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8 - Arte Brasileira II

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Arte Brasileira II 
Movimento Antropofágico e Posteriores 
 
 
 
 
Lígia Luciene Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
 
Caro aluno 
 
Apresento a você a disciplina Arte Brasileira Contemporânea. Nossa 
proposta é tanto conhecer, como ampliar as referências sobre arte e desenvolver 
um pensamento e uma discussão sobre o que é produzido desde a metade do 
século XX, até os dias de hoje, portanto, algo que nos interessa muito, que diz 
muito de nós e para nós, pois é a arte de nosso tempo. 
Na arte contemporânea, deparamo-nos com uma enorme variedade de 
estilos, formas, conceitos, práticas e materiais. Ficamos perdidos, quando olhamos 
algo do ponto de vista da arte tradicional, pois a arte recente tem utilizado não 
apenas os meios, como lápis, tinta, metal, pedra, papel, mas também ar, luz, som, 
palavras, pessoas, animais, comida, plantas, água e muitos outros meios e 
materiais. 
Ao nos aproximarmos de uma obra de arte, devemos, primeiramente, 
deixar de lado preconceitos; depois, tentar localizar esse trabalho no tempo e no 
espaço, o que é pertinente para leitura de obras de diferentes períodos. Muitas 
vezes, conhecer o autor da obra ajuda a contextualizar o trabalho, Nietzsche diz: 
“É preciso adivinhar o pintor para compreender a imagem”, na arte 
contemporânea, essa afirmação do filósofo alemão é praticamente uma verdade, 
tanto que, nas exposições atuais, é frequente a presença de textos explicativos 
longos, logo ao lado das obras e o expectador, muitas vezes passa mais tempo a 
ler do que a apreciar o trabalho artístico. 
Você é livre para pesquisar por conta própria. Espero que o trabalho 
iniciado aqui seja ampliado, com pesquisas e aprofundamentos, já que o 
programa de arte contemporânea é extenso e continua sendo realizado. 
 
 
 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
EMENTA: Estudo do desenvolvimento da arte no Brasil a partir da expansão do 
Modernismo: suas fases, manifestos e vanguardas. Discussão sobre 
panorama contemporâneo, em consonância com os aspectos 
políticos, sociais e culturais. 
OBJETIVOS: Conhecer as ideias e características que deram vida aos principais 
movimentos artísticos no Brasil, do período moderno ao 
contemporâneo, sempre relacionando com o que acontece 
globalmente, na complexa rede em que se emaranha o mundo 
atual. 
 Compreender os movimentos artísticos como fruto da cultura de 
suas épocas. 
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS 
Unidade 1- Modernismo no Brasil 
Unidade 2 – Anos 50: O Pós-Modernismo e a Bienal 
Unidade 3 - Anos 60: A Nova Figuração e A arte conceitual. 
Unidade 4 – Anos 70: Os desdobramentos conceituais e os muitos nomes da arte 
pós-moderna. 
Unidade 5 – Anos 80: A volta à pintura 
Unidade 6 – Anos 90 e início século XXI: Globalização e novos meios 
 
METODOLOGIA 
Dado o fato de a disciplina ser oferecida na modalidade a distância (EAD), por 
meio de embasamentos teóricos, estudamos os principais representantes da arte 
brasileira contemporânea, ilustrando, pro meio de suas obras, as características 
predominantes em cada artista. O aluno encontra em cada unidade sites para 
aprofundar seus conhecimentos. 
 
 
AVALIAÇÃO 
No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, 
entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na 
avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e 
espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o 
aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, 
a necessidade de estabelecimento de prazos. 
A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes 
instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 
1) Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares; 
2) Provas bimestrais realizadas presencialmente; 
3) Trabalhos de pesquisa bibliográfica. 
 
As estratégias de recuperação incluirão: 
1) retomada eventual dos conteúdos abordados nos módulos, quando não 
satisfatoriamente dominados pelo aluno; 
2) elaboração de trabalhos com o objetivo de auxiliar a vivência dos 
conteúdos. 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 
CANTON, Kátia. Temas da Arte Contemporânea. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008. 
CHIARELLI, Tadeu. Arte Internacional Brasileira. São Paulo: Lemos-Editorial, 2002 (2ª 
Edição). 
FIGUEIREDO, Luciano (Organização). Helio Oiticica: A pintura depois do quadro. Rio de 
Janeiro: Silvia Roesler Edições de Arte, 2008. 
GROSENICK, Uta (Editora). Mulheres Artistas nos Séculos XX e XXI. Lisboa: Taschen, 2003. 
KAZ, Leonel e LODDI, Nigge (Organizadores). Arte e Ousadia – O Brasil na Coleção 
Sattamini. Rio de Janeiro: Aprazível Edições, 2008 / 2009. 
KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. Ed. Martins Fontes: São Paulo, . 
NAVES, Rodrigo. A forma difícil – ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Editora Ática, 
2001. 
OSTROWER, Fayga. Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 
PEDROSA, Adriano e MOURA, Rodrigo (Organizadores). Através: Inhotim. Brumadinho, 
MG: Instituto Cultural Inhotim, 2008. 
PEDROSA, Mario. A modernidade cá e lá. Otília Arantes (org.). São Paulo: Edusp, 2000. 
REZENDE, N. A semana de arte moderna. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2006. 
TASSINARI, Alberto. O espaço moderno. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001. 
TELES, G. M. Vanguarda européia e modernismo brasileiro. 8ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 
1976. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
REVISTA TEMPO BRASILEIRO. Modernidade e pós-modernidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: 
Tempo Brasileiro, nº 84, jan.-mar. 1986. 
ANDRADE, M. de. Aspectos das artes plásticas no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Martins, Brasilia: 
INL, 1975. 
COUTO, Maria de Fátima Morethy. Por uma vanguarda nacional. A crítica brasileira em 
busca de uma identidade artística (1940 – 1960). Campinas: Editora de Unicamp, 2004. 
FREYRE, G. Ordem e progresso. 3a ed. Rio de Janeiro: J.Olympio, Brasilia: INL, 1974, 2 
tomos. 
MESQUITA, Ivo. Daniel Senise: ela que não está. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1998. 
MICHAUD, Yves. L`Art à L` État Gazeux - Essai sur le triomphe de l`esthétique. Paris, Ed. 
Stock, 2003. 
MORAES, Angélica de. Regina Silveira: Cartografias da Sombra. São Paulo: Edusp, 1998. 
SMITH, Keri. The Guerilla Art Kit. New York: Princeton Architectural Press, 2007. 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1 - MODERNISMO NO BRASIL 
 
“O que em mim sente está pensando” 
 Fernando Pessoa 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Contextualizar e refletir sobre o momento da arte moderna, seus 
desdobramentos no Brasil e no exterior, e estudar os principais 
representantes do modernismo nacional. 
 
 Prezado aluno, para entender os múltiplos conceitos presentes na arte 
contemporânea, seja no Brasil ou no exterior, precisamos primeiramente 
relembrar o contexto em que surgem os movimentos da arte moderna e as 
vanguardas artísticas. 
A sociedade europeia, a partir da metade do século XIX, principalmente a 
burguesia - nova classe social, que surgiu com a industrialização - busca sempre o 
novo e, na cultura, algo que a represente, como tentativa de legitimação de sua 
existência. Na arte, essa busca pelo novo é também a superação de tudo o que 
vem anteriormente, como também a criação de uma linguagem autônoma para a 
obra de arte, por exemplo, a pintura não necessita mais representar a realidade, já 
que a fotografia realiza essa função. Portanto, o artista passa a ser livre para 
desenvolver novas pesquisas, para experimentar, inovar e ousar com a sua arte. É 
esse o espírito que caracteríza a arte moderna. 
O Brasil do início do século XX sofre grandes transformações sociais. O 
estado de São Paulo e, principalmente, a sua capital, é o local de partida desse 
período de mudanças e progressos, resultantes da criação de novas fábricas 
surgidas com a aplicação, em sua maioria,do dinheiro obtido através da 
produção cafeeira e com aumento da população, oriundas das grandes ondas de 
imigrações que o país sofreu na virada de século. Esses novos tempos pedem 
transformações também na área cultural e artística, para fazer oposição a arte 
acadêmica, herança da corte portuguesa, do século XIX. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O modernismo brasileiro foi consideravelmente influenciado pelos 
movimentos artísticos europeus, trazidos para cá pelos artistas brasileiros que 
estudavam no exterior ou artistas estrangeiros que migraram para o país. 
Lasar Segall (1891 - 1957), nascido na Lituânia, estudou na Alemanha, onde 
entrou em contato com os artistas dos movimentos expressionistas. Antes de 
migrar definitivamente para Brasil em 1923, expõe, pela primeira vez em São Paulo 
e Campinas, no ano de 1913, numa mostra que é marco da arte moderna no país, 
assim como a exposição da brasileira Anita Malfatti em 1917. A exposição de Segall 
criou menos polêmica que a da artista brasileira por ele ser considerado 
estrangeiro. 
 
 
Lasar Segall, Retrato de 
Margarete, 1913. Óleo sobre tela, 
70 x 50 cm - Coleção Particular 
Anita Malfatti (1889 – 1964), nascida em São Paulo, foi para Berlim em 1910, 
onde entrou em contato com a arte expressionista alemã. Lá, frequentou a 
Academia Real de Belas Artes e o Museu de Dresden. Voltou para o Brasil em 1913 
e, dois anos depois, foi para os Estados Unidos, onde estudou na Escola 
Independente de Arte, berço dos primeiros trabalhos cubistas da américa. 
 
Em dezembro de 1917, abre a “Primeira Exposição de Arte Moderna do 
Brasil, 1917 – 1918” com trabalhos dela e de outros três artistas internacionais. O 
aspecto expressionista das pinturas de Anita Malfatti, suas cores e traços fortes 
com pinceladas livres e marcadas, a relação dinâmica e tensa entre figura e fundo, 
a liberdade compositiva são procedimentos básicos que caracterizam a arte 
moderna e que foram incorporados pela artista. 
 
 
Anita Malfatti, A Boba, 1915-1916. Óleo sobre tela, 61 x 50,6 
cm. 
Coleção Museu de Arte Contemporânea da USP, São 
Paulo, SP. 
 
A exposição provocou uma grande polêmica com os adeptos da arte 
acadêmica. Monteiro Lobato, ligado aos princípios estéticos conservadores, 
publica um artigo, explicitando a reação mais contundente e atacando a obra de 
Malfatti e os novos movimentos artísticos. 
Em posição totalmente contrária à de Monteiro Lobato estaria, anos mais 
tarde, Mário de Andrade. Suas ideias estéticas estão expostas no “Prefácio 
Interessantíssimo” de sua obra Paulicéia Desvairada, publicada em 1922. Mário de 
Andrade afirma: 
 
 
 
A obra de Anita é considerada precursora pelos próprios jovens artistas 
modernistas, críticos e organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, como 
Oswald de Andrade, Mário de Andrade e o pintor Di Cavalcanti. A divisão entre os 
defensores de uma estética conservadora e os de uma renovadora, prevaleceu 
por muito tempo e atingiu seu clímax na Semana. 
 
“Belo da arte: arbitrário convencional, 
transitório - questão de moda. 
Belo da natureza: imutável, objetivo, natural 
- tem a 
eternidade que a natureza tiver. 
Arte não consegue reproduzir natureza, nem 
este é seu fim. 
Todos os grandes artistas, ora conscientes 
(Rafael das Madonas, Rodin de Balzac. 
Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do 
Braz Cubas) ora inconscientes ( a grande 
maioria) foram deformadores da natureza. 
Donde infiro que o belo artístico será tanto 
mais artístico, 
tanto mais subjetivo quanto mais se afastar 
do belo natural. 
Outros infiram o que quiserem. Pouco me 
importa”. 
 (Mário de Andrade, Poesias Completas) 
 
 
Anita Malfatti, Torso - ritmo, 1915-1916. Carvão e pastel 
sobre papel, 61 x 46,6 cm. Coleção Museu de Arte 
Contemporânea da USP 
 
 
 
A Semana de Arte Moderna de 1922 
 Aconteceu na cidade de São Paulo entre os dias 13 e 18 de fevereiro, no 
Teatro Municipal. No interior do teatro, foram apresentados concertos e leituras 
de poesia à noite, enquanto, no saguão, foram montadas exposições de artistas 
plásticos, como os arquitetos Antonio Moya e George Prsyrembel, os escultores 
Vítor Brecheret e W. Haerberg e os desenhistas e pintores Anita Malfatti, Di 
Cavalcanti, John Graz, Martins Ribeiro, Zina Aita, João Fernando de Almeida Prado, 
Ignácio da Costa Ferreira, Vicente do Rego Monteiro, contabilizando quase 100 
obras. 
 
 
Di Cavalcanti, Capa do catálogo da 
exposição da Semana de Arte Moderna, 
1922. 
Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros - 
USP - Arquivo Anita Malfatti. 
 
A Semana representou um marco, um verdadeiro ponto de mudança no 
modo de ver e de escrever no Brasil. Do ponto de vista artístico, seu objetivo foi 
acertar os ponteiros da nossa arte com a modernidade contemporânea. Para isso, 
era necessário entrar em contacto com as visões de mundo do cubismo, do 
futurismo, do dadaísmo, do expressionismo e do surrealismo, que formavam, na 
mesma época, a vanguarda europeia. 
 
 Di Cavalcanti (1897–1976), artista carioca, um dos idealizadores da Semana 
de Arte Moderna de 1922, no mesmo ano, foi para Paris onde viveu até 1925 e 
conviveu com artistas como Fernand Léger, Henri Matisse e Pablo Picasso, que o 
influenciaram consideravelmente, basta comparar as formas e as cores nas obras 
desses artistas. Emiliano Di Cavalcanti ficou conhecido como o pintor das mulatas, 
pois em suas pinturas retratava a sensualidade brasileira por meio da figura 
feminina. 
 
 
Di Cavalcanti, Samba, 1925. 
Óleo sobre tela, 177 x 154 cm 
Coleção Geneviève e Jean Boghici 
 
 
O escultor Victor Brecheret (1894–1955) inicia formação artística em 1912, 
estudando desenho, modelagem e entalhe em madeira no Liceu de Artes e 
Ofícios de São Paulo. De 1913 a 1919, realiza viagem de estudo para Roma, onde 
surge seu primeiro contato com o modernismo europeu. Em 1921, com o 
patrocínio do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, viaja para Paris. Entra 
em contato com escultores europeus, entre eles Henry Moore (1898-1986), Emile 
Antoine Bourdelle (1861-1929) e Constantin Brancusi (1876-1957) e permanece lá 
até 1935. Embora ausente, expõe 12 esculturas na Semana de Arte Moderna de 
1922. 
Em Paris, Brecheret foi muito sensível a três fontes que buscou fundir de 
maneira pessoal: a ênfase ao volume geométrico da escultura cubista, o 
tratamento sintético da forma dado pelo escultor romeno Constantin Brancusi e a 
estilização elegante do estilo do art deco. A convergência dessas matrizes pode 
ser percebida em “Tocadora de Guitarra” de1923. 
 
 
Victor Brecheret, Tocadora de guitarra, 
1923 
Escultura em bronze. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo 
 
 
Tarsila do Amaral (1886–1973) é considerada uma das principais artistas 
modernistas brasileira. Nascida em Capivari, interior de São Paulo, filha de 
fazendeiros, em 1920 viaja para Paris para estudar pintura. Lá, cursou a Academia 
Julian, tomou contato com as vanguardas europeias e frequentou os ateliês dos 
cubistas André Lhote, Fernand Léger e Albert Gleizes. 
Tarsila não estava no país no acontecimento da Semana de Arte Moderna, 
mas retorna ao Brasil naquele ano, quando conhece Mário de Andrade, Oswald 
de Andrade, Anita Malfatti e Menotti Del Picchia, com os quais formou o chamado 
"Grupo dos Cinco", grupo responsável pela consolidação do modernismo no país. 
No ano seguinte, casou-se com Oswald de Andrade. 
Ainda em 1923, pintou o quadro "A Negra", que se aproximava do cubismo 
e era considerada a primeira manifestação do que viria a ser o movimento 
chamado Pau-Brasil. Voltou a Paris e freqüentou, com Oswald o circuito artístico 
local. 
 
 
Tarsila do Amaral, A negra, 1923. 
Óleo sobre tela, 100 x 80 cm. 
Coleção Museu de Arte Contemporânea da 
USP. 
 
 
Tarsila do Amaral, São Paulo, 1924 
Óleo sobre tela, 57 x 90 cm 
Acervo Pinacoteca do Estado de São 
Paulo. 
 
Em 1928, Tarsila pintou aquelaque se tornaria sua mais conhecida obra, 
"Abaporu". A tela, um presente para o seu então marido, foi entregue na data de 
aniversário de Oswald, 11 de janeiro, ainda sem nome. Extasiado com a beleza da 
tela, Oswald chamou seu amigo modernista Raul Bopp e, folheando um dicionário 
de Tupi de Tarsila, encontraram o nome que batizou a tela e que significa "o 
homem que come carne humana", e inspirou Oswald a escrever um novo 
documento, o “Manifesto antropófago”, que possui a conhecida passagem: 
 
 
Tarsila do Amaral, Abaporu, 1928. 
Óleo sobre tela, 85 x 73 cm. 
Colección Costantini, Buenos Aires, 
Argentina. 
 
Candido Portinari (Brodósqui SP 1903 - Rio de Janeiro RJ 1962). Pintor, 
gravador e ilustrador. Inicia-se na pintura em meados da década de 1910, 
auxiliando na decoração da Igreja Matriz de Brodósqui. Em 1918 muda-se para o 
Rio de Janeiro e, no ano seguinte, ingressa no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola 
Nacional de Belas Artes, Enba, na qual cursa desenho figurativo e pintura. 
“Só a Antropofagia nos une. Socialmente 
Economicamente. Filosoficamente. 
 
Tupi, or not tupi that is the question. 
 (…)” 
Em 1928, viaja para a Europa com o prêmio de viagem ao estrangeiro, e 
percorre vários países durante dois anos. Portinari produziu suas obras, 
experimentando procedimentos pictóricos de artistas antigos e contemporâneos, 
sempre acrescentando a cada um desses 'experimentos' soluções de forte cunho 
pessoal. 
De volta ao Brasil, já sem os traços acadêmicos, mas também sem o 
radicalismo dos artistas vanguardistas, Portinari acabou sendo eleito pelos 
protagonistas do movimento modernista local (Mário de Andrade, Manuel 
Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e outros) como principal motor para a 
constituição de uma arte moderna no Brasil: uma arte que tentava distanciar-se 
das convenções da Academia, mas atenta para não se 'perder' na abstração ou 
em outros 'excessos' vanguardistas. 
 
 
Candido Portinari, O lavrador de café, 
1934. Óleo sobre tela, 100 x 81 cm. 
Acervo MASP. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
Dentre os artistas modernistas vamos destacar a trajetória de vida e obra 
de Alfredo Volpi (Lucca, Itália 1896 - São Paulo SP 1988), por ele ser um caso 
singular na articulação entre o modernismo dos anos 1940 com o concretismo da 
década seguinte. 
 Volpi muda-se com os pais de sua cidade natal para São Paulo em 1897. 
Trabalha como marceneiro-entalhador e encadernador e torna-se pintor-
decorador em 1912. Realiza decoração mural, em 1918, do Hospital Militar do 
Ipiranga, com o pintor Alfredo Tarquínio. Em 1935, participa da formação do 
Grupo Santa Helena com Fulvio Pennacchi (1905-1992), Mario Zanini (1907-1971), 
Manoel Martins (1911-1979), Humberto Rosa (1908-1948), Clóvis Graciano (1907-
1988), Francisco Rebolo (1903-1980), Rizzotti (1909-1972), Ernesto de Fiori (1884-
1945), Vittorio Gobbis (1894-1968), Rossi Osir (1890-1959) e Bonadei (1906-1974). 
Sua produção inicial é figurativa, destacando-se as marinhas executadas na cidade 
de Itanhaém, litoral de São Paulo. 
 
 
Alfredo Volpi, Vista de Itanhaém, marinha de Itanhaém, década de 1940 
Têmpera sobre tela, 45 x 76 cm 
Coleção particular 
 
Autodidata, Volpi jamais admitiu a influência de pintores ou movimentos 
sobre sua arte, mas alguns críticos apontam referências do pintor italiano, 
radicado no Brasil, Ernesto De Fiori em obras do fim da década de 30 e início da 
década de 40. 
 
 
Alfredo Volpi, Casas, déc. 1950 
Têmpera sobre tela, 115,5 x 73 cm 
Coleção MAC USP. 
 
As fachadas foram durante um bom período, objeto de estudo do artista. 
Podemos perceber nessas composições o número de elementos plásticos em 
jogo. Volpi pensava essencialmente, como ele mesmo dizia, em “problemas de 
forma, linha e cor”, e isso, sem dúvida, levou ele gradativamente a abstração. 
Sua pincelada tem uma forte vibração, resultado da escolha de usar a 
têmpera a ovo caseira como técnica, em suas telas percebemos a experiência 
artesanal, sutil e intimista. 
Volpi chega a uma síntese incrível nos portais e nas festas de São João. Ao 
observarmos sua obra, surge diante de nossos olhos uma simplicidade, na fatura e 
na forma, e ao mesmo tempo, uma incorporação física e espiritual do gesto, na 
pincelada. 
 
Alfredo Volpi, Fachada das bandeiras 
brancas, déc. 1950 
Óleo sobre tela, 155 x 102 cm 
Coleção particular 
Alfredo Volpi, Bandeirinhas, déc 1969 
Têmpera sobre tela, 72 x 108 cm 
Coleção particular 
 
No final de sua vida, ao pintar aquelas superfícies que parecem bandeiras, 
mas que já são enormes abstrações, com cores extremamente vibrantes e 
mudando a direção do pincel para conseguir uma certa vibração, parece que ali, a 
cor está viva. O fantástico é que, apesar da economia, ele chega à alma da 
expressão, à essência da qualidade. 
Volpi era muito admirado pela geração seguinte, a dos artistas concretistas, 
tanto que, em 1956 e 1957, é convidado a participar das Exposições Nacionais de 
Arte Concreta e mantém contato com artistas e poetas do grupo concreto, 
continuando sem se encaixar em nenhuma corrente. 
 
 
Alfredo Volpi, Bandeirinhas, déc 1969 
Têmpera sobre tela, 72 x 108 cm 
Coleção particular. 
 
INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO 
 
A partir do que sabemos sobre a “Primeira Exposição de Arte Moderna do 
Brasil, 1917 – 1918” de Anita Malfatti que aconteceu em 1917, procure pesquisar 
mais sobre esse marco da arte moderna brasileira. Leia a crítica que Monteiro 
Lobato fez ao trabalho de Anita no conhecido texto chamado “Paranóia ou 
Mistificação? A propósito da Exposição Malfatti”, publicado em 20 de dezembro de 
1917 no jornal O Estado de São Paulo. Com uma busca na internet, você 
fácilmente achará o artigo completo. Perceba os conceitos presentes na crítica de 
Lobato. Agora procure as imagens dessa exposição, além das duas reproduzidas 
aqui, “A Boba” e “Torso – ritmo” participaram dessa mostra 53 trabalhos, entre 
desenhos, gravuras e pinturas como, ”Tropical”, “O Homem Amarelo”, “A Estudante 
Russa”, “O Japonês”. 
 Imaginando que você é um crítico de arte, coloque-se na posição de 
defender o modernismo e a arte de Anita Malfatti, escreva um artigo resposta ao 
artigo de Monteiro Lobato. 
 
 
SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 
 
- Visita ao Museu Lasar Segall: o local era a residência do artista. Situado na Vila 
Mariana em São Paulo, foi transformada em Museu em 1967, dez anos após sua 
morte. 
 
- Assista a minisérie produzida pela Globo “Um só coração” (2004), disponível em 
DVD. Misturando ficção e realidade, o programa retratou parte da história e do 
desenvolvimento de São Paulo, entre 1922 e 1954: a Semana de Arte Moderna e 
os personagens que realizaram o movimento modernista brasileiro, a Revolução 
de 1924, a crise de 1929, a Revolução Constitucionalista de 1932, a era Vargas, os 
ecos do nazismo e do fascismo, os refugiados da guerra, a influência americana, 
até a consolidação do modelo democrático no país. A minisérie foi uma 
homenagem aos 450 anos da cidade de São Paulo, comemorado naquele ano de 
2004. 
 
 
UNIDADE 2 - ANOS 50: O PÓS-MODERNISMO E A BIENAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Estudar o momento do pós-modernismo como antecedente ao que 
chamamos hoje de arte contemporânea, as correntes concretas, 
neoconcretas e informais da arte abstrata e a importância da criação 
da Bienal para a arte brasileira. 
 
Os anos 1950 foram um período de grande agitação. O mundo já havia se 
recuperado da Segunda Grande Guerra, finalizada em 1945 e agora se 
encaminhava para uma polarização entre países socialistas encabeçados pela 
União Soviética, e países capitalistas liderados pelos Estados Unidos. Apesar 
dessas novas disputas que surgiram, com a guerra não declarada entre essas duas 
potências, a chamada Guerra Fria, que duraria décadas, o momento era de euforia 
e reconstrução proporcionadas pelo retorno da paz. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDONa metade do século XX, os Estados Unidos tornou-se o centro mundial da 
arte, muitos artistas migraram para lá durante a ascensão do nazismo na Europa, 
portanto o eixo cultural muda de Paris, cidade das vanguardas européias no início 
do século, para Nova York, cidade americana centro do expressionismo abstrato, 
sendo Jackson Pollock (1912 – 1956) e sua Action Painting (a Pintura de Ação), o 
seu representante mais conhecido. 
O expressionismo abstrato é considerado a arte moderna americana por 
excelência. Hoje, sabemos que a rápida aceitação que esse estilo de pintura teve 
na sociedade americana foi consequência do apoio do governo, que utilizou a 
arte abstrata para mostrar como seu regime apoiava a liberdade de expressão em 
oposição aos governos comunistas e suas revoluções culturais repressoras. 
No Brasil, esse é um período de promessas de grandes desenvolvimentos, 
com o crescimento da agricultura, da indústria siderúrgica e da Petrobrás. 
 
Nas Artes Visuais, um grande acontecimento marca a inauguração de um 
novo tempo. Em 1951, é criada a Primeira Bienal de Arte de São Paulo, promovida 
pelo casal Iolanda Penteado e Francisco Matarazzo Sobrinho – conhecido como 
Ciccillo Matarazzo, com assessoria dos críticos de arte Lourival Gomes Machado e 
Sérgio Millet. Foi realizada em 20 de outubro na esplanada do Trianon, local hoje 
ocupado pelo Masp. Na mostra, foram exibidas, pela primeira vez no Brasil, obras 
dos artistas mais importantes do século XX, como Picasso, Morandi, Calder, 
Giacometti, Magritte e representantes da arte brasileira como Lasar Segall, Di 
Cavalcanti, Portinari, Brecheret, Oswald Goeldi entre outros. Mas a presença mais 
impactante foi a do artista suiço Max Bill (1908 - 1994) e sua escultura “Unidade 
Tripartida”, com tendências construtivistas, a obra abstrata passa a ser uma 
influência para os artistas brasileiros, que encontram no abstracionismo uma nova 
forma de expressão. 
 
 
Max Bill, Unidade Tripartida, 1948-49 
Aço inoxidável (115,0 x 88,3 x 98,2 cm ) 
Acervo MAC – USP, São Paulo 
 
 
O impacto das representações estrangeiras abre as portas do país para as 
novas linguagens plásticas, que passam a ser amplamente exploradas, 
primeiramente pelas correntes abstracionistas ligadas ao construtivismo, que 
resultam no Concretismo em São Paulo e no Neoconcretismo no Rio de Janeiro, e, 
no fim da década de 50, na Arte Informal. 
Essas transformações se relacionam de perto com as modificações 
verificadas no meio social e cultural brasileiro. As cidades de São Paulo e Rio de 
Janeiro iniciam seus processos de formação da metrópole, alimentados pelo surto 
industrial e pela ordem desenvolvimentista, que alteram a paisagem urbana. Do 
ângulo das artes visuais, a criação dos museus e galerias de arte criam condições 
para essas experimentações concretas, com o anúncio das novas tendências não-
figurativas. 
 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
O concretismo buscava o novo, a socialização da arte, buscava uma arte 
democrática, acessível a todos, com uma linguagem universal, a pintura 
construída exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem 
outra significação senão ela própria. Os artistas concretos procuravam uma arte 
que substituísse a expressão emocional pelo pensamento, de construção mental. 
Os artistas paulistas mostravam-se decididos a criar uma arte de acordo com a 
cidade moderna, urbana e industrial que era São Paulo. A ideia de série e de 
variações óticas, de ritmo e de movimento, assim como a articulação espaço-
tempo, estavam no centro de suas preocupações. 
Com esse pensamento, os artistas paulistas fundam, em 1952, o Grupo 
Ruptura, centrado em torno do artista e teórico Waldemar Cordeiro (1925 – 1973), 
que promovia encontros para discutir os ensinamentos de mestres europeus 
como Kandinsky e Mondrian. No grupo, também estavam Lothar Charoux, 
Geraldo de Barros, Fejér, Leopoldo Haar e Luiz Sacilotto. Em seu manifesto, 
Cordeiro propõe o rompimento com a figuração e o naturalismo. 
 
 
Waldemar Cordeiro, Movimento, 1951. 
Têmpera sobre tela. 90,2 x 95 cm 
Coleção MAC USP, São Paulo. 
Lothar Charoux (1912 – 1987) nasceu na Austria e migrou para o Brasil, em 
1928. A partir de 1948, Charoux volta-se às questões construtivas, podemos 
perceber em sua obra, preocupações com as questões da linha, do movimento e 
do equilíbrio, assim como as vibrações óticas. 
 
 
Lothar Charoux, Desenho, 1956. 
Guache sobre papel sobre madeira, 61 x 61 
cm. 
Acervo MAC - USP. 
 
 
O brasileiro Geraldo de Barros (1923-1998) foi fotógrafo, pintor, gravador, 
artista gráfico, designer de móveis e desenhista. Além de importante colaborador 
do movimento concreto e integrante do Grupo Ruptura, foi grande explorador de 
experimentos com a fotografia, nas quais podem-se identificar as preocupações 
construtivistas. 
 
 
 
Geraldo de Barros, Função diagonal, 
1952. 
Esmante sobre kelmite. 60 x 60 cm 
Coleção do artista. 
 
 
O paulista Luiz Sacilotto (1924 - 2003) foi pintor, escultor e desenhista. O 
convívio com o Grupo Ruptura foi importante para seu aprimoramento teórico e 
o desenvolvimento de seu trabalho no ateliê, que desde meados de 1948, já 
esboça uma consciência abstrato-construtiva. Sacilotto pode ser considerado um 
dos importantes artistas da arte concreta no Brasil e, com uma pintura que 
explora fenômenos ópticos, um dos precursores da op art no país. 
 
 
Luiz Sacilotto, Concreção 5624, 1956. 
Relevo de aluminio pintado, 36 x 60 x 0,4 cm. 
Coleção particular. 
 
 
Contraponto com os paulistas do Grupo Ruptura e o seu concretismo está 
o carioca Grupo Frente e o seu neoconcretismo. Fundado em 1954, por Lygia 
Clark, Lygia Pape e Ivan Serpa, entre outros, o grupo criticava o excesso de 
racionalismo teórico dos paulistas e considerava que a abstração geométrica 
podia ter alma e corpo. 
 Ivan Serpa (1923 - 1973) além de artista teve importante trabalho como 
professor. Ministrou suas primeiras aulas no Museu de Arte Moderna do Rio de 
Janeiro, onde, a partir de 1952, exerceu sistemática atividade didática no ensino de 
arte para crianças. Então, em 54, ao lado de Ferreira Gullar, cria o Grupo Frente e 
permaneceu na liderança até a sua dissolução, em 1956. Curioso perceber que, 
apesar da orientação concretista, a obra de Serpa oscila entre o figurativo e o 
abstrato geométrico. 
 
Ivan Serpa, Formas, 1951. 
Óleo sobre tela. 
Prêmio melhor jovem pintor na Primeira Bienal de São Paulo 
em 1951. 
Acervo MAC USP, São Paulo. 
 
 
 O grupo carioca teve como mentor o crítico Ferreira Gullar (1930), que 
buscava criar uma noção de arte brasileira completamente autonoma, livre das 
influências europeias, uma arte estética e eticamente nacional. Gullar foi autor do 
“Manifesto Neoconcreto” e o principal teórico do novo movimento. Ele defendia 
que a arte neoconcreta era uma arte original, com experiências que aconteciam 
no espaço real, sem os apoios convencionais de moldura, para a pintura, e de 
base / pedestral, para a escultura. 
 A obra de Lygia Clark (1920 – 1988) tem um lugar seminal na história da 
arte contemporânea brasileira. Poucos artistas tiveram um papel tão liberador no 
que diz respeito à abertura de canais expressivos e no uso poético de novos 
materiais. Primeiramente, como aluna de Roberto Burle-Marx (1909 – 1994), ela 
logo teve contato com a dimensão orgânica do abstracionismo. Com a 
aproximação dos artistas neoconcretos, foi assimilando a geometria, mas sempre 
experimentando a dimensão espacial e explorando a projeção espacial na 
arquitetura, ou seja, seus trabalhos bidimensionais extrapolam esse limite e 
possuem uma projeção tridimensional, mesmo que, no início, pequena. A 
evolução de sua obra vai da série dos “Casulos”, para a dos “Bichos” e depois os 
“Trepantes”. Aos poucos, em sua obra, a participação do espectador é requisitada. 
 
 
 
Lygia Clark, Planos em SuperfícieModulada número 5, 1957. 
Tinta industrial sobre madeira, 80 x 70 
cm. MAM, São Paulo. 
Lygia Clark, Casulo, 1959. 
Nitrocelulosa sobre lata, 42,5 x 42,5 x 
26 cm. 
 
 
Lygia Clark, Bicho caranguejo duplo, 
1961. 
Alumínio, 53 x 59 x 53 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 
 
Pouco tempo depois, outros artistas passaram a participar do grupo, entre 
eles, Hélio Oiticica, Abraham Palatnik e Franz Weissmann. 
 O trabalho de Hélio Oiticica (1937 – 1980) tem a marca de um momento 
particular na cultura brasileira. No percurso de amadurecimento da poética 
neoconcreta, interessa-se pelo caminho da espacialização da cor. Aos poucos, o 
trabalho de Oiticica vai se efetivando a integração obra/espaço/espectador, que 
leva enfim, à superação da tradicional relação sujeito / objeto. É aí que surgem as 
diretrizes básicas para as futuras experimentações de sua produção, que veremos 
nos anos 60. 
 
 
Helio Oiticica, Metaesquema, 1957. 
Guache sobre cartão, 56 x 68 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 
 Abraham Palatnik (1928) foi um dos pioneiros, ao aliar arte e tecnologia. 
Desde a sua participação na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, ele inovou 
com a criação de seu “aparelho cinecromático”, uma máquina de pintura, um 
aparelho lúdico de luz e cor. De lá para cá, Palatnik seguiu um caminho original, 
realizando, não apenas seus aparelhos cinéticos, mas também pinturas e relevos, 
nos quais formas e cores criam impressionantes vibrações. O artista é conhecido 
internacionalmente entre um dos principais artistas da Arte Cinética, ao lado do 
argentino Julio Le Parc. 
 
 
Abraham Palatnik, Aparelho Cinecromático, 
1958. Objeto cinético, 112 x 74 x 20 cm. 
MAC - USP, São Paulo. 
 
 Já a arte informal está ligada à estética não-figurativa e não-geométrica. 
Esse abstracionismo manifestou-se no Brasil, sobretudo, nos trabalhos de alguns 
artistas japoneses que se radicaram no país entre as décadas de 30 e 60. Os mais 
conhecidos deste grupo são Manabu Mabe e Tomie Ohtake, mas há ainda Flávio-
Shiró e Takashi Fukushima. Também sob a influência da Action Painting norte-
americana e do Tachisme francês, eles se interessavam pela exploração da 
superfície pictórica, pelas cores, texturas e formas gestuais. 
Muitos outros pintores ligaram-se ao Informalismo. Dentre os nascidos no 
Brasil, podemos mencionar Iberê Camargo. Já entre os artistas que vieram do 
exterior e aqui se radicaram estão, Yolanda Mohalyi, Danilo Di Prete e Frans 
Krajcberg. 
Apesar de Tomie Ohtake (1913) ser uma artista brasileira, a influência da 
arte oriental é evidente em seu trabalho. Podemos observar em suas pinturas, 
uma economia de meios e na incessante busca pela síntese. Trabalhando com a 
paleta reduzida, ou seja, empregando duas ou três cores, a arte de Tomie é uma 
tentativa de conseguir o máximo de expressão com o mínimo de recursos. 
 
 
Tomie Ohtake, Pintura, 1969. 
Óleo sobre tela, 135 x 135 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo 
 
 
 Iberê Camargo (1914 0 1984), artista do Rio Grande do Sul, foi pintor, 
gravador, desenhista, escritor e professor. Sua obra pode ser considerada herdeira 
do expressionismo e transita entre o figurativo e o abstrato. Suas pinturas, em 
especial, são construídas com espessas camadas de tinta, compostas de 
pinceladas gestuais e precisas. 
 
 
Iberê Camargo, Estrutura, 1961. 
Óleo sobre tela, 90 x 128 cm. 
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de 
Janeiro. 
 
 Franz Weissmann (1911– 2005), escultor nascido na Austria, Weissmann traz 
à corrente neoconcreta leveza e lirismo. Sua obra é caracterizada por períodos, 
onde o rigor minimalista predomina, ou seja, as formas geométricas ficam mais 
rígidas e serializadas, com períodos nos quais a cor reforça o geométrico livre e 
expansivo de seu trabalho. 
 
 
Franz Weissmann, Torre, 1958. 
Ferro, 140 x 55 x 55 cm. 
Museu nacional de Belas Artes, Rio de 
Janeiro. 
 
 
Artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica se destacam nos seguintes anos 
60, ao substituir a preocupação com os limites da arte neoconcreta pelas questões 
da arte e do corpo como algo vivo, integrado às experiências dos sentidos. 
A procura de um deslocamento formal que superasse o contraste 
entre figura e fundo levou Helio Oiticica e Lygia Clark a trazer 
seus trabalhos para o espaço, colocando-os numa situação de 
maior liberdade em relação aos limites impostos pelo plano 
pictórico. 
(NAVES, 2001, p. 243) 
 
 
 
INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO 
 
Aluno, agora é com você! Procure saber mais sobre o trabalho fotográfico 
de Geraldo de Barros, desse período dos anos 50. 
 
 
 
 
Geraldo de Barros, 
Fotoforma, 1949. 
Matriz-negativo. 
Geraldo de Barros, 
Fotoformas, 1950. 
Montagem fotográfica. 
40 x 30. 
MAM, Rio de Janeiro. 
Geraldo de Barros, sem 
título, 1951. 
Matriz-negativo. 
Coleção do artista. 
 
 Perceba as preocupações compositivas nas imagens acima. Para você 
ampliar suas referências lembre-se de que os artistas concretos brasileiros 
também possuiam influências dos construtivistas russos. Ao observarmos imagens 
do artista e fotógrafo russo, Alexander Rodchenko (1891–1956), percebemos essas 
preocupações formais, com pontos de vista de cima para baixo, de baixo para 
cima ou em diagonal. 
 Agora produza uma fotografia pensando nas mesmas questões 
compositivas e estéticas dos artistas desse período. Lembre-se, uma fotografia 
será sempre uma cópia de algo real, mas desse algo real você poderá fazer 
aparecer algo abstrato a partir de sua escolha de composição. 
 
 
SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 
 
- Um acontecimento que mudou e muito a vida em nosso país foi a crição da 
nova capital, Brasilia, inaugurada em 1960. Reflexo de todas as mudanças 
ocorridas, nos anos 50, é considerada a tradução mais completa do pensamento 
moderno desse período. Movido pela necessidade de construir um novo Brasil, o 
projeto foi realizado pelo então presidente Juscelino Kubitschek (1902 - 1976), a 
partir de 1956, no tempo recorde de menos de cinco anos. O presidente convidou 
o arquiteto Oscar Niemeyer (1907) para planejar os prédios governamentais e 
dirigir o Departamento de Arquitetura da Companhia Urbanizadora da Nova 
Capital. Niemeyer sugere abrir um concurso nacional para elaboração do plano 
piloto da cidade. Em março de 1957 é declarado vencedor do concurso o projeto 
do arquiteto e urbanista Lucio Costa (1902 - 1998). Surge então a parceria entre 
Niemeyer e Costa na construção de uma cidade planejada, que é reconhecida 
mundialmente pelo seu projeto inovador. 
 Procure mais informações sobre o concurso e a construção da cidade de 
Brasília e seu projeto piloto. Busque quais foram os ideais estéticos aplicados 
pelos seu dois arquitetos / urbanistas, e pesquise também sobre a interessante 
parceria de Niemeyer com o pintor, escultor e arquiteto Athos Bulcão (1918 – 
2008), que realizava murais em suas obras arquitetonicas, numa colaboração 
essencial que integra arte e arquitetura. Isso pode ser comprovado no Teatro 
Nacional de Brasilia, no Palácio de Itamaraty, no Memorial JK, entre outros. 
 
- Assista ao documentário “Oscar Niemeyer - A vida é um sopro” de 2007, com 
direção de Fabiano Maciel, o filme mostra como Niemeyer revolucionou a 
Arquitetura Moderna com a introdução da linha curva e a exploração de novas 
possibilidades de uso do concreto armado, além de seus pensamentos sobre a 
vida e o ideal de uma sociedade mais justa. 
 
- A Poesia Concreta é outro expoente artístico desse período que vale a pena uma 
pesquisa. Procure pelo principal texto da poesia concreta, publicado em 1958, 
Plano Piloto para Poesia Concreta, assinado pelos poetas Augusto de Campos 
(1931), Haroldo de Campos (1929 - 2003) e Décio Pignatari (1927), em citação 
direta e assumida à construção de Brasília. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 3 - ANOS 60: A NOVA FIGURAÇÃO E A ARTE CONCEITUAL 
 
 
“Hoje aceitamos sem discussão que,em arte, nada pode ser entendido sem discutir 
e, muito menos, sem pensar.” 
Theodor Adorno, filósofo em 1961. 
 
“Arte é o exercício experimental da liberdade” 
Mario Pedrosa, critico brasileiro, anos 1960. 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Estudar sobre o momento dos anos 60 no Brasil, com a influência da 
Arte Pop nasce a Nova Figuração brasileira e com a Arte Conceitual, 
as diversas experimentações do período. 
 
Os anos 1960 foram embalados por ventos de mudança. Neles brotaram os 
primeiros grandes movimentos libertários, depois dos quais o mundo nunca mais 
seria o mesmo. Nesses anos surgiram o amor livre e a emancipação da mulher, o 
black power e o orgulho gay, a minissaia e a pípula anticoncepcional. Foi a década, 
na qual o homem pisou na lua e o pacifismo tentou responder à estupidez das 
mortes da guerra do Vietnã. 
No Brasil, a democracia se revelaria frágil e não sobreviveria ao golpe 
militar de 1964, inaugurando um período de crescente repressão das liberdades, 
que atravessaria as duas décadas seguintes. Longe de se render, o país resistiu, 
menos pelas armas dos grupos guerrilheiros do que pela força criadora de seus 
artistas, em particular os músicos, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto 
Gil. 
Nas artes visuais, a crítica à política também era vigorosa nas telas, 
esculturas e instalações, que passam a surgir na experimentação dos artistas 
brasileiros nesse período. O trabalho artístico visa romper definitivamente as 
fronteiras entre arte e vida cotidiana. 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Os anos 60 foram uma época de intensas mudanças no cenário das artes 
visuais, decorrentes das insatisfações dos artistas com o que tinha acontecido até 
então. Um dos principais questionamentos do período foi justamente “o que é 
arte?”. Os artistas conceituais foram os que mais deram respostas a essa questão, 
respondendo que arte era a ação do artista, era aquilo que o artista tinha a 
intenção de apresentar como arte. Por exemplo, o artista italiano Piero Manzoni 
(1933 – 1963), chegou ao limite em 1961, ao enlatar suas fezes e vender o produto 
como arte pelo preço de seu peso em ouro. 
Com isso, a mistura de linguagens se tornou regra, assim como a quebra 
de hierarquias entre alta cultura e cultura de massas. A utilização de imagens do 
mundo pop não significou necessariamente a facilitação da experiência artística, 
mas a busca de novos horizontes de experimentação e a tentativa de dinamizar o 
circuito da arte. 
Com o chamado novo realismo, nova objetividade ou nova figuração, a arte 
brasileira segue as tendências internacionais da Arte pop e da arte conceitual. No 
ano de 1965, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou a exposiçao 
Opinião 65, que revelou a Nova Figuração, influenciada pela Arte Pop americana, 
com artistas como Antonio Dias, Carlos Vergara e Rubens Gershman. Helio 
Oiticica foi destaque, ao contestar o formalismo dos concretos com a chamada 
“antiarte” – menos contemplativa e mais participativa. Incorporam esse conceito 
os Parangolés, estandartes e capas que o público podia manusear e vestir. 
Oiticica, hoje amplamente reconhecido como um precursor da chamada 
arte internacional, realiza, a partir dos anos 60, experimentos e vai se aproximando 
do que ele mesmo denomina de Arte Ambiental, ligada ao lugar e as experiências 
sensoriais, corpóreas. Segundo o crítico Mario Pedrosa, no artigo publicado no 
jornal Correio da Manhã, em 1966, intitulado “Arte ambiental, arte pós-moderna, 
Hélio Oiticica”, 
“Foi durante a iniciação do samba, que o artista passou da 
experiência visual, em sua pureza, para uma experiência de tato, 
do movimento, da fruição sensual dos materiais, em que o corpo 
inteiro, antes presumido na aristocracia distante do visual, entra 
como fonte total de sensorialidade”. (FIGUEIREDO, 2008, p. 58). 
 
 
 
Hélio Oiticica, Nildo da Mangueira veste P15 
Parangolé Capa 11 “Incorporo a Revolta”, 
Morro da Mangueira, 1967. 
 
Dentre os artistas da Nova Figuração está Antonio Dias (1944) e sua obra 
com forte entonação política. Seu trabalho é uma mistura de pintura com objetos 
que o artista aplica sobre a superfície da tela, o que podemos chamar de 
assemblagens, que são a apropriação e a acumulação de qualquer tipo de 
material incorporado à obra de arte, muito usual pelos artistas desse período, 
influenciados pelo conceito de ready-made de Marcel Duchamp e o dadaísmo da 
obra “Merz” (1919) de Kurt Schwitters (1887-1948). Contemporâneos à Dias, os 
artistas americanos como Robert Rauschenberg (1925 – 2008) e Jasper Johns 
(1930) nos anos 60 desenvolveram também trabalhos com assemblagens, que 
chamaram de combine paintings. 
 
 
Antonio Dias, Um pouco de prata para você, 
1965 
Tinta acrílica e industrial, plástico, tachas 
metálicas e tecido acolchoado sobre madeira 
e durates, 124 x 122 x 7 cm 
Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, Rio de 
Janeiro. 
 
Duas exposições, realizadas no ano de 1967, trazem ao público brasileiro 
maior contato com a pop art: a exposição Nova Objetividade Brasileira organizada 
por Frederico Morais, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com artistas 
nacionais e a 9ª Bienal de São Paulo, com a participação de importantes artistas 
estrangeiros, segundo Mario Pedrosa, metade da mostra era composta por 
artistas norte americanos. (PEDROSA, 2000, p. 269.) 
Antonio Manuel (1947), nascido em Portugal, o artista chega ao Brasil em 
1953 e é na década de 60 que seu trabalho surge, ao utilizar o jornal e sua matriz 
como suporte (o chamado Flan). Sempre com abordagem política em suas 
notícias inventadas, também trabalha com outros meios além do suporte 
bidimensional, como instalações, vídeos e performances. 
Em 1970, Antonio Manuel realizará uma performance denominada “O 
corpo é a obra”, que a princípio foi recusada pelo júri do Salão de Arte Moderna 
do MAM do Rio de Janeiro, mas, mesmo assim, o artista, na noite de abertura da 
mostra, exibe seu próprio corpo nu ao público. A ideia principal proposta por 
Manuel é criticar os critérios de seleção e julgamento da obra de arte. A partir 
desse acontecimento, o interesse principal da experimentação de Antonio Manuel 
passa a ser o estudo do corpo e seus sentidos. 
 
 
Antonio Manuel, Flan, 1968. 
55 x 37 cm. 
Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, 
Rio de Janeiro. 
 
Rubens Gerchman (1942 – 2008) surge nos anos 60 com uma apropriação 
de imagens cotidianas, realizando uma crônica visual da vida brasileira, unindo, 
muitas vezes, imagem e palavra. Em sua trajetória, vemos uma forte crítica política 
ao regime ditatorial vigente, uma dedicação ao grafismo de imagens tiradas dos 
meios de comunicação e inspiradas em fotonovelas e história em quadrinhos. 
 
 
Rubens Gerchman, Bela Lindonéia, 1961 
Litografia em cores, 80 x 80 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 
 
Rubens Gerchman, Os desaparecidos, 1968. 
Acrilica sobre tela, 120 x 102 cm. 
Coleção Jean Boghici. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
O termo arte conceitual é relativo a diversas formas de arte nas quais a 
ideia da obra é considerada mais importante que o produto acabado, que por 
vezes nem chega a ser realizado. Para entendermos melhor a arte conceitual 
precisamos voltar um pouco no tempo e estudar sobre o artista francês Marcel 
Duchamp (1887 – 1968), importante nome da arte mundial, que mudou o rumo da 
produção artística e influencia artistas até hoje. Os ready-mades, de Duchamp, 
remontam a ação de 1917, quando o artista manda para uma exposição de arte 
um mictório, assinado por R. Mutt, constestando tanto objeto artístico, quanto 
instituição de arte. 
Nelson Leirner (1932) é um dos artistas que tem a obra de Marcel Duchamp 
como forte influência. O trabalho de Leirner mistura provocação com ironia e 
irreverência, trazendo para o museu a impureza kitsch, misturando lixo e luxo, 
realidade e ficção. O espectador muitas vezes é surpreendidocom as obras de 
Leirner, sem saber se há crítica ou humor ali. Na verdade existe em seu trabalho a 
soma dessas duas características, é isso que marca a ambiguidade de seu estilo 
pop e singular. 
 
 
Nelson Leirner, O Porco, 1967. 
Engradado de madeira e porco empalhado, 83 x 159 x 62 
cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 Nelson Leirner, junto com Carlos Fajardo, Frederico Nasser, Geraldo de 
Barros, José Resende e Wesley Duke Lee fundam o Grupo Rex em 1966 em São 
Paulo. O grupo inaugura uma galeria chamada “Rex Gallery and Sons”, onde 
aconteciam suas exposições a medida que suas artes experimentais eram 
produzidas. Também publicaram um boletim denominado “Rex Time”, que contou 
com cinco números. A característica principal do grupo, além da arte figurativa, 
era o humor e a irreverência. 
 
 
Geraldo de Barros, They are playing (Pocker's Face), 
1964. 
Técnica mista sobre cartão duplex. 75 x 110 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 
 Wesley Duke Lee (1931–2010) foi um artista essencialmente figurativo. Seu 
estúdio era centro de encontro dos jovens artistas da época. Duke Lee inspirou as 
gerações com a mistura de materiais e técnicas. E foi o autor do que é 
considerado o primeiro Happening da arte brasileira, em 1963, na cidade de São 
Paulo, numa exposição sua em um local chamado João Sebastião Bar, o público 
era convidado a observar com a luz de lanternas as suas obras que estavam na 
penumbra. 
 
 
Wesley Duke Lee, O Guardião, As circunstâncias (Tríptico), 
1966. 
Técnica mista, 197 x 107 cm, 150 x 56 cm e 136 x 60 cm. 
Coleção Particular. 
 
 José Roberto Aguilar (1941) é outro artista que surge nesse período. 
Paulistano, possui um trabalho essencialmente urbano. A agitação da cidade 
grande era registrada em suas pinturas pela vibração das cores e as figuras um 
pouco disformes e indefinidas, como se estivessem em movimento. 
 
José Roberto Aguilar, Série do Futebol número 1, 
1966 
Tinta Spray sobre tela, 114 x 146,5 cm 
Acervo MAC – USP, São Paulo. 
 
INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO 
 
 Aluno, agora é com você! Com o material que tiver disponível na sua casa, 
como tinta, lápis, cola, tesoura, realize uma colagem, utilizando imagens de jornal 
e revista, que tenha uma conotação social e política como a dos artistas da 
década de 60, mas com a situação política e social atual, tanto nacional, como 
internacional. Outra possibilidade de realização desse trabalho poderá ser, se você 
preferir, utilizando programas de computador que editam imagens, criando assim 
uma colagem digital. 
 
SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 
 
- Apesar da ação de Wesley Duke Lee na ocasião de sua exposição “Ligas” em 
1963 no João Sebastião Bar em São Paulo, ser considerada o primeiro Happening 
do país, ou seja, um acontecimento no qual o público é convidado a participar da 
cena ou acontecimento proposto pelo artista. O artista Flávio de Carvalho (1899-
1973) realiza anos antes, em 1956, o que intitula de “Experiência número 3”, no 
qual o artista veste um traje que chama de “New Look: Verão ou Traje Tropical”, 
composto por uma saia e uma blusa com mangas soltas. Essa ação pode ser 
considerada a primeira performance provocativa realizada por Carvalho. O artista 
também se destaca por sua atuação no teatro e suas performances, que abrem 
caminho para os novos procedimentos artísticos que têm desenvolvimento, no 
Brasil, nas décadas de 1960 e 1970. 
 
Flávio de Carvalho, Experiência Número 3, 1956. 
Traje de verão masculino. 
Performance realizada na Rua Barão de Itapetininga, 
centro de São Paulo. 
 
- No cinema brasileiro, é dessa época o movimento chamado Cinema Novo, que 
sofreu influências diretas da Nouvelle Vague francesa de cineastas como François 
Truffaut, Alain Resnais e Jean-Luc Godard, e do Novo-realismo italiano com os 
autores Federico Fellini, Luchino Visconti, Roberto Rosselini, Vittorio De Sica, 
Michelangelo Antonioni e Pier Paolo Pasolini. Um dos principais representantes 
desse movimento cinematográfico brasileiro foi Glauber Rocha (1939 – 1981), com 
filmes como: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963) e “Terra em Transe” (1967). 
Os cineastas lutavam por um cinema mais realista, com mais conteúdo e menor 
custo. Os filmes de Glauber possuiam uma crítica social feroz e uma maneira de 
filmar que pretendia ir contra o estilo de filmar da industria americana de cinema. 
Sua frase “Uma ideia na cabeça, uma câmera na mão”, tornou-se lema do Cinema 
Novo. 
 
 
UNIDADE 4 - ANOS 70: OS DESDOBRAMENTOS CONCEITUAIS E OS 
MUITOS NOMES DA ARTE PÓS-MODERNA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Estudar sobre o momento dos anos 70 no Brasil, com a influência da 
Arte Conceitual dos anos 60 e as diversas experimentações do 
período. 
 
 Os anos 70 foram conturbados. Milhares de pessoas morriam na Guerra do 
Vietnã. Na América Latina, centenas de pessoas eram torturadas e desapareciam 
por causa das ditaduras desses países. 
 Em nosso país, a ditadura militar foi simônimo de censura, perseguição, 
torturas e mortes. Jornalistas, artistas, professores, intelectuais e estudantes ou 
eram presos ou precisavam se exilar. O caminho para a restauração da 
democracia se revelaria lento e tortuoso. A segunda metade da década de 70 é 
marcada pela reorganização de grupos civis, que ganham as ruas para reclamar 
liberdade. Apenas em 1979 que o governo militar cria a Lei da Anistia, que liberta 
os presos políticos, mas também absolve os crimes cometidos por militares em 
nome da ditadura. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Nos anos 70, os sentidos de pintura, escultura e desenho expandem-se. 
Happenings, mail-art, body-art, instalações, videoarte são estratégias utilizadas 
pelos artistas na realização de obras e termos cada vez mais comuns no mundo 
artístico. 
 A ideia continua prevalescendo sobre o objeto e uma postura crítica frente 
às instituições de arte, como museus e galerias de arte, que são questionados 
sobre sua hegemonia, levando os artistas a outros canais de circulação de seus 
trabalhos, como o correio, por exemplo, no caso da mail-art ou arte-postal. 
 A fotografia passa a ter lugar de destaque nesse período, além de 
expressão artística em sim mesma, é utilizada para documentar ações e 
performances. Assim como a fotografia, os outros meios de reprodução como 
fotocópias e as técnicas de serigrafia e offset são muito utilizadas. Tanto que é 
dessa época que se populariza o ensaio de Walter Benjamin, datado de 1936, “A 
obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”. A arte torna-se mais do 
que um objeto ritual a ser cultuado, um elemento de práxis política. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
 Muitos artistas que despontaram no cenário nacional e internacional, nos 
anos 70, são artistas em intensa e importante produção artísticas nos dias de hoje. 
Entre eles podemos citar Cildo Meireles, Regina Silveira e Artur Barrio. 
O começo da obra do carioca Cildo Meireles (1948) dá-se no auge da 
ditadura. Por isso, entre 1968 e 1975, ele assume uma postura anti-institucional. 
Podemos entender isso em “Inserções em Circuitos Ideológicos”, nas quais 
mensagens políticas eram colocadas nas garrafas de Coca-cola e em notas de 
dinheiro, que voltavam à circulação. Esses trabalhos, além da evidente atuatuação 
política, indicam sua vontade de buscar novos meios de circulação para a arte. 
Boa parte dos trabalhos do artista insiste na experiência sensorial do 
público com a obra de arte. Além da visão, o olfato, o tato, a audição e porque 
não, as ideias também nos conduzem no mundo, portanto cabe à arte estimular 
todos os sentidos. E é nesse estímulo que, muitas vezes, nasce o estranhamento, 
característica tão presente na arte contemporânea. 
Esse conflito de sensações e ideias é recorrente na obra de Meireles. E ao 
mesmo tempo a participação do público é requisitada e recusada. Esse elemento 
participativo ganha na obra do artista umacomplexidade interessante com suas 
instalações. 
 
 
 
Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos, 2 - projeto Coca-
cola, 1971. 
Inscrições em garrafas de vidro, como por exemplo, a receita de 
como fazer um “cocktail molotov”, 24,5 x 6,1 cada garrafa. 
Coleção do artista 
 
 
Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos, 2 - projeto cédula, 
1970. 
Inscrições em cédulas de dinheiro, que voltavam à circulação. 
Coleção do artista. 
 
 Julio Plaza (1938 – 2003), artista espanhol migrado para o Brasil, foi 
também escritor e professor da USP e da FAAP, ambas instituições de ensino de 
arte na cidade de São Paulo, junto com a então sua esposa, a artista Regina 
Silveira, com quem também realizou alguns trabalhos. Plaza é considerado artista 
multimídia por ter se aventurado por diversos meios e foi na produção conceitual 
na qual ele mais se destacou, utilizando fotografias, colagens, fotocópias, poesias, 
vídeos etc. 
 
 
Julio Plaza, In.for.ma.tion, 1972. 
Serigrafia sobre papel, 111,7 x 66 cm 
MAC USP, São Paulo. 
 
 
 
Julio Plaza & Regina Silveira, Técnica do Pincel, 
1974. 
Serigrafia sobre papel, 94,7 x 66,4 cm 
Acervo MAC – USP, São Paulo. 
 
 
 Regina Silveira (1939), gaúcha, é uma artista com formação acadêmica, 
primeiro em cursos de graduação, ainda em Porto Alegre no final da década de 
50 e início dos 60 e depois, a partir do final dos anos 70, realiza já em São Paulo, 
mestrado (1980) e doutorado (1984) na USP. 
 Silveira possui uma carreira expressiva como artista, conciliada durante 
muitos anos com o trabalho de professora, que iniciou na Universidade de Porto 
Rico, de 1969 até 1972, junto com o artista espanhol e então seu marido, Julio 
Plaza. É nesse período que, em viagens a Nova York, entra em contato com a arte 
conceitual, principalmente, a americana que conhece através de exposições, como 
a coletiva de arte conceitual Information que aconteceu no Museu de Arte 
Moderna de Nova York, o MoMA, em 1970. Essa mostra apresentou, entre outros, 
as obras de dois artistas brasileiros, Cildo Meireles (Inserções em Círculos 
Ideológicos: Projeto Coca-Cola) e Helio Oiticica (Babylonests). É por meio desses e 
outros artistas que Regina Silveira percebe a presença da obra de Marcel 
Duchamp, no meio artístico americano, com a pop art e a arte conceitual. 
A partir de 1973, quando retorna ao Brasil e se instala na cidade de São 
Paulo, Regina Silveira passa a ter, cada vez mais, uma representação dentro da 
produção nacional. 
 
 
Regina Silveira, Rebús para Duchamp (da série Jogos da Arte), 
1977. 
Offset, 50 x 70 cm 
Coleção da artista. 
 
 
Carlos Zílio (1944) iniciou sua obra, realizando objetos e esculturas, 
instalações de caráter conceitual, com uma vontade deliberada de enfrentamento 
político. A recusa por procedimentos tradicionais implicava o uso de objetos e 
meios que aproximavam a vida social ao campo da arte. O envolvimento político 
de Zílio foi tão intenso que foi preso político durante dois anos de 1970 – 1972 e 
foi para a França em exílio em 1976, onde realizou doutorado em artes. 
 
 
Carlos Zílio, Para um jovem de brilhante futuro, 
1973. 
Valise com pregos de aço e fotocópia sobre 
papel. 
Acervo MAC USP, São Paulo. 
 
 
 
Carlos Zílio, Identidade Ignorada, 1974. 
Fotografia p&b, 18 x 24 cm. 
Coleção do artista. 
Artur Barrio (1945), português radicado no Rio de Janeiro, é artista 
multimídia e desenhista. A partir de 1967, frequenta a Escola Nacional de Belas 
Artes do Rio de Janeiro. Nesse período, realiza os "cadernos livres", com registros 
e anotações que se afastam das linguagens tradicionais. Em 1969, começa a criar 
as “Situações” trabalhos de grande impacto, com experimentações realizadas com 
materiais orgânicos como lixo, papel higiênico, detritos humanos e carne putrefata 
(como as Trouxas Ensangüentadas), com os quais realiza intervenções no espaço 
urbano. No mesmo ano, escreve um manifesto no qual contesta as categorias 
tradicionais da arte e sua relação com o mercado, e a situação social e política na 
América Latina. Em 1970, na mostra Do Corpo à Terra, espalha as Trouxas 
Ensangüentadas em um rio em Belo Horizonte. Barrio documenta essas situações 
com o uso de fotografia, cadernos de artista e filmes Super-8. Cria também 
instalações e esculturas, nas quais emprega objetos do cotidiano. 
 
 
Artur Barrio, Livro de carne, 1978 - 79. 
Trabalho realizado com carne crua. 
Documentado em fotografia. 
Coleção do artista. 
 
 
 A tendência desse período de os artistas empregarem as teorias de 
apropriação e acumulação de objetos, com claro predomínio do agir sobre o 
fazer, que é extravasada para a terra e o território. A Land Art (arte do território) é 
uma manifestação que representa a dominação do homem e sua apropriação do 
mundo, da natureza. 
 Christo Javacheff (1935), artista nascido na Bulgária e naturalizado norte-
americano, a partir da década de 60, inicia seu trabalho com o que chama de 
empacotamento de objetos, primeiramente utilitários, e na década de 70 passa ao 
empacotamento de objetos monumentais. 
 
 
Christo, Valley Curtain, 1971 
Projeto para o empacotamento do 
vale de great Hogback em Rifle, 
Colorado, EUA. 
Colagem, 71 x 56 cm. 
Christo e Jeanne-Claude, Valley Curtain, 
Rifle, Colorado, EUA. 
Land Art realizada em 1971 – 72. 
Fotografia que documentou a Land Art. 
 
 
INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO 
 
Pelo link: http://maps.google.com.br/maps?q=spiral+jet,&hl=pt-
BR&ll=41.438399,-112.668164&spn=0.008172,0.013797&sll=41.439445,-
112.667799&sspn=0.008172,0.013797&num=10&filter=0&t=h&radius=0.43&z=16 
você poderá observar a obra realizada, em 1970, pelo norte-americano Robert 
Smithson (1938 – 1973), no Grande Lago Salgado em Utah, Estados Unidos. Até 
hoje, dependendo das condições de nível da água e salinidade do lago, é possível 
visualizar a obra. 
Pensando nos projetos realizados pelos artistas para a realização de Land 
Art, como Christo e Smithson, proponha uma obra de arte para uma área da 
natureza próxima à sua cidade. Lembre-se que hoje, através de ferramentas como 
o Google Earth na internet, você tem imagens via-satélite de todo o planeta. Você 
poderá ser bem ouzado na sua ideia já que a proposta aqui é a realização de um 
projeto, e não a execução do trabalho. 
 
SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 
 
- Para mais informações sobre a obra de Christo Javacheff visite o site do artista 
em conjunto com sua esposa e parceira em seus projetos Jeanne Claude Javacheff 
(1935 – 2009), em http://www.christojeanneclaude.net/ . 
 
- Para saber mais sobre a produção da artista contemporânea Regina Silveira, 
acesse o site da artista: http://reginasilveira.uol.com.br/ . Lá você conhece os 
trabalhos em instalação da artista plástica e os site specific art desenvolvidos por 
ela atualmente. 
No link: 
http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2844&id=001431&titulo=Regi
na%20Silveira&auto=undefined você pode ver um vídeo na qual Regina Silveira 
fala de seu processo artístico. 
 
- O processo de trabalho do artista Artur Barrio pode ser acompanhado pelo seu 
blog: http://arturbarrio-trabalhos.blogspot.com/ . São vídeos e fotos de suas 
obras documentadas e seus cadernos de projetos. 
 
UNIDADE 5 - ANOS 80: A VOLTA À PINTURA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Estudar sobre o momento dos anos 80 no Brasil, com a volta da pintura 
e alguns dos artistas do período. 
 A década de 80 foi um tempo de expansão, a Guerra Fria perdeu força com 
o fim de muitas ditaduras do Leste Europeu e da América Latina, a queda do 
muro de Berlim em 1989 e, consequentemente, dois anos depois, o desmanchar 
da União Soviética. No Brasil, celebramos a volta da democracia, as eleições 
diretas para governadores, prefeitos e presidente da república. O cinema, o teatro 
e a literatura comemoraram o fim da censura e uma nova geração de artistas 
devolveu à pinturaum lugar de honra na arte contemporânea brasileira. 
 Desde o final dos anos 70, os meios de comunicação de massa, como a 
televisão, as revistas, os jornais e o cinema, divulgam uma profusão de imagens 
das mais diversas épocas. Esse fato fez com que os artistas ampliassem suas 
referências, que só aumentaram com o passar dos anos e o surgimento das novas 
mídias. A apropriação, que antes, nos anos 60 e 70, era feita com o próprio 
objeto, nos anos 80 é feita da imagem, a partir do repertório da história da arte e 
da indústria cultural. Com isso, nos anos 80, os artistas voltaram a produzir 
pintura, das mais diferentes maneiras, o que agitou o ambiente artístico 
internacional, fazendo a pintura se consolidar e atrair a atenção da crítica, das 
instituições e do mercardo de arte. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 É com a redemocratização e a volta da liberdade de expressão que os 
artistas nacionais não se sentem mais obrigados a realizar crítica social e política 
em seus trabalhos, como acontecia na arte mais cerebral dos artistas conceituais 
dos anos 60 e 70. Portanto, os artistas voltam a fazer experimentações, no plano 
pictórico, das mais diferentes maneiras, explorando essa linguagem artística, com 
diferentes temas e repertórios, com novas formas de subjetividade e 
comunicação, não como uma simples volta da tradição, mas como a construção 
de novos significados para a pintura. 
 Em 1984, é realizada a exposição "Como vai você, Geração 80?", que 
aconteceu na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Lá foram 
reunidos mais de 120 artistas brasileiros, de formações distintas e de vários cantos 
do país, em sua maioria jovens, muitos expondo pela primeira vez. 
 
O revival da pintura naqueles anos foi, de imediato, interpretado 
como o retorno ao modo direto e sensual do brasileiro se 
relacionar com as linguagens plásticas, como uma reação ao 
cerebralismo e ao excesso de metáforas da arte produzida pelas 
gerações anteriores. 
 (MESQUITA, 1998, p. 11) 
 
A Geração 80, enquanto grupo de artístas, não possuia um projeto, ou a 
vontade de determinar um modelo único, era a reunião de um conjunto de 
tendências que se manifestaram naquele determinado momento, e artistas que, 
de ponto comum, tinham a pintura. 
Dentre os artistas que participaram dessa mostra e que ainda hoje tem 
importância no meio artístico nacional, podemos destacar: Ana Maria Tavares, 
Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Jorge Guinle, Leda Catunda, Leonilson, Mônica 
Nador, Sérgio Romagnolo e Nelson Felix são alguns dos participantes. 
Além da utilização da pintura, outras características estão presentes na 
produção desses artistas, como: as grandes dimensões dos trabalhos, muitas 
vezes livres dos chassis; objetos diferentes como suporte para a pintura; o 
destaque para o gesto pictórico; a pincelada grossa; a explosão de cores; a 
pesquisa de novos materiais; grandes quantidades de tinta sobre a tela; o 
empasto e o acabamento bruto. Alguns artistas exploram mais o abstrato e outros 
a figuração. 
Outras duas mostras ajudaram a firmar essa geração de jovens artístas, 
foram elas: “Pintura como meio”, que aconteceu no MAC – USP em 1983 e a XVIII 
Bienal de São Paulo em 1985. Outro aspecto importante que fez consolidar esse 
grupo de artistas foram as grandes transformações do cenário artístico brasileiro 
no que diz respeito a profissionalização do circuito de arte e a redemocratização 
do país. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
A seguir, vamos conhecer um pouco mais sobre esses artístas que iniciaram 
sua produção nos anos 80 e que ainda hoje participam do cenário da arte 
contemporânea nacional e internacional. 
O trabalho de Daniel Senise (1955) está diretamente envolvido com o 
registro de lugares, paisagens, objetos e formas volumosas que ocupam todo a 
superfície pictórica de suas telas. Sua relação com a Geração 80 é bastante 
singular. O pensamento pictórico na obra de Senise é denso, trabalhando com 
fragmentos de imagens de corpos, paisagens, arquiteturas, suas pinturas possuem 
uma reflexão sobre o sentido da representação. 
 
 
Daniel Senise, Sem título, 1984. 
Acrílica sobre tela, 220 x 190 cm. 
Acervo MAC - USP, São Paulo. 
 
Anos depois, a apropriação da imagem, já existente na fase anterior, passa 
para uma elaboração mais cuidadosa da materialidade da superfície, com 
decalques de resíduos de materiais transferindo para a tela, dando uma 
autonomia referencial para a pintura, a imagem se mostra como impregnação de 
algo que não está mais presente, libertando-a apenas da função de 
comunicabilidade. As cores passam a ser mais variadas e intensas e as formas 
mais definidas e isoladas. 
 
 
Daniel Senise, Composição, 1987. 
Óleo sobre tela, 180 x 235 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 Na produção mais atual de Senise, podemos observar uma investigação da 
representação arquitetônica e da perspectiva, em uma poética do espaço 
desabitado e silencioso. 
As obras da carioca Beatriz Milhazes (1960) chamam atenção pelo apreço à 
ornamentação e elementos decorativos, que também podemos observar nas 
pinturas da paulista Mônica Nador (1955). 
 
 
Beatriz Milhazes, Te quiero, 1992. 
Acrílica sobre tela, 180 x 180 cm. 
Coleção particular. 
 
 
Mônica Nador, sem título, 1985. 
Acrílica sobre tela. 109 x 435 cm. 
MAC USP, São Paulo. 
 
José Leonilson (1957-1993) explorava a figuração, desde os desenhos de 
traço simples e pinturas da primeira fase de sua obra, uma combinação entre 
ingenuidade, ternura e humor, mas também a crítica social e o interesse pelo 
poder narrativo das imagens são marcas fortes de seu trabalho. A ideia de 
artesanato, por meio da costura e da tecelagem, dá aos fatos cotidianos uma 
visão, ao mesmo tempo poética e mordaz, como também biográfica e impessoal, 
fazendo da obra de Leonilson uma espécie de crônica visual do mundo 
contemporâneo, infelizmente interrompida pela morte do artista. 
 
 
Leonilson, São tantas as verdades, 1988. 
Acrílica, pedras semi preciosas bordadas e fio de cobre 
sobre lona, 213 x 106 cm. 
Coleção particular. 
 
 
Leonilson, Todos os rios, 1989. 
Acrílica sobre lona, 210 x 100 cm. 
Acervo MAM, São Paulo. 
 
 A crônica visual também se faz presente, de outro modo, nas telas de Leda 
Catunda (1961). Chama atenção a multiplicidade de materiais empregados como 
suporte para as suas pinturas - toalhas, couros, plásticos, peças de vestuário, 
pelúcia etc. Sendo 
... uma das artistas dessa geração que mais preserva o 
procedimento dos artistas conceituais, elabora sua produção a 
partir de uma visão crítica dos códigos tradicionais da visualidade. 
Privilegiando materiais e imagens tanto da cultura ”alta” quanto 
da “baixa”, Leda realiza uma das trajetórias mais criativas entre os 
artistas de sua época. 
CHIARELLI, 2002, p.109. 
 
 
Leda Catunda, Onça pintada número 1, 1984. Acrílica sobre 
cobertor, 192,5 x 157,5 cm. 
Coleção MAC - USP, São Paulo. 
 
 
Leda Catunda, Sozinha no quarto, 1986 
Acrílica sobre tecido de guarda-chuva. 
Coleção particular. 
 
 
Sérgio Romagnolo (1957), primeiramente, transita entre a pintura e a 
escultura para depois se fixar nessa segunda. O artista dá preferência aos 
materiais industrializados para compor suas esculturas, principalmente, o plástico, 
que tem referência na história da arte, desde a tradição barroca e a arte pop. 
 
Sérgio Romagnolo, sem título, 1986. 
Plástico moldado e colorido. 60 x 60 
cm. 
Coleção particular. 
 
 
Sérgio Romagnolo, sem título, 1986. 
Fibra de vidro, 180 cm. 
Galeria Luisa Strina, São Paulo. 
A mineira Ana Maria Tavares (1958), dentro dessa geração de artistas, está 
exclusivamente no campo tridimensional. Ela cria objetos e peças que são uma 
junção entre escultura e design, pois são, primeiramente, escultura no sentido 
tradicional, mas possuem a aparencia de um objeto utilitário. 
 
 
Ana Maria Tavares, sem título, 1988.Aço carbono e alumínio. 165 x 146 x 40 cm. 
Coleção particular. 
 
 
Nuno Ramos (1960) começa a trabalhar com tintas expessas, como o 
esmalte sintérico, em sua pintura, deixando à mostra um forte gestual, mesmo nas 
imagens figurativas. Com o tempo, foi explorando, cada vez mais, a superfície da 
pintura, criando volumes com materiais como parafina, madeira, tecido, metais, 
juntando esses objetos e formando uma massa grossa, colorida, criando relevos 
abstratos de grandes dimensões. 
A partir dos anos 90, Nuno Ramos passa a explorar também as instalações, 
sempre reunindo materiais de naturezas distintas. 
 
 
Nuno Ramos, sem título, 1988. 
Vaselina, parafina, tecidos e outros materiais sobre madeira, 250 x 220 cm. 
Acervo MAC - USP, São Paulo. 
 
 
 
Nuno Ramos, sem título, 1989. 
Materiais diversos em tela metalica sobre madeira, 260 x 402 x 40 cm. 
Acervo Pinacoteca, São Paulo. 
 
INTERAGINDO COM O CONHECIMENTO 
 
 A obra de Jorge Guinle (1947–1987) é ao mesmo tempo breve, concentrada 
e definitiva. O artista viveu o ofício de pintor. Sua produção é exclusivamente em 
pintura e na década de 80, foi importante incentivador da revalorização da 
pintura, participando da exposição “Como vai você, Geração 80?”. Sua pintura é 
forte, seu gesto violento que ataca a tela com cores pulsantes, construindo 
grandes pinturas com muita espontaneidade. 
 
 
Jorge Guinle, Dez anos de solidão, 1983. 
Óleo sobre tela, 160 x 180 cm. 
Coleção João Sattamini. 
 
 
Jorge Guinle, Il Grido Giallo, 1986 
Acrilica e colagem sobre tela, 200, 9 x 300,5 cm. 
Centro cultural Candido Mendes, Rio de Janeiro. 
 
 
 
Jorge Guinle, Subida ao céu, 1986. 
Óleo sobre tela, 190 x 190,5 cm. 
Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM, Rio de 
Janeiro. 
 
A partir da apreciação dessa e outras obras de Guinle e de outros artistas 
desse período, responda às seguintes questões: 
 
Como você vê o que você vê? 
 
Beleza é fundamental? 
 
O artista pode nos ajudar a ver o mundo de outra forma? 
 
Uma obra de arte pode criar outras realidades? 
 
A arte pode nos ajudar a sobreviver neste mundo? 
 
Antigamente a arte era mais bonita? 
 
SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO 
 
- A produção cinematográfica dos anos 80 passa por uma grande transformação, 
no que diz respeito a indústria do cinema norte-americano, com a era dos 
chamados Blockbusters, termo usado para designar os filmes que se tornaram 
grandes sucessos no faturamento de bilheteria, com o público formando enormes 
filas para assiti-los. São desse período as trilogias dos filmes, “Guerra nas Estrelas”, 
“Indiana Jones” e “De Volta para o futuro”. 
 No Brasil, o cineasta Arnaldo Jabor lança “Eu sei que vou te amar”, com 
Fernanda Torres, que foi premiada como melhor atriz no Festival de Cannes de 
1986, por seu papel nesse filme. Mas nas bilheterias, entre os filmes nacionais, 
grande sucesso tinham apenas os filmes dos Trapalhões e da Xuxa. 
No fim da década, o cinema espanhol ganha um de seus mais geniais 
cineastas, Pedro Almodóvar, que estréia em 1988 seu sucesso “Mulheres à beira 
de um ataque de nervos”. Procure saber mais sobre os filmes desse diretor, que 
encanta sempre com diálogos inteligentes e temáticas pesadas, mas com um 
humor e visual únicos. 
 
- No site do artista carioca Daniel Senise, você pode acompanhar grande parte de 
sua produção, desde os anos 80 até os dias de hoje: 
http://www.danielsenise.com/daniel-senise/home/ 
 
- O artista alemão Anselm Kiefer (1945) é contemporâneo e grande influenciador 
dessa geração. Procure saber mais sobre esse artista. 
 
 
UNIDADE 6 - ANOS 90 E INÍCIO SÉCULO XXI: GLOBALIZAÇÃO E 
NOVOS MEIOS 
 
 “A arte é feita cada vez menos de obras e cada vez mais de eventos.” 
Yves Michaud, filósofo francês 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Estudar o período da década de 90 e da primeira década do século XXI. 
 O estudo desse período permite-nos perceber que o artista 
contemporâneo busca um sentido, um significado, uma mensagem, que 
compreende desde as preocupações formais dos modernistas até a relação com a 
realidade da vida e suas questões cotidianas, como a política, a economia, a 
cultura, a educação, a ecologia etc. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O período do final dos anos 80 e início dos anos 90 é de grandes 
transformações mundiais. Os sistemas de comunicações transformam o mundo 
em um lugar sem fronteiras, é desse período a expressão “aldeia global”. Em 1991 
é criada a internet, que rapidamente se transformou na mais poderosa ferramenta 
de comunicação do planeta, promovendo uma experiência virtual de ser e estar. 
A Guerra Fria e a União Soviética chegaram ao fim, mas outras questões 
passaram a abalar o mundo, como as guerras ocasionadas pelo domínio da 
produção de petróleo mundial, as ameaças e os atentados terroristas, a poluição, 
o desmatamento e outros desastres ambientais, a pobreza, a violência, o 
narcotráfico, entre outros. 
Nas Artes Visuais, os artistas contemporâneos buscam um sentido nas 
diferentes áreas do conhecimento, buscam questões tiradas do cotidiano, muitas 
vezes, refletindo sobre atitudes diretamente relacionadas com a realidade. E para 
isso usam os mais diferentes meios, desde a pintura, a escultura e a fotografia, até 
instalações, objetos, textos, som, internet e muitos outros. 
 
 A historiadora de arte norte americana, Rosalind Krauss, escreveu sobre 
como a escultura, a partir dos anos 60, teve sua definição ampliada, o que a 
historiadora chama de campo expandido da escultura. 
 Tunga (1952) é um artista com um repertório singular na arte 
contemporânea brasileira. Através dos diversos tipos de materiais nos mais 
diferentes meios, mas, sobretudo, trabalhando com objetos e instalações, Tunga 
criou um universo com forte imaginário e mitologia particular. É muito comum em 
sua produção a utilização de diferentes tipos de metais, como ferro, cobre e ouro. 
 
 
Tunga, True Rouge, 1997 
Instalação com redes, madeira, vidro soprado, pérolas de vidro, tinta vermelha, 
esponjas do mar, bolas de sinuca, escovas limpa-garrafa, feltro, bolas de cristal, 
1315 x 750 x 450 cm. 
Inhotim, Brumadinho, MG. 
 
 
Tunga, Deleite, 1999. 
Ferro e Couro, 495 x 520 x 310 cm. 
Inhotim, Brumadinho, MG. 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
 Aluno, apresento a você o conceito de Guerilla Art ou Arte de Guerrilha. 
Esse tipo de expressão artística, muito comum nos dias atuais, pode ser qualquer 
trabalho anônimo (incluindo, mas não limitado ao grafite, à performance e às 
intervenções) instalado, executado ou ligado a espaços públicos ou privados, 
com a finalidade distinta de que afetem o mundo de uma forma criativa 
ou instigante, provocativa. Por exemplo, uma ação que pode ser considerada arte 
de guerrilha, que ficou mundialmente conhecida é a Free Hugs Campaign criada 
por um australiano em 2004 conhecido por Juan Mann. O vídeo dele em ação, 
feito em 2006, já foi visto mais de 60 milhões de vezes no Youtube. Veja aqui: 
http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4 
 Outra ação recente que podemos considerar também dentro do conceito 
de Arte de Guerrilha é o chamado Flash Mob (também chamado de “Spontaneous 
gatherings”, algo como "encontros espontâneos") - um grupo organizado 
de pessoas que se reúnem em um local público com a finalidade de participar de 
uma atividade em grupo por um curto período de tempo e então dispersar. Estas 
reuniões são planejadas e organizadas usando a internet ou redes sociais de 
comunicação digital. Um exemplo de flash mob são as lutas de travesseiro em 
grande escala que aconteceram em San Francisco, Londres e Toronto, a partir de 
2006. 
 O projeto realizado na internet Learning To Love You More 
aconteceu de 2002 a 2009, pode ser considerado um trabalho artístico online. Ele 
contava com a participação de qualquer pessoa que estivesse online e realizasse 
uma ou várias das séries de propostas e atribuições do projeto.

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