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História e Cultura Brasileira
UNICESUMAR
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essas escravas que alimenta- vam os filhos pequenos do Senhor de Engenho. Eram elas que desempenhavam a função de babás, que preparavam o alimento, que mistu- ravam no prato, que esfriavam para não queimar a boca da criança, enfim, são muitas as relações desenvolvidas por essas mulheres escravas que tanto foram e ainda são importantes para nossa cultura. Para o propósito deste livro, precisamos entender a influência do elemento africa- no à mesa do brasileiro. Para tanto, precisa- mos compreender que o escravo, como servo doméstico, consiste no principal fator dessa análise. Entretanto, não podemos também cair no senso comum de acharmos que o trabalho dos negros africanos necessitava de pouco do- mínio técnico ou intelectual e, dessa forma, seria inferior. A importância desse grupo étnico ultrapassa, e muito, essa percepção. O Brasil não se limitou a recolher da África a lama de gente preta que lhe fe- cundou os canaviais e os cafezais; que lhe amaciou a terra seca; que lhe comple- tou a riqueza das manchas de massapê. Vieram-lhe da África “donas de casa” para seus colonos sem mulher branca; técnico para as minas; artífices em ferro; negros entendidos na criação de gado e na indústria pastoril; comerciantes de panos e sabão; mestres, sacerdotes e ti- radores de reza maometanos (FREYRE, 2006, p. 391). A citação acima mostra que muitos negros que possuíam especialidades foram introduzidos no Brasil. E isso contribui, de forma significativa, na composição de nossa sociedade. O papel de- sempenhado pelos negros foi muito além do seu simples emprego nas atividades pesadas, como o plantio e a colheita. A relação entre senhores e os escravos do- mésticos no Brasil foi algo muito diferente do que se viu em outras regiões da América. Na verdade, era da Senzala que saíam aquelas pes- soas a quem seriam confiadas as tarefas mais importantes. Imagine: quando já fores um pro- fissional da área de gastronomia, respeitado e 33G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R responsável (ou, quiçá, dono) de um grande restaurante, você contrataria uma pessoa que lhe despertasse qualquer tipo de desconfiança? Você seria capaz de colocar dentro da cozinha de seu restaurante uma pessoa que pudesse colocar em risco a vida de seus clientes e funcionários? Claro que não! Por isso que reiteramos que a relação entre senhores e escravos domésticos não poderia ser diferente. A casa-grande fazia subir da senzala para o serviço mais íntimo e delicado dos se- nhores uma série de indivíduos – amas de criar, mucamas, irmãos de criação dos meninos brancos. Indivíduos cujo lugar na família ficava sendo não o de escra- vos, mas o de pessoas de casa. Espécie de parentes pobres nas famílias europeias. À mesa patriarcal das casas-grandes sen- tavam-se como se fossem da família nu- merosos mulatinhos. Crias. Malungos. Moleques de estimação. Alguns saíam de carro com os senhores, acompanhando- -os aos passeios como se fossem filhos (FREYRE, 2006, p. 435). Em suma, o que queremos deixar evidente é que nas relações sociais, o negro foi muito além do que apenas um mero executor de tarefas. Ele foi, acima de tudo, um ser responsável por dar contornos à nossa cultura. Juntamente com os outros elementos étnicos, formaram a base de nossa civilização e isso vamos sentir de forma mais intensa quando estudarmos mais especi- ficamente toda essa relação com a culinária, na última unidade deste livro. H i s t ó r i a e C u l t u r a B r a s i l e i r a E nfim, chegamos ao final de nossa pri- meira unidade. Precisamos deixar claro a você, aluno(a) do curso de Gastronomia da EaD-UNICESUMAR, que nosso obje- tivo nesta unidade foi pavimentar o caminho que percorreremos na busca de compreender melhor a dinâmica da sociedade brasileira, a partir dos três principais elementos que marcaram nossa vida colonial: europeu, índio e africano. Primeiramente, gostaríamos de deixar claro que não existem verdades absolutas quando o assunto é Ciências Humanas, dessa forma, cada afirmação que fora feita nesta unidade é suscetível de contestação. Embora essa seja uma questão metodológica que foge do nosso propósito, precisamos esclarecer para evitar que conclusões errôneas sejam tiradas. No que diz respeito à composição social do Brasil, o que temos de ter em mente foi a carac- terística de uma sociedade miscigenada. Muito mais do que fora vista em outras regiões ame- ricanas que houve, em linhas gerais, o mesmo tipo de exploração. Um dos fatores que mais pesou em favor dessa característica foi a pró- pria propensão dos portugueses a se relacionar. Ou seja, como ficou evidente, o português não possuía um orgulho racial assim como possuíam outras nações que empreenderam conquistas em solo americano. Já da parte da população nativa, esta exer- ceu um fascínio muito grande no colonizador português. A atração sexual que a mulher indí- gena despertou, somada aos fatores climáticos que favorecem o florescimento da volúpia, tor- naram os portugueses obcecados pela beleza humana natural. Além disso, a relação resultou em casamentos e que, pouco a pouco, os vários elementos culturais foram se disseminando e caracterizando uma nova cultura. Já da parte dos africanos, a importância destes vai muito além do que o trabalho forçado nas lavouras de cana-de-açúcar, na exploração aurífera, ou nas plantações de café. A importân- cia desse grupo étnico está, acima de tudo, na composição da vida íntima da sociedade colonial brasileira. Os escravos domésticos foram os que contribuíram de forma significativa para que isso fosse possível. Sendo assim, a partir de agora, vamos ob- servar como cada um desses elementos está todos os dias diante nós, nas mesas de nossas casas, nos restaurantes, nas vestimentas, bem como espalhada por esse país de dimensões continentais. co ns id er aç õe s fi na is 35G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R 1. Explique a razão pela qual o empreendimento colonizador português pode ser considerado, na visão de Freyre, uma obra de magnitude ímpar. 2. Descreva a importância que os escravos domésticos tiveram durante o Período Colonial. 3. Qual foi o fator que facilitou a interação étnica por parte dos portugueses? at iv id ad e de e st ud o H i s t ó r i a e C u l t u r a B r a s i l e i r a Sobre a população de Portugal, visite o site: <http://lusotopia.no.sapo.pt/indexPTPopulacao.html> Sobre o Brasil Holandês, acesse: <http://www.historiabrasileira.com/brasil-colonia/brasil-holandes/> Hoje, o debate acerca de terminologias como etnia, raça, cor etc. está muito em evidência. Entretanto, na década em que as principais obras citadas neste livro foram escritas, esses debates não estavam em pauta, dessa forma, esse assunto poderá ser melhor esclarecido no endereço: <http://www.scielo.br/pdf/dpjo/v15n3/15.pdf> Sobre o paleolítico, acesse: <http://www.suapesquisa.com/pesquisa/paleolitico.htm>. Sobre as Congadas da Lapa, no Estado do Paraná, acesse: <https://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/betolanza/betolan- zawork.htm>. m at er ia l c om pl em en ta r 37G A S T R O N O M I A • U N I C E S U M A R m at er ia l c om pl em en ta r A FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO Autor: Caio Prado Júnior Editora: Companhia das Letras Sinopse: Essa obra é um clássico sobre a formação do Brasil, feita pelo historiador paulista Caio Prado Júnior e lançada, originalmente, na década de 1940. O autor faz uma análise em que busca o sentido de nossa existência enquanto país. Sua obra faz uma abordagem da história sob a perspectiva do materialismo histórico de Marx. CASA GRANDE & SENZALA Autor: Gilberto Freyre Editora: Global Ano da Edição: 2006 Sinopse: Essa foi a principal obra de referência desta pri- meira unidade. O autor dá ênfase ao caráter miscigenado da sociedade brasileira,