Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PARECER 2 Elaborado por: Caroline Navarro Braga Disciplina: Compliance Turma: Compliance-0221-1_1 https://ls.cursos.fgv.br/d2l/home/306010 3 Cabeçalho Órgão solicitante: Conselho de Administração da Companhia Carnes para a Família Assunto: Inspeção da alimentação do rebanho 4 Ementa Parecer. Análise das funções do Auditor interno em comparação às funções do Compliance Officer. A independência do Auditor e do Compliance Officer. Postura ideal da Alta Gestão. Princípios do Compliance e da Governança Corporativa. 5 Relatório Trata-se de um parecer jurídico acerca do ocorrido na Carnes Para a Familia, Empresa líder do mercado de distribuição de carnes, envolvendo a descoberta do fornecimento de ração fora do prazo de validade para alimentação do rebanho. A descoberta foi realizada pelo auditor interno, José, que, ciente dos riscos que a ingestão de alimentos impróprios para consumo poderia gerar, impactando negativamente na qualidade da carne e do produto final que chegará aos consumidores, comunicou a alta gestão da companhia imediatamente. Para sua surpresa a escolha por estas rações foi feita de forma consciente pela Alta Gestão, sob a justificativa de que, por estarem próximas do vencimento no momento da aquisição, o fornecedor cobrou um preço menor do que o de costume. Em seguida, em que pese a prudência de José, a Alta Gestão determinou que este assunto não fosse mais discutido. Assim, objetivo deste parecer é analisar as obrigações de José enquanto auditor interno – fazendo um contraponto com a função do compliance officer -, bem como ponderar as obrigações da Companhia, além de comentar a atuação da Alta Gestão no caso, com base nos princípios do Compliance e da Governança Corporativa. 6 Fundamentação 1. Análise das obrigações de José como auditor e da empresa como empregadora A auditoria interna é uma atividade de inspeção e de consultoria que deve ser exercida de forma independente da Alta Gestão, visando acrescer valor e melhorar as operações de uma Companhia, otimizando os processos de gestão de risco, por meio de um método organizado, disciplinado, servindo sempre aos princípios éticos. No caso em Tela, o José, enquanto auditor interno, agiu corretamente em um primeiro momento, comunicando a Alta Gestão imediatamento acerca das rações impróprias para o consumo. Ele identificou uma situação inadequada a qual poderá afetar diretamente a qualidade da carne proveniente do rebanho que está sendo alimentado com esta ração, podendo, ainda, prejudicar a saúde dos consumidores. Esta situação oferece um risco muito grande à Empresa, que poderá ter a qualidade de seus produtos questionada, caso o pior cenário se concretize, o que certamente gerará uma crise de imagem, perdendo o valor de marca e do negócio. Em que pese a escolha da ração ter sido um ato consciente da Alta Gestão, para economizar nos insumos, José, na qualidade de auditor interno, não deve acatar de imediato a determinação da Gerência para não falar mais sobre o assunto. Ele deve expor com clareza à Alta Gestão os riscos aos quais a Companhia está exposta ao optar por continuar a usar esta ração para alimentar o rebanho, haja vista que o prejuízo a longo prazo poderá ser muito maior do que o gasto com uma ração de qualidade e dentro da validade. A essência das atividades de um auditor interno é a independência. Contudo, diferentemente de um auditor externo, trata-se de um funcionário da própria Companhia a qual se audita, estando subordinado à Administração/Alta Gestão. No caso em tela, caso a Alta Gestão continue irredutível quanto à troca das rações, a 7 independência de José estará prejudicada, tendo em vista que a opção pela ração foi feita pela Alta Gestão, órgão da administração ao qual José está subordinado. Ademais, a Companhia, enquanto empregadora, jamais deverá punir ou constranger José pelo exercício de sua função, por ter apontado um erro de gestão da Alta Administração. Assim, José, enquanto Auditor Interno tem uma função assessorial, não podendo exercer autoridade direta sobre qualquer membro da Companhia, e seu trabalho de modo algum isentará os demais membros das responsabilidades pelas más escolhas tomadas. 2. Análise da atuação da Alta Direção com base nos princípios do Compliance e também da governança corporativa Compliance é um termo utilizado para definir o estado de conformidade com normas, regulamentos e leis internas e externas de uma determinada Organização Pública ou Privada. Uma empresa está em compliance, portanto, quando atende a todas as exigências legais relativas às atividades que desenvolve. Para que um Companhia esteja em Compliance, é necessário não só estabelecer diretrizes para tal, mas também cumpri-las. Tais diretrizes são construídas com base nos princípios do Compliance: “1) Suporte dos membros da alta Administração: sem adesão dos gestores da empresa (tone of the top), é impossível implementar e seguir um plano de compliance; 8 2) Avaliação de risco: este é o primeiro passo do plano, quando são avaliadas as estruturas e práticas existentes para, então, verificar a necessidade de mudanças para reduzir riscos empresariais; 3) Código de ética e conduta: a criação de um código composto por valores internos é essencial para comunicar com clareza as condutas inadequadas e os princípios éticos que devem ser seguidos pelos membros da empresa; 4) Treinamento: o programa de compliance só é colocado em prática se os colaboradores estão bem treinados para segui-lo. É importante treinar os colaboradores de forma continuada, esclarecendo dúvidas e mantendo a comunicação aberta durante a implementação, de modo que só depois seja possível passar às punições; 5) Canais de denúncia: o compromisso da empresa com a ética empresarial deve ser cumprido com a avaliação de denúncias recebidas, que devem ser investigadas. O canal deve permitir a comunicação de irregularidades sem consequências para quem denuncia, garantindo o fácil acesso a todos os stakeholders; 6) Due dilligence: este é o processo de avaliar as relações da empresa com parceiros, fornecedores e outros agentes. A ideia é garantir que a empresa se relacione apenas com aqueles que também se comprometam com o rígido controle de compliance; 7) Monitoramento e controladoria: acompanhar o cumprimento de normas é um trabalho contínuo, que deve ser feito tanto de forma interna quanto por auditoria externa independente.”1 Analisando a postura da Alta Gestão, é possível identificar que a decisão tomada no caso em tela não está de acordo com os princípios do Compliance. 1 ADVOGADOS, Gleber, 2020. 9 Conforme explicitado acima, é de suma importância que a Alta Gestão siga à risca as normas de Compliance implementadas, servindo como o primeiro exemplo positivo dentro da Organização, influenciando positivamente os demais funcionários. A decisão da Alta Gestão de camuflar o ocorrido é um grave desrespeito à normas de Compliance, o que coloca em risco a atividade empresarial da Companhia, além de ser um mau exemplo aos demais e cultivar uma postura prejudicial. A Alta Gestão tentou coibir o funcionário a não denunciar ao Conselho de Administração, ao requerer que o assunto não fosse mais discutido, sabendo que é natural José, enquanto auditor interno e funcionário, temer a perda de seu emprego. Ademais, a Alta Gestão não seguiu os princípios da Governança Corporativa, faltando com transparência e Responsabilidade Corporativa com todos os envolvidos, desde os funcionários e acionistas atéos consumidores. Segundo o IBGC – Instituro Brasieliro de Governança Corporativa –, “os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas”2. Assim, para um bom funcionamento da Organização “Carnes para Família”, é necessário que a Alta Cúpula reveja seu método de gestão e esteja completamente imergida no plano de Compliance e na Boa Governança Corporativa, se fazendo necessária a punição dos responsáveis pelas más decisões, antes que a Companhia seja também responsabilizada objetivamente como um todo. Só assim é possível garantir uma gestão empresarial íntegra e sem práticas ilícitas. 2 CAMARGO, Renata apud Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBCG 10 3. Análise das semelhanças e diferenças entre as funções de Auditor e Compliance Officer Conforme já exposto no presente parecer, as atividades de um auditor, interno ou externo, consistem na inspeção da Companhia e na assessoria da Alta Gestão, devendo ser exercida de maneira independente, visando acrescer valor e melhorar as operações de uma Companhia, otimizando os processos de gestão de risco, por meio de um método organizado, disciplinado, servindo sempre aos princípios éticos. O Compliance Officer, por sua vez, tem como função precípua estabelecer e assegurar que os processos e normas internas da empresa sigam as normas técnicas, padrões e leis, também em conformidade com os princípios éticos. Sua atividade também deve ser exercida de forma independente, implementando controles internos na Organização, que objetivam a prevenção de atos ilícitos na rotina empresarial, em todos os setores, se tornando uma pessoa quase que onipresente na Companhia. Cumpre ressaltar que a função de Compliance Officer não deve ser acumulada com qualquer outra, determinação importante para que a imparcialidade da função seja preservada. Comparando as funções do Compliance Officer com a do Auditor, podemos observar que o primeiro efetua seus trabalhos de forma permanente e contínua, enquanto o segundo os realiza de forma temporal e pontual. Ambas as funções se complementam na rotina empresarial, em busca da conformidade ética e legal, haja vista que enquanto o Compliance Officer faz parte da estrutura de controle interno, a auditoria avalia e inspeciona o funcionamento desta estrutura. 11 Assim, pode-se concuir que até o Compliance Officer deverá ser objeto de inspeção da Auditoria. 4. Conclusão acerca do vínculo de José aos gestores da Organização e da independência dos Auditores e Compliance Officers. Conforme análise realizada no item 1 deste parecer, José é funcionário da Companhia pela qual ele é Auditor Interno responsável. Assim, é natural que, enquanto empregado, José seja subordinado ao seu Empregador. Contudo é necessário ter atenção aos limites desta subordinação, para que o exercício da atividade de José não seja contaminado pelo temor de ter o seu emprego comprometido. José tem a função de realizar inspeções nos setores da Organizão a fim de, sobretudo, mitigar riscos. Quando verificado algum acontecimento que possa ensejar riscos para a Companhia, é função dele orientar e assessorar os Gestores sobre o acontecimento. A alta Gestão em conformidade com as normas de Compliance, deverá imediatamente tomar as ações necessárias para corrigir o erro. Caso tais ações não sejam tomadas, propositalmente, os responsáveis juntamente com a Companhia serão punidos, mas José não, haja vista que o escopo de sua função se encerra na inspeção e assessoria. Assim, José não pode exercer autoridade direta sobre qualquer membro da Companhia, e seu trabalho de modo algum isentará os demais membros das responsabilidades pelas más escolhas tomadas. É importante frisar que tanto o Auditor quanto o Compliance Officer devem possuir independência no exercício de suas funções, para que a efetividade de seus respectivos trabalhos não seja prejudicada. 12 Conforme exposto no item 3 deste parecer, tais atividades se complementam de forma coordenada e colaborativa dentro de uma organização, então, é justo que ambas possuam o mesmo grau de independência. Contudo, o que poderá intererir no grau de independência e imparcialidade é o grau de subordinação natural da relação de Empregado - Empregador que ambos possuem com a Alta Gestão. 13 Considerações finais Após análise minuciosa acerca do ocorrido na Companhia Carnes para Família, conclui-se que o Auditor José agiu corretamente ao comunicar à Alta Gestão sobre os riscos aos quais a Companhia está sujeita ao decidir manter a alimentação do Rebanho com ração fora do prazo de validade. Contudo, o escopo de sua função se encerra no momento em que relata o ocorrido e orienta a Alta Gestão, não podendo ser responsabilizado pela decisão dos gestores em continuar com o uso do insumo. A partir da comunicação e orientação, cabe a Alta Gestão agir em conformidade com o Compliance e os princípios da Boa Governança Corporativa, para corrigir e mitigar os possíveis riscos à atividade empresária da Companhia. É sabido que implementar e seguir um programa corporativo de Compliance gera despesas um pouco elevadas à Companhia. Contudo, não deve ser encarado como uma despesa prescindível, mas sim como um meio efetivo de prevenir e conter possíveis danos futuros. Tais danos, a longo prazo, sem dúvidas impactarão negativamente não só as finanças, mas também a marca e a imagem da Organização no mercado, ocasionando prejuízos muito maiores do que o valor despendido na implementação e fiscalização de um programa de Compliance. 14 Referências bibliográficas ADVOGADOS. Gleber. “Princípios e Pilares do Compliance e da Boa Governança Corporativa”. 2020. Disponível em: https://grebler.com.br/conteudo/compliance-e- governanca- corporativa/#:~:text=suporte%20dos%20membros%20da%20alta,seguir%20um%20 plano%20de%20compliance%3B&text=canais%20de%20den%C3%BAncia%3A%20 o%20compromisso,recebidas%2C%20que%20devem%20ser%20investigadas. Acesso em: 01/03/2021. BLOK, Marcella. Compliance e governança corporativa: atualizado de acordo com a Lei Anticorrupção Brasileira (Lei 12.846) e o Decreto-Lei 8.421/2015. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. CAMARGO, Renata. “Entenda quais são os princípios da Governaça Corporativa”. 2019. Glicfàs. Disponível em: https://glicfas.com.br/principios-da-governanca- corporativa/#:~:text=O%20IBGC%20define%20como%20quatro,dos%20stakeholder s%20internos%20e%20externos. Acesso em: 01/03/2021. COELHO, Claudio; SANTOS, Milton. “Compliance”. Apostila Fundação Getúlio Vragas – FGV. Fevereiro/2021. FACHINI, Thiago. “O que é Compliance? Tema bastante comum no direito em âmbito corporativo”. Jusbrasil. 2015. Disponível em: https://tiagofachini.jusbrasil.com.br/artigos/173198731/o-que-e-compliance. Acesso em 01/03/2021. https://grebler.com.br/conteudo/compliance-e-governanca-corporativa/#:~:text=suporte%20dos%20membros%20da%20alta,seguir%20um%20plano%20de%20compliance%3B&text=canais%20de%20den%C3%BAncia%3A%20o%20compromisso,recebidas%2C%20que%20devem%20ser%20investigadas https://grebler.com.br/conteudo/compliance-e-governanca-corporativa/#:~:text=suporte%20dos%20membros%20da%20alta,seguir%20um%20plano%20de%20compliance%3B&text=canais%20de%20den%C3%BAncia%3A%20o%20compromisso,recebidas%2C%20que%20devem%20ser%20investigadas https://grebler.com.br/conteudo/compliance-e-governanca-corporativa/#:~:text=suporte%20dos%20membros%20da%20alta,seguir%20um%20plano%20de%20compliance%3B&text=canais%20de%20den%C3%BAncia%3A%20o%20compromisso,recebidas%2C%20que%20devem%20ser%20investigadashttps://grebler.com.br/conteudo/compliance-e-governanca-corporativa/#:~:text=suporte%20dos%20membros%20da%20alta,seguir%20um%20plano%20de%20compliance%3B&text=canais%20de%20den%C3%BAncia%3A%20o%20compromisso,recebidas%2C%20que%20devem%20ser%20investigadas https://grebler.com.br/conteudo/compliance-e-governanca-corporativa/#:~:text=suporte%20dos%20membros%20da%20alta,seguir%20um%20plano%20de%20compliance%3B&text=canais%20de%20den%C3%BAncia%3A%20o%20compromisso,recebidas%2C%20que%20devem%20ser%20investigadas https://glicfas.com.br/principios-da-governanca-corporativa/#:~:text=O%20IBGC%20define%20como%20quatro,dos%20stakeholders%20internos%20e%20externos https://glicfas.com.br/principios-da-governanca-corporativa/#:~:text=O%20IBGC%20define%20como%20quatro,dos%20stakeholders%20internos%20e%20externos https://glicfas.com.br/principios-da-governanca-corporativa/#:~:text=O%20IBGC%20define%20como%20quatro,dos%20stakeholders%20internos%20e%20externos https://tiagofachini.jusbrasil.com.br/artigos/173198731/o-que-e-compliance 15 LEQUES, Rossana. “É preciso diferenciar a área de compliance das demais estruturas da empresa”. Conjur. 2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mai- 11/rossana-leques-empresa-diferenciar-area- compliance#:~:text=A%20fun%C3%A7%C3%A3o%20de%20compliance%20tamb% C3%A9m,em%20risco%E2%80%9D%5B7%5D. Acesso em 01/03/2021. LIMA, Leandra; Lima Robernei. “A importância das auditorias internas nas Organizações”. 2008. Portal de Contabilidade. Disponível em: http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/auditoria-interna- organizacoes.htm. Acesso em 01/03/2021. . https://www.conjur.com.br/2019-mai-11/rossana-leques-empresa-diferenciar-area-compliance#:~:text=A%20fun%C3%A7%C3%A3o%20de%20compliance%20tamb%C3%A9m,em%20risco%E2%80%9D%5B7%5D https://www.conjur.com.br/2019-mai-11/rossana-leques-empresa-diferenciar-area-compliance#:~:text=A%20fun%C3%A7%C3%A3o%20de%20compliance%20tamb%C3%A9m,em%20risco%E2%80%9D%5B7%5D https://www.conjur.com.br/2019-mai-11/rossana-leques-empresa-diferenciar-area-compliance#:~:text=A%20fun%C3%A7%C3%A3o%20de%20compliance%20tamb%C3%A9m,em%20risco%E2%80%9D%5B7%5D https://www.conjur.com.br/2019-mai-11/rossana-leques-empresa-diferenciar-area-compliance#:~:text=A%20fun%C3%A7%C3%A3o%20de%20compliance%20tamb%C3%A9m,em%20risco%E2%80%9D%5B7%5D http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/auditoria-interna-organizacoes.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/auditoria-interna-organizacoes.htm
Compartilhar