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A Crise do Multilateralismo leitura: Alcides Vaz - Relações Internacionais em tempos de crise / Oriol Costa Fernandez - el multilateralismo en crisis Mundo marcado por ciclos de instabilidade, seja por desequilíbrios econômicos ou tensões políticas e sociais emanadas de esferas domésticas, alimentadas por nacionalismo, fundamentalismo ou extremismo. Essa instabilidade afeta a hierarquia de poder, envolvendo o reposicionamento, deve ser levado em consideração o declínio hegemônico dos Estados Unidos, o enfraquecimento dos laços e a ascensão da China. Colocando à prova os mecanismos presentes na Ordem Mundial. O Multilateralismo - Multilateralismo a partir da ideia de Ordem Internacional - um dos princípios que organizam o mundo a partir do fim da II Guerra (1º mundo) e se espalha pelo globo a partir do fim da Guerra Fria - Nações Unidas; - “The practice of co-ordinating national policies in groups of three or more states” - Keohane, 1990 - prática de coordenar políticas nacionais em grupos de três ou mais Estados; - acordos informais que vão se tornado parte do cotidiano; policies = política pública, Estado em ação; - Em síntese → a preferência por um padrão de ação coletiva em detrimento de soluções individuais - modelo de governança da política internacional que sistematicamente incentiva prática de ações coletivas e restringe soluções individuais; O Sistema Multilateral - ONU; OMC; OMS; Mercosul; G20; União Europeia; BRICS… - Em comum: ideia de coordenação, e cooperação também; - Mundo contemporâneo em um processo de questionamento e de crise desse sistema multilateral; - O que aconteceu para esse sistema entrar em crise e o que significa no exercício da hegemonia??? A Crise do Multilateralismo - Interpretação do Prof. Alcides Vaz - Crise → processo de adensamento de tensões e contradições entre o doméstico e o internacional - caráter estrutural - A aparente incapacidade dos mecanismos multilaterais para dar respostas efetivas aos problemas contemporâneos - pessoas no cotidiano olham para os mecanismos multilaterais e não conseguem ver capacidade de dar resposta efetiva para os problemas que elas estão vivendo em seu dia a dia - reduz expectativa política - Dificuldade dos Estados em alcançarem compromissos e implementá-los - ex: agenda climática - Dificuldades de coordenação entre atores econômicos e sociais, Estado e Organismos Internacionais - dificuldade com os interesses de ambos os lados - Déficit institucional que obstaculariza um relacionamento fluido entre Estados e atores não-estatais - fato de que o multilateralismo foi pensado com o Estado como referência, exclusivamente composta por Estados; dificultando participação dos atores econômicos e sociais Dimensões da Crise do Multilateralismo - 3 dimensões, distribuídas nos níveis domésticos até estruturais - Questionamento de referências normativas de comportamento individual e coletivo → crise no substrato ético - grupo materialista, agnóstico e politicamente eclético X grupo conservador-religioso - no mundo pós-GF, as elites políticas que comandavam os processos políticos e os governos, elas estavam localizadas dentro de um grupo que era mais materialista, agnóstico e politicamente eclético (direção das ideias) e esse grupo ocupa as elites ocidentais e vai ser responsável pela construção dessa ordem mundial, baseado numa ideia de valores universais e que a diversidade é ponto central - ideia de uma ameaça oriental → especialmente Islâmica - Questionamento da eficácia das instituições que realizam a intermediação das demandas e expectativas dos indivíduos com as esferas políticas e de ação coletiva no plano internacional - processo de crise da democracia - lastro de legitimidade entre o doméstico (sociedade) e a instituição (governo) que faz a intermediação com o internacional (ex: ONU) está quebrado, então não existe legitimidade nas instituições; se não reconhece o governo legítimo, não reconhece as ações dele no âmbito internacional legítimas; - Obstáculos estruturais e conjunturais ao acesso dos indivíduos a oportunidades de trabalho, educação, saúdes e representação de seus interesses - questão distributiva fica evidente cada vez mais; assimetrias econômicas e sociais Expressões da Crise na Política Internacional - Crise de Paradigma → limitações do paradigma Liberal e emergência de modelos alternativos de “ordem mundial” - outras formas de fazer as coisas - ex: OMC - rodada Doha - impasse - novas concepções - Transição Hegemônica e oportunidade de mudanças na hierarquia do Sistema Internacional → opção por posturas cada vez mais assertivas e unilaterais - possibilidade de uma nova potência - liderança dos Estados Unidos enfraquecida, reposicionamento de países que aspiram elevar seu status quo internacional, ascensão da China e o estancamento econômico e o declínio político europeu - Questionamento da Legitimidade da “Ordem Internacional” - incapacidade de prover os “bens públicos internacionais” - ausência dos “novos atores” nestes espaços - paralisia das instituições diante da falta de consensos mínimos Implicações da Crise na Política Internacional - Posições unilaterais e defensivas dos Estados → reduzir as vulnerabilidades produzidas pela interdependência - Retomada de impulsos armamentistas → retorno da lógica do “equilíbrio de poder” - segurança coletiva → equilíbrio de poder - Postura assertiva, Política de alianças e “polarização” nas instituições multilaterais As Três Fases do Multilateralismo - visão do Oriol Costa Fernandez Ideia diferente - multilateralismo não é uma inovação do mundo pós-guerra; é uma constante do Sistema Internacional; uma característica da própria natureza do Sistema Internacional; - Multilateralismo de Coexistência → “multilateralismo negativo” - Vestfália, Liga das Nações e a garantia da Soberania → evitar a guerra - até II GM; “politics” - negativo no sentido de que a coordenação dos Estados acontecem não para fazer algo, mas sim evitar algo (a guerra) - Multilateralismo de Cooperação → “Multilateralismo positivo” - ONU e a ideia de bens públicos internacionais - pós-guerra; “policy” - positivo no sentido de que mais do que evitar que algo aconteça, ele tem o objetivo de resolver problemas comuns; não apenas evitar, mas sim propor políticas - determinados aspectos da vida internacional devem ter Políticas Públicas Específicas para esses setores como agenda ambiental... - Multilateralismo Solidário → Supranacionalização da vida política doméstica e a ideia de um governança global - ideia de Comunidade Internacional e uma Sociedade Civil Internacional - tensão com a ideia de Soberania O Multilateralismo de Coexistência e o Multilateralismo de Cooperação convivem muito bem com a ideia de Soberania, pois o Estado ainda é a referência tanto da negociação quanto da implementação da política. O problema é quando muda para o Multilateralismo Solidário, baseado na supranacionalização da vida política, passa a exigir mecanismos de governança global, que vão cada vez mais ampliar o seu rol de temas e de funções, e vão passar a ter uma relação tensa com a ideia de Soberania. Pois presume que esses mecanismos tenham poder sobre os Estados soberanos e que tenham capacidade de determinar o que pode ou não pode acontecer dentro de uma Estado. Segundo Fernandez - O mundo contemporâneo não é o mundo em que o multilateralismo está em crise, o que está em crise é um modelo específico de multilateralismo, Multilateralismo Solidário. Motivadores do Multilateralismo Solidário - Mudança na estrutura de poder mundial - potências emergentes questionando a lógica do Pós-Guerra Fria - Mudanças das relações global-regional-local - regional tem assumido a centralidade da ação externa → menores custos, maiores consensos - regional tem atores limitados e tendem a ser homogêneos… - OMC → acordos preferenciais regionais - Legitimidade das Organizações Multilaterais - redes transnacionais de atores não-estatais demandadas - Questão da Soberania - percepçãode que as Organizações Multilaterais estavam se impondo sobre os Estados - ex: União Europeia e Grã-Bretanha Crise do Multilateralismo Solidário - O multilateralismo deixou de ser capaz de exercer sua função de estabelecimento e reprodução da hegemonia. Devido às mudanças na distribuição do poder, as organizações multilaterais passaram a ser o locus de contestação da hegemonia - países emergentes passaram a ter atuação contundente no sentido de enfrentar as potências nos espaços multilaterais → possam a querer participar da agenda e da formulação das normas - querem participar do jogo → global player - potências hegemônicas possam a questionar/abandonam as instituições multilaterais Como pensar o multilateralismo e a sua crise desde as perspectivas teóricas sobre Hegemonia? As teorias de Hegemonia dizem respeito a esse processo, ao processo de estabelecimento e crise da hegemonia, o que gera estabilidade e o que gera instabilidade. Ajudam a pensar se a retomada de uma política de opção multilateral do governo Biden vai ser eficiente ou vai funcionar na reconstituição de um mecanismo hegemônico de governança global? Ou não? As relações de forças mudaram drasticamente que não há como retomar o antigo?
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