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HEMOGASOMETRIA E EXAMES LABORATORIAIS DE EQUINOS HEMOGRAMA E BIOQUÍMICO Introdução: Atualmente a hematologia equina vem ganhando importante papel na clínica de equinos, e, associado ao hemograma, os exames de bioquímica complementam a avaliação do animal. O hemograma é um indicador de alterações que às vezes não podem ser percebidas no exame clínico, além disso, pode-se chegar até a um diagnóstico. Já as alterações bioquímicas podem estar associadas a alterações sistêmicas como, por exemplo, diarreia, doença renal e perdas eletrolíticas. Hemograma A hematologia dos equinos varia muito em relação as outras espécies. Um fato importante é que o número de hemácias circulantes é muito instável, pois há grande reserva no baço. Em situações de medo ou de atividade o baço se contrai liberando as hemácias para a circulação. Sendo assim, é importante que a coleta de sangue no equino seja feita na parte da manhã, antes que ele saia para alguma atividade, ou a tarde, quando o animal estiver mais tranquilo. A formação de Rouleaux e a rápida hemossedimentação são características da espécie, não representando uma alteração no hemograma. Alguns autores afirmam que a medula óssea dessa espécie não libera reticulócitos no sangue circulante outros já afirmam que a liberação ocorre sim, porém em uma quantidade mínima sendo ineficiente a busca por policromatofilia. Uma característica do leucograma dos equinos é a forma dos grânulos dos eosinófilos, esses são grandes, brilhantes e ocupam uma grande parte do citoplasma, o que impede a visualização do núcleo do leucócito. Durante os processos inflamatórios há uma neutrofilia intensa, com ocorre nas outras espécies. Toxemia, basofilia e a vacuolização citoplasmática são as alterações mais frequentes. O desvio de neutrófilos à esquerda é muito mais comum nos cães e gatos do que nos equinos, nos quais a medula óssea não libera bastonetes com facilidade. Eritrograma A hematologia do cavalo e única em vários aspectos em comparação com outros mamíferos domésticos. Estas diferenças devem ser mantidas em mente quando estivermos analisando o hemograma de um equino. No cavalo, a eritropoiese (formação de glóbulos vermelhos) é completada na medula óssea mesmo em condições de severa perda de sangue ou anemia hemolítica. Assim sendo, é difícil dizer, somente pelo esfregaço sanguíneo, se está ou não havendo uma resposta satisfatória a uma anemia pois é raro encontrarmos células jovens na circulação (sangue periférico). Corpúsculos de Howell-Jolly podem ocorrer em pequeno número de eritrócitos no cavalo. A avaliação de anemias degenerativas e regenerativas pode ser feita pela análise citológica das células, da medula após punção do esterno ou das costelas. A leitura do esfregaço normal deve indicar uma relação de células mieloides e eritroides de menos de 1.5. Uma resposta a anemia regenerativa frequentemente produz uma relação de menos de 0.5 e apresenta uma contagem de reticulócitos maior que 2%. A presença de megacariócitos indica que as plaquetas estão sendo adequadamente produzidas. Os valores de referência para o número total de hemácias giram em torno de 9 a 12 milhões/mm³ para animais puro sangue inglês (PSI) submetidos a treinamento intenso. Já animais em descanso, apresentam contagem bem menor, em torno de 7 a 9 milhões/mm³. Os valores de hemoglobina se situam entre 13 a 17 g% para o PSI atleta e um pouco menos para os outros. O hematócrito corresponde à fração celular e sua relação com o total de volume sanguíneo expresso em porcentagem. O valor esperado para o PSI atleta está entre 38 e 50%, diminuindo também para animais fora de treinamento. Animais submetidos a treinamento de tiro (basicamente anaeróbico) como Quarto de Milha de corrida, apresentam padrão intermediário entre o PSI e o animal em descanso. O mesmo ocorre com animais de salto e adestramento. É interessante observar que o regime de treinamento é um dos fatores mais importantes que se reflete no padrão do eritrograma. Mesmo dentro de uma categoria, por exemplo, animais Quarto de Milha de corrida, observamos diferença entre as médias dos valores de acordo com o regime de treinamento que o treinador impõe aos seus animais. Ou seja, se houver número suficiente de amostras, podemos fazer uma análise estatística e estabelecer para cada treinador um padrão de normalidade. As características individuais também são relevantes na interpretação dos resultados. Alguns animais fogem dos padrões de normalidade que estabelecemos para as categorias e apresentam excelente performance com resultados de hemograma aparentemente insatisfatórios, como uma contagem de hemácias baixa, por exemplo, ou um hematócrito persistentemente alto. Ao se conhecer o padrão do animal e da categoria, podemos fazer o acompanhamento do treinamento e determinar quando o animal está na sua melhor forma. A análise do eritrograma nos permite diagnosticar diversos tipos de anemia (diminuição da contagem, eritropenia) ou ainda a presença de desidratação (aumento da contagem, poliglobulia). O acompanhamento da contagem é fundamental na avaliação do treinamento, pois qualquer alteração poderá levar a fracassos inesperados. Quando detectadas, as alterações podem ser corrigidas antes das provas, sendo mais fácil manter o animal no pico da performance. A causa mais comum de anemia no cavalo atleta é a anemia hemolítica causada por hemoparasitas do tipo Babesia. A coisa certa a fazer é solicitar o exame hematológico juntamente com a pesquisa de hematozoários nos casos de suspeita. Uma outra característica interessante da espécie eqtiina é a estabilidade do VCIVI (volume corpuscular médio). O volume das hemácias do cavalo se mantém dentro de limites rígidos (entre 38 e 50 ,u3) mesmo na presença de doenças de tal forma que um aumento no hematócrito quase certamente corresponde a um aumento do número de hemácias e não ao aumento do volume destas. Os índices de HCM (hemoglobina corpuscular média) e CHCM (concentração hemoglobínica corpuscular média) variam e são bons indicativos de anemias. O aumento do HCM geralmente indica hemólise. A dosagem de proteína complementa o eritrograma e é muito importante para diferenciar, por exemplo, se uma contagem normal é realmente normal, ou se O animal apresenta anemia e está desidratado; neste caso, a contagem está dentro dos parâmetros normais mas a proteína estará aumentada, indicando perda de fluido, ou seja, quando o animal for rehidratado, a anemia ficará evidente. Além disto, juntamente com a dosagem do fibrinogênio, a proteína é um valioso instrumento para acompanhar a evolução de infecções severas como pleurites e peritonites quando sua determinação é mais confiável do que a determinação dos leucócitos já que é mais constante. Leucograma A avaliação do leucograma é feita em três etapas: contagem global do número de leucócitos, contagem diferencial de cada tipo de célula e avaliação da morfologia dos leucócitos. A leucocitose (aumento global do número de leucócitos), pode ser fisiológica (discreta), como resultado de estresse e pode também ser patológica, como resultado de inflamação ou leucemia. A definição do tipo de patologia é dada pela contagem diferencial, quando se observa qual o tipo de célula é responsável pela leucocitose: Neutrófilos – A causa da leucocitose provavelmente é uma inflamação, mas se forem de qualquer outro tipo de célula, provavelmente se trata de leucemia. Eosinófilos – Pode ocorrer aumento no número de eosinófilos devido a processos alérgicos ou verminóticos mas é pouco provável que possam alterar a quantidade global de leucócitos pois eles são uma porcentagem pequena do total. Bastonetes – Podemos observar o aparecimento de formas jovens dos neutrófilos na circulação, especialmente os bastonetes. Quando eles aparecem chamamos a este fenômeno, desvio à esquerda. Geralmente, acompanham oaumento do número de neutrófilos durante o curso de uma inflamação. O aparecimento de bastonetes na circulação acompanhando a leucocitose, indica resposta positiva do organismo a uma inflamação (desvio à esquerda regenerativo) mas se eles forem em grande número de tal forma que o número de bastonetes exceda o de neutrófilos, estaremos diante de um desvio à esquerda degenerativo, ou seja, a medula não tem condições de enviar à circulação quantidade suficiente de células maduras e acaba liberando as jovens. Este quadro acompanha distúrbios inflamatórios com toxemia sistêmica. A leucopenia (diminuição do número global de leucócitos) geralmente é devida a destruição ou sequestro dos neutrófilos na microcirculação. Observamos esse quadro nas endotoxemias, septicemias, infecções virais e febre alta. A neutropenia associada a desvio a esquerda indica processo inflamatório severo. Também aqui o tipo de treinamento a que o animal é submetido altera o padrão de contagem total de leucócitos. Nossas análises estatísticas indicam os seguintes valores de referência para as diferentes categorias: Contagem de Leucócitos: Animais Quarto de Milha em treinamento 7 -11,5 mil/mm³ Animais Puro Sangue inglês em treinamento 6 - 11 mil/mm³ Animais em descanso ou trabalho leve 6 - 10 mil/mm³ No exame diferencial de leucócitos através do esfregaço, observamos os mesmos tipos celulares de outras espécies, a morfologia delas também é semelhante, a não ser pelos eosinófilos que apresentam grânulos característicos grandes e fortemente alaranjados quando corados pelo método de Giemsa. Com relação à morfologia dos neutrófilos, o estudo pode diferenciar e refinar as conclusões alcançadas com a interpretação da contagem global e diferencial dos leucócitos. As alterações tóxicas ocorrem nos neutrófilos quando eles se desenvolvem na medula sob a influência de inflamação severa. As alterações tóxicas mais comuns são observadas ao microscópio como granulações e vacuolizações no citoplasma dos neutrófilos. Bioquímico Através dos exames bioquímicos temos suporte para avaliar várias funções vitais para o animal. Dentre as funções que podemos avaliar estão as funções renal, hepática, pancreática, cardíaca e função muscular. Para que essas funções sejam avaliadas são realizados os seguintes exames: uréia, creatinina, ALT (TGP), AST (TGO), Fosfatase Alcalina, Gama GT, Amilase, Glicose, Fósforo, Cálcio, Colesterol Total, Ácido Úrico, CK Total (Ceratina Quinase), Bilirrubina Total, Proteínas Totais, Albumina, Globulina, Relação A/G. Alguns exemplos de exames bioquímicos com suas funções: as concentrações de uréia e creatinina servem tanto para avaliar o metabolismo protéico quanto a função renal. O manejo e o tipo de alimentação também podem influenciar nos resultados desses exames. As concentrações de colesterol total ou triglicérides podem ser usadas para avaliar a reserva de lipídeos presentes no sangue do animal. A AST (TGO) e a CK devem ser mensuradas para avaliar alterações musculares. A atividade da AST também é alta no fígado, sendo assim, quando há lesão hepática há um aumento em sua concentração. Com isso, a enzima CK é a mais usada para determinar alterações musculares, uma vez que as fibras musculares são as fontes dessa enzima. A enzima Gama GT é usada como marcador sérico de doenças hepatobiliares associadas a colestase. Apesar de estar presente em tecidos como fígado, rins, pâncreas e intestino, a maior quantidade é encontrada no epitélio os ductos biliares. Em equinos as principais causas de aumento da Fosfatase Alcalina na circulação são quando ocorre a colestase a produção dessa enzima óssea pelos osteoblastos. Sendo assim é importante realizar exames de rotina para avaliar a saúde do animal e prevenir futuros problemas. Além de auxiliar no diagnóstico de doenças, são ideais para a avaliação e manutenção da saúde os animais. A hematologia e bioquímica sérica dos equinos é utilizada como indicador de distúrbios metabólicos dos tecidos animais a poder avaliar lesões teciduais, desafios nutricionais, fisiológicos e do desempenho atlético. Fatores extrínsecos interferentes nos componentes sanguíneos relacionam-se ao clima, sanidade, ambiente e manejo em que são criados, além de intensidade dos treinamento e competições podem influenciar componentes sanguíneos. O equino é de forma geral sensível a mudanças ambientais, podendo essas refletirem em respostas fisiológicas e sanguíneas. O estresse térmico pode acarretar no aumento na contagem de leucócitos e eritrócitos, no teor de hemoglobina e no hematócrito. Com o aumento da temperatura o equino perde líquido através da sudorese e do aparelho respiratório, isso pode reduzir o volume plasmático sanguíneo levando a hemoconcentração. HEMOGASOMETRIA Introdução A hemogasometria e a mensuração de eletrólitos são exames laboratoriais importantes para caracterização e avaliação da intensidade dos desequilíbrios hidroeletrolíticos e ácido-base. Estes exames habilitam o veterinário a instituir intervenções terapêuticas apropriadas. Anormalidades eletrolíticas e ácido-base usualmente não definem o diagnóstico, mas certas enfermidades são caracterizadas por predizerem a tendência nesses parâmetros. Em distúrbios clínicos importantes, como diarréia, peritonite, pleurite, disfagia, insuficiência renal, rabdomiólise e cólica, a avaliação laboratorial do equilíbrio ácido-base e dos eletrólitos deve sempre ser considerada como exames importantes pelo profissional que trabalha com equinos. A hemogasometria é o método mais adequado para detecção de alterações do equilíbrio ácido-base dos fluidos orgânicos. Os desequilíbrios hidroeletrolíticos e ácido-base podem ser agravantes em equinos com doença gastrintestinal grave. No animal sadio, o volume e a composição dos fluidos orgânicos são mantidos em estreita faixa de variação. Nas enfermidades do trato digestório, os mecanismos de controle se alteram, sobrevindo desequilíbrios que incluem perda de água e de eletrólitos e concomitante distúrbio ácido-base. A correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-base deve ser imediata, precedendo até mesmo a definição do diagnóstico e a decisão sobre a terapia específica a ser administrada. Alterações metabólicas relacionadas com a SCE (Síndrome Cólica Equina): A utilização de meios complementares de diagnóstico como a realização de hemograma, análise dos gases sanguíneos e análises bioquímicas é justificável, pois disponibilizam informações sobre focos inflamatórios ou infecciosos, desidratação ou hipovolemia, toxemia, desequilíbrios eletrolíticos, ácido-base ou metabólicos, permitindo um diagnóstico mais preciso, bem como na instauração de um tratamento adequado e determinação do prognóstico adequado. A realização de exames clínico-laboratoriais permite evidenciar alterações nas frequências cardíaca e respiratória, no tempo de perfusão capilar, no número de eritrócitos e de leucócitos, na concentração das proteínas plasmáticas totais e no hematócrito de equinos com SCE submetidos a laparotomia. O hematócrito pode ser usado para averiguar o grau de hemoconcentração / hipovolemia, contudo, se deve estar atento a outros fatores que podem interferir, tais como contração esplênica e perda de sangue. O hematócrito pode estar muito aumentado, em relação aos parâmetros normais (55%), em equinos com Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS) por causa da alteração da função endotelial vascular e subsequente perda de água para o espaço extravascular. Grandes volumes de líquido também podem ser perdidos a partir do espaço intravascular para o lúmen gastrointestinal e / ou parede. Sendo assim, são evidenciadas alterações nas contagens total e diferencial de leucócitos, de modo que se observa leucocitose, neutrofilia e linfopenia. Praticamente todas as enfermidades que acometem o trato gastrointestinallevam a desequilíbrios em pH, bicarbonato, sódio, potássio e cloreto. Visando reequilibrar essas alterações o organismo ativa mecanismos de compensação, os sistemas tampão, cuja finalidade é compensar e ajustar as alterações presentes. A avaliação do equilíbrio ácido-base e hidroeletrolítico, bem como dos gases sanguíneos permite escolher o tratamento mais adequado ao paciente com síndrome cólica. Em geral os equinos acometidos de cólica apresentam uma discreta alcalose especialmente no início do desenvolvimento do quadro, sendo esta condição resultante de hiperventilação. Animais com lesões no intestino delgado apresentam níveis elevados de ctCO2(v), BUN, HCO3 - e glicose, revelando alcalose metabólica e hiperglicemia. Referências: CASTRO, Tiane Ferreira. Hemogasometria e equilíbrio eletrolítico pré-operatório em mangalarga marchador acometido de síndrome cólica. Programa de pós-graduação em ciências veterinárias – UFRS. Porto Alegre, fev. 2013. Disponível em: https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wpcontent/uploads/2013/05/disserta%C3%A7ao_Tiane.pdf COSTA, N. S. et al. Hemograma e hemogasometria de eqüinos submetidos à obstrução experimental de jejuno. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, p. 1367-1374, 2008. Hemograma e eletrólitos – exames importantes na clínica de equinos. TECSA Laboratórios, Jornada do conhecimento. Disponível em: file:///C:/Users/Angelina/Downloads/Hemograma%20e%20eletrolitos%20%20Exames%20importantes%20 na%20clinica%20de%20Equinos.pdf Lab&Vet e Laboratório de Patologia Clínica Veterinária da UFV – Valores de referência RIBEIRO FILHO, José Dantas; ABREU, José Mário Girão; ALVES, Geraldo Eleno Silveira; DANTAS, Waleska de Melo Ferreira. Hemogasometria em eqüinos com compactação experimental do cólon maior tratados com sene, fluidoterapia enteral e parenteral. Ciência Rural, [S.L.], v. 37, n. 3, p. 755-761, jun. 2007. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0103-84782007000300024. https://www.ufrgs.br/lacvet/site/wpcontent/uploads/2013/05/disserta%C3%A7ao_Tiane.pdf file:///C:/Users/Angelina/Downloads/Hemograma%20e%20eletrolitos%20%20Exames%20importantes%20na%20clinica%20de%20Equinos.pdf file:///C:/Users/Angelina/Downloads/Hemograma%20e%20eletrolitos%20%20Exames%20importantes%20na%20clinica%20de%20Equinos.pdf http://dx.doi.org/10.1590/s0103-84782007000300024.
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