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CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

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CONTEÚDOS DA 
EDUCAÇÃO FÍSICA 
NA ESCOLA
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Bianca Miarka
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Antonio José Muller
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
M618c
 Miarka, Bianca
 Conteúdos da educação física na escola. / Bianca Miarka – Indaial: 
UNIASSELVI, 2018.
 165 p.; il.
 
 ISBN 978-85-53158-22-5
 1.Educação física – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 796 
Bianca Miarka
É professora permanente da Pós-graduação 
Stricto Sensu em Educação Física Universidade 
Federal de Juiz de Fora/Universidade Federal de Viçosa 
e da graduação em Educação Física da Universidade 
Federal de Juiz de Fora, campus Governador Valadares. 
Ex-atleta internacional da Seleção de Remo e da Seleção 
Brasileira de Judô, com títulos internacionais. Fez Pós-
doutorado na Universidade Federal de Pelotas (2014-2017), 
doutora em Biodinâmica pela Escola de Educação Física 
e Esporte da Universidade de São Paulo (2010-2014). 
Possui curso técnico em Educação Física (1996-
1999), graduação em Ciência do Esporte (2001-2005) 
e especialização em Treinamento Esportivo (2005-
2007) pela Universidade Estadual de Londrina e 
mestrado em Educação Física pela Escola de 
Educação Física e Esporte da Universidade de 
São Paulo (2008-2010).
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................07
CAPÍTULO 1
Introdução aos Conteúdos da Educação Física na Escola ..09
CAPÍTULO 2
Educação Física e o Aprofundamento na Estrutura 
Curricular dos PCNs para o Ensino Fundamental e Médio ..47
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Aplicação dos Conteúdos na Educação Física da Escola ...101
Desafios Contemporâneos: Dinâmicas na Educação 
Física Escolar Utilizando Temas Transversais ....................135
APRESENTAÇÃO
Aprender sobre os conteúdos da educação física escolar permite que haja 
desenvolvimento autônomo de planejamentos com atividades de ginástica, 
esporte, lutas, atividades rítmicas e expressivas, jogos e outras diferentes práticas 
conectadas com temas transversais, como meio ambiente, responsabilidade 
social, ética, gênero e sexualidade, pluralidade cultural até a relação com 
sociedade, trabalho e consumo. Em outras palavras, não basta ensinar aos 
escolares a técnica das ações esportivas, habilidades motoras básicas ou, 
mesmo, desenvolver as capacidades físicas. Essa disciplina mostra como ir além, 
e ensinar o contexto em que se apresentam as habilidades ensinadas, integrandas 
à esfera da cultura corporal de cada aluno. Por sua vez, o objetivo da disciplina 
também não é transformar o conteúdo da educação física escolar em um discurso 
sobre a cultura corporal, mas sim, em uma medida pedagógica para auxiliar no 
processo de ensino-aprendizagem. 
Partindo da importância do que é a educação física como componente curricular, 
no capítulo um, a disciplina mostra como a identidade e a história estão conectadas 
ativamente aos conteúdos com propostas não só esportivas, como sociais. Partindo 
disso, a disciplina também mostra uma perspectiva de educação e de educação 
física escolar, com as principais abordagens e tendências pedagógicas. 
Essa disciplina também discute, no capítulo dois, temas polêmicos da 
educação física e orienta o desenvolvimento dos conteúdos a partir das premissas 
mostradas nos Parâmetros Currículares Nacionais. No terceiro capítulo, os blocos 
de conteúdo são discutidos e mostrados em exemplos de aplicação em planos 
de aula, feitos a partir dos debates apresentados nos capítulos anteriores. Por 
fim, são mostradas discussões e aplicações em planos de aulas de conteúdos 
associados aos temas transversais. 
Dada a abrangência dos assuntos abordados na disciplina e a forma como 
estão organizados, os capítulos podem ser utilizados com objetivos variados, 
de acordo com a necessidade de cada profissional da área de educação física. 
Os capítulos podem ser lidos independentemente do capítulo anterior, mas é 
importante tomar em conta a totalidade desse livro para ocorrer compreensão e 
apropriação completa da proposta. 
Esses capítulos auxiliam o professor na tarefa de reflexão e discussão de 
aspectos associados com conteúdos baseados no cotidiano da prática pedagógica 
na área escolar, que necessitam ser transformados continuamente pelo docente. 
A nossa meta é contribuir para aprofundar e desenvolver transformações em tais 
conteúdos, há muito socialmente solicitadas no panorama educacional, e posicionar 
o profissional de educação física como o principal agente dessa mudança.
Bons estudos!
CAPÍTULO 1
Introdução aos Conteúdos da 
Educação Física na Escola
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender a concepção, a política, a história da Educação Física e a 
importância de seu respectivo conteúdo. 
 Entender os conceitos das dimensões conceitual, procedimental e atitudinal 
dos conteúdos ministrados na Educação Física.
 Dominar o papel da Educação Física e como pode ser feita sua 
interdisciplinaridade.
 Analisar criticamente as Diretrizes Curriculares.
 Discutir sobre as propostas governamentais para a Educação Física Escolar.
 Refl etir sobre as abordagens pedagógicas no quadro atual da Educação Física 
para aplicação do conteúdo.
10
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
11
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
ConteXtualização
A responsabilidade do conteúdo de Educação Física na escola é otimizar a 
aprendizagem na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. 
Para compreender sobre o desenvolvimento dos conteúdos para estes contextos, é 
essencial saber que a identidade da educação física fl utua ao longo de sua história e 
apresenta uma missão atual de utilizar atividades, como: jogos, práticas esportivas, 
lutas, danças, atividades de lazer e outras diversas manifestações da cultura 
corporal a fi m de formar um perfi l escolar autônomo e habilitado a se desenvolver 
no cotidiano, tanto no meio profi ssional, quanto na condição de cidadão. 
Pensando nisso, as propostas curriculares para os conteúdos de Educação 
Física, os quais perpassam a rede de ensino e consideram o aluno como 
alguém situado em um contexto social e cultural específi cos, com experiências 
de sua própria história de vida, discorrem sobre as três dimensões (conceitual, 
procedimental e atitudinal) para ensinos que impactam na inclusão social, no 
respeito com a diversidade cultural e social, e objetivam a aprendizagem para o 
crescimento do escolar em sua integralidade. 
Isso resulta em um diálogo interdisciplinar à luz da percepção do desejo e 
da necessidade de se pensar o aluno, já que os conteúdos de Educação Física 
permitem contextualizar de maneira prática as contribuições das ciências físicas, 
biológicas, humanas e sociais para compreensão do escolar sobre o uso do corpo 
enquanto instrumento de comunicação e expressão. 
Os conteúdos, neste contexto, são as intervenções que atuam para fomentar 
o lazer humanizado, orientar preventivamente à saúde, valorizar o conhecimento 
da cultura corporal e de ações própriasda cultura corporal ao utilizar jogos, 
esportes, lutas, expressões rítmicas e gímnicas, atividades de lazer em meio à 
natureza, entre outras possibilidades. Portanto, as sugestões de conteúdo das 
orientações curriculares mostram um compromisso pedagógico em formar 
escolares socialmente ativos, críticos, refl exivos, atuantes e capazes de refl etir 
sobre si e sobre o contexto de vida em permanente construção. 
Nessa perspectiva, as abordagens pedagógicas para aplicação do conteúdo 
são tratadas com atenção, cuidado e diálogo crítico. Merece destaque a 
abordagem pedagógica da Educação Física, a ênfase no ensino da cidadania, 
abordada para identifi car deveres e direitos do ponto de vista social a fi m de 
colocar o aluno como construtor da própria vida e do mundo ao redor de si.
O presente capítulo apresenta, portanto, a identidade, a história e as 
abordagens pedagógicas para o ensino dos conteúdos de Educação Física escolar 
e discute sobre as propostas governamentais para orientações curriculares, 
abordagens e tendências pedagógicas. 
12
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Identidade: Educação Física como 
Componente Curricular
A discussão sobre a identidade da Educação Física enquanto componente 
curricular está associada ao processo de transformação social. Nesta perspectiva, 
a disciplina, assim como seu conteúdo, é construída à medida que os sistemas 
sociais de signifi cação e representação cultural se ampliam, permitindo que a 
educação física se identifi que de diferentes formas na sociedade, uma delas é a 
área escolar. Essa difusão da prática física torna consensual a necessidade da 
educação física na sociedade, mas, ao mesmo tempo, levanta críticas sobre a 
sua legitimidade enquanto disciplina escolar (SILVA, 2004). 
Atualmente, a Educação Física escolar é assegurada pelo artigo 26 da Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), o qual considera 
obrigatório o ensino da disciplina na educação básica, desde a Educação Infantil 
até os ensinos Fundamental e Médio (JUSBRASIL, 1996). A lei ressalta, no 
segundo e terceiro artigos, que o conteúdo da Educação Física escolar precisa 
estar direcionado para preparar o indivíduo ao exercício da cidadania e para 
formação humana. 
Em uma pesquisa sobre a identidade da Educação Física sob 
o olhar dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, os autores 
objetivaram verifi car a visão e a participação de 342 escolares nas 
aulas de Educação Física de escolas públicas e particulares da 
Região Metropolitana de Campinas, São Paulo (FREITAS et al., 
2016). Os resultados do estudo indicaram que a Educação Física é a 
disciplina preferida e está entre as três disciplinas mais importantes 
na visão dos alunos (FREITAS et al., 2016). A participação nas 
aulas foi mostrada de forma ativa e positiva de maneira associada 
à metodologia pedagógica utilizada pelo professor. Os resultados 
mostraram que os alunos consideram as aulas legais (85%), 
animadas (80%), muito fáceis (28%), difíceis (18%), sem importância 
(2%) e chatas (1%) (FREITAS et al., 2016). 
Para saber mais sobre esse estudo, baixe o artigo do link. 
Disponível em:< https://www.revistas.ufg.br/fef/article/view/39482/
pdf>. Acesso em 12 abr. 2018. 
13
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Contemporaneamente, a disciplina tem passado por profundas modifi cações 
de conteúdo que instrumentalizam diferentes práticas da cultura corporal, como: 
ginástica, jogos, esportes, lutas, atividades de aventura, expressão rítmica e 
artística com fi nalidade no desenvolvimento da cidadania. Esses conteúdos, 
associados às novas concepções pedagógicas, conferiram maior qualidade de 
ensino e robustez sobre a função das práticas físicas na escola. 
Estas modifi cações foram essenciais diante das intensas críticas que 
ocorreram na década de 1980. Por isso, discutir a identidade da Educação 
Física escolar atual e sobre as contribuições que existiram para formação de seu 
conteúdo é, como disse Castellani Filho (1988), “despi-la das vestes por ela até 
então trajadas – descaracterizá-la, portanto –, pretendendo-se com isso, desnudá-
la” ao ponto de desvendar e entender os diferentes papéis que ela fi gura nos 
diversos momentos e cenários da sociedade brasileira. 
Devemos, portanto, refl etir sobre o que a Educação Física realmente 
representou e representa e, em especial, o que signifi ca a utilização 
de seus conteúdos através de heranças de um mundo que nunca 
concebemos: momentos passados em que pensadores, médicos e 
militares desenvolveram e implantaram os diferentes tipos de atividades 
nas práticas físicas ao redor do mundo e no Brasil.
A discussão sobre a identidade da Educação Física escolar e da 
origem de seus conteúdos orienta-se pela contribuição de diversos 
momentos de sua história e sob a ressignifi cação dos conteúdos 
através de diferentes abordagens pedagógicas. Métodos de ensino 
que objetivam, atualmente, promover melhora social, cultural, cognitiva, 
afetiva e física do escolar – como componentes fundamentais para a 
qualidade de vida. 
A partir das inquietudes ainda existentes, a identidade da 
Educação Física no Brasil merece uma reinterpretação com resgate de 
seu passado e da infl uência sociopolítica que ocorreu, desde o início 
– com discursos higienistas e militares – até os tempos atuais –, com 
discussões e propostas de conteúdo que vão desde a esportivização 
até a ressignifi cação do ensino de diferentes conceitos, como: 
sexualidade, etnia e práticas adaptadas.
Para compreender essa construção do presente, não se pode ir ao 
passado apenas como um exercício de mera curiosidade. Todo olhar lançado 
para outro tempo deve possuir uma intencionalidade, notadamente uma razão 
que justifi que tal investimento. É a identidade presente, portanto, que lança as 
bases investigativas no campo da História para o estudo da Educação Física na 
construção de sua identidade e respectivo conteúdo. 
A partir das 
inquietudes ainda 
existentes, a 
identidade da 
Educação Física 
no Brasil merece 
uma reinterpretação 
com resgate de 
seu passado 
e da infl uência 
sociopolítica que 
ocorreu, desde 
o início – com 
discursos higienistas 
e militares – até 
os tempos atuais 
–, com discussões 
e propostas de 
conteúdo que 
vão desde a 
esportivização até 
a ressignifi cação do 
ensino de diferentes 
conceitos, como: 
sexualidade, etnia e 
práticas adaptadas.
14
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
HistÓria e OriGens da Educação Física 
na Escola e o Desenvolvimento dos 
Conteúdos
As mais antigas notícias sobre as práticas físicas existentes no conteúdo da 
Educação Física escolar em terras brasileiras datam o ano de sua descoberta — 
1.500 (RAMOS, 1982). Pero Vaz de Caminha descreveu indígenas dançando, 
saltando, girando e se alegrando ao som de uma gaita tocada por um português, 
em uma de suas cartas enviadas para Portugal (RAMOS, 1982). No mesmo 
período, houve a apropriação de atividades praticadas por escravos, como 
danças cerimoniais e atividades ginásticas, e somente no século XVII, atividades 
europeias contribuíram para as práticas físicas no país, quando portugueses e 
holandeses desenvolveram a equitação no país (RAMOS, 1982).
Foi só em 1823 que Joaquim Antônio Serpa elaborou o Tratado de Educação 
Física e Moral dos Meninos (GUTIERREZ, 1985). Este tratado postulava que 
os conteúdos da educação deveriam englobar a saúde do corpo e a cultura do 
espírito, e considerava os exercícios físicos a partir de duas categorias: 
• conteúdos que exercitavam o corpo, 
• conteúdos que exercitavam a memória. 
Além disso, esse tratado entendia a educação moral como coadjuvante da 
educação física escolar e vice-versa (GUTIERREZ, 1985). 
Porém, nada disso era novidade. Suspeita-se que Joaquim tivesse sido 
infl uenciado pelos pensadores europeus. Por exemplo, Francis Bacon (1561-
1626), o qual afi rmava quea atividade física poderia corrigir qualquer tendência 
ao mal, caso fosse praticada de forma natural. Ainda, Jean-Jacques Rousseau 
(GONDRA, 2003) também afi rmou a necessidade da prática de exercício físico 
ocorrer paralelamente à educação intelectual e recomendava conteúdos como: 
jogos, corridas com obstáculos, saltos em distância e altura, natação, entre outras 
atividades para formação do indivíduo (GONDRA, 2003). 
A partir disso surgiram discussões acerca da psicologia infantil que se 
estenderam até o século XIX, no qual, em seu início, se assistiu ao surgimento de 
atualizações pedagógicas – ligadas à importância do brincar e jogar – diretamente 
infl uenciadas não só pelas ideias de Rousseau, mas também por Pestalozzi 
(1746-1827) e Froebel (1782-1852) (KISHIMOTO, 2003).
15
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Amparado por Rousseau, no século XVIII, as Ciências da Saúde 
apresentaram a higiene como única parte útil da medicina em seu tratado de 
educação masculina. Gondra (2003) demonstra que tal formulação prosseguiu e 
se atualizou no século XX. O defensor da eugenia, o brasileiro Renato Kehl, foi 
quem indicou a higiene como o mais belo fl orão da coroa da medicina e a arte de 
conservar a saúde e prolongar a vida.
 Dessa maneira, os conteúdos da Educação Física escolar também estavam 
sendo construídos a partir dos efetivos métodos higienistas, os quais, na Ciência 
Social, eram tidos como “instaladores da higiene no coração da formação em 
forma de disciplina”. Por conseguinte, o tratado de higiene privada e pública – 
bifurcação no plano do indivíduo e no plano coletivo – concretizava a colonização 
das instituições e práticas sociais pelo saber médico (GONDRA, 2003). 
A estrutura desse tratado, de autoria do francês Becquerel, dividiu-se em três 
partes (GONDRA, 2003): 
• I Tema da Higiene – estudo do homem e estado da saúde. 
• II Matéria da Higiene.
• III Higiene Aplicada – Profi ssões. 
Para nosso estudo, este capítulo desvenda a relação entre os preceitos 
higienistas e o mundo do trabalho, pois direciona a aplicação de seus pressupostos 
para diversas profi ssões, como: intelectuais, mecânicas, entre outras. Entre 
1850 e 1890, grande parte das medidas políticas do país passava pelas ordens 
discursivas, como fé e ordem (GONDRA, 2003). 
Naquele momento da história, a Educação Física escolar passava pelo 
período da Corte Imperial, ou seja, pelo tempo da trindade pedagógica e da 
utopia de intervir na formação de um homem novo. O termo novo
signifi cava bem constituído de físico, moral e intelectualmente, pois 
era tempo de urbanização e de aburguesamento. Também era tempo 
de higienização (GONDRA, 2003). A formação do conteúdo ministrado 
na Educação Física escolar herdou o pensamento médico-higienista. 
A Educação Física escolar começou ofi cialmente com essa 
nomenclatura no Brasil em 1951, com a reforma de Couto Ferraz. 
Todavia, somente em 1882, após Rui Barbosa lançar o parecer sobre 
a Reforma do Ensino Primário, Secundário e Superior, considerou-se 
a importância dos conteúdos ensinados pela Educação Física escolar 
para a formação do brasileiro (RAMOS, 1982). No parecer foi relatada 
a situação da educação física em países mais adiantados politicamente 
e defendida a educação física como elemento indispensável para 
formação integral da juventude (RAMOS, 1982). 
Em 1882, após 
Rui Barbosa lançar 
o parecer sobre 
a Reforma do 
Ensino Primário, 
Secundário 
e Superior, 
considerou-se 
a importância 
dos conteúdos 
ensinados pela 
Educação Física 
escolar para a 
formação do 
brasileiro
16
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Oriundos das escolas sueca, alemã e francesa, os conteúdos dos métodos 
ginásticos conferiam à Educação Física uma perspectiva eugênica, higienista 
e militarista, pela qual as atividades do conteúdo deveriam garantir aquisição e 
manutenção da higiene física e moral (Higienismo), preparando os indivíduos 
fi sicamente para o combate militar (Militarismo) (RAMOS, 1982). 
Os conteúdos advindos dos métodos ginásticos privilegiavam os 
ordenamentos legais para o ensino primário, pois consideravam que isto era 
uma estratégia, de importância vital, para a conformação e normalização do 
campo escolar e das práticas educativas daquele período (CASTELLANI FILHO, 
1988). Portanto, o higienismo e o militarismo estavam orientados, em princípio, à 
normatização anatomofi siológica, buscando a criação de um homem obediente, 
submisso e acrítico à realidade brasileira (CASTELLANI FILHO, 1988). 
Na primeira fase do Brasil República, a partir de 1920, outros estados 
da Federação além do Rio de Janeiro começaram a realizar suas reformas 
educacionais e a incluir Educação Física nas escolas distribuídas pela nação 
(RAMOS, 1982). Nos lugares em que não havia escola ocorreu a criação e a 
implantação da educação física, que tinha em seu conteúdo o objetivo principal de 
realizar a formação militar.
Já nos livros do Dr. Fonssagrives, cuja linha de trabalho buscava popularizar 
o saber médico-higiênico, procurava-se observar a preocupação com a idade e 
com o sexo – aspectos integrantes e caros à doutrina higienista e intimamente 
entrecruzados com a questão educacional, realizada no espaço da casa e/ou no 
espaço dos colégios (GONDRA, 2003; VAGO, 2002). Com 368 páginas, o livro A 
educação física dos meninos ou conselhos aos pais de famílias e aos professores 
possuía dez temas para o desenvolvimento dos conteúdos: O endurecimento 
físico, A educação dos músculos e A escolha de uma profi ssão (VAGO, 2002). A 
obra é encerrada com 91 provérbios, máximas e pensamentos dirigidos à saúde 
e à educação dos meninos (VAGO, 2002). Um mês antes de ser publicado, dez 
capítulos em forma de conversas formaram o livro das meninas, criticando a 
vaidade e o sedentarismo, denunciando a moda e fi xando o objetivo da educação 
feminina a fi m de que fosse seguido por mães e professoras.
 Além dos 93 provérbios, máximas e pensamentos, alguns dos capítulos – 
todos contendo epígrafes – eram: Funções da educação física das meninas, A 
educação física das meninas, Os prelúdios da maternidade e Instrução e trabalho
(VAGO, 2002). Esses capítulos apresentavam o ministério da maternidade como 
difi cultoso e necessitado de instrução para o exercício da profi ssão maternal. 
Essa divisão confi gurou um importante suporte para o quadro que apresentamos 
acima sobre a separação entre meninos e meninas na escola. 
17
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
A posição higienista e a construção escolar das diferenças se 
concretizaram na sistematização da educação física, exemplifi cada 
pela separação entre meninos e meninas e pelo diagnóstico do 
conteúdo. Passando, no começo, pelas marchas e evoluções militares, 
recebendo as infl uências da Educação física Sueca e da Calistenia, 
até a abertura da possibilidade de realização de brincadeiras em 
liberdade – aproximação tênue com um caráter lúdico –, a disciplina 
se concretiza e são incumbidos professores para se responsabilizarem 
pelo ensino, demarcando o início da especialização docente em 
Educação Física. 
Pareceu ocorrer um movimento de transposição da experiência 
europeia, possivelmente com algumas adaptações ou novas 
apropriações, visto que nos países considerados mais adiantados a 
Educação Física era uma realidade nas escolas (VAGO, 2002). 
A partir da orientação do primado que regula a Educação 
Física, apresentou-se o propício cenário à afi rmação e legitimação 
da pedagogia moderna e científi ca centrada na tríade educação 
moral, intellectual e physica, utilizando fotografi as que demonstram 
as práticas corporais impostas – disposição das crianças por fi las 
e colunas, em ordem unida. Em suma, os conteúdos visavam à 
intervenção ortopédica, de correção e endireitamento de corpos“esgrouviados” para uma “posição ereta e varonil” (VAGO, 2002).
A Educação Física no Brasil República pode ser subdividida em 
duas fases: a primeira remete ao período de 1890 até a Revolução de 
1930 (momento de posse do presidente Getúlio Vargas); e a segunda 
fase confi gura o período após a Revolução de 1930 até 1946. E é 
a partir da segunda fase do Brasil República, depois da criação do 
Ministério da Educação e Saúde, que a Educação Física começou 
a ganhar destaque perante os objetivos do governo. À época, a 
Educação Física foi inserida na Constituição brasileira e surgiram leis 
que a tornaram obrigatória no ensino secundário (RAMOS, 1985).
Debater a interação entre os estímulos econômico-sociais que 
indubitavelmente concretizaram a identidade moral e cívica da Educação Física, 
em 1930, é essencial (VAGO, 2002). Pois os princípios da Segurança Nacional 
ainda eram alusivos à temática de eugenia da raça, enquanto a Constituição 
dos Estados Unidos do Brasil remetia à necessidade de adestramento físico 
para defesa da pátria – face aos perigos internos sobre a desestruturação de 
ordem política e econômica, também para enfrentar um confl ito bélico mundial 
A posição higienista 
e a construção 
escolar das 
diferenças se 
concretizaram na 
sistematização da 
educação física, 
exemplifi cada pela 
separação entre 
meninos e meninas 
e pelo diagnóstico 
do conteúdo. 
Passando, no 
começo, pelas 
marchas e 
evoluções militares, 
recebendo as 
infl uências da 
Educação física 
Sueca e da 
Calistenia, até 
a abertura da 
possibilidade 
de realização 
de brincadeiras 
em liberdade – 
aproximação tênue 
com um caráter 
lúdico –, a disciplina 
se concretiza e 
são incumbidos 
professores para se 
responsabilizarem 
pelo ensino, 
demarcando o início 
da especialização 
docente em 
Educação Física.
18
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
e, posteriormente, para assegurar o processo de industrialização implantado no 
país com uma mão de obra capacitada para força de trabalho (CASTELLANI 
FILHO,1988).
Schneider mostra um importante estudo que discute o conteúdo da 
Educação Física e do esporte entre as décadas de 1930 e 1940, utilizando como 
fonte a revista de Educação Physica, um impresso comercial especializado nas 
questões da educação física, do esporte e da saúde (RAMOS, 1985). O exame 
desse periódico proporciona-nos compreender como processa a mutação de um 
discurso que possui como referências a ortopedia, a efi ciência e os novos padrões 
de racionalidade introduzidos no contexto educacional. 
É possível, através dos artigos, observar discussões sobre o conteúdo 
da educação física para o desenvolvimento do corpo e mente: levando em 
consideração a divisão social do trabalho, a higiene, o ideário da construção de 
raça forte e enérgica, a importação de conteúdos de outros países, a necessidade 
de marchar e a posição prima enquanto posição-chave (RAMOS, 1985). 
Entre a II Guerra Mundial até meados da década de 1960 (mais precisamente 
em 1964, início do período da ditadura militar brasileira), a Educação Física nas 
escolas manteve em seu conteúdo um caráter gímnico e calistênico no Brasil 
República (RAMOS, 1985).
Neste sentido, a Educação Física escolar discute sobre a mudança que 
houve nos discursos educacionais que, até 1940, legitima-se enquanto saber 
pedagógico classifi cado como novo, moderno, experimental e científi co. Portanto, 
a disciplina trabalha como ortopedia, na forma de correção da deformação. E, em 
seguida, passa a ter como foco a efi ciência, não para prevenir, mas para moldar. 
Nota-se que a nova Educação Física toma como referência o modelo de fábrica 
e o que passa a importar são os resultados (RAMOS, 1985). Para o Dr. Fisher, 
por exemplo, a Educação Física deveria contribuir para que os hábitos físicos 
desenvolvidos durante as aulas fossem mais efi cientes/especializados, o que 
signifi ca ter maior rendimento com o mínimo de tempo e esforço (FISHER, 1934). 
Após o início dos Jogos Olímpicos modernos, em 1896, a prática de esportes 
tornou-se mais evidente na sociedade e, após a II Guerra Mundial, passou a ser 
mais importante que a Educação Física no currículo escolar (RAMOS, 1985). 
Performance, resistência, desempenho e velocidade eram as habilidades que 
se pretendiam desenvolver cada vez mais. Naquela época, o governo investia 
muito no esporte, buscando fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico, 
a partir do êxito em competições esportivas de alto nível, eliminando as críticas 
internas e deixando transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento 
(CASTELLANI FILHO,1988). 
19
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Fortalece-se então a ideia do esportivismo, no qual o rendimento, a vitória 
e a busca pelo mais hábil e forte estavam presentes na Educação Física e na 
aplicação de seus conteúdos.
Azevedo (1938), ao tratar sobre as tendências da disciplina na escola anglo-
americana, teceu severas críticas à predominância que o esporte havia obtido na 
Inglaterra e nos Estados Unidos. Isto aconteceu por haver um mau entendimento 
do papel que cabia aos esportes, aos quais se pretendiam, erroneamente, 
reduzir toda a educação física. Além disso, as instituições e os professores não 
perceberam que os esportes eram apenas um meio e não um fi m.
Em 1961, A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
tornou obrigatória a Educação Física no primário (atualmente 
o período entre o 1º e o 5º ano) e no colegial (atual Ensino Médio) 
(CASTELLANI FILHO,1988). Além disso, com a tomada do Poder 
Executivo brasileiro pelos militares, ocorreu um crescimento abrupto 
do sistema educacional, o qual foi usado pelo governo como fonte de 
programa do regime militar, tanto o ensino privado, quanto o público 
(CASTELLANI FILHO,1988). 
Ao mesmo tempo, na Reforma Universitária, em 1964, consolidada na Lei 
5.540/68, a Educação Física surge com um novo caráter esportivizado e lúdico, 
ademais, nesse período, o movimento estudantil extinguiu-se, vítima de violenta 
repressão física e ideológica (CASTELLANI FILHO,1988). Em 1970, o vínculo 
entre esporte e nacionalismo estreitou-se.
Os políticos aproveitaram a boa campanha da Seleção Brasileira de futebol 
na Copa do Mundo para ressaltar o civismo. No ano seguinte, a nova Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional tornou obrigatória a Educação Física 
para o 1º e o 2º grau (atual Fundamental e Médio). 
Dentre as importantes medidas que impactaram a Educação Física no 
período contemporâneo, está a obrigatoriedade da Educação Física/Esportes no 
ensino do 3º grau, por meio do Decreto-lei nº 705/69 (CASTELLANI FILHO,1988). 
O Decreto-lei nº 705/69 tinha como propósito político favorecer o regime militar, 
desmantelando as mobilizações e o movimento estudantil que era contrário ao 
regime militar, uma vez que as universidades representavam um dos principais 
polos de resistência ao regime. 
Em 1961, A Lei de 
Diretrizes e Bases 
da Educação 
Nacional tornou 
obrigatória a 
Educação Física no 
primário (atualmente 
o período entre o 
1º e o 5º ano) e 
no colegial (atual 
Ensino Médio).
20
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
A Educação Física/Esportes no 3º grau era considerada uma atividade 
destituída de conhecimentos e estava relacionada ao fazer pelo fazer, voltada 
à formação de mão de obra apta para a produção. No entanto, o modelo 
esportivista, também chamado de mecanicista, tradicional e tecnicista, começou a 
ser criticado, principalmente a partir da década de 1980.
Importantes discussões na década de 1980 culminaram na reforma 
educacional iniciada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional n. 9.394/96 (JUSBRASIL, 1996). Esse marco político-
institucional propôs diretrizes inovadoras para a organização e a gestão 
dos sistemas de ensino da educação básica, o que desencadeou um 
processo de discussão sobre as DiretrizesCurriculares Nacionais 
(DCNs) para os cursos de graduação (CASTELLANI FILHO,1988). 
Durante a década de 1980, a resistência à concepção biológica 
da Educação Física foi criticada em relação ao predomínio dos 
conteúdos esportivos. Isto culminou em diversas concepções, modelos, 
tendências e abordagens pedagógicas que tentaram romper com o 
modelo mecanicista, esportivista e tradicional que outrora foi embutido 
aos esportes. 
Entre as diferentes concepções pedagógicas, podem-se citar: a 
psicomotricidade; a desenvolvimentista; a saúde renovada; as críticas 
e, mais recentemente, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) 
(BRASIL, 1998). Em 1996, com a reformulação dos PCNs, é ressaltada 
a importância da articulação da Educação Física entre o aprender a 
fazer, o saber por que se está fazendo e como relacionar-se nesse 
saber (BRASIL, 1988b). 
Em geral, os PCNs trazem as diferentes dimensões dos conteúdos 
e propõem um relacionamento com grandes problemas da sociedade 
brasileira, sem, no entanto, perder de vista o seu papel de integrar o cidadão na 
esfera da cultura corporal. Os PCNs buscam a contextualização dos conteúdos da 
Educação Física com a sociedade na qual estamos inseridos, assim a Educação 
Física trabalha de forma interdisciplinar, transdisciplinar e através de temas 
transversais, favorecendo o desenvolvimento da ética, cidadania e autonomia. 
A preocupação eminente com a formação do escolar instrumentalizou 
o conteúdo da educação física escolar como forma de desenvolver não só 
capacidades e habilidades físicas, como cognitivas e comportamentais. 
Importantes 
discussões na 
década de 1980 
culminaram na 
reforma educacional 
iniciada pela Lei 
de Diretrizes e 
Bases da Educação 
Nacional n. 9.394/96 
(JUSBRASIL, 1996). 
Esse marco político-
institucional propôs 
diretrizes inovadoras 
para a organização 
e a gestão dos 
sistemas de ensino 
da educação básica, 
o que desencadeou 
um processo de 
discussão sobre 
as Diretrizes 
Curriculares 
Nacionais (DCNs) 
para os cursos 
de graduação 
(Castellani 
Filho,1988).
21
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
No próximo tópico você encontrará maior detalhamento sobre 
os objetivos dos conteúdos da educação física escolar, conectados 
com o conceito de interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e 
multidisciplinaridade.
O Conteúdo em Educação e 
Educação Física Escolar: 
DimensÕes Conceitual, 
Procedimental e Atitudinal
O conteúdo é defi nido como o conjunto de conhecimentos, hábitos, 
habilidades, valores e atitudes de atuação social, didaticamente organizado para 
uma assimilação ativa e aplicada pelos alunos na sua prática de vida (COLL et 
al., 2000). Ao longo da história da educação escolar, os conteúdos de ensino 
relativos aos fatos e conceitos tiveram e ainda têm uma presença desproporcional 
nas propostas curriculares governamentais brasileiras, quando comparados com 
conteúdos procedimentais (COLL et al., 2000). 
Por outro lado, nas últimas décadas, a Educação Física escolar também 
tem passado por reformulações constantes, pois ao longo da história priorizou-se 
nos conteúdos quase que exclusivamente práticas físicas e o saber 
fazer. Na verdade, quando se opta por uma defi nição de conteúdo 
tão abrangente, não restrita aos conceitos ou ao saber fazer, permite-
se que o processamento e a atitude esperados possam se tornar 
manifestos para serem avaliados em relação à sua pertinência como 
conteúdo de aprendizagem e de ensino (ZABALA, 1998). 
Para alcançar os objetivos educacionais governamentais, 
esse conceito de conteúdo está sendo ampliado para “um conjunto 
de elementos para aprender – isso reduz o foco nas capacidades 
cognitivas” (ZABALA, 1988) quando associado a tais objetivos. 
Consequentemente, passa a ser incluso nos programas de ensino-
aprendizagem o objetivo da aplicação dos conteúdos, os quais 
mostram três particularidades na aprendizagem: o que se deve saber, 
chamada de dimensão conceitual; o que se deve saber fazer, defi nida 
como dimensão processual; e o que se deve ser, nomeada como 
dimensão atitudinal) (ZABALA, 1998). 
O objetivo da 
aplicação dos 
conteúdos, os 
quais mostram três 
particularidades 
na aprendizagem: 
o que se deve 
saber, chamada 
de dimensão 
conceitual; o que 
se deve saber 
fazer, defi nida 
como dimensão 
processual; e o 
que se deve ser, 
nomeada como 
dimensão atitudinal).
22
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
A seguir são apresentados alguns exemplos das três dimensões com 
conteúdo da Educação Física escolar:
• Dimensão Conceitual: saber sobre a história das modifi cações dos 
hábitos de atividade física e ocupacional que a sociedade vivenciou e 
quais os marcos desses hábitos (e.g. sedentarização e a transição 
cultural da colonização nômade para a permanente, sequenciado de seu 
aumento com técnicas agrícolas, pecuárias e automação) e relacioná-
los com os parâmetros atuais de saúde associada à prática de atividade 
física. Conhecer as regras dos esportes e as modifi cações que ocorreram 
nessas regras para redução de lesão e aumento da competitividade. 
• Dimensão Procedimental: adquirir habilidades motoras vivenciadas em 
práticas de esporte, dança, ginásticas, lutas. Por exemplo, fazer ações de 
agarre e projeção ao solo de lutas como o judô, brazilian jiu-jitsu ou sumô. 
Realizar corridas, rolamentos, saltos e outras práticas que podem estar 
em brincadeiras, jogos e em manifestações culturais corporais gerais.
• Dimensão Atitudinal: predispor o aluno a participar de atividades 
que exijam cooperação e espírito de equipe, valorização ética, 
reconhecimento de atitudes não preconceituosas quanto ao gênero, 
à sexualidade, à religião, à etnia, ao nível de habilidade e a qualquer 
outro fator discriminatório. Assim como reconhecer e valorizar princípios 
éticos, leis e a própria cidadania. 
A partir do exemplo, é possível verifi car que durante a aplicação dos 
conteúdos na atuação docente não existe uma divisão totalitária das dimensões 
conceitual, atitudinal e procedimental – as atividades trabalhadas assentam as 
três dimensões simultaneamente, apesar de que possa haver especifi cação de 
uso de determinada dimensão ou das dimensões. 
É necessário dar ênfase à Dimensão Atitudinal para redução de 
bullying nos conteúdos aplicados durante a Educação Física escolar. 
O bullying na escola é um pesadelo para alunos e pais em todo o 
país, pois se caracteriza pelas agressões físicas e psicológicas aos 
alunos. A situação se agrava ainda mais no caso de alunos com 
defi ciência, afetando sua autoestima e acentuando a exclusão social 
que sofrem. Em alunos com idade entre 13 e 24 anos, cerca de 60% 
são intimidados e, destes, aproximadamente 50% são insultados. Na 
maioria das vezes, isso acontece durante os intervalos e nas aulas 
de Educação Física escolar. Algumas dicas foram adaptadas de 
Empowering Parents sobre como saber e o que fazer se existirem 
alunos que estão sendo intimidados.
23
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Há sinais, como o de olhar para fora, que podem indicar que 
seu aluno está sendo intimidado. Além disso, há algumas questões 
a serem respondidas que ajudam a perceber uma vítima de bullying:
• Reagem de maneira intolerante ou criam sistemas de fuga 
durante alguma das atividades?
• Não querem participar das aulas ativamente e procuram razões 
para não realizar as atividades?
• Não querem falar sobre as atividades realizadas durante as 
aulas?
• Dizem coisas como: eu odeio a minha vida ou eu gostaria de 
nunca ter nascido?
• Recuam com raiva para seu próprio mundo?
• Em conversa com colegas, a capacidade de concentração e 
aprendizagem do aluno é reduzida durante as aulas?
• Há cortes inexplicáveis ou contusões?
• Há incidência de bens e roupas roubados ou danifi cados?
Oque fazer se o seu aluno está sendo intimidado:
• Ouça o que ele ou ela tem a dizer.
• Se o aluno ou aluna está sendo intimidado(a) por outra criança, 
tente não personalizar o que está acontecendo e desenvolva uma 
prática sobre bem-estar e respeito mútuo.
• Não retaliar contra o agressor ou sua família, procure inserir 
conteúdos que ensinem sobre fatores negativos consequentes da 
agressividade psicológica e física.
• Inclua nas aulas algumas atividades com objetivos que reduzam 
a discriminação e a segregação. 
• Converse com o diretor e o pedagogo da escola a fi m de ajudá-lo.
• Apoie o aluno e mostre acolhimento.
• Ensine-o a falar o que está acontecendo.
• Encontre algo em que seu aluno é realmente bom em fazer e dê 
ênfase nisso.
Além das dimensões, atualmente os conteúdos são trabalhados e orientados 
através do uso de estratégias e habilidades para resolver problemas, selecionar 
conhecimento relacionado a uma situação específi ca, utilizar informações para 
tomar decisões frente aos novos desafi os, ser solícitos com os colegas em 
atividades escolares, respeitar e valorizar o trabalho alheio e não discriminar 
outros indivíduos por qualquer característica particular.
24
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Atividade de Estudos:
1) Um professor objetiva ensinar práticas de ginga da Capoeira e 
inclui elementos históricos dessa manifestação cultural que a 
caracterizam enquanto atitude para o exercício da cidadania, 
de construção da identidade e autoestima por parte de seus 
praticantes. 
 Caracterize como as três dimensões propostas por Coll et 
al. (2000) surgem nessa atividade e descreva exemplos análogos 
a cada uma das dimensões de outra atividade da Educação Física 
escolar possível de ser proposta para escolares.
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a) Interdisciplinaridade: dimensões conceituais, atitudinais e 
processuais
Ao refl etir sobre as dimensões conceituais, atitudinais e procedimentais 
é inevitável pensar em organização dos conteúdos de maneira global, ou seja, 
sem a organização centrada exclusivamente em disciplinas (ZABALA, 2002). 
Várias propostas buscam estabelecer relações entre os conteúdos de diferentes 
disciplinas e sobre as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. 
Estas propostas advêm da descompartimentação disciplinar, desse modo, o 
conteúdo não parte da lógica de cada disciplina, mas sim da organização dos 
conteúdos ao considerar o ensino de um determinado fenômeno que se manifesta 
globalmente (ZABALA, 2002). 
Organizar os conteúdos de maneira globalizadora baseia-se em uma 
aprendizagem direcionada a formar cidadãos competentes para compreender e 
participar construtivamente da sociedade, nessa perspectiva, destacam-se três 
graus de relações disciplinares (BRASIL, 1998a):
25
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
No capítulo 3 você encontrará maior detalhamento sobre a 
aplicação dos conteúdos na Educação Física escolar. 
• Multidisciplinaridade: os conteúdos escolares são apresentados por 
disciplinas específi cas e independentes umas das outras.
• Interdisciplinaridade: existe a interação entre duas ou mais disciplinas 
para integração de conceitos fundamentais, além de métodos e 
desenvolvimento de temas para pesquisa.
• Transdisciplinaridade: é o grau máximo de relações entre as 
disciplinas, e na integração global das disciplinas para atender a um 
problema ou explicar um determinado fenômeno a partir de uma ciência 
sem subdivisões interdisciplinares. 
A interação entre as disciplinas torna o aluno um protagonista da aprendizagem 
com foco em suas próprias capacidades, interesses e motivações. O professor 
passa a ser um mediador entre o conhecimento e o aluno e, por isso, os conteúdos 
necessitam concatenar as dimensões diante da existência da interdisciplinaridade. 
Segundo as indicações das Diretrizes Curriculares Nacionais, destaca-se o uso da 
interdisciplinaridade para ir além da interlocução entre as disciplinas e para evitar a 
diluição delas em generalizações (BRASIL, 2002). 
A interdisciplinaridade é um eixo integrador que pode ser um projeto de 
investigação ou um objeto de conhecimento, ou um plano de intervenção: a 
escolha desses itens da interdisciplinaridade deve partir da necessidade da 
tríade escola-professores-alunos em suas respectivas vivências, necessidades 
e objetivos (BRASIL, 2002). Com respaldo interdisciplinar, os PCNs da área da 
Educação Física sugerem que os itens interdisciplinares sejam trabalhados junto 
aos conteúdos relacionados com as manifestações de cultura corporal, esportes, 
jogos, lutas, ginásticas, atividades rítmicas e expressivas (BRASIL, 1998a).
26
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Análise das Propostas 
Governamentais (em Níveis 
Municipais, Estaduais e Federais) 
para a Educação Física Escolar 
As propostas governamentais mantêm os objetivos da Educação Física 
escolar em uma tentativa de manutenção e cuidado da saúde corporal, e propõem 
uma refl exão crítica da realidade social aos alunos em uma tentativa de torná-
los cidadãos críticos e participativos nas decisões do contexto em que vivem 
(BRASIL, 2002). Tal refl exão deve ocorrer em três dimensões:
• Refl exão Diagnóstica: direcionada para a constatação e a interpretação 
da realidade, promove uma análise sobre os desafi os encontrados no 
contexto social dos escolares.
• Refl exão Judicativa: julga a partir da condição ética do contexto, avalia 
mediante a participação dos escolares as soluções para os desafi os.
• Refl exão Teleológica: determina os objetivos para serem alcançados e 
indica a direção da manutenção ou da construção social.
A Educação Física não está apenas inserida no contexto escolar, ela 
é a principal disciplina que conecta diagnóstico, análise de condição ética e 
teleológica diante do comportamento associado às vivências corporais, cognitivas 
e emocionais durante as práticas experimentadas. Por isso, o conteúdo deve ser 
pensado com grande cuidado no contexto do currículo, de acordo com interesses 
municipais, estaduais e federais. 
Essas análises e o planejamento dos blocos de conteúdos necessitam 
envolver desafi os relacionados aos alunos, escola, comunidade e sociedade 
– para compreender e sintetizar situações-chave no processo pedagógico 
em direção aos objetivos da aplicação das atividades propostas. Portanto, o 
conteúdo da Educação Física escolar tem a função social de organizar a refl exão 
pedagógica do escolar associada à realidade social. 
Dessa maneira, parte-se do pressuposto de que o currículo seja ampliado, 
a partir de uma lógica norteadora e que atenda aos princípios da totalidade, do 
movimento, da transição, da mudança qualitativa e da nova refl exão para (re)
criar conteúdos que promovam assimilação e transmissão de saber escolar. 
Esta dinâmica envolve a organização escolar, o tempo e o espaço pedagógico 
e a normatização escolar associados ao conhecimento. Há um foco nas 
27
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Diretrizes Curriculares associado ao Trato e o Conhecimento (BRASIL, 2002), 
que sugerem ao conteúdo da Educação Física escolar relevância social, 
atualidade, desenvolvimento sociocognitivo, possibilidades de refl exão crítica e a 
transitoriedade nos temas a serem abordados. Analisar as Diretrizes Curriculares 
para a Educação Física torna possível selecionar conteúdos que contribuam para 
a formação de cidadãos críticos, autônomos e conscientes da própria realidade ede suas ações (BRASIL, 2002). Isto contribui para a transformação social.
Tente lembrar das aulas de Educação Física escolar quando 
frequentava o Ensino Fundamental e Médio. Como eram realizadas 
as aulas? Quais eram os conteúdos abordados? Todos os alunos se 
envolviam no processo de ensino-aprendizagem?
a) Critérios de seleção dos conteúdos da Educação Física escolar 
diante das propostas governamentais
O objetivo de selecionar os conteúdos da Educação Física escolar em 
consideração às propostas governamentais é promover no aluno a aquisição 
dos conhecimentos da cultura corporal. Considerando essas informações em 
atividades expressivas que podem envolver ações de jogo, práticas esportivas, 
expressão rítmica, lutas ou qualquer atividade necessária para contemplar os 
objetivos dos PCNs (BRASIL, 1998a). 
Assim como conteúdos relacionados às propostas governamentais também 
podem incluir atividades de lazer que envolvem elementos culturais, expressão 
de sentimentos e a promoção da saúde. Por exemplo, experimentar brincadeiras 
com músicas e gestos, como Corre Cotia, a qual estimula a socialização, melhora 
o condicionamento físico, a atenção e ainda traz para os escolares a possibilidade 
de experimentar expressões corporais arraigadas de direitos e deveres sociais 
incorporados pelas regras construídas nessa brincadeira coletiva.
As orientações curriculares mostram interesse no processo de escolha dos 
conteúdos e propõem refl exão para conduzir o processo de ensino-aprendizagem 
na educação física escolar com o objetivo de favorecer a transformação dos 
alunos de agentes passivos para agentes ativos socialmente. 
28
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Associado a isso, existe uma crítica sobre a preferência por parte dos 
professores em ensinar conteúdos somente combinados com práticas esportivas, 
meios e métodos de treinamento utilizados para formação de atletas, ao invés de 
usar o esporte como instrumento educacional, conforme indica a própria LDB no 
art. 27, Inciso IV (BRASIL, 2002). 
A escolha dos conteúdos deve estar intimamente associada com a realidade 
sociocultural dos escolares, em outras palavras, o conteúdo deve conter elementos 
do cotidiano dos alunos. A proposta é promover uma refl exão sobre os desafi os, 
direitos, deveres, papel e compromissos sociais. A Diretriz Curricular indica que o 
conteúdo desenvolva o aluno sem neutralidade diante da necessidade de tomada 
de decisões e da própria contribuição para construção de uma sociedade mais 
igualitária e sem distinções de gênero, por exemplo (BRASIL, 2002).
Em matéria publicada na revista National Geographic, o fotógrafo 
Robin Hammond viajou pelos quatro continentes questionando 
crianças sobre o signifi cado de ser menina ou menino, atualmente, 
em seus respectivos países, e quais seriam as expectativas para 
o futuro. Algumas das respostas apresentadas pelas crianças 
indicaram que, aos 9 anos de idade, meninas do Quênia já sabem 
que seus pais irão trocá-las por um dote no ato do casamento com 
um homem. Na mesma idade, um menino na Índia já sabe que será 
pressionado por colegas do sexo masculino a assediar sexualmente 
moças. Além disso, a matéria mostra a história de Avery, que viveu 
como menino ao longo dos primeiros quatro anos de vida e, em 
seguida, virou uma menina transgênero. Avery conta que perdeu os 
amigos na pré-escola, pois as mães deles não gostavam dela. “A 
melhor parte de ser uma garota é que, agora, eu não tenho que fi ngir 
ser um garoto”, ela falou.
Fonte: Disponível em:<http://educacaointegral.org.br/reportagens/criancas-falam-
sobre-como-questoes-de-genero-afetam-suas-vidas/>. Acesso em: 12 abr. 2018.
29
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Atividade de Estudos:
1) Diante da matéria apresentada, refl ita sobre como o professor 
pode favorecer as práticas inclusivas na Educação Física escolar. 
Discuta sobre o tema.
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Nas propostas governamentais os conteúdos devem ser selecionados em 
razão da relevância e aplicabilidade social. Portanto, eles devem considerar 
as características locais sociais dos alunos em uma tentativa de aproximar os 
conhecimentos da cultura corporal regional com a escola. Para Freire (1998), 
os critérios principais para a seleção dos conteúdos devem estar 
pautados na realidade política e social dos estudantes. 
Freire (1998) defende a necessidade de se discutir com os 
estudantes sobre os conteúdos selecionados para que haja uma 
contribuição dos alunos através das próprias experiências, e, dessa 
forma, associar as atividades à realidade social e política dos escolares. 
Os critérios para seleção dos conteúdos da Educação Física 
escolar podem se dividir em três etapas:
1ª Etapa: o professor e os escolares selecionam, refl etem e 
discutem sobre os conteúdos a serem abordados durante as aulas. 
Neste momento, a participação dos escolares é essencial, uma vez que 
eles se tornam agentes ativos no processo de ensino e aprendizagem 
na Educação Física ao opinar sobre as próprias necessidades e desejos 
de conhecimento, e se envolvem na elaboração e planejamento das 
aulas, além de aumentar o comprometimento com a própria formação.
Freire (1998) 
defende a 
necessidade de 
se discutir com os 
estudantes sobre 
os conteúdos 
selecionados para 
que haja uma 
contribuição dos 
alunos através 
das próprias 
experiências, 
e, dessa forma, 
associar as 
atividades à 
realidade social 
e política dos 
escolares.
30
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
2ª Etapa: a proposta de ensino e aprendizagem deve possibilitar fl exibilização 
e abertura para possíveis contribuições dos escolares, do professor e da 
instituição no desenvolvimento do conteúdo. É necessário existir espaços dentre 
os conteúdos propostos em cada aula para incorporar vivências e ressignifi cações 
dos alunos.
3ª Etapa: destaca que os conteúdos trabalhados na Educação Física escolar 
devem estar relacionados com a contemporaneidade e com o cotidiano fora da 
escola. Muitas vezes, são ensinadas técnicas e regras (e.g. relações de causa e 
efeito) sem transferência funcional da criação de estratégias, de acordo com as 
habilidades e os potenciais de cada um, em consideração às regras do jogo nas 
situações fora da aula de Educação Física que exijam resolução de problemas 
diante de habilidades e relações de causa e efeito.
COMBUSTÍVEL PARA O CÉREBRO: EXERCÍCIO FÍSICO 
É IMPORTANTE ALIADO PARA A APRENDIZAGEM
Pesquisas mostram que a inserção de exercícios físicos em sala 
de aula, além das aulas de Educação Física, é um complemento que 
pode melhorar o processo de aprendizagem dos alunos. O exercício 
físico regular em idade escolar ajuda na concentração e fi xação 
de conteúdos, desenvolve melhor o raciocínio lógico e a memória, 
proporciona refl exos mais apurados e maior foco na realização de 
atividades escolares ou acadêmicas. 
Neurocientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, 
apresentaram recentemente pesquisas mostrando que alunos que 
se saem bem nos exercícios físicos também têm maior sucesso nas 
atividades escolares. Segundo o estudo, crianças e adolescentes que 
praticam esportes com frequência têm desempenho 20% superior 
aos alunos sedentários.
A explicação é simples: quando a pessoa se exercita, a produção 
de sinapses neurais aumenta. Ou seja, a prática de exercícios 
físicos tem o poder de desenvolver células cerebrais, criando novas 
conexões interneurais, que mantêm a mente jovem e ativa. 
Fonte: Disponível em:<https://goo.gl/GUkjrG>. Acesso em 12abr. 2018.
31
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
b) Propostas governamentais e valorização dos conhecimentos 
dos alunos através do processo de ensino e aprendizagem dos 
conteúdos
O desenvolvimento de conteúdos deve estar aberto às experiências 
dos escolares, pois são necessárias refl exões didáticas para que essa 
prática aconteça no desenvolvimento dos conteúdos da Educação 
Física escolar. Para isso, é necessário interpretar experiências como 
as categorias didáticas e entender que as informações não devem 
chegar até a Educação Física escolar por parte do aluno de maneira 
fi nita, é necessário explorar informações para contribuir na construção 
do conhecimento através de experiências e vivências. 
Os alunos devem se direcionar autonomamente aos objetos, 
enquanto o professor precisa proporcionar, aos escolares, 
oportunidades de investigação para que se envolvam com o objeto 
pesquisado, ou seja, é necessário que o escolar utilize conhecimentos 
prévios do que está sendo estudado. 
Os alunos necessitam se envolver na elaboração dos conteúdos para as 
aulas de Educação Física escolar como agentes da própria formação e também 
precisam propor conteúdos relacionados com o próprio cotidiano e interesse. 
Os escolares necessitam se envolver na resolução de problemas propostos em 
situações específi cas dos conteúdos da Educação Física para que possam analisar 
perspectivas de ação, discutir e solucionar problemas em situações específi cas. 
Essas ações pedagógicas, no conteúdo da Educação Física escolar, devem 
ser propostas na perspectiva das experiências dos escolares, a fi m de possibilitar 
o aumento de informações, valorização, modelos de ações, desenvolvimento 
de capacidades e habilidades físicas, cognitivas e emocionais para buscar 
alternativas e soluções de desafi os propostos. 
As diretrizes curriculares defendem que as experiências devem ser o ponto 
de partida para o processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos da Educação 
Física escolar (BRASIL, 2002): isso objetiva novas experiências dentro das aulas, 
considerando que o professor proponha conteúdos que envolvam atividades, tomada 
de decisão, desafi os individuais e coletivos, e avaliação desse processo como 
um todo diante das necessidades de aprendizagem dos escolares. Na busca da 
qualidade para o processo de desenvolvimento dos conteúdos da Educação Física 
escolar, é essencial saber avaliar as orientações curriculares propostas no país.
O desenvolvimento 
de conteúdos deve 
estar aberto às 
experiências dos 
escolares, pois 
são necessárias 
refl exões didáticas 
para que essa 
prática aconteça no 
desenvolvimento 
dos conteúdos da 
Educação Física 
escolar.
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 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
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Atividade de Estudos:
1) A partir das indicações do tópico sobre a elaboração do conteúdo 
da Educação Física escolar, avalie de maneira crítica os blocos 
de conteúdos propostos para o ensino da Educação Física 
escolar pela Secretaria Municipal de Educação da cidade do Rio 
de Janeiro, e faça considerações sobre a busca da qualidade no 
processo de ensino-aprendizagem.
Quadro 1 - Blocos de Conteúdo/Bimestre propostos pelas Orientações 
Curriculares da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro
Fonte: Disponível em:<http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4246634/4104949/
O_C_Ed_Fisca.pdf>. Acesso em:12 abr. 2018.
33
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
c) Avaliações para melhora da qualidade e do processo de ensino e 
aprendizagem dos conteúdos na Educação Física escolar
A avaliação é usada na Educação Física escolar como forma de selecionar 
e classifi car os alunos através de critérios procedimentais e/ou físicos, como 
as medidas corporais ou a aptidão física dos escolares. Dessa maneira, ela é 
utilizada para identifi cação de talentos ao invés do desenvolvimento de cidadãos 
e da incorporação da prática de atividade física como hábito. O objetivo das 
avaliações físicas na Educação Física escolar deve ser direcionado para busca de 
soluções junto aos alunos.
É preciso superar essa prática avaliativa com aplicação de testes para 
seleção e classifi cações dos escolares. A avaliação deve levar em consideração 
a observação, a análise e a conceituação de conteúdos associados com a cultura 
corporal, a qual compõe a conduta humana expressa no desenvolvimento das 
atividades durante as aulas. O professor também pode proporcionar a discussão 
dos critérios avaliativos com seus alunos permitindo que eles deem sugestões. 
Portanto, a função da avaliação não é a de selecionar e nem classifi car os 
alunos por habilidades motoras ou esportivas, mas sim verifi car a aquisição do 
conteúdo através de práticas pedagógicas durante as aulas para melhorar o 
processo de ensino e aprendizagem de Educação Física escolar. 
Diretrizes Curriculares e a 
Educação Física Escolar
A Educação Física escolar é parte do projeto geral de escolarização e, 
portanto, está articulada aos projetos político-pedagógicos das instituições 
(BRASIL, 2002). Existem críticas enfáticas às orientações curriculares sobre os 
conteúdos da Educação Física escolar serem informações sem associação com 
a realidade dos alunos. Em geral, as orientações curriculares apresentadas pelos 
estados seguem os PCNs e indicam cinco conteúdos por excelência que são 
sempre abordados e desenvolvidos durante a formação dos alunos no contexto 
da intervenção da Educação Física escolar: os jogos, os esportes, as danças, as 
lutas e a ginástica (BRASIL, 1998a). 
No entanto, a Educação Física escolar, nos últimos 20 anos, incorporou 
diversas práticas físicas em seu currículo, consequentes das mudanças 
metodológicas da confi guração e concepção atual do currículo escolar. Existem 
tendências em uma ampla participação da comunidade acadêmica em conexão 
com as instituições escolares para o desenvolvimento do plano de atividades e 
dos blocos de conteúdo ofertados na Educação Física escolar. 
34
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Ao iniciar as discussões sobre as diretrizes da Educação Física escolar, é 
essencial reconhecer alguns desafi os na proposta das atividades. Por exemplo, 
ainda é perceptível a existência do dualismo corpo e mente como base teórico-
científi ca da Educação Física que mantém a associação dos conceitos da disciplina 
com as práticas da dimensão procedimental. Dentre os desafi os para serem 
sanados estão as práticas sugeridas pelos currículos baseadas exclusivamente 
em conteúdo de esporte. Algumas orientações curriculares municipais muitas 
vezes são desprovidas de conteúdo real, baseado em situações do cotidiano do 
escolar e do contexto social em que vive. 
Por exemplo, propostas de jogos regionais podem ser utilizadas a fi m de 
melhorar as capacidades e habilidades físicas, mas também mostram fenômenos 
sociais, os elementos formais e informais que lhe são inerentes – o jogo ocorre em 
razão de atos voluntários por parte dos escolares que desejam jogar. Ele também 
pode ser visto e explicado de maneira fenomenológica, ou seja, é desenvolvido 
e explicitado em uma realidade espacial e temporal própria, orientado através de 
suas regras, e que promove a evasão momentânea do contexto por conta de sua 
adesão emocional por parte do aluno. Diante desse exposto, é possível levantar 
diversas refl exões sobre as situações específi cas do jogo e tratá-las como estudo 
de caso associado com a importância de valores, atitudes, deveres, direitos e 
ações de companheirismo durante a partida. 
Outro desafio da Educação Física atual é a banalização do conhecimento 
sobre a cultura corporal e a abordagem metodológica do ensino dos conteúdos, 
pela repetição mecânica de técnicas sem valorização subjetiva e sobre a restrição 
do conhecimento oferecido aos escolares nas modalidades trabalhadas e não na 
sugestão de adaptação dos blocos de conteúdo para pessoas com defi ciências 
físicas ou mentais. Isso pode ser desenvolvido com outras disciplinas que permitam 
o estudo dos conteúdos da Educação Física em múltiplas dimensões da vida. 
Refl ita sobre os questionamentos em relação aos alunos 
de Educação Física escolar e se os objetivos dos Parâmetros 
Curriculares Nacionais apresentados nas questões abaixo estão 
sendo alcançados (BRASIL, 2002):
• Atualmente o aluno compreende a cidadania como participação 
social e política. O que isso signifi ca para o exercício de direitos 
e deveres políticos, civis e sociais? Isso pode ser associado 
com o cotidiano? Podem ser inclusas atitudes de solidariedade, 
cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo 
35
INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
para si o mesmo respeito durante a aplicação dos conteúdos da 
educação física?
• O aluno se posiciona de maneira crítica, responsável e construtiva 
nas diferentes situações sociais? O professor pode utilizar o 
diálogo como forma de mediar confl itos e de tomar decisões 
coletivas?
• O aluno conhece características fundamentais do Brasil em suas 
diferentes dimensões para construir progressivamente a noção 
de identidade nacional e pessoal?
• O aluno conhece e valoriza a pluralidade do patrimônio sociocultural 
brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e 
nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada 
em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de 
etnia ou outras características individuais e sociais?
• O conteúdo ministrado nas aulas tem aspectos integrantes, 
dependentes e torna os alunos agentes transformadores do 
ambiente, identifi cando seus elementos e as interações entre 
eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente? 
• O professor desenvolve no aluno o conhecimento ajustado de 
si mesmo e o sentimento de confi ança em suas capacidades 
afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal 
e de inserção social, para agir com perseverança na busca de 
conhecimento e no exercício da cidadania?
• Desenvolve no aluno o autoconhecimento e a consciência 
do cuidado do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos 
saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida 
e agindo com responsabilidade em relação à própria saúde e à 
saúde coletiva?
• Enquanto professor, o profi ssional de Educação Física utiliza e 
ensina as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfi ca, 
plástica e corporal — como meio para produzir, expressar e 
comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções 
culturais, em contextos públicos e privados, atendendo às 
diferentes intenções e situações de comunicação? 
• O aluno sabe utilizar diferentes fontes de informação e recursos 
tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos?
• O aluno é capaz de realizar análise crítica e questionar a realidade 
ao formular problemas a fi m de resolvê-los, utilizando, para isso, o 
pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise 
crítica, selecionando procedimentos e verifi cando sua adequação?
36
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
Interdisciplinaridade e Educação 
Física
O conceito de interdisciplinaridade refere-se ao intercâmbio 
mútuo e à integração entre diferentes disciplinas com o objetivo de 
enriquecimento recíproco no processo do ensino-aprendizagem – a 
aplicação da interdisciplinaridade na educação básica é uma indicação 
dos PCNs associados à busca no rompimento com a educação 
compartimentada e fragmentada (BRASIL, 2002). Portanto, os PCNs 
defendem o diálogo entre as disciplinas para que o estudante tenha 
uma visão global do conhecimento. 
Mesmo com essa indicação, alguns professores ainda não 
relacionam os conteúdos e, muitas vezes, são separados em 
partes, fazendo com que o escolar não consiga entender a interação entre as 
diferentes atividades e temas de cada matéria. Isso torna a aquisição e retenção 
do conhecimento uma experiência escolar fragmentada, com limitação para 
transferência do conhecimento para outras situações fora da escola.
 O planejamento dos blocos de conteúdo precisa considerar as indicações que 
surgem do diálogo com professores de outras disciplinas. A interdisciplinaridade 
valoriza a criação e construção de conceitos inovadores e articulados com a 
realidade do aluno e - por que não? - a desconstrução do saber. A abordagem 
interdisciplinar favorece o processo de ensino e aprendizagem, pois contribui para 
que o estudante assuma uma postura participativa diante da própria educação. 
Isso evita a diluição dos conteúdos em generalidades, pois todo conhecimento 
possibilitaria um diálogo constante com outras informações.
As Diretrizes Curriculares Nacionais sugerem que as orientações sejam 
centradas em abordagens interdisciplinares, nas quais os conteúdos sejam 
organizados por eixos temáticos em razão da interlocução entre as diversas 
ciências. Consequentemente, é necessário que os conteúdos tenham uma 
abordagem mais epistemológica, enquanto objetos de conhecimento. Além disso, 
a interdisciplinaridade assegura a transversalidade do currículo, isso propicia a 
interação entre as disciplinas para tratar de um mesmo tema ou conteúdo. 
O conceito de 
interdisciplinaridade 
refere-se ao 
intercâmbio mútuo 
e à integração entre 
diferentes disciplinas 
com o objetivo de 
enriquecimento 
recíproco no 
processo do ensino-
aprendizagem
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INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
A obra Fluxo de Conteúdos (Editora Bom Jesus) foi vencedora 
do Prêmio Jabuti em 2014. Esse livro foi organizado por Adalberto 
Scortegagna e Frei Claudino Gilz e produzido em coautoria com 
outros 12 professores do Colégio Bom Jesus. A obra é um manual 
para professores que gostariam de alternativas e orientações para 
o ensino interdisciplinar. Os autores indicam no livro o Fluxo de 
Conteúdos como uma proposta na abordagem interdisciplinar para a 
Educação Básica, utilizando, para isso, exemplos do Ensino Médio. 
Disponível em:<http://bomjesus.br/sobre/noticias-exibe.
vm?id=83675573>. Acesso em 12 abr. 2018.
Existem dois aspectos fundamentais para interdisciplinaridade: o diálogo 
constante entre os professores e a compreensão mútua sobre a necessidade de 
cada disciplina e abordagem na formação constante do estudante. 
Atividade de Estudos:
1) A interdisciplinaridade emergiu no século XX como um desafi o 
para superar o excesso de fragmentação e especialização 
do ensino, mas também nas pesquisas e ciências. Para 
entender mais sobre esse tema, tente defi nir o conceito das 
novas formações das Ciências de Fronteiras, Interdisciplinas e 
Interciências.
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 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
TendÊncias PedaGÓGicas e Quadro 
Atual da Educação Física
As Tendências Pedagógicas podem ser entendidas como pressupostos 
pedagógicos que caracterizam uma determinada linha pedagógica adotada pelo 
professor em sua prática, ou seja, são criadas em função dos objetivos, propostas 
educacionais, prática e postura do professor, metodologia, papel do aluno, dentre 
outros aspectos (DARIDO et al.,2004). Nas últimas décadas, a interação entre os 
escolares e o conteúdo da Educação Física passou por inúmeras transformações. 
Em geral, as tendências pedagógicas utilizadas na Educação Física são divididas 
em progressistas e liberais, sendo que a abordagem liberal sugere que a 
escola tenha a função de preparar os alunos para desempenhar papéis sociais, 
baseando-se na aptidão de cada aluno. 
Dessa maneira, o escolar se adaptaria aos valores e normas sociais diante 
da sua cultura individual. A tendência pedagógica liberal mostra quatro principais 
linhas, a tradicional, a renovadora, a renovadora não diretiva e a tecnicista. Já 
as abordagens progressistas avaliam de forma crítica as realidades sociais, cuja 
atividade possibilita a compreensão da realidade histórica e social, e isso explica 
o papel do escolar como um ser que constrói sua realidade. Diante da relação 
entre o professor e o aluno, ambos passam a assumir um caráter pedagógico e 
político ao mesmo tempo.
Abordagem Liberal Tradicional: objetiva a transmissão das 
normas, padrões e modelos dominantes sociais na aplicação dos 
conteúdos. Os conteúdos escolares são divididos de acordo com a 
realidade social e a capacidade cognitiva dos escolares, com a voz ativa 
apenas do professor. Essa abordagem é baseada em memorização, 
isso facilita uma aprendizagem passiva, mecânica e repetitiva.
Abordagem Liberal Renovada: o conteúdo assume o propósito 
de levar o aluno a aprender e desenvolver conhecimento, considerando 
as fases do desenvolvimento escolar. Os conteúdos passam a 
adequar-se aos interesses, ritmos e fases de raciocínio do escolar. 
Nessa abordagem, existem experimentos e pesquisas. O professor 
assume o papel de orientador e elaborador de situações desafi adoras 
na aprendizagem. Os conteúdos dispõem planejamentos e testes. O 
professor passa a respeitar e a atender às necessidades individuais 
dos escolares, o que facilita a inclusão social.
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INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Abordagem Liberal Renovada Não Diretiva: existe uma 
preocupação maior nos conteúdos com o desenvolvimento da 
personalidade, autoconhecimento e realização pessoal do aluno. 
Os conteúdos passam a ter signifi cação individual, sob interesses e 
motivações do escolar. Nessa abordagem são incluídos conteúdos 
com expressão e comunicação interpessoal. O objetivo é sensibilizar 
e acentuar a importância dos trabalhos coletivos a fi m de torná-los 
um ato interno e intransferível. A relação entre professor e aluno 
passa a ser fortalecida pela afetividade. 
Abordagem Liberal Tecnicista: enfatiza a profi ssionalização e 
modela o escolar para integrá-lo ao modelo social mais vigente, o 
tecnicista. Os conteúdos são objetivos e neutros. Nessa abordagem o 
professor administra os procedimentos didáticos no desenvolvimento 
dos conteúdos, enquanto o aluno recebe o conhecimento. 
Abordagem Progressista Libertadora: a função dos conteúdos 
da Educação Física é conscientizar para transformar o contexto da 
realidade. Para isso, os próprios conteúdos são extraídos da prática 
social e cotidiana dos escolares. Nessa abordagem, conteúdos pré-
selecionados são vistos como uma invasão cultural. Esse método é 
caracterizado pelo questionamento da experiência social em grupos 
de debate. A relação do professor com o escolar é horizontal, pela 
qual ambos passam a fazer parte do ato de formação do escolar e de 
construir o conteúdo.
Abordagem Progressista Libertária: os conteúdos propiciam 
práticas democráticas, pois essa abordagem acredita que 
a consciência política resulta em conquistas sociais. Os conteúdos 
da Educação Física dão foco em lutas sociais e a abordagem está 
relacionada ao contexto de vida dos alunos. O professor torna-se um 
orientador dos escolares, sem impor ideias ou crenças. 
Abordagem Progressista Crítico-social: os conteúdos 
teriam como objetivo garantir a apropriação crítica do conhecimento 
científi co e universal pelo aluno. O educando participa com suas 
experiências, e o professor, com sua visão da realidade, sobre como 
reduzir as desigualdades sociais durante a aplicação das atividades 
na Educação Física.
40
 CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA
a) Educação Física: abordagem mecanicista/esportivista/tradicional
Atualmente, a Educação Física escolar mostra diversas tendências 
pedagógicas construídas ao longo do processo histórico, as quais possuem 
estreita relação com o contexto político, econômico e social de cada momento. 
Inicialmente, os conteúdos foram constituídos, principalmente, pela ginástica 
militar, para, em seguida, dar lugar aos esportes. 
A infl uência do esporte nos conteúdos da Educação Física escolar surgiu 
após a Segunda Guerra Mundial e foi reforçada pela ditadura militar – a qual tinha 
como objetivo o desenvolvimento das aptidões físicas pela execução mecânica 
de exercícios de alto rendimento. Dessa maneira, o escolar era visto como um 
atleta em potencial e as aulas de Educação Física deveriam detectar talentos, 
desenvolver capacidades, habilidades esportivas, qualidade e performance nas 
ações específi cas de cada modalidade. Os objetivos na abordagem esportivista 
são próximos aos de um treinamento esportivo, centralizam-se nas repetições 
para aquisição da habilidade específi ca das ações esportivas e tem-se como meta 
o padrão de rendimento máximo. 
Dessa maneira, as informações técnicas das modalidades são o foco das 
aulas, enquanto as refl exões sociais e históricas fi cam em segundo plano. Por 
conseguinte, o papel do conteúdo é aprimorar a potencialidade dos alunos, com 
ênfase na aprendizagem esportiva visando ao desempenho, e utilizando modelos 
anteriores do higienismo e militarismo. 
A partir da década de 1980 aumentou a necessidade de rompimento com a 
abordagem esportivista da Educação Física – nega-se as concepções anteriores, 
dando origem ao movimento autodenominado renovador, com a valorização dos 
conhecimentos científi cos – fato associado com o retorno de diversos professores 
que se especializaram em centros de pesquisa no exterior e retornaram ao país 
como doutores. Desse modo, surgiram outras abordagens e tendências atuais de 
aplicação na Educação Física escolar.
b) Educação Física: Psicomotricidade, Desenvolvimentista, 
Construtivista, Crítico-superadora e Crítico-emancipatória 
Desde o início da década de 1980 até meados do ano 2000, propostas 
de novas abordagens pedagógicas foram desenvolvidas na Educação Física 
escolar para contrapor as abordagens tradicionais, as principais foram: a 
psicomotricidade, a desenvolvimentista, a construtivista, a crítico-superadora e a 
crítico-emancipatória (DARIDO et al., 2004). 
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INTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLAINTRODUÇÃO AOS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA Capítulo 1 
Abordagem da Psicomotricidade: em meio às discussões sobre inovação 
das abordagens pedagógicas adveio a psicomotricidade do francês Jean Le 
Boulch para a Educação Física escolar brasileira. Essa abordagem objetiva o 
desenvolvimento psicomotor do escolar no ato de aprender habilidades, através de 
processos cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, busca a formação integral 
dos escolares na tentativa de romper o dualismo corpo e mente (DARIDO et al., 
2004). A psicomotricidade acredita integrar o comportamento e a aprendizagem 
dos movimentos com a formação da personalidade. Além da Educação Física 
escolar, a psicomotricidade também é usada por outras disciplinas, como a Terapia 
Ocupacional, Fisioterapia, Psicologia, Pedagogia, Psiquiatria e Neurologia.
Abordagem Desenvolvimentista: surgida nos anos 1980, essa abordagem 
pedagógica defende a aprendizagem motora como objetivo principal dos 
conteúdos da Educação Física escolar. Na abordagem desenvolvimentista, os 
movimentos possuem um papel essencial na operação básica de adaptação e 
ajuste ao contexto. Por isso, visa à promoção

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