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AS CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO PSICOLOGICA NO CONTEXTO DO TRÂNSITO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS
CURSO DE PSICOLOGIA
AS CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO PSICOLOGICA NO CONTEXTO DO TRÂNSITO
Coronel Fabriciano – MG
1º / 2021
aS CONTRIBUIÇÕES DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DO TRÂNSITO
A psicologia organizacional é uma área que se insere no campo relativo ao trabalho e tem estreito vínculo com as atividades administrativas, de acordo com Zanelli (2002). Este mesmo autor conta que suas metas extrapolam a visão tradicional de ajustamento do indivíduo ao trabalho e busca de eficiência máxima. Dentre as atividades do psicólogo organizacional, ele cita.
Estão colocadas entre as atividades do psicólogo, estabelecidas na Lei 4.119, art.13 §1º: realização de diagnóstico psicológico, orientação e mensuração psicológica para processos de seleção profissional, orientação psicopedagógico e soluções de problemas de ajustamento. O que orienta a definição das atividades que o psicólogo pode exercer em organizações, fica claro, é a seleção de pessoal ou o uso de instrumentos psicológicos para avaliar o ajuste do indivíduo ao cargo. Se essa ideia já estava defasada à época da regulamentação, hoje mostra-se em completa obsolescência. A circunscrição tradicional da área, além de firmar a imagem do profissional restrito no nível do indivíduo, não comporta a gama de atividades que o psicólogo poderia desenvolver nas organizações. Não se tem a intenção de passar uma ideia da prática rigidamente conformada pela lei (ZANELLI, 2002, p.30).
Sendo assim, segundo Marcondes et. Al (2013) a intervenção de psicólogos nas organizações, tem atendido demandas clássicas referentes aos processos de gestão de pessoas, muitas vezes relativo a processos ligados a recrutamento, seleção e treinamento. De acordo com o mesmo autor, recentemente, outras práticas foram incorporadas a essa prática de atuação, como aquelas relativas à qualidade de vida, saúde e bem-estar no trabalho, expressando uma perspectiva estratégica de atuação deste profissional dentro das organizações. Conforme Tachizawa (2015) entende-se por gestão de pessoas, um processo descentralizado apoiado nos gestores responsáveis, cada qual em sua área, pelas atividades fim e atividades-meio das organizações. “Os novos tempos estão a exigir novos modelos de gestão e, consequentemente novas formas de conduzir os interesses da organização e das pessoas.
Sendo assim, o objetivo fundamental da gestão de pessoas de acordo com Tachizawa (2015) é tornar a relação entre o capital e o trabalho, nas organizações, a mais produtiva e menos conflituosa possível.
Os departamentos de trânsito são os órgãos responsáveis por abrir espaço para o trabalho dos psicólogos, institucionalizando as clínicas psicotécnicas pelo reconhecimento da importância da atuação deste profissional na prevenção de acidentes e ações de violência no trânsito, por meio dos resultados dos testes (CRISTO-SILVA; GÜNTHER, 2009 apud ALVES E GOMES 2016).
O trânsito, enquanto deslocamento de pessoas e veículos nas vias (ROZESTRATEN, 1988), surgiu em função da necessidade do ser humano se locomover, trocar mercadorias, comercializar produtos, intercambiar conhecimentos, tecnologias e cultura, aspectos essenciais que possibilitam nossa sobrevivência e favorecem o desenvolvimento em sociedade. Todavia, esse deslocamento de pessoas e veículos também trouxe sérias consequências negativas, através principalmente dos graves problemas ambientais e de saúde pública (MARÍN; QUEIROZ, 2000).
Através dessas consequências negativas, notadamente os acidentes de trânsito, começa a cogitar a possibilidade de utilizar de vários conhecimentos científicos, e dentre eles a psicologia, para minimizar essas trágicas ocorrências. A denominada psicologia do trânsito nasce, então, da necessidade de tornar o trânsito mais seguro, contribuindo para o bem-estar das pessoas em seus deslocamentos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000; ROZESTRATEN, 1981, 1988).
Em 1953, por exemplo, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) estabeleceu a necessidade de avaliar psicologicamente os requerentes à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) com finalidade profissional, com o objetivo de diminuir a incidência de acidentes no trânsito em veículos automotores, não concedendo a habilitação aos motoristas considerados inaptos; e em 1962, esses exames foram estendidos para todos os futuros condutores no Brasil (HOFFMANN; CRUZ, 2003), perdurando até hoje. 
A psicologia como ciência, auxilia no entendimento do comportamento e da psique humana, através de observações, instrumentos (testes), pesquisas, estudos, entre outros. É neste cenário que a psicologia do trânsito se insere, no sentido de investigar o comportamento humano no trânsito, tornando-o mais seguro, colaborando com o bem-estar do condutor e do pedestre para que haja um bom relacionamento entre todos Mariuza e Garcia (2010):
O processo de Avaliação Psicológica é amplo, envolve informações que são coletadas através das estratégias, como: entrevista psicológica, testes psicológicos e observações técnicas que o psicólogo julgar importantes de serem consideradas (MARIUZA E GARCIA, p. 14, 2010).
No contexto de avaliação psicológica do trânsito, os profissionais lidam com diferentes tipos de pessoas, personalidades, deficiências físicas e/ou psicológicas, entre outros, Mariuza e Garcia (2010) afirmam, acerca da avaliação psicológica:
A Avaliação Psicológica realizada pelos psicólogos no trânsito, além de complexa e com objetivo específico, avalia sujeitos que se encontram em diferentes fases da vida. Assim temos que o processo de Avaliação Psicológica incluirá sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento, desde a adolescência à terceira idade, com suas diferentes características, culturas, e com valores próprios. O psicólogo possui a tarefa de contextualizar esta realidade, considerando ainda o próprio ato de dirigir, o tipo de veículo (passeio, de transporte de carga e de transporte coletivo), além de todas as situações externas possíveis de serem consideradas para este candidato. (MARIUZA E GARCIA, p. 16, 2010).
De acordo com o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito), a avaliação psicológica é de caráter obrigatório, eliminatório, e complementar para os condutores e candidatos na obtenção ou mudança de categoria da CNH, consideram-se o nível intelectual, de atenção, psicomotor, de personalidade e psicofísico. Silva (2008) salienta que;
O candidato à CNH pode ser considerado apto quando apresentar desempenho condizente na avalição psicológica para condução de veículo na categoria pretendida; apto com restrição quando apresentar distúrbio ou comprometimento psicológico que estivesse temporariamente sob controle, fazendo constar, nesse caso, o prazo de validade para revalidação da CNH; inapto temporariamente quando apresentar alguma deficiência psicológica nos aspectos psicológicos avaliados, que seria passível de recuperação ou correção; ou, ainda, inapto quando apresentar inadequação nas áreas avaliadas que estejam fora dos padrões da normalidade e de natureza não recuperável. (SILVA 2008 apud SAMPAIO e NAKANO 2011).
Quanto à escolha dos testes, o CFP recomenda “No caso da escolha de um teste, é necessário que o psicólogo faça a leitura cuidadosa do manual e das pesquisas envolvidas em sua construção para decidir se ele pode ou não ser utilizado naquela situação” (CARTILHA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, p. 18, 2013). Os psicólogos utilizam-se de instrumentos psicológicos fidedignos, isto é, confiáveis, e recomendados pelo CFP e de acordo com parecer favorável do SATEPSI (Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos), os quais avaliam principalmente a atenção, personalidade, inteligência, memória, entre outros, podemos citar alguns: AC, AD (Teste de Atenção), BFM-1 e BFM-2 (Bateria de Funções Mentais para Motoristas – Teste de Atenção), Palográfico, Zulliger, IFP, HTP, Rorchach (Testes de Personalidade), RAVEN (Teste de Inteligência), MVT (Teste de Memória Visual), fica a critério do psicólogo decidir quais serão usados e em qual contexto da avaliação (seja praobtenção, renovação ou mudança de categoria da CNH).
Em relação a tal processo, Alves e Gomes (2016) afirmam que:
Alguns traços de personalidade medidos durante o processo de avaliação podem estar atrelados a comportamentos impulsivos, possibilitando direção perigosa, irresponsabilidade, agressividade, egocentrismo, impulsividade e intolerância à frustração, por exemplo. Estas características atuam como fatores relacionados ao funcionamento das ações pessoais como controle de hostilidades, tolerância à tensão, sociocentrismo e ansiedade, os quais podem influenciar mais na ocorrência de acidentes de trânsito do que em características fisiológicas e psicofisiológicas. (ALVES E GOMES 2016).
Os testes psicométricos, isto é, testes que possuem uma medida objetiva, avaliam principalmente aptidões, são os mais usados, uma vez que, segundo Groeger (2003) “são usados para predizer a habilidade para dirigir, especialmente para prever a probabilidade de um indivíduo se envolver em acidentes”. (GROEGER 2003 apud SAMPAIO e NAKANO 2011). Por fim, mas não menos importante, segundo Alencar, Souza e Ribeiro (2015) “a entrevista devolutiva apresentada de forma clara e objetiva, é um direito de todo candidato e o psicólogo deve realiza-la num prazo máximo de quarenta e oito horas, após o término da avaliação psicológica”. 
Para a complementação desses dados objetivos devem ser incluídas observações e entrevistas individuais, que compõe os procedimentos adotados. Também é necessária uma apreciação do contexto em que os motoristas estão inseridos. (SILVA, ALVES E ROSA, 2015).
A atuação do psicólogo na área do trânsito ainda se encontra restrita muitas vezes somente à aplicação e correção de testes, elaboração de laudos, entretanto, o que se sugere é que o psicólogo explore outras áreas de atuação, dentre as quais a promoção da educação do trânsito juntamente com profissionais de outras áreas para desenvolver trabalhos com empresas de transporte coletivo, escolas, universidades, prevenção de acidentes de trânsito, e também esclarecer melhor aos candidatos à obtenção da CNH o próprio trabalho do psicólogo e sua importância. Outra importante iniciativa proposta por Castilho et al. (2015) “é de oferecer atendimentos psicológicos individuais, grupos de orientação e de acolhimento às vítimas de acidente de trânsito. ” (CASTILHO et al. 2015).
Ao falarmos de trânsito, estamos nos referindo também ao comportamento humano, nesse sentido, Pasquali e Lago (2013) salienta que “é necessário visualizar o trânsito como um fenômeno humano, para entendermos os problemas que este nos traz em relação a nossa saúde, bem como os impactos para o nosso bem-estar” (PASQUALI e LAGO 2013).    Por fim, o psicólogo deve atuar na avaliação psicológica do trânsito com a preocupação de prevenção e intervenção para que futuros motoristas diminuam ou extinguem comportamentos e situações graves.
REFERENCIAS
ALVES, Catarina Aparecida. GOMES, Juliana Oliveira. Contribuições da psicologia do trânsito: considerações sobre educação para o trânsito e formação profissional. Muriaé, 2016. Disponível em www.faminas.edu.br/download/baixar/467. Acesso em: 13 de março 2021
CARTILHA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia, edição 1°, novembro 2013. Disponível em: https://satepsi.cfp.org.br/docs/Avaliac%CC%A7aopsicologicaCartilha1.pdf. Acesso em: 13 de março 2021
CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO. Dispõe sobre os exames de aptidão física e mental e os exames de avaliação psicológica. Resolução n. 80, de 19 de novembro de 1998. Disponível em http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2013-11/resolucao-080_98.pdf. Acesso em: 13 de março 2021
GROEGER, J. A. Testes psicológicos podem predizer habilidade para dirigir? In: RISSER, R. (Org.). Estudos sobre a avaliação psicológica de motoristas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p.79-95. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712004000200008. Acesso em: 13 de março 2021
HOFFMANN, M. H.; CRUZ, R. M. Síntese histórica da psicologia do trânsito no Brasil. In: HOFFMANN, M. H.; CRUZ, R. M; ALCHIERI, J. C. (Org.). Comportamento humano no trânsito. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p. 17-29. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2009000100014. Acesso em: 13 de março 2021
MARIN, L.; QUEIROZ, M. S. A atualidade dos acidentes de trânsito na era da velocidade: uma visão geral. Cadernos de Saúde Pública, v 16, n 1, jan. /mar 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2000000100002&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 13 de março 2021
MARIUZA, Clair Ana. GARCIA, Lucio Fernando. Trânsito e mobilidade humana: Psicologia, Educação e Cidadania / org. – Porto Alegre: Ideograf / Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul, 2010. Disponível em: https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/handle/123456789/5928. Acesso em: 13 de março 2021
PASQUALI, Dóris Serena Holmer Biehi; LAGO, Vivian de Medeiros. (2013) “A avaliação psicológica no trânsito: Desafios para o Psicólogo no exercício da atuação. Disponível em: https://psicologia.faccat.br/blog/wp-content/uploads/2013/11/Doris-Paquali.pdf. Acesso em: 13 de março 2021
ROZENSTRATEN, R J. A. Psicologia do trânsito: conceitos e processos básicos. São Paulo: EPU, 1988. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ppet/v1n1/v1n1a04.pdf. Acesso em: 13 de março 2021
SCHMIDT, Beatriz; KRAWULSKI,Edite; MARCONDES, Renatto Cesar. Psicologia e Gestão de Pessoas em Organizações de Trabalho: investigando a perspectiva estratégica de atuação. Revista de Ciências Humanas, v. 47, n. 2, p. 344-361, 2013. Disponível em: https://livros-e-revistas.vlex.com.br/vid/psicologia-gesta-investigando-estrata-522449174.Acesso em: 13 de março 2021
SILVA, Marlene Alves da; ALVES, Irai Cristina Boccato; ROSA, Helena Rinaldi. Avaliação psicológica no contexto do trânsito: revisão de literatura do período de 2006 a 2015. Bol. psicol, São Paulo, v. 65, n. 143, p. 157-174, jul.  2015. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S000659432015000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 13 de março 2021
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TACHIZAWA, Takeshy. Gestão com pessoas: uma abordagem aplicada às estratégias de negócios. Editora FGV, 2015. Disponivel em: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/519/1/O%20PAPEL%20DO%20PSIC%C3%93LOGO%20NAS%20ORGANIZA%C3%87%C3%95ES.pdf. Acesso em: 13 de março 2021
ZANELLI, José Carlos. O psicólogo nas organizações de trabalho. Artmed, 2002. Disponível em: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/519/1/O%20PAPEL%20DO%20PSIC%C3%93LOGO%20NAS%20ORGANIZA%C3%87%C3%95ES.pdf. Acesso em: 13 de março 2021

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