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Introdução aos mercados/ contratos de derivativos O que são os derivativos Os derivativos são ativos cujos valores dependem do preço de outros ativos, que são aqueles que originam o contrato de derivativos e que são chamados ativos-objetos ou ativos subjacentes. Por exemplo, os preços futu- ros de mercadoria, como soja, petróleo, milho, minerais etc., ou de um ativo financeiro como uma moeda, ou um título de dívida, ou uma ação, depen- dem, respectivamente, do valor destas mercadorias e destes ativos finan- ceiros no mercado à vista; ou o preço de um contrato de opção de compra (direito de compra) de uma mercadoria ou de uma moeda também depende do valor da mercadoria ou da moeda que define o contrato de opção. Aqui, os contratos futuros e de opções são conhecidos como derivativos, pois dependem do ativo que lhes dá origem. Também é possível ter contratos de derivativos que dependem de outro derivativo como, por exemplo, o contrato de opção de compra ou de venda de contratos futuros de dólar; mas, mesmo neste caso, os contratos futuros irão depender do preço do ativo à vista que o originou e da taxa de câmbio real/dólar. Importância e crescimento do uso dos contratos de derivativos Os contratos de derivativos cresceram muito em importância nas últimas décadas, tornando-se instrumentos de uso comum no mundo das finanças. Nesta evolução, os instrumentos derivativos passaram a fazer parte do esto- que de conhecimento necessário para os profissionais da área de finanças. Os contratos de derivativos possuem uma função econômica de valor para os mercados financeiros, de bens e de serviços e até mesmo para o setor público, permitindo que situações de risco sejam transferidas de um 14 Derivativos Financeiros agente econômico menos apto a sustentá-la para outro agente mais habi- litado a suportá-la. Por exemplo, um exportador pode transferir seu risco cambial para instituições financeiras mais capazes de lidar com este tipo de risco, já que elas, por executarem diversas operações com diversos agentes econômicos (clientes e outras instituições financeiras), conseguem absor- ver e eliminar parte ou todo o risco cambial envolvido na operação com o exportador. É também possível que dois agentes econômicos compensem seus riscos entre si de modo concomitante, quando um deseja se proteger de uma situação de risco que é, por sua natureza, a situação que elimina o risco do outro agente econômico. Consideremos novamente o caso do ex- portador que quer se proteger contra a valorização de sua moeda; ele, então, poderia acertar um contrato com um importador, que esteja querendo se proteger contra a desvalorização desta mesma moeda, no qual o exporta- dor pagaria um valor ao importador, no caso da desvalorização futura da moeda, e o importador pagaria ao exportador um determinado valor, no caso de valorização futura da moeda. Poderia haver, ou não, uma instituição financeira mediando esta negociação; mas, o fato importante é que as duas partes envolvidas estariam controlando seus respectivos riscos através de uma operação financeira. Participantes dos contratos e mercados de derivativos Os agentes que participam dos mercados/contratos de derivativos são os hedgers, os especuladores, os arbitradores, e os market makers. Estes agentes interagem entre si e com bolsas de futuros e instituições normativas. Vejamos os papéis destes agentes básicos. Hedger e especulador Como veremos mais adiante, os instrumentos derivativos, por exigirem pequenos valores monetários em relação à posição financeira assumida com estes instrumentos, constituem operações alavancadas e, por isso, permitem criar situações de risco elevado. Assim sendo, se o objetivo é assumir riscos elevados, estar-se-ia na posição oposta a do exportador acima. O exportador, Introdução aos mercados/contratos de derivativos 15 ao procurar uma instituição financeira para cobrir seu risco cambial, estaria eliminando riscos, ou seja, buscando proteção contra oscilações da taxa de câmbio; estaria fazendo o que se chama de hedge. Por outro lado, o agente econômico que busca os derivativos para assu- mir posições de risco estaria fazendo o que chamamos especulação. O espe- culador poderia ser, por exemplo, um agente que aposte em determinada ocorrência de mercado, através do uso de instrumentos derivativos, na va- lorização ou desvalorização de uma moeda, por exemplo, ou na subida ou descida das taxas de juros, ou ainda da Bolsa de Valores. Se sua aposta estiver errada, ele perderá; e, caso contrário, ganhará. Em contraste o exportador anterior estará controlando os resultados possíveis de sua receita cambial futura, exatamente com o uso dos instrumentos derivativos. O especulador no mercado de derivativos pode ser caracterizado como aquele (indivíduo ou instituição) que assume posições em derivativos cujos objetos de contratos não estão relacionados com a atividade principal do indivíduo ou instituição; mas também incluiria aqueles cujas atividades prin- cipais estão relacionadas com o ativo-objeto do contrato derivativo, mas que assumem posições com derivativos que estariam aumentando seu risco total e não o eliminando, como faria um hedger. Arbitrador Outra atividade importante nos mercados financeiros em geral, e, em particular, no de derivativos, é a do arbitrador. Como será analisado em ca- pítulo posterior o valor de um contrato futuro guarda determinada relação com o preço do ativo-objeto deste contrato. Assim sendo, alguns agentes atuam concomitantemente nos dois mercados, no à vista e no futuro, bus- cando auferir ganhos com possíveis distorções nesta relação. Estes agentes são os arbitradores. E a atuação deles tende a estabelecer uma determinada relação entre preços à vista e futuros, como, por exemplo, entre a cotação do dólar no mercado à vista e no mercado futuro, ou entre o preço do petróleo à vista e futuro etc. Normalmente, os arbitradores são grandes bancos que desfrutam de fontes de financiamento barato, ou grandes empresas que usam o ativo-ob- jeto dos contratos de derivativos em suas atividades principais, e, portanto, tem facilidade de negociá-lo no mercado à vista. 16 Derivativos Financeiros Market maker Os market makers são agentes que cotam preços de compra e venda de derivativos negociados em Bolsas, procurando garantir, dessa maneira, li- quidez aos contratos negociados, e, por isso, influenciam na formação de preços. Estruturas fundamentais dos instrumentos derivativos Os derivativos podem ser divididos em contratos futuros, contratos a termo, contratos de opções e contratos de swaps. Diversas variações podem ser feitas com base nestes contratos, como, por exemplo, através de swaptions, que caracterizam opções sobre swaps; ou de opções sobre contratos futuros, ou, ainda, de opções sobre opções. Uma visão inicial destas estruturas fundamentais dos instrumentos deri- vativos pode ser apresentada nas situações criadas a seguir: Um produtor de café deseja garantir o preço de sua produção que será vendida seis meses à frente. Ele teme que os preços do café possam cair no mercado internacional; o suficiente para reduzir substancialmente ou mesmo eliminar sua margem de lucro. Este objetivo do produtor poderia ser alcançado de diversas maneiras. Apresentaremos quatro alternativas. A alternativa de indexar o preço do produto ao custo da produção não será considerada, pois estaremos su- pondo que os preços no mercado internacional são dados para o produ- tor, ou seja, ele não consegue estabelecer os preços devido à concorrência internacional. 1.ª alternativa – o produtor de café pode tentar estabelecer a fixação dos preços do café, que será vendido, diretamente com os compradores do produto. Esta estratégia, para ser bem-sucedida, exigiria aceitação por parte dos compradores de café a ser vendido seis meses à frente, e quanto maior o número de compradores, mais difícil deve ser esta tarefa. No en- tanto, se os compradores de café receiamque possa haver elevação do preço deste produto nos próximos meses, eles poderão antecipar o preço de compra do café. Introdução aos mercados/contratos de derivativos 17 Esta alternativa, se realizada, caracterizaria o que chamamos contratos a termo. Haveria a venda futura do café, mas com preços estabelecidos hoje, e não na data de entrega do produto. Estamos diante de uma fixação de preços. 2.ª alternativa – o produtor de café poderia escolher uma outra manei- ra de antecipar o preço de venda de sua produção, por exemplo, utilizando contatos futuros que são negociados em bolsas de futuros. Essa alternativa produz o mesmo resultado que a anterior, pois estabe- lece uma fixação de preços (a menos de algumas imperfeições) antecipada para o produto que será vendido em data futura. Entretanto, os contratos futuros são oferecidos por bolsa de futuros como a BM&FBovespa no Brasil, a Chicago Mercantile Exchange nos EUA etc., tendo, por isso, os contratos padronizados, requerendo depósitos de mar- gens como garantia, e apresentando regras próprias de entrega de produtos. Assim, as bolsas de futuro se diferenciam dos contratos a termo, que são contratos estabelecidos diretamente entre as partes interessadas. 3.ª alternativa – o produtor de café pode adquirir o direito de vender café a um determinado preço mínimo, acertado hoje, para a entrega do pro- duto em seis meses. Este direito de venda é chamado de opção de venda. Nesta operação, o produtor tem o direito de vender seu produto a um preço mínimo, ou preço de exercício, ficando a obrigação, portanto, com a contraparte deste contrato, o qual é obrigado a comprar café ao preço mínimo estabelecido se o produtor assim o desejar. Por este direito o produ- tor de café pagará um prêmio, semelhante ao que ocorre em um contrato de seguro comum. Esta alternativa permite que o produtor de café obtenha um preço mínimo por sua produção, não se tratando, portanto, de fixação de preços do produ- to; o que ocorre é apenas uma limitação de preços. É uma alternativa supe- rior às duas anteriores em termos de flexibilidade, mas exige, certamente, um preço por essa flexibilidade, que é o prêmio pago. 4.ª alternativa – outra possibilidade para o produtor de café seria realizar um contrato de swap (troca), no qual ele receberia um preço pelo café, que seria estabelecido no início desta operação, portanto, prefixado, e pagaria o preço do café que vigorasse no mercado internacional no dia da entrega do produto. Como o produtor estaria recebendo o preço do café em vigor no 18 Derivativos Financeiros mercado internacional no dia da entrega física do produto ao comprador do café, e, ao mesmo tempo, estaria pagando este mesmo preço na operação de swap, estes dois fluxos se anulariam, restando, então, para o produtor, em termos líquidos, o pagamento prefixado constante no contrato de swap. Então, o produtor estaria fixando seu preço de venda do café. Ver figura 1. Figura 1 – Swap de preço de café. Contrapartida Preço do café no mercado Preço fixo de café Vende café ao preço de mercado Empresa de café Novamente, temos uma fixação de preços, como nas duas primeiras alternativas. Entretanto, no contrato de swap haveria, no dia de seu vencimento, que coincidiria com o dia da entrega física do café, simplesmente a troca da di- ferença financeira entre o preço prefixado do café e o preço do café no mer- cado internacional, evitando, desse modo, pagamentos mais elevados, que ocorreriam se os valores fossem trocados integralmente. As quatro alternativas são resumidas na tabela 1. Tabela 1 Operação Fixação de preço Limitação de preço Em bolsas de futuro Pagamento de prêmio Contratos a termo SIM NÃO NÃO NÃO Contratos futuros SIM NÃO SIM NÃO Contratos de opções NÃO SIM SIM e NÃO SIM Contratos de swaps SIM NÃO NÃO NÃO A estratégia a ser escolhida dependerá da visão do produtor quanto ao preço a vigorar no mercado e dos custos envolvidos na operação. Introdução aos mercados/contratos de derivativos 19 Substituamos, agora, o produtor de café por um investidor que deseja investir correndo o risco de oscilações do preço do café. Este investidor não produz nem compra café em termos físicos, ele apenas acredita em certa tendência dos preços no mercado internacional. Este investidor poderia, por exemplo, vender contratos futuros de café se acreditasse em tendência de queda de preços no mercado. Como ele não dispõe do café para venda em data futura, por não ser um produtor, não estaria fixando um preço de venda para este produto. Estaria, sim, apenas obtendo ganhos financeiros se os preços na data futura fossem menores do que o preço determinado na venda dos contratos futuros. Se ocorresse a situação oposta, isto é, se o preço futuro do café no mercado internacio- nal subisse acima do preço ao qual ele vendeu inicialmente os contratos futuros, o investidor sofreria uma perda financeira por ter vendido café, an- tecipadamente, a preço que resultou menor do que o que passa a vigorar no mercado internacional. Este investidor também poderia vender os contratos de opções de venda de café para o produtor do início do exemplo. Neste caso, o investidor rece- beria o prêmio pago pelo produtor e se sujeitaria a perdas se o preço do café caísse abaixo do preço mínimo estabelecido no contrato de opções, quando, então, o produtor de café estaria exercendo seu direito de venda de café ao preço mínimo, ou preço de exercício. E se o preço do café, no vencimento do contrato de opção estivesse acima ou fosse igual ao preço mínimo, o contrato não seria exercido e o investidor lucraria com o prêmio recebido no início do contrato. Se o contrato é exercido pelo produtor de café, o valor da perda financei- ra do investidor deverá ser transferido para o produtor, e se esta perda for maior do que o prêmio recebido pelo investidor no início da operação, este último terá que desembolsar recursos próprios neste investimento. As situações do produtor de café e do investidor ressaltam o contraste das possíveis posições que poderiam ter assumido no exemplo em discussão. O produtor estaria buscando proteção contra queda de preços de seu produto, ao passo que o investidor estaria tentando obter ganhos financeiros explo- rando possíveis tendências de preços no mercado internacional de café. O produtor estaria se protegendo, ou seja, fazendo um hedge, enquanto que o investidor estaria fazendo especulação. 20 Derivativos Financeiros Não há necessidade de que as operações com derivativos compreendam um hedger e um especulador, elas podem ser feitas entre dois hedgers ou entre dois especuladores, ou ainda com arbitradores. Complexidade dos instrumentos derivativos Os derivativos podem apresentar graus de complexidade elevados em suas estruturas e nos seus apreçamentos. Uma situação em que isto normal- mente ocorre é aquela que envolve contratos de opções chamados exóticos, tema do capítulo 10 deste livro. Estas opções, como o nome diz, são diferen- tes, por isso não são classificadas como opções padrão, denominadas, em sua estrutura mais fundamental, de vanilla, nome decorrente da expressão “plain vanilla”, que significa o mais simples; em uma associação que pode- ríamos fazer com o sorvete de baunilha puro, sem mais ingredientes como caldas de cobertura, castanha, ou creme chantili. Embora a maioria dos contratos de derivativos celebrados comporte es- truturas financeiras de complexidades moderadas, estas operações também podem apresentar sofisticações significativas, como foi o caso, por exemplo, da operação executada pela empresa Procter & Gamble na década de 1990; ela contratou uma operação de swap (tema do capítulo 11), cujos fluxos fi- nanceiros dependiam do spread de juros na curva de rendimentos dos títu- los do Tesouro norte-americano, operação na qual o banco Bankers Trust era a contraparte, e que acabou sendo processado judicialmente pela empresa por discordâncias quanto aos riscos da operação.Outros casos envolvendo contratos derivativos também terminaram na Justiça. Estes foram os casos da Gibson Greetings, novamente contra o Bankers Trust, e do Orange County, condado da Califórnia, nos EUA, que sofreu perdas pesadas com aplicações em títulos de dívida sofisticados, em parte, vendidos para o condado pelo banco de investimento Merryl Lynch. Esses títulos tinham como características a possibilidade de ganhos acentua- dos com a queda das taxas de juros libor1 em dólares, constituindo, portanto, veículos para posições alavancadas e, por isso, sujeitos a ganhos ou perdas elevadas. Os títulos em si não se enquadrariam, a princípio, na classificação de instrumentos derivativos, mas como são gerados a partir de operações com derivativos seriam enquadrados nestes instrumentos. 1 Libor significa: London Interbank Offer Rate e re- presenta a taxa de oferta interbancária cotada em dólares (mas também negociada em outras moedas) negociada no mercado Eurodólar (dóla- res “fora” dos EUA). Introdução aos mercados/contratos de derivativos 21 O episódio ocorrido recentemente no Brasil, que, aparentemente, depõe contra o uso de derivativos, consiste nas operações com opções sobre a taxa de câmbio real/dólar, realizadas pelas empresas brasileiras: Aracruz, Votorantim e Sadia; todas elas, em suas operações financeiras, su- postamente, venderam opções de compra de dólar para os bancos com os quais estabeleceram estes contratos de opções. Essa estratégia possui risco elevado, e, por isso, essas empresas acabaram sofrendo perdas financeiras significativas. As empresas estariam na posição do investidor, no exemplo mencionado com a opção de venda de café. Duas diferenças, no entanto, podem ser apontadas: 1.ª diferença – o investidor supostamente poderia vender opções de venda de café para o produtor de café. Assim, como vimos, ele perderia quando o preço do café no mercado internacional caísse abaixo do preço mínimo, ou preço de exercício. No caso das empresas, elas perderam quando a taxa de câmbio ultrapassou a cotação em R$/US$ determinada pelo preço de exercício da opção de compra. A crise externa levou à desvalorização do real frente ao dólar norte-americano, e, por isso, a cotação de mercado ultrapassou o preço de exercício das opções de compra vendidas pelas em- presas. Supondo que o preço de exercício de algumas opções de compra tenha sido 1,70R$/US$, se a cotação no mercado alcançou 2,40R$/US$, as empresas teriam perdido a diferença entre 2,40R$/US$ e 1,70R$/US$, já que os bancos, que eram a contraparte das operações, teriam exercido o direito deles de comprar dólares a 1,70R$/US$, quando a cotação no mercado de câmbio era 2,40R$/US$. 2.ª diferença – as empresas Aracruz, Votorantim e Sadia recebem recur- sos em dólares decorrentes de suas exportações, e isto poderia compensar as perdas acima mencionadas quando a taxa de câmbio R$/US$ ultrapassou o suposto preço de exercício, 1,70R$/US$. A desvalorização do real eleva- ria a receita das exportações e compensaria as perdas financeiras com os contratos de opções de compra. Esta peculiaridade não existia no exemplo mencionado, do investidor que vende opções de venda de café. Mas, então, como as empresas perderam tantos recursos financeiros com a venda das opções? Isso leva a seguinte conclusão: as empresas venderam contratos de opções em volume superior ao que receberiam com o efeito positivo do câmbio sobre suas exportações. 22 Derivativos Financeiros As possíveis perdas financeiras ocorridas podem ser visualizadas no Quadro 1 abaixo. Quadro 1 – Perdas financeiras com a venda de contratos de opções de compra Cotação da taxa de câmbio Preço de exercício da opção de compra Resultado financeiro para as empresas (R$/US$) (R$/US$) (R$/US$) 1,50 1,70 ganham o prêmio 1,60 1,70 ganham o prêmio 1,70 1,70 ganham o prêmio 1,80 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,10R$/US$ 1,90 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,20R$/US$ 2,00 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,30R$/US$ 2,10 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,40R$/US$ 2,20 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,50R$/US$ 2,30 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,60R$/US$ 2,40 1,70 ganham o prêmio e per- dem 0,70R$/US$ Observa-se que as perdas são ilimitadas, e aumentam com o aumento da cotação da taxa de câmbio R$/US$. Os derivativos são hoje execrados por alguns policy makers que ainda des- conhecem a gama de aplicações, boas e ruins, que eles permitem implemen- tar, respondendo somente nos casos de perdas acentuadas vindas a público. No entanto, regulações mais adequadas do que as atuais permitiriam mais controle sobre operações bancárias (bancos comerciais e de investimento) e de outras instituições financeiras com estes instrumentos financeiros, em vez de tentar eliminar ou proibir o uso dos contratos de derivativos que apre- sentam funções econômicas importantes nas economias contemporâneas. Os contratos futuros e de opções são muito antigos, não na forma atual em que são negociados em bolsas de futuros ou em mercados de balcão, mas sim em sua forma mais essencial. Um produtor que desejasse eliminar Introdução aos mercados/contratos de derivativos 23 ou reduzir seu risco com os preços de seus produtos, que ainda se encontra- vam em fase de produção, podia negociar antecipadamente os preços de venda desses produtos. Do mesmo modo, um comerciante poderia negociar os preços futuros de mercadorias que irá adquirir em datas futuras, eliminan- do, desse modo, os riscos de ascensões de preços que poderiam ser prejudi- ciais à sua atividade profissional. Contratos de opções também, em sua essência, são instrumentos de enorme utilidade para as atividades econômicas e financeiras de qualquer economia, completando mercados e transferindo riscos. Eles funcionam como apólices de seguro para diversas situações em que são utilizados; situações para as quais muitas vezes um contrato de seguro comum não existiria. De fato, é necessária uma boa dose de expertise para dominar o uso destes instrumentos sem ser levado a situações de risco que poderiam atingir e pre- judicar os objetivos principais dos agentes usuários destes instrumentos fi- nanceiros. Portanto, cuidados devem ser tomados pelos que utilizam estes contratos de derivativos. E o ambiente, no qual este uso ocorreria, deveria ser regulado, não em excesso para não inibir processos criativos, nem com escassez de controles que o tornaria um ambiente permissivo, como o am- biente internacional recente que favoreceu a gestação de uma crise de crédi- to profunda e extensa cujo início esteve nos contratos de hipotecas subprime nos EUA. Porém, a detração destes instrumentos estaria eliminando ou escassean- do possibilidades de operações produtivas ou financeiras com funções eco- nômicas estimuladoras para o crescimento econômico e aumento do bem- -estar em nações ao redor do mundo. Tornar mercados mais incompletos não parece vantajoso para qualquer economia que busque desenvolvimento socioeconômico. Origem dos mercados futuros, de opções e de swaps A história de transações com contratos a termo tem início, provavelmen- te, há alguns milhares de anos com acertos envolvendo gados, ovinos, suínos etc. Nesses acertos, esses animais davam origem a “contratos” de entrega em datas futuras específicas a preços preestabelecidos. 24 Derivativos Financeiros No entanto, o mercado futuro organizado na forma que hoje conhece- mos teve início somente em 1848, com a criação da Chicago Board of Trade, ou (CBOT) hoje integrada à Chicago Mercantile Exchange (CME). Os primei- ros contratos negociados foram os de milho. Observa-se que na origem, e durante a maior parte do tempo, os con- tratos futuros negociaram mercadorias. O interesse pelos contratos futuros surgiu com a necessidade de proteção contra flutuações dos preços das mercadorias. Porém, a partir da década de 1970, especificamente em 1973, quando o International Monetary Market, criado como parte integrante da Chicago MercantileExchange, iniciou negociações com contratos futuros e também com contratos de opções de ativos financeiros, estes contratos passaram a ganhar importância no mundo dos derivativos. Um fato importante marcou essa transição. Este fato foi o fim do Siste- ma Monetário criado em Bretton Woods, estabelecido em 1944, e através do qual as taxas de câmbio eram mantidas sob o regime de taxas fixas. Com a passagem para o sistema de flutuação no início dos anos 1970, oscilações expressivas das principais moedas dos países desenvolvidos exigiam ins- trumentos de controle de riscos cambiais. A publicação do artigo semanal de Black & Scholes em 1973, que apresentava um modelo para cálculo do prêmio de opções, permitiu a negociação de contratos de opções financeiras na Bolsa de Chicago. No início da década de 1980, com o choque das taxas de juros em dólares que alcançaram mais de 20% ao ano, cujo objetivo de combater a inflação elevada que assolava a economia dos EUA, a demanda por proteção contra oscilações das taxas de juros surgiu com intensidade; e a partir de então, contratos de swaps de juros passaram a crescer e a ter destaque nas opera- ções com derivativos. As principais bolsas de futuros no mundo A principal bolsa de futuros do mundo moderno é a Chicago Mercantile Exchange, ou CME. A CME é uma bolsa de mercadorias que foi fundada em 1898 com a Chicago Butter and Eggs Board nos EUA, e que em 1973 criou o International Monetary Market, ou IMM, que então começou a oferecer deri- vativos sobre ativos financeiros. Introdução aos mercados/contratos de derivativos 25 A Chicago Mercantile Exchange fundiu-se com a Chicago Board of Trade, ou CBOT, em julho de 2007. A CBOT, antes da fusão, era a 2.ª ou 3.ª bolsa de futuros do mundo. Com a fusão a CME cresceu em importância e, em 2008, absorveu a New York Mercantile Exchange, Bolsa que negocia diversos contratos de derivati- vos, entre os quais derivativos de petróleo. No Brasil, a negociação de contratos futuros teve início com a Bolsa de Mercadorias de São Paulo, ou BMSP, em 1917, com negociação inicial de con- tratos agropecuários, de café, Boi Gordo e algodão. A Bolsa Mercantil e de Futuros, ou BM&F, fundada em 1985, e iniciando operações em janeiro de 1986, passou a concentrar as operações com deri- vativos, oferecendo contratos de futuros e de opções para ativos financeiros e mercadorias, incluindo ações, ouro, taxas de juros DI, taxa de câmbio R$/ US$. Em 1991, a BM&F se funde à BMSP, criando a Bolsa de Mercadorias e de Futuros, com objetivo de desenvolver mercados de derivativos financeiros, agropecuários e outros. Em 2007, a BM&F iniciou seu processo de desmutualização, e se tornou, a partir de 1 de outubro de 2007, uma sociedade por ações com fins lucrati- vos. No processo de desmutualização, os direitos patrimoniais dos antigos associados foram convertidos em participações acionárias. Então, na aber- tura de seu capital, a BM&F colocou R$5,9 bilhões em títulos atraindo 260 mil acionistas. A Bovespa também seguiu o mesmo caminho com colocação de ações no valor de R$6,6 bilhões em outubro de 2007. Em maio de 2008, a BM&F e a Bovespa se fundem, formando a BM& FBovespa S/A. Volumes de negócios nas bolsas de futuros do mundo O quadro 2 apresenta a posição das principais bolsas de futuros no mundo nos anos 2004 e 2005, e a taxa de crescimento anual. A listagem é da FIA <www.futuresindustry.org>. 26 Derivativos Financeiros Quadro 2 A BM&F e as bolsas do mundo Posição 2004 Posição 2005 Exchange 2004 US$ 2005 US$ Taxa de cresci- mento anual 1 2 Chicago Mercantile Exchange 883,118,526 664,884,607 32,8% 2 1 Eurex 784,896,954 684,630,502 14,6% 3 3 Chicago Board of trade 561,145,938 489,230,144 14,7% 4 4 Euronext.liffe 343,829,658 311,053,230 10,5% 5 6 Bolsa de Mercadorias & Futuros 187,850,634 173,533,508 8,3% 6 7 New York Mercantile Exchange 166,608,642 133,284,248 25,0% 7 10 National Stock Exchange of India 116,286,968 67,406,562 72,5% 8 5 Mexican Derivatives Exchange 107,989,126 210,355,031 – 48,7% 9 8 Dilian Commodity Exchange 99,174,714 88,034,153 12,7% 10 11 London Metal Exchange 70,444,665 67,171,973 4,9% D is p on ív el e m : < w w w . f ut ur es in du st ry .o rg > . O site abaixo apresenta dados detalhados das operações das bolsas de futuros no mundo em 2006 e 2007. Ampliando seus conhecimentos EUA têm novas regras para os derivativos1 Sarah N. Lynch – Dow Jones, de Washington, 2009 As autoridades reguladoras dos EUA anunciaram na quarta-feira um plano que esboça o novo modelo regulador que irá forçar alguns derivativos 1 Esse texto foi extraído do jornal Valor do dia 15 de maio de 2009. Introdução aos mercados/contratos de derivativos 27 negociados no mercado de balcão a serem negociados em bolsas de valores, e sujeitar alguns contratos a limites de posições especulativas. O plano, que foi anunciado em conjunto pelo secretário do Tesouro Timothy Geithner, pela presidente da Securities and Exchange Commission (SEC), Mary Shapiro e pelo presidente em exercício da Futures Trading Commission, Michael Dunn, visa dar mais transparência aos negócios feitos fora das bolsas de valores (e de futuros), que hoje estão sujeitos à pouquíssima regulamentação federal. “Na elaboração desse modelo amplo, nossos staffs trabalharam juntos, com muito cuidado, para ter certeza de que vamos apresentar ao Congres- so um conjunto comum de recomendações”, disse Geithner, observando que brechas na fiscalização federal sobre os negócios com derivativos contribuí- ram, em parte, para a crise financeira. Pelo plano, as autoridades federais que regulam o mercado de commodi- ties receberão autoridade para limitar as posições especulativas sobre contra- tos negociados em bolsa de valores (e de futuros) e no mercado de balcão, se esses contratos tiverem um impacto significativo sobre os preços do mercado. O objetivo, por trás do plano, é impedir a manipulação ou a especulação ex- cessiva que, segundo acreditam alguns especialistas, pode acelerar os movi- mentos de preços. O plano também forçará todos os contratos padronizados do mercado de balcão a serem negociados em bolsas regulamentadas e serem compensa- dos de maneira regulamentada – um processo que envolve a mediação entre compradores e vendedores para garantir que o dinheiro vai mudar de mãos. Enquanto isso, os contratos altamente personalizados, que ainda são nego- ciados no mercado de balcão, estarão sujeitos às exigências de registro de informações e prestação de contas. Além disso, os negociadores de derivativos, com grandes exposições de contrapartida, estarão sujeitos a uma supervisão prudente e à vigilância regu- latória para garantir que eles não representem riscos sistêmicos ao mercado. Isso vai requerer exigências de adequação de capital mais conservadoras, pa- drões de conduta nos negócios, exigência de margens iniciais e prestação de contas sobre os contratos padronizados e os de mercado de balcão. Comentários: o texto mostra a preocupação das autoridades dos EUA com re- lação às operações com derivativos. O Secretário do Tesouro ressalta que bre-
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