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Centro de Ciências Agrárias Departamento de Patologia Curso de Medicina veterinária Deontologia e Legislação Médico Veterinária Alunos: Anna Maria Fernandes da Luz, Diovanna da Silva Pires, Marcos Daniel Rios Lima, Mayra Gonçalves Soares, Pedro Henrique Santos Aguiar, Shayenne Eduarda Costa Sampaio. Primeira Avaliação A judicialização da saúde está chegando à veterinária. Exemplo 1 Em 15 de dezembro de 2016, por exemplo, uma veterinária do Rio de Janeiro –não citaremos nomes para não expor os profissionais– foi condenada pelo Tribunal de Justiça daquele estado. O caso foi assim: uma cliente levou o seu cachorro ao consultório. O animal estava sentindo muita dor, e o diagnóstico foi fratura na pata. A veterinária optou pela colocação de uma tala e por receitar medicamentos. Isso não resolveu o problema, a pata inchou ainda mais e o animal passou a sentir mais dores. A cliente teria voltado ao consultório, e a veterinária “apenas limitou-se a informar que talvez o cachorro não mais andasse de forma normal”, segundo o acórdão do TJ-SP. A cliente levou o cachorro a outros profissionais, que afirmaram que se tratava claramente de um caso para cirurgia. Ela processou a primeira profissional, alegando erro veterinário. A veterinária alegou que o problema era que as condições da residência da cliente eram impróprias para o animal, mas a perícia técnica foi contra essa versão: “A técnica adotada pelo réu foi de coaptação externa, por meio de tala, sem implantação de fixadores ósseos. [Mas] a ação das forças biomecânicas incidentes sobre a linha de fratura durante o processo de regeneração do osso não pôde ser neutralizada pelo meio de imobilização utilizado, culminando em alteração do eixo ósseo e causando o resultado desfavorável. A melhor conduta cirúrgica para estabilização e consolidação de fraturas de rádio e ulna em cães seria a redução cirúrgica com implantação de pinos, cerclagem óssea ou placas ósseas. Ante ao insucesso dos procedimentos adotados pelo réu e do resultado positivo obtido por outro profissional, que realizou procedimento cirúrgico diverso e utilizou-se de implantes ortopédicos para a estabilização da fratura ao invés de simples imobilização externa pelo uso de tala, não há como atribuir como descuido da autora os resultados negativos.” A veterinária foi condenada a pagar R$ 5 mil em danos morais, além de custas judiciais e honorários advocatícios, e a devolver o valor pago pelos procedimentos. (http://canaldoveterinario.com.br/) Resposta: Em um estudo publicado pelo periódico científico “Ciência Rural” em 2005, foi analisado a eficácia de tratamentos ortopédicos em fraturas no rádio e ulna de 10 cães. De acordo com os autores, após a realização de experiências em cobaias selecionadas, chegou-se à conclusão que a coaptação externa com tala foi responsável pela maioria de complicações secundárias nos animais. Analisando o seguinte trecho do artigo, conclui-se que a coaptação externa é indicada somente para casos específicos. “A coaptação externa é indicada apenas em fraturas transversas ou oblíquas curtas que não estejam próximas à articulação, porém em cães de raças pequenas, ela não deve ser empregada por causa da alta freqüência de complicações (LAPPIN et al., 1983; RUDD & WHITEHAIR, 1992; BOUDRIEU, 2002).” Mediante o assegurado no Capítulo II, artigo 6º e inciso VI do código de ética do médico veterinário, em relação aos deveres trabalhistas, o profissional deve exercer somente atividades que estejam no âmbito de seu conhecimento profissional. Nessa perspectiva, a utilização do tratamento proposto pela médica veterinária foi responsável por complicações secundárias no cão, ocasionando inchaço e dor, sendo assim, a capacitação médica veterinária através do conhecimento literário em conjunto com as experiências profissionais são essenciais para garantir o sucesso no tratamento dos pacientes. Em contrapartida, analisando o Capítulo I, artigo 1º dos princípios fundamentais do médico veterinário, de acordo com o código de ética, o profissional deve exercer a sua profissão com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade. Por esse ângulo, a profissional do caso relatado optou pela utilização da coaptação externa baseando-se nos conhecimentos adquiridos e compreensão do caso proposto para tratamento, podendo assim, atribuir os resultados negativos ao seu despreparo. Por fim, de acordo com o Capítulo V, da responsabilidade profissional, mediante a análise do artigo 14 e incisos I, III, VII e VIII a médica veterinária responsável pelo tratamento do animal pode responder civil e penalmente pelos danos causados ao paciente, como o inchaço e dores descritos no relato após a utilização da coaptação externa no cão. Sendo assim, a penalidade foi baseada de acordo com o capítulo XVI, artigo 41, em relação ao grau do caráter das infrações éticas. Exemplo 2 http://canaldoveterinario.com.br/ A Justiça de São Paulo julgou o seguinte caso: um casal era proprietário de um cachorro com menos de um ano, que frequentava uma clínica veterinária na capital paulista. Certo dia, o cachorrinho começou a apresentar vômito e convulsões. Os proprietários ligaram para a veterinária. Ela não estava em horário de atendimento. Por telefone, receitou um remédio para alergia e orientou os proprietários a procurarem um hospital veterinário 24 horas. Os proprietários processaram a profissional por omissão de socorro. “Não se vislumbra omissão de socorro, na medida em que a ré não tinha o dever jurídico de atendimento naquelas condições, tampouco se configurou a prática de ato capaz de causar danos aos postulantes”, afirma a sentença. Os clientes tiveram de pagar as custas do processo e os honorários advocatícios da parte vencedora. Há pacientes que esperam que o veterinário esteja à disposição a qualquer momento, feito um escravo, como se não tivesse sua vida e seus afazeres. Quando se deparam com a realidade, resolvem então, “feito crianças mimadas”, processar os profissionais… (http://canaldoveterinario.com.br/) Resposta: A ética e cidadania na profissão são um conjunto de costumes da espécie humana e de seu caráter, moldadas no decorrer do tempo pela sociedade, sem manter uma constância. A ética profissional é a conduta indiscutível de um trabalhador de qualquer área, regidos por normas éticas que exigem o cumprimento de acordo com princípios sociais e de sua área de trabalho. Características como competência, honestidade e responsabilidade devem ser intrínsecas no exercício da profissão do médico veterinário e representam deveres de sua conduta. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela sociedade em que se vive e proceder bem, sem prejudicar o próximo. Os direitos do médico veterinário incluem escolher livremente seus clientes ou pacientes, com exceção de quando não houver outro médico veterinário na localidade onde exerça sua atividade, quando outro colega requisitar espontaneamente sua colaboração, em casos de emergência ou de perigo imediato para a vida do animal ou do homem. Nenhum dos pontos anteriores encaixavam-se na situação, já que a médica estava fora do horário estabelecido para prestação de serviço e ao ser contatada pelos clientes indicou o serviço 24 horas que tinha disponibilidade para prestação do serviço no horário solicitado. Sendo assim, a médica veterinária atuou de acordo com o código de ética, indicando onde o animal seria atendido com mais agilidade no horário solicitado pelo cliente. O único erro cometido, de acordo com o código de ética, foi a indicação de medicamento por telefone, sendo vetado pelo código de ética a indicação de fármacos sem exame clínico prévio. http://canaldoveterinario.com.br/ Exemplo 3 Um veterinário firmou acordo com a Justiça depois de ser processado por maus tratos durante um experimento de doutorado na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), no Rio Grande do Sul. O doutorando colocou placas de titânio para uso humano no lugar das mandíbulas e maxilares de 12 cães saudáveis. Os animais foram mutilados e cinco morreram. Emmaio deste, o MPF (Ministério Público Federal) ofereceu denúncia contra o veterinário, que foi aceita pela Justiça Federal. Ele foi processado criminalmente, mas aceitou um acordo proposto pelo próprio MPF para reverter a pena em pagamento de R$ 8 mil. O dinheiro deverá ser encaminhado para uma instituição que cuida de animais abandonados na cidade. Nesta semana, o juiz federal Loraci Flores de Lima homologou o trato. As denúncias de maus-tratos envolvendo o veterinário tiveram início ainda em 2012, quando estudantes, funcionários e professores da UFSM procuraram um jornal da cidade, revelando fotografias dos animais supostamente abandonados no canil do hospital veterinário depois de operados. Relatos de falta de alimentação, de medicamentos, de acompanhamento médico e de higiene geraram uma investigação da PF (Polícia Federal). Experiência Em sua experiência de doutorado no curso de pós-graduação de medicina veterinária da UFSM, o estudante criava e testava placas de titânio para recompor mandíbulas e maxilares de cães que tivessem os ossos comprometidos por câncer. Doze animais saudáveis tiveram parte ou toda a mandíbula retirada para os testes. Sete tiveram sequelas permanentes e cinco foram sacrificados. Durante a investigação, a PF ouviu algumas testemunhas. Uma médica veterinária afirmou aos investigadores que, em maio de 2012, um estagiário da pesquisa pediu ajuda para tratar uma cadela do experimento que havia tido filhotes. O animal estava em situação precária, com fome e com a boca totalmente contaminada. Ela disse ainda que o doutorando havia se mudado para Santa Catarina, deixado o projeto de lado e os cães sob cuidados dos estagiários. Um funcionário do Hospital Veterinário declarou no inquérito que, depois das cirurgias, os animais iam para o canil. Lá, eles recebiam ração endurecida, mas não conseguiam movimentar as mandíbulas para comer nem tomar água. Ele comentou ainda que não havia material para a higienização das gaiolas. Em sua denúncia, o MPF informou à Justiça que o veterinário "não apresentou justificativa para que as instalações experimentais ocorressem em animais saudáveis". E completou: "Após a instalação das referidas placas, os animais permaneceram trancafiados em gaiolas sem cuidado de higienização, expostos às próprias urina e fezes e sem acompanhamento clínico, sendo-lhes fornecida alimentação inadequada [ração seca], o que ensejou o surgimento de estado infeccioso na boca". Na ocasião, o estudante se defendeu, dizendo que os cães estavam sob os cuidados de 12 pessoas (ele, quatro doutorandos, três mestrandos e quatro bolsistas da graduação). Segundo o veterinário, no pós-operatório, os animais teriam ficado cerca de uma semana recebendo medicação diariamente, e que eram alimentados por sonda com ração umedecida e batida no liquidificador. O UOL tentou sem sucesso localizar o veterinário para comentar a decisão judicial. O responsável pelo programa de pós-graduação da Faculdade de Veterinária da UFSM não respondeu aos telefonemas da reportagem. Já o CRMV-RS (Conselho Regional de Medicina Veterinária) informou que vai avaliar o caso. "Não recebemos nenhuma denúncia formal contra este profissional. Além disso, é de praxe o MPF nos informar quando conclui uma apuração e verifica indícios de maus tratos ou qualquer tipo de irregularidade, o que ainda não ocorreu", explica o presidente do CRMV-RS, Rodrigo Lorenzoni. (Do UOL, em Porto Alegre 06/11/2014 21h01. Jean Pimentel/Agência RBS) Resposta: Com base na Lei N° 5.517, de 23 de outubro de 1968 do código de ética do médico veterinário, o profissional deve exercer seu ofício com zelo e o melhor de sua capacidade, denunciar às autoridades possíveis irregularidades, agressões aos animais ou ao seu ambiente, e no artigo 6 do código de ética é dito o seguinte inciso VIII: "No exercício profissional, usar procedimentos humanitários para evitar sofrimento e dor ao animal." Esses princípios fundamentais não foram seguidos pelo Médico veterinário do exemplo 3, causando dor e sofrimento para os animais que utilizou na sua pesquisa, abandonando os animais em situações desprezíveis. O profissional não utilizou métodos adequados para sua pesquisa, fez o uso de placas de titânio nas mandíbulas e maxilares de 12 cachorros errantes, porém saudáveis, prejudicando a vida dos mesmos colocando em primeiro lugar seu próprio e único interesse no seu experimento, que teria como objetivo ajudar cães que apresentaram problemas na mandíbula e maxilar, entretanto, o doutorando causou a morte de 5 cães e deixou 7 com sequelas definitivas. O comportamento do profissional foi de total irresponsabilidade, pois usou métodos humanos nos animais, infringindo mais uma lei, descrita no artigo 13, inciso XXI- “praticar ou permitir que se pratiquem atos de crueldade para com os animais nas atividades de produção, de pesquisa, esportivas, culturais, artísticas, ou de qualquer outra natureza”. Além disso, o doutorando deixou os animais em gaiolas trancafiadas sem cuidados pós cirúrgicos necessários, sem higienização devida, e mudou-se de cidade abandonando o seu experimento, infringindo outra lei gravíssima, presente no artigo 14, inciso I e outra infração grave no inciso VIII. O veterinário usou os cães saudáveis para o seu experimento e os deixou em condições deploráveis e precárias, afetando a vida dos animais, no artigo 25 do código de ética, inciso IV é descrito o seguinte: " IV-usar os animais em práticas de ensino e experimentação científica, somente em casos justificáveis, que possam resultar em benefício da qualidade do ensino, da vida do animal e do homem , e apenas quando não houver alternativas cientificamente validadas", no qual foi feito totalmente o contrário, atacando a vida do animal e abandono do experimento. O médico veterinário infringiu várias leis do código de ética, de grau sério ao gravíssimo, o CRMV-RS irá avaliar o caso, mas ele se defendeu alegando que deixou os animais num local seguro e com os cuidados necessários. Exemplo 4 Ao considerar que as provas demonstram com clareza a fraude trabalhista, a 7ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho manteve decisão da Justiça do Trabalho e reconheceu o vínculo trabalhista de uma veterinária contratada como pessoa jurídica por uma petshop. A profissional alegou que foi obrigada a ingressar como sócia de uma empresa para trabalhar na clínica, de propriedade do sócio majoritário. Ela trabalhou para a petshop durante 16 anos. Em sua defesa, a empresa argumentou que a veterinária era profissional liberal autônoma por escolha própria. O juiz de origem entendeu que a empresa da qual a médica veterinária foi sócia foi criada exclusivamente para prestar serviços para a petshop. Dessa forma, também diante dos depoimentos das testemunhas, teria ficado comprovada a fraude trabalhista, e a clínica foi condenada a pagar todas as verbas trabalhistas da médica. O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP) manteve a condenação e afirmou que o fato de a empregada admitir que podia "fazer-se substituir", como suposta condição impeditiva ao reconhecimento do vínculo de emprego, é uma "lenda urbana". "A substituição circunstancial, quando consentida pelo empregador, por si só não obsta o reconhecimento da pessoalidade, devendo a questão ser tratada caso a caso e à luz da prova produzida", afirmou o TRT-2. No recurso ao TST, a petshop reiterou que a pessoalidade é uma das características fundamentais para o reconhecimento do vínculo de emprego. Porém, o ministro Vieira de Mello Filho observou que o próprio acórdão regional destacou que a veterinária não pagava aluguel, não dividia despesas e que o ingresso dela na empresa ocorreu como condição para que trabalhasse na petshop. "Não pairam dúvidas de que o objeto do contrato era a própria atividade da empresa, e não meramente o resultado do serviço prestado, e a contratação de mão de obra por empresa meramente interposta para o desenvolvimento das atividades-fim do tomador implica a formação do vínculo de emprego diretamente com o tomadordos serviços", afirmou o ministro, sugerindo a manutenção da condenação. A decisão foi unânime. Com informações da Assessoria de Imprensa do TST. (Revista Consultor Jurídico, 28 de novembro de 2015, 14h44) Resposta: De acordo com o Artigo 6º do Código de Ética Médico Veterinário, inciso XIV, é dever profissional do médico veterinário não se apropriar de bens em razão de cargo ou função, ou desviá-los para proveito próprio ou de outrem, aplicando-se à ação de ingressar à empresa em função de sócia por parte da profissional em questão. Uma vez que a empresa foi fundada para a execução de serviço com pet shop - modalidade que visa apenas a comercialização de produtos para animais de companhia - esta não poderia se intitular como clínica e nem mesmo desenvolver o atendimento feito regularmente por uma clínica veterinária. Também é defendido pelo Código de Ética no Artigo 15º que pleitear o cargo que esteja sendo exercido por colega é vedado ao médico veterinário, explicitando que ambos os envolvidos deveriam ter ciência das leis vigentes. Exemplo 5 No fim de 2015, a Justiça paulista analisou em primeira instância o caso do cachorro Kinzinho, um poodle. O animal veio a óbito após cirurgia para retirada de hérnia e castração. A perícia e a juíza responsável atribuíram tal falecimento à conduta cirúrgica do veterinário. “A necropsia realizada demonstrou que a alça do intestino do cão foi cortada e suturada, o que levou à infecção no peritônio e consequente morte por choque séptico”, apontava a sentença. A indenização foi de R$10 mil. O hospital veterinário recorreu, e o caso aguarda julgamento em segunda instância pelo TJ-SP. (http://canaldoveterinario.com.br/) Resposta: O médico-veterinário deve estar atento ao Código de Ética do Profissional Veterinário, às Normas do Conselho Regional de Medicina Veterinária e às leis do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil. Desempenhando seu papel com responsabilidade profissional e civil, estará automaticamente se protegendo de possíveis penalidades e culpa. A obrigação do médico-veterinário no ambiente clínico-hospitalar é considerada de meio, ou seja, ele é obrigado a empenhar todos os esforços possíveis para a prestação de determinado serviço, mas não necessariamente de garantir a obtenção de um resultado específico, pois a medicina não se enquadra em uma ciência exata; porém, se for constatada uma falha do profissional, ele terá de responder no âmbito ético e civil. De acordo com o Código de Ética do Médico Veterinário que aborda a responsabilidade profissional no Art. 14 consta que o médico veterinário será responsabilizado pelos atos que, no exercício da profissão, praticar com dolo ou culpa, respondendo civil e penalmente pelas infrações éticas e ações que venham a causar dano ao paciente ou ao cliente e, principalmente; I - praticar atos profissionais que caracterizem: a) a imperícia; b) a imprudência; c) a negligência. http://canaldoveterinario.com.br/ O médico veterinário também deve registrar toda a ocorrência relacionada a um paciente em seu prontuário, como é descrito no art. 13 do Código de Ética do Médico Veterinário, pois os prontuários constituem um verdadeiro dossiê que tanto serve para análise da evolução da doença, para fins estatísticos, que alimenta a memória do serviço, como para defesa do profissional, caso ele venha a ser responsabilizado por algum resultado atípico ou indesejado. É imprescindível que o prontuário esteja sempre completo e atualizado. No caso de litígio judicial, a ficha clínica é, provavelmente, o documento mais importante, e muitas vezes o único que pode comprovar o estado inicial do paciente. Poderá ser utilizado como recurso contra processos. Exemplo 6 Justiça nega indenização por erro em cirurgia para que cão parecesse mais feroz Publicado em 18/10/2012 11:40 O proprietário de um cão da raça Dogo Argentino procurou um veterinário para que fosse feita uma cirurgia estética na orelha de seu animal, conhecida como conchectomia. No entanto, o resultado não foi o esperado. Ele procurou outro especialista, que o recomendou a não realizar uma segunda cirurgia, pois a assemetria das orelhas resultantes da primeira operação não causariam mal ao cão. Mesmo assim, alegando que morava em uma área rural, e queria que o Dogo ficasse com uma aparência mais agressiva, o dono do cão insistiu em que a cirurgia fosse feita. Resultado, as orelhas perderam a mobilidade e a sua posição natural. Ele pediu indenização por danos morais no valor de R$ 5 mil. Ao analisar recurso contra decisão de primeira instância, que condenou o espólio do segundo veterinário, falecido durante a tramitação do processo, ao pagamento de R$ 3 mil de indenização, a 5ª Turma Cível entendeu que não cabe o pagamento da indenização, uma vez que quem deu causa à mutilação do cão foi o seu proprietário que insistiu em realizar o procedimento, mesmo recebendo a recomendação de que não o fizesse: “(...) não pode pretender receber danos morais”, afirma o desembargador relator do recurso, “o dono de animal que submete-o a mutilação e depois de realizado o procedimento cirúrgico, (...) mostra-se insatisfeito com o resultado, porquanto contribuiu, decididamente, pelo resultado”. A decisão foi unânime, e não cabe mais recurso de mérito. Relatório produzido pela Comissão de Ética Profissional, do Conselho Regional de Veterinária CRMV-DF), sobre o caso, citado pelo desembargador-relator, afirma que o procedimento de cirurgia nas orelhas dos animais “vem sendo abandonado pelos criadores, por se tratar de uma cirurgia estética mutilante, sem cunho terapêutico e sem o devido embasamento técnico-científico que justifique a sua realização (...)”. O relatório do Conselho de Veterinária conclui “não haver indícios de imperícia dos profissionais denunciados”. (https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2012) Resposta: De acordo com a Resolução CFMV nº 877, que foi editada em março de 2018, são considerados procedimentos proibidos na prática médico-veterinária: caudectomia, conchectomia e cordectomia em cães e onicectomia em felinos. Dessa forma, o procedimento era algo frequente, porém desnecessário, tendo como único intuito adequar o animal a um padrão estético da raça. Para realizar a conchectomia, o animal precisa ser submetido a um procedimento cirúrgico, receber anestesia e passar por um pós-operatório delicado e doloroso. Sendo assim, a vida e a saúde do animal poderiam ser colocadas em risco devido a uma busca do tutor por padrões estéticos. “Ficam proibidas as cirurgias consideradas desnecessárias ou que possam impedir a capacidade de expressão do comportamento natural da espécie, sendo permitidas apenas as cirurgias que atendam às indicações clínicas”, diz a resolução do CFMV nº 877. Sendo assim, ela determina que a conchectomia em cães ou gatos pode ser realizada quando necessária para tratamento de saúde, como a presença de tumores, lesões graves ou problemas de má- formação. No caso evidenciado no exemplo acima, o procedimento estético foi realizado duas vezes, o que acarretou em perda da mobilidade e posição natural das orelhas. O dono do animal que o submeteu ao procedimento cirúrgico, se mostrou insatisfeito com o resultado, porém contribuiu, decididamente, pelo resultado. Mediante o assegurado no Capítulo I, artigo 3º dos princípios fundamentais do médico veterinário, de acordo com o código de ética, o profissional deve se empenhar para melhorar as condições de bem-estar, saúde animal, humana, ambiental, e os padrões de serviços médicos veterinários. Por esse ângulo, os profissionais do caso relatado foram contra a saúde do animal, sabendo dos riscos do procedimento. Ainda de acordo com os princípios fundamentais do médico veterinário, de acordo com o código de ética, analisamos que no Capítulo X, artigo 18, incisos I e II, o profissional deve conhecer a legislação de proteção aos animais e respeitar as necessidades fisiológicas, etológicas e ecológicas deles, não atentando contra suas funções vitais e impedindo queoutros o façam. Nessa perspectiva, a realização da conchectomia vai de encontro a esses princípios, atribuindo a culpa conjunta aos veterinários envolvidos. Publicado em 18/10/2012, o procedimento ainda não havia sido proibido e os veterinários, que iriam responder civil e penalmente pelos danos causados ao paciente, foram absolvidos pelo conselho, que concluiu que “não houveram indícios de imperícia dos profissionais denunciados”. https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2012
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