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TEORIA DO TREINAMENTO DESPORTIVO Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autor: Tiago Contesini Vinotti CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Antônio José Müller Revisão Gramatical: Profa. Camila Thaisa Alves Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 613.7 V788t Vinotti, Tiago Contesini Teoria do treinamento desportivo / Tiago Contesini Vinotti. Indaial : Uniasselvi, 2012. 116 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-583-3 Ebook 978-85-7141-197-5 1. Educação física – treino. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Tiago Contesini Vinotti Graduado em Educação Física pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Especialista em Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho (UGF), em que apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Periodização em Futebol na Categoria Juniores Masculino”. Mestre em Educação pela FURB, na sua pesquisa de mestrado buscou compreender a relação da educação física com o processo de alfabetização. Atualmente é professor da rede estadual de ensino de Santa Catarina e professores da rede municipal de ensino em Brusque-SC. Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo ........................ 9 CAPÍTULO 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos ............. 25 CAPÍTULO 3 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo ................................................ 37 CAPÍTULO 4 Tendências Atuais do Treinamento de Força, Velocidade, Flexibilidade e Resistência ............................ 55 CAPÍTULO 5 Periodização ........................................................................ 85 CAPÍTULO 6 Ciclo de Supercompensação ............................................ 107 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Você já parou para pensar sobre o treinamento desportivo? Pois bem, iremos iniciar os nossos estudos compreendo as teorias que circundam o Treinamento esportivo, portanto é de suma importância que você estude e entenda o que será abordado nessa disciplina. Para este caderno de estudos, procuramos buscar as informações com autores que possuem referências no estudo do Treinamento Desportivo. Porém, cada autor tem seu modo de visão em determinadas situações. O que apresentamos também está colocado de forma mais resumida, o que faz com que busquemos em outras literaturas, ou nas aqui utilizadas, maiores informações. Então, no primeiro capítulo, abordaremos os fundamentos do Treinamento Desportivo, apresentando conceitos, a evolução e os objetivos do treinamento. O capítulo seguinte tratará da classificação das habilidades e dos desportos, tendo em vista a necessidade de sabermos como são classificadas as modalidades na qual estamos envolvidos no treinamento. No terceiro capítulo, apresentaremos os métodos tradicionais e modernos de organização do Treinamento Desportivo, com a finalidade de aplicá-los com segurança ao contexto dos atletas. No capítulo quatro, analisaremos as tendências atuais para o treinamento da força, da velocidade, da flexibilidade e da resistência. No quinto capítulo, estudaremos a respeito da periodização e de como um treinamento pode ser dividido durante uma temporada. No último capítulo, abordaremos o ciclo de supercompensação e suas implicações no treinamento. Bons Estudos! O autor. CAPÍTULO 1 Fundamentos do Treinamento Desportivo A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Identificar os conceitos, a evolução e os objetivos do Treinamento Desportivo. 3 Analisar os conceitos, a evolução e os objetivos inerentes ao Treinamento. 10 Teoria do Treinamento Desportivo 11 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 Contextualização Neste capítulo, temos como objetivos centrais identificar os conceitos, a evolução e os objetivos do Treinamento Desportivo e analisar os conceitos, a evolução e os objetivos inerentes ao Treinamento. Com isso, podemos identificar os mais variados conceitos presentes no Treinamento Desportivo, através de diferentes autores. Estaremos aptos também para analisarmos a evolução dos métodos de treinamento, que a cada ano, ou no alto nível para cada Ciclo Olímpico, sofre significativas transformações, com diferentes métodos. Identificaremos, também, os mais variados objetivos do Treinamento Desportivo, cada qual com sua especificidade, mas que, em um conjunto, são interdependentes. Para uma compreensão do que é Ciclo Olímpico, Platonov (2004) argumenta que o fato de que a estrutura da preparação plurianual dos desportistas de elite destaca os ciclos de quatro anos, o que se deve à necessidade de organizar uma preparação gradual para os Jogos Olímpicos. Nesse caso, os objetivos e o conteúdo de cada etapa anual do macrociclo estão relacionados com a execução de objetivos intermediários pré-determinados pelo objetivo da preparação dos desportistas para as competições principais do quadriênio O estudo do Treinamento Desportivo é importante para que possamos preparar os atletas da maneira mais correta, a fim de alcançar os objetivos em cada competição, atingir os níveis elevados de preparação física e saber dosar as cargas de treinamento, evitando as lesões. Conceitos O Treinamento Desportivo se constitui como parte fundamental para se explicar e compreender o avanço do desporto. Diversos resultados obtidos pelos atletas são consequência de horas de treinamentos, de sofisticados programas e sistemas de treinamento a que são submetidos com a supervisão do técnico ou preparador físico. 12 Teoria do Treinamento Desportivo De acordo com Granell e Cervera (2003, p.9), A teoria do treinamento em âmbito científico tem se convertido em uma disciplina em torno da qual os mais qualificados cientistas e técnicos desportivos têm descoberto novas formas de trabalho, as quais favorecem o progresso no campo da excelência motora, como ocorre no desporto de competição. Essas novas formas de trabalho podem ser usadas em outros níveis de treinamentos, cada qual com sua especificidade. Tomemos como exemplo, a Fórmula 1. Em diversos comerciais que assistimos, há uma relação entre o carro de corrida e o carro que usamos para passeio, como testes com combustíveis, a aerodinâmica utilizada ou mesmo em peças que compõem os veículos. Dessa forma, Granell e Cervera (2003, p. 09) afirmam que “os avanços produzidos no treinamento dos desportistas de elite terminam sendo aplicados mais tarde no desporto recreativo, no desporto voltado à saúde e no domínio da aprendizagem ou da educação”. Nesse sentido, a prática desportiva se torna um laboratório, colocando em prática teorias científicas das mais diversas áreas, como a Fisiologia, necessária para o controle das funções metabólicas dos atletas; a Medicina, fundamental para o apontamento de lesões; e a Psicologia, essencial para o preparo mental do atleta, alertando-o sobre as diversas pressões a que ele estará submetido. Há também que se levar em contauma diferença entre dois termos utilizados no âmbito do Treinamento Desportivo. Um deles é a respeito da preparação do desportista e o outro é o treinamento desportivo propriamente dito. Para isso, Matveiev (1985, apud GRANELL e CERVERA, 2003, p. 9), definiu a preparação do desportista como um processo formado de várias facetas, com uma utilização racional de diversos fatores, entre eles os meios, os métodos e as condições. Esses fatores permitem uma interferência direta sobre o crescimento do atleta e garantem uma alta disposição para alcançar as marcas desejadas. A preparação do atleta, como processo sistemático, inclui os seguintes componentes: 1º O treinamento desportivo; 2º A competição; e 3º Os fatores complementares ao treinamento com capacidade de intensificar seu efeito ou acelerar os processos A prática desportiva se torna um laboratório, colocando em prática teorias científicas das mais diversas áreas, como a Fisiologia, necessária para o controle das funções metabólicas dos atletas; a Medicina, fundamental para o apontamento de lesões; e a Psicologia, essencial para o preparo mental do atleta. 13 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 de restauração após as cargas (MATVEIEV, 1985 apud GRANELL e CERVERA, 2003, p. 10). O treinamento desportivo representa uma estrutura especialmente montada na preparação do atleta. É basicamente fundamentada em exercícios sistemáticos, voltados a um processo pedagógico de preparação do atleta, buscando a sua evolução e o aperfeiçoamento. Os traços mais decisivos são os seguintes: 1º O treinamento desportivo representa um processo didaticamente organizado que se caracteriza por aplicar de maneira rigorosa todas as formas do processo de ensino, educação e autoeducação. 2º A base do treinamento é constituída por um sistema metodológico para a aplicação dos exercícios físicos, com o objetivo de atingir o maior efeito possível de desenvolvimento (MATVEIEV, 1985 apud GRANELL e CERVERA, 2003, p. 10). Outros conceitos também fazem parte do treinamento desportivo. Um deles é a cultura física. Ela pode ser representada como parte da cultura do homem voltada inteiramente para o físico. Parte para a obtenção de um aperfeiçoamento físico, passando pela estética corporal humana, tão difundida pelo culto ao corpo perfeito. Dentro do conceito de cultura física, podemos inserir a Educação Física e a Preparação Física. A Educação Física pode ser entendida como uma educação cujo objetivo é alcançar um nível de desenvolvimento físico. Para se alcançar esse nível, são necessários alguns fatores, como o nível de vida que o indivíduo tem na sociedade, o acesso às práticas, a propaganda que se faz em cima da atividade física, as condições das praças esportivas e dos materiais utilizados e as tradições implícitas na sociedade. A Preparação Física seria a especificidade da Educação Física com uma orientação mais especializada e elaborada sobre determinada atividade. A Educação Física pode ser entendida como uma educação cujo objetivo é alcançar um nível de desenvolvimento físico. 14 Teoria do Treinamento Desportivo Faz parte da preparação de diversas atividades, das mais variadas, como policiais, bombeiros e, principalmente, atletas. Quanto maior o nível de preparação física do atleta, mais ele estará preparado. O Esporte O esporte, em síntese, pode ser definido como uma cultura ao corpo, sob a forma competitiva e regulamentada das atividades físicas. O esporte decorre de uma prática intencional, metódica, através de exercícios físicos, relacionando-se com atividades de tempo livre, como, por exemplo, os atletas de final de semana e com objetivos competitivos, respeitando as regras de cada modalidade. Zakharov e Gomes (2003) dividem o esporte em grupos. No grupo 1 estão as modalidades complexas de coordenação, pois são as que exigem expressividade estética e artística, como a ginástica artística, nado sincronizado, patinação artística, saltos ornamentais, ginástica rítmica desportiva. No grupo 2 estão as modalidades de força e de velocidade, pois são de caráter acíclico, com medidas exatas de deslocamento, como os saltos do atletismo, arremessos e halterofilismo. No grupo 3 estão as modalidades de tiro, em que a atividade motora é pequena, como arco e flecha, tiro com pistola e dardo. No grupo 4 estão as modalidades de condução, que são ligadas à direção de meios de condução, como as corridas de automóvel, motocicletas, vela e hipismo. No grupo 5 estão as modalidades cíclicas, que tem como característica a resistência, como as corridas no atletismo, ciclismo, natação, remo, esqui, patinação e triatlon. No grupo 6 estão os jogos desportivos, como futebol, voleibol, basquetebol, tênis, handebol, hóquei, entre outros. No grupo 7 estão os combates, com características de contatos, golpes, como luta Greco-romana, judô, karatê, boxe, esgrima, jiu-jitsu. No grupo 8 estão as provas combinadas, com várias modalidades reunidas, como o pentatlo moderno, decatlo, atletismo. Após a identificação e análise dos conceitos que são a base do conhecimento para um profissional de Educação Física, na próxima seção abordaremos os aspectos da evolução do Treinamento Desportivo. Atividade de Estudos: 1) Agora que você já leu sobre Treinamento Desportivo e baseado nos seus saberes, crie o seu conceito sobre essa área do conhecimento. ____________________________________________________ ____________________________________________________ 15 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 A Evolução do Treinamento Desportivo A preparação e o planejamento de treinamentos não é exclusividade apenas dos tempos modernos. Na antiguidade grega, algumas formas e modelos de periodização já eram aplicados para melhorar o condicionamento físico dos atletas, principalmente os que participavam dos Jogos Olímpicos. De acordo com Granell e Cervera (2003, p. 30), Naquela época, o treinamento já era organizado em ciclos. O mais característico era o denominado tetra, o plano de quatro dias que viria a ser um exemplo do que, atualmente, entendemos como microciclo, o qual introduziu as primeiras formas de alternância das cargas de treinamento (grifos do autor). Nesse sistema de treinamento, no primeiro dia era realizado um trabalho suave de preparação. No segundo dia, o treinamento entrava numa fase de alta intensidade. No terceiro dia, eram realizados treinamentos suaves ou se tirava o dia para descansar. Por fim, no quarto dia, era realizado um treinamento de média intensidade. Porém, em virtude dos escassos registros, a antiguidade grega pode não ser a ideal para estudos. As mais significativas inovações no campo do treinamento iniciaram a partir dos Jogos Olímpicos da Modernidade, no ano de 1896. Juntamente com os jogos da Era Moderna, houve uma evolução no cenário de competições, que inspiraram novas formas de treinamentos, advindas da profissionalização dos técnicos e dos atletas, aliadas ao interesse dos países em obter vitórias, trazendo consigo todo um contexto político e social. Para entender esse contexto político e social, você poderá aprofundar os seus estudos visitando a obra: BETTI, Mauro. Educação Física e sociedade. São Paulo: Editora: Movimento, 1991. Conforme Granell e Cervera (2003), a partir desse período, mas com uma maior ênfase no início dos anos 50, é que são produzidas as mais decisivas 16 Teoria do Treinamento Desportivo contribuições para o Treinamento Desportivo. Sendo assim, o princípio da organização do treinamento é a obra de Matveiev (1958), chamada Estrutura do Planejamento Anual. Tinha como objetivo principal “a preparação do desportista para competir, baseando-se na estrutura do treinamento em fases, nas quais se consegue a ‘forma’ desportiva (construção-estabilização-regressão progressiva)” (GRANELL e CERVERA, 2003, p. 30, grifos do autor).As principais características da estrutura proposta por Matveiev podem ser definidas da seguinte forma: não são consideradas as particularidades biológicas do desportista; o ciclo anual é completo; o principal papel do condicionamento geral é caracterizado por um período preparatório de alto volume de treinamento; a alternância das curvas de volume/intensidade das cargas separa a preparação condicionante da preparação técnica (GRANELL e CERVERA, 2003, p. 30). Essa seria uma ideia geral e básica da forma de treinamento e de planejamento, sendo válida para uma orientação quanto às primeiras etapas da formação desportiva de iniciantes. Para Granell e Cervera (2003), nos dias atuais, são poucos os atletas que utilizam estrutura semelhante para organizarem seus treinamentos. Isso se dá pelo fato das competições exigirem uma divisão no ciclo anual de treinamento em pelo menos duas fases, não deixando de considerar as particularidades de cada atleta. Mais adiante na história, por volta dos anos 80, surgiu a estrutura pendular, proposta por Arosiev. Esse modelo de treinamento era uma adaptação ao modelo de Matveiev, visto anteriormente. Conforme Granell e Cervera (2003, p. 32), a estrutura pendular tem sua aplicação com preferência no boxe, na luta e no remo, tendo como princípios de desenvolvimento uma distinção entre a preparação condicional e a preparação técnica. Ainda de acordo com os autores, as principais características da estrutura pendular podem ser definidas da seguinte forma: distingue entre cargas de caráter genérico e específico; o critério básico de desenvolvimento consiste em ir diminuindo as cargas genéricas e aumentando as específicas; assim como a estrutura de planejamento anual de Matveiev, não considera os esquemas individuais. (GRANELL; CERVERA, 2003, p. 32) E a respeito dos modelos mais utilizados atualmente pelos técnicos, para a organização do treinamento de atletas, temos o modelo de blocos de Verkhoshanski e o modelo da estrutura individual de Bondartchuk. O modelo de blocos foi criado com o objetivo de aprimorar a O modelo de blocos foi criado com o objetivo de aprimorar a força, construindo um método mais adequado para o desenvolvimento dessa capacidade física. 17 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 força, construindo um método mais adequado para o desenvolvimento dessa capacidade física. Por isso, nos desportos em que o uso da força prevalece sobre as demais capacidades, o modelo de blocos é o mais adequado, sem esquecermos também que pode ser utilizado para a obtenção de uma melhora no rendimento condicionando a altos níveis de força explosiva. O modelo se constitui de uma concentração de cargas de treinamento direcionadas ao aprimoramento da força, utilizando dois ou mais blocos em intervalos de dois meses e meio. Como objetivo, o modelo de blocos impede que sejam produzidos índices de fadiga desnecessários, sendo assim, tem como propósito uma melhor distribuição das cargas. Para Granell e Cervera (2003, p.32), a compreensão do modelo de blocos parte de alguns princípios, como: cada bloco está caracterizado e definido pelo objetivo principal de desenvolvimento; apesar da existência desse objetivo principal, as cargas de treinamento se direcionam também para o desenvolvimento de outros objetivos complementares para estimular os efeitos de treinamento necessários; cada bloco de trabalho não se constitui em uma estrutura isolada da principal. Ao contrário, os blocos sucedem-se uns aos outros, de forma que parte dos conteúdos de um sobrepõe-se aos do bloco seguinte, e assim sucessivamente, de acordo com o princípio básico de aproveitamento dos efeitos retardados do treinamento. Em relação ao modelo de estrutura individual, foi desenvolvida no início dos anos 80 e recebeu definição de ser o modelo mais avançado e, consequentemente, o mais utilizado pelos atletas de alto nível. De acordo com Granell e Cervera (2003, p. 37), “essa estrutura fundamenta-se no princípio de que o sujeito é indivisível, e a diferença em relação às estruturas anteriores está no fato de que é necessário unificar e tornar compatíveis os trabalhos de preparação física e técnica”. Desse modo, as cargas apresentam um caráter específico, se transformando num dos modelos mais utilizados e que mais facilmente se adapta aos desportistas. Finalizando, percebemos por quanta evolução passou a preparação física, com suas atividades mais básicas durante a antiguidade grega até a especificidade para cada componente da preparação física da atualidade. Na sequência, abordaremos os objetivos do Treinamento Desportivo e as suas particularidades. 18 Teoria do Treinamento Desportivo Atividade de Estudos: 1) Faça um breve resumo sobre a evolução do Treinamento Desportivo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Objetivos do Treinamento Desportivo No Treinamento Desportivo estão inseridos vários objetivos. Um deles se refere ao desenvolvimento físico multilateral, ou seja, o aprimoramento do condicionamento físico geral, através do aumento dos níveis de resistência e força, de velocidade, do aprimoramento da flexibilidade e da coordenação motora. O desenvolvimento físico específico pode melhorar aspectos de acordo com a necessidade do atleta, como as forças absoluta e relativa, a massa muscular, a potência ou resistência muscular, o tempo de reação e de movimentação, a coordenação e a flexibilidade. Com isso, o atleta pode chegar à facilidade máxima na execução dos movimentos que determinado desporto exige. Em relação aos fatores técnicos, o treinamento técnico desenvolve a capacidade de realizar corretamente os movimentos específicos de cada esporte, como um arremesso no basquete, um chute no futsal ou um ataque no vôlei. Através disso, o atleta aperfeiçoa a técnica para um desempenho racional e 19 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 econômico, executa técnicas específicas para situações normais de competição e para momentos de adversidade. Nos fatores táticos estão incluídas as estratégias que cada atleta ou equipe irá utilizar para vencer o adversário, que vão desde o treinamento intensivo de jogadas até o estudo das táticas dos adversários. Podemos ver um exemplo disso no futebol, quando uma equipe manda um membro da comissão técnica assistir um determinado jogo de um futuro adversário, ou ao estudá-lo através de vídeos de jogos. Os aspectos psicológicos levam em consideração o treinamento mental, para assegurar que o atleta tenha boa disciplina, perseverança, força de vontade, confiança e coragem. Nas habilidades para o trabalho em equipe, a preparação da equipe é uma das principais metas do treinador, resultando num relacionamento mais consistente e maduro, através da preparação técnica, tática, física e psicológica. Quanto aos fatores ligados à saúde, o atleta deve ser submetido a exames médicos periódicos e a exercícios intercalados de alta e baixa intensidade, alternando com períodos de regeneração. No que tange à prevenção de lesões, o atleta deve ser orientado a tomar precauções quanto à segurança, como elevar a flexibilidade acima do necessário, fortalecer os músculos, tendões e ligamentos e realizar exercícios que desenvolvam a força muscular e a elasticidade, a fim de evitar lesões em movimentos improváveis. Em relação ao conhecimento teórico,devem ser levados em conta os fundamentos fisiológicos do treinamento, a questão da anatomia, para o atleta conhecer seu corpo, noções de nutrição para o atleta saber se cuidar quanto à alimentação, e abordagem das regras dos esportes. Princípios do Treinamento Desportivo O Treinamento Desportivo tem princípios que norteiam a prática, baseados nas ciências biológicas, psicológicas e pedagógicas. São princípios específicos que têm como objetivo a elevação dos níveis de A utilização correta desses princípios proporciona uma organização de conteúdos, meios, métodos e componentes do treinamento. 20 Teoria do Treinamento Desportivo habilidade e de desempenho. A utilização correta desses princípios proporciona uma organização de conteúdos, meios, métodos e componentes do treinamento. Conforme Dantas (2003), são seis os princípios: A) Princípio da individualidade biológica; B) Princípio da adaptação; C) Princípio da sobrecarga; D) Princípio da continuidade; E) Princípio da interdependência volume-intensidade; F) Princípio da especificidade. O princípio da individualidade biológica revela que cada pessoa é diferente da outra. Embora nasçam gêmeas, possuindo o mesmo genótipo, durante a vida serão expostos a experiências diversas, formando indivíduos diferentes. Sendo o genótipo a carga genética que cada indivíduo traz consigo, de acordo com Dantas (2003), ela determinará alguns fatores, como a composição corporal, o biótipo, a altura máxima esperada, a força máxima possível, aptidões intelectuais e físicas, como maior VO2. Por sua vez, o fenótipo é aquilo que o indivíduo acrescenta a partir do nascimento, que Dantas (2003) aponta como as habilidades desportivas, o consumo máximo de oxigênio que um indivíduo apresenta, o percentual observável real dos tipos de fibras musculares, as potencialidade expressas. O princípio da adaptação, através do Treinamento Desportivo, provoca adaptações no organismo de uma pessoa, tornando-a mais apta para realizar determinadas atividades. De acordo com Weineck (2005, p. 12 apud Israel 1983, p. 141), na biologia, compreende-se adaptação fundamentalmente como uma reorganização orgânica e funcional do organismo, ante exigências internas e externas, adaptação é a reflexão orgânica, a adoção interna de exigências. Ela ocorre regularmente e está dirigida à melhor realização das sobrecargas que induz. Ela representa a condição interna de uma capacidade melhorada de funcionamento e existe em todos os níveis hierárquicos do corpo. Adaptação e capacidade de adaptação pertencem à evolução e são características importantes da vida. Adaptações são reversíveis e precisam ser constantemente revalidadas. O princípio da sobrecarga está relacionado ao desempenho que sofrerá aumento se os atletas realizarem trabalhos de capacidade máxima contra cargas de trabalho que são maiores que as normalmente encontradas. Conforme Bompa (2002), “a sobrecarga é típica do princípio ‘sem dor não há ganho’ [...], que é fisiológica e psicologicamente muito estressante (p.48)”. Em curto prazo, o atleta pode suportar o estresse imposto pela sobrecarga, porém, em longo prazo, poderá levar a níveis de fadiga elevados e ao supertreinamento, pois não permite fases de regeneração ou relaxamento. 21 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 O princípio da continuidade está ligado ao da adaptação, pois a continuidade é primordial para uma adaptação progressiva. Para isso, devem ser aplicadas novas cargas de trabalho durante o período de recuperação ampliada, ou seja, antes que o organismo se recupere totalmente, evitando retornar ao nível de homeostase inicial. Também deve ser levada em conta a duração mínima do treinamento. Para Dantas (2003, p. 57), para se obter os primeiros resultados no desenvolvimento das qualidades físicas visadas, é necessário um mínimo de persistência nos exercícios, com o intuito de propiciar uma duração que permita ocorrer alterações bioquímicas e morfológicas necessárias. O princípio da interdependência volume-intensidade está ligado ao da sobrecarga, pois o aumento das cargas é um dos fatores que provoca melhora na performance. O organismo, quando submetido a um trabalho muito intenso, só poderá executá-lo por um curto período de tempo. Por sua vez, se há uma necessidade de realizar um trabalho de longa duração, devem ser usadas cargas mais moderadas. Dantas (2003) afirma que dois critérios servem de base para a escolha da incidência de sobrecarga na intensidade ou no volume: a qualidade física visada e o período de treinamento. As qualidades físicas que utilizam curtos espaços de tempo requerem uma ênfase maior sobre a intensidade, mesmo em detrimento da quantidade (ritmo, força e velocidade). O inverso se dá com qualidades físicas de uso prolongado (resistência muscular localizada, flexibilidade, resistência anaeróbica). O treinador também deve observar em que período de treinamento o atleta se encontra. Durante o período preparatório, o volume tem grande relevância sobre a intensidade. Quando se inicia um período específico, se inverte, dando maior importância à intensidade do que ao volume. O princípio da especificidade, para Dantas (2003, p.58), é aquele que impõe, como ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos da performance desportiva em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizadas. Esse princípio faz com que o treinador, sabedor do tempo de duração da performance e da intensidade, determine com propriedade a via energética preponderante. Para o autor, isso tem serventia para fazer com que o treinador, em períodos próximos de competições, realize treinos estritamente específicos. As qualidades físicas que utilizam curtos espaços de tempo requerem uma ênfase maior sobre a intensidade, mesmo em detrimento da quantidade (ritmo, força e velocidade). 22 Teoria do Treinamento Desportivo Princípios do treinamento São mandamentos científicos que comandam o planejamento e a execução do processo de treinamento. As verificações empíricas, até agora, são limitadas exclusivamente aos pronunciamentos sobre os processos de adaptação biológica. O princípio da sobrecarga (da supercompensação) está de acordo com as leis biológicas e repousa nas raízes dos processos de adaptação; o princípio da especificidade diz respeito ao tipo de estímulo com adaptação específica a esse tipo; e o princípio da reversibilidade da ação coloca que as adaptações que não continuarem a ser estimuladas voltam ao seu estado anterior (desadaptação). Outros princípios existentes na literatura são de natureza metodológica (princípio da repetição, princípio da relação ótima entre carga e recuperação; princípio da regularidade e durabilidade; princípio da periodicidade; princípio da variação; princípio da individualidade; princípio do aumento da especialização; e outros). Guias gerais que podem ser usados como regras que governam as adaptações produzidas pelo treinamento Fonte: BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação Física e Esporte. 2. Ed. Barueri: Manole, 2003, p.480. Atividade de Estudos: 1) Faça um resumo dos principais objetivos do Treinamento Desportivo. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 23 Fundamentos do Treinamento Desportivo Capítulo 1 Algumas Considerações Finalizando e retomando os pontos centrais do capítulo,identificamos os conceitos, a evolução e os objetivos do Treinamento Desportivo. Em cada seção, procuramos apresentar uma síntese das principais ideias apresentadas pelos autores que são referência em treinamento. Vale lembrar que, na literatura especializada, há divergências entre autores, com nomenclaturas distintas, ou dependendo da situação, cada autor defendendo suas posições. Como análise final, podemos afirmar que cada um utilizará um conceito de forma diferente, pois a compreensão é individual. Percebemos também que a evolução é parte do processo e que o modelo utilizado hoje, amanhã pode estar modificado em razão da alta busca por resultados, pela melhor marca, pela quebra de recordes. E outro item que pode ser considerado é a respeito dos objetivos. Cada atleta, cada preparador, tem seu objetivo, que pode ser diferente dos que foram apresentados. Cabe a cada um ir atrás desse objetivo e ao alcance de outros. No capítulo seguinte, veremos a classificação das habilidades e dos desportos, para que possamos compreender as modalidades esportivas que nos são apresentadas. Referências BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação Física e Esporte. 2. Ed. Barueri: Manole, 2003. BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São Paulo: Phorte Editora, 2002. DANTAS, Estélio H. M. A Prática da Preparação Física. 5. Ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003. GRANELL, José Campos; CERVERA, Vítor Ramón. Teoria e Planejamento do Treinamento Desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2003. PLATONOV, V. N. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico. Porto Alegre: Artmed, 2004. 24 Teoria do Treinamento Desportivo WEINECK, Jurgen. Biologia do Esporte. 7. Ed. Barueri: Manole, 2005. ZAKHAROV, Andrei Anatolocitch; GOMES, Antonio Carlos. Ciência do Treinamento Desportivo. 2. ed. Rio de Janeiro: Palestra Sport, 2003. CAPÍTULO 2 Classificação das Habilidades e dos Desportos A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Apontar as habilidades e os desportos inerentes ao treinamento. 3 Classificar as habilidades e os desportos. 26 Teoria do Treinamento Desportivo 27 Classificação das Habilidades e dos Desportos Capítulo 2 Contextualização Neste capítulo, temos como objetivos principais apontar as habilidades e os desportos inerentes ao treinamento e classificar as habilidades e os desportos. Vale aqui ressaltar a importância de classificar os desportos e as habilidades, para que possamos nos adequar às especificidades de cada um, promovendo os treinamentos corretos, buscando, da melhor maneira possível, aprimorar as capacidades dos atletas. No capítulo anterior, na seção I.I, ao falarmos sobre os conceitos do Treinamento Desportivo, utilizamos a classificação de Zakharov e Gomes (2003). De certa forma parecida, neste capítulo apresentaremos uma classificação semelhante, de outros autores, porém indo mais fundo nas questões das modalidades do programa das Olimpíadas. Quando falamos em classificar as habilidades, automaticamente nos reportamos a questões biomotoras. Por isso, as habilidades esportivas podem ser classificadas em três grupos de exercícios: cíclicos, acíclicos e acíclicos combinados. Contextualização das Habilidades As habilidades cíclicas podem ser exemplificadas através da marcha, da corrida, do cross country, da natação, do remo, do ciclismo, do caiaque e da canoagem. Esses desportos têm como característica fundamental o ato motor que envolve movimentos repetitivos. Desse modo, “cada ciclo consiste em fases distintas e idênticas que se repetem na mesma sucessão. Assim, as quatro fases de uma remada – a entrada e a condução do remo na água, a finalização e a recuperação – são partes de um único ciclo” (BOMPA, 2002, p.8). Em relação às habilidades acíclicas, podemos citar como exemplos o arremesso de peso, o lançamento de disco, as ginástica artística e rítmica, os desportos coletivos, a luta greco-romana, o boxe e a esgrima. Essas modalidades se constituem em ações completas, sendo realizadas em um movimento. Tomemos como exemplo prático o lançamento de disco, em que o atleta, no ato de lançar, “incorpora a preparação preliminar, a transição, o giro, a liberação e a reversão, porém, o atleta executa todas essas etapas em uma só ação” (BOMPA, 2002, p. 8). As habilidades acíclicas combinadas são representadas por movimentos 28 Teoria do Treinamento Desportivo cíclicos seguidos por movimentos acíclicos. Nessa questão, estão representados saltos no atletismo, a patinação artística, alguns exercícios de ginástica artística, e saltos ornamentais. Mesmo as ações sendo interligadas, pode-se distinguir os movimentos cíclicos dos acíclicos. Para isso, temos como exemplo “os movimentos acíclicos de um saltador em altura em relação aos movimentos cíclicos precedentes que formam a corrida” (BOMPA, 2002, p. 9). Em relação a essas três habilidades, o conhecimento do técnico tem um papel fundamental na escolha do método adequado de treinamento. Para Bompa (2002), o método de aprendizagem global, ou seja, a habilidade completa, tem mais eficiência em desportos cíclicos, em razão da dificuldade de se dividir as habilidades correspondentes na corrida, por exemplo. Quanto às habilidades acíclicas, é possível dividi-las e ensinar os seus componentes separadamente, revelando um método de aprendizagem por partes, e resultando num aprendizado mais rápido. Com isso, podemos dividir a técnica de salto em distância em distintas fases, fazendo com que os atletas realizem cada uma delas de modo satisfatório, aprendendo e apreendendo a técnica num todo. Quanto à classificação dos desportos, utilizaremos duas referências. Em um primeiro momento, Bompa (2002, apud GANDELSMAN e SMIRNOV, 1970) ressalta que ações motoras voluntárias resultam de uma série complexa de contrações musculares realizadas sob condições estáticas ou dinâmicas, e têm nelas envolvidas a força, a velocidade, a resistência, a coordenação e a flexibilidade. A divisão em categorias dos desportos se dá através dos objetivos do treinamento, nas particularidades fisiológicas e nas habilidades do desporto em questão, necessárias para alcançar e garantir um desempenho adequado. Os desportos então são divididos em grupos. 1° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da coordenação e da execução perfeita de uma habilidade. 2° grupo: desportos em que é preciso atingir uma velocidade superior, caso dos desportos cíclicos. 3° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da força e da velocidade de uma habilidade 4° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento de uma habilidade realizada em uma competição com oponentes. 5° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da condução de diferentes meios de transporte. 6° grupo: desportos que necessitam do aperfeiçoamento da atividade do sistema nervoso central (SNC) sob estresse e baixo envolvimento físico. 7° grupo: desportos que necessitam do desenvolvimento da capacidade de participação em várias atividades combinadas (BOMPA, 2002 apud GANDELSMAN E SMIRNOV, 1970). A divisão em categorias dos desportos se dá através dos objetivos do treinamento. 29 Classificação das Habilidades e dos Desportos Capítulo 2 No primeiro grupo estão inseridas a ginástica artística, a ginástica rítmica desportiva, a patinação artística e os saltos ornamentais. O desempenho desses desportos está intimamente ligado ao máximo da perfeição da coordenação, da complexidade técnica da habilidade e da apresentação artística. As habilidades, na maior parte, são acíclicas, com algumas sendo cíclicas. Por exemplo, a corrida de aproximação na ginástica de solo ou no salto sobre o cavalo na ginástica artística, ou os saltos na patinação artística. O segundo grupo agrega desportos como corrida, marcha, remo, ciclismo, canoagem e natação. Percebemosque, nesses esportes, a maior velocidade é o objetivo principal. A habilidade necessária a esses desportos se dá através da forma cíclica com que os atletas os executam. Sendo assim, a velocidade desenvolvida para a distância da competição que os atletas irão participar depende do aperfeiçoamento dos movimentos cíclicos. Depende também da capacidade de administrar a fadiga, comum em provas de longa distância. Já o terceiro grupo tem como característica o desenvolvimento da força máxima para alcançar o melhor desempenho. Com isso, os atletas podem desenvolver a força, através do aumento da massa muscular. Podemos perceber essa situação no levantamento de peso, quando o atleta precisa aumentar a massa para ganhar força, revelando uma aceleração constante, ou apenas elevando a força, enquanto a massa se mantém constante, como nos lançamentos e saltos no atletismo. O grupo seguinte inclui os desportos coletivos e individuais disputados contra adversários como, por exemplo, o boxe, a luta greco-romana, o judô e a esgrima. Nesses esportes, é essencial ter um excelente funcionamento dos órgãos sensoriais e ter uma grande capacidade de perceber e agir rapidamente sob circunstâncias que são rapidamente modificadas durante a competição. São esportes que dependem inteiramente do atleta e da sua capacidade de tomar decisões. É necessária também uma grande velocidade de membros, tanto inferiores como superiores. O quinto grupo incorpora atividades como equitação, vela e desportos motorizados. Para esse grupo são necessárias habilidades de manejo dos equipamentos. Para isso, são muitas horas de treinamento. Uma qualidade presente também nos atletas dessas modalidades é a rapidez de raciocínio. A preparação física, através da força, do equilíbrio e da resistência, estão entre as habilidades necessárias para esse grupo de desportos. No primeiro grupo estão inseridas a ginástica artística, a ginástica rítmica desportiva, a patinação artística e os saltos ornamentais. Já o terceiro grupo tem como característica o desenvolvimento da força máxima para alcançar o melhor desempenho. O grupo seguinte inclui os desportos coletivos e individuais. O quinto grupo incorpora atividades como equitação, vela e desportos motorizados. 30 Teoria do Treinamento Desportivo Os desportos do sexto grupo são formados pelo tiro, arco e flecha e xadrez. São atividades em que o componente motor utilizado para a realização é baixo, por isso não são considerados exercícios físicos. O que necessitam, é de um aumento da função do sistema nervoso central, e de muita resistência, já que é através dela que os competidores conseguem uma maior concentração, paciência e autocontrole psicológico. O sétimo grupo agrega os desportos combinados, como o decatlo, o pentatlo moderno, o heptatlo, o triatlo e o biatlo. Os treinamentos fisiológicos e psicológicos precisam ser feitos de acordo com cada evento, pois são utilizadas intensidades diferentes. Para Platonov (2008), a classificação leva em conta as particularidades dos treinamentos e das competições. Portando, os grupos são divididos em: 1° grupo: modalidades atléticas relacionadas com a atividade motora máxima dos desportistas (atletismo, halterofilismo, remo, canoagem, ginástica rítmica, jogos desportivos, luta livre etc.). 2° grupo: modalidades desportivas em que a atividade motora é orientada para o controle de meios na locomoção (automóvel, avião, motocicleta, iate etc.). 3° grupo: modalidades desportivas que dependem da utilização de armas especiais (carabina, pistola, arco etc.). 4° grupo: modalidades desportivas cujos resultados dependem de uma atividade de construção (aeromodelismo, modelismo naval etc.). 5° grupo: modalidades desportivas relacionadas com deslocamentos de um local para outro (turismo, alpinismo etc.). 6° grupo: modalidades desportivas em que a atividade do atleta é caracterizada pelo raciocínio abstrato (xadrez, dama etc.) (PLATONOV, 2008, p. 110). Mas essa classificação não é adotada pelo desporto olímpico, pois algumas das modalidades não obedecem aos critérios do regulamento. Isso deixa de fora as modalidades do segundo, do quarto, do quinto e do sexto grupos, pois são chamadas de modalidades técnicas, em que os resultados dependem de uma força motriz. Para uma classificação de acordo com o programa olímpico, são levadas em consideração a especificidade dos movimentos, a estrutura do treinamento e das competições. Portanto, de acordo com Platonov (2008, p. 110), as modalidades são classificadas em: Modalidades cíclicas – corridas no atletismo, natação, remo, canoagem, ciclismo. Modalidades de velocidade-força – halterofilismo, saltos e lançamentos no atletismo. 31 Classificação das Habilidades e dos Desportos Capítulo 2 Modalidades de complexa coordenação – ginástica rítmica, ginástica artística, salto ornamental, tiro, nado sincronizado, patinação artística, vela. Modalidades de luta – boxe, esgrima, luta livre, luta greco- romana, judô, tae kwon do. Jogos desportivos – basquetebol, badminton, beisebol, voleibol, handebol, futebol, polo aquático, hóquei na grama, tênis de mesa, tênis, voleibol de praia. Modalidades combinadas – pentatlo moderno, decatlo e heptatlo no atletismo, triatlo, equitação (concurso completo) (grifos do autor). No primeiro período olímpico, entre os anos de 1896 a 1912, são reveladas algumas particularidades. Na época, eram mais comuns as modalidades cíclicas e de difícil coordenação, representando mais da metade do programa. O restante era dividido entre as modalidades de velocidade-força, as lutas e os jogos desportivos. Nesta fase, as modalidades combinadas foram incluídas apenas duas vezes: o atletismo, em 1904, e, em 1912, o pentatlo e o decatlo no atletismo e o pentatlo moderno. Neste primeiro período, os programas eram marcados pela instabilidade, e a inclusão dependia de alguns fatores, como a tradição desportiva da sede dos jogos, a posição no ranking do Comitê Olímpico Internacional, das federações internacionais e dos membros delas. Conforme Platonov (2008), no segundo período dos Jogos Olímpicos, que compreende o espaço entre os anos de 1920 a 1948, houve mudanças no número de provas de cada grupo. Aumentou significativamente o número de provas das modalidades cíclicas, houve ampliação na proporção das lutas individuais e reduziu-se a representatividade dos jogos desportivos e das modalidades de difícil coordenação. Em 1948, foram incluídas as modalidades mais difundidas, como o basquetebol, polo aquático, futebol e o hóquei na grama. No terceiro período das Olimpíadas, entre 1952 e 1964, as modalidades se encontraram mais estáveis, sem grandes mudanças no programa. No quarto período dos Jogos Olímpicos, entre 1968 e 1980, houve uma ampliação no programa olímpico, com a inclusão de novas competições. Ocorreu uma leve tendência de diminuição das provas das modalidades de velocidade- força e de difícil coordenação e um aumento no número de competições de lutas e jogos desportivos. De 1980 a 2000, o programa olímpico teve uma ampliação mais intensa. Surgiram novas modalidades, como badminton, beisebol, voleibol de praia, softbol, ginástica rítmica, nado sincronizado, tênis de mesa, tênis, tae kwon do e triatlo. Houve também aumento nas competições femininas. Como exemplo, em 1992, pela primeira vez foram disputadas provas de perseguição individual no ciclismo de pista, disputa em sete categorias no judô e individual e duplas no 32 Teoria do Treinamento Desportivo badminton. Em 1996, as primeiras competições femininas de ciclismo de pista em equipe, individual, contrarrelógio e mountain bike, e em equipe de ginástica rítmica. Também foram incluídas as modalidades futebol feminino e voleibol de praia feminino. Em 2000, foram introduzidas as competições femininas de lançamento de martelo e salto com vara, pentatlo moderno e nado sincronizado.Em 2004, nos jogos em Atenas, foram realizadas pela primeira vez as competições femininas de luta livre. Com base em Platonov (2008), será apresentado um resumo das principais características das modalidades do programa olímpico. O atletismo está incluído nos jogos desde 1896. Atualmente são disputadas 46 competições, sendo 24 para homens e 22 para mulheres. Estão divididas em corridas, marchas, saltos, lançamentos e provas combinadas. A natação está nos jogos Olímpicos desde 1896, porém as mulheres começaram a competir somente em 1912. Só perde para o atletismo em número de provas, com 32 no total. O remo foi incluído no programa olímpico em 1900 para os homens, e em 1976 para as mulheres, sendo disputadas 14 competições. A canoagem está nos jogos olímpicos desde 1936 e são realizadas 12 provas atualmente. O ciclismo está presente nos jogos desde a primeira edição, em 1896. Atualmente, teve a inclusão do BMX, com dois tipos de prova. A ginástica artística foi incluída já nos primeiros jogos, cuja curiosidade se dá pelo fato de que, nas 4 primeiras edições, as provas combinadas de ginástica incluíam exercícios de atletismo, como salto com vara, lançamento de dardo e ainda halterofilismo. A ginástica rítmica é recente nos jogos, sendo incluída em 1988. São disputadas duas competições femininas, a prova combinada e os exercícios em grupo. O tiro está no programa olímpico desde 1896. São disputadas 11 competições e, por motivos de segurança, cogita-se a substituição das armas de fogo por pistolas pneumáticas. O tiro ao prato foi incluído depois, em 1904. Em 2004, nos jogos em Atenas, foram realizadas pela primeira vez as competições femininas de luta livre. 33 Classificação das Habilidades e dos Desportos Capítulo 2 O arco e flecha tem sua história nos jogos Olímpicos iniciada no ano de 1900, depois em 1908, e em 1920. Após um período fora do programa, retornou em 1972. São quatro competições, individuais e por equipes. O hipismo faz parte dos jogos Olímpicos desde 1900, com as competições de corrida de obstáculos, salto em altura e distância. Em 1912, foi introduzido o concurso completo individual e por equipe. A vela está presente no programa olímpico desde 1896, porém, naquele ano, não foram realizadas as provas por causa do tempo ruim. As competições começaram então em 1900. São disputadas 11 competições, sendo quatro masculinas, quatro femininas e três abertas. O salto ornamental foi incluído em 1904 para os homens e em 1912 para as mulheres. O salto em trampolim é recente e está desde 2000. O nado sincronizado está desde 1984, com competições em conjunto e dueto. O boxe, incluído em 1904, é disputado em 11 categorias. Mas só está presente devido a mudanças que sofreu para garantir a segurança dos lutadores. A luta livre faz parte do programa olímpico desde 1904, sendo disputada em 10 competições masculinas. Em 2001, foram introduzidas novas categorias de peso para homens e mulheres. A luta greco-romana foi incluída na primeira Olimpíada, em 1896, com disputas em 10 categorias. Em 1997, as categorias foram reduzidas para 8 e em 2001 para 7 categorias. O Judô está presente no programa olímpico desde 1964. Em 1998, foram introduzidas 7 novas categorias para homens e 7 para mulheres. O tae kwon do foi introduzido em 2000, com competições em 4 categorias para homens e mulheres. A esgrima faz parte do programa olímpico desde 1896, com competições masculinas de florete e sabre. Em 1990, foi introduzida a competição masculina de espada. Em 2004, a prova feminina em equipe com florete foi substituída pela individual com sabre. 34 Teoria do Treinamento Desportivo O halterofilismo entrou no programa olímpico já nos primeiros jogos, em 1896. A partir de 2000, em Sidney, são disputadas oito competições para homens e sete para mulheres. O badminton foi incluído nos Jogos Olímpicos no ano de 1992, disputando medalhas em duas competições para homens, duas para mulheres e uma mista. O basquetebol faz parte do programa olímpico desde 1936 no masculino. O feminino entrou somente em 1976. O beisebol foi incluído no programa olímpico em 1988, com disputas apenas para os homens. O polo aquático está presente nos jogos desde 1900, com disputas no masculino e no feminino, que entrou no programa em 2000. Porém, pode ser excluído do quadro por falta de espectadores e de popularidade. O voleibol é parte integrante do programa olímpico desde 1964. O voleibol de praia, por sua vez, estreou nos jogos em 1996. O handebol, no formato 11 contra 11, estreou em Jogos Olímpicos em 1936. O handebol com as regras atuais, ou seja, 7 contra 7, foi introduzido em 1972 no masculino e em 1976 no feminino. O tênis faz parte do programa olímpico desde 1896, no masculino, e desde 1900, no feminino. Foi excluído em 1924, por ser modalidade profissional, retornando aos jogos em 1977. O tênis de mesa é parte integrante dos Jogos Olímpicos desde 1988, com disputas individuais e em duplas. Há a questão da possibilidade da inclusão da categoria mista. O softball está incluído no programa dos Jogos Olímpicos desde 1996. O futebol teve suas disputas nos Jogos Olímpicos iniciadas em 1900, no masculino. As disputas femininas começaram em 1996. O hóquei na grama faz parte do programa olímpico desde 1908 para os homens e desde 1980 para as mulheres. 35 Classificação das Habilidades e dos Desportos Capítulo 2 O pentatlo moderno foi incluído nos jogos em 1912, como uma modalidade militar, devido à preparação necessária para as disputas (equitação, esgrima, tiro, natação, corrida). A categoria feminina foi introduzida em 2000. O triátlon está presente nos Jogos Olímpicos desde 2000, com 1500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida. Atividade de Estudos: 1) Levando em consideração o que foi estudado, indique em que classificação por especificidade de movimento está cada modalidade. Remo – ________________________________________________ Vela – _________________________________________________ Futebol – ______________________________________________ Judô – _________________________________________________ Equitação – ____________________________________________ Halterofilismo – _________________________________________ Tiro – __________________________________________________ Ciclismo – _____________________________________________ Salto em altura – ________________________________________ Esgrima – ______________________________________________ Tênis de mesa – _________________________________________ Decatlo – ______________________________________________ 36 Teoria do Treinamento Desportivo Algumas Considerações Ao apresentarmos a classificação dos desportos, percebemos as especificidades inerentes a cada um. De forma semelhante, abordamos a classificação das habilidades em cíclicas, acíclicas e acíclicas combinadas. Em conjunto, analisamos também a evolução de cada modalidade dentro do programa olímpico, com sua estreia, se houve interrupção. Assim, podemos perceber que, em alguns países, eram introduzidas as modalidades praticadas naquele local, como experiência, e que, em alguns casos, acabaram se tornando obrigatórias no programa das Olimpíadas. Na sequência, estudaremos os métodos tradicionais e modernos utilizados na preparação física dos atletas. Referências BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do Treinamento. São Paulo: Phorte Editora, 2002. PLATONOV, Vladimir N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte Editora, 2008. CAPÍTULO 3 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Descrever os métodos relativos ao Treinamento Desportivo. 3 Analisar os métodos relativos ao treinamento desportivo. 38 Teoriado Treinamento Desportivo 39 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 Contextualização Neste capítulo, nosso objetivo é descrever os métodos relativos ao Treinamento Desportivo e analisar os métodos relativos ao treinamento desportivo. Entramos em uma parte mais voltada ao treinamento, falando diretamente sobre os métodos utilizados em um programa de aperfeiçoamento técnico e físico para, no capítulo seguinte, darmos ênfase às questões fisiológicas sobre força, velocidade, flexibilidade e resistência. Treinar um atleta não é simplesmente fazer com que ele percorra 200 metros ou que nade 100, ou ainda que arremesse 50 bolas na cesta. Treinar um atleta é fazer com ele aproveite cada exercício para seu crescimento e aprendizado. Tudo tem de ser bem estruturado, pensado da melhor forma possível, a fim de evitar lesões e cometer os menores erros possíveis. Por isso, a seguir, apresentaremos os métodos de preparação desportiva. Modelos Os modelos de treinamento surgiram na Grécia antiga, em que se acreditava na transformação do indivíduo num perfeito desportista. Os atletas eram submetidos a treinamentos intensos, que duravam meses. Nesse período já se podia perceber a divisão do processo de treinamento de quatro dias, similar a um microciclo, mesociclo ou macrociclo. A carga utilizada no primeiro dia era leve, se intensificava no segundo dia. No terceiro dia, eram utilizadas cargas médias em exercícios de curta duração, e o quarto dia era reservado para exercícios suaves. a) O modelo tradicional Este modelo também é chamado de moderno, foi introduzido por volta dos anos 1950 por Matveiev. Ele aprofundou e atualizou os conhecimentos apresentados até os anos 1950, com alguns pressupostos, como: Alguns autores trazem como Matveiev e outros como Matveev. No entanto, é o mesmo autor. Os modelos de treinamento surgiram na Grécia antiga, em que se acreditava na transformação do indivíduo num perfeito desportista. 40 Teoria do Treinamento Desportivo a) afirma que as condições climáticas são fatores determinantes na periodização do treinamento desportivo; b) entende que o calendário de competições influi na organização do processo de treinamento; c) argumenta que as leis biológicas devem servir como base para a periodização no treinamento; d) propõe que a unidade de formação especial e geral do desportista deve ser respeitada; e) demonstra que o caráter contínuo do processo de treinamento deve combinar sistematicamente carga e recuperação; f) defende o aumento progressivo e máximo dos esforços de treinamento [...] (GOMES, 2002, p. 142). Após críticas de outros especialistas, Matveev revisa seus estudos, e utiliza- se de alguns princípios. O primeiro deles fala da unidade entre preparação geral e especial do atleta. De acordo com Gomes (2002, p. 144), o princípio leva em conta “a indissolubilidade entre preparação geral e especial; a interdependência dos conteúdos (o conteúdo da preparação especial do atleta depende dos pressupostos criados pela preparação geral); e a necessidade de dividir o treino em preparação geral e especial.” O segundo princípio diz respeito à dinâmica da carga de treinamento, ou seja, o atleta deve ser submetido a treinamentos específicos em volumes aceitáveis. O terceiro princípio faz relação com os parâmetros da forma desportiva e a estrutura dos macrociclos de treinamento, pois estes sofrem modificações profundas, tendo em vista que há mudanças nos calendários de competições, levando o atleta a participar de vários eventos, modificando todo o sistema de planejamento. Após esse período, surgiu o sistema conhecido como pêndulo, em que o treinamento é dividido em dois microciclos, o principal e o regulador. Os microciclos principais têm como função o aperfeiçoamento das capacidades do atleta. Por sua vez, os microciclos reguladores têm como objetivo recuperar as capacidades do atleta e aumentar a preparação física. Outro sistema que surgiu é o modelo de adaptação biológica, em que as cargas de treinamento são distribuídas de forma ondulatória, alternando volume e intensidade, sem baixar de 80% da carga máxima. 41 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 b) Modelos contemporâneos Os modelos contemporâneos receberam grande contribuição dos modelos tradicionais, gerando uma evolução no aspecto qualitativo, dando início a propostas para cada modalidade. De acordo com Gomes (2002, p. 145), os estudos demonstram que, definitivamente, o raciocínio científico da periodização do treinamento desportivo deve respeitar os desportos em suas dimensões específicas no que se refere ao sistema de competição. No início, os planos modernos de treinamento passaram a exigir uma metodologia idealizada separadamente para os desportos individuais e para os coletivos. Sendo assim, surgem ideias sobre o respeito ao sistema energético em que a modalidade está inserida. Destaca-se também a biomecânica do gesto motor utilizado em cada modalidade, referindo-se a um trabalho cíclico ou acíclico. E leva-se em conta também o aspecto psicológico inerente a cada modalidade. Dessa forma, os modelos contemporâneos levam em consideração alguns aspectos, como a individualização das cargas de treinamento justificada pela capacidade individual de adaptação do organismo; a concentração das cargas de treinamento da mesma orientação em períodos de curta duração e a necessidade de conhecer profundamente o efeito que produz cada tipo de carga de trabalho e sua distribuição no ciclo médio de treinamento (mesociclo); o desenvolvimento consecutivo de capacidades, utilizando o efeito residual de cargas já trabalhadas; a ênfase no trabalho específico de treinamento. As adaptações necessárias para o desporto moderno só são possíveis com a realização na prática de cargas especiais (GOMES, 2002, p. 145). Surgem então outros estudos, que utilizam os conceitos citados acima para que sejam desenvolvidas outras metodologias. Uma delas pertence ao professor Verkhoshanski, que não faz uso de conceitos de planejamento, uma vez que defende que o sistema deve ser baseado em conceitos de programação, organização e controle. Conforme Gomes (2002, p. 146), Os modelos contemporâneos receberam grande contribuição dos modelos tradicionais, gerando uma evolução no aspecto qualitativo, dando início a propostas para cada modalidade. A biomecânica do gesto motor utilizado em cada modalidade, referindo-se a um trabalho cíclico ou acíclico. 42 Teoria do Treinamento Desportivo a programação é compreendida por uma primeira determinação da estratégia, do conteúdo e da forma de estruturar o processo de treinamento. A organização trata- se da realização prática do programa, considerando-se as condições reais e as possibilidades concretas do desportista. O controle seriam os critérios estabelecidos previamente com o objetivo de informar periodicamente o nível de adaptação apresentado pelo desportista. Verkhoshanski ainda propõe um método programado, iniciando com a utilização de tarefas concretas, com as etapas de treinamento durando de 3 a 5 meses de preparação, seguidas de programas de treinamentos e de competições. c) Modelo de treinamento em bloco Este modelo também proposto por Verkhoshanski tem como base a divisão das cargas concentradas ao longo do ciclo anual. Esse ciclo tem como base uma estrutura de 52 semanas, divididos em blocos. No bloco A, se objetiva um maior volume de toda a temporada, levando em conta os níveis da temporada anterior e preparando para a temporada atual. Geralmente, o bloco A dura em torno de 12 semanas, e tem como objetivo preparar o aparelho locomotor, com exercícios de musculação, exercícios para aumento do impulso nervoso, com exercícios de força rápida e treinamento de cargas mistas na musculação.No bloco A também se deve aumentar a influência das cargas no organismo, tendo em vista que o volume ainda continua alto. No bloco B, que tem duração aproximada de dois e meio a três meses, devem ser levados em conta exercícios para que o volume seja diminuído, permitindo o desenvolvimento das capacidades competitivas, preparando o atleta para o bloco C, em que estão distribuídas as principais competições. Com isso, podemos perceber que o modelo de blocos possui uma concentração de cargas, principalmente com grande volume no bloco A. d) Modelo integrador Modelo proposto por Bondarchuk, que divide a temporada em três fases, desenvolvimento, manutenção e descanso. Ele verificou, então, que cada atleta atinge sua melhor forma em momentos diferentes. 43 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 O planejamento deve ser fundamentado na resposta adaptativa do organismo de cada atleta, sendo que em atletas de alto nível o pico do desempenho pode ser atingido entre 2 a 8 meses, dependendo do grau de treinamento, da idade, entre outros fatores. e) Modelo de cargas seletivas Este modelo tem como objetivo atender o calendário dos desportos coletivos, em especial o futebol, que possui campeonatos longos, com número excessivo de jogos, o que ocasiona uma dificuldade na distribuição das cargas. No modelo de cargas seletivas, é dada ênfase principalmente para a velocidade. O ciclo anual dura em torno de 52 semanas, dividido em duas etapas de igual divisão, ou seja, 26 semanas. Atividade de Estudos: 1) Quais as principais características dos modelos tradicional, contemporâneo, de treinamento em bloco, integrador e de cargas seletivas? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 44 Teoria do Treinamento Desportivo A preparação do Desportista O método de preparação desportiva está intimamente ligado aos objetivos pretendidos pelo atleta e pela equipe a que ele representa. Ou seja, para cada parte do sistema de treinamento de um atleta, existe uma composição de métodos. A preparação do atleta depende de uma especificidade, que pressupõe uma orientação predominante de como o aperfeiçoamento das capacidades locomotoras do organismo humano sofrem influências. Para um melhor entendimento dos métodos, teremos como base Gomes (2002). O método de influência prática programado tem como característica uma programação que se constitui como uma condição indispensável de influência, sendo orientada a partir de meios de treinamento que contribuem para uma melhor solução das tarefas de preparação. Qualquer dos métodos utilizados tem graus de programação determinados, variando apenas alguns parâmetros. Os exercícios do método programado apresentam uma grande diversidade. Cada um dos métodos apresenta também um conteúdo de caráter específico. Cada método apresenta uma série de variáveis que podem ser utilizadas à medida que as exigências das tarefas motoras vão crescendo. Os métodos de ensino da técnica de ações motoras são caracterizados por enfoques metodológicos do ensino da técnica das ações, o integral e o dividido. O método de ensino integral caracteriza um estudo da técnica das ações motoras numa única vez, com um caráter integral. A principal vantagem deste método é que a técnica da atividade motora pode ser assimilada à interação permanente de suas fases, de forma integral. O método apresenta algumas dificuldades, como aplicar o método no ensino das ações motoras complexas; na correção de erros; em prestar atenção seletiva ao aperfeiçoamento de certos elementos das ações motoras; e o rápido cansaço do atleta resultante da múltipla repetição dos exercícios. Esse método pode ser utilizado na fase inicial da aprendizagem das ações motoras que são relativamente fáceis em relação à técnica. O método pode ser utilizado com algumas variantes, como a execução repetida da ação motora com um aperfeiçoamento dos elementos e dos detalhes; com a repetição múltipla da ação motora, objetivando sua consolidação; com execução em condições crescentes que se aproximam da realidade das competições; e com a execução em condições complexas, como com muito cansaço, com presença do adversário Os métodos de ensino da técnica de ações motoras são caracterizados por enfoques metodológicos do ensino da técnica das ações, o integral e o dividido. 45 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 ou em condições climáticas adversas. O método de ensino dividido pode ser representado por uma divisão da atividade motora em fases independentes, que podem ser aprendidas de modo autônomo e unidas posteriormente. Como aspecto positivo, o método tem a possibilidade de concentrar a atenção dos atletas de modo mais completo. É dada ênfase aos componentes da técnica, porém excluindo as repetições das partes e das fases ainda não assimiladas, evitando erros estáveis (característica do método integral). Uma deficiência é que não deve ser aplicada em casos em que a ação motora não pode ser dividida, como nos saltos na ginástica ou no chute na bola. Como variantes desse método, é possível destacar o estudo separado dos elementos da ação para depois ligá-los ao movimento total; uma gradativa ligação entre os elementos da técnica da ação motora; o destaque dos elementos da ação motora em curto período de tempo; e o aperfeiçoamento das ações motoras sob a forma de exercícios. O método de treino das capacidades motoras tem como característica exercícios que podem ser executados no regime contínuo ou intervalado. Cada uma dessas variantes pode se caracterizar por parâmetros variáveis ou constantes do exercício. O método de exercício de carga permanente se caracteriza pela reprodução da ação motora na composição contínua em intervalos relativamente constantes de descanso, “corridas de 60 metros, repetidas com velocidade próxima à do limite e com intervalo de 10 minutos de descanso” (GOMES, 2002, p. 61). Ou, de trabalho contínuo, “como nadar 30 minutos no mesmo ritmo ou até mesmo a união dos métodos dependendo do objetivo almejado” (GOMES, 2002, p. 61). Figura 1 – Método de exercício de carga permanente Fonte: Gomes (2002, p. 61). Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) O método de treino das capacidades motoras tem como característica exercícios que podem ser executados no regime contínuo ou intervalado. Cada uma dessas variantes pode se caracterizar por parâmetros variáveis ou constantes do exercício. 46 Teoria do Treinamento Desportivo O método de exercício de carga crescente tem os exercícios alterados durante a execução, de modo que o volume da influência do treino sobre o organismo sofra aumentos, como o “levantamento de peso com a elevação progressiva de carga em cada tentativa, elevação da velocidade em cada trecho de corrida, de natação ou redução do período dos intervalos de descanso” (GOMES, 2002, p. 61). Figura 2 – Método de Exercício de Carga Crescente Fonte: Gomes (2002, p. 63). O método de exercício de carga decrescente é semelhante ao método decarga crescente, porém com a influência do treinamento sobre o organismo sofrendo diminuição, como “pedalar a bicicleta iniciando com ritmos fortes e diminuir a velocidade a cada novo esforço ou a cada determinada distância” (GOMES, 2002, p. 63). Figura 3 – Método de Exercício de Carga Decrescente Fonte: Gomes (2002, p. 63). O método de exercício de carga permanente e decrescente tem as cargas de exercícios iniciadas de forma permanente e com posterior decréscimo como, por exemplo, “um atleta do remo que realiza 30 minutos de trabalho na zona glicolítica com frequência cardíaca de 180 bpm e mais 30 minutos, diminuindo o ritmo a cada 10 minutos, terminando o trabalho na zona aeróbia de recuperação” (GOMES, 2002, p. 63). Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) 47 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 Figura 4 – Método de Exercício de Carga Permanente e Decrescente Fonte: Gomes (2002, p. 63). O método de exercício de carga permanente e crescente é semelhante ao de carga permanente e decrescente, porém, após o momento constante, se torna mais forte. Por exemplo, “um lutador de boxe realiza cinco séries de um minuto de combate com pausa de dois minutos; na sequência, passa a aumentar o tempo de combate a cada novo momento de esforço” (GOMES, 2002, p. 64). Figura 5 – Método de Exercício de Carga Permanente e Crescente Fonte: Gomes (2002, p. 64). O método de exercício de carga crescente e permanente tem como característica um crescimento e, em determinado momento, se estabiliza. Como por exemplo, no exercício em ciclo ergômetro, inicia-se com a carga de um minuto e, a cada dois minutos, aumenta-se a carga até completar dez minutos; depois, estabiliza-se a carga e trabalha-se até aparecer o cansaço suficiente que afeta de forma negativa a ação motora concreta (GOMES, 2002, p. 64). Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) 48 Teoria do Treinamento Desportivo Figura 6 – Método de exercício de carga crescente e permanente Fonte: Gomes (2002, p. 64). O método de exercício de carga decrescente e crescente se caracteriza por um início com carga alta, que vai decrescendo, passando a crescer novamente. Por exemplo, “em cada treinamento tático de defesa no handebol, inicia-se com séries de quatro minutos de trabalho e vai-se diminuindo para três, dois e um e, depois, volta-se a acrescer o tempo de trabalho; o mesmo pode ser realizado nos trabalhos contínuos” (GOMES, 2002, p. 64). Figura 7 – Método de exercício de carga decrescente e crescente Fonte: Gomes (2002, p. 64). O método de exercício de carga crescente e decrescente se caracteriza por um início de forma lenta, crescendo até atingir o nível objetivado no treinamento, e na sequência passa a diminuir a carga, propiciando uma boa recuperação metabólica, ou seja, “inicia-se o treinamento de triatletas na corrida com carga lenta até atingir o limiar anaeróbio; depois, o ritmo deve cair com o objetivo de recuperar a produção lática na corrente sanguínea” (GOMES, 2002, p. 65). Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) 49 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 Figura 8 – Método de Exercício de Carga Crescente e Decrescente Fonte: Gomes (2002, p. 65). O método de exercício de carga variável tem como característica uma carga variada de forma permanente, ou crescente e decrescente, permitindo ao treinador criar situações aproximadas de competição, resultando numa performance de alto nível. Figura 9 – Método de Exercício de Carga Variável Fonte: Gomes (2002, p. 65). De acordo com Gomes (2002, p. 65), os métodos abordados não abrangem toda a multifuncionalidade dos meios de solução das tarefas de preparação dos atletas. Na prática, tem-se utilizado largamente diversas variantes de combinação dos métodos, ou seja, os chamados “métodos combinados”. A estruturação dos treinos com base em métodos combinados permite frequentemente resolver com mais sucesso as tarefas de preparação, pois isso tem ampliado as possibilidades de prescrição dos exercícios (grifos do autor). Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) Volume ( V ) Frequência Cardiaca ( FC ) 50 Teoria do Treinamento Desportivo O método competitivo é realizado a partir de atividades que simulem as competições. A competição é a expressão mais brilhante do método competitivo, que possui uma esfera muito ampla de aplicação e pode ser utilizado em qualquer modalidade com base nos exercícios físicos (GOMES, 2002, p. 65). O método competitivo representa a mobilização máxima das potencialidades físicas e psíquicas do atleta. A simulação cria condições emocionais favoráveis ao atleta, acirrando a rivalidade, favorecendo mudanças funcionais no organismo do atleta. A parte deficitária do método competitivo fica a cargo da limitação de uma direção por parte do atleta no processo de execução do exercício em forma competitiva, em especial na dificuldade de dosagem e controle das cargas. O método competitivo “aplica-se com o objetivo de resolver diversas tarefas de preparação dos atletas, assegurando a influência complexa (conjugada) sobre diferentes aspectos de preparação e, por isso, é de grande eficiência na etapa de aperfeiçoamento desportivo” (GOMES, 2002, p. 66). O método de jogo não é realizado apenas com os jogos mais tradicionais, como voleibol ou futebol, mas representa uma ampla variedade de formas e meios para a realização. Uma das principais particularidades do método de jogo é desenvolver a atividade locomotora do atleta. A base do desenvolvimento está em proporcionar situações imaginárias de vida, ou seja, os jogos de imitação. Por exemplo, se o aperfeiçoamento de deslocamento em equilíbrio tem como desenvolver a forma de “travessia do rio por uma ponte estreita”, nesse caso, aplica-se o método de jogo. Se o mesmo exercício não tem semelhante sentido de desenvolvimento e se subordina por completo à tarefa de aperfeiçoamento da técnica da ação ou da rapidez de deslocamento, nesse caso, é aplicado o método de exercício programado ou o método competitivo (GOMES, 2002, p. 66). A parte deficitária do método competitivo fica a cargo da limitação de uma direção por parte do atleta no processo de execução do exercício em forma competitiva, em especial na dificuldade de dosagem e controle das cargas. 51 Métodos Tradicionais e Modernos de Organização do Treinamento Desportivo Capítulo 3 A diversidade presente nas situações de jogo exige independência para criar na escolha das soluções que são mais eficazes das tarefas motoras. Sendo assim, no jogo, a complexidade de diversos hábitos e capacidades motoras é manifestada. A parte negativa do método é que, ao ser aplicado, não é permitido dosar com precisão a carga, pois não há como prever as ações de cada atleta. O método de influência verbal revela uma relação entre técnico e atleta que não exige nenhuma prova. É impossível a solução de qualquer que seja a tarefa de preparação do atleta sem a utilização de meios verbais de contato. Dentre os métodos de influência verbal, de acordo com Gomes (2002), “podem ser citados a explicação, a conversa, o comando, a indicação corretiva, a análise verbal, a avaliação etc.” (p. 67). Há que se levar em conta também o conteúdo emocional e o sentido lógico de cada método verbal. O alto nível pedagógico do técnico é manifestado na maneira em que são tratados os atletas, utilizando as palavras com bom senso, resultando em uma ativação e uma direção eficiente da atuação. O técnico geralmente se fundamenta em critérios de difícil detecção ou ligados à intuição, às experiências pessoais ou ao conhecimento das particularidades dos atletas. O método de influência demonstrativa
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