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Pneumonia Introdução: As pneumonias agudas são responsáveis por cerca de 20% da mortalidade mundial em crianças abaixo de 5 anos de idade. O Streptococcus pneumoniae continua sendo o agente etiológico bacteriano predominante nas pneumonias adquiridas na comunidade (PAC) em todas as faixas etárias, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos em desenvolvimento. O vírus sincicial respiratório (VSR) é um agente frequente de PAC e pode determinar quadros mais graves, particularmente nos lactentes, sendo muito importante a sua investigação em crianças hospitalizadas com pneumonia. Fisiopatologia: O trato respiratório inferior é estéril pela ação dos mecanismos fisiológicos de defesa. A infecção pulmonar ocorre quando: · Diminuição da eficiência dos mecanismos de defesa; · A quantidade do agente infectante satura os mecanismos de defesa; Sistema de defesa do aparelho respiratório: 1. Anatomia das vias aéreas: filtração aerodinâmica; 2. Epitélio da naso e orofaringe; 3. Muco e a depuração mucociliar; 4. Reflexo de tosse; 5. Macrófagos alveolares; 6. Neutrófilos; 7. Imunoglobulinas; 8. Sistema complemento; 9. Surfactante; Vias de acesso do agente ao pulmão: · Aspiração de secreções das vias aéreas superiores; · Inalação de agentes que ultrapassam a filtração aerodinâmica como micobacterias, micoplasma, fungos e vírus; · Hematogênica; · Contigüidade (foco infeccioso em órgão próximo ao pulmão); · Aspiração de conteúdo gástrico; · Inoculação nas vias aéreas por procedimento como intubação. Comprometimento: Morfologicamente as pneumonias podem comprometer predominantemente a: · Luz alveolar: pneumonia lobar; · Vias aéreas e os alvéolos: broncopneumonia; · Interstício: pneumonia intersticial. Neste caso a inflamação se localiza nas paredes alveolares e a luz alveolar continua livre. · Pneumonia lobar e broncopneumonia: Geram acumulo de secreção, levando a consolidações (aumento do frêmito) ou derrame pleural (diminuição do frêmito). · Pneumonia bacteriana: Causa o comprometimento de base direita com preservação da expansibilidade torácica. Classificação: · Local: comunitário (PAC) ou hospitalar; · Tipo: lobar, intersticial e broncopneumonia; · Agente: infeccioso ou não infeccioso. Classificação do quadro clínico: · Leve: Acometimento das vias aéreas superiores associado a sintomas inespecíficos como febre, fadiga, tosse (produtiva ou não), anorexia, mal estar, dor muscular, dor de garganta, congestão nasal ou cefaléia. Alguns casos podem não apresentar febre e sim, sintomas gastrointestinais, como diarréia, náuseas e vômito. · Moderado: Pneumonia sem complicações (sem sinais de gravidade). Há febre, tosse ou dificuldade respiratória e taquipneia, ausência de hipoxemia. Tomografia computadorizada de tórax alterada com presença de lesões pulmonares. · Grave: Pneumonia grave com tosse ou dificuldade em respirar, além de pelo menos um dos seguintes sinais: · Cianose central ou SpO2 < 90% a 92%; · Sinais de angustia respiratória como grunidos, tiragem grave; · Sinais sistêmicos de alerta: incapacidade de mamar ou beber, letargia, inconsciência ou convulsões. · Critico: Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) ou paciente com quadro de choque, encefalopatia, lesão miocárdica e insuficiência cardíaca, distúrbios da coagulação e lesão renal aguda. Pneumonia atípica: · Mycoplasma pneumoniae 10 a 40% PAC: Inicio gradual de mal-estar, febre, cefaléia e tosse irritativa. Acomete preferencialmente crianças em idade escolar. Eventual tosse coqueluchoide. · Chlamydia trachomatis: Pneumonia afebril em lactentes menores de 4 meses de vida, nascidos de parto normal. Apresentam-se com tosse coqueluchoide, taquipneia e estertores finos bilaterais. Relato materno de leucorréia na época do parto. Variáveis de risco: 1. Desnutrição; 2. Baixa idade; 3. Comorbidades; 4. Baixo peso ao nascer; 5. Episódios prévios de sibilância e pneumonias; 6. Ausência de aleitamento materno; 7. Vacinação incompleta; 8. Infecções respiratórias virais; 9. Agente etiológico; Quadro clínico: · Febre; · Tosse; · Aumento da freqüência respiratória; · Taquicardia; · Dispnéia; · Saturação de O2; · Hidratação; Exame físico: · Estado geral; · Gemência; · Cianose/palidez; · Freqüência respiratória e cardíaca; · Expansibilidade torácica; · Frêmito toráco-vocal: vibração sentida quando o paciente emite um som estridente (33). Nas consolidações, o som encontra0-se aumentado e nos derrames, diminuído. · Percussão: som maciço nas consolidações; · Murmúrio vesicular diminuído na consolidação; · Ruídos adventícios: Estertores finos (crepitações): sons nítidos e descontínuos. Gerados quando o ar entra nos alvéolos contendo liquido (pneumonia, edema pulmonar). Estertores grossos: menos agudos e mais duradouros. Sofrem alterações com a tosse. Ocorre na abertura e fechamento das vias aéreas contendo secreção viscosa e espessa. · Esforço respiratório: Tiragem sub e intercostal, supra clavicular, retração de fúrcula e batimentos da asa do nariz. · Sibilância: Presente nas infecções virais ou por bactéria atípica. Não é comum na pneumonia bacteriana. · RN: As manifestações respiratórias são menos evidentes. Predominam sinais gerais de sepse (recusa alimentar, letargia, distensão abdominal, palidez, cianose, hipotermia, taquipneia, dispnéia, taquicardia). Sinais de doença grave: · Tiragem subcostal; · Dificuldade para ingerir líquido; · Dificuldade respiratória mais grave (movimentos involuntários da cabeça, gemência e batimentos da asa do nariz); · Cianose central; · Sinais de má perfusão periférica; Manejo das Pneumonias adquiridas na comunidade: Frente à criança portadora de uma pneumonia aguda, duas decisões são importantes: a necessidade ou não de internação e a introdução de uma terapêutica antimicrobiana empírica adequada. Critérios para internação: Os principias critérios utilizados na prática clínica para indicação de internação de crianças com pneumonias agudas são: · Idade inferior a 2 meses; · Toxemia ou quadro séptico; · Hipoxemia que requer administração de oxigênio suplementar; · Insuficiência respiratória aguda; · Incapacidade de tolerar medicação via oral; · Fatores sociais que impossibilitem a reavaliação, caso ocorra piora clínica; · Pacientes com alguma doença de base que possa alterar a evolução clínica da pneumonia (anemia falciforme, síndrome nefrótica, imunodeficiências congênitas ou adquiridas); · Presença de complicações (derrame pleural, abscesso pulmonar, pneumatoceles, cavitações, pneumotórax). Antibioticoterapia inicial: Sempre que possível, deve-se coletar material (sangue, secreções, líquido pleural) antes da administração do antimicrobiano, com o intuito de, por meio de exames microbiológicos, identificar o agente e confirmar ou readequar a terapêutica. Pneumonias em lactentes: · Virais; · Bacterianas; · Outros agentes (pneumonia afebril). Achados clínicos: · Febre baixa < 38,5ºC; · Tosse seca ou produtiva; · Sibilância frequente; · Retração intercostal e subdiafragmática frequente; · Hipoxemia frequente; · Febre alta > 38,5ºC; · Sibilância pouco frequente; · Insuficiência respiratória; · Toxemia; · Hipoxemia; · Afebril ou subfebril; · Tosse coqueluchoide; · Taquipneia leve ou moderada com ou sem sibilância; Aspectos radiológicos: · Hiperinsuflação pulmonar; · Atelectasias lobares ou subsegmentares; · Sinais de consolidação com ou sem atelectasias; · Pode ocorrer derrame pleural Infiltrado intersticial bilateral; · Atelectasias sub-segmentares. Diagnóstico laboratorial: · Imunofluorescência para VSR, adenovírus, influenza A e B, parainfluenza 1, 2 e 3; · Reação em cadeia de polimerase (PCR) para rinovírus, metapneumovírus e bocavírus; · Hemoculturas; · Análise microbiológica do líquido pleural quando existente (cultura, bacterioscopia, aglutinação pelo látex); · Sorologia por técnicas imunoenzimáticas; · Detecção de IgM específica para: Chlamydia, Pneumocystis, Ureaplasma e citomegalovírus.Tratamento: · Tratamento em lactentes: Os lactentes com suspeita de pneumonia bacteriana, sem sinais de toxemia, desconforto respiratório ou hipoxemia podem ser tratados ambulatoriamente, sob supervisão rigorosa, com amoxicilina por 7 a 10 dias. Se houver indicação para hospitalização, eles podem receber inicialmente ampicilina por via intravenosa. · Tratamento em Pré-escolares: O tratamento ambulatorial inicial deve ser feito com amoxicilina por via oral e, caso não ocorra melhora após 48 a 72 horas e não haja complicações radiológicas, deve- -se suspeitar de infecção por Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis, produtora de beta-lactamases, ou ainda pneumococo de sensibilidade intermediária à penicilina. · Escolares e adolescentes: Quadro clínico Inicial: · Cefaléia; · Mal-estar, · Tosse seca paroxística e eventualmente produtiva do tipo mucoide ou mucopurulenta; · Otite ou meningite bolhosa; Manifestações sistêmicas: · Exantemas máculo-papulares; · Eritema multiforme; · Artralgias; · Artrite; · Síndrome torácica aguda (anemia falciforme); · Inicial: faringite e após 1 a 4 semanas surgem os sintomas pulmonares, febre e semiologia de condensação pulmonar. Aspecto radiológico: · Infiltrado inflamatório para-hilar peribrônquico ou áreas de condensações alveolares, · Comprometimento intersticial em cerca de 20% dos casos; · Derrame pleural (20% dos casos); · Opacidades alveolares e/ou infiltrado intersticial. · É comum o acometimento sub-segmentar de um único lobo. · Derrame pleural em 25% dos casos. Diagnóstico laboratorial: · Reação em cadeia de polimerase (PCR) · Teste imunoenzimático (ELISA) · Fixação de complemento (positivo se houver elevação de 4 vezes nos títulos de anticorpos); · Testes sorológicos: IgM ≥ 1:16 ou maior ou um título único de IgG ≥ 1:5 Tratamento: O tratamento ambulatorial pode ser realizado com amoxicilina e, nos casos em que houver suspeita clínica de infecção por Mycoplasma ou Chlamydophila, deve-se introduzir um macrolídeo (claritromicina ou azitromicina) ou, opcionalmente, levofloxacina para crianças acima de 12 anos de idade.
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