2002). A RD torna-se notória por ver o usuário como um ser social, um cidadão portador de diretos e deveres e se caracteriza pela tolerância, pois evita julgamentos morais em relação ao uso de drogas ou mesmo sobre a prática sexual irresponsável, tendo como diretriz norteadora a minimização dos prejuízos advindos de tais praticas (Rosa, 2013). 3 METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, utilizando o método exploratório como norteador, tendo em vista que procuraremos demonstrar como os fatores sociais transcorridos no decorrer do século XX interferem na forma como os profissionais da saúde veem os usuários. A pesquisa bibliográfica caracteriza-se por buscar o embasamento teórico em materiais já publicados. Na presente pesquisa foram utilizados livros e artigos científicos, sendo estes colhidos em sites de confiabilidade, como o Scielo (Scientific Eletronic Library On-Line) e o NEIP (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos). Os dados coletados por este estudo se baseiam em pesquisas realizadas por outros autores que tratam sobre a questão das Políticas de Redução de Danos, suas origens,