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A função sociambiental da propriedade privada após a Constituição

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA 
FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA 
 
HÉRCULIS DIOMARTIN DA SILVA MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
A FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE PRIVADA NO BRASIL APÓS 
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2019 
 
 
HÉRCULIS DIOMARTIN DA SILVA MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE PRIVADA NO BRASIL APÓS 
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 
 
 
Monografia apresentada como requisito parcial 
para à obtenção do grau de Bacharel em Direito, do 
Centro Universitário Curitiba. 
 
 
Orientadora: Alessandra Galli Aprá 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2019 
 
 
HÉRCULIS DIOMARTIN DA SILVA MOURA 
 
 
 
 
 
 
 
A FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE PRIVADA NO BRASIL APÓS 
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 
 
 
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de 
Bacharel em Direito do Centro Universitário Curitiba, pela Banca Examinadora 
formada pelas professoras: 
 
 
________________________________________________________ 
Orientadora: Alessandra Galli Aprá 
 
 
________________________________________________________ 
Prof. Membro da Banca 
 
 
 
Curitiba, de de 2019. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 Primeiramente, a minha mãe, que nunca mediu esforços para que eu tivesse 
boas oportunidades na vida. 
Agradeço também a minhas tias e minha prima, pelo apoio durante todos esses 
anos que estive na faculdade. 
A minha amiga Caroline Agnes Ribeiro, que sempre ouviu meus desabafos de como 
estava sendo difícil concluir esse trabalho. 
A minha amiga Priscila Yumi Nomura, por me levar para “tomar um ar” nas vezes em 
que eu estava ansioso e com vontade de desistir. 
Agradeço a minha orientadora, Alessandra Galli Aprá, que me apresentou ideias e 
me fez enxergar esse trabalho com um novo sentido. 
Enfim, agradeço a todas as pessoas que fizeram parte dessa etapa decisiva em 
minha vida. 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 O presente trabalho objetiva demonstrar como a proteção do meio ambiente é 
indispensável e deve ser observada no exercício do direito de propriedade, eis que a 
Constituição da República de 1988 eleva o meio ambiente ecologicamente equilibrado 
como direito difuso e coletivo, indispensável à sadia qualidade de vida, devendo o 
Poder Público e a coletividade protegê-lo. Ainda, o direito à propriedade privada sofre 
limitações em decorrência do dever de zelar pelo meio ambiente que é um bem 
intergeracional, ou seja, que deve ser preservado em benefício das gerações atuais e 
futuras. Desta forma, mesmo que a propriedade diga respeito à quem a pertence, ela 
não é absoluta, sua tutela constitucional está pautada no cumprimento da função 
socioambiental que obriga o proprietário a mantê-la socialmente útil para que não 
traga malefícios para os indivíduos que com ela não têm ligação, bem como está 
atrelada à preservação do meio ambiente para que ele continue equilibrado e todos 
os indivíduos gozem de seus benefícios. A pesquisa exploratória e descritiva do tipo 
mista (quantitativa e qualitativa) utilizou-se do método empírico, a partir da coleta de 
dados obtidos pela pesquisa jurisprudencial, com o objetivo de verificar qual 
caracterização é conferida à função socioambiental da propriedade, enquanto 
parâmetro extralegal - na medida em que a seu respeito não há uma definição no texto 
constitucional - para evidenciar como os Tribunais têm visto e dispõem sobre a função 
socioambiental da propriedade privada, seja ela urbana ou rural. 
 
Palavras-chave: Meio ambiente. Propriedade privada. Função socioambiental da 
propriedade. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work aims to demonstrate how the protection of the environment is 
indispensable and must be observed in the exercise of the right of property, as the 
Constitution of the Republic of 1988 elevates the ecologically balanced environment 
as a diffuse and collective right, indispensable to the healthy quality of life and the 
government and the community must protect it. Still, the right to private property suffers 
limitations due to the duty of caring for the environment that is an intergenerational 
good, that is, that must be preserved for the benefit of present and future generations. 
Thus, even if the property concerns the person who owns it, it is not absolute, its 
constitutional protection is based on the fulfillment of the social and environmental 
function that obliges the owner to keep it socially useful so that it does not bring harm 
to the individuals who with it. They have no connection, and are linked to the 
preservation of the environment so that it remains balanced and all individuals enjoy 
its benefits. The exploratory and descriptive research of the mixed type (quantitative 
and qualitative) used the empirical method, from the collection of data obtained by the 
jurisprudential research, in order to verify which characterization is conferred to the 
socio-environmental function of the property, as an extralegal parameter. insofar as 
there is no definition in it about the constitutional text - to show how the courts have 
seen and disposed of the social and environmental function of private property, 
whether urban or rural. 
 
Keywords: Environment. Private property. Socio-environmental function of the 
property. Constitution of the Federative Republic of Brazil 1988. 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 - Divisão das áreas de conservação que integram o SNUC ......................36 
Tabela 2 - Divisão dos espaços territoriais especialmente protegidos em sentido amplo 
e estrito .....................................................................................................38 
Tabela 3 - Resultado quantitativo por região da pesquisa jurisprudencial pelo termo 
“função socioambiental da 
propriedade”..............................................................................................45 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 
2 MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL .......................................................... 10 
2.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE ...................................................................... 10 
2.2 DIREITO AMBIENTAL......................................................................................... 12 
2.3 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS ................................................................................. 14 
2.3.1 Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da 
pessoa humana ......................................................................................................... 15 
2.3.2 Princípio do poluidor-pagador .......................................................................... 17 
2.3.3 Princípio da função socioambiental da propriedade privada ............................ 19 
3 A PROPRIEDADE PRIVADA ................................................................................ 23 
3.1 Direito à propriedade ........................................................................................... 23 
3.2 A função socioambiental da propriedade privada urbana e rural ........................ 25 
3.3 Limitações administrativas à propriedade em decorrência dos espaços ambientais 
e a desapropriação .................................................................................................... 35 
4 A FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL NA JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS 
BRASILEIROS .......................................................................................................... 44 
4.1 A pesquisa jurisprudencial ................................................................................... 46 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................52 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O meio ambiente é a soma de conjuntos naturais que tem impacto sobre os 
seres vivos e as atividades humanas, sendo essencial à sadia qualidade de vida e de 
uso comum do povo. Ele repercute em todos eixos da sociedade, pois, os elementos 
químicos, físicos e biológicos que os compõe podem trazer consequências negativas 
ou benefícios para toda coletividade a depender do modo como o tema é tratado. Por 
isso é um bem coletivo passível de proteção pelo sistema jurídico. 
O ordenamento jurídico brasileiro através da Constituição Federal de 1988 
passou a ter o meio ambiente como um bem juridicamente tutelado, trazendo modos 
para sua preservação e controle. E através de leis específicas, como a Lei n. 6.938/81 
que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de 
formulação e aplicação; a Lei n. 7.347/85 que disciplina a ação civil pública de 
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente; alavancou o enfoque dado 
ao assunto. 
E ainda o Código Florestal e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
da Natureza, são leis que vieram proteger o meio ambiente através da criação de 
espaços ambientais que limitam a propriedade em função da preservação e 
conservação do meio ambiente. 
A partir do momento em que o meio ambiente é reconhecido como bem e 
tutelado pelo ordenamento jurídico, o Estado tem deveres de protegê-lo que devem 
ser observados em todas as relações sociais. Então, o cumprimento da função 
socioambiental da propriedade privada aparece como uma forma de cuidado para que 
a propriedade, direito fundamental garantido constitucionalmente, atenda aos anseios 
de seu proprietário de usar, gozar e dispor da coisa e de reavê-la de quem a detenha, 
mas também a administrando de forma a preservar o meio ambiente e garantir o direito 
constitucional à o meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
Diante da relevância que o assunto apresenta ao abordar o meio ambiente e 
sua repercussão na esfera social e jurídica, bem como isso pode obstar o caráter 
absoluto do direito de propriedade, seu estudo é pertinente, tendo em vista a 
efetividade da preservação ambiental que deve ser escorada pelo Estado e a maneira 
que esse irá agir em observância a dois direitos previstos na Constituição da 
9 
 
República: meio ambiente ecologicamente equilibrado e propriedade; para que a 
função socioambiental da propriedade seja cumprida. 
Além do mais, o estudo do tema é cabível para buscar como os Tribunais 
brasileiros por meio das jurisprudências tem delimitado a função socioambiental da 
propriedade privada e observado o seu cumprimento pelo proprietário. 
 
10 
 
2 MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL 
 
A sociedade passou a se preocupar com as questões relativas ao meio 
ambiente quanto tomou consciência de que os recursos naturais não são finitos, então 
o seu uso inadequado e a não preservação deles podem resultar em grave ameaça 
para o futuro, comprometendo a sadia vida humana. 
O meio ambiente é necessário para a vida humana. Ele oferece aos seres vivos 
o essencial para sobrevivência. Sendo fator importante para vida, seus reflexos vão 
além das esferas biológicas e impactam também na sociedade, pois para aproveitar 
seus recursos é necessário que o homem adote medidas para sua preservação e 
manejo que irão refletir em limitações a sua liberdade absoluta de agir, inclusive em 
relação a sua propriedade. 
O Direito Ambiental emana dessa nova percepção sobre o meio ambiente e do 
entendimento que existem bens ambientais que devem ser preservados para 
benefício das gerações atuais e futuras. Sendo assim, o legislador coloca a 
responsabilidade no Poder Público e na coletividade, pois os bens ambientais são 
para o proveito de todos. 
 
2.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE 
 
Um dos motivos pelo qual a lei nº 6.938/81 abriu caminhos na implementação 
do direito ambiental no Brasil foi por ter estabelecido conceitos gerais. Partindo do 
ponto de vista normativo, a referida lei que trata da Política Nacional do Meio Ambiente 
define o meio ambiente, em seu artigo 3º, I, como “o conjunto de condições, leis, 
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e 
rege a vida em todas as suas formas.”1 
Portanto, a expressão “meio ambiente” utilizada pelo legislador, trata das 
relações estabelecidas nesse espaço que são importantes para vida com qualidade. 
No entanto, importante observar que o ambiente significa entorno, tudo que cerca ou 
 
1 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, 
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial da 
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 de agosto de 1981. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 02 de abr. 2019. 
 
11 
 
envolve as pessoas e as coisas, então é amplo e pode abranger outros aspectos que 
também regem a vida. 
Por isso, Édis Milaré estabelece que há uma conceituação abrangente a 
respeito de um meio ambiente em dois sentidos: estrito e amplo: 
 
Numa visão estrita, o meio ambiente nada mais é do que a expressão do 
patrimônio natural e as relações com e entre os seres vivos. Tal noção, é 
evidente, despreza tudo aquilo que não diga respeito aos recursos naturais. 
Numa concepção ampla, que vai além dos limites estreitos fixados pela 
Ecologia tradicional, o meio ambiente abrange toda a natureza original 
(natural) e artificial, assim como os bens culturais correlatos. Temos aqui, 
então, um detalhamento do tema: de um lado, com o meio ambiente natural, 
ou físico, constituído pelo solo, pela água, pelo ar, pela energia, pela fauna e 
pela flora; e, do outro, com o meio ambiente artificial (ou humano), formado 
pelas edificações, equipamentos e alterações produzidos pelo homem, enfim, 
os assentamentos e demais construções.2 
 
Sintetizando esse sentido amplo trazido por Édis Milaré, que discorre sobre a 
concepção de meio ambiente natural e artificial, Marcelo Abelha Rodrigues diz que 
 
Em resumo, o meio ambiente corresponde a uma interação de tudo que, 
situado nesse espaço, é essencial para a vida com qualidade em todas as 
suas formas. Logo, a proteção do meio ambiente compreende a tutela de um 
meio biótico (todos os seres vivos) e outro abiótico (não vivo), porque é dessa 
interação, entre as diversas formas de cada meio, que resultam a proteção, 
o abrigo e a regência de todas as formas de vida.3 
 
A interação entre o meio biótico e abiótico faz com que o homem seja 
enxergado como integrante do meio ambiente, e não um ser distinto dele, porque suas 
atitudes também geram ações que repercutem na conservação de todas as formas de 
vida conforme com o disposto pelo legislador. Devido a isso, o homem deve ter 
responsabilidades e a consciência quanto ao meio ambiente ser atual e para as 
gerações futuras, porque também obtém benefícios oriundos da preservação 
ambiental. Essa interação serve para que ele não sobreponha seus interesses ao 
meio ambiente, pois faz parte dele. 
 
2 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 78. 
3 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2018, p. 74. 
12 
 
Há preocupação em reestabelecer e conservar o ambiente diante da relação 
existente entre o homem e sua incorporação com elementos naturais e artificiais que 
podem propiciar uma sadia qualidade de vida. 
 
2.2 DIREITO AMBIENTAL 
 
O Direito Ambiental é uma matéria interdisciplinar que repercute em outras 
esferas do Direito, como no direito penal, tributário,civil, administrativo, trabalhista, 
etc. Isso ocorre devido ao caráter difuso do campo de atuação, pois a preservação 
ambiental é em benefício de toda coletividade, não de um indivíduo específico. Por 
isso o enlace com outros ramos do Direito acontece para dar maior efetividade à 
política disposta nos instrumentos normativos ambientais. 
A consciência ambiental somou-se a consciência social no Brasil mais 
fortemente na década de 80 com a instituição da Política Nacional do Meio Ambiente 
em 1981 e com a promulgação da Constituição da República de 1988. Antes desse 
marco em matéria constitucional o meio ambiente era tutelado em leis dispersas. 
Como bem preceitua José Afonso da Silva, “a Constituição de 1988 foi, portanto, a 
primeira a lidar deliberadamente com a questão ambiental”4, sendo tratada por alguns 
como “Constituição Verde”. 
A constitucionalização do Direito Ambiental impõe obrigações, 
responsabilidades e deveres à coletividade no que se refere à proteção ambiental, 
incluindo-se o Poder Público em toda sua extensão: Executivo, Legislativo e 
Judiciário; e a sociedade civil. 
Nesse sentido, levando em consideração os direitos que vão além da esfera 
individual e se conectam ao meio ambiente, de acordo com Celso Antonio Pacheco 
Fiorillo 
A partir da Constituição Federal de 1988, a estrutura política em matéria 
ambiental passou a ter seus fundamentos fixados em dois dispositivos 
constitucionais apontados no art. 1º da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do 
Meio Ambiente), com redação determinada pela Lei nº 8.028/90: os arts. 23, 
VI e VII, e 225. Isso exigiu do intérprete uma nova visão de aplicação do 
direito positivo, baseado no critério de competência material cumulativa e de 
 
4 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 46. 
13 
 
predominância do bem difuso em face dos bens públicos ou privados, 
estabelecendo os parâmetros para a tutela do direito ambiental no Brasil.5 
 
Assim, o Direito Ambiental surge em resposta ao efeito decorrente da crise 
ambiental contemporânea na qual os indivíduos tomaram consciência de que os 
recursos naturais são benéficos para vida, mas finitos, e que é necessária toda uma 
remodelação para que se preserve o meio ambiente em sentido estrito (natureza) e 
também se obtenha uma sadia qualidade de vida nos seus reflexos, ou seja, no meio 
ambiente em sentido amplo (artificial). E além disso, os seres estão ligados com o 
meio natural por circunstâncias de fato, o que faz com que exista o bem difuso, aquele 
que alcança a todos. 
Para Toshio Mukai, o Direito Ambiental pode ser definido como “um conjunto 
de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do direito reunidos por 
sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao 
seu meio ambiente.”6 Ou seja, um compêndio normativo que regula a interação entre 
ações humanas e o meio ambiente e seus implicações na saúde do ambiente que 
possam comprometer o meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
Para corroborar com a ideia de interdisciplinaridade do Direito Ambiental, Paulo 
de Bessa Antunes explicita: 
 
O direito ao meio ambiente é um direito humano fundamental que cumpre a 
função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao 
desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais. Mais do que 
um ramo autônomo do direito, o Direito Ambiental é uma concepção de 
aplicação da ordem jurídica que penetra, transversalmente, em todos os 
ramos do Direito. O Direito Ambiental, tem uma dimensão humana, uma 
dimensão ecológica e uma dimensão econômica que devem ser 
compreendidas harmonicamente.7 
 
No mesmo tocante, ao tratar das outras esferas do Direito que são englobadas 
pelo Direito Ambiental para uma maior efetivação da tutela dos bens ambientais, Paulo 
Affonso Leme Machado defende a articulação jurídica em prol do meio ambiente: 
 
O Direito Ambiental é um Direito sistematizador, que faz a articulação da 
legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que 
integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas ambientais e sua 
 
5 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 18. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2018, p. 189. 
6 MUKAI, 1992 apud ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2005, p. 08. 
7 Ibid., p. 09. 
14 
 
abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um Direito das águas, 
um Direito da atmosfera, um Direito do solo, um direito florestal, um Direito 
da fauna ou um Direito da biodiversidade. O Direito ambiental não ignora o 
que cada matéria tem de específico, mas busca interligar estes temas com a 
argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de 
reparação, de informação, de monitoramento e de participação.8 
 
A globalização do Direito Ambiental marcada pela interdisciplinaridade da 
matéria e defendida pelos dois autores supracitados pode ser pautada no artigo 225 
da Constituição Federal, que dispõe sobre o direito fundamental ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado e, ainda, as medidas a serem adotadas pelo Poder 
Público para assegurar a efetividade desse direito. Além do mais, por ser direito 
fundamental, essencial a todos os cidadãos e de inegável importância, faz com que 
pela via da norma constitucional, o meio ambiente esteja em posição privilegiada em 
relação aos demais direitos. 
Logo, necessária a atuação dos diversos ramos jurídicos pautados na 
normatividade e princípios para dar amplitude a tal efetividade, pois o ambiente não é 
mero conjunto de bens materiais subordinado a um regime público ou privado, e sim 
de uso comum do povo, devendo a gestão pública manter a preponderância dos 
interesses coletivos que atingem a todos sobre os individuais, no caso de uso dos 
recursos naturais e nos seus reflexos, para que não seja criado um descompasso 
entre o uso e renovação dos recursos naturais, oferta e demanda. 
Ressaltando a Constituição, no artigo 225, que o meio ambiente é necessário 
à sadia qualidade de vida não somente de um sujeito determinado, mas da própria 
humanidade, então deve ser preservado no presente e no futuro. 
 
2.3 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS 
 
Princípios são um conjunto de normas ou padrões de conduta a serem 
seguidos. É o ponto de partida que orienta o estudo e aplicação das normas 
ambientais que devem ser observadas no que tange a tutela do meio ambiente, sendo 
o desenvolvimento sustentável para obtenção do meio ambiente ecologicamente 
equilibrado a finalidade primeira. 
 
8 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, 
p. 129. 
15 
 
É importante salientar que o Direito é sobretudo um conjunto de normas sociais 
e as vezes nem sempre a resposta estará fundada em aspectos somente positivados, 
até porque o Direito Ambiental possui diversas normas que podem ser aplicadas ao 
mesmo tema. Então os princípios ambientais fornecem os elementos necessários 
para que o julgador extraia da lei um pensamento lógico-subsuntivo a ser aplicado na 
resolução da lide, além de auxiliar na interpretação de outras normas jurídicas e 
permitirem a integração de lacunas. 
Os princípios ambientais podem ser explícitos, ou seja, estarem escritos no 
texto constitucional, ou implícitos, quando decorrem do sistema constitucional mesmo 
sem estarem nele escritos. 
Mas há uma dificuldade em se estabelecer quais são os princípios jurídicos 
ambientais e suas definições, pois a doutrina não é unânime ao tratar disso. Nem 
sequer existe unanimidade para se definir qual é o conceito de Direito Ambiental, seu 
objeto e finalidade. O meio ambiente é amplo e devido as mudanças socioculturais, 
não se limitamais a um sentido estrito que diz respeito só aos recursos naturais, e 
sim, a interação do homem com isso. 
Ao se tratar sobre a função socioambiental da propriedade privada no Brasil 
após a promulgação da Constituição da República de 1988, o foco deve ser voltado 
ao princípio em matéria ambiental que trata justamente disso. 
 
2.3.1 Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da 
pessoa humana 
 
O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio é consequência do 
direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres 
humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência humana, pois 
propicia melhores condições para se viver. 
Sendo assim, Celso Antonio Pacheco Fiorillo trata o meio ambiente como um 
direito humano fundamental, interessado em proteger os valores fundamentais da 
pessoa humana e necessário a toda população brasileira.9 
O meio ambiente ecologicamente equilibrado foi reconhecido como direito 
humano pela Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Ambiente 
 
9 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do processo ambiental. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 33. 
16 
 
Humano de 1972 e reafirmado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento de 1992. 
Na Constituição de 1988, esse direito está expresso no artigo 225, prevendo 
que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso 
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público 
e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras 
gerações.”10 
O Poder Público e a coletividade têm esse dever de proteção com o meio 
ambiente porque os recursos ofertados não são ilimitados, devendo observar esse 
fato ao desenvolverem as atividades voltadas em proveito próprio ou coletivo. 
Todos usufruem do que o meio ambiente oferece de bom à vida humana e se 
não agirem com cautela os benefícios serão menores para as gerações atuais e quase 
inexistentes para as futuras. É necessário que haja uma coexistência harmônica entre 
os interesses individuais e coletivos, econômicos e ambientais, os executando de 
forma sustentável e não egoística para que esses recursos não se esgotem. 
Seguindo a lógica da preservação atual para proveito futuro, Celso Antonio 
Pacheco Fiorillo e Adriana Diaféria dispõem: 
 
Dessa forma, o princípio do desenvolvimento sustentável tem por conteúdo a 
manutenção das bases vitais da produção e reprodução do homem e de suas 
atividades, garantindo igualmente uma relação satisfatória entre os homens 
e destes com o seu ambiente, para que as futuras gerações também tenham 
oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje à nossa 
disposição.11 
 
O princípio possui grande importância, visto que o crescimento econômico faz 
parte da sociedade, ainda mais em uma sociedade capitalista como o Brasil, e cada 
um quer desenvolver seus anseios para crescer dentro dessa perspectiva, porém 
importante que atenda às necessidades do presente, sem comprometer as gerações 
posteriores e acarretar em uma piora na qualidade de vida. 
Uma forma para atingir o equilíbrio ecológico é através da sustentabilidade. Um 
conjunto de ideias, estratégias e demais atitudes ecologicamente corretas, 
 
10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 14. abr. 2019. 
11 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; DIAFÉRIA, Adriana. Biodiversidade e patrimônio genético no 
direito ambiental brasileiro. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 31. 
17 
 
economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente diversas; servindo de 
garantia para sobrevivência dos recursos naturais no planeta. 
Luís Paulo Sirvinskas discorre sobre a finalidade da sustentabilidade: 
 
Sustentabilidade, em outras palavras, tem por finalidade buscar 
compatibilizar o atendimento das necessidades sociais e econômicas do ser 
humano com a necessidade de preservação do ambiente. Visa-se, com essa 
conciliação, assegurar a manutenção de todas as formas de vida na Terra, 
inclusive a humana. Busca-se, por meio desse princípio, melhorar a qualidade 
de vida, respeitando a capacidade de suporte dos ecossistemas. Objetiva-se, 
com isso, a diminuição da miséria, da exclusão social e econômica, do 
consumismo, do desperdício e da degradação ambiental.12 
 
Então, todo posicionamento político, econômico ou social deve ter um viés 
ambiental que propicie a preservação e respeite o meio ambiente, levando em 
consideração os fatores atuais e planejando e precavendo os futuros para garantia do 
bem-estar de todos e existência dos bens ambientais. 
2.3.2 Princípio do poluidor-pagador 
 
 O intuito primeiro quanto se tem em voga o meio ambiente é prevenir o dano, 
mas, se o mesmo ocorrer, é importante definir quem será o responsável por recuperar 
o dano causado, ficando sujeito as possíveis sanções penais e administrativas 
cabíveis. 
Celso Antonio Pacheco Fiorillo identifica um caráter preventivo e um repressivo 
nesse princípio, e explica: 
 
Desse modo, num primeiro momento, impõe-se ao poluidor o dever de arcar 
com as despesas de prevenção dos danos ao meio ambiente que a sua 
atividade possa ocasionar. Cabe a ele o ônus de utilizar instrumentos 
necessários à prevenção dos danos. Numa segunda órbita de alcance, 
esclarece este princípio que, ocorrendo danos ao meio ambiente em razão 
da atividade desenvolvida, o poluidor será responsável pela sua reparação.13 
 
O princípio do poluidor-pagador está previsto na legislação infraconstitucional. 
A lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) impõe ao poluidor a obrigação 
de indenizar e recuperar os prejuízos que foram causados pela sua ação lesiva, tendo 
também que atuar para minimizar esses efeitos negativos. Além da existência de 
 
12 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 16. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, 
p. 144. 
13 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 18. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2018, p.77. 
18 
 
disposições no mesmo sentido nos 13º e 16º princípios da Declaração do Rio sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento. 
Porém, importante compreender que o princípio do poluidor-pagador não 
significa pagar para poder poluir, ou seja, poluir mediante pagamento prévio. Referido 
princípio busca “imputar ao poluidor o custo social da poluição por ele gerada, 
engendrando um mecanismo de responsabilidade por dano ecológico abrangente dos 
efeitos da poluição não somente sobre os bens e pessoas, mas sobre toda 
natureza.”14 
Em sentido econômico, há uma internalização dos custos externos. Através do 
lado financeiro, são adotadas medidas que estimulem e incentivem os agentes 
econômicos a reduzir os danos de suas atividades ou ainda, prevenir para que não 
ocorram. À medida que os custos da prevenção forem imputados aos agentes 
causadores da contaminação, eles serão motivados a adotar providências para evitar 
ou reduzir a contaminação. 
Para José Rubens Morato Leite em relação ao corpo econômico do princípio 
do poluidor-pagador 
 
Em seu aspecto econômico, o princípio poluidor pagador tem ligações 
subjacentes ou auxiliar ao instituto da responsabilidade, pois é um princípio 
multifuncional, na medida em que visa à precaução e à prevenção de 
atentados ambientais e também à redistribuição dos custos da poluição. O 
princípio do poluidor pagador visa sinteticamente à indenização dos custos 
externos de deterioração ambiental. Tal situação resultaria em uma maior 
prevenção e precaução em virtude de um consequente maior cuidado com 
situações de potencial poluição.15 
 
 Desse modo a degradação, vista como externalidade negativa,será 
compensada, pois o dano é coletivo e o lucro recebido pelo produtor que polui, 
privado. Tendo em vista que os recursos naturais são limitados, quem produz, mesmo 
que no âmbito privado de sua atividade ou propriedade, deve ser o primeiro a adotar 
medidas preventivas e se essas resultarem de qualquer forma em dano, arcar com 
isso. 
O pagamento serve para que ocorra a diminuição do desperdício dos recursos 
naturais, pondo fim a utilização gratuita do meio ambiente com interesses que só 
 
14 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 142. 
15 LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: uma difícil tarefa. In: LEITE, José 
Rubens Morato (Org.). Inovações em Direito Ambiental. Florianópolis: Boiteux, 2000, p. 33. 
19 
 
atentam a um nicho específico, uma vez que os custos dos bens e serviços refletirão 
a finitude dos recursos naturais utilizados em sua produção. 
Não é justo que ocorra uma socialização do dano, que todos tenham que arcar 
com ele mas sem ter concorrido para sua ocorrência, por isso o princípio do poluidor-
pagador fundamenta-se em “afastar o ônus do custo econômico de toda a coletividade 
e repassá-lo ao particular que, de alguma forma, retira proveito do dano e das 
implicações que o meio ambiente sofrerá com o seu empreendimento.”16 
 
2.3.3 Princípio da função socioambiental da propriedade privada 
 
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado tem sido considerado, 
nas Constituições modernas, e em especial na Carta Magna brasileira, como um 
direito fundamental, dada a importância da preservação ambiental que resulta na 
sadia qualidade de vida, em harmonia com o desenvolvimento sustentável e com a 
responsabilidade de preservar que cabe as gerações atuais e futuras. 
Anteriormente, partindo de uma visão fundada em um Estado Liberal, a 
propriedade tinha como uma de suas características ser absoluta, ou seja, o 
proprietário poderia usufruí-la como bem entendesse, porém, com a maior 
preocupação advinda de questões ambientais e em zelo ao direito constitucional a um 
meio ambiente ecologicamente equilibrado, ela passou a ter que cumprir função social 
e ambiental. Para Hébia Luiza Machado, “o princípio da função social da propriedade 
impõe que, para o reconhecimento e proteção constitucional do direito do proprietário, 
sejam observados os interesses da coletividade e a proteção do meio ambiente.”17 
As funções sociais da propriedade já eram atribuídas desde as Constituições 
editadas na primeira metade do século XX. A noção de função social surgiu com Léon 
Duguit, jurista francês especialista em Direito Público, segundo o qual a pessoa 
detinha um poder jurídico determinado à satisfação de interesses individuais e a 
função social acontecia quando a propriedade exercia sua função em prol da 
sociedade. Acerca do assunto, Guilherme Purvin de Figueiredo explicou: 
 
 
16 TRENNEPOHL, Dorneles, T. Manual de direito ambiental. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 
2018, p. 52. 
17 MACHADO, Hébia Luiza. Função socioambiental: solução para o conflito de interesses entre o direito 
à propriedade privada e o direito ao meio ambiente ecologicamente preservado. MPMG Jurídico, Belo 
Horizonte, v. 3, n. 12, p. 26-27, abr/mai/jun. 2008. 
20 
 
[...] Duguit sustenta que a propriedade não tem mais um caráter absoluto e 
intangível. O proprietário, pelo fato de possuir uma riqueza, deve cumprir uma 
função social. Seus direitos de proprietário só estarão protegidos se ele 
cultivar a terra ou não permitir a ruína de sua casa. Caso contrário, será 
legítima a intervenção dos governantes no sentido de obrigarem o 
cumprimento, do proprietário, de sua função social.18 
 
No tocante à função ambiental da propriedade, Tibério Bassi Melo acredita que 
a questão é polêmica 
 
a Função Ambiental da propriedade, que faz parte do conceito de função 
social, tem sido questão muito polêmica, pois discute-se até que ponto o meio 
ambiente deve ser preservado, à custa de quem e de que, e como o ser 
humano poderá seguir explorando a natureza, que até agora foi em um 
sentido ilimitado de seus recursos.19 
 
Esses conflitos decorrentes da relação entre propriedade e meio ambiente 
acontecem pela visão legislativa brasileira voltada fundamentalmente a questões 
econômicas, por isso o legislador constituinte, no artigo 170 da Constituição Federal, 
define como princípios de ordem econômica a propriedade privada, sua função social 
e a defesa do meio ambiente. 
Assim, quando o exercício do direito de propriedade ou a propriedade em si 
ferem o meio ambiente, o Estado atua para proteção do bem difuso predominante, 
atrelando a função social da propriedade ao meio ambiente, pois, de acordo com o 
princípio da natureza pública da proteção ambiental, explica Édis Milaré 
 
O interesse na proteção do ambiente, por ser de natureza pública, deve 
prevalecer sobre os direitos individuais privados, de sorte que, sempre que 
houver dúvida sobre a norma a ser aplicada a um caso concreto, deve 
prevalecer aquela que privilegie os interesses da sociedade.20 
 
Então, o direito de propriedade privada surge ambientalmente qualificado, nas 
palavras de Guilherme José Purvin de Figueiredo isso salienta a “dimensão ambiental 
da função social da propriedade”;21 uma vez que até a década de 70 somente a função 
 
18 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. A propriedade no direito ambiental: a dimensão 
ambiental da função social da propriedade. 2. ed. Rio de Janeiro: ADCOAS/Ed. Esplanada, 2005, 
p. 70. 
19 MELO, Tibério Bassi. Direito Ambiental na Propriedade Rural. Florianópolis: Conceito editorial, 
2010, p. 39. 
20 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 139. 
21 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. op. cit, 2005, p. 20. 
21 
 
social era levada em conta e pressupunha-se que ela deveria abranger também em 
sua interpretação (legislativa e judicial) o meio ambiente. 
Essa medida de aplicação interpretativa da função social não foi suficiente 
porque não apresentava concretude no campo das decisões judiciais, visto que a 
interpretação é um meio incerto, pois depende da atribuição de sentido dada pelo seu 
interpretador, desse modo a interpretação poderia não observar as questões 
ambientais. 
No entendimento de Antônio Herman Benjamin sobre a função socioambiental 
no texto constitucional 
 
A ecologização da Constituição, portanto, teve o intuito de, a um só tempo, 
instituir um regime de exploração limitada e condicionada (= sustentável) da 
propriedade e agregar à função social da propriedade, tanto urbana como 
rural, um forte e explícito componente ambiental. Os arts. 170, VI, e 186, II da 
Constituição brasileira, inserem-se nessa linha de pensamento de alteração 
radical do paradigma clássico da exploração econômica dos chamados bens 
ambientais.22 
 
Sendo assim, o regime da propriedade passou a ser relativizado de acordo com 
o caráter difuso inerente ao direito ambiental, limitando o direito do proprietário que 
teve que começar a explorar sua propriedade privada respeitando as funções 
ecológicas essenciais, para desse modo atender a disposição constitucional em 
relação ao direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e fomentar a 
consciência ambiental presente na sociedade moderna. Tendo a função 
socioambiental que ser cumprida tanto na propriedade privada urbana quanto na rural. 
Pode-se dizer que a função social se preocupa com a relação entre a 
propriedade e sua repercussão na coletividade e na economia, mas também na esfera 
individual de cada indivíduo; e a função ambiental está apontada para preservação do 
meio ambiente de modo a manter um ambiente ecologicamente equilibrado que 
propicie sadia qualidade de vidae maior disposição de recursos naturais, em benefício 
de todos no presente e futuro. 
A ideia de função socioambiental seria junção dos conceitos, dando para a 
propriedade privada uma visão holística, que concebe o mundo como um todo 
integrado. Essa visão, elaborada pelo físico austríaco Fritjof Capra que vem se 
 
22 BENJAMIN, Antônio Herman. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição 
brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes (Org.). Direito constitucional ambiental brasileiro. 
4.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 91. 
22 
 
dedicando à pesquisa de temas relacionados à visão de mundo, mudança de 
paradigmas e educação ecológica, entende que “a percepção ecológica profunda 
reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, 
enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos 
da natureza [...].”23 Por isso deve-se ter cuidado com o meio ambiente quando formos 
exercer qualquer tipo de atividade, inclusive as dentro da propriedade. 
Além do mais, a proteção jurídica conferida ao meio ambiente através da 
inserção do princípio da função socioambiental da propriedade privada é um meio de 
frear o egoísmo do homem. O proprietário sente-se no direito de agir como bem 
entender sobre o seu solo, não se importando com o impacto na vida do próximo. Ao 
ser observado esse princípio, há a obrigação do zelo ao meio ambiente. 
 
 
 
23 CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução 
de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 1996, p.49. 
23 
 
3 A PROPRIEDADE PRIVADA 
 
A propriedade privada confere aos seus titulares a prerrogativa de usar, gozar 
e dispor o que lhes pertence. Desse modo, o proprietário pode extrair da coisa todos 
os benefícios e vantagens que ela oferece, limitando-se a determinados interesses 
que a sociedade impõe. 
Atualmente o exercício da propriedade deve atender a anseios sociais e 
ambientais, existindo então limitações que, no tocante ao Direito Ambiental, servem 
para preservar e manter o meio ambiente, garantindo a sadia qualidade de vida dele 
proveniente. 
 
3.1 Direito à propriedade 
 
 O conceito de propriedade não é unânime. No decorrer do tempo, desde a 
antiguidade, nota-se que cada povo em seu respectivo momento histórico teve 
concepção própria sobre o tema. Fato é que o modo como a propriedade era vista 
resulta da organização política dos povos. 
 Nas sociedades primitivas a propriedade só cabia às coisas móveis que fossem 
objeto de uso pessoal. O solo pertencia a toda a coletividade, que exercia atividades 
de caça, pesca e colheita de frutos silvestres, tudo em prol da comunidade a qual 
estava inserido, não tendo motivo para a utilização individual e exclusiva do solo. 
Inclusive, com a escassez do território proveniente da exploração das atividades de 
subsistência, os povos se mudavam para outro lugar, fazendo com que não houvesse 
apego ao solo ocupado. 
Para as sociedades gregas e romanas existia uma ligação entre a propriedade, 
religião e família. A propriedade privada fazia parte da religião, e esta estava ligada à 
família, que deveria ter um solo para cultuar aos deuses. Logo, conclui-se que para 
essas sociedades o que garantia a propriedade do solo era a religião. 
Na Idade Média, a propriedade passou a ser sinônimo de poder. O Direito 
Canônico estimulava a ideia de que a propriedade privada era a garantia da liberdade 
individual do homem. Essas ideias fomentavam a aquisição de terras pelos homens, 
pois ter propriedades conferia mais poder. 
24 
 
O Código de Napoleão reforçou fortemente um caráter individualista ao instituir 
que a propriedade era o direito de gozar e dispor das coisas do modo mais absoluto, 
desde que não se fizesse uso proibido pelas leis ou regulamentos. 
A ocorrência do processo de individualização da propriedade se deu justificado 
pelo advento das especializações de produção de subsistência, prática de atividades 
agrícolas, domínio de terras por conquistadores, entre outros fatores, fazendo com 
que os proprietários quisessem a terra para si de modo a usufruir para si o que ela 
poderia render. 
Devido a isso, a partir do XIX com a era industrial, as ideias socialistas 
vinculadas às pressões sociais em contraponto ao capitalismo fizeram surgir o 
entendimento de que a propriedade deveria ser justa, pautada na igualdade de direitos 
e na solidariedade coletiva, com a finalidade de evitar a concentração de poder. Foi 
então que ela passou a necessitar de um sentido social à sua existência que não 
atendesse somente a interesses egoísticos de poder para determinados indivíduos. 
No entendimento de José de Afonso da Silva em relação a compreensão de 
propriedade ligada a função social, afirma que 
 
A funcionalização da propriedade é um processo longo. Por isso é que se diz 
que ela sempre teve uma função social. Quem mostrou isso expressamente 
foi Karl Renner, segundo o qual a função social da propriedade se modifica 
com as mudanças na relação de produção. E toda vez que isso ocorreu houve 
transformação na estrutura interna do conceito de “propriedade”, surgindo 
nova concepção sobre ela [...]24 
 
As mudanças na relação de produção partem de um modo capitalista de 
enxergar a propriedade que era posto em detrimento dos interesses coletivos que 
repercutem na esfera da sociedade. Ou seja, a propriedade era um direito de caráter 
absoluto, que não permitia limitações, restrições, reservas e existia independente de 
qualquer condição; dessa forma conferia ao seu titular o poder de usar, abusar e 
dispor dele sem precedentes. 
 Tibério Bassi de Melo discorre sobre a evolução do direito de propriedade e a 
perca de seu caráter absoluto 
 
O Direito de Propriedade sempre foi um direito fundamental da pessoa 
humana, não só nas sociedades capitalistas modernas, mas desde o Império 
Romano, quando já era consagrado como um direito natural do homem, 
assim como o direito à vida e a liberdade. Contudo, o Direito, como fator 
 
24 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 76. 
25 
 
histórico, assim como a própria sociedade que evoluiu, partindo de um Estado 
Absolutista para um Estado Liberal e, posteriormente, para um Estado de 
Bem Estar Social, também evoluiu, de meros interesses individuais, para 
direitos transindividuais, principalmente após uma maior conscientização da 
crise ambiental.25 
 
 Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em 
seu artigo 5º, XXII, ficou garantido o direito de propriedade. Porém, no inciso XXIII, 
relativizou-se o direito ao dispor que a propriedade atenderá a sua função social. 
Destarte, a Carta Magna, ao vincular a propriedade à função social rompeu o caráter 
absoluto desse direito, pois o caráter irrestrito ficou condicionado a limitações trazidas 
pela ordem econômica e social que podem ser no campo civil, administrativo, 
constitucional, por exemplo. Além de haver o atendimento aos interesses da 
coletividade, diversos dos individuais do proprietário, podendo ser a propriedade 
desapropriada por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, de acordo 
com o inciso XXIV do mesmo artigo. 
 
3.2 A função socioambiental da propriedade privada urbana e rural 
 
 A Constituição Federal de 1988 dispõe acerca dos direitos e garantias 
fundamentais em seu Título I, garantindo além do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade e à segurança, também o direito à propriedade. Deste modo, ao ser 
colocada como uma garantia fundamental no caput do artigo 5º e reforçado pelo inciso 
XXII, foi vinculada a essa garantia o atendimento de uma função social da 
propriedade. 
 No Título VIIque abrange a ordem econômica e financeira, no artigo 170, 
incisos II e III, a propriedade privada e sua função social aparecem novamente, 
respectivamente, como elementos basilares da ordem econômica. 
Gustavo Soares Pires de Campos entende que com o fim da ditadura militar e 
a demanda pela redemocratização exercida por grupos que a queriam, houve um 
 
25 MELO, Tibério Bassi. Direito Ambiental na Propriedade Rural. Florianópolis: Conceito editorial, 
2010, p. 31. 
25 CAMPOS, Gustavo Soares Pires de. Controle e indução da função social da propriedade na escala 
da metrópole: a experiência paulista entre os anos de 2014 e 2016. Pós. Revista do Programa de 
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, v. 25, n. 46, p. 72-84, 9 ago. 
2018. Disponível em: <https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v25i46p72-84>. Acesso em: 23 mai. 
2019. 
26 
 
maior cuidado por parte do texto constitucional em seus dispositivos em um sentido 
mais socialista, repercutindo a ideia de função social da propriedade.26 
 A função social da propriedade trazida pelo legislador é um limitador ao direito 
de propriedade para que o titular do direito usufrua da coisa de uma forma mais 
coletiva, ou seja, respeitando e levando em conta os direitos dos outros indivíduos que 
também estão inseridos no mesmo contexto social. 
Portanto, “a situação jurídica “propriedade” exige o cumprimento de sua função 
social para que seja dotada de existência e eficácia”27 e cumprir com os preceitos 
constitucionais dispostos para proteção dos interesses individuais, mas que ao 
mesmo tempo não deixem de proteger os coletivos. 
Mesmo que a titularidade da propriedade continue com o indivíduo e desde que 
observada a função social ele possa exercer suas vontades no que lhe pertence, José 
Afonso da Silva, diferente da doutrina majoritária, acredita que o direito de propriedade 
não pode ser mais considerado um direito individual, pois, a função social a ser 
cumprida pode ser contrária aos interesses do proprietário e servir aos interesses da 
coletividade, desse modo a utilização do bem estaria condicionada; a presença da 
função social seria parte da estrutura da propriedade. Então desde sua concepção já 
deveria atender anseios ligados ao coletivo, não podendo o proprietário exercer 
puramente seus interesses próprios.28 
Carlos Araújo Leonetti acata a ideia de a função social ser parte estruturante 
da propriedade, ao dispor que “o princípio da função social da propriedade, ao invés 
de se revelar uma mera restrição ao direito de propriedade, compõe o próprio desenho 
do instituto [...]”29 
Porém, mesmo assim não há o que se falar em supressão da propriedade 
privada, porque esse ainda é um direito constitucional a ser preservado quando 
cumpridas as finalidades sociais. Finalidades estas que garantem a coexistência 
harmoniosa entre ações individuais e seus reflexos na comunidade, sendo uma 
característica própria intrínseca ao direito de propriedade e necessária para 
legitimação do mesmo. 
 
26 GOMES, Orlando. Direitos Reais. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 108. 
27 SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 76, 77. 
28 LEONETTI, Carlos, Araújo. Função social da propriedade: Mito ou Realidade. Sequência. Revista 
do Curso de Pós-Graduação em Direito da UFSC, Florianópolis, v. 19, n. 36, p. 47-59, jul. 1998. 
Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15605>. Acesso em: 23 
mai. 2019. 
 
27 
 
Por isso a função social da propriedade privada tem o intuito primeiro de ser 
um instrumento de democratização e justiça social, reprimindo o exercício egocêntrico 
por parte do proprietário. Além de servir para que o proprietário a use e mantenha de 
maneira proveitosa e socialmente benéfica. 
Em suma, “a chamada função social da propriedade representa um poder-
dever positivo, exercido no interesse da coletividade, inconfundível, como tal, com as 
restrições tradicionais ao uso dos bens próprios”.30 
As restrições à propriedade se apresentam como ônus a serem suportados pelo 
proprietário, comuns ao seu direito e que não afetam o exercício do mesmo. 
Cristiane Derani discorre sobre o ônus do proprietário 
 
A norma que dispõe sobre a função social da propriedade cria o ônus do 
proprietário privado perante a sociedade. Essa norma institui um ônus que 
recai sobre o desenvolvimento da relação de poder entre o sujeito e objeto, 
que configura a propriedade privada. O ônus imposto sobre o sujeito 
proprietário significa que sua atuação deve trazer um resultado vantajoso 
para sociedade, a fim de que este poder individualizado seja reconhecido 
legalmente.31 
 
Então, pode-se dizer que a função social da propriedade privada é promover o 
bem comum, inserindo-a em um contexto coletivo benéfico não somente para o 
proprietário, mas para os indivíduos além da propriedade que não possuem 
titularidade sobre a mesma, sendo isto o ônus do proprietário, mas que não obsta seu 
proveito sobre o que lhe é seu por direito e nem tira o “elemento individual que 
possibilita o gozo e o lucro para o proprietário.”32 
Tanto a propriedade urbana, quanto a rural, tem dispositivos no texto 
constitucional que determinam qual sua função social. 
O legislador constitucional trouxe a partir de 1988 um capítulo dedicado à 
política urbana. O artigo 182, parágrafo 2º da Constituição da República menciona 
expressamente a propriedade urbana, dispondo que “a propriedade urbana cumpre 
 
30 COMPARATO, Fábio Konder. Função social da propriedade dos bens de produção. In: 
COMPARATO, Fábio Konder. Direito Empresarial: estudos e pareceres. São Paulo: Saraiva, 1990, 
p. 27-37. 
31 DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da função social. Revista 
de direito ambiental. São Paulo, Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 7, n. 27, p. 58-69, jul/set. 2002. 
32 MACHADO, 1994 apud MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 22. ed. São 
Paulo: Malheiros, 2014, p. 177. 
28 
 
sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade 
expressas no plano diretor.”33 
Desta maneira a ela estará em consonância com os interesses públicos que 
influem na sociedade, pois, o plano diretor é um instrumento através do qual o Poder 
Público age na esfera urbanística levando em consideração também os objetivos 
sociais. 
Não há um entendimento único no atendimento à função social da propriedade 
urbana, visto que o legislador não a definiu objetivamente, deixando a cargo do plano 
diretor. Plano esse que respeitando os requisitos mínimos estipulados no artigo 42 da 
Lei nº 10.257/2001 – Estatuto da Cidade – fica a cargo do Gestor da localidade a ser 
implementado. 
Então, pode a função social urbana variar de localidade para localidade, mas 
sempre conforme o artigo 39 do Estatuto da Cidade, atendo-se “às exigências 
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o 
atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça 
social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as diretrizes 
previstas no art. 2o desta lei.”34 
O artigo 2º do Estatuto estabelece diretrizes gerais da política urbana, com o 
intuito de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da 
propriedade urbana, protegendo assim em um sentido estritamente urbanístico, a 
habitação, trabalho, lazer e mobilidade. 
 Em uma perspectiva de crescimento das cidades que tem como um de seus 
componentes a propriedade privada, a função social dela a ser expressa através do 
plano diretor visa a utilidade da propriedade para seu proprietário e para o que está 
em seu entorno, fazendo com que o crescimento sejaordenado e haja o equilíbrio 
entre os interesses públicos e privados, uma solidariedade social. 
 Em que concerne à função social da propriedade rural, anteriormente à 
Constituição de 1988, o Estatuto da Terra já dispunha em seu texto legal sobre a 
propriedade da terra e sua função social. 
 
33 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 26. mai. 2019. 
34 BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição 
Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Diário Oficial da 
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 27 de julho de 2001. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 26. mai. 2019. 
29 
 
No artigo 2º, parágrafo 1º, do supracitado Estatuto, o cumprimento da função 
social da terra acontece quando, simultaneamente: “favorece o bem-estar dos 
proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; 
mantém níveis satisfatórios de produtividade; assegura a conservação dos recursos 
naturais; e observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho 
entre os que a possuem e a cultivem.”35 
A função social da propriedade da terra também cabe quando as mesmas 
forem privadas, devendo proporcionar o bem-estar coletivo. 
No Capítulo III da Constituição de 1988, capítulo que versa sobre à política 
agrícola e fundiária e da reforma agrária, similarmente ao texto do Estatuto da Terra, 
também diz que o cumprimento da função social deve atender a alguns requisitos 
simultaneamente. 
Então, a partir da visualização agora da terra como propriedade rural, os 
requisitos são: “aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos 
recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das 
disposições que regulam as relações de trabalho; e exploração que favoreça o bem-
estar dos proprietários e dos trabalhadores.”36 
As propriedades rurais que não cumprem sua função social estão sujeitas à 
desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária. 
Na opinião de Ismael Marinho Falcão sobre a aplicabilidade da propriedade 
rural para o seu proprietário, tem-se que 
 
[...] O uso e o gozo da propriedade rural está diretamente vinculado à função 
social que a Constituição da República vota à propriedade. Já não temos um 
direito individual, mas socialmente coletivo. Enquanto não serve aos 
interesses da coletividade, promovendo-lhe o bem-estar e concorrendo para 
o progresso econômico e social de seu titular, a propriedade já não pode mais 
permanecer nas mãos de quem não a trabalha, impondo-se a desapropriação 
por interesse social a fim de que, redistribuída, possa alcançar, pelo trabalho, 
a função social a que estará fadada.37 
 
 
 Ou seja, a propriedade rural deve estar em funcionamento, sendo útil à 
coletividade e reforçando o cumprimento do interesse social que pode levar a 
 
35 BRASIL. Lei nº 4.564, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras 
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 de novembro de 
1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm> Acesso em: 01. jun. 2019. 
36 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 01. jun. 2019. 
37 FALCÃO, Ismael Marinho. Direito agrário brasileiro. Rio de Janeiro: Edipro, 1995, p. 213. 
30 
 
desapropriação, mas seu uso deve ser aceitável e apropriado, pois não irá repercutir 
somente sobre quem o exerce. 
A ideia de trabalho ligada a ela vem da conceituação trazida pelo Estatuto da 
Terra que em suma, volta o rural para a agricultura e a pecuária ao conceituar o que 
é um imóvel rural. O bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores trazido como um 
dos requisitos para a função social da propriedade privada ser cumprida reforça o 
caráter da utilização produtiva da propriedade rural. Logo, se faz necessário o trabalho 
para exercer o esforço requerido para produzir. 
 E ainda a função social pode ser vista como uma imposição ao proprietário de 
não deixar sua propriedade sem uso, mas que os seus interesses quando da 
destinação atribuída a ela sejam orientados e estejam em equilíbrio com os interesses 
coletivos, passando esses a serem também deveres do proprietário.38 
 Com base nos dispositivos constitucionais trazidos pelos artigos 170, inciso IV, 
186 inciso II e 225, nota-se a presença de uma percepção voltada ao meio ambiente, 
isto é, uma função ambiental a ser desempenhada juntamente com a função social no 
que diz respeito à propriedade. 
 A respeito da função ambiental, Mariana Senna Sant’Anna a determina como 
“conjunto de atividades que visam garantir a todos o direito constitucional de desfrutar 
um meio ambiente equilibrado e sustentável, na busca da sadia e satisfatória 
qualidade de vida, para a presente e futuras gerações”.39 
 O meio ambiente em seu atendimento à coletividade, postulado como direito a 
tê-lo ecologicamente equilibrado para todos de acordo com o que dispõe o artigo 225 
da Constituição da República, para Ingo Wolfgang Sarlet, se enquadraria como sendo 
um direito de “terceira dimensão”: 
 
Os direitos fundamentais de terceira dimensão, também denominados 
direitos de fraternidade ou de solidariedade, trazem como nota distintiva o 
fato de se desprenderem, em princípio, da figura do homem indivíduo como 
seu titular, destinando-se à proteção de grupos humanos (família, povo, 
nação), caracterizando-se, consequentemente, como direitos de titularidade 
coletiva ou difusa.40 
 
 
38 BORGES, Roxana Cardoso Brasileiro. Função Ambiental da Propriedade Rural. São Paulo: LTr, 
1999, p. 96. 
39 SANT’ANNA, Marianna Senna. Planejamento urbano e qualidade de vida: da Constituição 
Federal ao Plano Diretor. In: DALLARI, Adilson de Abreu; DI SARNO, Daniela Campos Libório 
(Coord.). Direito urbanístico e ambiental. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 156. 
40 SARLET, Ingo Wolfgang. Direito constitucional ambiental. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2013, p. 50-51. 
31 
 
 A colocação do meio ambiente como sendo coletivo ou difuso implica na 
satisfação que ele deve trazer aos indivíduos sem que haja distinção entre eles, ou 
seja, ao mesmo tempo em que atenda aos anseios do proprietário, não ultrapasse os 
direitos alheios e interesses da sociedade. 
Norberto Bobbio em sua obra “A era dos direitos”, sustenta, a respeito dos 
direitos os quais se refere como de “terceira geração”, que 
 
Ao lado dos direitos sociais, que foram chamados de direitos de segunda 
geração, emergiram hoje os chamados direitos de terceira geração, que 
constituem uma categoria, para dizer a verdade, ainda excessivamente 
heterogênea e vaga, o que nos impede de compreender do que efetivamente 
se trata. O mais importante deles é o reivindicado pelos movimentos 
ecológicos: o direito de viver num ambiente não poluído.41 
 
E ainda, no mesmo sentido de o meio ambiente ser um direito de terceira 
geração conforme o acima exposto por Norberto Bobbio, Manoel Gonçalves Ferreira 
Filho concorda que “de todos os direitos de terceira geração, sem dúvida o mais 
elaborado é o direito ao meio ambiente.”42 
A importância da defesa do meio ambiente ecologicamente equilibrado, ao ser 
colocado como direito coletivo, está no fato dos direitos de terceira geração serem 
ligados ao valor solidariedade. 
Logo, a função ambiental surge para fazer valer a proteção do meio ambiente 
no tocante aos interesses dos indivíduos, sendo abarcada também na funçãosocial 
da propriedade privada, pois essa expressa os interesses individuais dos proprietários 
sobre aquilo que lhes pertence. E, como o meio ambiente equilibrado é para todos, 
seus recursos devem ser utilizados de maneira racional, com o fim de proteger e 
melhorar a qualidade de vida, defender e restaurar o meio ambiente, com base na 
inescusável solidariedade coletiva, a qual obriga as pessoas umas às outras e cada 
uma delas a todas. 
Ou seja, como o meio ambiente ecologicamente equilibrado aumenta o padrão 
de qualidade de vida e será usufruído por todos, mesmo no exercício de seus direitos 
privados e individuais, como a propriedade, deve ser observada a solidariedade entre 
os indivíduos e o proprietário não poderá fazer o que bem entender. 
 
41 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2004, p. 09. 
42 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Direitos Humanos Fundamentais. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 
2000, p.62. 
32 
 
Por isso a função ambiental da propriedade privada une-se a função social para 
manter o equilíbrio entre os interesses individuais, coletivos e do meio ambiente, para 
que todos gozem dos benefícios. 
Já que a função ambiental defende os valores ambientais e a função social faz 
a ponte para que os interesses do proprietário se encaixem nos interesses da 
sociedade, a função socioambiental é a junção dos termos e prossegue com o mesmo 
intuito deles isolado, qual seja proteger o direito constitucional à propriedade em 
consonância com a proteção ambiental. 
O ordenamento jurídico fundando na Constituição Federal tem o compromisso 
de observar o cumprimento da função socioambiental da propriedade privada, 
aplicando as sanções previstas em caso de descumprimento, pois deve garantir a 
execução dos direitos fundamentais constantes na Carta Magna, sem conflitos, visto 
que a atividade humana quase sempre implicará a alteração das condições naturais 
e o meio ambiente não pode sair em desvantagem nessa relação, mas também o 
proprietário não pode ter impedidos seus direitos. 
No Código Civil também se percebe os elementos ambientais sendo trazidos 
ao texto legal. O artigo 1.228 que trata sobre propriedade, traz expressamente no 
parágrafo 1º que 
 
O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas 
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de 
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas 
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como 
evitada a poluição do ar e das águas.43 
 
Ao passo que a propriedade é uma virtude particular que confere ao seu 
detentor qualidades especiais: a de usufruir, utilizar e dispor do bem; os elementos 
naturais que fazem parte dela também cabem ao proprietário, mas junto a isso há o 
encargo de preservá-los para que a sociedade juntamente a ele goze dos benefícios. 
A liberdade que o proprietário gozava antes da Constituição da República de 
1988 determinar o atendimento à função socioambiental pela propriedade não 
permanece mais a mesma, tendo que se adequar aos preceitos da ordem social e 
econômica, visto que tanto o direito de propriedade quanto a defesa do meio ambiente 
são princípios gerais da atividade econômica. 
 
43 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da República 
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 10 de janeiro de 2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 20 jun. 2019. 
33 
 
Sendo assim, a função socioambiental traz por meio da lei a criação de direitos, 
deveres e proibições, vinculando o proprietário aos comandos legais no exercício da 
propriedade. Logo, a defesa ao meio ambiente é exercida permitindo também a 
atividade econômica e a propriedade. 
O direito de propriedade continua a ser um direito fundamental e pode ser 
plenamente exercido, mas desde que se cumpra com responsabilidade os limites 
legais impostos. 
Não se pode permitir que aconteça a defesa de um direito prejudicando outro. 
Por isso a função socioambiental é uma balança entre propriedade e meio ambiente. 
E, quando o proprietário pesa mais a balança para o seu lado e não respeita o meio 
ambiente, prejudicando assim o funcionamento do meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, “ferindo” os recursos naturais e os direitos coletivos, cabe ele suportar as 
sanções. 
O direito de propriedade não pode se opor aos interesses sociais e coletivos, 
assim como a proteção do meio ambiente não pode inibir afrontosamente as 
prerrogativas do proprietário sobre o bem que lhe pertence e é garantido 
fundamentalmente pela Constituição. 
Para Antônio Herman Benjamin, sobre a função social da propriedade e o meio 
ambiente ecologicamente equilibrado 
 
A apropriação dos espaços pela intervenção humana – seja pela ocupação 
da terra, seja pelo parcelamento do solo e do planejamento urbano das 
cidades – encontra-se condicionada por finalidades e usos que devem ser 
protegidos. O princípio da função social da propriedade se superpõe à 
autonomia privada, que rege as relações econômicas, para proteger os 
interesses de toda a coletividade em torno de um direito ao ambiente 
ecologicamente equilibrado. Somente a propriedade privada que cumpra sua 
função social possui proteção constitucional. Por essa razão, seu 
descumprimento importa a imposição de uma sanção: a expropriação 
compulsória. Esta é suportada pelo proprietário exatamente em razão do 
exercício irresponsável do direito e da gestão inadequada dos recursos 
naturais.44 
 
 A proteção constitucional da propriedade é efetivada quando seu exercício não 
implica em prejuízo à coletividade. Do ponto de vista ambiental, a propriedade deve 
se submeter a supremacia do interesse público sobre o particular, por isso o 
 
44 BENJAMIN, Antônio Herman. Constitucionalização do ambiente e ecologização da Constituição 
brasileira. In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes (Org.). Direito constitucional ambiental brasileiro. 
4.ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 90. 
34 
 
proprietário tem obrigações que criam uma rede protetiva do meio ambiente e se não 
observadas podem resultar na perda do bem para o Poder Público por 
descumprimento de sua função socioambiental. 
No mesmo sentido de reconhecer o atendimento da função social à proteção 
do meio ambiente, se posicionou a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça – 
STJ – no julgamento do Recurso Especial 1775867-SP, publicado no Diário Oficial 
eletrônico de 23/05/2019, da qual foi Relator o Ministro Og Fernandes, conforme se 
depreende da seguinte passagem: 
 
Inicialmente, é importante elucidar que o princípio da solidariedade 
intergeracional estabelece responsabilidades morais e jurídicas para as 
gerações humanas presentes em vista da ideia de justiça intergeracional, ou 
seja, justiça e equidade entre gerações humanas distintas. Dessa forma, a 
propriedade privada deve observar sua função ambiental em exegese 
teleológica da função social da propriedade, respeitando os valores 
ambientais ecológicos.45 (grifo nosso) 
 
Se a função social da propriedade abarca elementos voltados a proteção do 
meio ambiente, dispondo inclusive sobre a utilização racional e a preservação dos 
recursos naturais, não há porque não se adotar de pronto o termo “socioambiental”, 
pois ainda, conforme se extrai do pensamento supracitado, a função social da 
propriedade protege o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
Há um redirecionamento da função social na perspectiva da proteção do bem 
ambiental, resultando na ecologização da propriedade que passa a pautar o uso, gozo 
e fruição do direito de propriedade ao atendimento dos dispositivos legais voltadosa 
preservação e proteção do meio ambiente. 
Então, tem-se que o atendimento à função social da propriedade não está 
somente ligado aos interesses coletivos e sociais, mas também aos aspectos 
ambientais trazidos pelo texto legal, logo há que se cumprir uma função 
socioambiental, não a função social e função ambiental isoladamente. 
Tendo a propriedade ligação com a dignidade da pessoa humana, pois ela 
permite moradia e trabalho, e o meio ambiente porque traz qualidade de vida; a função 
 
45 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1775867-SP 2017/0043536-2. T2 - Segunda 
Turma. Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo. Recorrido: Pedro Henrique de Lima Coube. 
Relator: Ministro Og Fernandes. Publicado no DJe de 23.05.2019. Disponível em: 
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/712367794/recurso-especial-resp-1775867-sp-2017-
0043536-2/certidao-de-julgamento-712367841?ref=juris-tabs>. Acesso em: 20 jun. 2019. 
35 
 
socioambiental maximiza a dignidade da pessoa humana que é um dos princípios 
constitucionais, pois leva em conta esses dois aspectos. 
 Ainda, cabe ao Estado participar nessa relação para garantir que o exercício 
da propriedade aconteça sem muitos obstáculos ao mesmo tempo em que o meio 
ambiente não saia prejudicado. “Em outras palavras, a intervenção do Estado é 
legítima, desde que seja feita na medida necessária ao cumprimento da função social 
e ambiental.”46 
 A função socioambiental serve para legitimar o direito do proprietário, permitir 
o uso, gozo e disposição da propriedade, alavancar a ordem econômica e social e 
proteger o meio ambiente. 
E ao ser inserida essa função, há uma estimulação à adoção de medidas para 
preservar os bens ambientais, que irá resultar na sadia qualidade de vida e 
preservação ambiental, resultando no meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
direito garantido pela Constituição.47 
Assim, quando a propriedade adota um modelo sustentável fica mais fácil não 
incorrer em abuso de direito por parte do proprietário que pode levar à sansões 
impostas pelo Estado e à perda da propriedade. 
 
3.3 Limitações administrativas à propriedade em decorrência dos espaços ambientais 
e a desapropriação 
 
 A propriedade não é mais revestida de caráter absoluto. Com a imposição do 
cumprimento da função socioambiental, ela sofre restrições de uso de acordo com o 
atendimento aos interesses sociais e ambientais, necessários ao bem comum, pois 
ao mesmo tempo em que a propriedade é um direito individual fundamental, têm-se 
em torno dela interesses públicos. 
 A propriedade privada e sua função socioambiental geram sanções nos casos 
de não serem atendidas, tanto em relação aos imóveis urbanos quanto aos rurais. 
Mas, sendo cumpridas, mesmo com a existência de limitações, não geram a 
diminuição de patrimônio e não obstaculizam seu proveito. 
 
46 ARAÚJO. Giselle Marques de. Função ambiental da propriedade: uma proposta conceitual. Veredas 
do Direito, Belo Horizonte, v. 14, n. 28, p. 251-276, jan/abr. 2017. Disponível em: < 
http://dx.doi.org/10.18623/rvd.v14i28.985>. Acesso em: 20 jun 2019. 
47 CAVEDON. Fernanda Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. Florianópolis: 
Visualbooks, 2003, p. 124. 
36 
 
 As limitações à propriedade em decorrência dos espaços ambientais visam 
proteger os mesmos da ação invasiva do proprietário, salvaguardando o meio 
ambiente e seus recursos naturais. “Limites à propriedade dizem respeito à sua 
projeção física.”48 
 A função socioambiental limita à propriedade com o intuito de atender a 
finalidade pública de interesses sociais que se vinculam a interesses ambientais, 
como por exemplo, áreas de preservação permanente. 
 No artigo 225 da Constituição da República, ao ser tratado o direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, incumbiu-se ao Poder Público para assegurar 
a efetividade desse direito, mais especificamente no inciso III do parágrafo 1º desse 
artigo: 
 
definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus 
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a 
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que 
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção.49 
 
Do fragmento supracitado se extrai a figura do Espaço Territorial Especialmente 
Protegido (ETEP). Porém os ETEPs não foram conceituados no texto legal, somente 
sendo utilizado para “designar áreas sob regime especial de administração, com o 
objetivo de proteger os atributos ambientais justificadores do seu reconhecimento e 
individualização pelo Poder Público.”50 
Originou-se então o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da 
Natureza (SNUC), estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e 
gestão das unidades de conservação; regulamentado pela Lei nº 9.985/2000. 
Dessa lei se extrai o conceito de unidade de conservação como sendo “espaço 
territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com 
características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com 
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, 
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.”51 
 
48 PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das coisas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 
169. 
49 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 21. jun. 2019. 
50 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 183. 
51 BRASIL. Lei nº 9. 985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da 
Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras 
providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm>. Acesso em: 23. 
jun. 2019. 
37 
 
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza divide as áreas 
de conservação que o integram em dois grupos: Unidades de Proteção Integral e 
Unidades de Uso Sustentável. Ambas as unidades possuem a finalidade básica de 
proteger a natureza e o uso dos recursos naturais e cada uma foi constituída 
legalmente com subdivisões em outras subespécies de unidades de conservação, 
conforme tabela abaixo, elaborada com base na Lei nº 9.985/2000: 
 
Tabela 1 – Divisão das áreas de conservação que integram o SNUC 
 
PROTEÇÃO INTEGRAL USO SUSTENTÁVEL 
 
 Estação Ecológica; 
 Reserva Biológica; 
 Parque Nacional; 
 Monumento Natural; 
 Refúgio de Vida Silvestre. 
 
 
 Área de Proteção Ambiental; 
 Área de Relevante Interesse Ecológico; 
 Floresta Nacional; 
 Reserva Extrativista; 
 Reserva de Fauna; 
 Reserva de Desenvolvimento 
Sustentável; 
 Reserva Particular do Patrimônio 
Natural. 
 
Elaboração própria. 
 
As Unidades De Proteção Integral demandam mais cuidado devido às suas 
particularidades ambientais e fragilidades, tendo como finalidade a proteção da 
natureza para preservação dos seus recursos naturais, ecossistemas, fauna, flora e 
paisagens, sendo permitido apenas o uso indireto desses recursos, como para 
atividades de turismo ecológico, pesquisa científica, educação ambiental, entre outras. 
As Unidades de Uso Sustentável permitem conservar a natureza e utilizar de 
modo sustentável o que é dela proveniente. É permitido o uso dos recursos naturais, 
mas desde que respeitando-se os processos ecológicos e a renovação dos recursos, 
de modo a não prejudicar o meio ambiente e a provocar a escassez. Importante 
salientar ainda que esse tipo de unidade de conservação admite a presença de 
moradores, desde que os mesmos respeitem o meio ambiente a eles disposto. 
Paulo

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