Buscar

TRABALHO USS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ 
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA 
Graduação em Odontologia – Centro de Ciências da Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gabryellen Ranaij da Penha Muniz 
 
 
 
Disciplina de Universidade, Saúde e Sociedade – Professora Diana – Turma 45 
 Modelos Explicativos do Processo Saúde-Doença: Modelo Biomédico 
 
 
 
 
 
Fortaleza 
2021 
 
1 SITUAÇÃO/CONTEXTO 
 
CASO XIMENES LOPES VS. BRASIL (2006): 
O ASSASSINATO DE UM DEFICIENTE E O MODELO 
HOSPITALOCÊNTRICO 
Isadora Marques Merli 
Luiza Lima Rianelli 
 
 No dia primeiro de outubro de 2004, a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos (CIDH) submeteu à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) 
uma demanda contra a República Federativa do Brasil pela violação do direito à vida, 
integridade pessoal, garantias judiciais e proteção judicial. 
 A sentença de mérito, reparação e custos do dia 6 de julho de 2006, além de se 
configurar como a primeira condenação do Brasil pela Corte IDH, inova ao aferir 
critérios ao processo penal em um prazo razoável. 
 O caso era referente ao senhor Damião Ximenes Lopes, pessoa com deficiência 
mental, que havia sido exposto a condições desumanas e degradantes em sua 
hospitalização na Casa de Repouso Guararapes (CE) e, o seu posterior, assassinato 
nesse estabelecimento. 
 Durante sua juventude, Damião desenvolveu uma condição mental depressiva de 
origem orgânica, ou seja, adquirida através de alterações funcionais em seu cérebro. 
Assim, apresentando crises psiquiátricas constantes. 
 Sua primeira internação ocorreu em 1995 por um período de 2 meses, na mesma 
clínica que acarretaria sua morte 4 anos depois; ao regressar a sua casa, Damião já 
exibia sinais de violência física. Como justificativa, a clínica comunicou que ele havia 
tentado fugir. 
 Houve uma segunda internação nessa clínica – única com serviço público em Sobral 
(CE) – em 1998, por conta de uma crise que foi desencadeada em um acidente no carro 
que Damião estava, o que o fez perambular sem rumo e, quando encontrado por 
autoridades, foi levado para Guararapes. De volta para casa, seus parentes perceberam 
novas lesões em seu corpo. 
 Já em sua terceira e última internação, em 1999, o fato se deu após um período 
particularmente difícil em que Damião deixou de tomar seus remédios por conta de 
náuseas constantes, fazendo seu apetite e sono desaparecerem, causando extrema 
preocupação em sua mãe que não encontrou alternativas além de procurar os serviços da 
Casa de Repouso Guararapes novamente. 
 No início do mês de outubro, ao chegarem na clínica descobriram que não havia 
médico para a consulta, com medo de levar seu filho no meio de uma crise para casa, D. 
Albertina decidiu deixar o filho internado para esperar pelo exame médico, Damião ao 
ingressar não tinha um comportamento agressivo ou lesões físicas. 
 Mesmo assim, em 3 de outubro, Ximenes supostamente apresentou uma crise 
nervosa, por isso, teria sido contido fisicamente, amarrado com as mãos para trás do 
corpo. Dona Albertina, mãe de Damião, presenciou a situação degradante do 
filho “sangrando pelo nariz, com a cabeça toda inchada e com os olhos quase 
fechados, vindo a cair a meus pés, todo sujo e com cheiro de urina” e pediu sua ajuda 
logo antes de morrer. 
 No mesmo dia, o médico da Casa de Repouso prescreveu medicação à Damião e sem 
examiná-lo, abandonou o hospital, que acabou ficando sem cobertura médica. Duas 
horas depois, Damião faleceu. 
 Apesar das marcas claras de tortura, incluindo equimoses localizadas no olho 
esquerdo, ombro homolateral e punho, no hospital, a necropsia concluiu “morte 
natural”. A família não concordou com tal laudo e acredita em uma omissão, uma vez 
que além de Damião, outras pessoas foram espancadas na Casa de Repouso de 
Guararapes. 
 A irmã da vítima, Irene Ximenes Lopes, reportou diversas consequências que a 
morte de Damião trouxe à família, em destaque para a mãe, Dona Albertina, que 
padeceu em depressão e gastrite nervosa, dificilmente tratada pois desenvolveu fobia de 
hospitais. Além do irmão gêmeo de Damião, Cosme, que possui um quadro psiquiátrico 
bem semelhante ao do falecido, infelizmente, piorado após esta perda traumática. 
 Após o ocorrido, a família de Damião iniciou sua busca pela identificação da causa e 
dos responsáveis. Em primeiro momento, contataram a polícia civil local, mas 
infelizmente o médico que exercia os laudos policiais era o mesmo que havia 
examinado o corpo de Damião anteriormente. Por conta disso, seu corpo foi transferido 
para Fortaleza onde o resultado foi informado como “morte indeterminada”. 
 Visto aos acontecimentos, Irene acionou todas as entidades e organizações públicas 
de que teve acesso, referentes à defesa dos direitos humanos que receberam uma carta 
de Irene denunciando o caso e a Casa de Repouso de Guararapes. Por conta da 
mobilização familiar, sindicâncias e auditorias foram realizadas. Como resultado, a 
Assembleia Legislativa do Ceará interviu e descredenciou a clínica. Ademais, processos 
quanto à responsabilidade penal e administrativa foram instituídos, mas não obtiveram 
solução prática até a data da denúncia à CIDH. 
 Nesse contexto, a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas 
de Discriminação contra as Pessoas com Deficiência, internalizado no Brasil pelo 
Decreto 3.956 em outubro de 2001, reconhece o conceito de deficiência como uma 
restrição – física, mental ou sensorial- de caráter permanente ou transitório, que limita a 
capacidade individual. 
 Assim, o Direito Internacional dos Direitos Humanos certifica que pessoas com 
deficiências mentais internadas em instituição psiquiátrica, têm direito a consentir de 
maneira informada sobre o seu tratamento. Em exceção, a terapia forçada pode obter 
justificação em caso de dano iminente ao indivíduo ou a outros. 
 No caso de Damião, ele não representava risco a si mesmo ou a terceiros. 
Entretanto, não havia decisão informada por profissional médico, o que demonstra um 
sistema de saúde mental ancorado no modelo manicomial, com seu caráter excludente e 
confinador, que se afasta propositalmente da pessoa humana que ali se encontra, 
relativizando a dignidade humana e excluindo os deficientes. 
Não obstante, a prescrição forçada e desnecessária de medicação psiquiátrica também é 
considerada tratamento degradante e viola o artigo 5.2 da Convenção Americana de 
Direitos Humanos (CADH). 
 Em dezembro de 1999, dois meses após a morte de Damião, a CIDH iniciou a 
tramitação da petição sob o número 12.237, além da solicitação ao Estado sobre algum 
elemento de juízo que informasse sobre a situação do caso em nível interno, ou seja, se 
os recursos internos haviam sido esgotados. O Brasil não respondeu à demanda. O 
informe conclusivo da CIDH não foi cumprido pelo Estado brasileiro. 
 A CIDH se posicionou disponível para um acordo amistoso entre partes, o Brasil, no 
entanto, manteve-se inerte, o que provocou a aprovação do Relatório de 
Admissibilidade. A partir desse momento, a petição contra o Estado brasileiro era 
admissível pela violação dos direitos consagrados nos artigos 4 (direito à vida), 5 
(direito à integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial), todos da 
CADH. 
 Nos termos da CADH, a CIDH fez recomendações a adoção de medidas para reparar 
violações e deu um prazo de dois meses para que informasse sobre o estado das medidas 
adotadas. Foi a partir deste momento, que o Centro Justiça Global teve contato com a 
peticionária Irene Ximenes, na intenção de entrar como co-peticionária do processo. 
 Em março de 2004, os autores encaminharam petição a CIDH, sustentando o envio 
do caso à Corte IDH, uma vez que, o Brasil não deu prosseguimento às recomendações 
feitas pela CIDH. Após uma solicitação para prorrogar a adoção de medidas, que foi 
concedida, emsetembro de 2004, o caso foi submetido a Corte IDH. 
 Somente em setembro de 2005, o Presidente da Corte IDH convocou a CIDH, os 
representantes da vítima e o Estado para uma audiência pública, marcada para 30 de 
novembro e 1 de dezembro. Na celebração desta audiência pública, o Brasil aproveitou 
para reconhecer a responsabilidade pelos maus tratos e posterior morte de Damião 
Ximenes Lopes. 
 Entretanto, não houve uma auto responsabilização pela violação das garantias e 
proteção judicial em detrimento da família Ximenes Lopes. Neste sentido, a Corte 
considera que o reconhecimento da responsabilidade internacional do Estado contribui 
positivamente para o desenvolvimento deste processo e para a vigência dos princípios 
que inspiram a Convenção no Brasil. 
 Além disso, a Corte aproveitou para negar provimento à exceção preliminar de não 
esgotamento dos recursos internos interposta pelo Estado, fundamentada pela Comissão 
anteriormente, a partir da exceção de “demora injustificada na decisão sobre os 
mencionados recursos internos”. 
 A sentença de mérito proferida pela Corte IDH foi clara e engloba todas as acusações 
de violação do Estado brasileiro neste caso. Em relação ao intrincado sistema de saúde, 
ainda que a Casa de Repouso de Guararapes fosse um estabelecimento privado, ele 
atuava de forma complementar ao Sistema Único de Saúde (SUS) no serviço de auxílio 
a pacientes com sofrimentos mentais. Logo, de acordo com o raciocínio da Corte IDH, o 
Brasil deveria ter criado mecanismos adequados para inspecionar as instituições 
psiquiátricas sob a sua jurisdição, principalmente quando se tratava de um serviço com 
correlação direta à administração pública. 
 Ao se referir à violação do direito à vida e à dignidade humana, deu-se ênfase na 
vulnerabilidade do deficiente, o que gera uma tutela especial por parte do Estado de 
forma a atender suas obrigações. A partir dessa análise, já existem lacunas nos deveres 
de respeito, prevenção e proteção. Outro fato apresentado diz respeito ao dever de 
investigar. 
 Segundo a Corte IDH, o Estado tem o dever de iniciar uma investigação séria, 
imparcial e efetiva, que não se empreenda como mera formalidade. Outra violação pela 
qual o Brasil foi responsabilizado é a integridade psíquica e moral dos familiares da 
vítima em virtude do sofrimento adicional pelo qual passaram. Além das violações que 
viram sofrer seu ente querido, ainda houve posterior omissão das autoridades estatais 
frente aos fatos[8]. 
 A Corte IDH estabeleceu como deveres do Estado em relação às partes lesadas, 
ou seja, como reparação: (a) garantir a celeridade da justiça para investigar e sancionar 
os responsáveis pela tortura e morte de Damião; (b) pagar indenização como medida de 
reparação à família de Damião e; (c) publicar a sentença no Diário Oficial ou em jornal 
de circulação nacional. 
 Em relação à garantia de não repetição, foi estabelecido o dever de o Estado 
brasileiro continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação para o 
pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem 
e para todas as pessoas vinculadas ao atendimento de saúde mental. 
 Em relação ao acatamento da sentença, em 2007 o Brasil cumpriu o pagamento de 
uma indenização aos familiares de Damião no valor de cento e quarenta e seis mil 
dólares, estabelecida pela Corte. No entanto, a responsabilidade penal dos envolvidos 
no óbito de Damião enquanto processo judicial, não foi concluída. Ademais, o governo 
brasileiro estabeleceu acordo com o Conselho Nacional de Justiça no tocante ao 
cumprimento da sentença com relação a uma prestação jurisdicional eficiente. 
 No tocante a supervisão de cumprimento de sentença, em maio de 2010, a Corte IDH 
publicou uma resolução sobre a situação brasileira. No texto, tornou-se clara a 
insatisfação dos representantes, passados 11 anos da morte de Damião Ximenes Lopes, 
ainda inexistir uma sentença definitiva no âmbito penal (julgado em primeira instância, 
somente), o que gera uma lacuna no cumprimento da sentença. 
 Ainda assim, em entrevista concedida ao G1 em 2016, Irene Lopes afirmou que “a 
punição representou uma vitória da insistência em se tentar manter viva a memória do 
irmão”. O desejo de fazer justiça e não deixar o assassinato do irmão impune foi o que 
motivou Irene a buscar o auxílio da CIDH. 
 Outra parte ainda sujeita à supervisão é o programa brasileiro de capacitação dos 
funcionários da área de saúde em relação ao tratamento de pessoas portadoras de 
deficiência mental. Assim, hoje há o cumprimento parcial da sentença pelo Brasil, 
continuando o caso sujeito à supervisão da Corte, somente devendo ser considerado 
concluído quando verificado o cumprimento integral da sentença. 
https://nidh.com.br/damiao/#_ftn8
 A denúncia à Corte IDH ocorre em um contexto sócio histórico de busca pela 
salvaguarda aos direitos humanos no país, uma vez que no ano anterior o Brasil havia se 
submetido à jurisdição da Corte IDH, em consonância à ratificação da CADH em 1992. 
 Sendo assim, o caso de Damião contribuiu para uma maior visibilidade do Sistema 
Interamericano de Direitos Humanos (SIDH) enfatizando sua eficiência no tocante à 
violação dos direitos. Nesse contexto, também é relevante destacar a ampliação de uma 
cultura de enfoque aos direitos humanos para além do campo jurídico, mas agregando 
diferentes tipos de saberes integrados a uma verdadeira rede de proteção. 
 Somado a isso, o caso de Damião Ximenes Lopes fortaleceu os movimentos 
relacionados à reforma psiquiátrica e antimanicomial no país e a elaboração da Rede de 
Atenção Integral em Saúde Mental (RAISM) em Sobral, sendo uma referência na 
América Latina, no entanto, a instituição enfrentou dificuldades no exercício de sua 
função. 
 Por fim, como consequência do caso para o Brasil, houve a aplicação do 
chamado power of embarrassment (poder de constrangimento), forma de sanção política 
que visa a inclusão pelo Estado Brasileiro de atualizações do estado de suas ações no 
cumprimento da sentença em seus relatórios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 REFERÊNCIAS 
MERLI, Isadora Marques; RIANELLI, Luiza Lima. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil 
(2006): O assassinato de um deficiente e o modelo hospitalocêntrico. Casoteca do 
NIDH – UFRJ. Disponível em : https://nidh.com.br/damiao/ . Acesso em 05 de março 
de 2021. 
https://nidh.com.br/damiao/

Outros materiais