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Indaial – 2019 Educação Social, Política E Ética: a Sociologia urbana E da Violência Profª. Silvana Braz Wegrzynovski 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Profª. Silvana Braz Wegrzynovski Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: W412e Wegrzynovski, Silvana Braz Educação social, política e ética: a sociologia urbana e da violência. / Silvana Braz Wegrzynovski. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 191 p.; il. ISBN 978-85-515-0422-2 1. Serviço social. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 360 III aPrESEntação Olá, prezado acadêmico! Sou Silvana Braz Wegrzynovski, professora responsável por este livro didático. Sou assistente social, especialista em Gestão Pública e mestre em Desenvolvimento Regional. Tenho experiência profissional na área das políticas públicas, como assistência social, habitação popular, meio ambiente, como profissional e como gestora. Fui docente do curso de Serviço Social da UNIASSELVI e, atualmente, trabalho como assistente social na área de segurança pública. A disciplina que se inicia neste momento, Educação Social, Política e Ética: a Sociologia Urbana e a Violência, no curso de Educador Social, tem como objetivos contextualizar o papel do educador social no processo de desenvolvimento humano na educação social do Brasil e suas competências pedagógicas, fundamentar, através de conceitos, teorias e tipos de violência, enfatizando a violência urbana e seus reflexos na sociedade atual. Esta disciplina é essencial para o curso, pois apresentará eixos fundamentais para compreendermos de que forma o educador social se tornou um profissional reconhecido no mercado de trabalho. No contexto social em que estamos inseridos é necessário termos clareza dos conceitos básicos que permeiam a profissão do educador social, como a ética e a violência. A atuação do educador social, nos mais diversos campos profissionais, faz com que esse profissional trabalhe diretamente com a população de uma determinada comunidade. Nesse sentido, esta disciplina mostrará determinadas propostas do trabalho do educador social, de forma a orientá- lo em sua jornada profissional. Bons estudos! Professora Silvana Braz Wegrzynovski IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS ..........................................................................1 TÓPICO 1 – AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO .............................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 O EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO .............................................................4 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................13 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................15 TÓPICO 2 – A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO CONSISTENTE PARA O EDUCADOR SOCIAL .....................................................................................17 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................17 2 O EDUCADOR SOCIAL NO BRASIL: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS E DISCUSSÕES ATUAIS ...................................................................................................................17 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................30 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................32 TÓPICO 3 – A FORMAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL NO BRASIL ........................................33 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................33 2 EDUCADOR SOCIAL E O RECONHECIMENTO PROFISSIONAL ........................................33 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................52 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................58 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................60 UNIDADE 2 – ÉTICA, EDUCAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS ..................61 TÓPICO 1 – ÉTICA NO COTIDIANO, UMA REFLEXÃO PENSANDO NO OUTRO.............63 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................63 2 A GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS E A DE SER UM PROFISSIONAL ÉTICO ....63 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................74 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................76 TÓPICO 2 – EDUCAÇÃO E CIDADANIA E A CONSTRUÇÃO DO SABER ............................79 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................79 2 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSODA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA .................................................................................................................................80 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................93 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................95 Sumário VIII TÓPICO 3 – ÉTICA E POLÍTICA: PARÂMETROS DAS EXIGÊNCIAS DOS DIREITOS HUMANOS ...................................................................................................97 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................97 2 ÉTICA E SUAS RELAÇÕES ...............................................................................................................97 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................113 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................116 UNIDADE 3 – CONCEITOS, TEORIAS E TIPOLOGIAS DE VIOLÊNCIA, VIOLÊNCIA URBANA E SEUS REFLEXOS NA SOCIEDADE ATUAL .........117 TÓPICO 1 – CONCEITOS E FORMAS DE VIOLÊNCIA ..............................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 CONCEITOS, TEORIAS E TIPOLOGIAS DE VIOLÊNCIA .....................................................119 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................134 TÓPICO 2 – O CENÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA .................................................................135 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................135 2 A VIOLÊNCIA URBANA É UMA CARACTERÍSTICA DE TODA A SOCIEDADE BRASILEIRA ..............................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................151 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................153 TÓPICO 3 – VIOLÊNCIA E A EXCLUSÃO SOCIAL .....................................................................155 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................155 2 A VIOLÊNCIA COM UM FENÔMENOSOCIAL ENTRE A INCLUSÃO E A EXCLUSÃO SOCIAL .........................................................................................................................155 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................172 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................181 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................183 1 UNIDADE 1 O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o papel do educador social no processo de desenvolvimen- to humano na educação social no Brasil; • estudar as competências pedagógicas do educador social no país; • analisar funções e competências pedagógicas do educador social no con- texto brasileiro; • fundamentar a necessidade de uma formação consistente para o educa- dor social; • conhecer a formação do educador social no Brasil. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO TÓPICO 2 – A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO CONSISTENTE PARA O EDUCADOR SOCIAL TÓPICO 3 – A FORMAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL NO BRASIL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico será discutido o conceito de educador social e quais as competências pedagógicas do educador social no processo de desenvolvimento do ser humano, principalmente no que diz respeito à educação social no Brasil. Destacando primeiramente o conceito, o perfil do educador social e a importância de uma formação específica para esse profissional no contexto do mercado de trabalho na sociedade brasileira. Portanto, este tópico tem como objetivo apresentar a relevância desse profissional e sua contribuição no contexto de desenvolvimento humano e transformação social, possibilitando a você, caro acadêmico, perceber que a formação específica do educador social é de extrema importância, pois irá auxiliá- lo no processo de transformação dos indivíduos de determinado espaço social, ou seja, poderá ser um instrumento na sua prática profissional. O educador social, como profissional, pode contribuir para a construção de uma sociedade democrática, desenvolvendo sujeitos ativos que tenham uma identidade social própria e que estejam fortalecidos com o núcleo familiar e sociedade como um todo. Nesse sentido, o educador social é um agente transformador. Então, quem é o educador social? De acordo com as autoras Souza e Müller (2009, p. 29), pode-se conceituar o educador social como sendo: um personagem fundamental na cena composta da educação social ideal. Ele deve ser alguém que faça a diferença, que fique na memória dos meninos e meninas como alguém que acreditou, estimulou, apresentou caminhos, ensinou sobre coisas grandes e pequenas da vida, ensinou ou reacendeu a esperança, e ainda, generosamente, deu/recebeu afeto nessa relação. Outra ideia que queremos ressaltar é a de que o educador se faz sujeito. A pessoa torna-se ou converte-se em sujeito à medida que pode viver sua cultura, seus direitos e dar continuidade a sua história tanto coletiva como individualmente, agindo e pensando sua realidade, conquistando as condições necessárias para fazê-lo. UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 4 A condição de ser sujeito na vida, portanto, não pode ser dada simplesmente. Há de existir a vontade do recebimento dessa condição. Há de se estabelecer uma relação respeitosa entre quem deve oferecer a oportunidade e quem vai, se quiser, acolhê-la. É necessário, portanto, que o educador social seja hábil, conhecedor de estratégias que possam interferir no desejo da menina e do menino que se encontram sem esperanças, sem vontade, sem atitude positiva para um movimento a favor da vida, a favor de si mesmos. O educador precisa ter a fé inabalável nas crianças e adolescentes, na sua reação e capacidade de reverteruma situação. 2 O EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO Neste subtópico, pretende-se mostrar a você, acadêmico, quais são as competências pedagógicas do educador social no processo de desenvolvimento do ser humano na educação social no Brasil. FIGURA 1 – EDUCADOR SOCIAL FONTE: <https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/wp-content/uploads/2017/12/educador- social_credito-portal-vermelho.jpeg>. Acesso em: 20 jul. 2019. Nesse sentido, nos aprofundaremos, de modo específico, a respeito do conceito de educação social para a compreensão da educação não formal, e por intermédio da descrição do perfil e das competências pedagógicas do educador social pretender-se-á mostrar a importância de uma formação consistente e específica para esse profissional atuar na sociedade brasileira. Acadêmico, neste tópico aprofundaremos nossos estudos por meio de estudos bibliográficos realizados por diversos autores em relação à desigualdade sociocultural e socioeconômica que estão cada vez mais intensas na nossa sociedade. Assim, a educação social se torna uma ponte para combater os problemas gerados por essas desigualdades, construindo um elo entre a educação e a sociedade, visando à transformação do ser humano. De acordo com Trilla, Romans e Petrus (2003, p.170): O educador social se transforma muitas vezes no ponto de confluência das tensões vividas entre famílias e instituições, entre indivíduos TÓPICO 1 | AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 5 e grupos, entre o processo de melhoria e o de deterioração de um indivíduo que se estanca em seu processo de socialização. A lentidão em alcançar resultados, a escassez de recursos nas entidades, as mudanças de orientações no trabalho devido a determinações políticas, as limitações pessoais e da equipe, as dúvidas sobre se o que se faz é correto e vale a pena fazê-lo podem converter-se em um foco de contradições que dia a dia vão pesando no desempenho da profissão. Nesse sentido, é visível a relevância de inserir um profissional bem preparado no mercado de trabalho, de maneira teórica e prática, para que ele possa intervir em espaços de educação social. Contudo, percebemos a necessidade de uma formação específica e permanente que seja direcionada ao contexto da educação social, para que o educador social na sua atuação profissional seja o mais bem preparado para atuar nesses espaços de intervenções. Assim, a atuação do educador social é mais significativa, devido à amplitude de sua atuação profissional e, dessa maneira, teria as melhores condições pessoais e sociais de transformar a sua vida pessoal e profissional e da comunidade em que está intervindo. O educador social, como profissional, tem um perfil diferenciado perante o contexto que atua, pois ele apresenta uma visão crítica do meio social, buscando sempre estar atento às manifestações dos indivíduos para que possa ajudar as pessoas a formular e alcançar bons resultados. O educador social crê e age com as possibilidades que proporcionem a independência e autonomia do sujeito, transformando-o no principal agente de sua própria história pessoal. Desse modo, problematiza-se: como que o profissional, educador social, pode contribuir para o desenvolvimento do ser humano nos espaços socioeducativos? Vejamos! A sociedade cada vez mais está preocupada com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência, porém preocupa-se cada vez menos com as relações humanas e éticas. Contudo, existem grupos preocupados com a formação do ser humano como sujeito da sua história. Dentre os grupos, destacam-se: os abrigos, as ONGs, as instituições sociais, os centros comunitários, os espaços socioeducativos. Com isso, o educador social, como profissional, pode contribuir nesses espaços de modo geral na emancipação social, no sentido de construir uma sociedade democrática que permita a qualquer sujeito o desenvolvimento e a formação de uma própria identidade. Essa atuação do educador social precisa ser coerente com a realidade, proporcionando aos indivíduos novas experiências com a finalidade de estimular vínculos familiares e sociais, potencializando e descobrindo novos valores, fazendo com que adquiram e fortaleçam a sua autonomia e seu autoconhecimento. UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 6 Para chegar aos objetivos descritos anteriormente, ser coerente com a realidade, proporcionando aos indivíduos novas experiências com a finalidade de estimular vínculos familiares e sociais, potencializando e descobrindo novos valores, é necessário ter um conhecimento sobre o conceito de educação não formal. De acordo com Gohn (2010), deu-se através das diferentes realidades existentes de diversas atividades que eram interferidas por relações educativas, mas não eram classificadas como educação porque não seguiam a normatização, regulamentação e padrões comportamentais previamente definidos, mas a prática, na atuação comunitária e não comunitária, porém, construía diferentes formas de compreensão e socialização do processo ensino-aprendizagem, por ocorrer de maneira espontânea em ambientes informais. Nesse sentido, a educação não formal também é fonte de aprendizado significativo para a sociedade. Para Libâneo (1994), as escolas convencionais não são exclusivamente o único modo de expressão do método educativo, pois assim como o desenvolvimento da sociedade, é necessário um número maior de sujeitos que estejam participando ativamente das decisões que envolvam a comunidade. A sociedade necessita de técnicas educativas que sejam intencionais, que tenham objetivos que tratem de questões sociais explícitas, métodos, lugares, conteúdos e situações distintas de educação, visando proporcionar às pessoas uma participação ativa, crítica e consciente na vida coletiva e global. Caro acadêmico, você pode constatar que a educação não formal trata- se de atividades que possuem características de intencionalidade, mas que apresentam um baixo nível de sistematização e estruturação e que acabam implicando as correlações pedagógicas, mas de maneira não formalizadas. De acordo com Gohn (2010), a educação não formal é aquela que se adquire “no mundo da vida”, diante dos caminhos de partilhar experiências, especialmente com exercícios cotidianos. Pode-se perceber que o objetivo da educação não formal é buscar formar cidadãos capazes de olhar, conhecer, explicar o mundo a sua volta, que é parte do olhar, interesses e necessidades de cada indivíduo, para construir suas relações sociais que são capazes de transformar a realidade em que vivem. A educação não formal ultrapassa a capacitação das pessoas para atuarem no mercado de trabalho e na geração de renda, mas fazem parte dos interesses comuns que integram um processo de valorização que resgata a cidadania de uma comunidade. A educação não formal caracteriza-se principalmente por: ressaltar quem aprende e não ensina; flexibilidade e ênfase no que se refere à prática, e que estão vigorosamente relacionadas ao âmbito das pessoas que estão participando. Com isso, pode-se destacar que a educação não formal complementa e auxilia o processo dos outros campos educacionais. TÓPICO 1 | AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 7 Para Gohn (2010, p.26): Outra forma encontrada para descrever a educação não formal, com abordagem na mesma linha da educação social, são as propostas que a caracteriza como sinônimo de práticas educativas desenvolvidas junto a comunidades compostas por populações em situações de vulnerabilidade social ou algum tipo de exclusão social. É possível perceber que, dessa forma, sempre haverá uma troca entre a educação formal e não formal, e essas ações podem ser consolidadas por meio de diversas formas, como a arte, a música, a inclusão social, a educação e a cultura, e, nesse sentido, da educação não formal, existe o educadorsocial, um profissional que se torna o sujeito que interage com a sociedade. Para compreender melhor as diversas funções do educador social diante das definições anteriores, citamos Trilla, Romans e Petrus (2003), nas quais podemos identificar e caracterizar as diversas funções do educador social em meio interno, externo e as funções próprias que podem ser exercidas em ambos os meios. Para esses autores, as funções do meio externo são aquelas que partem de uma instituição interna, para o meio externo. As práticas educativas, nesse sentido, podem ser realizadas por meio de funções com a comunidade e ações para determinado indivíduo, comunidade e familiares que estão envolvidos nesse processo de educação. As atividades do educador social, nas instituições, são bastante dinâmicas, pois cada instituição tem objetivos, estilos, filosofias, públicos específicos e diferenciados, assim a atividade educativa passa a ser no ritmo de cada entidade. O educador social precisa se adaptar à cada realidade institucional. Diante das diferenças que são encontradas nas funções do educador social, tanto no meio externo como no meio interno, é de suma importância destacar algumas que são comuns em ambos, como a função de elaborar projetos educativos: estudos de atividades educativas e de integração social; inclusão dos familiares e dos indivíduos atendidos; atividades com a equipe da própria instituição; o envolvimento de equipes externas e entidades similares e, por fim, fazer a supervisão e acompanhamento dos resultados atingidos (TRILLA; ROMANS; PETRUS, 2003). O educador social tem sua atuação profissional no campo social ultrapassando o meio externo ou interno, mas, para Trilla, Romans e Petrus (2003), envolvem funções que estão relacionadas à gestão, divididas em dois aspectos: gestão própria da atividade educativa reproduzida e gestão de direção ou coordenação. As funções do educador social como profissional são direcionadas para equilibrar, coordenar, encaminhar, realizar acompanhamentos, avaliar resultados, gerenciar administrativa e economicamente a instituição e liderar os profissionais nas suas devidas responsabilidades e ações. UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 8 Por intermédio dessa perspectiva de compreender de modo geral as atividades desenvolvidas pelo educador social, Gohn (2010, p. 33) afirma que “devem também buscar desenhar cenários futuros; os diagnósticos servem para localizar o presente, mas também para estimular imagens e representações sobre o futuro”. Para que todas essas funções do educador social sejam realizadas, faz- se necessário um trabalho investigativo por parte da instituição, devem conter dados sociogeográficos e econômicos para uma compressão e entendimento da realidade local em que as ações serão praticadas para que sejam eficazes e que tragam realmente uma melhoria para todos os sujeitos envolvidos. Com tudo isso, compreendemos a importância do educador social em adquirir e desenvolver algumas competências pedagógicas pertinentes ao seu trabalho dentro de uma instituição, para que as mesmas funções citadas sejam realizadas de forma eficaz e cumpram seus objetivos. Para Mezzaroba (2008), o educador social precisa e deve ter a competência de intervir, refletir e avaliar. No Quadro 1, você pode avaliar cada uma das competências do educador social. QUADRO 1 – COMPETÊNCIAS DO EDUCADOR SOCIAL Intervir • Atuar diretamente na situação e dar uma resposta para as necessidades servindo de apoio para o caráter pedagógico, social, cultural, e recreativo aos sujeitos, equipes e comunidades compostos por ferramentas sociais, visando melhorar as condições de vida. • Contribuir na averiguação, estudos e avaliações de planejamento de progresso comunitário e social, no reconhecimento de dificuldades em preencher períodos livres e de ensinamentos sobre a preparação desse meio social. • Ter embasamento teórico e experiência prática e, dessa forma, proporcionar, progredir e apoiar atividades de caráter educativo, cultural e recreativo no preenchimento de períodos livres desde as crianças até os idosos. Refletir Instruir a comunidade sobre a necessidade de um trabalho em equipe e um esforço maior dos profissionais da instituição, para que as ações possam abranger de forma eficaz as necessidades do grupo. Informar, orientar e assessorar para que a comunidade, familiares ou indivíduo conheçam os serviços se recursos sociais disponibilizados aos seus interesses. Estimular e colaborar para atividades de caráter educativo por meio da prática de campanhas, cursos e construção familiar. Proporcionar, conforme as indicações estabelecidas à junção entre o mecanismo social, família e outras entidades, assim como funções da comunidade, incentivando e colaborando em programas, reuniões de progresso ou outras ações em crescimento a classe comunitária. TÓPICO 1 | AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 9 Avaliar Saber elaborar seu plano de trabalho, de acompanhamento, avaliação dos casos e, por fim, o papel de intervenção educativa refletindo suas ações e relações futuras. Refletir sobre sua própria prática, ou seja, conhecimento profissional e técnico de suas funções, o conhecimento oferecido a ele como educador e o saber se relacionar com o outro, que permitirá ao profissional a habilidade da interação necessária nas intervenções de cunho educativo e social. Promover a igualdade, o respeito entre todos os sujeitos ao seu redor, prestando a devida atenção para a necessidade de cada um, detectando e buscando resolução de situações de risco ou exclusão social, respeitando e protegendo os direitos desses sujeitos, a privacidade, a autonomia, prevenindo situações que possam trazer alguma forma de incentivo à exclusão e marginalização. FONTE: Adaptado de Mezzaroba (2008) Com isso, percebe-se que o educador social é um ator capaz de se tornar independente e conscientizar a comunidade na qual está inserido, por meio de sua habilidade de interação e orientação, pois ele tem autonomia de intervir junto à comunidade que está inserido. Por meio de sua habilidade de interação e de orientação, cabe a esse profissional intervir junto à comunidade com métodos e projetos de cunho educativo e social que lhes mostrem uma forma de vida alternativa. Com isso, o educador social procura viabilizar e orientar continuamente suas escolhas, resultando em mudanças e crescimento para a comunidade local. Logo, a atuação do Educador Social no mercado de trabalho é de gerar a igualdade, o respeito com todos os sujeitos do seu contexto, visando buscar a atenção devida para a necessidade de cada ser humano, respeitando sua individualidade, por meio do respeito e proteção dos direitos desses sujeitos, a privacidade e a autonomia. Nesse sentido, cabe ao educador social utilizar-se de sua experiência profissional como uma das formas para melhorar a qualidade de vida dos sujeitos, de suas famílias e da comunidade em situação de vulnerabilidade social, ou seja, a batalha contra a pobreza, mazelas e a luta pela justiça social igualitária. Mezzaroba (2008) enfatiza também que o educador social, como um profissional que busca a transformação social através de sua prática profissional em que está inserido, se diferencia por diferentes estilos na atual sociedade. Para ela, existem quatro tipos de educadores, são eles: QUADRO 2 – TIPOS DE EDUCADORES Educador resignado Centra-se nos aspectos pouco estimulantes de sua profissão; queixa-se de tudo, mas pouco trabalha para melhorar as coisas. Educador tecnicizado Excessivamente aplicador dos recursos; rigorosamente técnico, mas desvinculado do “social”. UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 10 Educador conformista Mero executor de suas atividades; sem excessivasesperanças e sem graves decepções. Educador crítico “Realista”, porém, não estranho a uma atitude proativa; otimizador; apoia alternativas inovadoras de melhora; destaca-se por sua atitude construtiva e otimista; sempre olha para frente; capta os desajustes e contribui para melhora do seu trabalho. FONTE: Adaptado de Mezzaroba (2008) Com o que foi apresentado até o presente momento neste primeiro tópico, é importante refletirmos se realmente a prática do educador social está comprometida com a profissão e se estamos preparados efetivamente para sermos agentes de transformação na vida dos usuários que atendemos. DICAS Depois do que abordamos, é fundamental refletirmos sobre a importância do papel do educador social e até onde se estabelece sua atuação profissional e pessoal nas diversas situações enfrentadas nas diferentes situações que enfrentamos no nosso cotidiano como sujeitos transformadores da realidade. O educador social é o profissional que tem um olhar diferenciado perante as circunstâncias que lhe são apresentadas, esse profissional possui a sensibilidade social em suas ações no dia a dia. Nesse sentido, é necessário ter a clareza de que o educador social e a família possuem papéis diferenciados no contexto geral, ambos têm como finalidade em comum o dever de contribuir com a educação de crianças e adolescentes. O educador social, muitas vezes, não consegue distinguir a sua ação e tomada de postura, separando o nível profissional do pessoal, acabando por si sendo negativo na construção do processo de autonomia, emancipação e de cidadania das famílias envolvidas em seu todo. Nesse sentido, é importante ressaltar mais uma vez que o educador social e a família têm significações, representações e contribuições diferenciadas na vida do educando, crianças e adolescentes. A relação de educando-educador não pode substituir, por exemplo, a relação pai-filho e mãe-filho, jamais pode ocupar um espaço na vida do educando que, por algum motivo emocional e psicológico transfere essa falta no núcleo familiar para a figura do educador social. No que diz respeito à relação ao papel da família na vida do educando, Pelzer (1998) afirma que: TÓPICO 1 | AS FUNÇÕES E COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS DO EDUCADOR SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 11 A família é a esfera íntima da existência que une por laços consanguíneos ou por afetividade os seres humanos[...]. É o ambiente imediato no qual os seres humanos exercem seus papéis e que lhes provê recursos essenciais necessários para facilitar o enfrentamento e ajustamento a condições internas e externas que estão em constante mudança (PELZER, 1998, p. 106). Com isso, afirma-se a importância de distinção entre os papéis na relação do educador social, educando e família. Sabe-se que é na família que deve se originar as possiblidades de representação de papéis, em que a criança e o adolescente consigam reconhecer as figuras de seus pais como tal e assim sucessivamente. Diante desse contexto, faz-se necessário realizar uma análise e uma reflexão sobre o tipo de relação que o educador social tem com o educando. Sabe-se que uma das suas competências é de intervir para o fortalecimento, empoderamento, promovendo a emancipação e a autonomia dos usuários que são atendidos e jamais criar vínculos de dependências nessa relação. É importante destacar algumas contribuições para a autoproteção do educador social. Você deve estar se perguntando: De que o educador social deve se proteger? IMPORTANT E Em nossa prática profissional, na difícil tarefa de lidar cotidianamente com problemas sociais se faz necessário intervir em questões pessoais. Nesse sentido, são apresentados alguns fatores como subsídio para auxiliar essa autoproteção. FIGURA 2 – FATORES DE SUBSÍDIO PARA AUXILAR A AUTOPROTEÇÃO Características individuais do Educador Social Apoio social externoApoio afetivo FONTE: Adaptado de Mezzaroba (2008) O apoio externo significa: a família, os colegas, os amigos, entre outros. Com isso, Mezzaroba (2008) sinaliza outras categorias ou comportamentos que auxiliam a manter a saúde mental do educador social. São eles: UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 12 QUADRO 3 – CATEGORIAS OU COMPORTAMENTOS QUE AUXILIAM A MANTER A SAÚDE MENTAL DO EDUCADOR SOCIAL Insight Hábito de fazer perguntas e dar respostas honestas. Independência Distanciamento físico e emocional enquanto satisfaz suas próprias demandas. Relacionamento Equilíbrio entre as próprias necessidades e a capacidade de dar/doar-se aos outros. FONTE: Adaptado de Mezzaroba (2008) Essas contribuições vêm auxiliando o educador social a conseguir lidar com a resiliência, ou seja, a capacidade de superar a adversidades, de resistir às frustações, de reagir e poder deixar o sofrimento para trás e ir além em prol de uma causa maior. Com isso, é evidente o educador social e a família possuírem papéis diferenciados no contexto geral, ambos têm como finalidade o dever de contribuir com a educação de crianças e adolescentes. Este tópico buscou oferecer o suporte teórico para os subsídios da prática dos educadores, no sentido de provocar reflexões inerentes à temática entre educadores sociais e promover muitos questionamentos e indagações em relação à efetividade da intervenção profissional, durante o exercício profissional. Assim, o educador social não poderá confundir-se com o papel da família no envolvimento de situações que transcorrem no cotidiano de seu educando. Para aprofundarmos os nossos conhecimentos sobre o tema proposto neste tópico, indicamos a leitura da obra a seguir, de Mari da Glória Gohn (2010). FIGURA – LIVRO DE MARI DA GLÓRIA GOHN DICAS FONTE:<https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/919nrHBhyvL._AC_UL320_ SR212,320_.jpg>. Acesso em: 27 set. 2019. 13 Neste tópico, você aprendeu que: • A desigualdade sociocultural e socioeconômica estão cada vez mais intensas na nossa sociedade. • A educação social se torna uma ponte para combater os problemas gerados por essas desigualdades. • Existe a necessidade de uma formação específica e permanente que seja direcionada ao contexto da educação social. • A atuação do educador social é mais significativa e, dessa maneira, teria as melhores condições pessoais e sociais de transformar a sua vida pessoal e profissional e da comunidade na qual está intervindo. • O educador social, como profissional, tem um perfil diferenciado perante o contexto que atua, pois ele apresenta uma visão crítica do meio social. • A sociedade cada vez mais está preocupada com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência, porém se preocupa cada vez menos com as relações humanas e éticas. • A atuação precisa ser coerente com a realidade, proporcionando aos indivíduos novas experiências com a finalidade de estimular vínculos familiares e sociais. • A educação não formal também é fonte de aprendizado significativo para a sociedade. • A sociedade necessita de técnicas educativas que sejam intencionais, que tenham objetivos que tratem de questões sociais explícitas, métodos, lugares, conteúdos e situações distintas de educação. • A educação não formal ultrapassa a capacitação das pessoas para atuarem no mercado de trabalho e na geração de renda, mas fazem parte dos interesses comuns que integram um processo de valorização que resgata a cidadania de uma comunidade. • As práticas educativas podem ser realizadas por meio de funções com a comunidade e ações para determinado indivíduo, comunidade e familiares que estão envolvidos nesse processo de educação. RESUMO DO TÓPICO 1 14 • As funções do educador social como profissional são direcionadas para equilibrar, coordenar, encaminhar, realizar acompanhamentos, avaliar resultados, gerenciar administrativa e economicamente a instituição e liderar os profissionais nas suas devidas responsabilidades e ações. • O educador social é um ator capaz de tornarindependente e conscientizar a comunidade na qual está inserido, por meio de sua habilidade de interação e orientação, pois ele tem autonomia de intervir junto à comunidade a qual está inserido. • O educador social é o profissional que tem um olhar diferenciado perante as circunstâncias que lhe são apresentadas, esse profissional possui a sensibilidade social em suas ações no dia a dia. • O educador social e a família possuem papéis diferenciados no contexto geral, ambos têm como finalidade em comum o dever de contribuir na educação de crianças e adolescentes. 15 1 De acordo com Magalhães (2011, p. 13), “por vezes, as atividades e o caráter dos serviços prestados pelas instituições suscitam dúvidas e indagações quanto à competência de ação dos seus profissionais e até mesmo quanto aos objetivos de determinada instituição”. Sobre os espaços institucionais, analise as afirmativas a seguir. I- A incompletude é uma propriedade inerente a qualquer instituição. II- O espaço institucional vinculado às políticas sociais reflete o contraditório da sociedade. As contradições aparecem não só nas relações socioprofissionais e nas interações de linguagem, mas também nos poderes — explícitos ou implícitos — que permeiam essas relações. III- Apenas nas instituições mais organizadas democraticamente é que não encontramos os micropoderes. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente as afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) Somente as afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) Somente a afirmativa II está correta. d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas. 2 Atualmente, a educação social está desenvolvendo e construindo seu próprio sistema independente de conceitos, mesmo que não esteja completamente delimitada em uma teoria única. O trabalho que está sendo realizado busca elementos normativos e descritivos de nossa prática profissional combinados com elementos da pedagogia, da psicologia, da sociologia, da antropologia, da filosofia etc. A prática de educadoras e educadores sociais implica, pois, a habilidade de educação social e caráter profissional, assim como os conhecimentos teóricos e práticos, métodos e instrumentos. O educador ou educadora social deve: • Estar familiarizado com as teorias educativas básicas mais reconhecidas e aceitas. • Ter capacidade para buscar e adquirir teorias e métodos educativos, psicológicos, sociológicos, antropológicos etc. relevantes e adequados e incluí-los em seu trabalho. • Ter a capacidade de adquirir e utilizar métodos adequados e reconhecidos no trabalho. Por exemplo: o trabalho em grupo. • Ser capaz de estabelecer as razões para as ações e atividades baseando-se em teorias e métodos reconhecidos. • Ter capacidade para contribuir com a geração de conhecimentos baseando- se em descrições reconhecidas e reflexões sobre a experiência do trabalho de educação social. FONTE: <http://aeessp.org.br/marcoconceitual.htm#4.2.6>. Acesso em: 20 jul. 2019. AUTOATIVIDADE 16 Diante da contextualização exposta, produza um texto de, no mínimo 10 linhas, conceituando e apontando exemplos que você conheça da prática profissional do educador social. 17 TÓPICO 2 A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO CONSISTENTE PARA O EDUCADOR SOCIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, o Tópico 2 tem o objetivo de apresentar e fundamentar a necessidade de uma formação consistente para o educador social no Brasil. A necessidade de uma formação consistente, para o educador social, é uma intervenção relacionada à teoria e prática, garantindo para toda população usuária, ou seja, o público com quem o educador social irá intervir, podendo ser: usuário das políticas públicas, de entidades não governamentais, entre outros, que conheça as políticas públicas e consiga acessá-las. A atuação do educador social acaba refletindo no que se refere às demandas da exclusão social. No cotidiano, o profissional educador social, independentemente de sua área de atuação, encontrará demandas relacionadas à cidade, ao meio ambiente, à saúde, à educação, à cultura etc., pois todo cidadão está inserido em um espaço de atuação profissional. 2 O EDUCADOR SOCIAL NO BRASIL: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS E DISCUSSÕES ATUAIS Chegamos ao segundo tópico desta unidade, que se refere à discussão complexa sobre a profissionalização do educador social como sujeito de transformação. No Brasil, atualmente tem surgindo discussões sobre a necessidade de uma formação específica para o educador social, e do reconhecimento profissional de sujeitos que atuam com processos socioeducativos nos mais diversos contextos. UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 18 FIGURA 3 – FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO EDUCADOR SOCIAL FONTE: <https://cdn.psicologado.com.br/images/2019/05/09/a-atuacao-do-psicologo-no- contexto-escolar.jpg>. Acesso em: 27 set. 2019. Este tópico será um breve histórico sobre a pedagogia social no Brasil, exaltando as suas relações com a educação popular. Outro aspecto a ser abordado são os apontamentos sobre a proposta de uma lei que foi aprovada em 2017 para o reconhecimento profissional do educador social. Por último, serão discutidos os aspectos referentes a uma formação específica do educador social, considerando exemplos de outros contextos, levando em consideração as peculiaridades do nosso país. No momento atual é importante compreender as discussões sobre a profissionalização do educador social, perante isso se faz necessário descrever o percurso histórico que a pedagogia social no Brasil teve enquanto área acadêmica e de formação profissional. Nessa trajetória da pedagogia social no Brasil, dois aspectos são relevantes: o primeiro é referente à íntima relação entre as discussões que essa pedagogia teve com a educação popular. O segundo é a atuação do educador social, que no contexto brasileiro já existe há muito tempo, porém foi reconhecido a pouco tempo com essa terminologia. Esse profissional, o educador social, não era reconhecido com características específicas, deveres e direitos garantidos. A terminologia Pedagogia Social aparece no país pela primeira vez relacionada à terminologia Educação Popular, “no início do século XX, as duas estavam atreladas a um contexto histórico em que não se tinha o acesso à escola, não sabiam ler e escrever” (RIBAS, 2010, p. 94). Logo após a Proclamação da República, nos primeiros anos do século vinte, o momento político em que o Brasil se encontrava enaltecia a necessidade de promover o desenvolvimento e a modernização da sua população, e teve como referência as nações Europeias e da América do Norte. Esse movimento teve influências que atingiram especificamente a educação, por meio da luta pela ampliação dos níveis de escolarização da população, além da preparação e profissionalização dos educadores para que estivessem preparados para atuar nesse processo. Esse era o momento em que estava sendo constituído o sistema educacional brasileiro. TÓPICO 2 | A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO 19 Para Saviani (2008, p. 317): Na Primeira República, a expressão “educação popular”, em consonância com o processo de implantação dos sistemas nacionais de ensino ocorrido ao longo do século XIX, encontrava-se associada à instrução elementar que se buscava generalizar para toda a população de cada país, mediante a implantação de escolas primárias. Coincidia, portanto, com o conceito de instrução pública. Esse era o caminho para erradicar o analfabetismo. Foi com esse entendimento que se desencadeou a mobilização pela implantação e expansão das escolas primárias, assim como as campanhas de alfabetização de adultos. Nessa mesma época apareceram as práticas de educação alternativas, que, para Brandão (2002, p. 143), surgiram em bairros operários de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Concretizavam-se em projetos de educação realizados por meio de escolas de trabalhadores paraoperários adultos e a filhos de operários, com escolas de fundamentos anarquistas, e algumas comunistas, criadas em bairros próximos às fábricas. Para esse autor, os operários militantes trouxeram para o Brasil o ideário da Escola Moderna. No período brasileiro, contextualizado por Brandão, “na Primeira República, aborda que muitos intelectuais defendiam a responsabilidade do Estado na escolarização de toda a população, considerando a educação um grande instrumento de participação política” (SAVIANI, 2008, p. 177). Na Primeira República aconteceu a criação da Associação Brasileira de Educação (ABE), no ano de 1924, passando a organizar a partir do ano de 1927 as Conferências Nacionais de Educação. Foi um espaço de congregação de ideias educacionais originais, e de um meio político de organização e lutas por legitimação de novas práticas educacionais, que fossem originais e também um meio político de organização e lutas por legitimação de novas ideias educativas. Diante desse movimento é possível visualizar os impactos do contexto social, político e econômico na educação brasileira, conforme Saviani (2008, p. 193): Caracterizado o contexto, parece claro que foi no clima de ebulição social característico da década de 1920 que, no campo educacional, emergiram, de um lado, as forças do movimento renovador impulsionado pelos ventos modernizantes do processo de industrialização e urbanização; de outro lado, a Igreja Católica procurou recuperar terreno organizando suas fileiras para travar a batalha pedagógica. Essas duas forças desempenharam um papel de relativa importância como dispositivos de sustentação do “Estado de compromisso”, concorrendo, cada um à sua maneira e independentemente de seus propósitos explícitos, para a realização do projeto de hegemonia da burguesia industrial. Perpassando os aspectos descritos por Saviani (2008), Xavier (1999, p. 22) tenta “compreender esse movimento de disputas entre intelectuais da educação do período, esse tinha como pano de fundo o processo de modernização, isso significava, na época, década de 1920, uma busca por uma identidade nacional, UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 20 em que a educação passou a ser o meio privilegiado, na crença de intelectuais voltados à educação, no qual conseguiria a unificação de toda a nação brasileira de uma nova maneira de educar”. Esse movimento em prol de uma nova maneira de educar passou a ser visto como uma “missão” (PÉCAUT, 1999, p. 15) “pelos intelectuais da área da educação, e procedeu na organização de um grupo que focou na reconstrução da educação brasileira a partir de percepções inovadoras”. Nesse contexto, é de suma importância conhecer e compreender as terminologias que serão analisadas neste tópico e que eram compreendidas na época, década de 1920, em estudo. Para Monarcha (1989, p. 17), “a proposta da Nova Escola traz uma compreensão de Educação Popular e uma organização de uma Pedagogia Social, significava uma tentativa de democratização do acesso das massas populares à educação, por isso se chamava popular, como também uma formação de uma sociedade sistemática por meio de uma pedagogia que atendesse essa demanda social”. Nesse sentido, Monarcha (1989) chama a atenção sobre a base positivista que se expressava nas teorizações e práticas dos intelectuais em questão, especialmente na defesa de uma pedagogia científica e experimental, sendo alguns mais explicitamente do que outros. Outra questão relevante é a base epistemológica que foi importante para a contribuição da formação da corrente da Escola Nova no Brasil, e que possuía suas bases na teoria de John Dewey, sendo assimilados principalmente por Anísio Teixeira. Defender a democracia e a ciência são os aspectos relevantes de John Dewey. John Dewey, professor e filósofo americano, defendeu a ideia de unir a teoria e a prática ao ensino. Foi um dos fundadores da escola filosófica de Pragmatismo, pioneiro em psicologia funcional e representante principal do movimento da educação progressiva. FIGURA – JOHN DEWEY IMPORTANT E FONTE: <https://andragogiabrasil.com.br/john-dewey/>. Acesso em: 27 set. 2019. TÓPICO 2 | A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO 21 Conectado ao conceito de educação popular surge a terminologia pedagogia social. Nas pesquisas realizadas por Monarcha (1989), estas indicam que quem utilizou o conceito de educação popular pela primeira vez foi Fernando Azevedo: Por meio de Fernando de Azevedo, estudamos também “que os povos se acomodam no interior das velhas estruturas, cabendo à pedagogia social fazer com que se liberem das amarras da tradição”. Essa tradição, para os pioneiros, não era peso morto que se prolongava pelo tempo; ao contrário, era força viva e atuante que agia no presente. Daí a necessidade de uma revolução cultural (MONARCHA, 1989, p. 21). A terminologia pedagogia social, que foi utilizada por Fernando de Azevedo, não tinha como objetivo indicar uma nova área do conhecimento, porém defendia que a educação pensada para a população brasileira deveria ser conscientizadora e proporcionar a transformação da realidade social. As terminologias da pedagogia social, com o passar dos anos, passaram por um processo de ressignificações. Nesse caso, a educação popular começa a ser discutida novamente na década de 1960 e a pedagogia social ressurge no início dos anos 2000. Segundo Saviani (2008, p. 317), foi na “primeira metade dos anos de 1960 que a concepção de Educação Popular sofreu modificações, admitindo outro significado”. Para o autor, essa educação popular emergente dos anos 1960 assume em seu entendimento uma preocupação com a participação política das massas com a tomada de consciência da realidade. Para Saviani (2008, p. 317), a educação passa a ser vista como um meio de conscientização “do povo, pelo povo e para povo”, repreendendo uma educação tradicional e compreendendo como uma “educação das elites, dos dirigentes e dominantes, para povo, a fim de controlá-lo e manipulá-lo adaptando a ordem existente”. Saviani (2008) justifica essa reelaboração do significado de educação popular por meio de uma série de acontecimentos que são sucedidos de diferentes públicos em resposta a uma realidade opressora vivenciada na época: O clima favorável a essa mobilização e a essa metamorfose conceitual foi propiciado pelas discussões e análises da realidade brasileira efetuadas no âmbito do ISEB e do CBPE; pelas reflexões desenvolvidas por pensadores cristãos e marxistas no pós-guerra europeu; e pelas mudanças que o espírito do Concílio Vaticano II tendia a introduzir na doutrina social da Igreja. As principais iniciativas que medraram nesse clima foram os Centros Populares de Cultura (CPCs), os Movimentos de Cultura Popular (MCPs) e o MEB. Apesar de suas diferenças e particularidades, esses movimentos tinham em comum o objetivo da transformação das estruturas sociais e, valorizando a cultura do povo como sendo a autêntica cultura nacional, identificavam-se com a visão ideológica nacionalista, advogando a libertação do país dos laços de dependência com o exterior (SAVIANI, 2008, p.317). UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 22 Diante desse contexto, Paiva (1986, p. 28) explica que as “mudanças que ocorreram na Igreja Católica resultaram em grande parte em ações católicas que estavam voltadas para a educação não escolar da população adulta, por meio do financiamento público”, ainda, segundo a autora, “reduziu a importância da disputa entre escola pública X escola privada” (PAIVA, 1986, p. 29). Outro fator que deve ser destacado foi que o viés optado pelo Movimento da Educação de Base (MEB) e dos desdobramentos das ideias e pensamentos que orientavam os jovens católicos naquele período permitiram uma aproximação dos princípios pedagógicos de renovaçãoescolar. Foi nesse contexto que a maioria das ações católicas viram na obra de Paulo Freire o grande respaldo e fundamento para ser colocado em prática. NOTA Nesse sentido, Brandão (2002, p. 145) explica que a “Educação Popular, a partir dos anos sessenta, teve no grande educador popular Paulo Freire o seu principal idealizador, como também nos movimentos de cultura popular, sendo a sua agência prioritária de criação de ideias e de realização de experiências”. Brandão (2002) chama a atenção para três pontos que mostram a complexidade da área de atuação do educador social, mas que acabaram contribuindo para sua compreensão. QUADRO 4 – COMPLEXIDADE DA EDUCAÇÃO POPULAR 1º ponto: relação ao seu espaço de germinação É o de uma ampla frente polissêmica de ideias e de ações, nunca tão política ou ideologicamente centralizada. Seria o lugar em que propostas e experiências de um também trabalho pedagógico, mas quase nunca formalmente escolar dirigido de maneira especial a pessoas adultas excluídas da escola quando crianças ou jovens, no campo e na cidade, tomou corpo em grêmios estudantis, emergências da Igreja Católica, junto a sindicatos e embriões de movimentos populares, e até dentro de estruturas do próprio Estado, como seria o caso da Campanha Nacional de Alfabetização abortada pelo Golpe Militar de 1964. Havia mesmo uma marcada intenção em comprometer o Governo Nacional com um novo modelo de educação. TÓPICO 2 | A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO 23 2º ponto: ampla e nunca unitária crítica de teor ideológico Nos anos sessenta se instaura dentro e fora das universidades uma ampla e nunca unitária crítica de teor ideológico dirigida à educação vigente, o perfil que se começa então a delinear é o de também ampla e difusa proposta nacional de cultura popular. O autor esclarece que estudantes secundaristas e, sobretudo universitários, ao lado de educadores acadêmicos e não acadêmicos, juntam-se a artistas, a militantes políticos e a outros intelectuais no afã de participarem de uma verdadeira mobilização em prol da crítica das condições sociais de produção cultural em vigência. É a partir deste movimento que o “popular” vem a ser atrelado a esta cultura. Seriam manifestações de uma nova cultura popular criada a partir dos encontros entre os intelectuais engajados e homens e mulheres trabalhadoras. 3º ponto: fundamentos ideológicos Os percursos pedagógicos e os objetivos imediatos ou em longo prazo dos trabalhos de cultura popular na educação, que nunca foram homogêneos. Segundo o autor, a crítica feita à educação era a deque ela nunca foi neutra e menos ainda o era na sociedade industrial e no modo de produção capitalista; de um modo ou de outro ela servia a interesses de classe. “Nada se aprende que não provenha de uma visão de mundo e não conduza a uma ideologia política, a uma ética devida, a uma visão de destino” (BRANDÃO, 2002, p. 148). FONTE: Adaptado de Brandão (2002, p. 148) Nas décadas de 1970, 1980, 1990, no período que vai da Ditadura Militar ao processo de redemocratização do país, discussões características foram surgindo, atrelando a educação popular a processos escolares. Para Streck (2006), a educação popular surgiu muitas vezes contra a educação formal, o autor enfatiza que era comum encontrar posicionamentos contra e a favor da possibilidade de uma autêntica educação popular dentro do sistema escolar “uma vez que o caráter controlador era visto como inerente à ordem institucional da qual a escola faz parte” (STRECK, 2006, p. 67). De acordo com Streck (2006), dois fatos que colaboraram como fundamentos dessas discussões foram: Paulo Freire assumir o cargo de Secretário Municipal de Educação na cidade de São Paulo na década de 1980 e a conquista do poder local por governos que assumiram a proposta de uma educação popular nesse mesmo momento de redemocratização do país. Desse modo, Streck (2006, p. 67) afirma que “a educação popular passou, assim, a aproximar-se do lugar onde se gera o discurso pedagógico hegemônico, com todas as vantagens e com todos os riscos”. Os argumentos de Streck (2006) contribuem para o entendimento de que a educação popular é uma terminologia atrelada a um conceito que continua em UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 24 movimentação constante, e que varia no decorrer dos anos, atendendo sempre às demandas que surgem por meio de uma conjuntura política, econômica e social. Nesse sentido, é possível constatar nas análises de Brandão (2002) e Streck (2006) que as mudanças recentes nas percepções e finalidades da educação popular provavelmente estariam fragilizando a área educacional. Diante dessa perspectiva, Brandão (2002) buscou retomar o sentido que deu a caraterística histórica da educação popular. Para Brandão (2002), são quatro pontos que a perspectiva da educação popular é inovadora perante as tradições pedagógicas. São eles: QUADRO 5 – PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO POPULAR X TRADIÇÕES PEDAGÓGICAS 1º ponto: é em relação ao mundo em que se vive Pode ser transformado continuamente em algo melhor, mais justo e humano. 2º ponto: respeito a esta constante mudança É um direito e dever de todas as pessoas que devem sentir-se partícipes desse contexto. 3º ponto: finalidade da educação Cabe a ela formar as pessoas para que possam sentir-se e identificar-se como coconstrutoras do mundo em que vivem. 4º ponto: relaciona-se à cultura e o poder Para que sejam pensados por todas as pessoas, tornando- as conscientes de sua condição, de seus saberes e de seus projetos sociais. FONTE: Adaptado de Brandão (2002, p. 169) Você, acadêmico, deve estar se perguntando: o que é educação popular hoje? Vejamos! Para Brandão (2002), a resposta para essa pergunta é: [...] quais as educações disponíveis para crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos reconhecidos como de algum modo pertencentes a “classes”, “camadas”, “segmentos” ou “culturas” populares hoje, no Brasil? E quero chamar a atenção para o fato de que “popular” não precisa ser tomado aqui como um adjetivo de teor ideológico, no mais das vezes associado a alguma “política de esquerda”. O próximo censo do IBGE haverá de nos demonstrar que entre mendigos confessos (se é que o censo os ouve), desempregados crônicos, famílias abaixo do nível social da pobreza, segundo critérios da ONU, trabalhadores submetidos a um dos mais baixos salários mínimos do Continente, as pessoas populares somam cerca de dois terços de quem somos: as e os brasileiros. O fato de que algumas revistas de elite prefiram tratá-los como a faixa nível “C” ou “D” da população brasileira, pouco significa, no caso, principalmente se levarmos em conta o fato de que quem assim pensa e classifica os outros está na “faixa A”. Pois bem, de que “educações” pode ou deve participar esta imensa maioria de pessoas? (BRANDÃO, 2002, p. 170). Diante do seu questionamento, em querer saber o que é a educação popular hoje, Brandão (2002) afirma ainda que, nos dias de hoje, essa “classe popular” pode participar da educação formal, ou seja, a educação oferecida nas TÓPICO 2 | A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO 25 escolas públicas, oferecida nas redes municipais, estaduais e até federais. Existe também uma educação que é oferecida por instituições conveniadas, como exemplo, isso ocorre quando uma escola é mantida por recursos públicos e com recursos e trabalhos civis, particulares, empresariais ou de Organizações Não Governamentais (ONGs). A população envolvida pode participar de diferentes tipos de treinamentos, por meio de qualificação profissional ou de formação pessoal. Normalmente, esses tipos de treinamentos ocorrem nas instituições patronais, como o Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI). Brandão (2002) afirma que no Brasil são muitos os casos, concluindo que essas pessoas conseguem, com isso, participar de muitas experiências pedagógicas quesão oferecidas pelas instituições civis, tanto no âmbito dos governos municipais e estaduais. As propostas do trabalho cultural por meio dessa forma de educação incluem, de modo geral, palavras, expressões e ideias centradas na educação popular. Identifica-se que esses assuntos, quando são evidenciados, tornam-se considerados como educação popular. Atualmente, essas pressuposições são debatidas pelos autores Moura, Neto e Silva (2009), ao tentarem definir a “Cara da Pedagogia no Brasil”. Surge, atualmente, com o novo contexto econômico, social e político e educacional brasileiro uma relação pedagógica e idearia entre Educação Popular e Pedagogia Social. IMPORTANT E A pedagogia social, por meio de um próprio movimento de legitimação, vai em busca de um reconhecimento enquanto área de formação profissional, acadêmica e de pesquisa, no que diz respeito às questões pedagógicas tradicionais no país. Streck (2006) assegura que após o período de Ditadura Militar no Brasil, aconteceu uma configuração diferente da educação formal e não formal no Brasil, em que essa divisão específica, entre ambas, foi deixada de lado. Essas diferenças podem estar relacionas a algumas propostas proporcionadas pela pedagogia social, que aparece como uma nova alternativa na área da educação, e, com isso, não admite a divisão da educação formal, informal e não formal. A Ciência da Educação, diante dessa nova perspectiva, acaba sendo dividida entre Pedagogia Escolar e Pedagogia Social. O educador social passa UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 26 a perceber que a educação popular não está mais centralizada e restrita apenas aos sindicatos, às igrejas, às entidades e aos grupos com objetivo alternativo e popular. A educação popular passa a ser incorporada ao fluxo da política e da pedagogia em sua totalidade. Com isso, pode-se afirmar que a pedagogia social, por meio de suas finalidades, começa a atender a essas demandas, e é possível perceber que ela surge com as novas práticas políticas pedagógicas. Ainda citando Streck (2006), faz-se necessário perceber que esse autor destaca uma nova identidade por meio da refundamentação ou refundação da educação popular, com a busca de uma linguagem que venha de encontro às novas realidades, sendo uma ponte entre a pedagogia social, que com suas propostas começa a ser identificada com a educação popular. O autor citado anteriormente identifica a volta da conotação da termologia educação popular como sendo uma educação pública e que seja para todos. Atualmente, as políticas públicas relacionam essa demanda às perspectivas educacionais em tempo integral, com isso integra-se também a pedagogia social (STRECK, 2006). Vista como um processo de democratização do acesso ao ensino de forma que o sujeito envolvido consiga realizar outras habilidades, essa nova perspectiva educacional de tempo integral segue o caminho fundamentado em uma nova postura de educação para toda população, estando fundamentada em novos princípios. Tanto a educação popular como a pedagogia social seguem e se integram com essas novas discussões. Ao finalizar toda essa argumentação, Streck (2006) destaca que a educação popular não fica apenas restrita aos grupos pobres da população, mas envolve todos. Essa afirmação está fundamentada como os princípios da pedagogia social, pois a ênfase dos discursos que envolve outros países e o Brasil são voltadas para práticas educativas que estão vinculadas a demandas sociais e as camadas populares. Paulo Freire, em sua obra Pedagogia do Oprimido (1978), defende que é por meio da comunhão entre homens e de sua conscientização crítica da realidade que o oprimido deixa de ser oprimido e opressor deixa de ser opressor. IMPORTANT E No Brasil, vem crescendo cada vez mais as práticas educativas que são voltadas e desenvolvidas em diversos espaços públicos e não governamentais, por exemplo, podemos citar: o Centro de Referência de Assistência Social TÓPICO 2 | A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO 27 (CRAS), o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), as casas de acolhimentos e de passagem, os programas e projetos com idosos, as Organizações Não Governamentais (ONGs), que acontece nos hospitais, nos centros de ressocialização, nos presídios e penitenciárias e nos diversos movimentos sociais e muitos outros. Com toda essa variedade de práticas educativas é necessária a existência de profissionais responsáveis. Na maioria das vezes, levam a demonização de “educadores”, porém acabam recebendo outras denominações, como agentes sociais, arte educadores, animadores culturais, educadores sociais, entre outros. Esses educadores possuem os mais diversos níveis de formação e de conhecimento, com distintos interesses em suas práticas. Diante dessa realidade, encontram-se muitos voluntários, que por uma determinada vocação ou para realizar uma boa ação acabam se envolvendo com essa demanda educacional, além de existirem os funcionários contratados, os efetivos e os indicados politicamente. Nesse sentido, surge o questionamento: quem são esses profissionais? Quais seriam suas formações? Já que todas essas práticas são consideradas como educação social e este passa a usar o adjetivo “social”. De acordo com Oña (2005, p.2), o profissional educador social: [...] é uma pessoa capacitada para desenvolver duas funções: por um lado, deve elaborar uma crítica e uma transformação dos valores educacionais e da estrutura da sociedade e por outro, deve intervir com sujeitos e ajudá-los a potencializar seus fatores pessoais de desenvolvimento, capacitando-os socialmente para: desenvolvimento de autoestima, autoconhecimento, habilidades sociais, consciência crítica etc., a fim de facilitar as condições objetivas da pessoa com o seu meio [...]. O Educador Social é o mediador entre o educando, a sociedade e acultura. Oliveira (2004) destaca a importância que os educadores possuem ao desenvolverem suas práticas fundamentadas na teoria freiriana, em que são conhecidos e chamados de educadores populares, e, desde a década de 1960, atuam com comunidades por meio de práticas culturais e processos voltados à emancipação e transformação social. Para Paiva (2011) e Ribas (2010), a necessidade do reconhecimento profissional e a formação específica para esses chamados educadores sociais devem possuir fundamentos freirianos, usando como exemplo as práticas desenvolvidas pela educação popular. Com isso, pode-se afirmar que o grande desafio colocado para esses trabalhadores é o reconhecimento como profissional e da própria profissão, sendo que o número de sujeitos que estão envolvidos nesses processos é considerado alto, nos mais diversos grupos e classes sociais. UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS 28 Outro aspecto que é importante considerar é que a existência de um profissional educador social no Brasil pode contribuir com as atividades e com trabalho que vem sendo desenvolvido nas áreas de Assistência Social, da Psicologia e da Pedagogia. Essa profissão não se torna uma concorrência aos profissionais mencionados, e sim devem ser considerados um especialista nesse processo de educação das pessoas com suas diferentes necessidades. Diante disso, destaca-se que a profissão do educador social no Brasil, cada vez mais é uma necessidade, porém é uma área muito complexa. No Ministério do Trabalho e Emprego, através do documento: Classificação Brasileira de Ocupações (COB), de 2002, no seu código n° 5.153, declara os profissionais de atenção e defesa das pessoas em situação de risco, incluindo os educadores sociais nesta categoria profissional. Para Gohn (2010), esse documento tem a função e atribuições, assinalando que o acesso a essa ocupação é livre e sem necessidadesde requisitos escolares. Para saber mais sobre o documento COB, você pode acessar este link: http:// www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf. DICAS Cabe ao educador social, em sua atuação prática, dinamizar e construir um modelo participativo com qualidade através de metodologias que supõem fundamentos teóricos e ações práticas. Nesse sentido, sua atuação profissional deve ser fundamentada em princípios, métodos e metodologia de trabalho, a pedagogia social deve substituir essas práticas socioeducativas através do embasamento teórico, pois esse profissional atua nos marcos de uma proposta socioeducativa, de construção de saberes a partir das culturas locais (GOHN, 2010). TÓPICO 2 | A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO 29 FIGURA – PEDAGOGIA DO OPRIMIDO DICAS FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51k5kvkE%2BZL.jpg>. Acesso em: 27 set. 2019. O autor propõe um método abrangente, pelo qual a palavra ajuda o homem a tornar-se homem. Assim, a linguagem passa a ser cultura. Através da decodificação da palavra, o alfabetizando vai-se descobrindo como homem, sujeito de todo o processo histórico. O método de Paulo Freire não possui qualquer atitude paternalista em relação ao analfabeto. Ele aplica pela primeira vez no campo da pedagogia as palavras Conscientização/ Conscientizar, que em seu conteúdo vernacular específico se incluem no vocabulário de idiomas como o francês e o alemão, tidos como acabados e, em consequência, totalmente infensos à aceitação de neologismos. Quando o Brasil aceita o grande desafio do desenvolvimento, nada mais necessário que atentar para seu processo de civilização. O livro é um rumo neste caminho, pois não é possível supor êxitos no campo econômico, sem o alicerce de um povo que se educa para civilizar-se. Vale a pena a leitura! 30 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • No Brasil, atualmente, tem surgido discussões sobre a necessidade de uma formação específica. • É importante compreender as discussões sobre a profissionalização do educador social, perante isso se faz necessário descrever o percurso histórico que a pedagogia social no Brasil teve enquanto área acadêmica e de formação profissional. • A terminologia pedagogia social aparece no país pela primeira vez relacionada à terminologia educação popular, no início do século XX. • Em 1924, aconteceu a criação da Associação Brasileira de Educação (ABE), passando a organizar, a partir do ano de 1927, as Conferências Nacionais de Educação. • A Escola Nova no Brasil possuía suas bases na teoria de John Dewey, sendo assimilados principalmente por Anísio Teixeira. • Conectado ao conceito de educação popular surge a terminologia pedagogia social. • A terminologia pedagogia social, que foi utilizada por Fernando de Azevedo, não tinha como objetivo indicar uma nova área do conhecimento, porém defendia que a educação pensada para a população brasileira deveria ser conscientizadora e proporcionar a transformação da realidade social. • A educação passa a ser vista como um meio de conscientização “do povo, pelo povo e para povo”. • A educação popular, a partir dos anos 1960, teve no grande educador popular Paulo Freire o seu principal idealizador, como também nos movimentos de cultura popular, sendo a sua agência prioritária de criação de ideias e de realização de experiências. • Educação popular é uma terminologia atrelada a um conceito que continua em movimentação constante, e que varia no decorrer dos anos, atendendo sempre às demandas que surgem através de uma conjuntura política, econômica e social. • Nos dias de hoje, essa “classe popular” pode participar da educação formal, ou seja, a educação oferecida nas escolas públicas, oferecidas nas redes municipais, estaduais e até federais. 31 • A pedagogia social, através de um próprio movimento de legitimação, vai em busca de um reconhecimento enquanto área de formação profissional, acadêmica e de pesquisa, no que diz respeito às questões pedagógicas tradicionais no país. • As Ciências da Educação acabam sendo divididas entre pedagogia escolar e pedagogia social. • No Brasil, vem crescendo cada vez mais as práticas educativas que são voltadas e desenvolvidas em diversos espaços públicos e não governamentais. • O grande desafio colocado para os educadores sociais é o reconhecimento como profissional e da própria profissão, sendo que o número de sujeitos que estão envolvidos nesses processos é considerado alto, nos mais diversos grupos e classes sociais. • Em 24 de abril de 2019, foi aprovado o Projeto de Lei do Senado n° 328, de 2015, que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Educadora e Educador Social. 32 1 O pensamento pedagógico de Paulo Freire parte de alguns princípios que marcam, de forma clara e objetiva, o seu modo de entender o ato educativo. Considerando as características do pensamento desse autor, analise as afirmações que seguem. I- Ensinar é um ato que envolve a reflexão sobre a própria prática. II- Modificar a cultura originária é parte do processo educativo. III- Superar a consciência ingênua é tarefa da ação educativa. IV- Educar é um ato que acontece em todos os espaços da vida. V- Educar é transmitir o conhecimento erudito e universalmente reconhecido. De acordo com o pensamento de Paulo Freire, quais afirmações estão CORRETAS? a) ( ) I e II. b) ( ) II e V. c) ( ) I, III e IV. d) ( ) I, IV e V. e) ( ) I, II, III e IV. 2 A educação popular atualmente vem ganhando destaque perante as perspectivas prática pedagógica e teoria da educação, com a concepção para a contribuição do pensamento pedagógico universal. A sua contribuição para a sociedade é vista de forma positiva na construção de novas maneiras de fazer política, de pensar e de construir a democracia, dessa forma potencializa a formação humana. Perante esse contexto, o que significa para você a educação popular? Escreva um texto com o mínimo de 10 linhas acercado que você compreendeu sobre os conceitos de educação popular. AUTOATIVIDADE 33 TÓPICO 3 A FORMAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL NO BRASIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, o terceiro tópico tem o objetivo de apresentar a você quais são as perspectivas da formação profissional do educador social no Brasil. Neste tópico, será apresentada a legislação que foi aprovada e que regulamenta a profissão do educador social no país, sendo esse um marco de referência para esse profissional na sociedade brasileira. O percurso realizado para o reconhecimento profissional, educador social, no Brasil, vem de um longo espaço de tempo, pois procurou-se a consolidação de um trabalho que na prática, em muitos casos, era visto como uma ação voluntária ou para pessoas desocupadas. Ganhando espaço no meio acadêmico, nas chamadas ciências da educação, a educação social se fortaleceu e ficou visível no âmbito social, através dos importantes debates, congressos e produções acadêmicas, além da aproximação com as organizações e entidades sociais. 2 EDUCADOR SOCIAL E O RECONHECIMENTO PROFISSIONAL Então, caro acadêmico, o que é ser educador social? Quais são suas competências e atividades profissionais? Seria um profissional da área da educação? O que diz a legislação sobre essa atividade profissional? O que está escrito na LDBEN nº 9.394/96? Com certeza esses questionamentos estão sendo constantes no decorrer de seus estudos. 34 UNIDADE 1 | O EDUCADOR SOCIAL NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E SUAS COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS FIGURA 4 – A FORMAÇÃO DO EDUCADOR SOCIAL FONTE: <https://editalconcursosbrasil.com.br/wp-content/uploads/2019/05/o-que-faz-um- educador-social-287x189.jpg>. Acesso em: 27 set. 2019. Neste tópico, serão apresentadas as características psicofísicas, ou seja, as qualidades e habilidades fundamentais para ser um educador social e estar preparado para o mercado de trabalho. Iniciamos com a suposição de que as qualidades que
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