paralelas possam ocorrer, pois é por meio do aprendizado de habilidades motoras que os seres humanos se adaptam aos problemas do dia a dia, ou seja, resolvendo problemas motores. A Educação Física, na visão desenvolvimentista, evidencia as características únicas de cada aluno e fundamenta-se no princípio de que, “embora o desenvolvimento motor seja relacionado com a idade, ele não é dependente da idade” (GALLAHUE, 2001, p. 7). Diante disso, as decisões do professor referentes ao que ensinar, quando ensinar e como ensinar, baseiam-se, primeiramente, na adequação da atividade para o indivíduo, e não na adequação para um determinado grupo. Recomendamos a leitura do livro: TANI, G.; MANOEL, E. J.; KOKUBUN, E.; PROENÇA, J. E. Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU/EDUSP, 1988. v. 1. O livro visa estabelecer uma fundamentação teórica para a Educação Física Escolar. Para tanto, parte de um pressuposto básico: se existe uma sequência normal nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem, isto significa que as crianças necessitam ser orientadas considerando- se estes processos, pois só assim as suas reais necessidades e expectativas serão alcançadas. Em outras palavras, este trabalho procura mostrar que, para o estabelecimento de objetivos, métodos e conteúdos de ensino apropriados, é importante considerar as necessidades que advêm do próprio processo de mudanças no comportamento motor humano ao longo da vida. IMPORTANT E DICAS TÓPICO 1 | MÉTODOS DE ENSINO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 133 Abordagens Críticas Diferente das abordagens abordadas até então, apresenta-se a denominada Educação Física Crítica. É uma abordagem diferente, pois ela propõe que a responsabilidade da disciplina em questão seria a de tratar dos conhecimentos relativos à “Cultura Corporal do Movimento”. Para a Antropologia, cultura se refere à capacidade que só os seres humanos têm de dar significados às ações que praticam, à realidade que os cerca e aos comportamentos de animais e pessoas. É um mundo de significados, um código simbólico construído socialmente, ou seja, cultura é algo que se adquire na convivência em grupo (FREIRE, 2007). Segundo Coletivo de Autores (1992, p. 27), é preciso que o aluno tenha noção de historicidade da cultura corporal, que ele entenda que o homem não nasceu pulando, correndo, jogando etc. todas essas atividades corporais foram sendo construídas em determinadas épocas históricas em respostas aos estímulos, desafios ou necessidades humanas. Elenor Kunz (1996), em sua abordagem critico-emancipatória, reflete sobre a possibilidade do ensino de esportes de forma crítica e emancipada, onde o aluno, além de aprender as habilidades, técnicas e fundamentos, possa entender e questionar por que executar um movimento dessa e não de outra maneira, ou por que é melhor passar a bola ao invés de tentar o drible. Ainda de acordo com Kunz, o ensino deve ser norteado na desmistificação da imagem negativa interiorizada pelo aluno do esporte como prática autoritária e domesticadora. Em outra perspectiva crítica, o esporte, enquanto tema da cultura corporal, é tratado pedagogicamente na escola, de forma crítico-superadora, evidenciando- se o sentido e significado dos valores que indica e as normas que o regulamentam dentro de nosso contexto sócio-histórico (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Ainda de acordo com os autores, esta forma de organizar o conhecimento não desconsidera a necessidade do conhecimento e domínio de técnica e tática, no entanto não os coloca como os únicos conteúdos da aprendizagem. Azevedo e Shigunov (2001, p. 80) completam que essa abordagem “[...] embasa-se no discurso da justiça social no contexto da sua prática. Busca levantar questões de poder, interesse e contestação, faz uma leitura dos dados da realidade IMPORTANT E UNIDADE 3 | METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 134 à luz da crítica social dos conteúdos” e entende o ensinar não como um ato de transferir conhecimento, mas de criar meios em que o aluno se aproprie e transforme este conhecimento de maneira crítica valorizando o contexto dos fatos e seu resgate histórico. A aula de Educação Física escolar deve, então, servir como espaço democrático onde todos possam acessar, partilhar, produzir, reproduzir, e transformar as práticas que caracterizam a área em questão desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, cabendo ao professor a reflexão sobre a melhor forma de viabilizar um aprendizado significativo. Vários são os autores e as abordagens defendidas e estudadas na área da Educação Física escolar. Você poderá saber mais lendo o estudo: Didática Aplicada à Educação Física. Disponível em: <http://www.intaead.com.br/ebooks1/livros/ed%20fisica/14.%20Didatica%20aplicada%20 a%20EF.pdf>. É preciso que os professores valorizem o tempo e o momento em aula. Sua função é contribuir para o crescimento do repertório cultural dos alunos e criar condições para uma autonomia maior em relação aos conhecimentos abordados. A autonomia do aluno é algo a ser buscado ao longo de todo o ensino, construindo uma de suas principais metas e preocupações. A Educação Física escolar pode contribuir muito para que essa autonomia seja alcançada. DICAS 135 Neste tópico, você estudou que: • Método é um caminho para se atingir um objetivo. • Estilo de ensino é a atitude que o comportamento de ensino que se refere às diversas decisões que o educando deve tomar no processo educativo. • A Educação Física já teve a finalidade praticamente única de formar atletas, sem a preocupação maior com os conhecimentos produzidos e sua utilidade para a vida diária. • Você conheceu Muska Mosston e sua teoria sobre os estilos de ensino. • Várias são as abordagens pedagógicas que norteiam a Educação Física escolar no Brasil, as quais podem ser classificadas a partir de duas características: preditivas e não preditivas. RESUMO DO TÓPICO 1 136 1 Defina Método. 2 As abordagens pedagógicas podem ser classificadas a partir de duas características: preditivas e não preditivas. Diferencie estas características. 3 Enumere os três conjuntos de categorias possíveis de decisões que devem ser feitas em qualquer transação de ensino-aprendizagem. 4 Vimos que, segundo Mosston e Ashworth (1986), cinco estilos formam um conjunto que representa as opções de ensino que promovem a reprodução de informações e conhecimentos existentes. Quais são? 5 Elenor Kunz defende qual tipo de abordagem pedagógica de ensino em Educação Física? AUTOATIVIDADE 137 TÓPICO 2 EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA: CONTEÚDOS E OBJETIVOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Como já vimos no tópico anterior, a Educação Física escolar está repleta de diferentes abordagens pedagógicas e que a linha Tecnicista/Tradicional ainda impera em muitas escolas brasileiras, mas um olhar crítico vem mudando esta situação e a cultura corporal do movimento vem, cada vez mais, ganhando espaço nas aulas de Educação Física escolar. Neste tópico abordaremos a Educação Física e sua atuação no contexto escolar, os desafios e as conquistas dos professores desta área, por muitas vezes questionada de sua validade na formação e desenvolvimento dos alunos, indicando os objetivos e conteúdos que norteiam o processo de ensino-aprendizagem. 2 CONTEXTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A Educação Física, ao longo de sua história escolar, vem sofrendo influências do período histórico que passava, as quais refletem em seus conteúdos e práticas pedagógicas. Há muito era vista pela sociedade como uma aula sem importância pedagógica, onde o aluno estava presente para brincar, jogar e não para estudar. O termo Educação Física era relacionado com a prática de exercícios físicos com um fim em si mesmos, ou seja, a atividade